sábado, 29 de agosto de 2015

Palais Garnier...

 Para viajar, sem dúvida é importante ter um roteiro, pelo menos das coisas que a gente "não quer esquecer de experimentar ou visitar" e ter anotados os dias e horários de cada lugar que possa ter alguma restrição.

 Como já comentei, meu roteiro foi alterado graças a um convite maravilhoso de um casal de amigos franceses, para irmos a um passeio de "Bateaux-Mouches" no final de semana. Então, simplesmente mudei os dias de algumas visitas.
Acontece que, estando na fila e ao chegar nossa vez de entrar na Opera Garnier,o segurança nos barrou dizendo que meu "convite do Paris Pass" não valia para aquele dia. Estava eu tentando me fazer compreender e pedi que me explicasse, o que ele, apesar de sério, começou a fazer.
Contudo meu marido que nada havia compreendido além do fato de ter sido "barrado", demonstrou aborrecimento.
Para resumir, o segurança perdeu a paciência e pediu que nos retirássemos da fila ( havia apenas algumas pessoas logo depois de nós).


 Na verdade ele explicou-me que, com aquele passe teríamos o direito a uma visita guiada e que só seria possível para o dia seguinte, ou teríamos de pagar para entrarmos naquele momento e visitar por conta própria.
  Meu marido não queria pagar e decidi sair logo dali e voltar no dia seguinte, o que foi realmente muito melhor.
  Na visita guiada ( em Ingles), pude ver muitas coisas que certamente, andando com pressa e por conta própria, não teria visto!
  No dia seguinte, logo após entrarmos, eu ainda estava um pouco tensa com receio de meu marido encontrar-se com o outro segurança.
 Para surpresa minha, um outro segurança me chamou de lado e, muito gentilmente explicou-me o comportamento de seu colega, desculpando-se pelo mal entendido e dizendo que, como meu marido gesticulava e reclamava, o outro tomou aquela atitude um pouco rude. Desculpou-se comigo, mais uma vez. Esta gentileza me surpreendeu e foi como  um bálsamo... relaxei e de fato, a partir daquele momento, pensei apenas em aproveitar ao máximo! E fui em busca do Grupo com a guia ( algo que eu já estava por desistir)...rsrs......
Também me desculpei, agradeci a gentileza e fomos à visita.
Como eu disse, vi lugares que não veria por conta, inclusive a biblioteca, e a parte de dentro do teatro onde estava acontecendo um ensaio ( por isto a foto está escura).

O Palais Garnier é muito bonito! Vale muito a visita, guiada ou não!
O Hall de entrada com as escadarias é magnífico!
A parte do restaurante também.


 Quando revejo as fotos desta viagem, como agora no momento que faço este post, me recordo de como foi rápida e maravilhosa esta oportunidade que tivemos, graças ao presente que ganhamos.



 A vida nos apresenta momentos que são presentes preciosos da própria vida, de nossos esforços por vezes depois de anos de persistência para a realização de um projeto ou sonho, ou das pessoas com as quais temos a sorte de conviver. É maravilhoso quando, ao lembrar, temos a consciência de termos aproveitado, reconhecido o valor daquele momento!
Porque o tempo não pára nem volta para trás!












texto e fotos: vera alvarenga

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Saudade Renato Teixeira(poesia de Mário Palmério)


