sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O pêndulo...

   Uma vez ele lhe perguntou:
- Você existe?
- Claro que sim, respondeu.
E sabia que existia! porque naquele instante começava a pesar-lhe sua existência. Ela, que sempre tivera asas, vergava agora, diante dele e pesava-lhe  sua simplicidade e mais algumas características que a faziam sentir-se mais concreta e deslocada do que nunca.
   Engraçado como quando a gente se sente parte atuante na construção de um sonho, ou quando a gente ama e se sente amado sem que para isto precise renunciar a alegria que pode acompanhar tal experiência, tudo parece encaixar-se, tudo se torna mais leve, inclusive nós. E o contrário, é consequência de vivermos o momento em que descobrimos que estamos vivendo no mundo de dualidades e opostos. E nele, experimentamos os dois lados da moeda, embora alguns tenham a sorte de descobrir um terceiro. Porque o amor pode ser leve, ou pesado, conforme o modo como se ama ou que se é amado. Por vezes é uma escolha.
   Para ela, era impossível duvidar de sua própria existência, porque debatia-se e por isto, sentia cada limite do seu ser. Isto a tornava bastante concreta.
   Uma outra vez, ele lhe disse:
- Com toda certeza posso afirmar-lhe que você é insubstituível para mim.
  Aquelas palavras eram dirigidas a ela e assim, teve certeza de que poderia libertar seu coração. E logo, era ele que se tornava insubstituível para ela. E quando ele lhe falou que, algumas vezes, a sentia junto a si porque ela parecia adivinhar o que acontecia, sorriu. Porque ela o trazia sempre junto a si, em seu coração, e conversava com ele, e todos os dias dizia-lhe bom dia e boa noite.
   Quando já nada mais esperava, ele era como uma doce promessa, que naturalmente se realizaria em breve, algo que seria como colher o fruto que já está maduro - o melhor sabor, o melhor cheiro - a promessa da leveza de poder ser. Então, ela passou a viver entre o sonho e a realidade, entre a esperança e a desistência, alternando sentimentos de impotência e poder, limite e liberdade - o desejo da liberdade de caminhar livremente, não por estar só, ao contrário disto, por sentir-se plenamente reconhecida e capaz de ser. O sonho parecia mais real do que tudo o mais, porque refletia o que estava nela.
 Chegou o dia em que ela viu que nossa vida pendura-se, por vezes, no pêndulo do relógio do Tempo. E o tempo não parou para ela descer, nem recomeçou. No pêndulo, ora estamos de um lado, ora em seu oposto.
  Agora, era ela que perguntava novamente:
- E você, ainda existe?
Mas não ouvia mais nenhuma resposta.
  E, com as pernas penduradas no ar, sentada no grande pêndulo do relógio da vida, observava. Talvez nunca mais descesse de lá e se adaptasse por fim, ao balanço ritmado. Sentiu a brisa no rosto. Seria o vento que leva tudo? Mesmo que antes ela não acreditasse nisto, reconhecia agora, que era possível que ele tudo levasse. Ainda assim, ela procurava o equilíbrio, mesmo sabendo que o pêndulo jamais pararia enquanto ela vivesse... a cada dia ela o cumprimentaria pela manhã e se despediria, com um beijo, à noite...
Foto e texto: Vera Alvarenga
  

domingo, 2 de dezembro de 2012

O refrão daquela música, lembra?

   Coloco o Lap-top de lado. Fecho a página de um texto que não escrevi e que era tão branca como é a saudade que não se preenche de novas palavras. E, talvez porque seja uma tarde de domingo, uma preguiça imensa toma conta de mim. E porque a reconheço, deixo estar, me deixo levar pela calmaria.
   Lembro de você, que me perguntaria - tudo em paz? Digo que sim. Apesar do vazio na brancura do papel, tudo, no momento, está em paz. No fundo das águas calmas sei que há um grito de um animal ferido, uma ave faminta, um riso, o desejo contido de  uma mulher sem idade, um sorriso e gesto gentis que queriam ser para sempre, seus. Arrumo as almofadas no canto do sofá, pego um livro, me deito de modo a olhar para as árvores em frente ao terraço. Visão agradável. Tudo aqui é exatamente como sonhei. O que poderia querer mais? Colho da vida, neste momento, uma paz que dissolve qualquer sinal das lutas e do anterior cansaço. Me vem à lembrança um refrão de música: - " Agora só falta você, ie,iee, agora só falta você!"
   Lembro de como inúmeras palavras me brotavam no pensamento a cada vez que você vinha. E tudo efervescia, mesmo no meu jeito calmo de ser. E me parecia, talvez porque eu sonhasse, que ia haver um futuro. E fui ousada, e quase não tinha medo.
   Porque hoje é domingo, bem que você poderia voltar... eu sei, esta paz então, iria embora, substituída por certa inquietação que me faria vibrar, e muitas coisas talvez tivessem de mudar de lugar e, mesmo assim, ao fim, ainda haveria tranquilidade, se eu pudesse finalmente confiar. Eu teria sem demora, tantas palavras e uma história a continuar a escrever...
  Mas hoje é domingo. "Tá tudo bem", tudo em paz. Me invade apenas a saudade que ainda não sei controlar e uma persistente brancura de papel....
Texto e foto: Vera Alvarenga.
Música do youtube com Maria Rita -

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Comprometer-se...

 Em minha recente viagem para o sul, reencontrei um casal que descobriu no seu casamento, o segundo para ambos, que para o relacionamento dar certo, amar não é apenas sentimento, mas o comprometimento em desejar fazer o "outro" feliz. Em um próximo post vou contar uma historinha sobre eles.
   Sorte daqueles que descobrem que acomodar-se a um individualismo exagerado e "falsa" liberdade e independência sem limites do "cada um por si desde que todos por mim" não é a melhor solução para a vida a dois. Sorte dos que não pretendem ter sempre razão. Aliás, o individualismo radical não é solução nem para a vida em sociedade, pois comprovadamente traz ansiedade, sentimento de insegurança, depressão e pânico, de acordo com especialistas no assunto.
   Amar não é apenas o que se diz de um sentimento - é atitude - o amor pede ação, deseja conjugar o verbo. São dos pequenos gestos em benefício e engrandecimento do outro e do próprio relacionamento que o amor se sustenta ( e também o bom humor, e a disponibilidade para uma vida mais plena)! E não, de um sentimento que se esvazia na ausência da ação, presença de orgulho e recusa de se comprometer.
   Mesmo quem já amou, se não é correspondido, um dia acaba por se transformar em um sonhador. E se seus gestos encontram constantemente a barreira que impede a alegria da troca constante, acaba por pensar que a ele, só restou sonhar. E então, seu desejo o leva a sonhar... inconformado sonha, a cada novo dia, mesmo em presença de frustrações, porque sem esperança, entristece... e sonhar, por vezes o alimenta... mas quem apenas sonha, também não realiza mais o amor, pois seu desejo está no amor e em presença do desejo de amor, o que não é amor não satisfaz mais . Seu olhar se tornará triste e distante como que em busca da ave dourada que se banhava, antes, na água da fonte de seu próprio coração. Porque é por causa deste alegre encontro, que da fonte brota a água mais cristalina e do peito do pássaro dourado sai a mais bela canção em homenagem à vida. Nesta troca, ambos se comprazem. Sem ela, a fonte seca e a ave dourada sente-se ferida, emudece.
   Sorte ( será só isto?) dos casais que reencontram seu pássaro dourado junto à fonte!
   Os outros...viverão de lembranças ou sonhos. De certa forma, tem sorte também os que tem as lembranças e até os que pelo menos podem sonhar! Mas viver plenamente o amor é incomparavelmente uma escolha melhor, quando se pode ainda escolher. Porque este trabalho de amar nos preenche a vida, põe um brilho no olhar e um sorriso na alma.
   Assim como acontece para toda uma sociedade contemporânea, manter um individualismo egocêntrico tem um alto preço para cada um de nós, em nossa vida, de um jeito ou outro. Fatalmente, o ser humano que tentar reproduzir em sua vida íntima e familiar o individualismo radical com o qual aprendeu a sobreviver no mundo,  aumentará para si e para quem conviver consigo, o sentimento de vazio e solidão que já existe em cada um de nós. Se não se compromete com o amor em sua vida íntima desejando fazer também o outro feliz tendo oportunidade para fazê-lo, logo se desviará do caminho que o levava à fonte, não terá mais como encontrar repouso em seu ninho e forças para alçar vôos que lhe tragam mais do que uma ilusória sensação de realização. E, certamente, perderá a alegria que lhe brotava espontaneamente no riso. E, quando sorrir alegremente nos encontros ditos sociais, alguém sempre perceberá que o sorriso "é de alumínio" que, como uma máscara, ao virar a esquina, cairá por terra.
Foto e texto: Vera Alvarenga.

domingo, 11 de novembro de 2012

A eternidade do amor...

