quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Minha visão de mundo...

Li, na semana passada o livro de uma jornalista, Saíra Shah, contando sua viagem ao Afeganistão e região, numa busca pessoal por suas raizes e mitos. Impressionantes relatos que ela faz de sua viagem, do que viu em meio às atrocidades das guerras (diferentes guerras,com diferentes motivos) e sôbre as mulheres e homens num mundo de cultura tão diferente da nossa, e tantas coisas mais. Na verdade, devorei o livro em 2 dias, porque ia dá-lo a minha norinha, no aniversário dela. Conheci o mundo que ela descrevia, através do olhar dela  em " A filha do contador de histórias ".
  Estou lendo, já há mais tempo, devagar como quem vai aos poucos se reconhecendo dentro das páginas, um outro livro também cheio de histórias, mitos e arquétipos e que estou adorando ler. Eu bem podia tê-lo escrito, com tanta coisa ali semelhante ao que penso, ou senti, ou ainda sinto, ou reconheço! Poderia, se tivesse a formação desta psicóloga e me dedicasse,como ela fez, ao cuidadoso estudo e cansativo trabalho de concatenar as palavras corretas, na sequência ideal para falar sobre emoções, psiquê e alma, com tanta propriedade como ela fez, de um modo que fica tão mais fácil de compreender do que outros livros com o mesmo tema. Não é pra qualquer um. Ela fala também de mitos e contadoras de histórias que, sob a interpretação e visão dela, transformam-se em símbolos e ferramentas que nos ajudam a compreender um mundo que nem sempre é de fácil compreensão. Ao contrário do outro livro, me reconheci nele, me reencontrei em alguns momentos e percebo que decidi penetrar suas páginas no momento certo, exatamente logo após ter aprendido o sentido de muitos conhecimentos que a autora compartilha conosco, ali. O livro " Mulheres que correm com os lobos" é muito bom, nos ajuda a sentir mais do que pensar, e nos apoia para que não nos deixemos mutilar de nossas melhores e mais raras qualidades, só porque nem sempre são as reconhecidas, como nossa intuição e força protetora que surge quando algo põe em perigo a segurança de nossos filhotes, de nosso companheiro, ou dos que pertençam a nossa "turma"! Num mundo que está se tornando frio, mortalmente insensível e inconcebivelmente individualista, este livro é atual, embora não tenha sido escrito recentemente. Nele a gente se vê no espelho e sente orgulho de não ter desistido, e deixa a vergonha de lado em relação aos ataques decididos que aprendeu serem necessários nos momentos de sobrevivência da vida ( interior ou física), ou da necessária resistência silenciosa, algo que muitos hoje confundem com simples comodismo!! A autora fala de como é perfeitamente normal que tenhamos "fome" e assim sendo, um dia sintamos urgência  de encontrar alguém da "nossa turma", que possa nos reconhecer, aqueles que falarão nossa linguagem e nos oferecerão do alimento que precisamos para vicejar, porque compreendem o gosto e necessidade do mesmo alimento! Ao ler este capítulo lembrei-me de alguns posts onde eu repetia e repetia as histórias de fomes e sedes que levam pessoas a buscar por uma fonte dentro de seu mundo, ou fora dele.
Ela fala também de como esta mesma "fome" pode levar-nos a cair nas mesmas arapucas! É preciso bom humor para ler sobre isto, para podermos sorrir ao lembrar, se for o caso, dos nossos próprios percalços do caminho, e com certeza ler não nos fará sábios, contudo penso que sempre nos relembra o sentimento de compaixão, o que nos faz mais humanos. O livro é de Clarissa Pinkola Estés, e o recomendo aos homens também, pois ajuda a compreender o que é mais natural na vida e como ela seria mais rica se pudéssemos, homem e mulher, caminhar como amigos que complementam suas forças, ao invés de competir .
  Fico pensando como é maravilhoso que eu possa enxergar, para ler e ver o mundo através de outros olhares, e depois possa sentí-lo através da minha própria visão interior. E o interessante é que, no primeiro livro, apesar da cultura tão diferente da nossa, percebemos coisas que todas as mulheres tem em comum, como o cuidado com seus filhos, ou sofrem em comum, como a incompreensão e desrespeito aos seus direitos e sentimentos, mesmo embora cada uma demonstre de maneira diferente, pois que estamos todos, de certo modo, um pouco engessados dentro do que nossa cultura "permite".
  Me sinto grata por poder, a esta altura da vida, ainda ler com meus próprios olhos, aprender e refletir sobre um mundo que é tão grande e diversificado, e que ao mesmo tempo tem tantos pequeninos pontos em comum.
  Não sei mais se o ideal é tão simples como o desejar menos preconceito no mundo e mais respeito pelas diferenças, pois que aí vejo o perigo de que tudo então, deveria ser aceito!? Tenho preconceito contra um pensamento que vê a importância da mulher só pelo número de filhos que ela possa parir, ou que lhe corte o clitóris num ritual em nome de não sei que crença que pensem ser justificável. Não ter preconceito seria aceitar tudo isto, como se justo fosse? Ou pensar que nossa cultura é superior? Pois neste ponto acho que sim, mas em outros sabemos que não. Estamos todos caminhando no deserto, em busca de um oásis, ou de provar que os nossos heróis são verdadeiros, e mesmo assim, caímos e nos esfolamos, aqui e ali, e quase morremos de sede mesmo não estando usando a burca. Quem julgaria o que é justo? Por certo não seria nenhuma religião, no sentido em que elas se proliferam hoje em dia. Que tivéssemos, cada vez maior compatibilidades e mais respeito à humanidade que é o que nos distingue dos animais e poderia nos unir, apesar das diferenças, isto sim, seria bom. Sabemos que não é fácil apresentar soluções, nem para os que estão no campo de batalha, nem para os que a vêem através de vidros blindados. O que nos resta é aprender, refletir e transmitir "aos nossos", aos que estão sob nossa responsabilidade, o respeito aos direitos humanos, à humanidade, e a extrema necessidade de agirmos de modo coerente sempre que possível, a cada oportunidade no nosso entorno, para ampliar este conceito como coisa viva que possa se multiplicar, como pasto verde no campo, ou cardume de peixes nos rios, para alimentar todos os famintos.

