segunda-feira, 30 de abril de 2012

Receita de massa, rápida e deliciosa.

Por muitas razões práticas e diferentes, decidimos que vale mais a pena almoçarmos fora de casa e assim fazemos há anos. Só que, às vezes, dá vontade de fazer algo do nosso jeito. Hoje estava chovendo e decidi preparar a comidinha em casa.
O marido faz questão de fazer as compras de supermercado, então pedi: - traz um filé de frango ou camarãozinho que, com legumes e miojo faço um Yakisoba rapidinho.
Demorou, chegou, mas sem frango, não por culpa dele, mas não vem ao caso. O camarãozinho tinha cabeça,casca e congelados! Ia continuar no freezer então, porque não estava nos planos frituras e deixar o apartamento inteiro e os elevadores cheirando a camarão. Já era tarde. Ninguém merece.
A geladeira de quem não faz almoço, só tem coisas para o lanche! Mas, uma mulher prevenida,dizem,vale por duas, então me lembrei do espinafre congelado. Maravilha de idéia. Tenha sempre no freezer, estes pacotinhos de legumes ou espinafre limpo, pré cozido e congelado. Proporcionam práticas e deliciosas refeições, mesmo que sejam só em duas cores, como esta de hoje - branco e verde! Me lembrei dos tempos de vacas magras, em Florianópolis, quando uma vez fiz este macarrão com espinafre que encontramos plantado à beira mar. Uma das vezes havia também peixe espada que comprávamos dos pescadores, até com uma moeda encontrada na areia. VERDADE! isto aconteceu!
Lembrei dos tempos em que eu fazia este macarrão para a família toda e usava um maço inteiro do espinafre comprado na feira, junto com uma carne vermelha, ou filé de frango, ou peixe e uma salada de folhas com tomates cereja. Tudo muito colorido. Mas hoje, era só o verde. Em tempo de preguiça e vontade de gostosuras está ótimo.
Sobrou um pouco...se quiser, venha para o lanche!

A receita é rápida, econômica e deliciosa. Sou prática, na cozinha. Nenhum restaurante ganha deste sabor, acredite. Em minutos, enquanto cozinha o macarrão, está pronto! Aqui vai:
1º - Encha uma taça de vinho de sua preferência e vá tomando enquanto prepara a receita(mesmo durante a semana!).
2. Água no fogo para o macarrão espaguetinho e numa panela menor, água para o espinafre.
3. Abra o pacote de espinafre congelado e coloque na água da panela menor para descongelar. Usei a metade porque queria muito espinafre, para dois. ( o pacote dá para 6).
4. Prepare a salada de folhas variadas( já deixo lavadas na geladeira). Usei rúcula, alface crespa e americana. Tomates cereja ou outro, vai bem. Abra uma lata de sardinha ou atum, se quiser e reserve.( não fiz isto desta vez).
5. Pronto, coloque o espaguete fino na água que já está fervendo, e sal. Jamais óleo! ( Peça para o marido colocar os pratos na mesa ou faça isto rapidinho - hoje eu fiz). Se tiver companhia na cozinha, bebam o vinho!
6. Solte com o garfo o espinafre que já descongelou. Escorra na peneira e reserve.
7. Numa panela pequena coloque leite( usei 2 copos), um fio de azeite, alho em massa, 1 pacotinho de tempero sazon para carnes ou tempero pronto arisco e queijo ralado a gosto (usei 1/2 pacote). Junte o espinafre. Experimente o sabor. Junte 1/2 copo de leite com maizena dissolvida ( + ou - 1 colher de sobremesa cheia). Ferva, mexendo e está pronto o almoço! RÁPIDO E SIMPLES!! Chame a família.
8. Escorra o macarrão que já cozinhou al dente( na mesma peneira do espinafre). Coloque na travessa.
    No centro da mesma, coloque as sardinhas ou atum se você assim decidiu.Mas não precisa.
9. Ponha o Creme de Espinafre sobre o macarrão ( não misture, para ficar bonito).
10. NÃO ESQUEÇA DE TOMAR MAIS UM GOLINHO DE VINHO!
11. Tempere a salada com Limão, sal , azeite (balsâmico para quem gosta). Sirva queijo ralado à parte.
      SIRVA IMEDIATAMENTE !! TEM QUE SER COMIDO QUENTINHO!

Bom demais pessoal. O Cesar repetiu 2 vezes e não é fã de massas.
Sobrou um pouquinho aqui. O Cesar à noite só toma lanche. Não esqueça de avisar que eu deixo pra você!
Fotos e texto: Vera Alvarenga.


sábado, 28 de abril de 2012

Sôbre voos e liberdades...

 Somos seres sociais. Alguns mais, outros menos,mas todos dependemos uns dos outros e de nossa possível convivência.
Vivemos entre tantos.Como bandos, caminhamos ao lado de muitos, por vezes na mesma loucura em meio à corrida contra o tempo.
Contudo, somos solitários na dor e nos sonhos.
Evidentemente podemos ser solidários, na dor. E os sonhos, podemos tentar compartilhar, tentar levar conosco alguém que ansiamos possa ver a mesma beleza que vemos nas cores daquele arco-íris, ou ter as mesmas visões que tivemos em nossa meditação.
- Então, você pode vislumbrar como será maravilhoso?! Dizemos ingenuamente, quando encantados.
Algumas vezes encontramos resposta de quem  entra em sintonia conosco. Nos acompanham, alguns,outros seguem paralelamente, porque seus sonhos se assemelham aos nossos ou porque se encantam com a luz que brilhou em nosso olhar.
Aquela visão, porém, aquelas cores, são o nosso sonho, é o nosso desejo, estão ligadas à nossa experiência individual e única de meditar em meio ao burburinho da vida em sociedade, no meio em que estamos inseridos.
 Sim, para diminuir expectativas é preciso compreender que o sonho é de cada um! Contudo, não devíamos esperar de nós mesmos que apenas deixemos que cada um "fique na sua", porque, para quem voa ou sonha, ou tem uma visão, é quase impossível não desejar compartilhar... a menos, é claro, quando, como muitas vezes acontece,a alegria por experimentar tal liberdade ou talvez desejo, se apaguem vencidos  pelo insistente desejo contrário de manter tudo da forma que está. E esta é uma tendência do bando, e de nós todos. Sonhar, refletir, e então meditar para depois ir em busca da realização, ou mesmo somente buscar manter a ligação que possamos ter com o que somos no íntimo, requer fé, dá trabalho, exige disciplina, compromisso, dedicação e perseverança. Eu me acovardo, muitas vezes, mas a despeito de tudo, resisto.
Há vôos especiais, destes nos quais quase podemos tocar estrelas! Quando os tivemos, nosso corpo e alma pedem que se repitam. Por isto, mesmo quando a vida muda os cenários e quebra uma de nossas asas, ainda esperamos a cura para transformar o que temos, num novo plano de vôo.
Como seria bom termos sempre companhia!
Seria ideal diminuirmos nossa expectativa, sem contudo apagar o brilho dos nossos gestos espontâneos. Como fazer isto? No mais, compreendendo assim este aspecto da vida, finalmente não me sinto mais em  solidão, como tantas vezes antes. Eu a recebo e reconheço como pano de fundo numa cena em que ela é mais estrela do que eu, faz parte de mim, e se torna fundamental num e outro ato, no palco da minha vida.
Já não me assusto por gostar tanto de voar neste cenário, embora reconheça minha dependência total do convívio com meus pares. Sei que posso ir e voltar, sentir o vento e pisar na terra, rir e chorar, aceitar meu direito e meu avesso.
Fotos e texto: Vera Alvarenga

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Amigos da rede social.