De vez em quando, ela vem e me toca. Sem aviso. Não tem hora exata para acontecer, quase sempre é quando deixo a emoção e o sentir existirem por si, sem questionamentos. E quando permito que existam sem impedi-los, eles se espalham, me causam arrepio.
   É então que pressinto que ela chega. E vem quieta e lentamente, e me toca. Meu arrepio é de medo e respeito por sua coragem.Sei que em sua fragilidade, é mais forte que eu e causa transtorno quando quer me mostrar que ainda faz parte de alguma maneira, e para sempre.
   Temo que ela me ame. Por isto talvez nunca tenha me deixado. Já o meu amor, maduro e sensato amor, é por sua memória pois não a posso ver, apenas sentir. Acho que a amo mais agora do que jamais a amei, justo quando ela já não pode ser! Nós, seres humanos, temos esta inconsciência das coisas que são, enquanto naturalmente estão sendo.
   A presença dela me traz uma doce sensação de leveza e liberdade! E num instante me transporta para o alto de uma paisagem... e tenho asas! Vejo flores e as árvores, a lagoa que se encontra com o mar. E então, lá do outro lado, eu o vejo também. Dali, posso alcançar tudo que quiser. Posso cavalgar nas nuvens e tocá-lo. E certamente, seria tocada por ele! Isto também me causa arrepio. Voar ao encontro dele é maravilhoso!
   Contudo, é bem isto que me apavora. Logo abaixo de minhas asas, quando a caminho do meu destino, a lagoa reflete minha humanidade e o que o tempo escreveu na realidade. E então, o encanto se desfaz. Para continuar seria preciso enlouquecer totalmente de modo a nunca mais olhar para um espelho? Não sei. Só sei que sempre há o aviso, mas parece que não o vejo a tempo.
   - Não olhe para seu reflexo! ele grita amordaçado pra mim. Não posso ouvir direito.
   Como evitar se tudo que nos cerca, a lagoa e o mar, refletem como espelhos? Como cortar as asas que ela grudou em mim?
   Se não a loucura, só outro olhar tão louco quanto o meu, refletido no mesmo espelho, teria me salvado. Só um olhar semelhante, do outro lado dos espelhos, nos salva a todos. Mas isto é magia! Não havemos de desejá-la? E há magia do mal ou do bem... como no espelho da madrasta da Branca de Neve ou no olhar do homem amado...
   Então me entristeço porque minha loucura está só. É loucura crer na eternidade de qualquer sentimento que pertença ao humano e viva solitário apenas em um coração. E este sentimento é o melhor de todos eles. Dele, muitos nem se lembrarão, outros não podem saber do que nunca existiu, alguns se conformam com a gradativa perda da luz como se fizesse parte do envelhecer nobremente... E ela? parece  simplesmente dispensar a nobreza de títulos, só quer cultivar o que já sentiu. Para sempre, de um modo ou outro, como se fosse o que mantém o significado das coisas! Ah! ela acredita! Sabe que algumas árvores vivem mais do que a própria pessoa que a plantou em seu quintal. Esta jovem mulher carrega tanto desejo e vigor quase inconformados, porque crê que conheceu o amor e que por longo tempo o viveu. Assim, jamais envelhece. Congelou-se no tempo?  Mantem-se fresca, ao contrário de mim. Por isto devo reconhecer que é quase impossível crer que ela possa ser assim, tão real como deseja mostrar-se a mim.
   É difícil conviver com ela, com sua absurda crença na eternidade do amor, transformado ou não. Ela, certamente, é feita apenas de desejo mesmo que seja com a mais nobre convicção.
   Por isto, quando ela vem me tocar, metade de mim se encanta e a outra metade sente arrepio.
   E não posso evitar que ela me mostre o quanto é mais bela que eu com meus humanos limites. Não posso fingir que não a conheço, tapar meus ouvidos aos argumentos que usa para lamentar a eternidade do desejo de amor que vive em nós e poderia ser escolha, mas não é. Ela apenas me enlouquece com seu egoísmo quixotesco em defesa do amor. Eu tenho de usar a sabedoria e a ternura que dizem que a maturidade traz, para compreendê-la. Tento. Raramente consigo.
   E nem ao menos posso fugir dela,  porque quando vem, ela me toca de dentro para fora e então percebo, que ainda está em mim...
Texto e foto : Vera Alvarenga

sábado, 3 de novembro de 2012

Levando flores para quem não está mais lá...

     Como tanta gente, tive sonhos, desejos, vontades. Vontade, dá e passa! Assim aprendi. Mas sonhos? não eram por coisas que eu não tivesse e quisesse vir a ter. Era mais um desejar melhorar ou resolver uma situação em que me encontrasse provisoriamente e não me agradasse. Junto com o desejo de transformar as coisas, também a noção precisa de que deveria ter uma vontade firme, visualizar a solução, arregaçar mangas e ir de encontro a ela. Primeiro com o pensamento, em seguida, com o verbo. Ah! mas sempre o pensamento vinha antes.
   Visualizar antes, era construir primeiro no mundo das idéias aquilo desejado - depois, era o sonho a ser realizado. E, se não o fosse, não deixava no coração marcas profundas, porque raramente desejava o que não podia ter. Desde adolescente, eu vivia no agora. Ainda que o presente significasse não estar verdadeiramente tanto no mundo físico mas no mundo das minhas idéias, sensações, emoções. Outra forma de estar presente era criar - uma canção, poesia,artesanato. E entrava nesta ação por inteiro, o que não deixava tempo para pensar no que eu não tinha, talvez porque este mundo de emoções, sensações e criação fosse suficientemente rico. Na verdade, não sei muito bem do que se tratava, apenas era assim.
   Não me lembro de frustrações, nem de grandes sonhos para o futuro. Acho até que não os tinha! Nem frustrações, nem grandes sonhos, nem grandes paixões. Não tive uma paixão não correspondida, a não ser aquela dos treze anos, tão doce, tão pura. Em algum lugar ainda guardamos uma parte de nós que é assim tão terna. Fui, isto sim, o grande sonho de alguém que depois se transformou na minha paixão, e ainda no meu amor concreto e forte, e único por toda uma vida. A partir daí, acho que fui construindo meu primeiro  sonho menos provável, embora não menos nobre - e este, era o de me moldar ao desejo de felicidade de outra pessoa, até que passou a ser o meu próprio sonho. E se era também o meu, dependia de possibilidades que eu criasse. Assim, os que sonham não se encontram no vazio, porque tem muito a fazer!
  Não ter sonhos impossíveis quando menina, não foi uma artimanha inteligente de minha parte para não sofrer, ou não decepcionar-me com o mundo. Era apenas o meu jeito de ser contente com aquilo que me cercava, ou de procurar com minha curiosidade natural, e ao meu redor, aquilo que achava que estava ali mesmo, só não o tinha ainda encontrado. Viver a minha vida como ela era, descobrindo nela os tesouoros escondidos, parecia ser meu desejo natural.
   Talvez minha mãe tivesse razão, afinal. Quando eu já era adulta, disse-me algumas vezes, que  me conformava com pouco. Antes, referindo-se a mim dizia que eu era cordata, serena, dócil. Mais tarde, a mesma paixão pela vida como ela era, passou a ser considerada como falta de ambição. Sem que outros se dessem conta e talvez nem eu mesma de minha pretensão, no entanto, eu tinha uma grande ambição - viver um grande amor, sem desperdiçá-lo, alimentando-o constantemente, sem acomodar-me ou cansar-me, jamais. Não se tratava de algo impossível mas quase! e dependia de comprometimento.
   De qualquer maneira, não me lembro de demorar-me a sonhar com o que estava longe de conseguir. Não! Nunca sonhei apanhar o que não podia alcançar. Não costumava demorar-me por muito tempo, a desejar o que não tinha. E o que tinha era a minha vida, do jeito que ela era. E do jeito que eu era, havia então, sempre muito o que fazer para preencher qualquer vazio que ousasse surgir.
   Me pergunto - como poderíamos, afinal, desejar o que não fosse a própria vida do jeito que ela é? Onde encontrar tempo além do que dedicamos a ela e ao garimpar pepitas naquele conhecido solo sagrado?
   Como se pode sentir falta de algo que estava em um sonho ou saudades de quem nunca fez parte real de nossa vida? Talvez, então, vez ou outra e de tão cansados de não sonhar nada tão grandioso, tenhamos logo sonhado o mais inalcansável, a derradeira esperança, o amor impossível?! Como poderíamos deixar uma saudade crescer dentro do peito e nos abater tão inesperadamente, cada vez que nos defrontamos com um espaço vazio, no tempo da maturidade? Por que este descontentamento divino nos faria lembrar daquele sonho que dissemos que nunca teríamos?
   Por que lembrar dele ?  Porque lembramos de nossas perdas e sonhos também o são! E dói,como em dia de Finados levar flores ao ser amado que já não está mais lá. Mas é nossa maneira de prestarmos homenagem a um amor tão simplesmente puro, e doce, e belo, e grande...
   É...nunca tive sonhos, desejos impossíveis... tinha sido sempre assim...
   E como a vida não nos deixa passar incólumes na presunção de que nos safamos para sempre de algo que deixa marcas ou vazio profundo... hoje eu sei, tive então, minha cota de impossibilidade e perdas que realmente me importaram, e bem numa idade onde não nos deixamos importar com qualquer bobagem. E continuo, nem sempre com a minha costumeira serenidade, a tentar explicar a mim mesma o inexplicável, a tentar compreender como me deixei pegar assim, tão desprevenida,em três momentos da minha vida e todos na maturidade, nos quais sonhei encontrar nos olhos de pessoas diferentes, o amor como o que eu, naquele momento, sentia e desejava...aquele que parecia inadiável para resgatar o significado do passado, pacificar o presente e acomodar um futuro... e aconteceu na maturidade, talvez porque seja neste tempo que colhemos os últimos frutos e de uma maneira mais consciente aprendemos a ver mais claramente nossas reais necessidades... Na maturidade, o que pensamos que tínhamos resolvido com nossa excessiva complacência por nós ou pelos outros, ou deixando pra lá, vem nos assombrar, até que, enfim acabamos por seguir pacificados ou finalmente rendidos ao tempo.
foto e texto: Vera Alvarenga.   

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Tocar o céu com meus dedos...


