domingo, 14 de março de 2010

- " Está surgindo uma nova Humanidade "...

   Encontrei um texto que recebi por email em 2006, no dia Internacional da Mulher -  Nele, a autora comentava que a sociedade cobra de nós, mulheres, entre outras coisas, ter mil e uma utilidades, sermos lindas, "saradas" pois, alguns quilos a mais nos faria cair em desgraça, mesmo com os homens barrigudos!
   Quando eu era mais jovem, ouvia que mulher tinha que ser linda, e eu era bonita(hoje sei disto),mas nem sabia, pois na época a mídia impunha cada dia mais exigências. Diante dos padrões indicados, eu deixava a desejar.  Hoje, já nenhum homem vira a cabeça quando passo, pois uma mulher de quase sessenta  não chama a atenção, a menos que algo de extravagante aconteça com ela! Não se espera mais que eu seja sequer bonita, a menos que eu pretendesse namorar com alguém mais novo que eu! Hoje, a imprensa e os vídeos que se espalham pela net, já mostram as artistas em sua casa ou na rua, "ao natural" e se reconhece que a beleza que existe para agradar ao homem, a que depende da maquiagem é algo que acaba rapidamente,com o tempo. Então, a beleza no sentido de conjunto harmonioso, que soma intenção, olhar e elegância dos gestos está sendo enaltecida. Esta, não seria medida pelos quilos a mais ou aparecimento das rugas. Tomara que as mulheres estejam se libertando desta "prisão", ditada pela moda, que lhe tirava o prazer de viver cada fase da vida com a alegria de sentir-se suficientemente bela. Hoje ela caminha para ser feliz por ser o que é.
  O texto também contava como era esperado que a mulher fosse uma dona de casa perfeita, não importando se tinha que trabalhar fora ou de madrugada para atender aos filhos pequenos. Foi terrível  e desgastante crer que era uma obrigação fazer o melhor possível, o tempo todo e em todos os setores. Só aos 45 anos, dividi com meu marido algumas poucas tarefas da casa- foi uma mudança e tanto! Ele se rendeu a isto, talvez porque eu tenha lhe dado esta chance, afinal, com esta idade eu já comecei a aprender que não precisava ser 3 em 1. Hoje, as mulheres já fazem isto quando mais jovens, dividindo com os maridos até algumas tarefas relacionadas ao atendimento do bebê ou dos filhos, mesmo maiores. Tomara que não exagerem, para que os bebês não fiquem sem sua presença emocional, mas que também não tenham que retroceder, pois tanto o pai quanto a mãe necessitam  mostrar sua ternura e recebe-la de volta, na troca que ocorre com a vivência mais íntima com seus filhos. E também, porque é uma forma de ser valorizada a responsabilidade e trabalho imenso que é ser Mãe em tempo integral, dedicação exclusiva e sem reconhecimento e remuneração ! 
  Quase no final, naquele texto ainda podia-se ler a crítica ao absurdo de que nós mulheres teríamos que ser a "trepada do ano, caso contrário caímos em desgraça na boca da galera masculina" e terminava comentando que somos artistas e como o palhaço, por nossa sensibilidade, sabemos fazer quem está triste, sorrir!
  Não, não precisamos vestir a "carapuça" ou acreditar que estas "exigências" tenham todo este peso real sobre nós. Precisamos nos libertar destes exageros que nos prendem a uma situação que queremos mudar.      