quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Um Ano Novo mágico, é meu desejo...

Momentos mágicos, sentimentos puros e genuínos e fortes e verdadeiros, algo que num instante está aqui para no outro desaparecer, um vazio que de repente se preenche de luz, um coração que volta a amar...
   Mágica, milagre, algo que não se explica, pode ser inesperado e até parecer não combinar mas se encaixa perfeitamente como se fosse feito para durar eternamente...e, às vezes dura!

Hoje me dei conta que por tantas vezes, meus sentimentos são tão bonitos e intensos, mesmo que singelos, que parecem me iluminar por um segundo enquanto me  permito crer mais neles que habitam na alma, do que no real onde moram apenas as aparências.
Quando em seguida me olho no espelho ou ao redor, pareço ouvir um estalar de dedos que me faz "acordar" e duvidar do que é mais verdadeiro, pois evidentemente estou numa idade em que a beleza e delicadeza do sentir não "combinam" mais com a aparência ou limites impostos pela realidade. Os que passaram dos 60 anos, começam a saber do que estou falando e cada um, vivencia isto à sua maneira.

Só posso crer que é por um gesto divino e mágico que sentimentos iluminados são cultivados ou florescem surpreendentemente numa terra que muitos pensam não ser mais fértil! Porque a fertilidade do que é possível no mundo da alma não tem tempo, nem idade, embora sofra com os opostos da realidade concreta em que vivemos.
Queria, por alguns momentos poder ser de novo uma aparência mais jovem, que unida ao sentimento fosse como um reflexo deste...para oferecer meu amor a você porque seus braços estariam estendidos para mim, como uma pedra preciosa que reflete em seu brilho o seu valor e o que é, sem vergonha de ser. Queria deste modo, por alguns momentos ser inteiramente coerente, a própria imagem do amor que se oferece para sentir o desejo de quem o quer, da flor que desabrocha para ser amada pelos olhos de quem a admira.
Se, apesar do tempo e de tudo, você pudesse acreditar nos sentimentos nascidos assim, se pudéssemos viver este milagre, então seria pura mágica!
Você acredita em magia?

Aos amigos, o meu desejo de que possam viver no próximo Ano, momentos de pura e deliciosa magia em suas vidas, com amor, pelo amor!
Texto e foto: Vera Alvarenga 

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O romântico, culpado de traição!

Entrou sozinha, sentou-se, pediu café com canela.
Tentou colocar-se à vontade, como se estivesse habituada a ir sozinha a cafés. Não estava. Olhou as mesas ao redor. Mulheres conversando aqui e ali, uma mãe com sua filha adolescente, um homem de cabelos grisalhos olhando no relógio e, em seguida levantando-se para cumprimentar a mulher um pouco mais jovem, que acabava de chegar sorrindo.
  Ao sentir o cheirinho e experimentar o sabor do líquido quente que lhe foi servido, sentiu-se estranha. Como se o prazer não pudesse ser experimentado num momento solitário. Como se tudo que desse prazer tivesse de ser compartilhado. Era assim para ela, por isto parecia estar traindo alguém.
  Sorriu. Quem sabe aqueles dois...olhando-se com aquele ar de cumplicidade, sorvendo tão rapidamente o delicioso café como se tivessem urgência em sair dali. Algumas coisas a gente reconhece à longa distância, é como o aroma que se espalha no ar. E eles se levantaram. Ela baixou o olhar, evitando ser intrusa e também desejando voltar a si mesma. A gente se distrai muito com outras pessoas e pouco olha para si, pensou . Claro que seria muito melhor estar ali com companhia, como aqueles dois, mas sentia prazer assim mesmo.Solitário prazer que deveria ter seu tempo alongado. Então, pediu torta de chocolate.
   Não tinha dito a ninguém que ia tomar café ali, sozinha, nem poderia imaginar que isto lhe daria prazer. Mas dava! E não, não estava traindo ninguém. Aliás, o que seria a traição? Tanto se fala sobre traição. Traição, algo sempre imperdoável. Ela não podia estar traindo com algo tão simples, para o que sabia não ter companhia apesar de ser desejo antigo, apesar de ser apenas uma das coisas que não podia compartilhar. Então, havia prazeres que devia buscar por si! Isto de querer companhia era um "problema seu", uma vez que há muito tempo sabia que o companheiro nem sempre esperava sua companhia para satisfazer seus desejos. Ah, e o que é o desejo? Algo que cresce em nós mas podemos sempre sublimar, transformar sua energia em algo "produtivo"? Por vezes, o que precisamos, e com certeza queremos, é satisfazê-lo ou matá-lo. Então seremos culpados, cúmplices de um crime. Seja porque matamos o desejo ou porque vem de algo que tanto nos fazia falta que cresceu em nós e acabou por ser imperiosa necessidade para sobrevivermos. E de tudo seremos capazes, até tomar para nós o que nos vai nutrir! Seríamos, por isto, menos culpados? Ah, mas se assim fosse, os que roubam para matar a fome cometem crime mas não seriam condenados. Imaginou alguém, num palco, dizendo: - Cortem-lhes as mãos, tirem-lhes a liberdade, olho por olho...!
  Esta coisa de traição era mesmo um assunto complicado. Para ela, era mais sério do que fazer sexo, ou mesmo amor, com outra pessoa! Traição era desprezar o amor que você tanto quis para si e substituir o acordo mútuo por uma atitude falsa e descomprometida.
   Sorriu mais uma vez, reconhecendo que seus pensamentos vinham-lhe de modo teatral, de certa forma. A vida em si, parecia um teatro de fantasias mesmo para ela que gostava da verdade. A vida estava no centro do palco, não porque fosse falsa, mas porque era vibrante e dramática. Quem seria o inocente? e o maior culpado naquele ato, qual seria? Certamente é aquele que, de olhos fechados,  com nada se contenta. Não dá valor ao que tem ou ao que veio a suas mãos porque  tomou pra si e conquistou, e transforma esta conquista no motivo de seu desinteresse, na certeza de que o poder sobre o conquistado é eterno. O que tem fome, vai buscar alimento por instinto de sobrevivência ou definhará. Mesmo o insaciável vai buscar o prazer em outro lugar, porque ainda tem fome!
   Contudo, o egoísta, este é o pior. Ainda que apenas suspire pelo que está distante não despreza totalmente o que possui, ao contrário, o desvaloriza e o enfraquece mas apega-se porque lhe dá prazer e o mantém junto a si com promessas que sabe serem uma ilusão, porque teme comprometer-se, dar igualmente de si. Irresponsável traidor de si mesmo, extrativista em busca de mais e mais para viver é como o homem que suga da terra tudo que ela lhe pode dar, sem notar que fertilidade é um processo de relacionamento e que demanda cuidado. Não há solo fértil que se mantenha assim, sem uma relação de respeito.
   Não era, no entanto, nos traidores cínicos que ela pensava. Era nos inocentes, nos que nunca antes pensaram trair.
   Os românticos que se entregam totalmente. E fiéis, e confiantes, seguem a lutar por uma bandeira, até o dia que percebem que, por quase todo o tempo, estiveram mais sós que acompanhados? Ah, estes apenas fantasiam, imaginam um amor para si com tanta ternura que todos ririam, se soubessem o que sua sensibilidade esconde. São ingênuos, estão perdoados! Não sabem que querem o impossível? diriam todos. Pobres coitados, não sobrevivem sem amor, como os artistas não vivem sem o belo. Contudo, atentos, os competitivos diriam: - Prendam-nos! eles são os piores, porque traem com alguém que jamais poderia ser vencido!
  O objeto de seu amor, pensarão, seria tão idealizado e perfeito, que ser humano algum poderia competir com ele. É como aquele cheirinho do café que a gente sentiu na nossa infância, ou daquele bolo que só a mãe ou a avó faziam...nunca mais alguém conseguirá vencer este desafio com o que se iguale a tão apetitosa lembrança e desejo. Seria por isto que os românticos e ingênuos são os piores?
  Não, não por isto. Eles apenas acreditam na partilha. Na verdade, são os piores sim, porque sem que muitos saibam,  eles se apaixonam por algo tão real, e muito simples, e fundamental - pelo amor. Simplesmente pelo amor que contém amizade e respeito, e quem puder lhes oferecer isto, realmente  terá toda a sua atenção. Eles sabem que serão saciados se encontrarem o amor. Porque já o provaram, já provaram de seu próprio amor. Não conseguem fazer de conta que nada sentem. Eles só desejam poder amar de novo.Conhecem o amor, porque foram capazes de amar, talvez durante muito tempo, uma vez. De fato, eles não trairiam jamais! O que ocorre é que, diante do que é amor, o que não é, finalmente a seus olhos livres da nebulosa ilusão, não sobreviveria.
   O sensível "trai" tudo o que não é mais amor, ou o que nunca foi.
   O que mais se sensibiliza com as sombras e demora a conformar-se com viver nelas, é o que já conhece a luz.
 Então, ao contrário do que parece, os sensíveis não desejam nem sonham com o que o companheiro jamais poderia ser para reconquistá-los novamente. Não desejam o impossível. Não como aqueles que fingem não sentir, não como os que se dizem traídos e que, se um dia são vencidos não é por um fantasma mas por sua incapacidade de compartilhar ou viver na luz. Porque na luz, descortina-se o simples no real, enquanto que no escuro, apenas o que é glamour consegue ser valorizado, e os sentimentos se escondem na penumbra. Os sensíveis desejam algo que está facilmente ao alcance, embora muitos não o percebam. Por isto sofrem. Os românticos, os sensíveis sofrem porque vêem a possibilidade na simplicidade, onde outros não conseguem ver. E, para não trair sofrem, mas acabam traindo de uma maneira ou outra. Porque traem a seu próprio ideal quando não encontram mais seu antigo objeto de amor, que se tornou inalcansável porque não quis descobrir-se do véu que o isola e o impede de compartilhar de si. O egoísta que não se mostra contente e exige cada vez mais, traiu primeiro a quem se uniu para compartilhar. E, ao trair, atrai para si, mais cedo ou mais tarde, o mesmo.
  Quando se fala em traição, não daqueles que traem porque é assim que entendem a vida, que traem em inúmeras pequenas e irresponsáveis atitudes, mas daqueles que gostariam de não fazê-lo, é porque no final das contas, seu desejo, saudade e carência tornaram-se imensos. E quando se fala em traição, na maior parte das vezes é porque já sofreram antes inúmeras pequenas traições, que passaram desapercebidas ou   não puderam encarar, porque o sol acabava encobrindo-lhes a visão. A traição que dói é aquela por amor, quando um não consegue mais evitar o desejo  de apaixonar-se outra vez, quando percebe que esteve vivendo parte do tempo no Ades, e quer sair à luz, banhar-se nela, mesmo que por isto fique momentâneamente cego.
   Podemos cegar-nos num ambiente triste, úmido e escuro, ou igualmente, com os raios de uma manhã de sol, ou com o pólen de dourado brilho das asas de um pássaro!
   O sensível adapta-se à sombra, mas prefere a luz.  Então acontece que, aquele que nunca desejou trair, trai, mesmo que por um segundo e em pensamento.  Apaixona-se pelo amor que conhece, pelo amor que sentiu e que o satisfará, porque já o experimentou. Trai ao outro porque apaixona-se pelo amor que o outro não pode lhe dar. Antes, já traiu a si mesmo, ainda que sem perceber, insistindo em amar mais ao outro do que a si próprio, apesar de tudo.
   O romântico e sensível num último olhar ao centro do palco percebe que mesmo aquele que o traiu por não cumprir sua promessa de partilha da benção do maná, também aquele foi vencido antes mesmo de se unir a alguém,  talvez porque nele, o desejo de amor estivesse desde o início, tão voltado para si mesmo que jamais poderia ser saciado.
Texto: Vera Alvarenga
Foto: retirada do Google -não está citado o autor da foto.

