domingo, 27 de outubro de 2013

Amor é síntese? ...

Um amigo postou no Face...
  
  Você não pode gostar de uma parte do que sou, descansar nela e ficar caçoando de tudo que esta parte de mim me faz sentir...abraça-me..."não me corte em fatias"..."envolva-me toda em seus braços" . Deixa-me ser inteira!    Que lindo isto! 
   Este é o único tipo de amor pra vida toda, que não machuca apesar dos humanos erros, porque te permite ser inteira sem abusar de ti, confiando em que você está atenta para o que pode mudar e quando não deve fazê-lo... porque é desta mesma forma que age, colocando gesto e verdade de intenção no mesmo ato de amar.

Lembrei-me daquela história... daquele que postou no Face lindas frases onde fala de amor, de seu amor por ela e pela família... e, quando ela, depois de ler, inspirada dirigi-se à cozinha decidida a fazer um almoço especialmente saboroso e lhe diz:

- Amor, está faltando ainda instalar o aparelho de vídeo. Você precisa fazê-lo. Eu bem queria ouvir aquelas músicas enquanto faço um almocinho....
- Não vou ligar! Pois se você ligar este vídeo não poderei mais assistir minha TV! Só se for na cozinha!
- Hei, você não está na sala faz um tempão! Está aí escrevendo coisas no Face... 
- E daí, mas quando eu quiser assistir TV, não vou poder?
- Céus! eu assisto TV tão raramente! Mas você sabe que eu gosto. Tantos casais tem vídeo é só dividir, sabe o que é isso? Di..vi..dir ...Dividir o tempo ou assistir junto algum filme. Deixa de ser tão ... tão ...@#%¨&)(&(&*@!
   E pronto! Lá se vão pelos ares todas as "boas intenções"...hehehe...a menos que ela, depois de engolir em seco e fazer repreensões, diga pra si mesma:
- Arre! e acabe por sacudir os ombros, encha um copo de vinho, coloque a música no aparelho de som portátil e lembre de como vai ser bom ter um almoço delicioso, num ambiente de paz... e capricha... e capricha porque este prazer de comer um prato especial e saboroso ninguém vai tirar dela! Huummm..a fome até aumentou! Já que naquele dia é ela que vai cozinhar, que seja assim, com prazer!  E põe uma mesa bonita e também serve-lhe o vinho... e saboreia o manjar que ele também elogia. 
   Ele elogia...Afinal, agora ela não foi tirar sua atenção de palavras bonitas para cobrar dele alguma atitude diante de algo que é preciso ser feito, de fato. Talvez ele não suporte ver que a realidade o acorda de seus devaneios. E ela teima em estar em seus devaneios tanto quanto na realidade! Por que ela simplesmente não volta a ser como era antes? Ele já lhe perguntou, mas ela não liga. Antes, ele se aproximava dela apenas quando queria ser tocado. Era tão mais fácil! E quando ela  interrompia seu futebol ou programa predileto de notícias ele lhe dizia simplesmente - fica quietinha, e ela ficava ou saía de perto. Agora não. Ela mudou. Antes era quando, ao chegar finalmente em casa, era tratado como aquele a quem é dada a prerrogativa de tudo decidir e escolher, e era tratado como se fora o mais importante de tudo! Ele pensa: - Meu amor por ela é maior, eu estou com ela apesar dela ter mudado tanto! Eu, sempre fui assim e continuo o mesmo. Será apenas porque agora estão todo o tempo juntos? Será que o amor não pode resistir ao convívio mais estreito e constante?
   Talvez o problema seja apenas em se saber di...vi...dir... Em se entender esta equação na qual cada um teria de ter direito ao respeito pelas suas "zonas de conforto" ou aquilo de que precisa para sustentar sua natureza como alguém íntegro, e não sentir-se faminto de suas necessidades. O amor que vê o outro e o abraça, não o subjuga a sua própria e constante incoerência e instabilidade, não mina suas energias e incentiva o outro a desenvolver também suas melhores qualidades.  O amor, como se fala idealmente, não congela os amantes, ao contrário, eles livremente vão seguindo no movimento natural de ir se adaptando, modificando, mesmo continuando a sentir-se inteiros. Porque amor não engessa...amacia! O amor fortalece e em sua presença não se ouviria dizer: "Quem me roubou de mim?"   
   