Muito se fala dos perigos que trazem a internet e suas redes "sociais". Como tudo na vida, "há perigos na estrada". Nas redes sociais encontramos amigos, amigos e amigos, pessoas de todo tipo, com as quais temos todo tipo de relacionamento. Com elas conhecemos e exploramos nossos diferentes jeitos de ser e sentir. Há gente que se torna tão importante que nunca mais perderá o lugar de honra em nosso coração, há aqueles que sentimos amar em alguns momentos, outros que se tornam amigos especiais e presentes, mesmo à distância. Com tantos aprendemos sobre a vida, as pessoas e sentimentos.
Há ainda os que a gente pensava que era para sempre e, de repente, desaparecem deixando saudades, embora o gostar permaneça eterno como semente num cantinho da nossa alma, só esperando que um "email/recado", com um alô e um abraço venham fazer a amizade em potencial florescer novamente, como uma verdadeira e valorosa experiência de vida. Algumas amizades que encontramos pelo caminho de nossa vida são raras. Raríssimas! Nos trazem a consciência de especiais valores e parecem fazer brotar espontâneamente de nós o que temos de melhor, ou o desejo de nos esforçarmos para evoluirmos neste sentido.
 É natural que desejemos dar o melhor de nós quando amamos, ou gostamos de verdade. Mas alguns raros relacionamentos,seja por momentos ou longo tempo, parecem fluir espontaneamente neste caminho da troca onde apoio, gestos de carinho, cuidado, incentivos pesam mais do que o desejo que nossos egos tenham de dizer a última palavra ou mostrar que tem razão nas opiniões particulares. São tesouros que só se encontram no final do arco-iris e não deveriam jamais ser desperdiçados.
Contudo, o mais importante é que flua naturalmente esta amizade, mas com a consciência de que deve ser sedimentada em atitudes que preservem sua própria existência. Precisam ser cultivadas,nutridas.
De alguns destes amigos virtuais de tantos momentos diferentes, nos aproximamos mais e tomamos  a decisão de ir ao encontro. Às vezes, se somos mais tímidos, com expectativas...
- O que darei de bom a este/a amigo/a? O que direi a ela, que possa interessá-la?
Me fiz esta pergunta pouco antes de encontrar-me com Valéria Braz e seu filho Diogo. Então, respirei fundo e me tranquilizei. Vou dar o que mais gosto, um abraço com o coração aberto, e minha atenção - meu olhar, e meus ouvidos para ouvir.
Assim, no Shopping Iguatemi, em Florianópolis, eu e Valéria, meu marido e seu filho,nos encontramos para um café, momentos agradáveis e troca de abraço carinhoso. Foi muito bom! Ela é bem assim, como na foto. Uma jovem mulher, e mãe, forte e doce, verdadeira, corajosa,batalhadora e com um sorriso lindo.

Texto e fotos: Vera Alvarenga

terça-feira, 3 de abril de 2012

Uma caixa, meu presente pra você...

 Hoje pensei em você e lembrei de como gosto de caixas. Sei quantas coisas podem caber nelas. Então resolvi dar-lhe esta de presente. Ela tem a aparência de uma caixa para os amantes da música, do jazz, talvez para DVDs, ou sei lá!
De propósito! só para não lhe constranger..rs... parece pequena, mas cabe muito aí. Nela encontrará ataduras e unguento, para ajudar a curar feridas, caso ainda estejam latejando. Sim, eu sei, algumas doem para sempre,mas o unguento, dizem , tem poderes de colocar a dor no lugar de honra onde deve ficar sem que nos impeça o viver, embora seja companhia constante, e em alguns casos, algo que nos ensina sobre nossa fragilidade e heroísmo.
Hoje, senti sua presença tão forte ao meu lado, como se tivesse estado aqui pouco antes de eu chegar! Então, coloquei também sementes. São como aquelas que a gente colhe dos sonhos mais íntimos, até daqueles que ninguém mais sabe onde está a árvore que um dia plantamos. Mas nós sabemos e, às vezes, envergonhados, vamos até lá. Pois lhe trouxe algumas para que não esqueça de dar atenção amorosa a seus sonhos. Basta tomá-las em suas mãos e soprá-las, com o mais puro e decidido desejo de as lançar no solo. Dizem que, jamais decepcionaram alguém, pois delas, ninguém ficou sem colher frutos. Não tenho garantias quanto aos frutos, mas virão.
Ah! e tem um pó aí...não, não é nenhuma droga alucinógena,não! É para assoprar sobre sua cabeça. Sim, é preciso olhar para o céu, levantar a cabeça! em seguida, abaixá-la e de olhos fechados pedir humildemente o que mais deseja. Eu mesma experimentei. Dizem, que o tal pó tem certa magia, mas eu lhe aviso que pode demorar para a gente compreender o que fará com nosso desejo. Ainda estou tentando, mas você sabe... eu escorrego, levanto, me adapto por um tempo, mas não me conformo, então, guardei os óculos, aqueles das lentes azuis. Ele sempre me ajudou a procurar o amor ao meu redor, e agora a compreender a resposta que desconfio, estar bem no meu nariz! Tomara que sim, porque não pretendo procurar nada que não esteja ao meu alcance. Meu óculos ficou com uma lente só. A outra, está nesta caixa, pra você. Use-a, se precisar! Posso garantir que se sentirá algo mais feliz, com ela.
 E as asas, claro, também estão aí!  Há dois pares para que não precise voar só.
Há duas luvas também. Assim que você as puser, penetrarão em sua pele e não te deixarão mais esquecer de afagar, carinhar aqueles que você diz gostar. Ou mesmo de dar aquele abraço apertado, meio seco mas sincero e cheio de afeto,sabe?
O mais são conchas do mar, areia, bobagens que gosto, que acredito, bobagens de mim como tudo o mais que está nesta caixa. Só que, desta vez, eu não a trouxe à sua porta. Eu a deixo aqui, há algumas quadras, porque temo que só assim, se vier buscá-la, você realmente a abrirá. Então, receberá meu presente, que leva também meu afeto e este meu jeito de desejar o melhor para aqueles que amo. Tomara que não precise usar quase nada de tudo que está nela, mas lembre que pode fazer mágicas. Que você tenha sempre a disposição de acreditar e não desista! É o que desejo a você. Ah! quando a fechei, fiz uma oração para Deus diretamente, sem intermediários de religiões, para que Ele, seja como for, e estando em todos os lugares, cuide de você! Isto seria o melhor, para cada um de nós!

Fotos e texto: Vera Alvarenga

domingo, 1 de abril de 2012

Felicidade, para mim, é...

Tantas coisas fazem os momentos felizes! A gente pode encontrar com eles pelo caminho, ou pode criar estes momentos. É preciso estar disponível para a vida e, evidentemente, estar numa vida que proporcione a benção de bons momentos.
Mas a felicidade mesmo, aquela que pega fundo, que parece ser o suporte do nosso jeito particular de ser e estar no mundo, que traz paz, pra mim, é ter alguém para amar! Amar profundamente, o que traz à superfície, por momentos, o melhor do que somos. E, nos sentimos felizes em refletir o melhor de nós, mesmo que saibamos que não somos luz o tempo todo, que não somos perfeitos, como nada é. Amar profundamente algo ou alguém, traz esperança e inspiração! Porque nos ensina a compaixão, e portanto, a não dividir o outro, e a nós mesmos, em duas partes irreconciliáveis - o bom e o mau.
Quando descobrimos que é isto - poder amar - que nos traz felicidade, paramos de buscar em todos os caminhos, mas ao mesmo tempo nos abrimos para o que nos parecer trazer esta possibilidade como verdade. Então, ser feliz passa a ser, a qualquer momento, encontrar ou decidir crer que ali está uma pessoa especial. E será especial porque e enquanto para ela e perante ela, pudermos ser especialmente amorosos e compassivos, se o quisermos ser. Sentir-se feliz, pode ser constatar que se tem uma longa e bonita  história de relacionamento com alguém, e no qual a gente permaneceu atuando na vida, e não à margem dela.
   Embora, para muitas pessoas a doença possa trazer a atenção de que necessitava e portanto, momentos felizes, ela é como um grito do corpo a nos mostrar que algo nos falta e, no mínimo, nosso amor para com o próprio corpo, que por diferentes razões, até genéticas, precisa de cuidado amoroso. Sem dúvida, para mim, felicidade mesmo, junto com amar, é ter saúde! É verificar que, após um diagnóstico de início muito preocupante que assusta, no final das contas tudo ainda está bem, e que você está pleno de possibilidades, e tem a felicidade de, na posse dos sentidos, ser independente, livre e útil, com sorte, pelo resto de sua vida. Então, quantos momentos felizes terá ao ler tranquilamente um livro, tirar fotos, porque a visão, além dos outros sentidos, lhe permite relacionar-se com o mundo de uma forma menos restritiva! Para muitos ainda, apesar das restrições na saúde que sofreram, felicidade está em ainda amar a vida, apesar de tudo.
  Além da saúde, felicidade é poder amar, por sentir-se amada. Ou ainda, perceber o esforço que o outro faz no relacionamento com você, para compreender e aceitar que pessoas são diferentes e por isto, seu modo de crer na vida e demonstrar afetividade, também o é. Então, quando e se o outro o aceita e o respeita, você se sente feliz. Porque, para mim, felicidade é quando não preciso ter medo de ser feliz, nem vergonha de demonstrar minha afetuosidade.
  Porque o que nos faz infeliz é reter as boas sementes, os gestos espontâneos de amor e vida, quando a terra não é fértil! Porque, o contrário de ser feliz é o movimento de castrar o impulso da vida. Ser feliz é encontrar ou preparar solo fértil para plantar.
  Felicidade são momentos, sim. É quando posso demonstrar meu afeto e o outro o recebe. É poder ser aquilo que a gente mais necessita ser e que nos leva para um impulso em direção à uma vida saudável. O mais, vem como inspiração decorrente...
Foto e texto: Vera Alvarenga
Escultura: Vera Alvarenga.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Esculturando... o momento mágico de transformar.