sábado, 26 de novembro de 2011

Se quer comprar, não desdenhe! Pense nisto!

Se não quer, nem precisa por defeito,diga que não quer,e pronto!Tá interessado? Reconheceu que pode ser bom negócio, vai te fazer feliz, lhe dará prazer? então valorize, faça a sua parte, tente fazer um acordo que também respeite quem lhe oferece algo, não desdenhe!
  Um exemplo de onde se aplica:
-  Vocês viajam a São Paulo, enfrentam 2 dias de stress, trânsito ruim,  procuram aptº pra alugar. Quando o aptº serve, condomínio ou o bairro é uma droga, e vice versa. Preço exorbitante. Você precisa CAIR NA REAL! Tá, caiu. Então, finalmente encontram. Bairro bom, aptº cabe tudo que você precisa quando se desvencilhar dos supérfluos, e condomínio perfeito!
Ah, mas você viu uma casinha em outro bairro não tão bom,porém do outro lado da rua tem umas árvores, tem até grade de segurança no portão! e tem um terraço onde poderá colocar algumas de suas plantas. Tá no teu preço, você fez uma proposta pedindo menos de 5% de desconto.Ela te serve. Vai ter que colocar grades de segurança nas janelas dos quartos, mas tudo bem.
Sua mulher não quer morar em casa, tem medo, não quer mais trabalho com quintal, mas tudo bem também.        
   Contudo,como o destino gosta de brincar com você, vão ver aquele aptº que ELA queria ver desde o dia anterior. Ela tem uma droga de intuição muito esquisita em relação à casas para vocês moraram. Uma vez, quando entraram num escritório de uma casa começou a sentir-se mal, ficou angustiada, faltava-lhe o ar, e, quando viu, estava saindo quase correndo da casa, foi respirar lá fora na calçada, sem graça, lágrimas caindo sem que ela soubesse porque...e o corretor então lhes contou que naquele quarto, alguém da família suicidou-se. Vocês encontraram algo muito melhor depois, com outro corretor. Uau! Mas isto era só quando ela era jovem e mesmo assim, raramente acontecia de ter intuições deste tipo. Era sensivel, só isto. Agora, está velha, é diferente- era uma fada, agora é bruxa...kkkk.......e fica de mau humor, de vez em quando..bem que você tem saudades de quando ela era uma fada flexível e sorridente.
O fato é que vocês dois gostam muito do aptº, de tudo! É mais barato que todos os imóveis que viu, e com mais estrutura - até você reconhece! Aliás, este tem um bosque com pássaros, tantos, que te encantou! Você abre as janelas e as árvores parecem estar no teu quintal, só que, sua mulher não precisa cuidar delas, tem um jardineiro no condomínio, e segurança, vocês podem chegar dirigindo à noite e entrar ali sem medo de abrir o portão! São Paulo é perigoso. Beleza! Você está no céu, embora no 1º andar!! Aliás, por isto mesmo é que está barato, pensam que, 1º andar é um defeito. Pra vocês não é! é uma promessa de paraíso...então, melhor desdenhar, não dar na vista e ah! tem um defeito:
- A porcaria da garagem - são duas vagas juntas e só uma será sua! Ah ha! Taí o problema, não é perfeito!!
Tá bom, o proprietário quer uma ou 2 coisas que você não quer dar, você não dá, e você faz a proposta ainda pedindo 16% de desconto! NA CASA VOCÊ PEDIU 4,5 % de desconto. Você quer o preço da casa, ora bolas! Tua mulher percebe e lhe diz que o aptº é bom, ela não quer perder, está em outras imobiliárias, cuidado! o aptº tem tudo que querem e mais a segurança e jardineiro e o bairro, perto de tudo! Dá pra andar à pé na rua até a padaria, agradável. Mas, quem precisa sair pra caminhar, você nem gosta disto. A casa tá perfeita pra você. Ela sente que pode perder o aptº ! Como ela é insistente quando tem certeza de querer alguma coisa! Diz que quer ver pessoas,não quer ficar trancada em casa. Ela lhe pede:
- Por favor, cai na real, só mais 100,00 nesta proposta! Se não, não é acordo!
Não, você não gosta de se flexibilizar...é fraqueza, melhor criticar e desdenhar. Se o cara quiser, tem que chegar no teu preço! É assim que se faz acordos ( será?) Não levando o outro em consideração?
Ela diz: - Se a gente quer, pega, valoriza, se flexibiliza!
  Resumo da ópera: Logo mais receberam a notícia que o proprietário recebeu outra proposta um pouquinho antes... e que está na frente, talvez tenha mais condições que o proprietário deseja.
  Agora, só milagre!   Sua mulher crê em milagres, é daquelas que acredita que um anjo virá trazer-lhe um presente, que alguma fadinha virá com os pirilampos, iluminar seu caminho...rs.... Bom, tudo bem! Triste, a tua mulher pensa que não era pra ela..vai aparecer algo melhor que Deus está reservando ( desde que ela vá atrás, ela sabe disto!). Isto logo passa e ela vai ficar bem.
  Mas você tá tranquilo porque gostou mesmo da casa e só precisou pedir menos de 5% de desconto! mas ninguém te ligou ainda sobre a casa...será que perdeu esta também? E sua mulher, será que vai aceitar todas as suas condições? Bom, agora ela tá mais dura. Será que você não percebe que não é o aptº que importa mais aqui, mas o tipo de acordo que vocês deveriam estar sendo capazes de fazer?
  SERÁ QUE É POR ISTO QUE, OS FLEXÍVEIS DEMAIS SE TORNAM MAIS DUROS, com o passar dos anos, E OS INFLEXÍVEIS ACABAM POR SE DOBRAR? Alguns só o fazem quando vem o reumatismo, ou pelos golpes da vida? Bem, há os que não se flexibilizam nunca e pegam da vida, só o que está dentro dos limites que se impuseram ( e aos outros!)
   Acho que esta frase vale para muitas coisas : Não acredito nesta história de desdenhar, fingir, não valorizar quando a gente quer, a menos que a gente se conforme em receber algo que também é falso, ou "meia boca", ou de alguém que também esteja acostumado a desdenhar, não valorizar. E isto se aplica também aos relacionamentos, não é mesmo? Não sejamos falsos!
 Não se faça de bonzinho, não há acordos quando você não leva o outro também em consideração. A única coisa que estará plantando são sementes de raiva, desconsideração igual, decepção, ferrugem que limita os movimentos em direção de uma vida mais simplesmente feliz! E ponto!
Texto e fotos: Vera Alvarenga

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Caia na real !!