A luta da mulher contra os preconceitos é muito mais árdua no início, e então, como um pêndulo tem que ir para o lado totalmente oposto quando nossas atitudes perigam por ser preconceituosas também. A luta continua, e precisamos cuidar para não esquecer que a intenção é nos unirmos ao homem, num ponto mais próximo ao meio do caminho. . Eu, ainda que uma mulher da geração anterior, não costumava pensar que tinha que ser a "trepada do ano", porque sempre fiz sexo apenas com quem eu podia respeitar e, naquele momento, também queria me divertir, aprender, fazer algo gostoso! Por mais que quisesse agradá-lo, não fazia sexo só por ele. Acho que depende de nós, pelo menos se não estamos sendo estupradas, escolher neste momento se queremos ser objeto sexual ou parceira, com responsabilidade igual de dar e buscar seu próprio prazer, a fim de que o homem não sinta que deve algo a nós, como não queremos dever a ele. Esta atitude de igualdade na cena do ato sexual pode ser até mais forte e viva do que nas circunstâncias da rotina do dia a dia. Ainda estou aprendendo como lidar com as emoções e outros tipos de dependência. Todas estamos. Umas com mais facilidade se impõem e auto afirmam de um modo mais rápido e obstinado, outras com seu ritmo próprio, vão desbastando as arestas criadas pelas sociedades que tanto e por tantos anos descriminaram a mulher e a humilhou. Por isto, não desisto de lutar pelo respeito e a fim de manter no relacionamento o prazer verdadeiro por estarmos juntos, mas reconheço que algumas vezes é preciso baixar armas e dar um tempo para que o homem, moldado pelos conceitos arcaicos daquelas sociedades, assimile a mulher que ele tem a seu lado, hoje.
   Pelas lutas e mudanças conquistadas por nós da geração mais velha, vínhamos já caminhando para que a mulher mais jovem e atual possa continuar a transformar o mundo em um lugar mais digno e justo para se viver.   
  Nós mulheres, temos uma grande sensibilidade. Entretanto, há alguns anos atrás, vi o homem que amei por 37 anos e espero continuar a amar pelo tempo que ficarmos juntos, com lágrimas nos olhos quando falou de seus netinhos. Ele,um "inveterado machão", emocionou-se ao falar de seu amor por seus 3 filhos homens e quando afirmou que a única coisa que mudaria em sua vida, se fosse vivê-la novamente, seria ficar mais tempo em casa com sua família, quando todos nós ainda éramos mais jovens.
   Nossos filhos, homens jovens de hoje, tem mais oportunidade de assumir sua sensibilidade. Estamos conseguindo mudar a sociedade. Os homens estão mudando e para isto precisam de nós, de uma mãozinha companheira que lhes mostre o caminho, não para serem manipulados por nós. Então não podemos acreditar em cair na armadilha de "sermos a trepada do ano", sob ameaça, ou continuaremos andando mas desta vez, para trás. Precisamos insistir em caminhar juntos, mesmo apesar de nossas diferenças que afinal, nos valorizam como seres humanos que somos! 
   Desejo que nós,mulheres,tenhamos companheiros e amigos ao nosso lado (nunca deixarei de lutar por isto a meu modo e no ritmo que me é possível).
   Gostaria de poder transformar minha emoção, para que fosse como a Água, que vai penetrando em tudo, sensível, suave e mansa, mas decidida a molhar a Terra, para com ela formar um só corpo feminino, que se permita ser fertilizado pelas sementes do homem, trazidas pelo Vento. E que junto com a força masculina do Fogo do sol, ambos possamos criar um Espírito, ambiente própício para o nascer de uma nova HUMANIDADE, onde homens e mulheres estejam decididos a viver o Amor, acima de tudo, e a criar um mundo de mais Paz, Equilíbrio, Harmonia e Felicidade. 
   É nisto que acredito. Por isto sou capaz de lutar, brigar, calar, entristecer, ficar sózinha ou me render ao amado. Só por isto, minha fé se renova. E creio que o mundo não melhorará enquanto homem e mulher não se respeitarem e não se tornarem amantes, em sua intimidade.

