quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Quando quero me aconchegar...

  Tenho uma característica, não sei se indica um ponto fraco ou se é apenas natural, algo que faz parte de mim...
  Tem dias em que tudo está bem e então, a calma em mim se faz, e me sinto assim, como um inseto que procura mel.
 Então, me sinto atraída por você.
 E como a abelha que vai em busca do néctar e se deixa envolver pelo abraço das pétalas, me dá vontade de me aconchegar.
 É uma característica de minha natureza, que me faz pensar em você, não por estar me sentindo triste ou só, mas por uma docilidade que toma conta de mim.
 Isto me lembra uma vez que vi este casal de leões.
Tranquilos, aconchegados em seu momento de relaxamento, a fêmea com a cabeça apoiada nele, que dormia.
  Ela só não pode relaxar também porque uma porção de garotos de uma escola, intrusos como eu, se acercaram de seu momento de docilidade.

 Às vezes, eu me sinto assim, como a natureza que quer descansar em paz e em pares...


Como é bom quando nos sentimos assim, e podemos nos entregar a estes momentos de
preguiça, de calma, de aconchego, de carinho,
de paz, de ternura...

Que nos adoça a alma, acalma, repõe energias,
nos equilibra, nos flexibiliza...

Como seria bom que nada impedisse o desejo de ainda sermos naturais, como as abelhas que naturalmente procuram e encontram o néctar,
no abraço das flores...




Texto e fotos: Vera Alvarenga

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Reencontrando o filho perdido...

Feriado. Tomamos café bem tarde.
- Vamos ao Zoológico? Queria tirar umas fotos bonitas, de patos na água..faz mais de 25 anos que fui lá quando os meninos eram pequeninos..
- Programa de índio... disse meu marido, mas concordou. E fomos! Chegamos rápido perto de onde os carros começaram a tartarugar, em fila indiana. Demoramos o mesmo tempo para chegarmos até o portão e lá desistimos,sem nem sair do carro. Tinha fila para entrar!
Tive de reconhecer...programa de índio o meu!
Então fomos almoçar num restaurante que ele almoçava há 25 anos atrás, no Ipiranga.
- Vamos passar no Parque da Aclimação? Quem sabe tem um lindo lago lá.. com patos.. a gente caminha um pouquinho só e vamos pra casa!
Estava no caminho. Fomos. Logo, decepcionada,vi que não tinha fotos como eu gostaria para tirar, nem patos na água, o que estou fazendo aqui?
Então vimos um garotinho, andando devagar e cansado, cabeça baixa, chorando. Nós o paramos.
- Perdi minha mãe! (coitadinho! )
Conversamos um pouco, contamos que íamos ajudá-lo e que não deveríamos sair dali, pois a mãe logo chegaria. Um menino lindo, de 4 anos. Disse o nome da mãe, endereço. Estava com o irmão, o primo e se perdera de todos. A mãe demorava a chegar. Comecei a brincar com ele e meu marido chamou o 190. Dei-lhe água, coloquei-o de pé sobre um banco.
- Melhor pra sua mãe te enxergar. Ela já vai chegar, você vai ver.
Um homem com o filho da mesma idade comentou, indignado, ao saber que tinha se perdido da mãe:
- Como pode uma coisa destas? Que absurdo!
- Ah, pode sim! Quem já não perdeu um filho, por um segundo, no shopping, quando há mais filhos ali também? São uns serelepes, estes filhotes! ou dentro de uma loja, quando ele se enfia no meio das araras de roupas só enquanto você piscou? ou na praia ? Meu filho de 2 anos perdeu-se na praia, no meio de um mundaréu de gente, uma vez. Pensei que estava com o pai. Eu grávida, fui pra um lado, meu marido pra outro e o vi, no colo de uma mulher vestida não em traje de banho, que o levava em direção ao calçadão. Meus pêlos ficaram ouriçados. Eu lembro que corri e o peguei, não gostei da cara dela, mas agradeci muito feliz por encontrá-lo. Graças a Deus naquele dia fui na direção certa!
A polícia chegou. Logo perguntaram se ele sabia o celular da mãe. Não, não sabia. Então, ela chegou. Que linda mãe, de um lindo filho e que bom sermos testemunhas deste feliz reencontro!
Bem, valeu por este momento, por esta foto! Depois até tirei poucas de algumas árvores...mas, por este momento é que estávamos ali!
 Voltamos pra casa mais leves por presenciar um reencontro, algo sempre maravilhoso em se tratando de mães ( ou pais) e filhos, não é?