- Hoje to triste, cara.
- É o vinho, Moraes. Você não tá comendo nada. Pega aí o provolone.
- Não é não. É que me bateu uma saudade danada, sabe, daquele sentimento que quando a gente tem, faz todo sentido, faz a gente...
- Ou daquela mulher?
- É. Dá no mesmo. Você sabe, a gente se sentir vivo novamente, pulsante, como dizia o Silva. Aliás, aquele, entendeu-se lá com aquela amiga dele, bem mais nova. Bonita até.
- Mas a tua, não era nova, né?
- É. Tem a minha idade. Portanto não é velha! Madura eu diria. E me fazia sentir o maior e o melhor dos homens... Sabia o que queria.
- Ela estava apaixonada, não é? Sem dúvida, meu amigo, isto é bom. Eu, por mim, desconfio um pouco dessas que agradam tanto...
- Não é isso. Você tá enganado. Para ela, eu era melhor do que aquele com quem convivia. Sei lá, um relacionamento daqueles que a gente não entende porque duram tanto! Não é por nada, mas acho que ela cometeu aquele erro que é fatal para a efêmera felicidade. Comparação. De repente, como ela mesma disse várias vezes, ficou perdida lá naquele quintal dela. Sabe o que ela me disse? Que diante do amor..o que não é amor, de repente, parece grosseiro. Parecia ter uma sede de pular aquele muro, de conhecer o mundo. Pular, não! Voar comigo, como ela dizia. Até emociona, viu? Aquela ingenuidade com a qual me falava do que sentia, lembrar o jeito como ela me via, como alguém que...
- Ah! e quem ia pagar este voo para um novo mundo?
- Você não acredita em ninguém? Ela era diferente, confia em mim. Era sincera. Acho que me superestimava até! Como pessoa, porque não sabia o que tenho. Hã... Ela queria poder conversar, aprender, ouvir, enfim, queria alguém um pouco mais parecido com ela, sabe como é. Tinha uma solidão tamanha que... Bom, confesso que seria melhor se tivesse também uns anos a menos.
- E por que você não foi atrás dela? Por que, aliás, não vai atrás dela?
- Águas passadas meu caro. E não quero problemas, alguém me endeusando, mimando, somos de mundos diferentes.
- Talvez de nível diferente, eu diria. Mas eu me lembro que você me disse que ela tinha uma simplicidade que o encantava. Tinha ou não tinha? Não era nenhuma ignorante ou coisa que o valha?!
- Não, claro que não! Mas, começar tudo de novo? Sei lá. E ela certamente não pensa mais em mim. O meu silêncio foi bem eloquente. Foi só uma lembrança...
- Poxa Moraes. Então tá resolvido. Esquece. Toma mais vinho e come provolone que a saudade passa. Eu te falei. Isso é fome, amigo. E falta de..
- Você me subestima. Me dá a garrafa. E vamos mudar de assunto, que não quero problema na minha vida. Passa o provolone também...

( o ser humano é criativo em momentos de crise, ou de saudade. Fazemos de tudo para viver bem, até inventamos histórias...rsrs....) texto: vera alvarenga






terça-feira, 18 de agosto de 2015

A visita aos Petit e Grand Palais...

 Você faz roteiro, se programa, enfrenta seus medos, encara o que for preciso e faz a sua parte para colher aquele fruto saboroso... ou simplesmente para conhecer os Petit e Grand Palais. Mas quem foi que disse que só querer é poder? Até posso complementar - querer, arregaçar as mangas, fazer e não desistir, isto sim, seria mais viável, mas nem mesmo assim, tudo se concretiza como desejávamos.
  Por vezes, o trajeto demora mais do que pensava e quando chega lá, dá de cara numa porta fechada!


 Mas... que porta!! Uau!
Não consegui entrar no Petit Palais. Tive de me conformar fotografando por fora mesmo.

Que portão lindo!

De repente, você tem de alterar sua programação, então pensa, tá bem, o que escrevi aqui que faria hoje, farei amanhã e, como o tempo é curto para rever tudo, segue em frente.
Acontece que, quando eu programei e escrevi lá no meu caderninho de "Roteiro", eu bem sabia porque tinha escolhido um dia e não outro para algumas visitas. Ocorre que, uma vez por semana, em dias variados para cada "atração", as portas estão fechadas...
Mas tem cada porta, hein?! 
Aí você dá uma espiadinha pra dentro... e vê um anjo! E como todos, estava fora de alcance..apenas uma espiadinha, um ligeiro contato de 2º grau, uma lembrança no clic, se a luz me ajudasse...