autoria: Vera Alvarenga -                    março-2010
imagem: retirada do google-pode ter direitos reservados

quarta-feira, 10 de março de 2010

- " Sôbre a Sensibilidade..."

CARTA Á AMIGA MARIA MARÇAL E A TODAS QUE JÁ PENSARAM QUE A SENSIBILIDADE... ÀS VEZES, É CARGA DIFÍCIL DE CARREGAR
    Sabe, Maria, depois de ler seu post,decidi - vale a pena me expor mais um pouquinho, pra te dar a mão...já estou mesmo, quase nua. E também a todas aquelas que já pensaram que sensibilidade é uma carga difícil de carregar.
    Percebi, neste susto que levei outro dia, com meu coração batendo fora do ritmo, e por sentir anseios por viver “um amor mais bonito” , que muito tenho que aceitar sobre meus limites e sobre este mundo em que vivemos. Eu tenho uma historia de amor muito bonita! E o que a gente “tem” é algo que a gente vive, está dentro de nós.Se e como foi compartilhado pelo outro, é outra história.Nossa história de amor depende da capacidade de amar, de cada um.
   Pode ser que meus anseios não sejam por um relacionamento que possa existir aqui. Esta coisa de me encontrar, de tempos em tempos, sem energia, não é porque tive uma infância problemática, ou porque sou uma depressiva. Não. Acabo, isto sim, “ficando" deprimida, talvez por ter muita sensibilidade. Daí, pensei :
    - Nós,homens e mulheres,somos todos sensíveis. As mulheres , geralmente mais conscientes das emoções, soltam-se um pouco mais. Contudo, há pessoas, que são mais sensíveis que outras. Sou obrigada a reconhecer que sou uma delas, o que me proporciona ver o mundo e as pessoas de uma maneira um pouco diferente. Por exemplo, uma vez, não fui capaz de conseguir lembrar se meu marido estava usando bigode, ou não, quando alguém me pediu para descrevê-lo. Acredita nisto? Sou capaz de não me lembrar como era o vestido de alguém, na festa ou casamento do dia anterior. Sempre fui assim. Entretanto, sou capaz de sentir uma enorme empatia por ele, ou por outras pessoas, como se algo me ligasse a elas que não é da aparência objetiva, mas da emoção ou da alma! Graças a isto, talvez eu tenha sido poeta desde os 10 anos, tenha começado a compor músicas por esta idade também, e veja sempre em tudo o que é o concreto uma possibilidade de transformar-se em algo mais bonito.
    Eu não choro à toa não, nem me emociono facilmente, com qualquer tipo de coisa, como seria de se esperar. Sei ser forte e desprendida quando é necessário, mas quando algo me toca, sofro de uma empatia exagerada e desejo de compreender o ser humano. O que me faz sentir compaixão realmente, é quando vejo alguém ou um animal, sofrer emocionalmente. Um professor de astrologia, uma vez me disse que eu teria que aprender a deixar a pele engrossar e a não absorver para mim, o problema emocional de outros, pois é este que me sensibiliza mais. O corpo de uma criança morta repentinamente na guerra, me choca, mas talvez me sensibilize um pouco menos, do que se me dissessem que esta criança correu para apanhar um pacote jogado por um avião, porque lhe prometeram comida e doces, e ao se aproximar, este pacote estourasse e a ferisse somente na mão. Uma amiga contou que isto acontecia na guerra, que ela viu isto! Você pode me entender? A dor é algo ainda mais terrível, quando faz sofrer a alma. Destruir a alma de alguém, a fé, a bondade que tiver em si, a confiança no outro, é o pior crime.