Deus abençõe você, mamãe Julie e você Lucas!( aliás a toda família!)
E, quem sabe devamos ensinar aos nossos pequeninos o número do celular da mãe, e também a pedirem ajuda, mas a não sair do lugar até que mamãe chegue, ou papai, ou polícia... ou quem sabe apenas podemos rezar para o anjo da guarda deles...
Texto e fotos: Vera Alvarenga.


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O lobo solitário...


Ele tinha a impulsividade e ousadia dos líderes e dos grandes de sua raça, filho que era de um lobo enorme e pesado, porém a natureza o fez pequeno como sua mãe. E como ela, era corajoso. Com seu tamanho, força e poder desta forma restritos, precisava conformar-se, muitas vezes, com limites a ele impostos desde pequeno. Cresceu assim nesta contradição, onde grandeza de impetuosidade e coragem estavam contidas numa pele que não conseguia esticar ao dobro do tamanho, o que lhe seria, por certo, mais conveniente.Talvez por isto, desenvolveu-se nele o desejo de poder nem sempre adequado à sua realidade.Superou os desafios possíveis e acostumou-se a afastar-se daquilo que não podia conseguir, após várias tentativas mal sucedidas.
  Em sua índole havia um quê de docilidade escondida em segredo, herdada ou adquirida não se sabe exatamente de quem,que aparecia algumas vezes, quando seguro na intimidade de sua caverna. Apesar disto, o espírito brincalhão e galhofeiro era a característica mais visível, além da total falta de tato para uma convivência diplomática mais bem sucedida, mesmo entre os que pretenderia liderar. Embora seu espírito livre e individualista combinasse mais com uma vida sem comprometimentos emocionais, encantou-se com uma fêmea de terras distantes e com ela, a partir daí formou sua matilha, na qual ela cuidava para que tivessem como base padrões um pouco diferentes daqueles que ele viveu na infância. Permitia que ela o fizesse porque o resultado parecia-lhe bom. Contudo, se orgulhava mesmo era de ser o provedor dos seus, oferecendo-lhes o conforto, alimento e segurança possíveis.
  Tudo corria normalmente bem, até que começou a ter de enfrentar sério problema - os seus instintos, por vezes incontroláveis. Sua fêmea, alegre, curiosa e dedicada, era também quieta, sensual e demonstrava certa insegurança que, ao mesmo tempo que lhe agradava bastante,  por outro lado, o lembrava da aparência dócil e frágil das ovelhas. Aí estava o problema! Assim, ele vivia com sua loba, tendo que lutar batalhas consigo mesmo, pois seus olhos a confundiam com ovelhas, seu instinto predador acostumado a atacar o que fosse vulnerável precisava ser contido e ele, não gostava disto. Atacar e vencer o fazia sentir-se poderoso ao mesmo tempo que o forçava reconhecer que seu instinto incontrolável lhe trazia problemas - sua fêmea, aquela que ele amava, tinha agora no olhar certa desconfiança e aprendera a atacar, o que a tornava menos singular, mais semelhante aquelas que ele conhecera em sua vida em outras alcatéias. Ele precisava ser seu próprio caçador, precisava controlar seu próprio instinto predador, ou se fecharia em si mesmo, na pele de lobo solitário...
Texto:  Vera Alvarenga
foto: retirada do imagens.com (no Google imagens) 

sábado, 21 de janeiro de 2012

A pastora e o predador em seu quintal...