 Ao ouvir o escultor naquele vídeo, mostrando com alegria suas obras belíssimas de entalhe na madeira, me emocionei com ele e pude sentir a mesma alegria que ele sentia...sei como é. Fui ao velho baú das fotos, lembrar...

A alegria de criar com as mãos, transformar um material numa idéia...me fez lembrar do tempo que eu pesquisava e trabalhava com máscaras e diferentes materiais e depois, como escultora no barro. O Expedito trabalha com Madeira, retirando material ao esculpir - mais difícil do que o barro, que a gente pode colocar, mas escolhi a argila por sua plasticidade, flexibilidade, e pela sensação ao tocar. Se amolda nas nossas mãos e as minhas gostam do toque.
Criar... quando a gente tem um projeto, é até difícil dormir à noite! E ao entrar em contato com o ato em si, é mesmo algo indescritível, como uma necessidade, que a gente sabe que tem de fazer e tá acabado. E a gente penetra nele e é penetrada, modela e é modelada pelo ato de criar, até o momento mágico que se abstrai de tudo em volta e entra na obra, e se torna uma coisa só!! 
Depois, vem a alegria de ver o que foi criado ir pelas mãos de outra pessoa para longe, levando o teu nome, talvez o nome da cidade, e mais, a idéia do belo a lembrar que ele existe, que as coisas podem ser transformadas por nós, por opção, e ainda, no meu caso(com certeza no dele, também) e não menos importante, eu sabia que na obra ia uma energia boa que eu queria compartilhar com as pessoas, mesmo que não soubessem, mesmo que meu nome se apagasse. ( eu rezava pra que as minhas coisas criadas ali, levassem boas energias para os lares, ambientes,etc..). 
Percebi agora escrevendo isto que, sem dúvida, a força da gente está em fazer estas coisas nas quais a gente sente que põe junto, a alma! Tirem as ferramentas das mãos deste homem, digam a ele que terá de passar a pagar caro pela madeira, tirem-lhe o espaço, digam-lhe que não adianta mais criar porque ele não terá mais para quem vender, digam-lhe que o mundo moderno desvaloriza seu trabalho, que a indústria substituiu o artesão e este homem se sentirá meio perdido, sem eira nem beira! 
Mas é verdade que a gente não pode criar o mesmo, indefinidamente. O que seria do mundo se fosse só criação? Então, se a vida parar a gente, ou aquele homem, ele sentirá um desassossego até reencontrar de que outro modo poderá criar e colocar aquela sua energia carregada de alma, amor e emoção. Se demorar,  se perguntará talvez, se a sua arte é supérflua, e se perguntará qual o sentido de sua vida. Claro que, para sobreviver, ele poderá usar sua criatividade até para trabalhar numa fábrica… Contudo, enquanto ele estiver criando com mais liberdade, no material com o qual sua arte flui , ele mesmo entrará em sua obra por amor, não apenas vaidade, e porque é isto que acredita ser o que deve fazer. 
Na vida temos de ser artistas também, neste sentido, seja lá o que tivermos de fazer. Ou quando chega o tempo de descansar, dar um tempo, ou ver o oposto de criar. Afinal, o mundo é feito de movimentos opostos e deles depende a própria criação! 
Sua matéria maravilhosa, minha amiga Valéria, me levou a recordar e valorizar cada gesto criativo que fazemos em nossa vida, qualquer um de nós! Legal. Obrigada!
Aqui o link do vídeo da Valéria: http://www.amoresnovelhochico.com.br/2012/02/28/1131/
Texto e fotos: Vera Alvarenga
E para completar perfeitamente... queria aqui colocar a música de Gonzaguinha
GUERREIRO MENINO...


sexta-feira, 23 de março de 2012

Eu e este animal, o que temos em comum?

Estava revendo fotos destes 2 últimos dias para enviar a amigos e me pareceu estranho, com meus 145 cms. de altura, perceber que tinha algo em comum com esta enorme criatura, o Mamute da Exposição de Animais da Era do Gelo.
O que há em comum, entre este animal e eu? Tá certo que não consigo me desvencilhar destes 10 kgs. que estão muito a mais no meu peso, mas não é só isto. Já sei, é o cabelo!
Tem mais? Seria a sensação estranhíssima de saber que, por baixo da minha pele, tão minha e individual, pode caber um baita animal como este?
Estranho, mas cabe de fato, no meu jeito de ser, tanta coisa da memória coletiva, reações que penso  serem minhas e são na verdade, herança de gerações e de tantos e tantos anos atrás - os medos, certas preferências, o gostar de me sentir segura na minha toca, no meu canto conhecido, local sagrado onde leio e faço o que gosto.
Todos gostamos de nos sentir seguros e, até por instinto de sobrevivência, queremos ver o lado melhor de tudo, nos encher de esperanças, porque afinal, como humanos que somos, não conseguimos viver apenas o presente...podemos prever, pensar no futuro!

De qualquer maneira, é bom sair da toca, vencer o hábito sedentário, a timidez e ir ao encontro dos amigos.
Em dois dias, fui a quatro destes encontros. E foi muito bom.

Como é bom vestir nossa pele mais social e humana, esconder nosso jeito meio selvagem e um tanto desconfiado de velhos Mamutes, ou um tanto tímido e ingênuo de bichinho dentro da casca e sair para um encontro, fora da toca, com a curiosidade dos pequenos que desejam experimentar a vida na prática, e vão, corajosos com suas frágeis peles, ainda não cobertas de couro duro e tantos pêlos, como os animais mais velhos!
Abrir nosso coração para alguns outros estranhos, mas que escolhemos para compartilharem de nossa mesa e talvez de uma boa amizade.
A humanidade e o melhor em nós precisa ser compartilhado... mas até mesmo o que faz parte do que somos mas nem sempre é bom, também! Contanto que estejamos dispostos a observar e aprender com o resultado de nossas atitudes perante o grupo.

O amor pelos nossos, pelos que são da "nossa turma" há tanto tempo já, ou pela família é uma das melhores coisas, e nos trazem    muitos dos melhores momentos para se viver.

Obrigada amigas, novos amigos, antigos amigos e família!
Foi muito bom, como animais de um mesmo grupo, que não se temem, podermos compartilhar do mesmo alimento, nos cheirar, brincar, nos abraçar e conversar nossa linguagem que era a mesma.
Muito  bom estar com vocês!
Fotos e texto: Vera Alvarenga


domingo, 18 de março de 2012

Um dia, talvez...

 É faca de dois gumes o que vejo
de ti, em tuas reticentes palavras.
Quando responderias, aos clamores
e convites, e significarias mais do que
este teu tom de evasivas promessas?
Quando deixarias de nos impedir e
não precisaríamos mais recuar?
O que se sabe que não deve vir a ser,
não seria melhor, de vez, deixar ficar?
Talvez. E eu, quando cansarei de repetir
tua frase, que introjetei no pensamento?
A mesma que me nega, agora, o que
não me negaria ele, talvez, um dia...
E se eu jamais novamente permitir
que esta infame dance em meus lábios,
ou se acomode nos meus pensamentos?
Mas, se assim for, onde ancoraremos
o nosso barco durante as tormentas,
ou no tempo do sono e torpor que
nos rouba, dos dias, bons momentos?
Onde nos alcançarias, doce esperança?
Descansar, onde, nossa humanidade?
Desta arma que é branca e mortal,
é urgente que eu encontre o cerne,
ponto exato, fiel da balança, afinal
única forma para transformá-la
em medida para meu alimento.
Está bem, eu a deixo lá, por enquanto,
quieta no seu canto, e ironicamente,
de ti me servirei, algum dia, talvez,
como âncora para não me perder,
apenas para não me matar de fome,
para jamais deixar esquecer da lua,
que reflete nua, no mar dentro de mim.
Tudo bem, então, fiquemos assim!


Foto retirada do Google imagens
Poema: Vera Alvarenga



sábado, 17 de março de 2012

Campos verdes...