Conto tudo isto para dizer-lhe que, quando a gente é assim, é capaz de doar-se para a mãe, que tem um câncer e não sabe, para um marido que, por causa de uma doença se encontra debilitado, para um amigo que sofre a dor da perda de alguém que amava, enfim, a gente faz isto, não porque se alimente do que é negativo, não porque espere gratidão, ou por ser masoquista. Ao contrário! A gente é assim, ou melhor, eu sou assim, porque não consigo conviver com o sofrimento emocional mantendo-me indiferente, ou sem tentar minimizá-lo - e geralmente nem sei como fazer isto, a não ser dar um abraço ou tentar ouvir. Acho que o faço também por mim mesma, não por ser boazinha. Eu apenas não suporto a dor do outro, quando a vejo, quero abraçar, porque desejaria um mundo melhor.
   Quanto mais pessoas felizes houvesse, melhor seria o mundo. Minha sensibilidade artística que me traz a criatividade para buscar o belo, também é a mesma que me traz empatia, ou me dá a consciência do que é belo na natureza e dentro de cada um de nós. Por esta mesma razão, ter a pele assim tão fina, acabo por sentir-me triste quando me deparo com o desperdício do que poderia ser bom, e não é por preguiça de comprometer-se com o ser e fazer feliz. Talvez a gente traga escondida na memória, um sonho ou uma lembrança enevoada de alguma outra vida ou situação em que tudo seja calmo e bom. Não sei...
    Sensibilidade para sentir o outro, idealismo, altruímo, arte como a realização do belo, empatia, sofrimento, “flor da pele”, gratidão, ilusão, tudo faz parte do mesmo saco, minha amiga. Se temos um, temos os outros.Na astrologia seria relacionado com Netuno, e tudo seria uma potencialidade só.  Somos feitas de muitas outras coisas também. E assim, acho que tenho mesmo que aprender a me perdoar por isto, por ser o que sou - sensível e sonhadora. Não é possível sermos compassivas e sensíveis, sem ser sonhadoras.  Perdoar a mim e aos outros porque nenhum de nós consegue ser emocionalmente perfeito. Temos que perdoar a nós mesmas, meninas, porque, de tempos em tempos, nos sentimos sufocadas nesta sensibilidade humana e desejamos sair por aí, buscando algo que nos alimente, nos recarregue.Seja uma palavra, um abraço, uma presença, Deus, uma flor, um raio de sol, um sorriso... E vamos com sede ao pote! Precisamos nos perdoar porque, de vez em quando, precisamos de colo. Mas pedir colo, é algo totalmente novo pra mim. É preciso coragem para pedir, para demonstrar necessidades, para ser auto afirmativa em busca do que se precisa... e isto tudo já é uma coisa de outro planeta, por assim dizer, estaria num outro saco...rs...

    Temos que nos perdoar, Maria, porque desejamos o que é belo no ser humano ( mas é porque nós o vemos dentro de cada ser).

    Talvez nunca encontremos o que nossa alma almeja em outro ser humano, ou pelo menos somente em um. Talvez alguém pense que somos apenas tolas românticas a choramingar pelos cantos, por realizar caprichos. Não se trata disto, uma vez que soubemos enfrentar os perigos com garra e fomos capazes de, docemente, estender a mão ao outro para voar conosco, sair da lama e ir em direção ao sol, aos girassóis, ou apenas até o jardim.
   Por isto, precisamos nos perdoar quando estamos tristes, e nos aceitar quando desejamos sair novamente, confiantes, e buscamos tanto a luz mágica do sol... é porque somos muito sensíveis à inexistência dele!
   Com um carinhoso beijo,
   Vera Alvarenga                  
( imagem retirada do google- pode ter direitos autorais)

segunda-feira, 8 de março de 2010

- " Respeitem a Natureza e Salvem as Mulheres !"


RECEBI POR EMAIL  ESTE TEXTO, DE   

UM HOMEM  INTELIGENTE ... FALANDO SÔBRE  MULHERES :
  Salvem as Mulheres !
  O desrespeito à natureza tem afetado a sobrevivência de vários seres  e entre os mais ameaçados está a fêmea da espécie humana.   Tenho apenas  um exemplar em casa, que mantenho com muito zelo e dedicação, mas na  verdade acredito que é ela quem me mantém. Portanto, por uma questão  de auto-sobrevivência, lanço a campanha 'Salvem as Mulheres!'  Tomem aqui os meus poucos conhecimentos em fisiologia da feminilidade  a fim de que preservemos os raros e preciosos exemplares que ainda  restam:  