  Havia uma mulher, não sei que idade tinha, ingênua e pouco experiente que um dia, apaixonada, casou-se com um homem corajoso e determinado. Pensava que em companhia dele teria, ela também, coragem para conhecer sobre o mundo e seus arredores. Ao contrário disto, ele a convenceu de que o melhor para ela seria que vivesse no campo, cuidando de suas dóceis ovelhas, nunca ultrapassando os limites de sua pequena aldeia, estando assim protegida de todo o mal. Apesar do trabalho intenso ela era feliz e se distraía com sua mente curiosa e criativa.Tornou-se uma tranquila pastora, embora nas noites de lua cheia, como suas ovelhas, sentisse certo desconforto. Os anos passaram e ela ficou um pouco doente. Nada de importante, apenas sua energia diminuía após cada tempestade, e então ficava triste porque sentia-se um tanto isolada, embora naquele mesmo lugar que lhe dava segurança.
Mais tempo passou. O rebanho aumentara e ela estava sempre ocupada com sua criação. À uma parte da vida do marido, tinha pouco acesso. Nas noites que precediam tempestades, as dóceis ovelhas agitavam-se. E eram nestas noites que ele se ausentava ou chegava tarde, mas lhe dizia que ela não deveria perguntar onde estivera. Curiosa como era, não se conformava, pois exatamente nestas noites ela tinha de ser mais corajosa para tentar proteger as ovelhas e tudo que era valioso de algo que nem mesmo sabia o que era,mas sua intuição dizia que não era bom. Insistia para que ele a convidasse para divertirem-se à noite, seria uma boa maneira de sair de sua rotina solitária. Ele se aborrecia, não a queria no mundo, só para ele. Um dia ela notou que algo estranho ocorria a cada vez que ele se fechava para ela - ao contar suas ovelhas após estes episódios, percebia que seu número ia diminuindo. O tempo continuava a passar e seu rebanho de alegres ovelhas diminuía...
  Até o dia em que ela resolveu penetrar na noite, com uma lanterna, e ver o que ocorria. O que ela viu, ninguém sabe exatamente, mesmo porque não teve coragem para acender a lanterna. Mas conta-se que viu! Mesmo à luz do luar, viu o marido transformado em um estranho e peludo animal, que reconheceu como um devorador de ovelhas. Qual susto levou ao enxergar que, aquele homem quase sempre bom e honesto, nas noites de lua cheia que precediam tempestades, por alguma ansiedade de seus instintos transformava-se em um predador! Mas ele não se afastava, atacava apenas as meigas ovelhas que ela pensava manter protegidas na tranquilidade de seu quintal ( ou seriam, as ovelhas, inocências que habitavam o íntimo de sua alma?). Depois disto, e por um tempo, encolheu-se na segurança de sua casa e sonolenta, naquelas noites, esperava a tempestade passar, até que quase todo seu rebanho foi dizimado. Junto com o rebanho, ela também enfraquecia, sentia-se vazia, sentia-se morrer.
  Então numa noite, inspirada novamente pelo ciclo de vida-morte-renascimento em seu quintal, ao ver algumas de suas ovelhas com suas crias recém nascidas, encheu-se de coragem e decidiu enfrentar seja lá o que fosse aquilo em que seu marido se transformava.  Armou-se, trancou-se com elas em casa, ficando desta vez, com os olhos bem abertos, de prontidão para revidar qualquer ataque às ovelhas, com unhas e dentes. Assim o fez durante algum tempo, quando ele vinha e de um modo ou outro, tentava enfraquecê-la com seu jeito traiçoeiro de animal predador, que nunca antes encontrara limites. Ela, de início ficou apenas na defesa. Ora temia atacá-lo e não ter coragem de enfrentar as consequências, ora receava ser injusta. Ainda temia que aquela incompreensível maldição pudesse passar para ela, devido ao ferimento que ele lhe causara quando uma vez lhe atingiu com a pata, ao tentar atacar uma de suas frágeis ovelhas. Sim, ela viu o arrependimento nos olhos dele e também seu estranho amor. Mas estava ferida. Seria contagioso? Não queria que acontecesse com ela o mesmo que ocorria com ele. Poderia viver sem ele ou teria de encontrar uma maneira de apenas controlar aqueles eventos que se tornavam mais frequentes, porém menos assustadores depois que ousou manter as luzes acesas, durante aquelas noites?
  Uma noite, porém, sentia-se tão cansada que pensou desistir. Foi neste instante, em que vacilava mais uma vez, que as fêmeas do rebanho se juntaram perto da porta para protegê-la, como se por instinto, soubessem que era isto que deveriam fazer. E como tomada pela energia de todas as ovelhas gentis mas acuadas, ela reagiu. Não ia mais culpar-se por mostrar sua força, nem sentir-se mal por carregar em si sua coragem, e o enfrentou. Junto com a força instintiva das fêmeas que vieram antes dela, ela o enfrentou. E por amor a si e até mesmo ao homem que ele era quando não estava sob o feitiço das noites de insegurança de suas próprias tempestades, ela o empurrava para um quarto escuro e lá o trancava, já que ele não podia controlar seus impulsos de predador, impedindo-o de agir sôbre elas, as frágeis ovelhas que viviam ainda em seu quintal.
  Assim, salvou as meigas ovelhas que lhe sobraram com a esperança de que multiplicassem. Dizem que ela não é mais ingênua como antes, suas ovelhas não são mais tão dóceis, contudo as pessoas vêem os dois, ainda por aí, quando o tempo está bom, andando de mãos dadas, como um casal amoroso que convive bem... e então, ela é feliz...
  Conta-se também, não sei se é verdade, nem quero dizer em voz alta mas, dizem que nas noites de lua cheia, quando começa o ouvir os trovões de uma tempestade que se aproxima, imediatamente ela se transforma, e nas suas patas, digo, mãos, crescem pêlos!!
Texto: Vera Alvarenga
foto da pintura de Annita Catarina Malfatti - 1955 - Pastora e Ovelha
retirado do site catálogodasartes.com.br 
Técnica : Óleo sobre madeira
Dim. : 60 x 54,5 cm