Esta semana ouvi duas vezes a frase: " Caia na real!"
Uma,quando conversava com uma inteligente amiga advogada a respeito de algo acontecido com conhecidos nossos.A história era assim:
A mulher, saiu à noite para uma aula.Esqueceu de apagar a lanterninha do carro. Ao voltar, a bateria  estava arriada. Depois de procurar em vão o telefone do seguro, pegou o celular e pediu ajuda ao marido. Ela estava com medo de ficar ali, sozinha no escuro. Este a interrompeu e lhe disse que estava assistindo TV e que ela se virasse sozinha. Constrangida, mas tendo que engolir as consequências de seu erro, mesmo assim precisou ligar logo depois, pois ele havia ficado com os dois cartões de seguro com ele, inclusive o dela. Isto a impedia de resolver tudo sem incomodá-lo...blá,blá... rs...
  Dias depois, o tal marido liga afobado desta vez, pedindo ajuda a ela. O carro havia sido guinchado, inclusive indevidamente diante de motivos que não vem ao caso colocar aqui. Ela ajudou prontamente. O fato é que, o marido esquecera de pagar o licenciamento e, logo ao entrar numa avenida pela contra mão por ausência de placa de aviso, percebeu o erro e ia voltar quando ao mesmo tempo, por um destes azares da vida, foi barrado por policiais. Em resumo, carro guinchado sem apelação.
Vendo a cara aflita de nosso amigo ao contar, penalizei-me por ele, compreendi sua aflição afinal, com 67 anos teve de andar a pé e correr contra o tempo atrás de documentos,etc..quando deveria no máximo ter levado ele mesmo o carro ao depósito e não ser guinchado! Coitado, comentei eu.
   Minha amiga advogada me enviou um email então perguntando se eu estava sendo cínica ou meu comentário tinha sido mesmo sincero. Claro que fui sincera! Então ela lembrou-me de como nosso amigo costuma ser exigente com todos. Pediu-me para imaginar o que ele teria dito à esposa se o carro dela é que tivesse sido guinchado. Era só uma questão de REALIDADE! Nosso amigo era duro como é a realidade aí fora - tolerância zero! Ela contou-me que, em sua profissão, tem usado muito o colírio: " CAIA NA REAL!"
   A segunda vez que ouvi, foi alguém que gosto muito me chamando de Cinderela...rs... Rimos as duas, por perceber como estou desatualizada sobre algumas verdades da vida. Pessoas como eu, que ficam "protegidas" no lar e são artistas sensíveis, estão acostumadas a enfrentar realidades que tenham a ver com trabalho, emoções, dificuldades financeiras, mas tem uma visão diferente diante da "falha humana". Somos mais condescendentes com os outros. Não quer dizer que sejamos conosco..rs.. Tais pessoas esquecem-se de ser realistas e compadecem-se mais do que deveriam. Ainda bem que não convivo apenas com pessoas que, sendo crédulas e compassivas, passam a mão na cabeça da humanidade que há em cada um de nós! Errar é humano, compreender o erro e encarar as consequências é obrigação, mas deixar que pessoas que a gente gosta aprendam suas lições, experimentando também em si o remédio que usam para outros, é uma questão de reconhecer que podemos ir só até o meio do caminho.
Cada um de nós tem o que aprender...a vida não nos deixa passar impunes,a menos que sejamos políticos desonestos. Injustiças acontecem...alguns de nós devem aprender a tornar a pele mais resistente, outros a abrandar seu coração. Nosso amigo precisava também "cair na real!"
A "Vida" me mandou um recado nesta semana: "Cai na real, Cinderela!" De minha parte, aprendi ultimamente com 2 mulheres que admiro e gosto muito que, podemos manter em nosso ambiente mais íntimo um clima de cordialidade e certa tolerância, mas não o tempo todo! No mundo no qual vivemos, precisamos, com certeza e mais vezes : " CAIR NA REAL"!
Texto: Vera Alvarenga
Foto retirada do blog fotolog.com.br

domingo, 6 de novembro de 2011

Tempo de delicadeza...

Há o tempo da paixão
e o da delicadeza...
Sob suas águas mornas e calmas,
ainda que aceitasse com ternura
os frios desígnios da natureza
com suas asas de candura,
sob a luz, escondida correnteza
corria nela ainda livre, emoção
que pelo corpo se entranharia
feito pulsante artéria principal,
levando o desejo de vida
e cor, ao que então não morreria.
Assim, como era natural
a quem conhecera o verbo amar,
finalmente permitiu-se sonhar
que num doce e envolvente abraço
ao amor se entregariam.
E o que pele, corpo e alma sabiam,
demorou-se ela a compreender :
- mesmo seu delicado sentimento
jamais se poderia opor
ao que é da natureza do amor,
ao soberano desejo de pertencer.

Foto e poema: Vera Alvarenga
Vídeo you tube









sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Músicas...

Existem músicas que farão minha alma dançar...sempre...
Outras que falam de segredos confessados, ou não...
Outras que são o desejo de um sonho de felicidade e gratidão para se viver...
outras que explicam o que a gente não consegue explicar...






quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Despedidas...