Tudo comprova que há imprevistos pelo caminho e temos de aprender a lidar com frustrações, mesmo apesar de todo esforço ou dedicação, nem tudo sai como a gente desejava! Por isto é tão importante não ir com tanta sede só para matá-la junto ao pote... é melhor ir bebendo uns golinhos pelo caminho e aproveitando o percurso...
Fiquei, de fato, encantada com esta porta... este portal!

fotos/texto:Vera alvarenga


domingo, 16 de agosto de 2015

Quer sentar-se comigo? Vamos jogar conversa fora....

As vezes dá uma vontade doida de pegar um café, uma cerveja, um vinho, uma limonada, seja lá o que for, e sentar ali com alguém e ter uma conversa amigável, não é? Cada um lendo um livro e de repente, pensando sobre algo, jogar conversa fora, como se diz. Se há uma coisa que dá saudade,  é de "ter uma conversa mansa". Li agora um texto sobre isto do Rubem Alves e me lembrei das pessoas com quem eu tive alguns destes raros momentos. Ô coisa boa!
  De tão bom eu sempre sonho acordada com isto! De tão raro e bom eu ainda tento "reproduzir" momentos assim, com outras pessoas quando há oportunidade.
  Olhar para alguém e compartilhar idéias, conseguir rir das diferenças de opinião, sem esperar por discussão ou, pior, "castigo."
Pode ser até que, por tão diferente, a idéia desconcerte, cause um choque ou pareça insana. Ou simplesmente canse, depois de algum tempo de conversa, a cabeça de um dos interlocutores que acabe por bem encerrar numa boa a discussão (amigável) do assunto. Claro que depois de um ter ouvido o outro, de se fazerem as ponderações e divagações cabíveis.
   Mesmo que não cheguemos a um acordo, além de tudo o mais, haverá a oportunidade de estreitarmos laços: - Você é meu amigo apesar de pensarmos de modo diferente, às vezes. Que bom! quando estou com você, posso sentir-me feliz por ser eu mesmo, e posso mudar, revendo as coisas nas quais acredito. No mínimo podemos rir juntos.
   È certo que, mesmo que tentemos justificar e com entusiasmo convencer o outro de que nossa idéia é de fato boa, não quer dizer que vamos lhe impor nossa verdade e menosprezar a dele. E não estamos falando de diálogos intermináveis com crianças ou adolescentes,nem de quando uma decisão se faz urgente e é necessário dizer: - É assim, e ponto final!
  Estou falando de conversa amigável e não importa se é com um filho adulto, uma pessoa velha como nós, um amigo ( quando ficamos mais velhos, como dá saudades dos raros amigos com os quais estas conversas eram possíveis). Lembro-me que meu pai, algumas poucas vezes, mas que ficaram gravadas na minha memória, quando tinha tempo, conversava comigo assim : - " E se tal coisa fosse diferente e...."
   Com meus filhos então, naturalmente me acostumei a ouvir ( mesmo que depois tivesse de dar ordens). Isto era trabalhoso e as vezes cansativo, mas conversávamos. Pelo menos eu tentava ouvir. Eu, de fato, queria ouvir! Talvez porque desde menina detestava algo que me "persegue", me incomoda desde então - quando alguém "nos castiga de algum modo" por ousarmos pensar diferentemente. Não falo de disciplina não! Isto não me incomodou nunca. Falo de atitudes de distanciamento ou daquelas frases do tipo:
- Não responda! Não se explique! Não me conteste! Se você faz tantas perguntas, se põe o que digo em dúvida é porque não aceita que o que eu digo é a verdade!
   Eu tenho certeza que, se você convive a vida toda com pessoas que lhe repetem e repetem isto, dependendo de seu jeito de ser, você aprende a esconder o que pensa, ou a não pensar, ou então, encolhe as idéias. No meu caso, acho que encolhi as minhas. Quando a gente fica mais velha então, e intolerante a discussões com os donos de uma verdade, e com preguiça de levar tudo tão à sério, acaba por ser seletiva sobre o que vai valer a pena conversar. Pudera! Devia ter ido para a faculdade de Filosofia, não de História. Isto foi um vacilo meu! Depois talvez eu nem tivesse tido tanta atração pela Psicologia, afinal, ao invés de desejar entender as emoções, estaria procurando entender o mundo e suas idéias!
  Ainda bem que nas minhas artes e em casa pude colocar em prática a ânsia de criatividade, mesmo que fosse num modo diferente de passar fraldas ou numa receita de esmalte para cerâmica. Bem, se encolhi minhas idéias não sei, só sei que agora não tenho paciência para levar tudo à sério ou para entrar em discussões sem fim, mas continuo a ter certeza de que o mundo é muito maior do que o que se pode afirmar, e mais interessante nas diferenças.
  Agora bateu-me no peito uma saudade danada das pessoas que me demonstraram seu amor me permitindo ter dúvidas ou pensar diferente, e conversaram comigo amigavelmente sobre as possibilidades...
  Todas as pessoas deveriam poder envelhecer com seus pares, tendo 2 cadeiras num jardim qualquer e algum tempo para sentarem lado a lado, bebericando fosse o que fosse, observando finalmente a vida... só pra ficarem próximos, mesmo quietos,  e talvez de mãos dadas apesar de suas diferenças, ou para conversarem amigável e mansamente sobre a vida, seus problemas e suas delícias....
   você tem alguém assim? convide-o/a! E vão lá para aquelas cadeiras...não esqueçam de levar banquetas para apoiar os pés, afinal, nesta fase da vida, algum conforto é fundamental!

