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terça-feira, 13 de março de 2012

Na boca da noite, ele veio...

Ele chegou na boca da noite.
Ela não o estava esperando, arrepiou-se. Por instinto permaneceu atenta, a certa distância. Depois, olhou fixamente para ele e cuidadosamente se aproximou.
Ele tinha um cheiro bom, olhar distante e carente. E tinha sede.
Ele se aproximou mais. Ela não recuou mais, e sentiu o calor de seu toque, embora ele dissesse que estava quase morto de frio.
Ela o cheirou, deu-lhe de beber, percebeu sua dor, ouviu seu lamento, abriu seu peito, quis limpar sua ferida que era funda demais e teria cicatriz eterna. Ofereceu-lhe abrigo para aquela noite.
Então, quis aconchegar-se e neste gesto, sua ternura veio à superfície da pele, e também sua fraqueza e sensibilidade. Mais uma vez, beberam juntos da água. E, apesar de tudo, sorriam, juntos sentiam-se bem. Ele, dormiu um sono pesado, relaxado, seguro e sem sonhos, apenas para renovar as forças. Ela dormiu seu mais leve sono e sonhou.  Inquieta e sonhando, ela sorria. E o sonho lhe trouxe alguma luz. Então, ele partiu.

Texto e foto: Vera Alvarenga   

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

" A mais bela canção que podia ser tocada"...

  Há muito tempo,quando menina ela tivera um sonho.
  Agora, nada mais existia, a não ser o piano e ela!
  Não sabia que podia sentir tal emoção. Nem poderia saber, que o desejo que crescera em silencio, era o sonho que queria realizar-se há tanto tempo!
  Em sua vida, já de tantos anos para contar,  experimentara sentimentos fortes, verdadeiros, sinceros, sonhos que viu realizarem-se, após luta, garra, coragem ou apenas esperança. O amor fazia parte da vida dela, com a emoção que lhe era peculiar viver tudo que era de valia. Não tinha sonhos ousados. A vida era boa assim, com suas batalhas e simplicidades...
   Mas, realizar este sonho,era algo que não tinha sequer idealizado e sentia-se pequena,agora, diante dele.
   Então, pensou que o que alcançava era uma graça, pois era assim que vinha, sem que ela premeditasse, apenas por ter pedido há muito tempo. E diante deste fato maior que ela, pois assim é uma graça, nenhuma presença, ninguém mais importava naquele momento, a não ser "ela e aquele que se deixaria tocar pela sensibilidade dela, ao mesmo tempo que a tocava com sua gentil concretude". Juntos, neste dueto, comporiam a mais bela canção possível para ambos, cujas histórias diferentes se uniam no desejo de expressar-se inteiramente, através daquela canção.
   A música era forte, arrebatadora ao mesmo tempo que apresentava, em certos instantes, o som que, de tão suave, apenas alguns podiam compreender...e era tão envolvente, que seria como um testemunho ouvido por todos,porque era a última e mais sublime música que tocariam, conscientes de que era a última obra que ambos poderiam realizar. Foi por isto que se aproximaram e harmonizaram-se de tal maneira, que seriam reverenciados por todos que os pudessem ver e ouvir - ela e .... o piano - um sonho de amor escondido.
     Era por isto que para ela, tudo parecia um milagre e não podia se importar com mais nada, só havia ela e ...o piano. Até que de repente e só então, percebeu ... não havia som! A música estava a ser tocada apenas em seu coração. Seria possível? Por um instante se desconcentrou... e olhou em volta. a realidade.
     As notas musicais então, imediatamente caíram ao chão, junto com as teclas do piano.
     Meu Deus, o que aconteceu, o que foi que eu fiz? Perguntou-se.
    A música que silenciosamente tocava e ninguém mais escutava, gritava só em seu coração os últimos acordes e foi se calando, e ficou ali, escondida outra vez. Ela não sabia o que fazer, no meio de um palco que jamais pensou que existisse, pois nem sabia como tinha ido parar ali..no meio daquela gente que se comunicava estranhamente. Tentou juntar as notas que rolavam pelo chão junto às lágrimas que tentou ainda esconder, quis ter coragem para desculpar-se com o público, se ali ainda houvesse alguém...
    Então, o maestro pegou-lhe a mão, abriu a janela e deixou a luz entrar, para gentilmente lhe mostrar... realidade.
   Ela quase desfaleceu, mas reagiu. Afinal, se ela apenas havia sonhado, que bom porque ninguém a tinha visto! Foi o que pensou para consolar-se. Seu sonho podia continuar a ser um segredo só seu. Podia seguir e sorrir, como se nunca tivesse chegado tão perto de realizá-lo e tudo ficaria em paz para todos.
   O sonho lhe pertencia e só ela sabia que um dia, tinha sonhado compor aquela canção...com ele.