Despedir-se do que se gosta é difícil para muita gente. Costumo despedir-me aos poucos, porque há muito aprendi que vida é movimento, nada é eterno e mesmo o que a gente goste, não dura. Assim, quando gosto muito de alguma coisa tento dar-lhe a devida atenção no momento presente em que ainda a tenho. Então, despedir-me? tudo bem.
Despedir-se das pessoas de modo geral é um pouco mais difícil. Então, dou-lhes atenção mas tento não apegar-me muito a elas porque sei que não me pertencem. Até dos amigos, familiares já tive de afastar-me, como muitas pessoas antes de mim já tiveram, movidos por contingências do trabalho, da decisão de recomeçar tudo em outra cidade, enfim... despedir-me, tudo bem.
Despedir-me ou me afastar de alguém ou coisas que gostava como atividades, ou mesmo trabalho que adore, cantinhos especiais onde faço o que me dá prazer, a casa onde se mora, já vai trazendo maior dificuldade, ou diria melhor, requer mais esforço para desprender-se. Contudo, a gente leva para onde for, a possibilidade de recriar a partir da própria criatividade e capacidade de amar que, esta sim, nos pertence. Então, tudo bem também.
 Agora, é diferente quando se trata de despedir do homem que a gente amou, ou por ventura do que deseja amar, a coisa complica muito e, reconheço, quase impossível!
Nossa! como sou lenta nisto! Como demoro a aprender com a raposa. Como é extremamente difícil desenrolar-me, desatar laços que estão adornados por sonhos, esperanças, desejos, sentidos, emoções, sensação de ser especial.
Quem não deseja sentir-se amado? Quem não quer ver um olhar dirigido a si, que traga brilho e  desejo de conhecer e ter mais do que somos? Quem não deseja ver-se reconhecido no olhar do outro? E disto, já foi comprovado, depende a vida! Por mais que nos façamos fortes e espiritualizados, é do que precisamos.
E quando se sonha com isto, ou pior, quando a gente chega mesmo a sentir que é finalmente ou novamente possível, quando a gente quase alcança ou até o faz, a gente tem tanto medo de perder. Porque tem muito a perder! Significa ter consciência de que a partir dali, por um tempo que não sabemos quanto, a vida será ainda mais frágil do que sabíamos que era, porque esvaziou-se do sentido principal. 
Ah, e a vida é tão frágil! E nela estaremos então, tão soltos, sem raízes, sem vontade de voltar para o leito, poder ir para os braços, perdidos que estamos do sonho que nos recarregava de esperança e luz. E tal modo de estarmos não nos trará a sensação de Liberdade, mas apenas da inconsistência, da impermanência no que vale a pena.
Um amigo enviou-me hoje esta frase : - "Todos os dias Deus nos dá um momento em que é possível mudar tudo que nos deixa infelizes. O instante mágico é o momento em que um "SIM" ou um "NÃO" pode mudar toda a nossa existência"  Parece significar que é necessário aproveitar toda a chance que Deus nos dá. 
Sei bem disto. Quando eu era andorinha, não me sentia sozinha e costumava não deixar o trem passar na estação sem que aproveitasse o momento para uma criativa mudança. Entretanto, para mim agora, acima e além disto, a frase significa também que devemos levar em conta as responsabilidades com a gente mesmo, com o que a gente pode ser de melhor. É preciso antes olhar nos olhos do maquinista para ver se ambos queremos partir juntos para um mesmo destino, ainda que desconhecido para nós. Porque a gente já experimentou outros momentos que pareciam raros é que a gente sabe o que quer ou o que não quer mais! Nem tudo que cai na rede é peixe. A gente sabe que não é qualquer chance que nos interessa. Que não é qualquer pessoa que preenche em nós aquele vazio e nos devolve as asas da fé e da liberdade de viver a vida como ser único e divino em sua essência, e que quer viver a felicidade alcançável, respeitando o outro e sendo respeitado por ele. Não é com qualquer outro que a gente sente que está vivo novamente, ou com quem quer viver tudo que ainda for possível. Ah, e como a gente queria que o outro a quem entregamos nossos sonhos, quisesse nos entregar também os deles e pudéssemos voar juntos, além e acima dos trilhos de uma vida pré programada.
Ter de despedir-se deste sonho, porque não há o trem com o maquinista na estação, ou o que lá está não encaixa mais no que queremos construir do nosso destino, é como não poder mais alimentar o pássaro dourado que vinha cantar em meu terraço e alegrar minhas manhãs. É como perder a luz do sol porque é despedir-me do ideal, que estava já entranhado em mim e justificaria tudo o mais. 
Esta despedida sim, me apavora, de um jeito que nada mais o tinha feito e me deixa fora de prumo, meu ritmo entra em desassossego, perco a direção e isto me aflige. Por isto então é algo além de minhas forças, dói só de pensar, machuca, me acovarda, me deixa pequenina, frágil como a adolescente que está sentindo que vai lançar todo o seu orgulho no chão e abrir o maior berreiro! E sabe que ninguém vai escutar, porque não tem sentido que alguém venha lhe salvar, se antes já não tivesse vindo sorrir com ela.
Perder o sonho em que se apoiam outros valores significa, por um tempo que pode ser longo demais, esvaziar-se de sentido, do desejo e da crença em que : “ Por amor, tudo vale a pena, basta querer amar!”  E este é o valor pelo qual caminhei toda a minha vida até agora, sempre com esperança, levantando após cada pequeno tombo, porque nada era grande o suficiente para me fazer cair de vez. Agora estou no chão, embora ainda deseje voar. Não há peneira que tampe o sol que quase me cega mas deixa à luz, a verdade de tudo o que envolve minhas recentes descobertas sobre meus valores e sonhos e crenças.
Talvez o meu momento seja aquele em que tenha de aprender de um jeito que jamais esqueça, que não basta querer amar. Para isto é preciso dois, que queiram olhar juntos para o mesmo destino. Isto me parecia tão romanticamente óbvio, mas é na prática que dói. É um tempo em que tenho aprendido a dor da perda como a morte de alguém. E o tempo de luto é longo. É tempo de respiração suspensa, de medo e necessária coragem para encarar o fato de que não tenho nenhuma garantia,que o único sentimento que conheço é o meu, que é verdadeiro, forte e real e que quanto mais tentava explicar e evitar,mais me entranhava nele. É o tempo de reconhecer que nada mais posso fazer além de me entregar ao meu sentimento, com a humildade que devo a mim mesma, para depois de conhecê-lo, saber o que virá.
Texto e foto: Vera Alvarenga

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Na minha casa mora um anjo...

 Na minha casa mora um anjo
que se contenta com amar.
Já pensei em desfazer-me dela,
você a quer levar?
Gosta de carinho, de conversar
ou se aconchegar em silêncio
nos braços daquele que ama e
unicamente a ele dedicar seus dons.
Não mora ali sòzinha.
No sótão, é sua vizinha
uma mulher já idosa,
uma bruxa, com certeza,
mas do bem, pois cheira a rosa.
Tem certa sabedoria,
porém falta-lhe delicadeza
quando briga com a jovem
que, fiel, ainda crê
que a vida, apesar de tudo,
traz alegria e prazer
a quem quiser dar amor e receber.
Quando a bruxa percebe
que o anjo está feliz
e flutuando mal toca o solo,
para ela torce o nariz,
puxa-lhe as pernas,
quer fincar-lhe os pés no chão,
manda tocar tão alto as trombetas,
que assusta tudo o que voa
e faz o que era bom sumir!
Então, diz sem nenhum rodeio:
- Tu  te contentas com pouco,
isto é notório e sabido,
és tola, vais ferir teu coração.
Se confias ainda numa ilusão
deves estar enfeitiçada!
E o anjo aflito responde :
- "Perdão, estou apaixonada!
e não se engana minha intuição,
a meus olhos, o que vejo,
vem do que viu o meu coração.
Minhas asas trago machucadas,
verdade, já me fizeram sofrer,
porém minha natureza não muda,
temo, mas ainda desejo crer."
  Na minha casa também
  tem uma leoa no quintal.
  Briga por tudo e todos que ama
  e se enfurece contra o mal.
  Na minha casa tem uma mulher terna
  que  às vezes chora, comete erros,
  ainda ama e quer. Esta mulher sabe que
  agora, só a um homem deu o poder,
  deste feitiço de amor, se quiser, desfazer,
  e então,este grão de esperança não irá mais cultivar...

Fotos retiradas do imagens do Google
Versos: Vera Alvarenga
Vídeos: Ingenuidade - Tones Label
             Não precisa - Paula Fernandes
             Amado - Vanessa da Mata


terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sobre a morte...

 Quantas lágrimas a gente já chorou diante dela?
 Quantas vezes nosso orgulho se desfez diante dela?
   Ela vem por vezes tão inesperadamente, que a gente nunca sabe o que esperar dela. Algumas vezes é tão estúpida, injusta, outras vem de manso e a gente está tão triste de ver aquele que ama sofrendo que chega a bendizê-la. Sei que ela é necessária, de algum modo para renovação de tudo que há neste mundo. Mas de qualquer modo, é inexplicável sempre para mim. E ela sempre vem, infalível, eficiente, inadiável, cumpre seu papel e se vai, sem direito a apelação, sem emoção, sem nenhum sentido para quem fica. Daquela fonte, não podemos mais beber,daquilo que morre não poderemos mais nutrir a vida que há em nós.
   Quem fica é que cai de joelhos, chora rios, ou esconde tempestades no peito. Quem fica é que sente toda a incoerência de estarmos aqui, ao mesmo tempo que percebe como é necessário refletir no modo em que vive a vida, enquanto aqui estiver. Porque quando ela vier, tudo que conhecemos se acabará e não sabemos, de fato o que virá.
   Sim, eu sei, alguns sabem, ou assim acreditam. Que sorte a deles! Eu ainda não sei, procuro crer, há momentos em que realmente creio e outros em que sinto que é melhor nem pensar a respeito porque não posso aceitá-la, a não ser através de minha fé ou crença, que construa para mim, o que me salvará do medo que tenho dela. Porque ela é implacável e soberana, e tão superior a tantas outras verdades relativas, que iguala a todos nós, de todas as raças, de todas as crenças, de todos os amores. Ela vem e acaba com qualquer dúvida, e mostra que enquanto existirmos, ela existirá, e tá acabado!
Por isto, prefiro nem pensar nela e tenho de desprezá-la. Não me entenda mal, por favor, senhora, reconheço sua soberania sobre tudo e todos que conheço, sobre o reino fincado neste solo de tantas mães gentis, e até por isto, e por reconhecer-me impotente, deve desviar meu olhar de si e seguir em frente com sua opositora, feliz da vida enquanto posso sorrir e esquecer-me de sua existência. Perdoe-me por isto, mas é o que posso fazer... levar comigo em meu pensamento, nas boas lembranças, todos os que a senhora levou para não sei onde. É o que posso fazer, o carinho que lhes posso dar. E minha fé em que um dia vou reencontrá-los de alguma forma, sei lá como e isto nem importa, é o que me consola. E lembrar que temos tido pequenas evidências de que, o que vai consigo não é tudo o que temos, e mesmo o que levará um dia de mim não será tudo o que sou, me traz certa tranquilidade ao coração. Só assim, apesar da dor que fica quando perdemos alguém, só assim podemos imaginar que um dia, humildemente estaremos de alguma forma pisando em sua cabeça com algo que será eterno, mas reconheceremos então, que a senhora fazia parte apenas complementar no mundo de opostos, do que a gente chamava de vida! Quem sabe a Vida tenha sido mais esperta e numa tática do preservar o sempre existir, tenha se dividido em duas e, apenas uma de suas partes veio se colocar neste mundo de dualidades de igual força. Assim é que vida e seu oposto seriam apenas uma ilusão, apenas reflexo de uma vida perene. Como seria isto? Evidentemente não espera que eu lhe responda,não é senhora? Afinal, esta é a parte de mim que também não compreendo, mas que, ao contrário de si, ela não se dá a conhecer e ninguém que eu saiba conhece seus segredos. Por isto, não há o que possa destruí-la, perca as esperanças!