Texto e foto: Vera Alvarenga.

6 comentários:

  1. A compaixão é o sentimento mais rico que se pode ter, com ele percebemos a essência de uma pessoa e nos colocamos em seu lugar. Tem algo mais enriquecedor para o ser humano do que o compartilhar, dividir e somar sentimentos? Que seja pelos livros, estes nos ajudam também nessa compreensão para depois colocá-la em prática. Bom fim de semana! Beijus,

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  2. Concordo com você, sim. A compaixão é o primeiro passo a caminho de uma vida mais humana para si e para outros.
    Beijos, Luma e ótimo domingo também pra você!

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  3. Oi mminha amiga... adorei seu texto! E também adorei a dica dos livros. O segundo já andei com ele nas mãos, mas acabei não lendo... vou procurar novemente.
    Respeitar as diferenças e tentar entendê-las sobre a ótica das diversas culturas é iniciar as mudanças necessárias e justas!
    Não devemos colocar estes povos a margem da humanidade por suas crenças (preconceito), precisamos trabalhar em prol do seu amadurecimento como seres humanos.
    Beijo no coração

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  4. Oi, minha amiga! obrigada.
    Gostei muito dos livros e neles encontrei mulheres diferentes de mim, e semelhantes em alguns aspectos, algumas inspiradoras,outras com as quais me identifiquei em algum aspecto. Muito bom ler, não é?
    Beijos.

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  5. Ah, Vera, que desabafo, não? Sim, mais de uma vez já me senti como descreve no texto. São as nossas perplexidades, como gosto de dizer.
    Já li um livro sobre as mulheres afegãs, mas que era escrito por um homem que soube captar muito bem o que passam as mulheres de lá. Fiquei revoltadíssima. Não consigo entender como, em pleno século 21, as mulheres do Afeganistão e outros países orientais ainda se submetem à tanta crueldade com relação à elas. Acho muito, muito triste.
    Mulheres que correm com os lobos é um livro fantástico e que nos faz refletir. Já faz alguns anos que o li e achei ótimo. Como você percebeu a autora nos faz refletir sobre aspectos nossos que às vezes não prestamos atenção ou até rejeitamos.
    Concordo com sua visão de mundo, onde o respeito pelos demais é a tônica e a compaixão o acompanha.
    Seus textos são sempre uma leitura obrigatória.
    Beijos e inté

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    1. Ah, rejeitamos porque seria melhor, de nós, experimentar apenas os deliciosos sabores. Mas é claro que, a esta altura da vida, já estive muitas vezes no sótão ( ainda prefiro o sótão ao porão..rs...)e tive de provar também algo amargo que a velha que aparece lá me oferece.
      Eu, nunca me lembro do nome dos livros que li há algum tempo.Se você se lembrar deste que leu, venha me contar e eu o lerei quando tiver chance.
      Beijos.

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