foto e texto:Vera Alvarenga

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Sobre aquele conto : "Dora" e um texto de Rubem Alves.


 Aquela Dora, ontem, disse que "quando você ama, nada a aprisiona". E hoje, pensei aqui com meus botões: talvez só o desejo de continuar amando. A gente fica viciado no amor. Será isto?
   A gente ouve o conselho: seja como a árvore que dá frutos sem esperar retribuição. O cuidado, os gestos, quando vem do sentimento amoroso, são como os frutos, então devem ser dados, pois para isto somos árvores de frutos. Há dias porém que estamos mais pra raiz, e precisamos da seiva nutridora. Nestes dias ou fases, precisamos receber. Penso que assim se fazem as árvores, quando inteiras, ora dão, ora recebem.
   ... Concordo com Rubem Alves quando fala do sentimento amoroso como algo que existe dentro da gente independente do que o outro faça. Concordo até certo ponto, se pensarmos no nascer do sentimento ou num amor incondicional como o de algumas mães por seus filhos em muitas situações. Ou ainda quando alimentamos em pensamento um apaixonamento por alguém como no caso dos poetas românticos, e nos servimos do sentimento apenas para nos sustentar em momentos específicos, pois tal amor não se concretiza no real para que possamos solucioná-lo - acabar com ele de vez ou sair montado em suas asas, voando acima das intempéries do mundo cá em baixo. Mas não é deste tipo de amor que estamos falando. Por causa de Dora, estávamos refletindo no amor dentro de uma relação amorosa. Se tenho sentimento amoroso por você, suponho que naturalmente lhe darei meus gestos de amor, e vou querer viver de sonhos realizados e não dos que não passam de desejos. Então,se e quando lhe dou meus gestos de atenção e carinho, fruto do meu sentimento amoroso por você, já estamos numa relação, ora. E, a relação amorosa como ele comenta, "exige" retribuição. Amar o AMOR que está em nosso coração, talvez seja a única forma de não desejarmos retribuição e poder dar sempre de seus frutos.
    Me detendo um pouco mais no que ele escreveu e que adorei ler, recordo o exemplo que deu de um casal em que a moça "inundada de amor" transforma este sentimento numa cachoeira de gestos que inunda o outro, em meio à qual o "pobrezinho" se encolhia, sem tempo de respirar ou retribuir, quase a afogar-se. Também já vi isto. E posso crer que tudo vá mesmo acabar, em alguns casos, em pouco tempo. Como também sei que há muitos casos em que o rapaz, machista ou experiente, frente a outros e diferentemente de sua apaixonada que não teme demonstrar seu amor em público, se retraia com vaidade e certa satisfação camuflada, e fora das vistas alheias, alimente aquela situação de um tal modo, com tais atitudes que garanta perpetuar aquelas cenas que mais tarde se repetirão, caso o relacionamento dure! Porque, se ele também retribuísse os gestos naquele momento, fosse do modo como melhor lhe conviesse, ela não teria tempo para tantos. Se estava sendo afogado então, que saia logo da relação. Se ele não tem para dar, que não a confunda, porque se o fizer, a coisa pode durar muito e parecer um arranjo feliz para ele, até que ela perceba que a fonte secou. Enquanto durar, quando este for o caso, as cenas serão sempre a de dois atores onde um fica na situação cômoda de receber, faz de conta que não liga mas precisa que a outra fique a lhe demonstrar sempre, através de pedidos de atenções, o quanto o ama. Aí entra aquele comentário que o Rubem Alves fez de que " preciso sentir nos seus olhos e na sua voz que você me ama"(como é verdade isto! concordo plenamente!). E ele conclui " se sinto que você me ama não é preciso que você retribua nenhum dos meus gestos". ( Ui! aí fica difícil...digamos que não precisa retribuir da mesma forma, mas com as devidas semelhanças).
 Voltando àquela cena dos dois namorados, quem foi que disse que aquele rapaz não sussurrou estas palavras amorosamente ao ouvido de sua amada, e em meio a suspiros não repita que a ama apenas na intimidade de seus momentos mais secretos e deliciosos? e se ela acreditar que tem seiva suficiente para que isto lhe baste, o relacionamento e a árvore darão frutos por muito tempo.
   Bem, fiz com este texto de Rubem Alves o que ele gosta - refleti sobre ele e ele me deu idéias, me propôs outras interpretações, embora de modo algum eu queira dizer que ele não tenha interpretado maravilhosamente bem a cena que viu. Apenas quis aqui deixar a minha visão diante de um mesmo fato. Eu tenho a terrível mania de achar que por trás das cenas há algo mais....
  O que posso dizer para concluir é que o amor e as árvores que dão frutos tem, certamente, fases e são compostos de mais de um verbo, atravessam estações, quase se afogam nas tempestades, mas de qualquer modo, para permanecerem fortes e vivos dando frutos, sem dúvida é necessário que retirem do solo, em certa época, com suas raízes sugadoras, a nutrição para que permaneçam em outro momento e com alegria, doando frutos saborosos sem pedir retribuição. Acho que aqui, nesta terra, nada pode continuar a nutrir se não for nutrido. E, nos momentos atuais, estamos constatando que até as cachoeiras secam.

Inspirado pelo conto "Dora" e pelo texto de Rubem Alves: "Amar sem esperar retribuição", do livro Coisas do Amor.
texto e foto: vera alvarenga

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Dora.

