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terça-feira, 16 de julho de 2013

A visão de um artista...

 
  Eu também sonhei que tive uma visão. Ela me olhou de frente, olhos nos olhos, e me deu a mão.
Então me tomou em seus braços e me senti pequena, confortável e segura. Depois transformou-se numa ave com asas quebradas. Em seguida chorou, e fui eu que a abracei. E ela se tornou pequena, confortável e segura. Cuidamos uma da outra até que ela cresceu, e cresceu, frente a meu olhar. E eu a vi transformar-se numa ave formosa que voou, lá para o horizonte onde um arco-íris meio apagado tentava brilhar. Quando ela pousou nele, suas cores ficaram fortes e reais.
  Ainda tenho a visão desta ave quando me sinto triste ou ameaçada no que sou. É apenas uma visão, mas posso vê-la quando preciso me sentir bela e viva como as cores do arco-íris. E lembro de abraçá-la quando temo que tenha se machucado. Lembro-me dela também nos momentos em que estou muito feliz.
  Voltei a rir de mim mesma por me encontrar assim, num episódio melodramático, em que tristeza e beleza coexistem, como antes na literatura romântica.
    Embora sinta uma tristeza imensa por saber que não passa de uma visão, e me pergunte por que eu tive aquele sonho, reconheço que o mundo ficou melhor depois disto.
   Não, com certeza para alguns, não é proibido sonhar...
Texto e foto: Vera Alvarenga
Inspiração... a vida e Manoel de Barros.

"Aprendi que o artista não vê apenas. Ele tem visões. A visão vem acompanhada de loucuras, de coisinhas à toa, de fantasias, de peraltagens. Eu vejo pouco. Uso mais ter visões. Nas visões vêm as imagens, todas as transfigurações. O poeta humaniza as coisas, o tempo, o vento. As coisas, como estão no mundo, de tanto vê-las nos dão tédio. Temos que arrumar novos comportamentos para as coisas. E a visão nos socorre desse mesmal."
 - Manoel de Barros




segunda-feira, 1 de abril de 2013

O milagre de cada dia...

 
   Às vezes, do nada, ela se lembrava de um momento que parecia ter sido um sonho. Desta vez, lembrou-se daquele pássaro amarelo que um dia, chegou tão próximo a si, que quase pode tocá-lo. E ele parecia ter alma. Olhou tão fixamente dentro dos olhos dela que, por este olhar, ele a conheceu, e também ao seu segredo. Naquele momento, eles se conheceram e pertenceram um ao outro, eram da mesma natureza.
  Naquele dia, ela caminhava sobre uma pequena ponte e pisava como se fosse em ovos no ambiente que pensava pertencer a ele.  Entre as árvores seguia atenta e cuidadosa como se não quisesse, com gestos inesperados, invadir seu espaço, assustá-lo. Logo, porém, se deu conta. Sentia-se tão bem que sabia estar no lugar ao qual pertencia sua própria natureza livre e sensível. Adorava estar em lugares onde podia se deslumbrar, e ser a parte mais simples do que era. Amava aqueles recantos de sombra onde os tons de verde misturavam-se com os de terra e a água refletia o azul do céu, virava espelho e duplicava as imagens, onde podia libertar sua calma interior que exalava de seus poros e harmonizava-se com o ambiente que a cercava sem contudo, a limitar. Ao contrário, nestes momentos sua pele parecia dissolver-se e ela sentia que fazia parte de algo maior. Ali podia ser como gostava de ser. Podia entregar-se ao milagre que ocorre uma vez ou outra, na vida de cada um. Foi quando pensou que aquilo era bonito demais para pertencer somente a ela. Estar ali sozinha, teria sentido?  Desde há muito tempo ela era assim. Por vezes, se desejava que alguém mais estivesse com ela, não era porque conscientemente temesse a solidão, mas porque esperava que alguém mais pudesse compartilhar com ela daquele bem estar. Era quase como deitar-se ao lado de alguém logo após desfazer-se em prazer no ato de  amor. E então, ao sentir que sua pele se fechava novamente em torno de sua individualidade, poder olhar nos olhos do outro e ter a certeza que ambos tinham estado no mesmo lugar. Embora o prazer fosse, de fato, algo individual, para ela, partilhar era mais que dividir, era ampliar, perpetuar, tornar possível o milagre da multiplicação.
   Tinha a exata noção de que era uma pessoa de sorte. Sabia das guerras, das perdas e das mortes. E da solidão dolorosa para a qual cada uma destas coisas nos remete. Todo ser humano deveria poder experimentar o paraíso, descobri-lo ao alcance das mãos. E se conseguisse, mesmo que por alguns segundos, seria bom compartilhar em cumplicidade. Por isto pensou nele. Ela queria que ele estivesse ali também e pudesse respirar aquela atmosfera...
   Uma outra vez, numa viagem a um lugar maravilhoso de retiro espiritual, teve uma experiência deste tipo.  E foi tão intensa que ela voltou antes do tempo para o lado do homem que amava. Não pode aguentar estar num lugar tão fantástico sozinha. Simplesmente não  fazia sentido! Não se importava com explicações psicológicas, apenas queria contar a ele o que viu. Contudo, ele era de outra natureza, pensou que ela tinha voltado com a intenção de ver se ele a estava traindo! Naquele tempo, muita coisa, para ela, começava a não fazer sentido! E ela tinha esta sede de compartilhar.
 