Texto e foto : Vera Alvarenga  email : mulhernaidademadura@gmail.com
                                                         e  fotoseimagensdomeuolhar@gmail.com

sexta-feira, 2 de julho de 2010

-" Cuidado ao tocá-la...Hoje ela é uma Gueixa!"....

Cuidado! Frágil!...
Ela nunca sabia a que horas ele ia chegar, mas tinha lhe reservado uma surpresa.
Como uma gueixa, que se prepara lentamente num ritual para receber aquele a quem iria agradar, ela olhava ao redor para confirmar que tudo estava em ordem. A bacia, o sabonete, a toalha, os chinelos... O necessário para a cerimônia que havia imaginado.. A almofada onde sentaria próxima do seu homem para lavar seus pés cansados;  o creme para a relaxante massagem a fim de que seu herói pudesse despir-se completamente de sua armadura. O quimono de seda preto tinha delicadas flores de cerejeira bordadas. Tudo estava em ordem.
A música tocava um ritmo agradável, suave e baixinho, pois ele não era muito ligado a estas coisas e ela não queria forçar muito a barra. Apenas seu coração batia descompassado. Será que ele iria gostar?   Claro que sim... só não poderia demorar muito nos rituais, afinal, ela também era fruto de um clima tropical.
Agora, era esperar que ele chegasse.
Para estes momentos raros e envolventes, há comportamentos intuitivos que  todos sabem, seria preciso respeitar, se alguém quisesse vivenciar este presente. No ar, parecia haver um aviso : " Cuidado ao tocá-la ! Frágil, delicada!"
Quando ela se vestia assim, de gueixa, se despia de tudo o mais. Forte, se mostraria frágil, e ainda que firme em seu propósito de agradá-lo, seria delicada como uma beija-flor! Portanto, era preciso ser cuidadoso ao tocá-la, embora ela pudesse resistir a tudo.
Quando  uma mulher dá  este  presente,  é  necessário ser paciente  ao desfazer o laço, com  gestos seguros e calmos, para  enfim descobrir  seu  segredo. Não  é  como receber  uma caixa de bombons quando se  adora chocolate, ou  uma  lata  de  cerveja  geladíssima, quando se está sedento! Nada havia ali para ser devorado ou sofregamente bebido.
Um  presente especial requer alguma sensibilidade ao abrí-lo, para não  assustar  a beija-flor que  lá pode estar contida, ou quebrar a jóia rara escondida na pedra de aparência comum. Há, na intenção do presente, o desejo secreto de oferecer um diamante. Dependendo de  quem  o  receba,  prolonga-se um momento de raro prazer.
Ela sabia de tudo o que representava o ritual ao qual se entregara. E precisava disto.
Se ele se entregasse ao encanto que o presente trazia em si, e olhasse também com encantamento para os olhos daquela gueixa, compreenderia todo o sentido. Ela queria  acender a chama do apaixonamento por ele, tanto quanto sempre estivera apaixonada pelo amor. Até o tempo iria parar por alguns instantes, conivente com o viver de um sonho, cuja lembrança ficaria no corpo e na memória, para ser resgatada nos tempos mais difíceis e menos férteis de um inverno futuro. 
Se ele se entregasse ao encanto... mais que tudo, permitiria que a gueixa vivesse nela, para sempre, com toda a sua disciplina e os seus dons.
Lá fora, o barulho do carro. Logo depois, a porta se abriu.
Trêmula de amor e medo, desejou que ele compreendesse o presente que estava para receber, que sentisse o aroma da flor de cerejeira e que percebesse o aviso que pairava no ar, leve como uma beija-flor... “Cuidado ao tocá-la, hoje ela é uma gueixa...”

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Texto : Vera Alvarenga
Foto : retirada de email da internet. Pode ter direitos autorais.

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