terça-feira, 30 de junho de 2015

Escultor, escultura....

O inverno havia chegado.
Ela não gostava do frio. Pressentiu que o dia estava claro lá fora e que logo seria hora de levantar-se, mas sentiu-se quentinha ali, no meio das cobertas. E ficou quieta como em meditação ou adorada preguiça. Estar aposentada tinha suas vantagens, podia levantar-se mais tarde. Bem mais tarde. Não havia horário rígido para nada.
No inicio da noite não conseguira dormir tão rapidamente como gostaria. Seu pensamento estava em outro lugar e a tinha levado, em sonho, para longe dali. O frio, então, parecera maior pela madrugada. Pegou a mão do marido e suavemente colocou-a sobre o peito. Eles ainda tinham este hábito de abraçarem-se, de vez em quando, mesmo durante a noite. Bastava um pegar o braço do outro e virar-se. Aconchegavam-se por momentos, sem nem precisarem acordar.
 Era um hábito. Como um agrado caso a vida tivesse sido difícil no dia anterior ou uma concessão, se algo entre eles tivesse deixado um gosto amargo na boca. Não importando como tinha sido o dia anterior, ela sempre acreditara que juntarem os pés sob as cobertas ou aconchegarem-se mesmo sem nada dizer, era como perdoarem-se por não serem perfeitos, e por serem tão diferentes. Era um jeito de criar um futuro melhor -  para ela, cada dia deveria começar zerado, como uma folha de papel em branco onde o sol refletiria assim que ela abrisse a janela, e o abraçasse e se cumprimentassem com um bom dia.
E aquele abraço durante a noite era algo bom, era como o escultor que volta àquela mesma escultura que ainda não conseguiu terminar pela manhã e a descobre, e continua seu trabalho com as mesmas mãos, mas toca a argila como se fosse a primeira vez.
Ela podia fazer esta analogia porque era escultora. E além disto, trabalhara muitos anos com o toque - tocar o outro de algumas formas podia dar sentido, esperança, alento, vida, energia ou todo o seu contrário.
Este abraço funcionara por anos, como um acordo mútuo, como se um cuidasse de dizer ao outro:
- Estou aqui. Dorme. Fica bem.
Sim, havia muitas vantagens em se ter um relacionamento assim tão longo, coisas boas podiam acontecer como que por encanto...ou, na verdade, automaticamente por hábito. Por um hábito cuidadosa e intencionalmente mantido. Quem disse que disciplina e bons hábitos não fazem bem?
Virou-se, e como era costume antigo nas manhãs de domingo, mas já andava a esquecer de colocar em prática ultimamente, colocou a mão no peito dele e ele imediatamente abriu o braço para que ela deitasse em seu ombro. E ficaram assim, quietos, por mais algum tempo antes de começar um novo dia.
Aquele homem era o seu passado e seu presente. O relacionamento, uma escultura. O toque era um ato de fé. A fé e o amor são coisas que devem ser exercitados com disciplina, como pudermos, com quem pudermos, quantas vezes nos for possível, ou ficaremos como aquela argila ressecada, aquela escultura com rachaduras porque o escultor esqueceu de cobri-la de noite, e descobri-la no dia seguinte, e olhá-la com fé e tocá-la mais uma vez, quase como pela primeira vez.
As vezes somos como o escultor, outras como escultura. E algumas vezes, alguns de nós tem a sorte de experimentar os dois papéis.

foto e texto: vera alvarenga




sábado, 27 de junho de 2015

Escolhas....

Mariana pegou o livro na cabeceira. Ler um pouco ia lhe trazer o sono. Abriu na página onde se falava de "escolhas". E leu.
Sua mente viajou. E num instante repassou mentalmente uma fase recente em sua vida onde ela fez escolhas. Escolheu deixar-se apaixonar, e depois escolheu ser coerente, deixar tudo o que não poderia manter, se quisesse honestamente dedicar-se aquele que poderia vir a ser o amor maduro de sua vida, um amor cuja experiência da amizade e respeito, atrelados à paixão, se transformaria facilmente no amor maior, como presente dado por Deus, por merecimento talvez, ou por compaixão deste que sabia tudo de si. Era assim que ela olhava para tudo que aquele homem lhe trazia - um presente.
E assim, acreditou que tudo acontecia como se o próprio Deus estivesse mostrando-lhes um caminho de luz e descanso após outras batalhas, como se certas pessoas e ela mesma fossem marionetes a cumprir o papel idealizado por Ele. E se era assim, sentia-se abençoada e perdoada por estar apaixonada, de novo. Valia a pena "escolher", porque aqueles que não escolhem podem ficar para sempre imaginando o que seria se não tivessem escolhido acreditar que valia a pena investir tudo, entregar-se inteiramente.
Então ela nem mesmo se importou de confessar, sem reticências, sem vergonha, sem pudor, o que sentia. Nem que tivesse de parecer aos olhos dele, um tanto imatura, um tanto tola por estar apaixonada novamente. Nem que tivesse de pedir desculpas e justificar-se por se sentir assim tão viva e feliz, inesperadamente, no momento exato em que nada mais esperava.
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Sim, arriscou-se e fez escolhas mas, de repente, viu-se sozinha neste movimento de ir em frente...
Andou até o meio da ponte e com a ousadia de sua fé, porque acreditava que tudo era idealizado por Aquele que tudo sabia e conhecia sobre sua índole amorosa, foi um pouco mais além do que seus padrões antigos teriam permitido. 
Ela escolheu mas não foi escolhida.
E passou muito tempo sem compreender.
- Então, Por que???!!! Por que tantas coincidências,tantos encontros? Porque o apego e saudade que doía nos ossos? Por que aquele tão grande sentimento, sem nem mesmo cheiro, tato ou concretude?
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E, naquela noite, lendo aquela página do livro, de repente ela percebeu. 
Percebeu como fora importante que tivesse, mais uma vez em sua vida, feito a escolha de ficar inteiramente dentro de alguma coisa - de entregar-se inteira a um sentimento. Os que não fazem isto nunca saberão a resposta, nunca terão de enfrentar a consequência de suas escolhas ou perceber que a dor de não terem sido também escolhidos pelo outro é melhor do que o banho em águas mornas do que não é nada mais do que um oásis dentro de uma noite solitária de sonho. A vida é cruel, por vezes, com as respostas que recebemos diante do assumirmos publicamente nossas escolhas. Mas também é cruel ficarmos assombrados pela culpa por não termos sido o bastante claros sobre o que desejávamos.
Naquela noite ela percebeu que não se sentiria jamais culpada por este pecado- o de não ter tido coragem da integridade de seus sentimentos e desejos. Por lembrar dos desejos, sentiu vir novamente aquela onda que tomava, aos poucos, conta de seu corpo. Contudo, imediatamente fechou as páginas do livro que engoliram esta onda. E calmamente, sem que ninguém pudesse adivinhar se havia tristeza em seus olhos ou apenas sono, ela os fechou e, antes de dormir, disse a si mesma:
- Foi melhor ter feito escolhas. Só assim poderia saber que não fui a escolhida. Não fiz parte da mesma escolha consciente e decidida a abraçar tudo aquilo como se fora uma oportunidade grandiosa de um amor sedento de certas reciprocidades e cuidados mútuos. Era preciso que ela pudesse ver no outro olhar, este mesmo desejo dela. Ela já conhecia o amor, um tipo de amor.  E, a não ser para realizar-se num amor de igualdades e diferente daquele que conhecia, não teria valido a pena. 
Que pena. 
E então,escolheu silenciar a mente e o coração...dormiu.
foto/texto:vera alvarenga  