 Dora era uma mulher de sorte. Por muitas razões sabia disto. Era também uma sobrevivente. Alguém que agarrara a vida e tudo que de bom pudesse optar por viver. Inventava, mesmo do seu jeito tímido, muitas pequenas alegrias. Encontrara, em seu modo de ser mais solitário, embaixo de cada pedra, um grão de areia dourado, uma argila macia com a qual podia esculpir alguma coisa, uma formiga esquisita que lhe despertava a curiosidade, e nas paredes por acaso intransponíveis, um musgo que subia até um buraco qualquer e assim, lhe mostrava o que havia do outro lado. Por causa do musgo ela sabia que o mundo não era pequeno e que o seu umbigo não era o centro dele.
Não ficava feliz nas compras, ou nos shoppings a menos que fosse para comprar um presente ou para ver pessoas, mas sim, nos lugares calmos onde pudesse apreciar natureza, jardins, pessoas tendo suas vidas, tomando café, conversando, bebericando, rindo.
Dora envelheceu, como todo mundo. Agora sua vida era bem mais calma. Aposentados, ela e o marido viviam vida simples mas com necessidades atendidas e pequenos prazeres, como o vinho de todas as noites. Durante o dia, o marido ocupava-se com andar pelo condomínio em busca do que estivesse errado para poder pensar em soluções - era seu modo de cooperar com o grupo social do qual fazia parte. Era também seu modo de construir com sua crítica algo melhor, como ele mesmo dizia. E como encontrava muitas coisas erradas, mantinha-se ocupadíssimo. Por vezes divertia-se a criticar, provocar as pessoas, fazê-las compreender o quanto tudo estava errado! Dora por sua vez, cuidava de suas próprias coisas, escrevia, organizava a casa - desde sempre pensara que ela, a casa, era uma extensão de seus donos e deveria ser um lugar agradável de se viver.
Durante o dia então, cada um fazia suas próprias coisas e ficava no seu mundinho, mas ela, entrava no mundo dele, levava cafezinho ao marido ou o ajudava com o computador sempre que ele precisava de sua ajuda.
Nesta noite Dora estava sozinha e ele demorava-se a pegar assinaturas para certas providências. Em frente ao computador, levantou-se e começou uma dança tímida, ao som de Ray Conniff. Ah! quem resistiria a isto? Que bom ter passado para o computador este CD de músicas, que delícia deixar o corpo lembrar de como era bom dançar.
Dançar é bom, aliás, em qualquer idade, o corpo se alegra, pensou. E ela não podia desperdiçar pequenas alegrias. Amanhã, quem sabe onde estaria? Poderia não poder nem mais dançar. O marido chegou. Cumprimentaram-se rapidamente. Ela o chamou:
- Vem, vem dançar um pouquinho comigo...olha só o que encontrei...
- Não dá, não tenho mais idade pra isto.