  Lendo algo sobre Platão, penso que me ajudou a compreender um pouco os relacionamentos e porque insistimos, alguns de nós, em tocar o céu com os dedos...
  Com certeza não nos é permitido viver um grande amor, daqueles que nos satisfaçam plenamente, o tempo todo. Somos humanos, e neste mundo dos sentidos em que tudo se modifica,se transforma e tanto nos é exigido como se fôssemos máquinas, muito de nossas atitudes fluem ao sabor das circunstâncias e impermanências. Assim, o que nos agrada e nos lembra o amor ideal, o verdadeiro sentimento pelo qual todos ansiamos, ora está ao nosso alcance, ora já não está mais. Num relacionamento amoroso, espera-se que o casal esteja atento para cultivar as oportunidades de vivenciar estes pequenos deliciosos bocados do amor. Quando isto passa a não ocorrer mais, porque uma das pessoas se deixou engolir por uma crença qualquer que a impede disto,  instala-se a dúvida se tudo não teria passado de ilusão...
   Mas não! Quando encontramos uma pessoa pela qual nos apaixonamos e com ela convivemos, desenvolvemos um relacionamento de amor e, acredito, que de fato experimentamos muitos momentos de satisfação deste nosso desejo por este sentimento pleno. Algumas pessoas, uma vez tendo consciência de tudo que este sentimento lhes proporciona, agarram-se a esta idéia como se fosse a lembrança de algo de valor que resgataram para si e não o querem esquecer. Portanto, se lhes falta este íntimo encontro com o sentimento, sentem-se desconfortáveis, vazios, inúteis. Nos deixar preencher por ele, mesmo que por momentos, é o que nos é possível em nossa condição humana, é o  que nos basta para recarregar energia, relembrar a existência de algo bom e do bem, exercitar o melhor em nós devido a algo que talvez nossa alma já tivesse conhecimento e sentisse saudade.
   O sentimento de amar pode ser para sempre, porém o amor é vivido realmente em alguns momentos especiais. Tais momentos se dão quando as almas se encontram, apesar de estarem vivendo uma vida normal e humanamente possível. Vivenciar estes “encontros” mesmo rápidos, fugazes, com quem a gente escolheu amar, é como renovar-se e nos mantém centrados e em paz, por um tempo ainda, mesmo depois que acontece – e pode ser um olhar, um gesto, um toque. É como se nossa fé na vida e em tudo o mais também se renovasse, porque vislumbramos o significado maior das coisas. Em relacionamentos mais longos, há inúmeras oportunidades para que isto ocorra. Há inúmeras formas de se dar este encontro que propicia este pequeno milagre – é como tocar nossos dedos no céu por um instante e ver que aquilo que tínhamos em mente e no coração, não é uma idealização barata e infantil, mas um pequeno sinal de algo ainda mais belo, e durável, e maior do que nos é possível supor.
   Evidentemente, há relacionamentos que se desgastam, minam energias de um ou ambos, porque alguém ali desistiu. A desistência pode ser a desvalorização do sentimento ou ato de fé que lhe conferiria a leveza para flutuar num espaço imaterial onde a realidade do amor pode existir em toda sua extensão. Há desistência quando uma das pessoas envolvidas na relação pensa que aquilo é imaterial e simples demais para ser importante, e passa a duvidar ou menosprezar o que antes, verdadeiramente, lhe trazia conforto. Pelo descaso, estes pequenos momentos de quase pleno contato com o que satisfaz, se tornam raros. Apagam-se de sua memória pequenos atos sinceros que julga sem valor, ou pior, desdenha deles. Deixa-se envolver de tal modo pelo que é de fato ilusório e de menor valia, que se compraz com o viver na comodidade da sombra, como se na vida comum não pudesse haver lugar para o prazer e a alegria singela de tocar, com o dedo, o céu.
   Outras pessoas, por sua vez, se adaptam mas não se conformam, como se sua alma estivesse sempre ansiando por estes pequenos instantes de contato com a luz para se recarregarem de fé e vida.    
   Porque já tiveram contato com o que mais se assemelha e lhes recorda a idéia de amor verdadeiro, o qual sua alma já conheceu, sua consciência sabe que existe e seus sentidos já provaram pequenos bocados, estas são as "inconformadas". Algumas até, podem seguir dóceis pela vida ou desistir dela, ou desligarem-se em algum grau da realidade que as cerca, mas, porque não conseguem desistir ou "esquecer" totalmente aquela "idéia" carregam consigo, lá no fundo, o anseio amoroso. Para as primeiras, estas outras que se demoram em desistir, que continuam como que apaixonadas por uma idéia parecem inquietas ou difíceis de contentar porque enquanto tem força, estão em busca de algo que, conquanto seja simples, não está mais ali, embora guardem a esperança de o encontrar. E o que não está mais ali pode ser simplesmente o consentimento e comprometimento do outro - uma vez que os tivessem recebido, seria possível a ambos tocarem novamente o céu, mesmo que por valiosos e rápidos instantes. Com o tempo, em alguns casos, estas últimas sentem-se murchar. Ambas ou uma delas pode se aquietar e para sempre adormecer em si, a idéia luminosa que outrora lhe fazia brilhar o olhar.  
   Muitas vezes, a mais dominadora e rígida sobrevive com a certeza de que sabe de todas as coisas e de que, graças a seu modo realista e materialista de agir é que a verdade do mundo  se constrói. Enquanto a outra, por vezes, acaba por conformar-se com sua própria loucura causada por aquele anseio amoroso que não encontra mais eco num mundo dito real. Entretanto, quem conheceu o amor jamais o esquece! E quanto mais o sentiu maior a falta que seus sentidos terão de tudo que era um reflexo dele.  Mesmo que ambos se adaptem, porque flexíveis são os seres humanos, a alma, inconseqüente, porque é amante da vida e não tem idade, pode então desejar criar nova idéia que não a deixe esquecer como é reavivar aquele sentimento. E, por sua teimosia em conformar-se, arrisca-se a confundir-se, e tentar até, talvez um dia, tocar o que no escuro é o piscar de um vagalume, pensando tratar-se da luz que conheceu!
Texto: Vera Alvarenga
Vídeo da Música com Fábio Junior - Foi tão bom.

Cozinhando para dois...Batata no Forno...

 Mesmo quem prefere por diferentes razões, almoçar fora de casa, há algumas coisas que faço questão de ter sempre no freezer e de vez em quando na geladeira. É muito bom para quando dá aquela vontade de uma comidinha caseira, temperada como só a gente sabe fazer e acima de tudo, leve, com bom azeite... e "prática"!
  Assim, hoje, como já tinha algumas folhas lavadas e reservadas para uma salada, e algumas fatias de salame e mussarella do lanche de ontem ( podia ser presunto), resolvi fazer a minha "Batata no forno". Tudo muito rápido, prático e saborosíssimo. Anotem a receita e experimentem:
Em primeiro lugar, já sabem, é sempre mais gostoso cozinhar com um copo de vinho ao lado e música se possível...
1. Coloque 2 ovos p/cozinhar. Enquanto cozinham...
2. Coloque pouca água com pitada de sal para ferver em uma panela e descasque 3 batatas médias. Corte-as em fatias. Ao terminar, ponha na água já quase fervendo e cozinhe...
3. Quando os ovos estiverem cozidos, descasque e amasse-os com um garfo. Reserve.
4. Coloque azeite numa travessa que vá ao forno,  monte as batatas, azeitonas pretas e verdes picadas,
orégano ( não pode faltar!), 4 fatias de salame rasgadas ( se for presunto pode colocar bem mais - o salame é forte! peito de frango defumado também fica bom), os ovos amassados, salpique pouquinho sal, espalhe 2 colheres do caldo escuro que está no vidro de azeitonas pretas( dá um sabor supimpa!), cubra com 4 ou mais fatias grandes de mussarella rasgadas e junte um fio generoso de azeite de oliva.
   Leve ao forno e, enquanto está lá...
   -  na mesma panela que você cozinhou a batata, frite 4 dentes de alho em um mínimo de ÓLEO, e depois junte azeite e os legumes pré cozidos ( couve-flor, brócoles, cenouras) que estavam em seu freezer e que você tinha colocado num escorredor e jogou água fervendo por cima ( escaldou). Salpique sal e pronto!
  Amigo/a, quando você terminar de fazer os legumes e arrumar as folhas de alfaces de diferentes tipos e rúcula numa travessa, pode temperar a salada com sal, azeite, limão ( acrescentar vinagre balsâmico é opcional). E leve rapidamente à mesa, porque a BATATA NO FORNO já está pronta e os legumes alho e azeite também. Nem precisa arroz! É uma refeição leve, completa, saborosíssima e rapidíssima!

   Tem um problema!! Como eu fiz com 3 batatas médias...rs... sobrou ( como sempre) e...como você não veio almoçar conosco... eu vou ter que fazer o "sacrifício" de comer no lanche à noite e so..zi..nha... porque meu marido é muito disciplinado e só toma o lanche dele à tarde, nada de comida. Assim, hoje que eu ia tomar só aquele copo de leite batido com uma fruta, para não engordar... hehehe... Mas, puxa vida, não é todo dia e, ninguém pode dizer que apesar da batata, esta refeição está pesada, com tanta salada e legumes!
   Experimente e depois me conte!
  Agora compreendem por que não faço comida todos os dias? Eu engordaria muito, pois cozinhar e comer é algo que faço por amor ou por prazer...hehehe...
  Ah! A SOBRA?? ... para quem não vai sair da dieta à noite, no dia seguinte, amasse a batata grosseiramente com o garfo e faça uma belíssima FRITADA, com 2 ovos batidos e cheiro verde! Acrescente saladas e está aí mais uma refeição leve e rápida!

Foto e texto: Vera Alvarenga.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O tempo traz, o tempo leva tudo!