   Que os que perderam seus queridos possam ter alguma tranquilidade no coração e jamais desistir de viver a vida de modo a transformá-la numa benção, enquanto for possível beber desta fonte.
Texto e fotos: Vera Alvarenga   

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Nova versão para a escolha amorosa de Páris..

 Na mitologia, o Julgamento de Páris representa o problema da escolha no amor, 1º grande desafio que a vida nos força a passar, e que representa nossos valores e o tipo de pessoa que queremos ser. Páris escolheu Afrodite seguindo mais seus instintos( de acordo com o livro que li),pois era jovem, e o apelo erótico e amoroso tinham grande peso, e não ponderou sobre a necessidade que teria dos dons que as outras escolhas lhe trariam.
  O mais importante nesta figura mitológica não é se ele cometeu um erro mas, que nos mostra que qualquer escolha que fazemos traz consequências para nosso "Destino". Pensando na escolha de Páris, cheguei à conclusão que, embora já não seja jovem como ele era da primeira vez, minha escolha continuaria a ser fundamentada no que mais acredito que necessito do outro e para mim como pessoa. Para brincar comigo mesma e com meus amigos, fiz uma nova versão de Páris, agora com idade madura..rs...tendo de fazer uma nova escolha entre 3 Deusas. Então é assim...
 - " No tempo em que deuses habitavam o monte Olimpo e os homens ainda apaixonavam-se por deusas, Páris, homem já maduro, foi chamado para escolher uma delas, desta vez já tendo conhecimento, por experiência, que as outras duas tentariam se vingar ( se ele se encontrasse desprevenido! ..rs...).
 A 1ª , numa grande bandeja de ouro, cravada de pedras valiosas, trouxe-lhe e lhe ofertou o Poder e a Influência no Mundo, ainda lhe prometendo deixá-lo ir e vir para usufruir disto, como bem quisesse. Páris encheu-se de júbilo ao imaginar com que prazer tiraria proveito desta oferenda.
A 2ª, numa bandeja igualmente grande de prata, forrada com valiosissimo brocado trazia um livro com inscrições de ouro. Ofertou-lhe o Conhecimento sem limites e garantiu-lhe que ela estaria à altura de sua Inteligência, podendo aconselhar-lhe para conseguir a realização de seus anseios políticos e de justiça, incluindo saber as respostas a todas as suas dúvidas existenciais. Agradou-o enormemente ao intelecto, tal proposta, o que lhe preocupou porque sentiu que seria difícil escolher e ficou apreensivo quanto ao dom da 3ª. Esta porém, o decepcionou de certa forma.
 Trazia uma pequena bandeja com uma taça dourada,onde apenas um diamante brilhava. Contudo, embora não fosse a mais exuberante e, para contrariar a história, nem a mais bela das três, vinha,mesmo assim, com um semblante calmo.
 Páris notou surpreso leve tremor em suas mãos, mas em seu olhar viu orgulho quando ela o dirigia a sua oferenda.
- Não lhe ofereço Poder, nem total Liberdade, pois ainda não os conquistei totalmente. Quanto ao Conhecimento, temo que terei de aprender muito contigo. Porém, não sou modesta! Prometo amar-te como se fosse o meu deus, embora saiba que não é, e oferecer-te a Felicidade numa taça a cada dia, nunca deixando de retribuir cada gesto teu que me surpreenda ou agrade, porque terei enorme prazer em amar-te. Te darei meu colo e irei aconchegar-me no teu. Através do ato de poder te amar, serei feliz e fiel ao próprio Amor, de quem sou cativa e sem o que, nada sou. Eu te farei feliz porque jamais rirei de teus sonhos e serei companheira em teus voos, com a única condição de participares comigo de um ritual uma vez por ano. Nele, nos olharemos nos olhos e, do que virmos dependerá o quanto poderei continuar a te fazer feliz.
Dizendo isto, afastou-se emocionada.
  Páris estranhou o fato da deusa, exatamente a que falava de amor, trazer velada em sua oferta certas condições. Desconfiou de sua idade, que não aparentava a beleza eterna das outras deusas. Virou-se e ao pé do ouvido de seu conselheiro Saturno, o também chamado Tempo, perguntou:
- Não achas estranho? Não te soa meio falso falar de amor e desafiar-me a merecê-lo?
- Tem razão, Páris. Quero alertá-lo de que, neste ritual a cada ano, notarás que ela estará envelhecendo um pouquinho e talvez também precise de ti.Contudo, posso garantir que não se trata de falsidade, mas de certa "condição" desta deusa.
- Conta-me, sem demora, então! Que segredo esconde esta deusa?
- Seu segredo e seu pecado foi uma vez ter deixado de amar, e então, renunciou a sua condição divina e tornou-se, para sempre, quase totalmente humana, com exceção dos momentos em que puder estar amando.

Foto e Crônica : Vera Alvarenga.


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Nem paraíso,nem inferno...

 - Hei! Você me deu choque!
 - Desculpe.Preciso fazer escultura, andar com pé no chão, descarregar energia. Estou como aquele pato, cabeça nas nuvens.Não comente com ninguém, tá?
- Amiga, ele está com a cabeça...
- Pois é, nem o reflexo das nuvens é real, tá vendo? Bem assim que me sinto.
- Huummm...Ontem li algo engraçado sobre estar apaixonada. Serviria pra você. Este mal que fica entre o peito e o coração, que parece o ar que a gente inspirou e fica lá, sem achar o caminho, desconcertado, fora de ritmo...disseram que, se ninguém mexer, não tendo futuro, um dia passa. Então, não se preocupe.
- É. Este "mal" que sinto, me traz leveza e desconforto, pediria realização se não tivesse medo que acabasse como tudo que se realiza.
- Realização... pode não ocorrer como se imaginou.
- Eu sei, mas isto é sentimento, pede expressão. Precisa de um container para tanto conteúdo - gostar, desejar tocar, querer existir, compaixão, ternura. Compaixão, li outro dia, é amor, sabia?
- Bem, tire proveito então, e sonhe. Sonhar não é pecado, é possível, você sempre dizia isto.
- Você tá brincando, né? Isto era no seu tempo, desculpe. Hoje uma mulher não fica sonhando por algo que não passa de um reflexo, quando nem sabe se contem algo real.Se você soubesse as coisas tolas que imagino.E é bem porque não tem limites pra se voar, que frustra e estou nesta enrascada. A gente se pega sorrindo. Sabe como é? Já te contei. Sem pé nem cabeça. É como ver revista de culinária, com a foto de um Petit Gateau derretendo e quando a gente começa a antever o prazer, aí acorda e percebe  que estamos aqui nesta pista, caminhando para queimar calorias. Ninguém merece!
- Você é engraçada. Ainda bem que é jovem e pode rir de si mesma.
- Se não estou no inferno, também não é nenhum paraíso. Nem de um lado, nem de outro.O que sinto é..é..
- Consumissão. Nossa, fui lembrar desta palavra! Desassossego, é melhor. É isto que sente?
- Sabe? Em alguns casos, concordo com você, é melhor a realidade nua e crua. Afinal, precisaria realidade pra gente poder sentar no colo...
-Você anda imaginando isto, é??  hehehe...
- Te falei! Preciso algo que contenha tudo isto. Você já se sentiu assim, não è? É sério, o que faço?
- Não. Nunca me senti assim, eu acho. Quando me apaixonei, ele já estava muito apaixonado, tudo se realizava muito no concreto. Eu não acreditava em amor à primeira vista, demorei mais pra gostar, mas depois, virou uma longa história.
- Você é  toda certinha...
- Nem tenho mais idade para ser diferente,não é? Não saberia como lidar com uma paixão não correspondida.
- Você diz isto porque tem alguém que sempre foi muito concreto a lhe esperar, alguém que possui todas as certezas. Tem sorte,então.
- Acho que sim. No seu lugar,tomaria um banho frio, ou me afogaria..ahahah..Não leve a mal. Estou só brincando, desculpe. Mas tenho saudades da intensidade de tudo o que ocorre quando a paixão vai se concretizando, se transformando em amor possível, real... Durou tantos anos. Paixão e amor podem se combinar, podia durar, mas não sem investimento,claro.
-Ahah! Então você é contida? Tem seus segredos.Tá, não leve a mal, também tô só brincando. Ainda bem que tenho você com quem conversar.Faz bem poder brincar. Pelo menos a gente pode rir de mim, juntas. Isto refresca.
- Falar nisto, vamos tomar um suco?
- Quem sabe um enorme e gelado Milkshake?
- Você não tem jeito.