Como é difícil para os seres humanos conviver com suas diferenças de temperamento sem, em alguns casos, se sentirem agredidos, quando o ideal seria exercitar o respeito, a oportunidade de se completarem um ao outro para o mesmo viver com prazer. E principalmente colocar em evidência o gesto que de fato valida o que se escreve, seja no Face, nos rascunhos ou nos livros de poesias!
   Ser coerente em gestos e sentimentos requer coragem, compromisso e disposição para uma auto disciplina a fim de não desistir de ir tentando alcançar valores maiores do que o afago apenas em sua própria vaidade e egocentrismo.
   Ser humano é não ser perfeito, mas sonhar com alguma perfeição como algo que significa apenas e de fato - o tentar viver o amor - com real sinceridade... simplesmente isto.

Imagem copiada do Facebook

Texto: Vera Alvarenga
   

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Humano desejo...

Somos feitas de tantas coisas... até daquelas que não nos é ainda permitido comentar...até daquelas coisas que não é prudente confessar... até do que gostaríamos de esconder. Somos mulheres.
Às vezes me toma um sentimento que mistura uma saudade do que conheci com o desejo de te ter ao meu lado, e num abraço amar-te e ser amada como se não houvesse amanhã, mas pudéssemos acreditar que seria para sempre.
   Então me conformo. Ainda bem que não estamos juntos neste exato momento! porque não suportaria que me falasses de possíveis  ou impossíveis realidades, nem que me olhasses como se eu não fora o mesmo pra ti... e então, ia querer sentir tua pele e cada pedaço dela, e amar-te e amar-te, como antes eu sabia amar... e talvez isto te sufocasse, como me sufoca este desejo que às vezes me visita.
E eu bem que me pergunto - Por que?

   Sou água e sentimento. Meu princípio é o da vida, e me faz lembrar como tenho sorte e o quanto da vida recebi... e meu impulso... apenas deixa à mostra a minha humanidade e o quanto sou igual a qualquer um...

foto e texto: Vera Alvarenga

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Ponderações de uma tartaruga...


 -Nunca mais venho aqui!
- Pronto, lá vem a mais emocional de nós...
- Por que não poderemos mais vir?
- Porque não consigo apenas vir, e sair como se tudo estivesse bem, sem nada deixar, mesmo nada tendo encontrado...
- E o que você queria deixar?
- Um abraço, carinho...
- E o que queria encontrar?
- O mesmo!
- E nada encontra?
- Nada...nem a presença... bem, às vezes sim, às vezes não...Bem podia ser só o abraço, então...
- Mas tens uma presença, aquela que sempre esteve lá ( quando queria estar - não ouso te dizer que não quero botar lenha na fogueira!)
- Eu sei. Agora sempre está lá. Nunca a desprezo a despeito de tarde ter percebido o quanto esteve ausente.
- E afinal, o que tu terias para dar, se mais vezes tivesse o que encontrar?
- Bem queria que pudesse ser tudo... tudo do melhor que eu pudesse...e o mesmo receber!
- Ah! Vejo que há sinceridade nesta tua conversa hoje!
- Mas observei que pontes são construídas com certa lentidão, pois há nelas um grande espaço que fica pendurado no ar, sem mesmo ter onde se apoiar, não é mesmo? A própria ponte, imagino eu, acima de tudo, precisa confiar e ter motivação. Ou simplesmente decide não chegar ao outro lado.
- Então se sabes disto, aprende a nada esperar e apenas vem a cada vez que tiveres vontade...ou saudade..Paciência...afinal, pensa bem! você que quer esconder de si mesma os sentimentos e os coloca em historietas, imagina então! Imagina que para alguns de nós, atravessar uma ponte é o mesmo que para... para... olha só aquele bichinho ali! Tá vendo?
- Sim. Uma lesma carregando um caracol em suas costas... e daí?
- E aquele outro ao lado dela?
- Taturana pendurada em vésperas de sua transformação.... e daí?
- Pois é. Alguns de nós estamos assim, numa situação ou noutra... ou ainda em tantas mais. Você mesma está dentro de seu casco e não quer mais sair!