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Espanha- Estações Ferroviárias de Madri e Toledo.

Numa tarde em Madri, conversando com um casal mais ou menos de nossa idade e que morava lá, soubemos que ir a Toledo era um passeio que realmente valia a pena. Estava em meu roteiro mas meu marido ainda não tinha resolvido ir. Foi uma conversa ótima.
 O casal muito simpático, mas o que mais gostei foi mesmo de terem convencido meu marido a ir a Toledo!Já começamos bem desde a estação ferroviária, Atocha, que é linda!





clic nas imagens para ampliar...
























E estes são alguns detalhes da Estação ferroviária da cidade de Toledo.










quinta-feira, 18 de junho de 2015

Minha viagem a Paris! Um grande presente!

Como seria possivel que minhas asas um tanto abatidas como minha coragem e auto-estima, alçassem voo tão alto? Sozinha, por certo eu não iria! E foi uma luta para conseguir companhia. E então iríamos até o meio do caminho: -" Portugal, já é o suficiente!"
Como seria possível, sem as coisas que a vida ensina, se não tivesse percebido o vento e o tempo passarem tão mais rápido do que meus desejos, sem ter sentido o amor dos filhos e noras a incentivar-me, sem ter aprendido com um amigo que sonhar é diferente de poder realizar, sem ter recebido este presente - a viagem a Paris, Gant e Bruges, e Amsterdã- dos filhos Robson e (nora) Lika? E a amorosa insistência do Robson a me dizer:
- Faz tempo que quero lhe dar esta viagem. É o sonho da tua vida. Presente de aniversário!Vai mãe!!!
- "Vai, mãe!" soava como um coro amoroso, dos filhos e noras!.................................
E decidi! E programei, fiz roteiro, nada de excurções nem hotéis, vamos alugar apartamentos... sacudir o bolor das asas, lembrar que lá é muito mais seguro do que aqui... e fomos!!

E ficamos ali, num pequenino apartamento alugado,de um jornalista, bem no centro da Ille de St. Louis!!
Ali, rodeados pelo Sena, pertinho da
Catedral Notre Dame...
ali onde sabia que podia ir até o Sena, mesmo se tivesse de ir sozinha para o passeio...(mas isto não ocorreu...rs...)
ali, onde havia 2 linhas de metrô que nos levava a muitos locais turísticos...
ali... perto de tudo que me interessava ver.




Paris...da Notre Dame, de outras igrejas e dos jardins!
 ( clic nas fotos p/ampliar)


Paris do rio Sena...e dos passeios de Bateaux...




Ah! o rio Sena! e suas pontes!





 A ponte romantica dos casamentos!
Paris, das grandes avenidas, dos grandes monumentos, dos grandes museus...
Paris é muito intenso!













Paris das boas idéias... e amizades! ( como Allan e amigos e familiares de Christine)


Paris de uma grande e amorosa amizade! Christine, uma amiga de meu filho Roberto e nora Priscilla, e cuja amizade e interação conosco foi uma das melhores coisas em Paris.


Paris das janelas e dos gatos ( por que não? Este estava bem ao lado de onde nos hospedamos.)




Paris do Metrô onde podemos encontrar artistas como esta violinista que tocava lindamente uma música clássica!
O Metrô, que funciona muito bem, mas em horário de movimento requer muito cuidado com as bolsas e bolsos! ( quase fui roubada no metrô, sem perceber...salvou-me a intuição que Deus me deu!) Contudo, é uma grande cidade e lotada de turistas, o que, acaba por inspirar os aproveitadores.
Paris das tardes de chuvinha que acabavam por nos impedir de ver o que gostaríamos... mas fica pra uma outra vez...rs...


Paris... de muito mais!

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