Acordou de seu cochilo mal dormido, daquele sono satisfeito, de entrega e paz. Olhou para ele por alguns momentos.
Suas mãos foram em busca do exercício do sentir. Foi tateando e conhecendo novamente aquele que conhecia tão bem.
E ia envolvendo cada parte, descobrindo cada textura e reação. Caminhando pelo conhecido, sem medo de se aventurar, como quem sai a caminhar por terras que são suas, apenas para não perdê-las de vista, para saborear seus encantos e tomar posse, mais uma vez, do que é seu. Fechava os olhos, quando em vez, porque sabia cada som, cada canto, e dedilhava, tocava suavemente ou pressionava, conforme sua vontade. Se um dia ficasse cega, o reconheceria pelo tato. Se um dia esquecesse de tudo, seu corpo guardaria a memória do que é sentir. Agora não tinham fome e ela podia ir lentamente. Era uma brincadeira, sua hora de brincar e ela se deliciava, e sorria. Em troca, só exigia a entrega. Não pensava que devia exigir mais, embora, às vezes virasse o jogo ao contrário, e ficasse ali inerte fingindo dormir, próxima o suficiente para que ele desejasse acordá-la. Era um acordo deles, nunca posto em palavras, nem contestado, um acordo de paz num campo nem sempre fértil, nem sempre próspero, nem tão florido assim. Mas era o território dela. Olhava o campo coberto de verde e seus olhos sabiam que havia recantos a explorar. Sentiu o calor do sol na pele e a brisa no rosto. Montou a cavalo e saiu a galopar, e junto com o vento, inspirando os aromas do campo, já podia ver no fim do caminho, as flores silvestres que ia colher.
E naquele instante eles eram tudo, não careciam de nada mais.
Texto: Vera Alvarenga
Foto retirada do Google - não há referência ao fotógrafo.

terça-feira, 13 de março de 2012

Na boca da noite, ele veio...

Ele chegou na boca da noite.
Ela não o estava esperando, arrepiou-se. Por instinto permaneceu atenta, a certa distância. Depois, olhou fixamente para ele e cuidadosamente se aproximou.
Ele tinha um cheiro bom, olhar distante e carente. E tinha sede.
Ele se aproximou mais. Ela não recuou mais, e sentiu o calor de seu toque, embora ele dissesse que estava quase morto de frio.
Ela o cheirou, deu-lhe de beber, percebeu sua dor, ouviu seu lamento, abriu seu peito, quis limpar sua ferida que era funda demais e teria cicatriz eterna. Ofereceu-lhe abrigo para aquela noite.
Então, quis aconchegar-se e neste gesto, sua ternura veio à superfície da pele, e também sua fraqueza e sensibilidade. Mais uma vez, beberam juntos da água. E, apesar de tudo, sorriam, juntos sentiam-se bem. Ele, dormiu um sono pesado, relaxado, seguro e sem sonhos, apenas para renovar as forças. Ela dormiu seu mais leve sono e sonhou.  Inquieta e sonhando, ela sorria. E o sonho lhe trouxe alguma luz. Então, ele partiu.

Texto e foto: Vera Alvarenga   

sábado, 10 de março de 2012

Era uma vez...quando as mulheres não choravam...

 Não muito distante daqui,havia uma princesa que, desde menina aprendera a não chorar. E cresceu assim, corajosa. Contudo, se emocionava com o sofrimento de outros,com as injustiças, pois era sensível. Para ajudar as pessoas, resolveu criar um jardim e nele vivia a maior parte do tempo, cultivando flores que pudesse levar por onde andasse.
Casou, teve filhos e o tempo passou. E, neste tempo, houve momentos que sentia vontade de chorar mas, seguindo o exemplo da rainha e, como suas lágrimas continuavam proibidas, encontrou maneiras para livrar-se delas. Uma delas era através de sua arte, onde colocava toda sua emoção.
Quando o tempo veio pratear seus cabelos,suas lágrimas tornaram-se tão raras que também seus olhos perderam o brilho, e tudo o que via no jardim parecia seco e sem vida. Um dia, ao ver um lindo pássaro voar para longe, saiu dos limites do castelo, e o seguiu até a beira do lago. Mas lá fora, as terras dos campos e jardins que antes floriam e eram férteis,também estavam ressecadas, com fendas profundas. Encontrou dois homens pelo caminho. E perguntou-lhes:
- O que foi feito do verde e da vida que brotava destas terras?
Um deles, o que chorava porque perdera pessoas que amava, beijou-lhe a mão, contou de sua tristeza e depois se afastou. O outro, lhe respondeu:
- Dizem que a rainha mãe, há muito tempo,em troca de uma vida mais feliz, deu a alma da filha ao diabo, prometendo-lhe que ela jamais choraria. E as lágrimas foram proibidas. Também pudera! Quem de nós aguenta ver uma mulher chorar? Caçoou o homem. E continuou a contar para aquela mulher o que sucedera, sem desconfiar que ela era a dona do castelo. E aconteceu, minha senhora, que outras mulheres seguiram o exemplo, o que foi ótimo, mas desconfio que a terra secou junto com as mulheres.
Então, a mulher que foi princesa, depois esposa de um rei, mãe e agora era uma rainha velha, afastou-se e foi até a beira do lago. Com seus pés enfiados na poeira da terra ressequida, olhou para o galho de uma árvore onde viu o pássaro e, por um momento, pensou em como seria bom, voar com ele para longe dali.
Logo, olhou para a água e viu nela refletidos seu rosto e seus cabelos prateados. E assim, sem mais nem menos, chorou. E chorou, chorou...e chorou muito ainda, antes de ir embora.
Ao sair ela sabia que deixava ali, junto com suas lágrimas, parte de si, uma certa ingenuidade que talvez há muito, não lhe cabia mais ter. Ela tinha finalmente, a consciência do peso de ser uma rainha.
Com os olhos mais úmidos, a visão mais nítida, com pena mas sem amargura, via o que era para ver, e foi para casa. Levava no coração  poucas certezas, algumas lembranças boas e más, nenhuma expectativa, mas sabia que agora era livre para chorar, sempre que quisesse. Foi embora, sem olhar para trás, e por isto não viu que, ao redor da marca de suas pegadas, onde suas lágrimas molharam a terra e a transformaram em lama fértil, brotos verdes começaram a crescer...
Fotos retiradas do Google
Texto: Vera Alvarenga

   

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Reflexos.

Por um breve instante ela teve uma visão do todo. E era belo o que viu. Viu o que eles eram - um só, naquela imagem ! Mesmo apesar das contradições, formavam um ser único em suas semelhanças e nelas se tocavam. Ele, estava em cima, concreto, com peso e embora cansado, vivo. Ela, em baixo, e apesar disto, mais etérea, leve, embora também cansada, viva. Ele, mais denso e firme. Ela, transparente a ponto de mostrar que sua sensibilidade podia faze-la tremer. Nos dois, a mesma determinação. Na brandura da alma, a mesma canção. No coração o mesmo desejo. Quando ela olhava para ele, via o céu, portanto, ele era um ser alado, e nele, ela reconhecia o que era divino. Quando ele olhava para ela... o que veria? Talvez mergulhasse nas profundezas da alma, em busca também do que poderia ser divino. Será mesmo que ele a via?

Ou iludia-se com a imagem e pensava tratar-se de si mesmo ?
Alguns disseram a ela que se tratava de um tipo de ilusão,como ocorre na paixão, apenas um reflexo. Ela não se importou. Ela sabia o que era para saber.
Mas um dia, tempo e natureza interferiram. E romperam o que em promessa, era uma doce visão que poderia ser talvez eternizada pelo pintor, pelos poetas ou por uma contadora de histórias. Separaram-se os que antes se tocavam e ao fazerem, pareciam um só. Um dia, a ventania trouxe folhas, galhos e o barro do barranco, e estas coisas turvaram a água, e o vento, e a chuva fina continuaram por dias fazendo ondas no lago. E não parou mais de chover. Então ela viu que não eram um. E ele viu que não era aquela imagem. O que era inteiro aos olhos dela, se dividiu. Os que olhassem naquela direção, jamais saberiam da imagem que ela viu, embora ela a guardasse em sua memória e no coração. Nenhuma fotógrafa jamais poderia mostrar ao mundo o quanto eram belos, juntos. Ao olhar para o céu, ela sempre se lembraria de tê-lo visto lá, portanto lembraria de suas asas. Como era etérea em seu pensamento, e livre, e leve, enquanto quisesse, levaria consigo a beleza daquela imagem e o seu simbolismo.
E ele, do que se lembraria ele?
Texto e foto do Cisne: Vera Alvarenga
Foto Castelo del Angelo- Itália retirada de um email recebido sem nomear o fotógrafo.


    

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A imensidão do mar...