   Era uma vez uma senhora quase bem velha, que já fora uma mulher e também uma jovem e antes disto, uma dócil menina. Menina já não era há muito tempo, mas desta ainda trazia em si o olhar curioso, a esperança de que as portas do mundo lhe fossem abertas um dia, e ela pudesse, sem medo, habitar nele. Da jovem, tinha certeza, vinha o inconformismo diante dos que, em grupo e por serem iguais, julgavam tudo o que não estava estabelecido e todo aquele que não caminhasse com igual passo carregando consigo iguais medidas para medir o mundo, como algo ou alguém que devesse ser rejeitado ou desconsiderado. Desde bem cedo aprenderam, a menina e a jovem, que era perigoso perguntar ou ousar ser diferente. Caminhavam, no entanto, sem atropelos a jovem e a menina, com a convicção dos que aceitam prontamente o que estivesse estabelecido, desde que se lhes fossem dados argumentos convincentes. Mas ambas guardavam sua docilidade e com olhos de esperança e deslumbramento olhavam o mundo ingenuamente. E se tornaram mulher.
   Sua docilidade transformou-se em mansidão, e submetia-se ao seu próprio desejo de agradar a quem amasse, mas jamais deixou de ser apaixonada e de viver por convicção - convicção de que haveria um significado maior para tanta coisa sem sentido. E a mulher apesar de mansa, e meiga ou suave, e acima de tudo crédula, persistente em seu desejo de crer que o mundo podia ser uma extensão de seu quintal, também podia ser forte, e corajosa e resistente. A mulher tinha fé e cada vez mais tornou-se decidida a ser leal à sua própria crença de que os significados estavam lá, mesmo que não pudessem ser a ela claramente revelados.
   Ela resistia como guardiã, aos reveses do tempo. Um dia, veio um vento forte e mais insistente que seus próprios argumentos, e finalmente quebrou as janelas, arrancou as cortinas e abriu as portas de sua casa. Parecia-lhe que nenhum canto mais podia ficar na penumbra. O vento era constante e a luz que entrava era dura, quase cegando-lhe a visão, a poeira voltava a sujar os cantos que, por sua também persistente mansidão ela ainda arrumava caprichosamente e com gosto. Sua casa ainda era o seu lugar de aconchego e ela nunca desistia de conservá-la de modo a afastar os bichos ou sujeira que vinham pelos portões abertos do mundo. E foram assim envelhecendo, numa missão que ela pensava fosse de maior amor, embora já não cantassem mais de alegre inocência, aquelas que em si ainda eram a jovem e a menina de outrora. Ela tornou-se tristonha e cansada, sem ânimo para seus antigos ou novos projetos. Nos espelhos de sua casa, já não se reconhecia. O cansaço que tomou conta de si e não era físico, embora depois sim, deixou-a confusa. Todas elas, a menina, a jovem, a mulher e a que envelhecia estavam exaustas, exauridas de sua antiga força que antes as sustentavam a todas, numa estrutura coesa e íntegra. Ela já não era mais um todo. Estava aos pedaços. Talvez porque sua capacidade de amar tivesse sido comprovada, mas o argumento, o significado que antes a mantinham em pé, tivessem se diluído. E ela se diluía com eles. Confusa. Não havia explicação racional para o que ocorria.
  Mais uma vez o tempo trouxe o vento. E este veio do norte e, como brisa lhe refrescou a pele. Desta vez, lhe trazia o cheiro da grama e de pétalas de flores junto com as últimas folhas do outono e do inverno que findavam. A luz do sol era dourada e agradável. Tudo parecia renascer em sua alma e no seu quintal. E ela ouvia o canto de pássaros.
  A velha lembrou-se que um amigo, certa vez, dissera que o tempo leva tudo. Inconformada e sabendo que haviam coisas, como o amor que aconchegara no peito por quase toda uma vida e à toda prova, que o vento não levava, não quis aceitar.... Tal argumento era para os que não tinham, talvez, a sua persistência e a sua fé. Foi o que ela pensou naquele momento em que, ao mesmo tempo que tinha total conhecimento do amor maduro comprovado e já indelevelmente marcado em seu coração, tinha também e ao mesmo tempo o desejo de realização de si mesma e de um sonho que agora, era o seu. E esta realização,desta vez, não viria principalmente através do amor que era capaz de dentro de si mesma para um outro e para sustentá-la, mas viria também, como um presente e surpresa já não esperada, de fora, de um outro para si. Era como se a Primavera que se atrasara, tivesse chegado enfim, com aquele vento brando à sua janela. A Primavera estendia-lhe os braços ofertando-lhe o mais belo ramalhete de coloridas e perfumadas flores. Devia ser um milagre! E seriam bem vindos, este e a Primavera, mesmo fora do tempo.
   Ah, o tempo! Mas o tempo leva tudo! E a senhora, a desta história, enfim envelheceu levando consigo o amor dentro do peito, aquele que foi o argumento que a sustentou por tanto tempo e, ao lado deste, agora, o sonho, aquele que tinha parecido trazer em si finalmente, toda a possibilidade, todo o significado....
 foto e texto: Vera Alvarenga
          

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Fazendo um Borboletário...

 Às vezes penso que tenho um parafuso a menos.
Talvez este pouco de loucura, constante deslumbramento, é o que me salva da sensação de tédio da qual muito ouço falar, e/ou da minha própria sensibilidade que me traz por vezes, outra sensação - a de inadequação minha, ou de inconformismo perante algumas coisas.
   Mas enfim, como se não tivesse nada mais importante a fazer, lá estava eu, desde domingo, envolvida com "o fazer"  um BORBOLETÁRIO para os netinhos. O último que fiz foi para meus filhos, há muito e muito tempo.
Mas quem mandou aquela lagarta atravessar bem no meu caminho?
Assim, ao sair para a caminhada domingo, já catei uma caixa deixada na calçada por um bebedor de vinho( uma de minhas bebidas prediletas), já comprei um vasinho de mini palmeirinha ( alimento predileto das lagartas) e comecei a instalar (furar) ar condicionado na casa das Borboletas. Depois, foi só encontrar tinta que não tivesse endurecida por falta de uso, recortar as janelas, esperar 2ª feira para comprar a "transparência" que tamparia aberturas. Recortar algumas figuras de borboletas, foi fácil.
Difícil mesmo foi encontrar as taturanas, e saí à caça. Até o zelador do prédio se entusiasmou e encontrou uma ( afinal é Primavera!). O marido outra. Ao todo, 2 casulos prontos e 3 lagartas. Daria pro gasto.
Na hora de levar à casa dos netos, para surpresa minha, uma das lagartas havia desaparecido! Só restara a cabeça. Acabara de transformar-se em casulo, liso, brilhante, lindo. Foi muito rápido! Quando olhei, uma das pontas ainda se movia. Simples e incrível a natureza. Confesso que me divirto e sinto um prazer singelo mas consistente, com estas minhas pequenas loucuras. Elas me lembram que o milagre da vida é muito mais significante do que muitas vezes, parece que é. E lá fui eu. Começo da noite. Uma preguiça só, mas não podia deixar de levar pra eles. Meia hora depois, cheguei. Expliquei a tal "Experiência Científica de Observação" na qual eles teriam a oportunidade de ver as lagartas rastejantes transformarem-se em seres alados maravilhosos e também aprender a ter paciência pois, não se pode ajudar borboletas a saírem do casulo, sob pena de matá-las. É preciso respeitar o tempo de cada ser.
E então, voltei para casa. Pronto, estava terminado. Se o gato não empurrar a caixa para o chão, talvez eles possam ver um dos milagres da Natureza ocorrer em frente a seus olhos.
E, apesar de toda a ciência, internet, comunicação rápida e tecnologia, as borboletas ainda nascem dos casulos, da mesma forma que há muitos anos atrás.... o que nos lembra que a vida naturalmente bela e significativa tem um ritmo próprio, não este que a loucura massificante nos quer impor.

Texto e fotos: Vera Alvarenga.

  

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Precisei do Convênio Saúde hoje!!

" Me pelo de medo quando preciso ir a um Hospital" ...claro, não é um parque de diversões e quando lá vamos levar um familiar para ser atendido, ainda mais para o que tudo indica ser uma emergência,estamos apreensivos e gostaríamos de um atendimento melhor e mais rápido possível.
   Eu nem ia escrever aqui, por estar tão cansada, mas resolvi dar este depoimento. 
  Há 2 dias que meu marido não estava bem. Os sintomas que poderiam parecer um início de gripe ou um alimento que não lhe caiu devidamente, depois de 2 dias demonstraram não ser nada disto. Foram 2 dias de vômitos, excessiva fraqueza, palidez, aquele olhar de cachorro sem dono, necessidade de dormir, desconforto no estômago, extremidades muito frias e... ai,ai,ai...ele me disse: - "uma sensação aqui" (pondo a mão no peito).
Após a teimosia dele não querendo ir ao hospital, precisei dizer-lhe:
- Precisamos ver isto, meu bem, pode ser um ameaço de infarto, sem dor. Eles vão fazer os exames e medicá-lo a tempo de prevenir contra qualquer outro mal maior.Logo estaremos de volta. Ao que ele respondeu:
- NÃO É NO PEITO!! é... é... no esôfago! ( a gente conhece esta reação de quem não quer entregar os pontos e, vamos e venhamos, quem já tem 5 pontes no coração, como ele, e foi levado para o hospital sem dor naquele dia em que já ficou internado para a cirurgia de alto risco, tem todos os motivos para não querer pensar no pior.  O problema é que EU SEI, que infartos podem ocorrer sem dor e, prevenção e cuidar dos que a gente ama, é reação natural. Assim, com jeito insisti e tinha jurado que hoje iria levá-lo, à força, se preciso. Mas não precisou- ele não estava mesmo bem e resolveu ir.
   Agora é que vem a história - Chegamos na sala de Triagem às 12:22 HS. e ele foi chamado para a "consulta de emergência prioridade 2", duas horas depois -14:20hs.
   O convênio médico da UNIMED, que meu filho paga para nós ( e não é pouco) pelo livro de atendimentos da UNIMED nos possibilita sermos atendidos no Hospital Santa Paula. Contudo, a ficha dele demorou muito para ser aprovada porque eles precisavam pedir autorização na UNIMED. E o mesmo vi acontecer com outra senhora bem idosa que lá estava. 
  Depois que meu marido foi para o atendimento, este foi irrepreensível, 2 enfermeiros gentis fazendo eletro e aplicando soro, o médico diagnosticando " estar meu marido desidratado" e "um mal estar talvez por alguma coisa que comeu". Só isto, graças a Deus então, desta vez me enganei! e, com um eletro que não indicava problemas.
   Para terminar, quero comentar que penso que a administração inapropriada de recursos parece ser uma doença que espalhou-se como epidemia, como eu sempre digo, com muitos agindo assim sem punição. Convênios de Saúde são caros mas são NECESSÁRIOS! Ainda bem que existem,mas deviam nos atender melhor! Um hospital, eu bem sei ( já trabalhei num deles, há muitos e muitos anos atrás), NÃO PODE atender a todos, sem a garantia dos CONVÊNIOS! E são os convênios que nos vendem as promessas e garantem atendimento na rede de saúde que escolhemos. O atendimento do SUS, é pior, com hospitais e aparelhos QUEBRADOS, precisando de reforma ( não me digam que é melhor!). Enfim, algo deve ser mudado com relação a este atendimento tão falho na saúde tanto do município, quanto do Estado, quanto dos Convênios!
   Estou feliz por meu marido não estar enfartado! por estarmos aqui em casa novamente depois de 4 hs. de hospital. Estamos aqui, vamos descansar e amanhã, do nosso "ninho" aqui no puleiro ...rs... veremos os pássaros virem tomar o café no nosso terraço.
foto e texto: Vera Alvarenga
 

sábado, 8 de setembro de 2012

Pode me informar, quem pintou isto?