Fotos e Crônica: Vera Alvarenga
vídeo e música do youtube.

domingo, 23 de outubro de 2011

Apaixonar-se? outra vez?

Estava lendo um texto sobre o apaixonar-se que fala de um modo divertido sobre as agruras por que passam os apaixonados.
Então me lembrei que já me apaixonei poucas vezes, na maioria, reapaixonei-me".
Pensava assim: Se conhecesse outro homem e me apaixonasse,  desejaria dar ao relacionamento todas as chances, teria paciência, valorizaria nele só as coisas que me agradassem, não é?. Então pensava, se a vida é um jogo, é preciso aprender a jogar com as cartas que ela nos dá. Alguém me dissera que a vida era um jogo. Não queria jogar para blefar, nem guardar cartas na manga. Pensava em "jogo da vida" para entendê-la como algo positivo que nos desafiava, que trazia surpresas, tinha regras, mas podia dar prazer a dois parceiros que jogassem com honestidade,pelo prazer de estarem juntos para se divertir, apesar de tudo. Eram, na verdade, dois parceiros a jogar unidos, o jogo que a vida lhes apresentasse! Não deveria ser um contra o outro. Deste modo, quando a rotina nos distanciava eu tentava embaralhar as cartas, trocar dados viciados, usar a criatividade.Olhava para aquele que estava comigo há anos e me perguntava o que eu gostava mais nele, o que nele me atrairia, e o que eu podia fazer para virar o jogo a nosso favor. Assim, nos seduzíamos, e não era difícil para mim, sentir-me novamente apaixonada, porque era bom, a não ser pelo fato de que demonstrava minha insegurança - tudo ficava tão bom que eu temia que acabasse. Portanto, outrora, nunca me arrependi deste sentimento. Talvez muitos casais façam o mesmo. De vez em quando tudo se repetia como num disco quebrado. Eu devia estar fazendo algo errado, embora resultasse certo. Pois apesar de a cada vez colhermos recompensas, parecia que era eu que devia proporcionar as condições para que tudo ficasse azul e em paz, como é o céu dos apaixonados.
Com o tempo, surpreendentemente, me reapaixonar ficou mais difícil, embora antes não fosse sacrifício nenhum, porque gostava de estar apaixonada, pelo mesmo homem. 
Estar apaixonada era desarmar-se, entregar-se, uma coisa pra lá de boa! E era fazer sexo, com frescor e juventude algumas vezes por semana. Bom demais, para ambos!
Contudo, falar em apaixonar-se já numa idade em que a gente está um pouco cansada de só receber quando agrada,  e começa a querer receber mais, numa idade em que a gente
se olha no espelho e não vê mais uma mulher cuja aparência seja coerente com o que ainda sente, numa idade em que o espírito ainda é mais alegre do que o rosto consegue demonstrar, apaixonar-se, entregar-se a este sentimento que nos lança no escuro já que estamos meio "cegos" como dizem alguns, apaixonar-se com romantismo, sem a imediata retribuição, pode nos fazer fugir ou tremer na base. É uma faca de dois gumes que mais se pareceria com uma ferradura, com as duas pontas voltadas para o ser apaixonado. Nesta idade, apaixonar-se é sofrer é arriscar-se demais, por isto muitos ficam anestesiados. 
E é bem nesta idade que a sociedade mais nos cobra que tenhamos maturidade para sabermos que nesta vida, "não há certezas"! Bobagem! A sabedoria da maturidade não nos garante maior segurança, pois o sentimento de apaixonar-se é o mesmo de quando estávamos mais jovens, mas o corpo então, podia fazer movimentos livres, soltos e mais sedutores, e não tínhamos medo! O nosso espírito quer, mas o corpo não é o mesmo. Ah, dirão alguns, mas no amor...
Sim, respondo eu, no AMOR, o corpo não importaria tanto! 
Mas e quando é preciso apaixonar-se ou reapaixonar-se primeiro? Afinal ele, eu, estaremos envelhecendo e sabemos, é preciso outro tipo de sedução, confiança. Penso que o desejo é movido pela alegria de estar junto, não mais por um corpo escultural ou sedutor.
Pois é, na maturidade é preciso coragem e decisão! Decidir não desperdiçar a vida, decidir assumir comprometimento, decidir resgatar ou valorizar a amizade e o carinho que começarão a ter uma importância infinitamente maior. Alguns homens se afastam, outros ficam amargos ou se fecham devido a insegurança que sentem quanto às mudanças no funcionamento de seu próprio corpo. Embora tudo pareça culpa da mulher, e se faça até piadas a este respeito, o que acho de extremo mau gosto, na maior parte das vezes, é ela que precisa sublimar desejos. Sei que alguns homens, sem precisarem se iludir,  mantem um relacionamento de amor e sexual satisfatório mesmo após os 65 anos de idade, mas certamente são os que tem um relacionamento no qual AMBOS ainda sentem a alegria de desejar proporcionar ao outro e a si, momentos de brincadeira e isto só pode refletir o prazer que sintam em viver juntos - e assim, comemoram a vida. Muitas vezes, mesmo quando o ato sexual não seja mais possível para o homem, como antes, se houver alegria no coração de AMBOS, corpo e  mente encontrarão uma maneira criativa de enfrentar mais este desafio.Então estarão juntos com uma qualidade de vida que transparecerá no brilho do olhar, apesar de envelhecerem juntos. 
Se apaixonar-se é loucura, na idade madura é ainda pior! não é fácil. Nem para um homem, nem para uma mulher, a menos que este apaixonar-se leve junto a alegria, e à descoberta do amor, carinho e grande amizade, pois é disto que precisamos ainda mais do que da paixão, após os sessenta e poucos. Embora apaixonar-se após os sessenta nos encha de uma vida que pensávamos não ter mais, e quando correspondido possa levar ao amor, é um sentimento que dá medo, eu acho, porque pensamos que não temos mais tempo de não ser correspondidos, não queremos mais ser manipulados justamente quando estamos talvez mais prontos e maduros para o amor, que voltará a ser leve, à sua própria maneira. 
O texto do qual falei no início termina dizendo que a loucura da paixão passa e ..."a alma que parecia apartada de tudo retornará dando vida ao corpo e então, você poderá compreender tudo isso e esperar que um amor de verdade chegue".
Pois eu não sei do que se trata esta ausência de minha alma, que há tempo demais está não sei onde! Se é medo ou o que. Queria minha alma de volta pra mim, para viver uma realidade que eu pudesse tocar, carinhar, reconhecer e por ela ser reconhecida, com a equivalente medida de carinho que dou. Compreendo muito bem agora, quem deseje fugir disto( como comenta a Sissy). rs....
Apaixonar-se é mesmo loucura, não é tão bom assim.rs... Amar sim, pois amar é atitude responsável e individual, mas o que resulta do verbo, o amor, é algo construído a dois, lenta e cuidadosamente. Amar é ser chamado porque o outro quer nossa companhia para as coisas boas também, porque o outro nos quer em sua vida e sente que nos ter é um tipo de presente, é retribuir este sentir naturalmente, é velar o sono do outro porque ele é jóia rara e delicada. Penso que é assim que se cuida de quem se ama. Quero voltar a sentir, calma e seguramente de novo, com todas as rotinas deliciosas e bem vindas, um apaixonamento que se descubra amor! Na minha vida, me reapaixonei tantas vezes. Onde estará minha alma agora? Minha alma amorosa e crente era o melhor de mim e sinto falta dela!
Por que agora é mais difícil? Por que agora somos mais condescendentes com tantas coisas e mais exigentes com poucas outras? rs... Por que deixamos nos escapar pelos dedos, como areia, o prazer de viver que ainda podemos sentir? Vejo o tempo e a areia escorrerem na ampulheta num ritmo diferente do meu, que desejo e sigo com mais calma, do que a pressa que ele teima em mostrar. Quero agarrar minha chance, mas tenho medo. Com a idade, enxergamos menos, mas sentimos mais?
Como avisar ao espírito que só ele não tem idade e que só para ele tudo é possível? Como acalmá-lo e dizer-lhe que tudo está bem, apesar das coisas que passamos a conhecer? Talvez por isto o "velho" volte a ser inocente, porque se desprende do que lhe era importante e muda seus valores,mas eu queria poder fazer isto por opção consciente,por ser feliz de fato, não apenas porque a vida é mesmo assim. Há velhos que apenas carregam a vida ou desistem e outros que flutuam em sua leveza!