- Ué, se sou eu que tenho dor no corpo e estou dançando! Faz bem, só um pouquinho, vem! lembra destas músicas? Mas já falava sozinha. Ele respondeu lá da sala que precisava ver as notícias que não vira mais cedo.
- Mas você fica o dia todo procurando o que consertar lá em baixo e não tem um tempinho pra dançar comigo? Reclamou da maçaneta do banheiro que estava quebrada há dias e de como ele criticava tudo que estivesse por fazer lá no condomínio. Ao que ele respondeu que ela só estava querendo ser chata. Ficou azeda. Teve vontade de sacudi-lo, mas não adiantaria. Ele era assim mesmo, pensou. A vida nos escapa, não temos mais prazeres comuns e ele não percebe.
Foi à cozinha, pegou seu copo de vinho, delicioso por sinal, e voltou para o quarto. E dançou sozinha mais algumas músicas. Sozinha não! Dançou com um sonho, uma lembrança, um desejo. E mais uma vez perguntou-se porque se achava assim uma mulher de tanta sorte!
 Por que Deus fizera mulheres precisando de homens para se sentirem completas e vice versa? Pensou que só quem já sentiu amor, só quem já amou de corpo e alma podia sentir tanta saudades assim deste sentimento, desta sensação de completude. Só quem já pode alguma vez e por amor, sentir-se tão corajosa e forte diante de qualquer dificuldade, quem já foi apaixonada pela vida, podia sentir tão grande desejo de o experimentar novamente. Porque para ela, a vida sem as pequenas alegrias do amor, não valia nada. Amar era o que a fizera sempre sentir-se livre. Quando você ama, nada a aprisiona, pensou.
E assim, para continuar a conviver bem com aquele que se tornara tão apegado às suas próprias vaidades, que se tornara grosseiro e intolerante com todos, aquele que desde há muito tempo parecia ir buscar longe o que lhe valeria o esforço da conquista e no futuro a motivação de sua atenção, ela fez como ele. Tornou-se igual a ele. Traiu o presente. Traiu o marido e foi buscar longe, no pensamento, algo que valia a pena. Lembrou de alguém que, apesar da dor de ter sofrido grande perda, maior do que as que seu marido sofrera na infância, tinha sabido ser gentil com ela e, num dado momento, até a incentivara. Como esquecer? Alguém que, apesar de sua perda não estivera centrado só em si mesmo, por certo serviria de inspiração para outros. Contudo, ao terminar a dança e o vinho  lembrou-se : o sonho servia para a inspirar ou apenas para a consolar por momentos. A vida se faz de momentos vividos mais do que de sonhos. Pegou um livro para ler e acalmar os ânimos. Amanhã, pela manhã, seria mais uma vez, um bom dia para recomeçar.... recomeçar a viver sem se deixar amargar. Buscar o sentimento, o momento de sentir amor, para sentir-se liberta, para sentir o quanto a vida vale a pena... apesar dos sonhos frustrados.
foto e texto: vera alvarenga