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Amor possível, amor impossível...

 Eu já amei o amor possível, da única forma que me parecia ser possível amar – doce e inteiramente, com compaixão, gratidão e entrega total.
Claro que esbarrei em meus limites e nos do próprio ser amado, mas eles não me importavam. O importante e natural era o amor ser como era.
Depois, muito tempo depois, um dia me apaixonei outra vez porque de novo, o amor me tocou com seu encantamento, para meu espanto, de uma maneira diferente - amei um amor que crescia apesar da distância, que existia apesar do impossível.
Nos dois momentos, o ponto comum foi ser tocada por um amor que me encantava, o que fez nascer o desejo da entrega, como se entregar-se a tal sentimento com inteira lealdade possibilitasse transformá-lo em verdade que pudesse sustentar-se e sustentar a nós.
Não amei porque estivesse farta ou desprezasse o amor possível. 
Não tentaria explicar o que não se explica. Amei o impossível porque assim me encontrei, de repente e inesperadamente, apaixonada. Então, tudo passou a ter novo significado ao mesmo tempo que nada mais importava, porque o que era possível se dissolvia como um barco naufragado em meio às ondas reais do tempo presente, numa tempestade em alto mar. E eu ainda lutava no meio de algo grandioso, assustada, quase afogando-me, apenas agarrada a pequena estaca de madeira, pedaço talvez do mastro de uma antiga bandeira. Mesmo com os olhos a arder do sal da lágrima e do mar, meu olhar seguia o pássaro que voava livre em direção à terra firme e me inspirava a sobreviver, não me deixando afundar.
Assim, posso dizer que já amei de várias maneiras, já salvei o amor e fui salva por ele. Agora, ando na praia ao entardecer, tentando secar minhas roupas com os últimos raios de sol e a passos lentos, marco na areia meu rastro e sigo com esperança de que não sinta mais o frio das águas geladas do mar revolto e profundo, que existe na solidão de cada um de nós...  
Texto : Vera Alvarenga
Foto retirada do Google images.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A mulher, a loba e a benzedeira...