  Foi quando aquele pássaro pousou a poucos passos de distância e o encontro se deu. Se ela entrou ali pisando em ovos, saiu caminhando nas nuvens, sonhando que um dia poderia compartilhar estes momentos fugidios nos quais o tempo se dissolve junto com os limite,s e a gente pode experimentar algo mais intenso, com asas de liberdade.
   Sim, ela sabia que era uma mulher de sorte, tinha de ser grata por ter tido, de um modo ou outro, oportunidades até aquele momento...

Foto e texto: Vera Alvarenga.
    

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Reflexos.

Por um breve instante ela teve uma visão do todo. E era belo o que viu. Viu o que eles eram - um só, naquela imagem ! Mesmo apesar das contradições, formavam um ser único em suas semelhanças e nelas se tocavam. Ele, estava em cima, concreto, com peso e embora cansado, vivo. Ela, em baixo, e apesar disto, mais etérea, leve, embora também cansada, viva. Ele, mais denso e firme. Ela, transparente a ponto de mostrar que sua sensibilidade podia faze-la tremer. Nos dois, a mesma determinação. Na brandura da alma, a mesma canção. No coração o mesmo desejo. Quando ela olhava para ele, via o céu, portanto, ele era um ser alado, e nele, ela reconhecia o que era divino. Quando ele olhava para ela... o que veria? Talvez mergulhasse nas profundezas da alma, em busca também do que poderia ser divino. Será mesmo que ele a via?

Ou iludia-se com a imagem e pensava tratar-se de si mesmo ?
Alguns disseram a ela que se tratava de um tipo de ilusão,como ocorre na paixão, apenas um reflexo. Ela não se importou. Ela sabia o que era para saber.
Mas um dia, tempo e natureza interferiram. E romperam o que em promessa, era uma doce visão que poderia ser talvez eternizada pelo pintor, pelos poetas ou por uma contadora de histórias. Separaram-se os que antes se tocavam e ao fazerem, pareciam um só. Um dia, a ventania trouxe folhas, galhos e o barro do barranco, e estas coisas turvaram a água, e o vento, e a chuva fina continuaram por dias fazendo ondas no lago. E não parou mais de chover. Então ela viu que não eram um. E ele viu que não era aquela imagem. O que era inteiro aos olhos dela, se dividiu. Os que olhassem naquela direção, jamais saberiam da imagem que ela viu, embora ela a guardasse em sua memória e no coração. Nenhuma fotógrafa jamais poderia mostrar ao mundo o quanto eram belos, juntos. Ao olhar para o céu, ela sempre se lembraria de tê-lo visto lá, portanto lembraria de suas asas. Como era etérea em seu pensamento, e livre, e leve, enquanto quisesse, levaria consigo a beleza daquela imagem e o seu simbolismo.
E ele, do que se lembraria ele?
Texto e foto do Cisne: Vera Alvarenga
Foto Castelo del Angelo- Itália retirada de um email recebido sem nomear o fotógrafo.


    

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