  Às vezes ainda me surpreendo pensando se Deus brinca com a gente... ou quem sabe na sua onipresença e grandiosidade seria impessoal, não nos ouve, seríamos infantis em pensar o contrário... Talvez, a culpa seja mesmo da gente - tudo acontece porque a gente reza, pede, ora e, de repente, começa a ver coisas, e pensa que foi Ele que nos enviou o que pedimos, e então... Bem, algumas vezes dá certo, outras não! E outras ainda, a gente chega a vislumbrar, e sente tão de perto como se experimentasse uma lambida de um sorvete em dia de secura, calor e sede, para depois ver que alguém passou tão rápido e levou a delícia embora, deixando a gente ali, com "cara de tacho". E tudo que parecia que ia mudar, agora parece que permaneceu no mesmo( mas nunca é o mesmo). Seria o Tempo, este que nos roubou o que era quase como uma promessa a se realizar? E se não era, por que veio? Passam no nosso nariz, quando já não esperamos,tantas coisas que parecem sinais de que tudo vai mudar para melhor e depois... Seríamos nós os eternos atrapalhados?
   Não sei responder. E seguimos tentando acertar o passo. E quando estamos assim, começando a girar em volta da mesma dúvida, a respeito de Deus, ou dos homens... ou pelo menos quando eu estou assim, com pena de não ter tido asas para voar para um mundo novo, sem guerras, sem pequenas e constantes traições, com mais amor e lealdade, sensibilidade e reconhecimento, me sinto meio perdida na minha ignorância, como se soubesse que por causa dela me escapa um segredo...então recolho asas imaginárias e começo a olhar atentamente para os detalhes do que exista ali ao meu redor, aos meus pés, ou logo acima da cabeça, ou ao alcance da mão. Procuro ali ( como quem busca um sinal ou a mão Dele) pela beleza e a ela me agarro se a encontrar... 
   ...E a encontro... por vezes, me surpreendo porque ela está ali, mas não é aquela óbvia, é outra, uma beleza delicada, sutil, dentro da outra que se vê mais facilmente. Um sinal. E este pelo menos tenho certeza, de que me conta da existência Dele, porque, sem sombra de dúvida, quem poderia criar deste modo, colocando o belo onde não esperamos, ou ainda ao alcance de nossos sentidos? Só pra não deixar morrer a nossa fé, a esperança....
Foto e texto: Vera Alvarenga
Música Amelinha - do youtube

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Nada importante a fazer a não ser...

 Ontem soube que meu sobrinho que pensei já estivesse em casa há muito tempo, após uma cirurgia complicada, ainda está no Hospital! Evidentemente com coragem diante do que não podemos controlar, e com fé, ele e esposa enfrentam os desafios que a vida lhes traz.
  Eu, com este meu jeito introspectivo e às vezes. medroso de ser ( tenho medo de perder o amor ao qual possa me dedicar, e tenho medo de problemas de saúde que nos levem a hospital) acabo por ficar quietinha no meu canto, pensando que não tenho nada verdadeiramente importante para fazer a fim de mudar as coisas para melhor. Então, oro, e penso em coisas boas que posso "enviar" como energia aos que estão distantes e procuro agir no que está no meu limite próximo. Contudo, às vezes a gente nem percebe mas vai se encolhendo, só porque não vê os resultados imediatos de nossas ações, ou porque as coisas não ocorrem como gostaríamos.
   Sim, eles sabem! Sabem que há momentos em que nos sentimos pequenos e pensamos que nada mais há a fazer a não ser... pois são nestes momentos em que pensamos que nada importante podemos fazer é que está acontecendo o que realmente é relevante!!
 E então, na minha vida é assim também, acontecem fatos que me lembram que estou me acomodando ou desistindo desta minha crença no amor ( mesmo que seja o crer no amor e amar da minha forma de amar!).
 E hoje pela manhã, antes de ir ao oftalmo saber o resultado de uns exames( que foram bons, por sinal!), pedi a Deus por meu sobrinho e esposa, e por mim, que afastasse meus medos, que me permitisse livrar-me do sentimento de "não ser o bastante" e da recente mania de racionalizar mais do que realmente viver com simplicidade as coisas que posso viver. Antes eu fazia isto e agora parece que andei me esquecendo de como fazê-lo - viver o que é possível como se fosse um presente que mereço (já que as dificuldades, como sempre digo, a gente tem mesmo de enfrentar quando surgem). Logo depois, pensando que gostaria de ter algo importante para escrever como mensagem ao sobrinho, abri uma página de um livro desejando que a mensagem fosse inspiradora. É um livro psicografado de Teresa de Calcutá. O que estava escrito, evidentemente, serviu pra mim e espero que anime os dois em sua fé e no momento que estão atravessando, ali juntos há semanas, sem ter nada mais importante a fazer do que viver seu amor, aprender a descobrir o quanto são boas as pequenas bençãos que vem a cada dia, a ter paciência, coragem, humildade e a não esmorecer... Nada a realizar para o mundo(aparentemente, porque o exemplo deles pode inspirar outros) , muito a realizar por sua própria evolução... 
E no livro ela diz : "- Na verdade, passo a passo descobri que o medo cedia à medida que eu caminhava; que a coragem crescia na proporção do amor e da fé dedicados ao pouco que eu realizava. Descobri em mim uma força que em momento algum supus deter. Percebi que estava a meu alcance amar intensamente, tão intensamente quanto possível, apesar de não poder fazer coisas grandiosas. Logo canalizei minhas certezas,minha esperança e minha coragem para a força do amor...."  Cada um pode usar estas palavras como inspiração para sua vida e em sua maneira de ser...

Fotos e texto: Vera Alvarenga

Texto entre aspas/ grifado: retirado do livro A força Eterna do Amor - Robson Pinheiro

sábado, 25 de agosto de 2012

Eu conto...nós contamos!

Que alegria ter este livro nas mãos...folhear, tocar, ler o nosso conto ali entre outros.
Foi ano passado quando eu ainda morava em Votorantim e me inscrevi para este 2º Prêmio Jornal Cruzeiro do Sul de Literatura - Contos. Me lembro que foi com imensa alegria que recebi o telefonema de uma funcionária daquele jornal que queria conversar com um dos escritores selecionados - eu!  Eu mesma? Sim, era eu!
Nos mudamos para São Paulo este ano enquanto o livro estava sendo editado e ontem, era a noite de lançamento. Finalmente a noite esperada por todos nós.
   Por mais que sejamos tímidos ou introspectivos (como eu), ou humildes e modestos, nosso ego é grande parte do que somos sim, e ficamos felizes em sermos "um" entre 20 selecionados, dentre tantos inscritos de várias cidades participantes. O orgulho, a vaidade surgem como quando nos orgulhamos de um filho/a ou alguém que a gente ama e este/a obtém sucesso, seu trabalho sendo reconhecido por outros. Assim foi com cada um de nós ali (suponho)- todos felizes por sermos reconhecidos. E, no meu caso, vem também um sentimento de gratidão pela minha sorte porque graças à sensibilidade de quem, na comissão julgadora, deixou-se sensibilizar e emocionar pelo que escrevi, fui uma das escolhidas. É uma pequena, mas muito importante realização pessoal. Sou grata ao Jornal Cruzeiro do Sul, à Fundação Ubaldino do Amaral e aos organizadores do concurso por esta oportunidade, e muito também ao consultor editorial deste jornal, José Carlos Fineis que nos acompanhou em todo este processo, sempre com sua atenção e gentileza, além da decisão de fazer tudo acontecer.
 Meu marido foi levar-me de carro até Sorocaba, na sede da Fundação e do Jornal onde o evento estava agendado para início às 20 hs. Considerando 1 h. de estrada mais o tempo para chegarmos ao início da rodovia, ainda saímos com pelo menos 30 minutos de adiantamento( portanto com 2 hs.de antecedência). Chegaríamos uns minutos mais cedo, tudo bem! Mas São Paulo...Ah! Trânsito maluco este! nos pregou uma peça.
Ficamos 2 horas...sim, 2 horas na marginal de Pinheiros apenas para andarmos 14 km. até o início da Castelo Branco!! Isto porque, devido ao horário, pensamos que estaríamos no sentido em que o movimento deveria estar bem menor! Assim, chegamos lá com a cerimônia já acontecida! mas ainda em tempo de conhecer alguns dos colegas escritores selecionados que não tinham ido embora e para quem entreguei de presente o livro de poesias que eu e meu marido Cesar editamos. Deu tempo sim de fazer alguns agradecimentos, inclusive ao Fineis que está aí na foto, e de comer alguns deliciosos salgadinhos que ali estavam sendo servidos. Foi muito bom para o ego, para o coração, para a auto-estima e para servir de incentivo. O que a gente que gosta de escrever mais deseja é que nossos escritos sejam compartilhados, e com sorte, que possam emocionar, fazer refletir ou que alguém reconheça suas próprias emoções ou vivências naquilo que escrevemos. É um modo de sentirmos que não estamos sós na nossa humanidade, apesar de sabermos que cada um de nós é  "um ser único e peculiar", desejando ser reconhecido por alguém, no meio da multidão, pelo que somos.
Um brinde às nossas realizações que nos permitem o incentivo para desejarmos ser melhores no que nos propomos fazer. Tchin..Tchin ! Viva!  

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Corrupião....