Dar-se conta do amor que a gente tem dentro do peito é assim como ver o mar pela primeira vez e perceber sua imensidão. Primeiro a gente pensa que parece impossível que aquilo tudo não derrame pelas bordas do mundo, não invada o urbano e a natureza do outro que está próximo. 
A gente olha o vai e vem das marolas na areia que brilha a cada vez que o mar se retrai. Ele, que a hidrata e penetra. Ela, que o acolhe sem resistência. Ambos se tocam numa alternância de movimentos que pareceriam opostos, se não soubéssemos que são complementares. Como afago, carinho que faz à amante, o mar se estende grandioso e soberano sobre ela, sobre aquela que lhe dá suporte. Fica claro, neste momento, que ele é feito para banhar, alimentar, maravilhar aquele que descobre sua existência. O que vemos é o depois, depois deste ato de amor, depois que o amor toca a alma e a toma para si. É quando os dois ficam ali deitados apenas respirando, embora grande parte de si mesmos, ao mesmo tempo esteja fertilizando a vida, cada um em seu próprio elemento. Vemos o momento da intersecção dos dois elementos, onde seus limites se permitem penetrar, quando o amor e a alma a que pertence interagem e ambos se fazem um. Contudo, ele não a fertiliza diretamente, mas prepara o ambiente da amante para aquele que virá, um pescador, um habitante da aldeia ou talvez, da cidade.
Algumas vezes, este interlúdio, encontro do amor com nossa alma não é tão manso nem o ritmo é um “pianíssimo”. Quando as pedras estão em seu caminho e a paisagem se modifica, podemos ter uma visão diferente do amor que nos fertilizou. O mar batendo bravo contra a alma que está ali endurecida e não quer ceder, é uma das possibilidades. E a isto podem somar outros elementos da paisagem e da natureza, os ventos, tempestades e furacões. Então, o mar invade, num movimento de força indomável e incontida, muitas vezes furiosa, como reagindo a alguém que tivesse ousado pretender represá-lo ou mantê-lo em filtro de barro, com uma torneirinha para ser aberta só quando dele quisesse beber. Mar de verdade, não aquele das pinturas e aquarelas, vai buscando aquilo que era seu, o espaço que deveria lhe pertencer se não houvessem antes o invadido na maré vaza, ou negado sua existência só por não conhecê-lo. E, em algumas praias, temos visto que ele vem, cobre, engole, destrói até!
Ah! não é porque somos do interior, que podemos negar o que ele é. Um dia, mais cedo ou mais tarde a gente descobre que está mais perto do que supúnhamos. Ele está ali, dentro do peito, vivo, com capacidade para inundar de amor, perdão e afago, ou destruir. Ele é água, sentimento, emoção e procurará sempre o espaço que é seu. Não é possível represar a força de vida do mar, sua necessidade imperiosa de ser, sua pulsação natural. No entanto, podemos tentar conhecer aquilo que trazemos no peito. Eu, por mim, procuro manter-me numa praia mansa, onde haja espaço para deixar que se espalhe, pois um dia tentei contê-lo, e aprendi que isto não é viável.
Independente de eu ter escolhido amar o mesmo pescador, entre tantos, pela eternidade,
a paisagem neste tempo nunca seria a mesma e as marés se revezaram. Eu sei, assim é a vida para quem vive com o mar a seus pés ou dentro do peito. Um dia apanho conchas, deito na areia fresca e banho meu corpo, sentindo o sol brilhar em minha pele. Em outra manhã, logo após a maré cheia e a tempestade, verei destroços, galhos e algum lixo. O pescador pode ter se ausentado em viagens a procura de conhecer mares distantes, ou mesmo entrado mar adentro de seu peito até descobrir quem, afinal, habitava suas praias.
Mansa era minha forma de amar e embora tenha escolhido uma praia tranqüila para viver junto ao mar, um habitante de Nova York, náufrago de tempestade, trazido por inesperada corrente marinha, poderia aparecer de repente na praia idílica e quase deserta onde eu estava. E talvez se demorasse a descansar e observar as conchas, e a respirar a brisa do mar que conheço. O mar que, por seguir pulsando dentro do peito, iria fatal e naturalmente de encontro aquele que ao se aproximar demais, mostrou que trazia nos olhos o mesmo brilho da areia e de estrelas marinhas. 
Água do mar é viva. Não morre como estátua no cimento, não pode ser mal contida. Seu destino é fluir, banhar, encontrar-se com o limite que a receba. O amor dentro do peito, não pode ser represado. Mar também não. É desperdício não crer em sua capacidade de fertilizar a vida. Tolice imaginar que ao se recolher na maré baixa ele ficasse por lá, para sempre quieto, e não retornasse trazendo tesouros ou escombros de suas profundezas. Ele não obedece à nossa vontade, mas ao que está acima de nós, e pertence à nossa natureza.
Minha natureza é a daqueles que conhecem o mar, mergulharam nele de corpo inteiro e andaram anos com os pés tocando suas águas rasas e a areia, exatamente naquele ponto em que o amor e a alma se encontram, numa paisagem que se mostra diferente a cada dia, a cada fase da lua.
Portanto, procurar a praia onde possa de novo deitar com o amado e amar mansamente é instintivo, é o único modo de conter o mar, é reencontrar a paz e sentir, como no respirar dos amantes, o pulsar harmonioso da vida que se completa no movimento  daquilo que, neste ato, encontra sentido.
Texto: Vera Alvarenga
Foto: Priscila Pereira 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Minha visão de mundo...

Li, na semana passada o livro de uma jornalista, Saíra Shah, contando sua viagem ao Afeganistão e região, numa busca pessoal por suas raizes e mitos. Impressionantes relatos que ela faz de sua viagem, do que viu em meio às atrocidades das guerras (diferentes guerras,com diferentes motivos) e sôbre as mulheres e homens num mundo de cultura tão diferente da nossa, e tantas coisas mais. Na verdade, devorei o livro em 2 dias, porque ia dá-lo a minha norinha, no aniversário dela. Conheci o mundo que ela descrevia, através do olhar dela  em " A filha do contador de histórias ".
  Estou lendo, já há mais tempo, devagar como quem vai aos poucos se reconhecendo dentro das páginas, um outro livro também cheio de histórias, mitos e arquétipos e que estou adorando ler. Eu bem podia tê-lo escrito, com tanta coisa ali semelhante ao que penso, ou senti, ou ainda sinto, ou reconheço! Poderia, se tivesse a formação desta psicóloga e me dedicasse,como ela fez, ao cuidadoso estudo e cansativo trabalho de concatenar as palavras corretas, na sequência ideal para falar sobre emoções, psiquê e alma, com tanta propriedade como ela fez, de um modo que fica tão mais fácil de compreender do que outros livros com o mesmo tema. Não é pra qualquer um. Ela fala também de mitos e contadoras de histórias que, sob a interpretação e visão dela, transformam-se em símbolos e ferramentas que nos ajudam a compreender um mundo que nem sempre é de fácil compreensão. Ao contrário do outro livro, me reconheci nele, me reencontrei em alguns momentos e percebo que decidi penetrar suas páginas no momento certo, exatamente logo após ter aprendido o sentido de muitos conhecimentos que a autora compartilha conosco, ali. O livro " Mulheres que correm com os lobos" é muito bom, nos ajuda a sentir mais do que pensar, e nos apoia para que não nos deixemos mutilar de nossas melhores e mais raras qualidades, só porque nem sempre são as reconhecidas, como nossa intuição e força protetora que surge quando algo põe em perigo a segurança de nossos filhotes, de nosso companheiro, ou dos que pertençam a nossa "turma"! Num mundo que está se tornando frio, mortalmente insensível e inconcebivelmente individualista, este livro é atual, embora não tenha sido escrito recentemente. Nele a gente se vê no espelho e sente orgulho de não ter desistido, e deixa a vergonha de lado em relação aos ataques decididos que aprendeu serem necessários nos momentos de sobrevivência da vida ( interior ou física), ou da necessária resistência silenciosa, algo que muitos hoje confundem com simples comodismo!! A autora fala de como é perfeitamente normal que tenhamos "fome" e assim sendo, um dia sintamos urgência  de encontrar alguém da "nossa turma", que possa nos reconhecer, aqueles que falarão nossa linguagem e nos oferecerão do alimento que precisamos para vicejar, porque compreendem o gosto e necessidade do mesmo alimento! Ao ler este capítulo lembrei-me de alguns posts onde eu repetia e repetia as histórias de fomes e sedes que levam pessoas a buscar por uma fonte dentro de seu mundo, ou fora dele.
Ela fala também de como esta mesma "fome" pode levar-nos a cair nas mesmas arapucas! É preciso bom humor para ler sobre isto, para podermos sorrir ao lembrar, se for o caso, dos nossos próprios percalços do caminho, e com certeza ler não nos fará sábios, contudo penso que sempre nos relembra o sentimento de compaixão, o que nos faz mais humanos. O livro é de Clarissa Pinkola Estés, e o recomendo aos homens também, pois ajuda a compreender o que é mais natural na vida e como ela seria mais rica se pudéssemos, homem e mulher, caminhar como amigos que complementam suas forças, ao invés de competir .
  Fico pensando como é maravilhoso que eu possa enxergar, para ler e ver o mundo através de outros olhares, e depois possa sentí-lo através da minha própria visão interior. E o interessante é que, no primeiro livro, apesar da cultura tão diferente da nossa, percebemos coisas que todas as mulheres tem em comum, como o cuidado com seus filhos, ou sofrem em comum, como a incompreensão e desrespeito aos seus direitos e sentimentos, mesmo embora cada uma demonstre de maneira diferente, pois que estamos todos, de certo modo, um pouco engessados dentro do que nossa cultura "permite".
  Me sinto grata por poder, a esta altura da vida, ainda ler com meus próprios olhos, aprender e refletir sobre um mundo que é tão grande e diversificado, e que ao mesmo tempo tem tantos pequeninos pontos em comum.
  Não sei mais se o ideal é tão simples como o desejar menos preconceito no mundo e mais respeito pelas diferenças, pois que aí vejo o perigo de que tudo então, deveria ser aceito!? Tenho preconceito contra um pensamento que vê a importância da mulher só pelo número de filhos que ela possa parir, ou que lhe corte o clitóris num ritual em nome de não sei que crença que pensem ser justificável. Não ter preconceito seria aceitar tudo isto, como se justo fosse? Ou pensar que nossa cultura é superior? Pois neste ponto acho que sim, mas em outros sabemos que não. Estamos todos caminhando no deserto, em busca de um oásis, ou de provar que os nossos heróis são verdadeiros, e mesmo assim, caímos e nos esfolamos, aqui e ali, e quase morremos de sede mesmo não estando usando a burca. Quem julgaria o que é justo? Por certo não seria nenhuma religião, no sentido em que elas se proliferam hoje em dia. Que tivéssemos, cada vez maior compatibilidades e mais respeito à humanidade que é o que nos distingue dos animais e poderia nos unir, apesar das diferenças, isto sim, seria bom. Sabemos que não é fácil apresentar soluções, nem para os que estão no campo de batalha, nem para os que a vêem através de vidros blindados. O que nos resta é aprender, refletir e transmitir "aos nossos", aos que estão sob nossa responsabilidade, o respeito aos direitos humanos, à humanidade, e a extrema necessidade de agirmos de modo coerente sempre que possível, a cada oportunidade no nosso entorno, para ampliar este conceito como coisa viva que possa se multiplicar, como pasto verde no campo, ou cardume de peixes nos rios, para alimentar todos os famintos.