 Há muitos anos atrás numa pequena e calma vila, onde morava gente simples, comum, havia uma boa mulher, que antes fora também comum como todo mundo, até o dia em que bebeu a água da fonte proibida e ficou doente.
Ninguém ao certo sabia porque era proibido, às mulheres da vila, beberem daquela fonte, mas assim era. Como as mulheres eram ingênuas, em sua simplicidade obedeciam sem discutir. Aliás, há muito tempo que, só  homens fortes e corajosos ou animais sedentos se serviam da água que, conforme se dizia, tinha gosto amargo, estranho. Não faria bem para mulheres, com sua frágil constituição. Embora pouco comentado sabia-se também que a água, que escorria um tanto escura da fonte por estar à sombra das árvores, ao ser tocada por uma mulher, resplandecia como se fosse banhada pela luz do sol, pura e cristalina. Talvez este mistério fosse o sinal de que era algo sedutor porém perigoso, que devia ser evitado.
No passado, naquela vila, as que tinham ousado experimentar da água sofreram males para os quais os médicos da época não conheciam a cura. Algumas enlouqueciam ou eram tratadas como se tivessem perdido o juízo.De qualquer modo, perdiam algo precioso para si. Isto justificava portanto, a proibição feita para proteger as mulheres e explicava a pacífica atitude de obediência a ela.
Um dia porém, aquela mulher que há anos morava na casinha toda florida e enfeitada, aquela ingênua e boa mulher comum mas nem tanto assim, aquela que de vez em quando, distraída dançava e cantava em seu jardim não se dando conta de alguns olhares curiosos de quem por ali passasse, um dia ela, não só tomou da água mas escorregou e caiu na poça em frente à fonte, e nela se molhou inteira. Deste modo, ao voltar para casa, de início envergonhada, pensou que deveria esconder sua insensatez, mas não conseguia, mesmo porque a água que molhara sua roupa atraía os olhares, e ela se sentiu nua. Ao caminhar em direção à sua casa ouviu cochichos, mas não se importava porque sentia dores nos olhos, via o mundo de forma diferente e não sabia ainda o que mais viria como consequência de sua ousadia. Apenas tinha a certeza de que, pela primeira vez era urgente que cuidasse de si.
O pior estava mesmo por vir! Ela, que era tão comum e ingênua, às noites ficava completamente exausta, como se notasse pela primeira vez que suas forças finalmente estavam exauridas. O que antes lhe dava prazer, agora a lembrava de sua fragilidade e ela já não sabia se isto era bom ou ruim. E, durante algumas noites de lua cheia ela chorou, e seu choro podia ser ouvido por toda a vila, como se fosse o uivo de uma velha loba ferida. Ela não se envergonhou por isto, nem por sua voz. Contudo, durante o dia, algumas pessoas a aconselharam a aquietar-se, para o bem de todos ou por diferentes motivos. De início ela usou da artimanha de amordaçar a si própria, com um lenço de seda, nas noites de luar. Foi então que de seus olhos vermelhos começaram a saír faíscas e ela foi obrigada a olhar-se no espelho a cada vez que pingava colírio. E viu sua culpa, sua ingenuidade, sua vergonha e sua força. Sozinha,chorou de tristeza, de dor, de raiva e de amor até calar-se.  E, quando não havia mais lágrima pra chorar, e todos os pássaros fugiram de seu jardim, foi então que ela recebeu a visita de uma velha benzedeira.
  - Benze meus olhos, para que eu veja como antes...pediu.
  E a velha lhe disse que tudo ia passar mas que ela estava se transformando, e como não se pode ter um dia igual ao outro após uma grande tempestade que derrubou árvores, fez estragos e abriu clareiras, assim também ela teria de recomeçar a cada dia, vendo a luz e a sombra, chorando e sorrindo, buscando dentro de si a luz do amor e dançando em seu jardim quer fosse sozinha ou acompanhada por quem tivesse a coragem de compreender a dor de suas perdas e o valor de suas conquistas. Ao se despedir, a velha não lhe deu o abraço que ela desejava receber, mas um conselho:
  - Acima de tudo, por mais que lhe seja difícil compreender sem culpa, acredite que jamais serás a mesma, terás de aprender a defender-se como defendias as tuas crias e a voltar a crer em seus instintos, mas isto não é um castigo, é uma benção...
   Texto: Vera Alvarenga
   foto: Google images.