Por isto o ser humano tem de sonhar. Se não puder sentir-se especial por qualquer motivo verdadeiro que alguém compartilhe consigo, ele acaba por inventar um, se não puder sentir-se  capaz de ainda viver um sonho, a vida a partir dos 60 seria como minha madrinha recomendava para minha mãe: 
" Vá pegar no terço e rezar!"..rs......

Texto: Vera Alvarenga
Fotos retiradas do Google
Texto citado da amiga Marcela no link:Paixão é navegar em barco de papel. 

domingo, 16 de outubro de 2011

Queria ser brisa para beijar-te...

    Hoje eu queria poder ser como o vento de primavera que leva consigo o perfume das flores, e passando por teu rosto, o faria levantar-se. Te distrairias, por curiosidade, do que te mantinha dentro do espaço cujos portões de ferro são pesados demais para minhas mãos abrirem e sairias para sentir o vento. E ele seria, em teu rosto, o meu beijo.
  Feliz e forte, como ventania, aos teus olhos incrédulos, varreria folhas secas e rugosas que o inverno teima em mostrar-te para te fazer sofrer. Num segundo me tornaria cálida e terna como brisa de verão para aquecer teu coração. Como brisa fresca, traria leve frescor para nossos corpos e libertaria nosso espírito.
   Eu me sentiria bela e te faria belo, e juntos, sem pressa dançaríamos a nossa dança. E eu iria envolver-te inteira, varrer do teu tempo e do meu, tudo o que fosse mau. E em nós e nossas lembranças traríamos todo amor que aprendemos e já pudemos sentir por alguém, o mesmo amor que já nos alimentou, ele que nos alimentaria ainda e  através de nós e de outros, alimentará o mundo, sempre e sempre.
   E antes que tivesses medo e te fechasses pra mim, ou que tua face se tornasse de novo séria e dura, ou triste, e que em sua fronte se fizessem as marcas de um olhar novamente descrente e distante, e que por isto minha alegria se dissolvesse, eu me afastaria de ti. Porque tenho medo de ficar novamente do lado de fora de qualquer fortaleza, porque sei que não sou perfeição nem solução, mas apenas amor que precisa se dar e receber, então, por este meu próprio medo e minha fraqueza, eu me afastaria, mesmo que longe de ti me sentisse morrer de um amor que não se fez por inteiro.
   E, no fundo do meu coração, prisioneira, esperaria que um dia tua mão viesse me buscar...
Texto: Vera Alvarenga
Fotos: retiradas do Google images-não estava citada a autoria.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Onde está ela?

   Me sinto doente. Disfarço para que não tenha de explicar o que sinto e porque. Talvez eu esteja como que suspensa no intervalo antes da cena final e perceba que esqueci as falas! Não sei se o que viria a seguir era o momento da virada onde a vida sairia vitoriosa, ou se tudo acaba com a morte.
  Sei que perdi parte de mim, talvez para sempre. A que foi, perdeu-se na estrada,não foi encontrada nem encontrou por si, o caminho de volta. Foi pura e ingenuamente de encontro ao desconhecido como sacrifício feito pela virgem que acreditava que seu gesto de amor salvaria os iguais a ela. Timidamente, levou consigo a alegria que também me animava. Mesmo ingenuamente, ela roubou-me algo de valor.
   Eu fiquei. Sinto sua falta. Esperei a cada dia que ela, encontrando enfim seu destino, viesse me buscar. Eu fiquei vazia dos sentimentos que ela levou consigo e,  fiel a ela, fui me distanciando mais e mais do que me cerca. Eu, que costumava estar inteira em cada lugar, estou em todos os lugares e já não estou mais em lugar algum. Porque eu fiquei, mesmo estando com ela. Por vezes me sinto oca, como se ela houvesse levado o que me pertence. E sem ele, o ser que sou já não é nada. Ausenta-se para fingir que é. A cada noite, embora sabendo que ela perdeu-se, chamo-a de volta. A cada manhã acordo pensando que ela voltou, só para perceber ao longo do dia, que ainda não estou plena.
  Então, na frente do espelho, jogo água em meu rosto para acordar-me, e com o toque frio e real me faço o mais consciente que possa de mim mesma, e do mundo que me cerca.
  - Deixa de ser egocêntrica! Olha para o lado, vê como antes, que outros sofrem mais que tu! mas cuidado, não te faças tão consciente que acabes por dirigir o olhar para si mesma, pois que então verás que tua tristeza é porque não tens mais teu coração...
Texto: Vera Alvarenga
foto: retirada do google images.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Dia das crianças...

Amanhã é dia das Crianças. Estava lembrando de quando era uma delas. Tinha 2 irmãos mais velhos que podiam brincar na rua, eu não, pois era menina e morávamos em São Paulo! Meu pai trabalhava no Hospital das Clínicas, um dos responsáveis pelo Setor de Custos daquela imensidão. Pessoa simples, carinhosa, humanitária, ensinou-me que um sorriso sincero era algo bom a oferecer ao cumprimentar as pessoas, naquele ambiente onde elas estavam preocupadas ou com dor. Sua ambição parecia se resumir ao viver em paz e tranqüilidade, poder escrever suas poesias e pescar, de vez em quando. Além disto, às vezes pegava o carro e no domingo dizia: - Vamos até o alto da serra, comer pão de semolina com mortadela...e lá íamos nós. Adorava o miolo daquela enorme fatia de pão - era uma delícia.
Minha mãe, também trabalhava fora e embora não muito afeita a carinhos físicos, era humanitária, ajudava pessoas que chegavam para atendimento no INPS,vindas de outras cidades, sem dinheiro para um lanche, às vezes. Animada, ambiciosa embora não em exagero, social, agitada, não esquecia de presentear aniversariantes, dizendo que uma data especial não podia passar em branco. Ensinou-me, com seu exemplo, sobre a disciplina, a força de vontade e persistência. Dizia que a ambição é necessária para um futuro mais seguro e que a vaidade era fundamental...neste último quesito eu fui uma péssima aluna, mas aprendi por observá-la, a importância nos apresentarmos bem socialmente ou no trabalho. Ambos tinham “caráter”,princípios dignos e eram honestos. Tive sorte em ter pais como eles.
  Fui feliz na infância. Nenhum grande trauma, nenhum drama. O que me faltou? Hummm... bicicleta, piano, oportunidade de estudar ballet. Dizem que eu dançava bem, desde pequenina. Tais faltas materiais fizeram parte do aprender a lidar com frustrações, mas, na verdade, não me lembro de frustrar-me por muito tempo, inventava outra coisa pra fazer, como tocar violão, e com ele, compunha minhas músicas. Sentia-me um pouco só, mas com isto me habituei a ficar bem comigo mesma. Quando tinha quase 8 anos nasceu minha irmã, para mim uma boneca viva, e eu adorava ajudar a empregada a tomar conta dela na ausência de minha mãe durante o tempo que ficava no trabalho. O fato de viver numa casa com quintal onde  permanecia horas sozinha, fez com que eu desenvolvesse  a capacidade de imaginar e criar, e também a de concentrar-me e entrar fundo no que estava fazendo.
Amadureci cedo, aos 10 anos sabia fazer bolo, cuidar de afazeres na casa e fiquei “mocinha”. A criança (contando com o periodo da adolescência inclusive) que ainda vive em mim, é crédula, ingênua, tranquila, feliz, criativa, “excessivamente” comportada, confiante em si em termos..rs.. e romântica. Foi no colégio das freiras quando criança, que recebi minhas primeiras asas de anjo... Hoje não sou mais anjo, mas guardo as asas e vôo com elas, sempre que posso por alguns minutos, para lugares onde recarrego baterias...rs..
  Tudo foram flores?? Não. Honestamente, gostaria que meu pai não tivesse se separado de minha mãe, que tivessem sido felizes juntos até o fim, sentimos muito a falta dele e ele a nossa. E, sobre minha mãe, gostaria que tivesse sido mais incentivadora, que fosse menos crítica e mais carinhosa. Contudo, apesar do amor que sinto por meus filhos, sei que não terei preenchido todas as suas expectativas. Somos todos humanos, temos falhas e necessidades. Penso que as pessoas de minha geração desejam que suas crianças brinquem mais e vivam por maior tempo a sua infância. Acho bom. Contudo,o que penso fazer falta realmente, é um olhar atento e carinhoso para o que a criança é e sente...hoje  me assusta um pouco o excesso de estímulos, brincadeiras e brinquedos, pois noto que isto não lhes permite desenvolver a capacidade de criar a partir do pouco, ou a se concentrar pelo menos até o final de uma brincadeira. Então, o desafio hoje, acho que é o concentrar-se apesar do excesso e filtrar o que é bom, do muito que chega. A criança de hoje talvez tenha mais trabalho que nós...
A criança que existe em mim saúda a criança que existe em cada um de vocês. 

sábado, 8 de outubro de 2011

Vim apenas lhe abraçar...