 Com o tempo, apegara-se a ele. E tudo nele a agradava. Foi um gostar aos poucos. Cada um se aproximando devagar, com cuidado para não ferir ao outro, não assustar, não invadir o espaço.
 Ela tinha sentido medo. Talvez porque adivinhasse o que estava por vir.
  De vez em quando, podia senti-lo perto de si, mas ele não se deixava ver. Saía antes que ela tivesse tempo para ver a luz do sol entrar pela janela ou, quem sabe, nem estivera de fato ali, mas apenas dentro de seu coração. Por isto o sentia ainda tão próximo a si.
  Quem sabe o assustara naquele dia, ao abrir a janela tão impetuosamente, alegre com sua já habitual presença, desejando olhar nos seus olhos e compartilhar com ele o que tinha nos seus. Quem sabe, foi porque começara de novo a soltar a voz, incentivada por ele, pensando que ainda sabia cantar. Ou quem sabe aproximara-se demais, quisera tocar no que era intocável. E ele estaria bem? Algum menino cruel teria lhe tirado a vida com uma pedra lançada de um antiquado estilingue de mira certeira? Estaria preso em algum lugar distante?
  Se ele voltasse, ela não saberia mais como se aproximar. Teria de ter mais cautela, ser mais cuidadosa do que já era? Isto, então, lhe tiraria a alegria que tinha pensado ser possível. Ocorreu-lhe, pela primeira vez, que apesar de tanto em comum, o mundo deles talvez  fosse demasiadamente diferente. E que a união de dois mundos só valeria a pena se houvesse igualdade no desejo de fazer o outro tão feliz quanto a si mesmo - duas aves livres a aninhar-se juntas num imenso viveiro com portas abertas.  Era preciso ter a mesma natureza. Isto, a vida lhe ensinara. Então, apesar da saudade, agora, tudo estava em paz. Ela nada mais queria ser,do que era, e nada mais queria ter, do que já tinha. Nada mais desejava... a não ser, talvez, ouvir seu canto novamente, só para saber que ele vinha porque queria cantar para ela... e então, por sua natureza, talvez ela ficasse calada e encantada, ao sentir o coração iluminar-se outra vez...
Foto e texto: Vera Alvarenga.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Estruturas de apoio...

    Hoje tive de ficar desde às 8:30hs. até às 17hs. em um local ligeiramente distante de minha residência, para exame – medir em diferentes horários a pressão nos olhos. Bem, como tinha de acordar muito cedo pois teria de sair de casa às 7hs., preparei minhas coisas na noite anterior, deixando bolsa, roupa para o caso de esfriar, livro, texto para corrigir, enfim, tudo à mão, inclusive um “dinheiro para algum extra”, mania de gente que tem intuições e é prevenida, como eu. Levantar antes das 8:30, para mim, é muito cedo. Não marco nada para este horário, a menos que seja por motivo urgente ou saúde.
Meu marido combinou levar-me, pois não estou habituada a dirigir em São Paulo, longe dos bairros que conheço. Se por anos o apoiei para muitas coisas, ele hoje me retribui, me “choferando” para o essencial, como se diz, “uma mão lava a outra”. Fez-me companhia por um tempo até o almoço – levei palavras cruzadas para ele, demos uma volta no quarteirão daquele bairro bonito, alto e perigoso ( segundo uma das técnicas do exame – “Se a sra. for andar por aí a pé sozinha, pra fazer hora, melhor não levar bolsa!” – Fui, assim mesmo, porque estávamos juntos, eu e ele). Depois,foi pra casa  descansar e voltaria para buscar-me após às 17hs.
   Hoje, por mais de uma vez pensei:- “Ele me dá estrutura”. Foi ele também que me acordou, bem cedo. Uma vez, um amigo disse-me isto sobre sua esposa, que ela lhe dava estrutura. Achei bonito que ele reconhecesse. Acho que é comum, pessoas que se amam, que convivem em estreita relação, darem-se apoio, de modos diferentes.
   Todo um programa tinha sido feito- ele ia pegar os netos em casa deles no final da tarde, os três iam me buscar e ficaríamos com as crianças por algum tempo. Contudo, sentiu-se febril, corpo mole, início de gripe. Acabou tirando um cochilo necessário e os planos mudaram. Ao ligar para saber dele, meu filho contou-me que ia mandar buscar-me de taxi, já que o pai não estava muito bem. Fazia questão de pagar o motorista. – “Não precisa filho. Trouxe dinheiro comigo”, disse eu, com orgulho da minha fiel intuição! A vida tem destas coisas em dias corriqueiros, mudanças de planos, surpresas. Mas, existe taxi pra quê, não é mesmo? E intuição? Quando nossas costumeiras estruturas de apoio são retiradas, o que sobra é mesmo o que temos - nosso próprio esqueleto e o do taxista, é claro. Será que alguém ainda crê que vive independente de outros?  E a gente segue, tudo ok! a gente vê que pode se virar.
   Contudo, a minha maior surpresa foi, depois de anos sem tomar taxi e tendo que enfrentar o trânsito na marginal, no horário próximo das 18 hs., ver que o taxímetro corria muito mais do que o carro e já marcava R$ 61,00! E o pior, quase chegando ver que não havia dinheiro suficiente em minha bolsa! Que desagradável surpresa! eu esquecera o dinheiro “extra”provavelmente separadinho, mas em outro local. Enquanto aguardava meu marido finalmente decidir-se atender o interfone, já que ao celular não respondia, e descer para pagar o motorista, após intermináveis minutos de espera, o taxímetro já ia para quase R$ 70,00! (como é caro e demorado locomover-se em São Paulo, uma das cidades mais movimentadas do mundo, não é?).
    E como tudo é aprendizado, foi fácil perceber como nos descuidamos, todos e cada um de nós à sua maneira, quando estamos habituados a contar com estruturas de apoio( e sorte nossa quando as temos! e quando compreendemos que é melhor e natural que existam, e que por elas devemos ser gratos ). No mais, agora é certificar-me de nunca sair sem recontar o dinheiro para o taxi, nem que seja para escondê-lo na roupa íntima, à exemplo dos políticos desonestos... só que no meu caso, seria por pura precaução e segurança pessoal...
Foto Google images
Crônica; Vera Alvarenga

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Emoção e medo, no julgamento da Ação Penal 470

Acabo de assistir a uma parte da denúncia feita pelo Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, ao Superior Tribunal Federal, para o julgamento da Ação Penal 470 ( Mensalão).
   Uma denúncia que começou a ser feita desde março de 2006. Era preciso provas e investigação. Entre as acusações estão crimes de formação de Quadrilha,Corrupção, roubo e desvio de dinheiro... do nosso dinheiro, do dinheiro público que é arrecadado entre os cidadãos de bem que ainda querem viver sob a tutela da Justiça/Lei, e obedecendo a ela, dinheiro que deveria ser reinvestido para o bem do povo, do cidadão deste país! Crimes, devo lembrar, como qualquer outro quando uma quadrilha assalta um banco, ou um bandido, a nossa casa. Só que, muitos destes de que falo agora, tem "imunidade" parlamentar( o que minha ignorância não permite compreender!) Só que esta quadrilha, em tão pouco tempo, roubou mais de 1 bilhão de dólares! Só que há, infelizmente me parece, algo como uma quadrilha a proteger outra, como mafiosos, neste meio político, em que a impunidade começou a prosperar - porque então, não há mais limites, nem medo das consequências e para eles, apenas o céu é o limite!
   Hoje, este procurador Roberto Gurgel apresentou as provas, a denúncia e pediu a condenação de 36 dos envolvidos.

   Enquanto tantos de nós clamamos por uma igualdade impossível ( que familiares de políticos estudassem nas mesmas escolas que os nossos, que fossem tratados nos mesmos hospitais) e isto anda deixando o povo doente, porque desesperançado e triste, que pelo menos, nossa esperança possa recair, sem medo, na JUSTIÇA! Para que ELA possa devolver um pouco da dignidade ao povo enganado.
   Impossível não ficar emocionada, e com medo, neste momento tão importante e às vésperas de um julgamento que terá repercussão de tão grande alcance. Porque, o resultado deste julgamento, na minha opinião, alcançará cada um dos lares de nosso povo. O Superior Tribunal Federal deve ser respeitado por nós,por cada um dos cidadãos comuns e por todos os poderes, porque representa nosso interesse pela Justiça em seu mais alto nível! Em suas mãos está agora o poder de dar um passo decisivo para o início da moralização dos atos criminosos de políticos e governantes deste país, e de acabar com a impunidade dos que detém algum tipo de poder nas esferas políticas, o que vinha servindo de estímulo para todo tipo de crimes em qualquer outro nível, e por consequência, vinha tirando o sossego e a paz de todo cidadão de bem, cumpridor de leis que se sentia cada vez mais acuado diante de tanta barbaridade cometida contra as pessoas, as famílias brasileiras.
   É sabido que nós, o povo, somos roubados, agredidos e usurpados em nossos direitos à boa saúde, excelente educação e tantos outros direitos e recursos que nos chegariam se, tantos crimes e roubos não estivessem a ser cometidos impunemente, primeiros nas mais altas esferas e depois pelos bandidos menores, mas nem por isto menos perigosos. A chantagem, a impunidade e a corrupção precisam acabar, se queremos poder ter esperanças. E é esta uma importante ocasião para uma medida exemplar o que abrirá portas para um crescimento e desenvolvimento maior do nosso país, de todos nós. Pensemos quanto dinheiro é desviado dos hospitais, de escolas, do esporte, etc, para os bolsos, cuecas e contas no exterior, de poucos! Melhor começar de cima, lembrando que esta correção servirá de exemplo.
   É preciso que a Justiça não se deixe intimidar, não se desvie de seu nobre caminho e intento de viver para o que foi criada -  proteger o cidadão de bem que respeita a lei, em seu direito de viver em paz, segurança e igualdade. Este mesmo cidadão que dia a dia, já vem há tempo perdendo esperança, e se intimida diante de crimes e atos desrespeitosos praticados pelos que deveriam trabalhar para o bem deste cidadão. E, em consequência disto, a corrupção se alastrou em todos os órgãos, até na polícia, e em todos os níveis, de uma forma tão assustadora, que já não conseguimos dormir em paz, com tanta violência. Deus, estamos sozinhos? Precisamos da Justiça, com sua espada e sua honra!
   Abaixo da venda que cobre seus olhos para impedí-la de desviar seu julgamento do que é justo e correto, abaixo da venda que tem nos olhos para que seja sempre imparcial, que a Justiça tenha o dom da visão da águia, que pode ver muito à frente, para pesar em sua balança as consequências de seu julgamento neste caso! Hoje, ainda são os que tem o poder político, que roubam bens e direitos impunemente, amanhã serão, talvez qualquer quadrilha que tenha armas e saiba impor a violência.
   Que as mentes dos magistrados, e seus corações sejam iluminados, que seu discernimento mantenha-se claro, seu julgamento firme e justo, sua moral e espírito íntegros! Que não olvidem jamais que todos nós, toda a nação, cada uma das crianças desta nossa pátria, desejam ter a esperança de dias melhores, com deveres, direitos, segurança, saúde, alegria e paz!
   Deus os abençõe!
Foto: retirada do Google
Texto: Vera Alvarenga      
  

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Narciso...e seu amor.