domingo, 8 de janeiro de 2012

A história dos rabinos e eu...

Andam me contando histórias..e elas me fazem pensar.
A daquele anjo, por exemplo,que levou 4 rabinos ao céu, onde eles contemplaram algo tão maravilhoso que ao descer do Paraíso para a terra novamente...
... o primeiro, após ter visto tanto esplendor, enlouqueceu e passou a perambular espumando de raiva até o final de seus dias. ( e bem assim estava eu, há pouco tempo, espumando de raiva e me sentindo culpada por isto). Que destino cruel o dele. Não quero isto pra mim.
... o segundo rabino encarou tudo com cinismo:  - -  
- "Ah, eu só sonhei com tudo, só isto, nada aconteceu de verdade. Foi só sonho!" ( que pena! eu bem pensei assim também. Nunca pensei que seria cínica na minha vida, mas algumas vezes é uma saudável opção agir como a raposa que diz - as uvas estavam verdes! outra, que pelo cinismo se salva da loucura e se cura da raiva.)
... o terceiro passou a falar incessantemente sobre o que havia visto, demonstrando sua total obsessão e assim, perdeu-se e traiu sua fé. ( Assim diz a história. Eu penso que tudo o que ele sentiu pode ter sido tão grandiosamente simples e maravilhoso que ele não podia conter dentro de si. Contudo, a obsessão talvez tenha sido a de continuar a desejar, e desejar colocar tudo na realidade palpável. O que não seria erro, se fosse possível. Afinal depois que nos inspiramos, e foi assim comigo, a gente quer trazer à realidade, e dar a ela um maior sentido.)
... Bem, o quarto rabino, este era poeta e usou toda a sensibilidade despertada nele, pegou um papel e uma flauta, sentou-se junto à janela e começou a compor uma canção atrás da outra, elogiando a pomba do anoitecer, sua filha no berço e todas as estrelas no céu. E daí em diante passou a viver melhor.
  Pensei sobre este rabino em particular.Como ele me lembra o que eu fui e fiz desde o começo de meus tempos, desde menina quando a sensibilidade e um amor puro transbordavam de mim. E me lembrei que, chega um dia em que, na maturidade, a gente quer ver transformada a realidade que nos toca de perto, e quer sentir o amor chegar de fora pra dentro, e nos tocar como milagre surpreendente. E os olhos vêem o mundo de outra forma. Então, após decepcionar-se e depois quase tocar os céus por instantes, a gente fica como os 3 rabinos anteriores, esquecendo-se do que é ou não sabendo mais como sê-lo! Isto aconteceu comigo, sem dúvida!
   Ainda mais me convenço de que..." diante do que é o sentimento do amor, todo gesto que não vem inspirado por ele, e tudo o que não é mais o amor, nos parece sem vida ou grotesco!"
  Sabe de uma coisa? Esta história me lembrou que preciso voltar a ser poeta! ainda que esta história não tenha me ensinado como me conformar com o andar sobre pedras, quando podia estar deitada na relva macia de um jardim florido que vislumbrei lá no paraíso....
 
texto: Vera Alvarenga
foto retirada do Google, onde não estava nomeado o autor.

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