 Ela sabia que ele estava lá,em algum lugar,mas há algum tempo não recebia notícias. E naquele dia, quando ela já ia partir,com os ventos da primavera, as recebeu. Vieram nas asas do pássaro que entrou pela janela. Seu coração encheu-se de felicidade e o sorriso apoderou-se de todo o semblante.
  Mas o pássaro estava machucado, debateu-se  um pouco antes de sair em seu voo novamente silencioso e cansado. A saudade, que antes tinha sido sua companheira algoz e transformara-se há pouco em oposta alegria, logo vestiu-se com a palavra fria que não consegue descrever os sentimentos, como um abraço ou o olhar melhor fariam. E, como estátua, agora congelara e continha dentro de si, o impulso da vida, pois diante do oposto que lhe foi revelado,era o que lhe cabia. Nada podia fazer para evitar que ele sofresse. Não tinha o poder de protegê-lo, nem ele viera para ser protegido. Encontravam-se como sempre, por algum motivo que não ficava claro, além do querer bem, apesar de tudo e da distância. Quantas lágrimas ele tinha chorado outra vez e ela não pode enxugar? Era assim a vida.
 Mais uma vez, ela o abraçou ternamente. Isto, às vezes, bastava. Contudo, neste período das chuvas de primavera, gostaria de tomá-lo em seus braços, curá-lo de seu ferimento, ou quem sabe, ambos se curariam do que quer que ali houvesse que os machucava de maneiras distintas. Sim, ela também queria ser tomada nos braços, mas não por um momento. Apesar de saber do caráter efêmero de tudo, o que a curaria tinha de estar vestido da certeza do que é verdadeiro por estar ali para se realizar em gestos e olhar...como se fosse para sempre. Só o despojamento das vaidades e a disposição para viver o eterno, seriam capazes de curar os espíritos feridos pela morte, em suas diferentes roupagens. Era sonho. Talvez se encontrassem apenas para darem-se este abraço dos que sabem que não serão julgados.
Antes de sair, ele pediu-lhe um sorriso para lembrar-lhe de que a vida continua... e ela, ao fazê-lo pensou em como isto era difícil quando aquele que amava inconsistentemente do modo como era possível, sofria. Assim, ela aprendeu na carne, porque alguns amam e apesar de tudo, não conseguem proteger o outro. Era um desafio mais uma vez sorrir de encantamento, quando o que parecia realidade era oposto ao que parecia sonho. Por isto ela sabia que era impossível para o ser humano deixar de sonhar. Por isto ela permitia que sonho e realidade se confundissem, por vezes...
Fotos e texto: Vera Alvarenga

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Amanhã, será um dia único!

 Devíamos ter coragem de proteger o que é mais delicado em nossa alma e não envelhece.
 Como a pequena fêmea do beija-flor não desiste de experimentar o doce da vida, apesar de ser como é, a cada dia percebo com mais calma e mais claramente que preciso investir em meu sonho.
 - "Ah! então continuas a sonhar, confias, e deixas para um futuro. És incorrigível!"
 - Não, meu sonho não é mais para o futuro, para uma viagem a Paris, Áustria, Holanda, ou para resgatar a felicidade que o relacionamento deixou sempre para colher num dia, talvez. Ou para aquela viagem de navio que um dia, alguém que eu amava muito, para minha surpresa me disse que faria sem mim, porque lhe disseram que viagens assim não eram boas para pessoas casadas. E o som daquilo feriu meus ouvidos como nota aguda e desafinada para a qual me ensurdeci, porque não soube lidar com a decepção que causou aquela verdade que eu não quis compreender - a de que não era preciso que ele me protegesse contra algo que desejava para si, de tão bom que era. Meu sonho é o de ter renovada minha fé em que eu mereço ser feliz e receber de quem diz que me ama, as melhores coisas, só até logo mais. E logo mais está muito próximo, chega com a manhã do dia seguinte.
Como próxima está a morte, portanto, o futuro, não me ilude mais.
- "E o dia seguinte não seria o mesmo de um futuro distante?"
- Não. Porque começará pela manhã, logo após esta noite, será meu primeiro dia seguinte. E eu  quero dele, grande parte para meu sonho. Quero talvez o dia todo de cada dia seguinte. Quero-o único, porque quero viver um dia de cada vez, no ritmo que me for possível, às vezes com calma, outras com intensidade. E nele, quero criar e dar minha atenção a um único momento de paz e felicidade que talvez dure o dia todo ou o pouco tempo que tem para durar. Que este dia me dê a certeza de que valeu a pena tê-lo vivido e de que sou única. Reconhecer-me deste modo, será uma experiência nova. Quero buscar com o olhar um instante de beleza, seja num gesto ou onde a possa encontrar. Disto, não posso abrir mão. Foi preciso me decidir. Não sei exatamente como farei para despojar-me das crenças que não eram minhas, mas vou começar amanhã, porque cansei de dar atenção ao que me faz triste. Muitas vezes, o que vemos na atitude do outro, não é algo dirigido pessoalmente apenas a nós, mas a maneira como vê o mundo, são suas crenças, não as quero todas para mim. É trabalho árduo este, pois desde pequenos somos fortemente influenciados pelos gestos e olhares dos que são fundamentais em nossa vida. O primeiro passo, penso que é distinguir e então filtrar, a bem de nossa felicidade, o que não serve para nós.
- Quero poder sorrir por um momento, mesmo sozinha. Melhor ainda, como é de minha natureza, será dividir esta alegria com quem deseje o mesmo que eu. Imprescindível, contudo, é reconhecer quando algo não está a nosso alcance, nem depende do que somos e então, resolver a questão como fez a inteligente raposa, que se afastou pensando que aquelas uvas estavam verdes e, em seguida foi procurar alimento de outra forma. E assim, de qualquer maneira, que a alegria ou riso de cada dia lave minha alma, porque sei agora com certeza que meu espírito, como os demais, de fato, não envelhece. Já percebeu isto?
 - Quero um instante de ternura, neste meu único dia seguinte, que começará logo mais, depois desta noite. E esta ternura me fará lembrar com orgulho que não sou rocha nem vegetal, mas mulher, e só comparável à delicadeza de uma flor, mesmo apesar de tudo e dos limites que possa ter, aos seus olhos ou aos meus. Eu quase me esqueci disto!
  - E no fim deste dia único, mesmo que tenha sido difícil,quero saber que teve seus momentos especiais e que nele,  fiz as melhores escolhas que podia ter feito pelo sonho de não desperdiçar a benção da minha vida.
 - "Isto não é muito diferente do que você pensava antes".
 - Sim, mas agora, tenho mais urgência e certeza, ao mesmo tempo que sou mais livre para assumir a responsabilidade por minha crença. Percebo que há muito, conquistei este direito. Só quero ter disciplina para não me esquecer disto.Finalmente, antes de dormir, seria bom evitar sentir pena porque não tive ajuda para colher aquelas uvas tão altas ou pensar que o dia que passou poderia ter sido melhor, pois deste modo estarei eternizando a sombra que faz em mim, a impossibilidade do que provavelmente nunca será. Há pomares que já conheço, e sei o que é possível para nós que ali estamos. Outros, que ainda não fui visitar. Engraçado pensar que, em questão de felicidade, talvez devamos ser espertos como a raposa e não apegados como um cãozinho doméstico. Apesar da importância de reconhecer o que está fora de alcance, ao fechar meus olhos só por esta noite ou para sempre, quero ter a certeza de que alcancei o queria do possível, neste meu único dia, e isto me fez acreditar que na manhã do dia seguinte, valeria a pena acordar disposta a experimentar mais um dia único, onde talvez me seja dado viver novos momentos especiais. E por eles, sorrir ou fazer sorrir.
 - Você vem comigo? Vamos tentar um único dia, único e especial, de cada vez?
Texto e fotos: Vera alvarenga  

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