 Atrás de si ela pode ouvir os comentários:
-  Ela se comporta como Narciso!
   Nem tudo era sempre como parece ser, pensou. E seguiu calmamente para um canto do lago. Ali, não veriam que estava ferida e mancava. Nadando podia relaxar, sentir-se leve novamente.
- Por que ela se afasta? Na certa julga-se melhor do que nós.
   Não era verdade. Ela não sabia como ser outra coisa - não era uma pata, marreco ou ganso - era um cisne, nem grande nem pequena, em nada diferente dos demais de sua espécie. Nada tinha de especial para se destacar e nem o pretendia, e na verdade precisava ficar um tanto solitária para se recuperar. Ao olhar mais uma vez para seu reflexo na água, disse para si mesma:
   Quando olho para mim, nem sempre é apenas para procurar o que sou, ou a melhor parte de mim - os meus sonhos - nem mesmo o melhor de meus sentimentos. E certamente não é para admirar minha imagem. Se não o encontro em lugar algum, se não o vejo mais em nenhum lugar deste lago, olhar para dentro de mim é a única forma de voltar a encontrá-lo, pois é em meu coração que ele está guardado.

Texto e foto : Vera Alvarenga



domingo, 22 de julho de 2012

Levando tombos...

   No inverno, e quando se mora em apartamento, é preciso sair um pouco para caminhar e melhor, quando se pode aquecer ao sol. É o que fazemos aos domingos. Claro que preferiria ir ao Parque Ibirapuera, caminhar entre as árvores, ao lado do lago... mas, é tão difícil estacionar por lá, então, uma grande volta no quarteirão já tá de bom tamanho.
  No caminho da volta, a rua é toda arborizada. Agradável de se andar nela, não na calçada, que a cada laje de concreto de um metro há duas canaletas de uns 15 cm., uma próxima da outra, que atrapalham bastante o caminhar. É necessário andar olhando para o chão para não se torcer o pé. Sabendo disto, costumo ser atenta.
  Geralmente venho pela rua e só entro na calçada quando a rua se estreita por conta dos carros estacionados. Hoje, me distraí. Vinha vindo tranquila, com minha câmera pendurada no ombro enquanto um lindo cão preto vinha do outro lado da rua e eu, por um segundo olhei para ele. Já tinha dado uma daquelas espiadas rápidas para reconhecer o terreno à frente, já tinha visto que havia uma placa de cimento um pouco levantada, mas não imaginava que logo após havia uma canaleta sem terra, buraco no qual a ponta do meu tênis enfiou-se, prendeu-se e me levou ao desequilíbrio, em seguida, ao chão.
  Tive consciência de que num milésimo de segundo estaria estatelada na calçada, mesmo assim, deu tempo de puxar a câmera fotográfica tentando protegê-la, depois, mãos para frente e plunft ! Já era. Lá estava eu com dor nos joelhos e mãos, esparramada na calçada.
  Recebi pronta ajuda de quem estava comigo- a mão estendida para me ajudar a levantar. Que bom!
  - Detesto andar nesta calçada com todos estes buracos! Desabafar me fez bem, naquela situação.
  - Mas aqui não tem nada, foi falta de atenção! Ouvir isto me fez mal.
  - Claro que tem, olha ali onde enfiei meu pé! Meu tênis com a ponta esfolada também comprovava. Pronto, lá estava eu sentada na calçada, tentando explicar. Queria que ele tivesse conseguido ficar calado, embora não tivesse sido o culpado do meu tombo. Por que há pessoas que nos chamam a atenção quando a gente ainda está estatelada no chão?
  - Ela está bem? A mulher na calçada em frente lhe perguntou. E, simpática, olhando pra mim : - Você se machucou? Ah! que frase maravilhosa de se ouvir numa situação daquelas.
  - Não, obrigada. Só o susto. E é desagradável cair na rua, não é? Sorrimos, uma para a outra.
  Claro, é desagradável cair em qualquer lugar, mas em público e numa calçada áspera, mais ainda.
  O homem com o cachorro, andando mais depressa, já ia longe a cuidar da própria vida.
  Interrompi os resmungos do meu companheiro de caminhada. Sim, eu sabia que tinha sido culpa de minha falta de atenção, embora nem estivesse tão distraída assim buscando o que fotografar, como ele dissera. Apenas não queria ficar olhando sempre para o chão!
 - Por que você não me perguntou se eu me machuquei?
 - Porque eu me assustei!
 Eu também tinha me assustado! Então, éramos dois. Contudo, fora joelhos e mão ralados, roupa, câmera e tudo o mais estavam bem. Maravilha, não torci o pé. Apesar do tombo, tive sorte.
 Lembrei de quando uma criança cai ao nosso lado e a gente logo vai atender, e para sermos solidárias, brigamos com a porcaria da calçada que a fez cair! Cumplicidade faz bem. Logo depois a gente ensina que é preciso mais cuidado. Bom ser criança... Mas, talvez, quando o susto é grande, por vezes a gente acabe por querer ensinar o outro a se proteger, naquele exato momento em que bastava o apoio... sei lá. Isto não é necessariamente falta de carinho. Acho que depende do momento, e depende de cada um.
  Interessante perceber o que fazemos quando nos assustamos e não temos tempo para pensar.
  E interessante lembrar que, mesmo sendo adultos, quando menos esperamos, podemos cair no chão, na calçada, da pose. Melhor na calçada do que por uma rasteira na vida. E sempre se aprende... se você quer fotografar, se distrair ou levantar a cabeça em sua caminhada, vá em seu ritmo, com cuidado, devagar... e se cair, o jeito é levantar, sacudir a poeira e seguir em frente. 
Texto: Vera Alvarenga
Foto: retirada do Google.
  

sábado, 7 de julho de 2012

Hábitos ...

  Um barulho qualquer o acordou. Não aquele tipo de barulho que por anos e anos ouvira logo cedo. Sua rotina havia mudado, e muito. E nesta manhã estava num hotel, numa cidade pequena, mais uma vez, apenas de passagem.
De qualquer modo, ao abrir os olhos, deslumbrou-se.
Havia uma pequenina fresta na janela. Alguém a esquecera de fechar, o que lhe passara desapercebido na noite anterior, quando chegara bastante cansado. Ele, há anos, estava acostumado com o ar condicionado dos hotéis e as pesadas cortinas que tudo escurecem. Ali, a cortina  era leve e, entreaberta, deixava passar a luz que já furtivamente entrava.
Como uma fenda num vestido de mulher, que deixava a beleza apenas insinuar-se com seus mistérios, o que passava pela fresta era apenas um feixe de luz, mas iluminava de dourado o espaço, deixando antever a promessa do outro lado. Música silenciosa, a luz fazia dançarem partículas infinitamente minúsculas de poeira, como se elas pudessem conter energia própria, como se fossem seres iluminados. Aquela imagem lhe trazia lembranças antigas, de um tempo por demais longínquo, no qual a simplicidade de certos hábitos   inundavam de alegria ingênua vida. Fechou os olhos. Foi bom lembrar. A sensação era boa. Abriu-os, e em seguida, levantou-se.
Foi à janela. Escancarou-a num só gesto, como quem quer desvendar segredos ou possuir toda a luz. Mais que penetrá-la, queria absorvê-la, tê-la dentro de si, preencher com ela o espaço vazio. Sentia-se estranhamente leve como aquelas partículas douradas recém vistas. Lembrou-se de uma amiga que uma vez lhe falou sobre esta leveza, que ela mesma sentia ao deparar-se com a luz, pela manhã, em sua janela. Sorriu. Lá fora, tudo estava aceso e parecia convidá-lo a sorrir.
Durante o rápido banho, lembrou-se daquela mulher que se apaixonara por ele. Na ocasião confessou-lhe que sentia-se leve a ponto de quase voar, quando ele a chamava pelas manhãs para conversarem. Ela o havia comparado a um raio de sol.
Ah, mulheres... São doces, quando apaixonadas! Delicadas e frágeis. Muitas vezes, tolamente ingênuas, excessivamente românticas. Dizem que depois de amar sentem-se flutuar. E gostam disto. Talvez por isto façam do amor algo que se mistura facilmente ao sexo, aos gestos, ao desejo de entrega. Ele, gostava de manter pés firmes no chão.
Algumas lembranças o acompanharam durante o banho. Não teve tanta pressa como era habitual. Deu-se conta que agora, era dono de seu tempo. Sorriu.  Ao sair, o leve perfume do sabonete estava entranhado na pele. Não gostava de perfume, isto era algo que apreciava sentir numa mulher e, claro, na proporção certa. Contudo, este não era excessivo, sairia logo, tudo bem. Colocou sua loção preferida, quase sem cheiro, que sempre levava em viagem, para suavizar a pele após fazer a barba cerrada. Homem tinha de ter cheiro, não perfume. Num instante, já descia com sua pasta para o café e em seguida sairia para o que tinha de ser feito. Sentia-se, no entanto, mais vivo e melhor que nos últimos dias. Isto inspirou-lhe uma idéia.
No corredor, ao cruzar com outro empresário, hóspede como ele, deu-se conta de uma sutil diferença no próprio andar. Que era aquilo? Estava leve demais! A isto não estava habituado e por certo, não lhe cairia bem... Pigarreou. Franziu a testa, pegou o celular para tratar de algum assunto importante. Qual seria? Não importa...encontraria um. Apressou então o passo, e pisou mais firme no chão, como de costume.