 Habitat  Mulher não pode ser mantida em cativeiro. Se for engaiolada, fugirá ou morrerá por dentro (nossa, como é verdadeiro!). 
Não há corrente que as prenda e as que se submetem  à jaula perdem o seu DNA. Você jamais terá a posse de uma mulher, o que vai prendê-la a você é uma linha frágil que precisa ser reforçada diariamente. 
  Alimentação correta  Ninguém vive de vento. Mulher vive de carinho. Dê-lhe em abundância. É coisa de homem, sim, e se ela não receber de você vai pegar de outro ( sem comentários ...).
Beijos matinais e um 'eu te amo' no café da manhã as mantém viçosas e perfumadas durante todo o dia. Um abraço diário é como a água para as samambaias. Não a deixe desidratar. 
Pelo menos uma vez por mês é necessário, senão obrigatório, servir um prato especial( hum, huumm....) 

  Flores  Também fazem parte de seu cardápio - mulher que não recebe flores murcha rapidamente e adquire traços masculinos como rispidez e  brutalidade.

 Respeite a natureza  Você não suporta TPM? Case-se com um homem( kkkk...). Mulheres menstruam, choram por nada, gostam de falar do próprio dia, discutir a relação... Se quiser viver com uma mulher, prepare-se para isso.
 Não tolha a sua vaidade.É da mulher hidratar as mechas, pintar as unhas, passar batom, gastar  o dia inteiro no salão de beleza, colecionar brincos, comprar sapatos,  ficar horas escolhendo roupas no shopping. Só não incentive muito  estes últimos pontos ou você criará um monstro consumista.   

    Cérebro feminino não é um mito  Por insegurança, a maioria dos homens prefere não acreditar na  existência do cérebro feminino. Por isso, procuram aquelas que fingem  não possuí-lo (e algumas realmente o aposentaram! ).    Então, agüente  mais essa: mulher sem cérebro não é mulher, mas um mero objeto de  decoração. Se você se cansou de colecionar bibelôs, tente se  relacionar com uma mulher. Algumas vão lhe mostrar que têm mais massa  cinzenta do que você. Não fuja dessas, aprenda com elas e cresça. 
E  não se preocupe, ao contrário do que ocorre com os homens, a inteligência não funciona como repelente para as mulheres..  
  Não confunda as subespécies Mãe é a mulher que amamentou você e o ajudou a se transformar em adulto.  

  Não faça sombra sobre ela  Se você quiser ser um grande homem tenha uma mulher ao seu lado, nunca atrás. Assim, quando ela brilhar, você vai pegar um bronzeado. Porém, se ela estiver atrás, você vai levar um pé-na-bunda, tem gente que já sentiu isso na pele. Aceite: mulheres também têm luz própria e não  dependem de nós para brilhar.. O homem sábio alimenta os potenciais da  parceira e os utiliza para motivar os próprios. Ele sabe que,  preservando e cultivando a mulher, ele estará salvando a si mesmo.( e o planeta! Já pensaram se sua mulheres perdessem a ternura ?!)

Adorei, e vocês ?
 Abraço carinhoso, Vera. 
texto: recebido por email sem menção do autor
imagem: google-pode ter direitos autorais

quarta-feira, 3 de março de 2010

_ " Eu, mulher, e minha Fênix "...