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O verde muda rápido de tom...ou de cor...

 
O verde muda muito rápido de cor... Ante ontem, quando vim ao terraço olhei para cima. Entre onde eu estava e o céu, havia apenas o prédio mais na lateral e centenas de brotos, pequeninos botões verde claro, na árvore em frente. Ontem saí e nem cheguei ao terraço. Agora no final da tarde sentei aqui e, ao olhar para a árvore...
- Onde estão os botões eu não sei. Sumiram. O verde claro dos botões, claríssimo como costuma ser o verde da esperança, foi substituído por muitas folhas pequeninas de tom mais escuro. Entre eu e parte do céu agora, há uma renda esverdeada que, inclusive, me impede de ver as janelas de quatro andares do prédio do qual falei. Não é pouco! A mudança se deu,mas eu esperava por isto. São fases e nós, eu e a árvore, vamos nos relacionando assim, num estreito e significativo convívio. E não estou reclamando, porque bem gosto de me sentir como num ninho em meio às árvores. E ela sabe que tem todo meu amor e admiração, esteja nua, apenas com botões, coberta de folhas ou florida. Só constatei que as coisas vivas modificam nossa visão do mundo e até do céu, num tempo em que pertence a elas, e não a nossa vontade ou acomodamento. Isto me fez lembrar de outra coisa.
   Ainda ontem, quando eu via em meu blog uma luzinha verde acesa lá, numa determinada cidade, invariavelmente ficava feliz. Ela pertencia a alguém e tinha significado. Era uma felicidade pequenina, mas do tipo daquela que alegra a gente e vem lá de dentro, do coração, como se a gente estivesse mais perto do céu. E eu me acostumei com ela e ela me fortalecia. O tempo passou. Já não vejo mais aquela luzinha verde claro brilhando, e quando a vejo já não posso me alegrar porque não sei mais a quem pertence, há algum tempo que ela se desvinculou da presença à qual pertencia todo o significado. Na natureza, as estações tem suas características e sei o que posso esperar da árvore que me serve de ninho aqui, frente ao meu terraço, porque eu a conheço um pouco. Temos uma convivência franca e amiga já de mais de três anos!
   Seres humanos não se deixam conhecer assim. Não são nada previsíveis. Sua "natureza" nos confunde.
   Acabo de me lembrar que, uma luz verde hoje talvez só me traga a certeza de que é hora de atravessar a rua correndo porque logo ela estará vermelha e me sinalizando que, se eu não estiver à salvo, um carro mais aflito pode me passar por cima!  
foto e texto:vera alvarenga

sábado, 8 de agosto de 2015

Paris e a Catedral de Notre Dame

 Já estou de volta há tanto tempo e me pergunto se foi verdade mesmo que estive lá...