Texto: Vera Alvarenga
Foto retirada do Google imagens
  

domingo, 1 de julho de 2012

Pra você, esta foto e meu carinho...

Muito já se falou a respeito de amigos e quão diferentes podem ser. Dizem que temos um para cada fase de nossa vida, alguns que ficam, outros que se vão.
Hoje, quis me dar um presente e decidi ter coragem para dirigir até o parque Ibirapuera, a fim de tirar fotos. Queria captar a luz do final da tarde e fotografar à contra luz. Levei meia hora só para conseguir estacionar. Após alguma caminhada e poucas fotos, minha máquina travou, avisando que eu precisava formatar o cartão de memória - era novo. Bem quando o sol dourava o lago! Então, tive de voltar!
Contudo, entre a chegada e o problema com a máquina, recebi um telefonema de uma amiga que gosto muito, desde quando tivemos nossos primeiros contatos. Ela tem uma experiência de vida totalmente diferente da minha. Inteligente, já encarou problemas difíceis que lhe exigiram atitude firme e coragem tanto em sua profissão, quanto na vida particular, mas não é pretensiosa e não pensa que tem as respostas para tudo. Deste modo, não nos sentimos encabuladas por ser o que somos, cada uma de nós, pois sabemos que ambas temos nossos valores. Encontrar momentos de tal interação respeitosa e cuidadosa num relacionamento é algo mais fácil de se dizer, como é moda hoje em dia, do que de se encontrar de verdade. Confesso que, ultimamente, ela e outro amigo foram os raros tesouros que encontrei neste nível e deles, meu coração será para sempre cativo ( mesmo que a amizade não seja para sempre, já que eu mesma detestaria me ver limitada pela "obrigação" de uma eternidade, o sentimento será).
 Ás vezes, com aquele seu jeito de contar as coisas sem dizer realmente com toda a clareza, ela fala comigo e não entendo tudo o que quer dizer. Mas não me importo, e ela também não. Eu pergunto, ela ri e explica, ou então, "deixo por entendido" aquilo que careceria de explicação, quando percebo que o mais importante é traduzir os sentimentos e não o significado de cada palavra. Penso que nosso "encontro" se dá em outro nível - o de um bem querer sincero como o de duas crianças que apenas brincam juntas e se aceitam como são. Nos aceitamos como somos. Ela me colocou um apelido com o qual me chama, algumas vezes, caçoando carinhosamente da minha ingenuidade, a qual aceita e crê, porque pressente que é real.  E por isto, ela me fez lembrar hoje, desta parte de mim mais singela, doce e terna. Me fez lembrar de como raramente podemos deixar estas nossas características virem à tona, sem que tenhamos de dar explicações ou camuflá-las, sem que pensemos que precisamos nos proteger. É muito raro termos tal liberdade, pois a maior parte das pessoas está sempre a comparar-se e a comparar-nos com outras, ou a dizer como seríamos mais "aceitáveis" e simpáticos se agíssemos dentro de determinados padrões, que nem sempre seguem os nossos padrões de valoração da vida.
  Enfim, para ela e todos que consigam aceitar alguém como ele é, e quando discorde dele consiga fazê-lo com o cuidado e respeito que os relacionamentos e as pessoas merecem, dedico esta foto, simbolizando o  encontro de duas pessoas sob o reflexo de tal amizade que proporciona momentos de ouro.
  Minha alma, quando se encontra com a sua, fica em paz. Namastê.


Foto e texto : Vera Alvarenga

quinta-feira, 28 de junho de 2012

O medo, escondido...

 Caminhava, distraída, com um pensamento que lhe marcava com mais rugas, o rosto. Havia falado disto, um dia antes, com uma amiga a quem confessara sua covardia.
- Por que este medo? Sentir medo era algo bom, assim considerava, pois com ele sabia seus limites. Mas, e este medo de não sei quê ?! Esta insegurança que vinha sorrateira apertando no peito o coração, espremido, confuso...
- Por que, se tudo parece finalmente entrar nos eixos? Impossível lidar com um medo que vinha, não como aliado, mas como inimigo camuflado. Tentara fazer de conta que não existia. Ignorá-lo, durante o dia era fácil, mas à noite, logo após deitar-se, quando vinha das entranhas e subia pela coluna, com um arrepio nas costas, era outra história. Como encarar de frente o medo, se ele não tinha cara? 
O amor é verbo, o melhor do amor é amar, pensava, enquanto lembrava que eles tinham tido uma longa história de amor. Não ela e o medo. Ela e o homem, cuja mão puxava e colocava no peito, cujo corpo usava de escudo para proteger-se daquele frio. Talvez fosse o inverno a gelar os lençóis... não, não era. Era um medo, nem sabia de que, que só passava com o calor dele e a mão a apertar-lhe levemente o seio como a dizer-lhe :
- Pronto, estamos juntos. Ao que seu coração respondia - Agora, estamos bem. 
O medo assim, sem nome ou personalidade, nem razão aparente, não tinha nem mesmo caráter embora caracterizado. Despia-se de importância. Pareceria tolo como o ator principal que entrasse em cenário desconhecido, num palco pouco iluminado e quisesse interpretar seu papel para um público inexistente. Entretanto havia um público - e era ela! Ela estava ali,assistia o drama, e era também o cenário e o palco,  e o próprio ator com seu tema, e as emoções que rolavam no ato. Não, não era uma tolice! Era forte e vivo este personagem sem rosto.
Seus pensamentos quebraram-se com o susto - o som alto da sirene de uma ambulância que vinha de trás de si, na rua. 
- Pobre de quem está ali, pensou. Este sim, com sua vida ameaçada, tem motivos para estar com medo. Não eu, que apenas descubro minha covardia....
  E a ambulância parecia voar, perto, bem perto... E então ela percebeu, claramente. Um choque. Foi a ambulância que bateu em seu corpo ou a verdade que esbofeteou-a na cara, ofendida com sua insensibilidade? Logo ela, tão sensível e vulnerável ao sofrimento alheio que precisava usar uma couraça, por vezes, para proteger-se. Ela, cujo corpo sentia tão facilmente a dor que, há tempos, insensibilizou-se.  
- Insensível! ouviu o grito de dentro de si mesma. 
E então, ela recordou e sentiu o mesmo que antes. Sentiu a vida esvaindo-se de si mesma. A alegria, a ternura, tudo indo embora. De tudo que vivera, de tudo o que era, nada restaria diante da ameaça sofrida. Apenas, por momentos, a dor  e a angústia do morrer. Corpo e alma debatendo-se pela sobrevivência. Como aquele que se afoga no oceano, não ela mas o verbo em si , estendeu as mãos, no último esforço, e agarrou-se ao apoio que o manteria à flor da água, até que pudesse respirar e recobrar forças. 
- Mulher ao mar! Gritou o verbo, na intenção de salvar a mulher. Nenhum barco ou salva-vidas, ninguém nem ao menos para compreender porque se debatia. À distância, e para poucos olhares, ela parecia apenas divertir-se na água rasa. Não era possível para eles compreenderem que ela lutava pela vida.
   Ah, o amor... Amor não é apenas sentir, é amar. Foi deste mesmo modo, que sua alma lutou quando sentiu que o amor de dentro de si, ameaçado, morria. Morriam os dois, ela e o verbo. E quem, diante da dor e da ameaça de morte não sentiria medo? Quem? 
  E quem era o algoz? Era ela, a insensível! A que não queria mais amar, sem saber que isto a mataria também. E o medo tinha de esconder-se de tão lógica criatura. E escondeu-se, bem nas entranhas...
 ...Foi quando viu o pássaro ferido a afogar-se naquele oceano de perda, dolorido como ela. E desejou salvá-lo. Descobriram que ainda tinham asas. Ela, vestida com toda a coragem do mundo, voou. E voaram até a praia e com simples gestos, salvaram um ao outro.   
   Já não sentia tanta dor. Estava apaixonada por um pássaro, ou era o efeito de uma droga alucinógena  que lhe tirava o sofrimento? Não importava, era bom. O amor era verbo e ela percebeu que ainda podia voltar a amar.... Mas isto foi há tanto tempo...onde estava o pássaro?  onde estava ela, agora? 
   Aquele medo, o pavor, o susto por ter a própria vida ameaçada, foram absorvidos pelo corpo, e ficaram lá, escondidos. O melhor do amor...é amar. E sua vida, que não fora em nada importante a não ser por poder amar, fora ameaçada de morte. Sua alma assim o fora. Por isto havia o medo, que escondido tinha perdido a forma, a cara, a razão, mesmo depois que ela acordou na praia. Ou será que foi no hospital, ou na calçada depois do susto? Não importava. Alguém, junto a si, lhe estendia a mão. E abraçou-a. Por algum motivo tivera medo de perdê-la. No início, ela não o reconheceu, embora o conhecesse há tanto tempo...durante o dia, alerta, olhava-o desconfiada... quem seria aquele? Seria confiável? À noite, quando tudo era paz, entregava-se ao destino que era dela e deixava-se aquecer por aquele sentimento.
   ... Ela entendia. Se ninguém mais a compreendesse, não faria diferença. Hoje, ela conhecera a cara do medo. Sabia porque ele tinha se escondido em suas costas. Após olharem-se um nos olhos do outro, andavam agora,lado a lado. Com sorte, a confiança sopraria uma brisa morna e ela não sentiria mais frio, se o tempo do verbo se mostrasse presente. Breve, talvez não sentisse mais medo. Aliás, nem fora ela que o sentira, pois que já havia desistido. Foram o amor e a alma, os que viviam dentro dela. Foi o verbo, que não quis morrer!
   Ela, por seu lado, não se julgava mais covarde. E ainda lhe restaria conjugar o verbo em todos os outros tempos...  
Texto e foto: Vera Alvarenga     
   

   
  

Clic para compartilhar com...

Compartilhe, mas mantenha minha autoria, não modifique,não uso comercial

 
BlogBlogs.Com.Br
diHITT - Notícias