Texto e foto: Vera Alvarenga.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Quando quero me aconchegar...

  Tenho uma característica, não sei se indica um ponto fraco ou se é apenas natural, algo que faz parte de mim...
  Tem dias em que tudo está bem e então, a calma em mim se faz, e me sinto assim, como um inseto que procura mel.
 Então, me sinto atraída por você.
 E como a abelha que vai em busca do néctar e se deixa envolver pelo abraço das pétalas, me dá vontade de me aconchegar.
 É uma característica de minha natureza, que me faz pensar em você, não por estar me sentindo triste ou só, mas por uma docilidade que toma conta de mim.
 Isto me lembra uma vez que vi este casal de leões.
Tranquilos, aconchegados em seu momento de relaxamento, a fêmea com a cabeça apoiada nele, que dormia.
  Ela só não pode relaxar também porque uma porção de garotos de uma escola, intrusos como eu, se acercaram de seu momento de docilidade.

 Às vezes, eu me sinto assim, como a natureza que quer descansar em paz e em pares...


Como é bom quando nos sentimos assim, e podemos nos entregar a estes momentos de
preguiça, de calma, de aconchego, de carinho,
de paz, de ternura...

Que nos adoça a alma, acalma, repõe energias,
nos equilibra, nos flexibiliza...

Como seria bom que nada impedisse o desejo de ainda sermos naturais, como as abelhas que naturalmente procuram e encontram o néctar,
no abraço das flores...




Texto e fotos: Vera Alvarenga

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Reencontrando o filho perdido...

Feriado. Tomamos café bem tarde.
- Vamos ao Zoológico? Queria tirar umas fotos bonitas, de patos na água..faz mais de 25 anos que fui lá quando os meninos eram pequeninos..
- Programa de índio... disse meu marido, mas concordou. E fomos! Chegamos rápido perto de onde os carros começaram a tartarugar, em fila indiana. Demoramos o mesmo tempo para chegarmos até o portão e lá desistimos,sem nem sair do carro. Tinha fila para entrar!
Tive de reconhecer...programa de índio o meu!
Então fomos almoçar num restaurante que ele almoçava há 25 anos atrás, no Ipiranga.
- Vamos passar no Parque da Aclimação? Quem sabe tem um lindo lago lá.. com patos.. a gente caminha um pouquinho só e vamos pra casa!
Estava no caminho. Fomos. Logo, decepcionada,vi que não tinha fotos como eu gostaria para tirar, nem patos na água, o que estou fazendo aqui?
Então vimos um garotinho, andando devagar e cansado, cabeça baixa, chorando. Nós o paramos.
- Perdi minha mãe! (coitadinho! )
Conversamos um pouco, contamos que íamos ajudá-lo e que não deveríamos sair dali, pois a mãe logo chegaria. Um menino lindo, de 4 anos. Disse o nome da mãe, endereço. Estava com o irmão, o primo e se perdera de todos. A mãe demorava a chegar. Comecei a brincar com ele e meu marido chamou o 190. Dei-lhe água, coloquei-o de pé sobre um banco.
- Melhor pra sua mãe te enxergar. Ela já vai chegar, você vai ver.
Um homem com o filho da mesma idade comentou, indignado, ao saber que tinha se perdido da mãe:
- Como pode uma coisa destas? Que absurdo!
- Ah, pode sim! Quem já não perdeu um filho, por um segundo, no shopping, quando há mais filhos ali também? São uns serelepes, estes filhotes! ou dentro de uma loja, quando ele se enfia no meio das araras de roupas só enquanto você piscou? ou na praia ? Meu filho de 2 anos perdeu-se na praia, no meio de um mundaréu de gente, uma vez. Pensei que estava com o pai. Eu grávida, fui pra um lado, meu marido pra outro e o vi, no colo de uma mulher vestida não em traje de banho, que o levava em direção ao calçadão. Meus pêlos ficaram ouriçados. Eu lembro que corri e o peguei, não gostei da cara dela, mas agradeci muito feliz por encontrá-lo. Graças a Deus naquele dia fui na direção certa!
A polícia chegou. Logo perguntaram se ele sabia o celular da mãe. Não, não sabia. Então, ela chegou. Que linda mãe, de um lindo filho e que bom sermos testemunhas deste feliz reencontro!
Bem, valeu por este momento, por esta foto! Depois até tirei poucas de algumas árvores...mas, por este momento é que estávamos ali!
 Voltamos pra casa mais leves por presenciar um reencontro, algo sempre maravilhoso em se tratando de mães ( ou pais) e filhos, não é?

Deus abençõe você, mamãe Julie e você Lucas!( aliás a toda família!)
E, quem sabe devamos ensinar aos nossos pequeninos o número do celular da mãe, e também a pedirem ajuda, mas a não sair do lugar até que mamãe chegue, ou papai, ou polícia... ou quem sabe apenas podemos rezar para o anjo da guarda deles...
Texto e fotos: Vera Alvarenga.


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O lobo solitário...