   No dia seguinte, logo pela manhã, eu iria viajar, para outra cidade. Procurar uma nova casa para morar.
   Mas não iria sozinha, porque o companheiro de uma vida compreendeu que havia ali algo delicado, que poderia se quebrar em mil pedacinhos. Havia ainda um elo, delicadamente ainda ligado a algo que, até então fora precioso demais, para se deixar descuidadamente em qualquer lugar, de qualquer maneira... E este homem foi generoso. Combinou me acompanhar, como se quisesse me entregar ilesa ao meu destino, até por saber que estava quebrada por dentro.
   Cinco horas de viagem em direção a uma mudança, uma nova vida, um refazer o que antes fora um ninho e agora seria apenas uma casa, reconstruir auto-estima, construir novos hábitos, transformar-se, catar os cacos e esculpir uma nova pessoa. Era ela, a Fenix novamente em minha vida!
Ela não me perguntou se eu estava preparada, se tinha forças, se tinha certeza, mas se fez presente, chegou decidida porque não sabe viver no anonimato ou na mentira.  E ela veio com toda a força de um tornado, um redemoinho, virando tudo, num segundo, de pernas para o ar.
    Era a minha "Fenix" e desta vez, não em forma de escultura premiada... aliás, não havia premiados, apenas um vazio no estômago, uma tristeza que de tão grande era incerta e parecia quase inexistente... como quando estamos diante da morte!        Alguém sabe como é? Sem mais raiva, sem vontade de brigar por algo, sem desejo de segurar, sem mais forças , sem reação, sem mais nada a não ser o vazio, a sensação de cansaço do quando "tudo já foi feito". Agora restava, nem mesmo o medo, apenas a impotência, a entrega ao desconhecido, o deixar-se levar...
  Caminhei pela casa, que fora um lar, e olhei ao redor. Os sentimentos já estavam amortecidos, após duas semanas no centro do furacão! Foi no carnaval e agora, as máscaras estavam caídas no chão. Os olhos percorriam os grandes espaços, os móveis, os mosaicos, os quadros, as esculturas, as coisas... tantas coisas de uma casa tão grande. "Ah, aquela mesa, preciso levar, nós a fizemos, e meu mosaico é tão lindo! nunca mais faria outro igual! Mas são duas! E os espelhos? As esculturas, algumas premiadas". Nada tinha importância. - "São apenas coisas... lindas, mas apenas coisas".
     Então percebi que estava nua! sim, era assim que me sentia e podia sair dali, desta forma mesmo, sem levar nada. Como se fosse possível! Não! Acorda menina, acorda mulher, acorda minha senhora ! Era preciso levar o necessário.
   Agora sim. Começava a fazer sentido! O necessário para que? E veio a resposta! O necessário para rodear-se do que é bonito, do que pode fazer qualquer lugar, mesmo uma caixa de fósforos, se transformar num ninho, doce, agradável, com boas energias. Era disto que eu precisava, um pouco de mim, um pouco daquelas coisas que eu fizera para que todos se sentissem bem na casa que já fora de tantos.  E por que não levar algo assim comigo?
   Como costume, então.. eu ainda estava viva!! Era o que sempre foi mais forte em mim... a vontade de transformar o feio, o sem nexo, sem sentido, em algo bom, bonito, atraente. Era mais uma vez o escolher - o que fazer e como reagir ao que a vida apresenta. Pensei que, desta feita, iria afundar de vez numa areia movediça, branquinha, sem nada, sem história, sem futuro, sem projetos como um papel em branco, sem ninguém a me dar a mão... era o que mais me assustava - eu não saia dali para seguir para algo melhor, nem para recomeçar uma nova vida com alguém disposto ao compromisso partilhado, como eu tinha timidamente sonhado, nem para receber das mãos do próprio Deus o presente de uma nova oportunidade...eu ia sozinha me deixando afundar, sem reação... Sem reação?
  - Não, claro que não! Eu tinha comigo a certeza de que fora movida por algo belo, pelo desejo de estar inteira ao lado de um homem que é para ser um companheiro, nunca um objeto ao qual apenas nos acostumamos. Fui movida pela lealdade a princípios, por amor ao próprio amor. Minha alma não resistiu a vê-lo morrer, assim, afundando na areia até desaparecer de vez. Sim, não era eu, mas o amor, a capacidade de amar, que agonizavam em mim. Eu não tinha conseguido assistir a isto, sem que reagisse de algum modo, ao chamado da vida que ainda pulsa.