Quando eu poderia imaginar que um dia o sonho seria real?

Sair daqui, do meu ninho, ter coragem para voar para tão longe por tantas horas, andar num país sem falar quase nada o idioma de lá, a não ser para cumprimentar, e explicar que eu era brasileira e pedia desculpas por não falar francês....


Fazer o roteiro, que teve de ser adaptado às novas circunstâncias ou à chuvinha, ficar sem internet no celular e portanto sem poder seguir pelo Google Maps ou pelo roteiro do Metrô de lá...
Aliás, ter coragem para ir para todo canto de Metrô! Isto seria difícil, mas eu tinha um mapa que plastifiquei..um mapa que recebi antes de viajar, de uma amiga gentil de meu filho e nora e, que se tornou nossa amiga ( ah! ela foi uma das boas coisas de Paris!) - a Christine!


E, como o marido tinha avisado que não iria se arriscar a sair à noite, e ficar andando de Metrô por lá sem nada conhecer, e que não veríamos as luzes de Paris nem o Sena ao anoitecer, por conta disto.... e eu entendo perfeitamente o receio dele, mas....
já que íamos, então...quem tá na chuva é pra se molhar!


 Se eu não podia ficar longe das coisas que queria ver porque ia ficar mais dificil, então, aluguei um pequenino apartamento de um jornalista, bem no centro, bem no meio do Sena.... ali mesmo, na Ille de Saint Louis !!

E então, estávamos a poucos quarteirões da Ille de la Cité e da Catedral Notre Dame, e de 2 estações de Metro, e de mais uma de trem... Foi assim que facilitei as coisas, porque é claro, não foi muito fácil.

 Sim, não foi fácil! Perdemos muitas horas e caminhadas e ficamos cansados de ir atrás das indicações na tentativa de comprar o tal chip para meu celular ( o que não deu certo).

Até que desisti e resolvi aproveitar o que podia, com o mapa do Metrô nas mãos, a coragem e a disposição para caminhar, descobrir. O roteiro que fiz antes foi de extrema e importantíssima ajuda!
Valeu muito à pena.


 Algumas vezes fomos a lugares que ao chegar, não podíamos entrar. Ou porque estava no horário limite para entrar, como no Museu DÓrsay, ou porque estava fechado para visitação devido a uma reunião importante no Palais de Justiça, como na Sainte Chapelle ( onde tivemos de voltar à tarde e ainda depois, no outro dia, quando só então foi possível entrar)....

 Contudo, na Notre Dame fomos, como eu pretendia, assistir uma missa num horário em que havia o Canto Gregoriano...

Foi mesmo bonito de se ver e de ouvir!

Notre Dame, como quase tudo em Paris, é grandiosa... me fez pensar mais uma vez, na capacidade do ser humano construir e embelezar os espaços. É impossível deixar de pensar em quantas pessoas estiveram ali, com suas mãos e suor trabalhando, esculpindo, edificando...

 Os templos, igrejas, catedrais, tem história...
se suas paredes pudessem nos contar, ouviríamos lamentações, orações, murmúrios, testemunhos de fé, de vaidade, de amor, de sonhos de paz...

Que Deus abençõe sempre aqueles que constroem com pureza de intenções, aqueles que sonham um sonho de paz, aqueles que trabalham dando o melhor de si porque para eles, este é o sentido da vida... que Deus esteja em todos os templos que são construídos com boa vontade, no coração dos homens (religiosos ou não).
  A Catedral de Notre Dame é linda! E tem um jardim agradável, onde fomos algumas vezes...








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