Ele tinha a impulsividade e ousadia dos líderes e dos grandes de sua raça, filho que era de um lobo enorme e pesado, porém a natureza o fez pequeno como sua mãe. E como ela, era corajoso. Com seu tamanho, força e poder desta forma restritos, precisava conformar-se, muitas vezes, com limites a ele impostos desde pequeno. Cresceu assim nesta contradição, onde grandeza de impetuosidade e coragem estavam contidas numa pele que não conseguia esticar ao dobro do tamanho, o que lhe seria, por certo, mais conveniente.Talvez por isto, desenvolveu-se nele o desejo de poder nem sempre adequado à sua realidade.Superou os desafios possíveis e acostumou-se a afastar-se daquilo que não podia conseguir, após várias tentativas mal sucedidas.
  Em sua índole havia um quê de docilidade escondida em segredo, herdada ou adquirida não se sabe exatamente de quem,que aparecia algumas vezes, quando seguro na intimidade de sua caverna. Apesar disto, o espírito brincalhão e galhofeiro era a característica mais visível, além da total falta de tato para uma convivência diplomática mais bem sucedida, mesmo entre os que pretenderia liderar. Embora seu espírito livre e individualista combinasse mais com uma vida sem comprometimentos emocionais, encantou-se com uma fêmea de terras distantes e com ela, a partir daí formou sua matilha, na qual ela cuidava para que tivessem como base padrões um pouco diferentes daqueles que ele viveu na infância. Permitia que ela o fizesse porque o resultado parecia-lhe bom. Contudo, se orgulhava mesmo era de ser o provedor dos seus, oferecendo-lhes o conforto, alimento e segurança possíveis.
  Tudo corria normalmente bem, até que começou a ter de enfrentar sério problema - os seus instintos, por vezes incontroláveis. Sua fêmea, alegre, curiosa e dedicada, era também quieta, sensual e demonstrava certa insegurança que, ao mesmo tempo que lhe agradava bastante,  por outro lado, o lembrava da aparência dócil e frágil das ovelhas. Aí estava o problema! Assim, ele vivia com sua loba, tendo que lutar batalhas consigo mesmo, pois seus olhos a confundiam com ovelhas, seu instinto predador acostumado a atacar o que fosse vulnerável precisava ser contido e ele, não gostava disto. Atacar e vencer o fazia sentir-se poderoso ao mesmo tempo que o forçava reconhecer que seu instinto incontrolável lhe trazia problemas - sua fêmea, aquela que ele amava, tinha agora no olhar certa desconfiança e aprendera a atacar, o que a tornava menos singular, mais semelhante aquelas que ele conhecera em sua vida em outras alcatéias. Ele precisava ser seu próprio caçador, precisava controlar seu próprio instinto predador, ou se fecharia em si mesmo, na pele de lobo solitário...
Texto:  Vera Alvarenga
foto: retirada do imagens.com (no Google imagens) 

sábado, 21 de janeiro de 2012

A pastora e o predador em seu quintal...

  Havia uma mulher, não sei que idade tinha, ingênua e pouco experiente que um dia, apaixonada, casou-se com um homem corajoso e determinado. Pensava que em companhia dele teria, ela também, coragem para conhecer sobre o mundo e seus arredores. Ao contrário disto, ele a convenceu de que o melhor para ela seria que vivesse no campo, cuidando de suas dóceis ovelhas, nunca ultrapassando os limites de sua pequena aldeia, estando assim protegida de todo o mal. Apesar do trabalho intenso ela era feliz e se distraía com sua mente curiosa e criativa.Tornou-se uma tranquila pastora, embora nas noites de lua cheia, como suas ovelhas, sentisse certo desconforto. Os anos passaram e ela ficou um pouco doente. Nada de importante, apenas sua energia diminuía após cada tempestade, e então ficava triste porque sentia-se um tanto isolada, embora naquele mesmo lugar que lhe dava segurança.
Mais tempo passou. O rebanho aumentara e ela estava sempre ocupada com sua criação. À uma parte da vida do marido, tinha pouco acesso. Nas noites que precediam tempestades, as dóceis ovelhas agitavam-se. E eram nestas noites que ele se ausentava ou chegava tarde, mas lhe dizia que ela não deveria perguntar onde estivera. Curiosa como era, não se conformava, pois exatamente nestas noites ela tinha de ser mais corajosa para tentar proteger as ovelhas e tudo que era valioso de algo que nem mesmo sabia o que era,mas sua intuição dizia que não era bom. Insistia para que ele a convidasse para divertirem-se à noite, seria uma boa maneira de sair de sua rotina solitária. Ele se aborrecia, não a queria no mundo, só para ele. Um dia ela notou que algo estranho ocorria a cada vez que ele se fechava para ela - ao contar suas ovelhas após estes episódios, percebia que seu número ia diminuindo. O tempo continuava a passar e seu rebanho de alegres ovelhas diminuía...
  Até o dia em que ela resolveu penetrar na noite, com uma lanterna, e ver o que ocorria. O que ela viu, ninguém sabe exatamente, mesmo porque não teve coragem para acender a lanterna. Mas conta-se que viu! Mesmo à luz do luar, viu o marido transformado em um estranho e peludo animal, que reconheceu como um devorador de ovelhas. Qual susto levou ao enxergar que, aquele homem quase sempre bom e honesto, nas noites de lua cheia que precediam tempestades, por alguma ansiedade de seus instintos transformava-se em um predador! Mas ele não se afastava, atacava apenas as meigas ovelhas que ela pensava manter protegidas na tranquilidade de seu quintal ( ou seriam, as ovelhas, inocências que habitavam o íntimo de sua alma?). Depois disto, e por um tempo, encolheu-se na segurança de sua casa e sonolenta, naquelas noites, esperava a tempestade passar, até que quase todo seu rebanho foi dizimado. Junto com o rebanho, ela também enfraquecia, sentia-se vazia, sentia-se morrer.
  Então numa noite, inspirada novamente pelo ciclo de vida-morte-renascimento em seu quintal, ao ver algumas de suas ovelhas com suas crias recém nascidas, encheu-se de coragem e decidiu enfrentar seja lá o que fosse aquilo em que seu marido se transformava.  Armou-se, trancou-se com elas em casa, ficando desta vez, com os olhos bem abertos, de prontidão para revidar qualquer ataque às ovelhas, com unhas e dentes. Assim o fez durante algum tempo, quando ele vinha e de um modo ou outro, tentava enfraquecê-la com seu jeito traiçoeiro de animal predador, que nunca antes encontrara limites. Ela, de início ficou apenas na defesa. Ora temia atacá-lo e não ter coragem de enfrentar as consequências, ora receava ser injusta. Ainda temia que aquela incompreensível maldição pudesse passar para ela, devido ao ferimento que ele lhe causara quando uma vez lhe atingiu com a pata, ao tentar atacar uma de suas frágeis ovelhas. Sim, ela viu o arrependimento nos olhos dele e também seu estranho amor. Mas estava ferida. Seria contagioso? Não queria que acontecesse com ela o mesmo que ocorria com ele. Poderia viver sem ele ou teria de encontrar uma maneira de apenas controlar aqueles eventos que se tornavam mais frequentes, porém menos assustadores depois que ousou manter as luzes acesas, durante aquelas noites?
  Uma noite, porém, sentia-se tão cansada que pensou desistir. Foi neste instante, em que vacilava mais uma vez, que as fêmeas do rebanho se juntaram perto da porta para protegê-la, como se por instinto, soubessem que era isto que deveriam fazer. E como tomada pela energia de todas as ovelhas gentis mas acuadas, ela reagiu. Não ia mais culpar-se por mostrar sua força, nem sentir-se mal por carregar em si sua coragem, e o enfrentou. Junto com a força instintiva das fêmeas que vieram antes dela, ela o enfrentou. E por amor a si e até mesmo ao homem que ele era quando não estava sob o feitiço das noites de insegurança de suas próprias tempestades, ela o empurrava para um quarto escuro e lá o trancava, já que ele não podia controlar seus impulsos de predador, impedindo-o de agir sôbre elas, as frágeis ovelhas que viviam ainda em seu quintal.
  Assim, salvou as meigas ovelhas que lhe sobraram com a esperança de que multiplicassem. Dizem que ela não é mais ingênua como antes, suas ovelhas não são mais tão dóceis, contudo as pessoas vêem os dois, ainda por aí, quando o tempo está bom, andando de mãos dadas, como um casal amoroso que convive bem... e então, ela é feliz...
  Conta-se também, não sei se é verdade, nem quero dizer em voz alta mas, dizem que nas noites de lua cheia, quando começa o ouvir os trovões de uma tempestade que se aproxima, imediatamente ela se transforma, e nas suas patas, digo, mãos, crescem pêlos!!
Texto: Vera Alvarenga
foto da pintura de Annita Catarina Malfatti - 1955 - Pastora e Ovelha
retirado do site catálogodasartes.com.br 
Técnica : Óleo sobre madeira
Dim. : 60 x 54,5 cm

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Amor possível, amor impossível...