   Então, não poderia haver culpa, apenas o vazio, mas jamais a culpa. Eu ainda era honesta e fiel a mais importante das minhas convicções : "Sem amor, nada vale a pena!"
  Eu não sabia onde iria encontrar amor novamente e, pensava mesmo, com enorme tristeza, que jamais o encontraria... e eu estava indo na direção da única coisa que me fazia tremer na vida - a solidão! Também a morte me assusta! Mas era preferível isto, do que viver sem a luz do sol, vendo que ele, o amor, morria lentamente, sem reagir. Talvez eu precisasse mudar, aprender a amar de maneiras diferentes agora, amando muitas pessoas e coisas, ao invés de um só... Nem eu, nem ele soubemos lidar com um amor tão altruísta mas intenso, logo tornou-se algo difícil de conter, porque fez suas cobranças.
  E o telefone tocou. Era o filho mais velho, que inspirado, falou das coisas que eu acabara de perceber... falou de minha capacidade para amar...e da necessidade de mudança em mim! Eu precisava mudar, ou dificilmente um homem me respeitaria, até pela natureza das coisas da vida e da sociedade! Meu filho dizia reconhecer que não era o ideal, mas era a realidade. Eu precisava me tornar mais forte, mais segura individualmente, menos permissiva, mais auto afirmativa. Como explicar-lhe que a isto se chega após treino, experimentação, liberdade para agir, errar e acertar? Mesmo assim, recebi o presente do amor dele por mim. E compreendi - a Fenix era minha. Eu a esculpi e ela era minha! Não importava quem estivesse ao meu lado, eu não poderia mais continuar a ser dependente do outro para estar viva! Meu filho me queria mais feliz, ou menos triste. Ele desejava de coração que eu aprendesse a também ir buscar o que me fazia feliz. E será que eu saberia naquele instante e depois de tanto tempo responder o que me fazia feliz que não dependesse de um homem a quem eu tivesse escolhido amar? Eu precisava pegar o destino em minhas mãos, era o que dissera a tantas pessoas, e esquecera de fazer! tudo estava calmo e decidido. E eu estava sentindo um estranho alívio depois de tanta luta para manter algo em equilíbrio, eu tinha desistido, relaxado a tensão, deixado cair. Uma moleza estranha tomava o corpo todo. O próximo passo seria dali a alguns dias, finalmente descansar, recobrar forças.
  Como por milagre, ou por Deus, após o telefonema meu companheiro acordou de sua aparente apatia e tudo mudou, novamente, inesperadamente.
   Quando, após alguns minutos meu outro filho chegou para juntos conversarmos, nós dois, os companheiros de trinta e sete anos de vida, já havíamos decidido tudo e no dia seguinte, fomos em direção da nova cidade. Contudo a casa, ainda será um ninho...para nós dois. Mais uma tentativa... e vai ser suficientemente grande para levar muitas coisas... mas não é isto que importa, pra mim, é claro, nunca foi, embora agora eu prefira viver com conforto e não acredite mais, apenas  num amor em uma cabana.
   Demorei alguns dias para me habituar com a idéia, como se algo nela não se encaixasse, com certeza, pelo efeito da tensão pela qual passei, anteriormente. O que sei é que não preciso mais me responsabilizar sozinha pelo resultado desta tentativa! Será algo compartilhado, ou não resistirá, nem valerá a pena. E, acima de tudo, volto a lutar por aquilo que acredito - viver a verdade da minha capacidade de amar.
   Contudo, a mudança maior está por minha conta, pois tenho consciência, ela não me deixa esquecer, que a Fenix é minha, sou eu que tenho que mudar, pois fui eu que a esculpi anos atrás, sou eu que a carrego em meus braços...
   Não, acho que estou enganada... ele também terá de mudar ou tudo terá sido em vão novamente...Cada um de nós, tem sua própria Fenix a esculpir, não é mesmo ? Num relacionamento a dois, não pode existir a ilusão da individualidade totalmente preservada de um a prejuizo de outro. Ceder por amor em benefício de algo de mais valor é a mudança mútua que se espera, como qualquer acordo de sucesso em qualquer sociedade que se queira fazer respeitar e prosperar.

autora: Vera Alvarenga
imagem: fotos de minha escultura Phenix - premiada
   

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