 Eu já amei o amor possível, da única forma que me parecia ser possível amar – doce e inteiramente, com compaixão, gratidão e entrega total.
Claro que esbarrei em meus limites e nos do próprio ser amado, mas eles não me importavam. O importante e natural era o amor ser como era.
Depois, muito tempo depois, um dia me apaixonei outra vez porque de novo, o amor me tocou com seu encantamento, para meu espanto, de uma maneira diferente - amei um amor que crescia apesar da distância, que existia apesar do impossível.
Nos dois momentos, o ponto comum foi ser tocada por um amor que me encantava, o que fez nascer o desejo da entrega, como se entregar-se a tal sentimento com inteira lealdade possibilitasse transformá-lo em verdade que pudesse sustentar-se e sustentar a nós.
Não amei porque estivesse farta ou desprezasse o amor possível. 
Não tentaria explicar o que não se explica. Amei o impossível porque assim me encontrei, de repente e inesperadamente, apaixonada. Então, tudo passou a ter novo significado ao mesmo tempo que nada mais importava, porque o que era possível se dissolvia como um barco naufragado em meio às ondas reais do tempo presente, numa tempestade em alto mar. E eu ainda lutava no meio de algo grandioso, assustada, quase afogando-me, apenas agarrada a pequena estaca de madeira, pedaço talvez do mastro de uma antiga bandeira. Mesmo com os olhos a arder do sal da lágrima e do mar, meu olhar seguia o pássaro que voava livre em direção à terra firme e me inspirava a sobreviver, não me deixando afundar.
Assim, posso dizer que já amei de várias maneiras, já salvei o amor e fui salva por ele. Agora, ando na praia ao entardecer, tentando secar minhas roupas com os últimos raios de sol e a passos lentos, marco na areia meu rastro e sigo com esperança de que não sinta mais o frio das águas geladas do mar revolto e profundo, que existe na solidão de cada um de nós...  
Texto : Vera Alvarenga
Foto retirada do Google images.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A mulher, a loba e a benzedeira...

 Há muitos anos atrás numa pequena e calma vila, onde morava gente simples, comum, havia uma boa mulher, que antes fora também comum como todo mundo, até o dia em que bebeu a água da fonte proibida e ficou doente.
Ninguém ao certo sabia porque era proibido, às mulheres da vila, beberem daquela fonte, mas assim era. Como as mulheres eram ingênuas, em sua simplicidade obedeciam sem discutir. Aliás, há muito tempo que, só  homens fortes e corajosos ou animais sedentos se serviam da água que, conforme se dizia, tinha gosto amargo, estranho. Não faria bem para mulheres, com sua frágil constituição. Embora pouco comentado sabia-se também que a água, que escorria um tanto escura da fonte por estar à sombra das árvores, ao ser tocada por uma mulher, resplandecia como se fosse banhada pela luz do sol, pura e cristalina. Talvez este mistério fosse o sinal de que era algo sedutor porém perigoso, que devia ser evitado.
No passado, naquela vila, as que tinham ousado experimentar da água sofreram males para os quais os médicos da época não conheciam a cura. Algumas enlouqueciam ou eram tratadas como se tivessem perdido o juízo.De qualquer modo, perdiam algo precioso para si. Isto justificava portanto, a proibição feita para proteger as mulheres e explicava a pacífica atitude de obediência a ela.
Um dia porém, aquela mulher que há anos morava na casinha toda florida e enfeitada, aquela ingênua e boa mulher comum mas nem tanto assim, aquela que de vez em quando, distraída dançava e cantava em seu jardim não se dando conta de alguns olhares curiosos de quem por ali passasse, um dia ela, não só tomou da água mas escorregou e caiu na poça em frente à fonte, e nela se molhou inteira. Deste modo, ao voltar para casa, de início envergonhada, pensou que deveria esconder sua insensatez, mas não conseguia, mesmo porque a água que molhara sua roupa atraía os olhares, e ela se sentiu nua. Ao caminhar em direção à sua casa ouviu cochichos, mas não se importava porque sentia dores nos olhos, via o mundo de forma diferente e não sabia ainda o que mais viria como consequência de sua ousadia. Apenas tinha a certeza de que, pela primeira vez era urgente que cuidasse de si.
O pior estava mesmo por vir! Ela, que era tão comum e ingênua, às noites ficava completamente exausta, como se notasse pela primeira vez que suas forças finalmente estavam exauridas. O que antes lhe dava prazer, agora a lembrava de sua fragilidade e ela já não sabia se isto era bom ou ruim. E, durante algumas noites de lua cheia ela chorou, e seu choro podia ser ouvido por toda a vila, como se fosse o uivo de uma velha loba ferida. Ela não se envergonhou por isto, nem por sua voz. Contudo, durante o dia, algumas pessoas a aconselharam a aquietar-se, para o bem de todos ou por diferentes motivos. De início ela usou da artimanha de amordaçar a si própria, com um lenço de seda, nas noites de luar. Foi então que de seus olhos vermelhos começaram a saír faíscas e ela foi obrigada a olhar-se no espelho a cada vez que pingava colírio. E viu sua culpa, sua ingenuidade, sua vergonha e sua força. Sozinha,chorou de tristeza, de dor, de raiva e de amor até calar-se.  E, quando não havia mais lágrima pra chorar, e todos os pássaros fugiram de seu jardim, foi então que ela recebeu a visita de uma velha benzedeira.
  - Benze meus olhos, para que eu veja como antes...pediu.
  E a velha lhe disse que tudo ia passar mas que ela estava se transformando, e como não se pode ter um dia igual ao outro após uma grande tempestade que derrubou árvores, fez estragos e abriu clareiras, assim também ela teria de recomeçar a cada dia, vendo a luz e a sombra, chorando e sorrindo, buscando dentro de si a luz do amor e dançando em seu jardim quer fosse sozinha ou acompanhada por quem tivesse a coragem de compreender a dor de suas perdas e o valor de suas conquistas. Ao se despedir, a velha não lhe deu o abraço que ela desejava receber, mas um conselho:
  - Acima de tudo, por mais que lhe seja difícil compreender sem culpa, acredite que jamais serás a mesma, terás de aprender a defender-se como defendias as tuas crias e a voltar a crer em seus instintos, mas isto não é um castigo, é uma benção...
   Texto: Vera Alvarenga
   foto: Google images.

domingo, 8 de janeiro de 2012

A história dos rabinos e eu...

Andam me contando histórias..e elas me fazem pensar.
A daquele anjo, por exemplo,que levou 4 rabinos ao céu, onde eles contemplaram algo tão maravilhoso que ao descer do Paraíso para a terra novamente...
... o primeiro, após ter visto tanto esplendor, enlouqueceu e passou a perambular espumando de raiva até o final de seus dias. ( e bem assim estava eu, há pouco tempo, espumando de raiva e me sentindo culpada por isto). Que destino cruel o dele. Não quero isto pra mim.
... o segundo rabino encarou tudo com cinismo:  - -  
- "Ah, eu só sonhei com tudo, só isto, nada aconteceu de verdade. Foi só sonho!" ( que pena! eu bem pensei assim também. Nunca pensei que seria cínica na minha vida, mas algumas vezes é uma saudável opção agir como a raposa que diz - as uvas estavam verdes! outra, que pelo cinismo se salva da loucura e se cura da raiva.)
... o terceiro passou a falar incessantemente sobre o que havia visto, demonstrando sua total obsessão e assim, perdeu-se e traiu sua fé. ( Assim diz a história. Eu penso que tudo o que ele sentiu pode ter sido tão grandiosamente simples e maravilhoso que ele não podia conter dentro de si. Contudo, a obsessão talvez tenha sido a de continuar a desejar, e desejar colocar tudo na realidade palpável. O que não seria erro, se fosse possível. Afinal depois que nos inspiramos, e foi assim comigo, a gente quer trazer à realidade, e dar a ela um maior sentido.)
... Bem, o quarto rabino, este era poeta e usou toda a sensibilidade despertada nele, pegou um papel e uma flauta, sentou-se junto à janela e começou a compor uma canção atrás da outra, elogiando a pomba do anoitecer, sua filha no berço e todas as estrelas no céu. E daí em diante passou a viver melhor.
  Pensei sobre este rabino em particular.Como ele me lembra o que eu fui e fiz desde o começo de meus tempos, desde menina quando a sensibilidade e um amor puro transbordavam de mim. E me lembrei que, chega um dia em que, na maturidade, a gente quer ver transformada a realidade que nos toca de perto, e quer sentir o amor chegar de fora pra dentro, e nos tocar como milagre surpreendente. E os olhos vêem o mundo de outra forma. Então, após decepcionar-se e depois quase tocar os céus por instantes, a gente fica como os 3 rabinos anteriores, esquecendo-se do que é ou não sabendo mais como sê-lo! Isto aconteceu comigo, sem dúvida!
   Ainda mais me convenço de que..." diante do que é o sentimento do amor, todo gesto que não vem inspirado por ele, e tudo o que não é mais o amor, nos parece sem vida ou grotesco!"
  Sabe de uma coisa? Esta história me lembrou que preciso voltar a ser poeta! ainda que esta história não tenha me ensinado como me conformar com o andar sobre pedras, quando podia estar deitada na relva macia de um jardim florido que vislumbrei lá no paraíso....
 
texto: Vera Alvarenga
foto retirada do Google, onde não estava nomeado o autor.

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