- Não quero mais sair, verdade...Mas parte de mim envelhece, o tempo passa, parte de mim permanece e sofro de uma irremediável saudades, ao passo que fico feliz quando...
- Eu sei.
- A espera foi longa. Já não tenho mais tanto tempo quanto os elefantes.Afinal, na verdade tenho pouco do tanto que ousei desejar ter...A ousadia nos faz descobrir um mundo que por vezes permanece intocável, apenas paralelo.  Eu era antes tão mais paciente e cordata, não é mesmo?
- Apenas lembra que nossa vida não é feita somente dos teus momentos de diáfana felicidade, mas de todos os teus movimentos, mesmo que lentos, e acima de tudo, de tua insistência em crer na própria vida e no que há de bom nela, então...
- Tá. Voltamos amanhã. Quem sabe sairemos daqui com um sorriso na cara! e aquela tola alegria no coração. Vamos então, ouvir música e cuidar do que é nosso.
- Você não se emenda... é tanto terra quanto ar... e ainda me queima neste teu fogo que tua água não consegue totalmente apagar.
- Agora é você, velha rabugenta?! Pára de reclamar e vem... rs...

( como dizer tudo que se sente sem se reportar às fábulas? Como chutar o pau da barraca, se é ela que protege da chuva? e se minha natureza amorosa me faz amar cada palmo deste chão em que construí minha história? Terá sido a paciência e a confiança no outro uma benção ou uma prisão? minha convicção de que minha natureza sensível e amorosa permaneceria a mesma em qualquer tempo e lugar, e de que seria ela a motivação de minha vida, é ao mesmo tempo minha esperança e o que me aprisiona. E minha prisão será agora este desejo que pela primeira vez não pude realizar, porque os anos de uma tartaruga fazem-na ver mais nitidamente algumas coisas? Ou isto será apenas o que me tira da rede em que antes me balançava confortavelmente?! Ah! Por vezes o grito quase sai! Temo que para sempre estarei assim, deste modo, a conviver com meu inconformado desassossego! em busca do amor eterno que ousávamos crer que conhecíamos, sonho que muitos ousamos ter, como naquela música....como, após pensar em tudo que se sente, seria possível viver se não pudéssemos deixar nossa alma voar por alguns segundos, tocar de leve o amor novamente, para então voltar ao solo com a alma mais mansa, a fim de poder ainda dar deste amor?
Como enfrentar com coragem e força aqueles que não compreendem a natureza de uma tartaruga e a história que marcou o que vai em seu coração?) .

Foto e Texto: Vera Alvarenga

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O nó da gravata e o lamento...

Não, não quero falar sobre como uma gravata bem escolhida pode contribuir para a elegância de um homem, mesmo porque, a elegância também está nos gestos
e num conjunto de coisas...
 Nem entrar em considerações de que ela seja considerada um símbolo fálico, ou dizer do prazer que um homem deve sentir ao poder relaxar e desapertar o nó da gravata para em seguida tirá-la...
   Por falar em "nó da gravata", é este exatamente o nome do livro de crônicas de Gióia Júnior que eu peguei emprestado outro dia. E, dele quero falar. Folheando-o resolvi começar a ler uma página que me chamou a atenção logo de cara, pelos inúmeros "ais" com os quais ele começava cada frase desta página. O título da crônica não podia ser outro : - lamento.
  E então ia o autor se lamentando, contudo devo dizer que o fazia com bom humor. E eu ia acompanhando-o em seus lamentos. Em alguns sorria, em outros como os que ele se lamentava por não estar no aparthotel Meliá à hora do café da manhã ou lembrava o azul do mar da Grécia, eu pensava...- pudera! até eu! e substituía alguns pelos meus momentos especiais. Não que eu costumasse me lamentar, mas até que neste tipo de nostalgia bem humorada eu podia embarcar...sorrindo.
  E ele falava da poesia de Neruda, dos canários perto de sua máquina de escrever, dos meninos de Viena cantando a Flauta Mágica de Mozart, e até de Paris. Ah! esta frase, quase a coloco aqui, porque confesso, o invejei quando ele fala de acordar numa cama macia em Paris, ao lado da pessoa amada sabendo que se teria ainda muito tempo para se "curtir", um dia, uma semana, um mes, uma vida! Ah!...ou seria melhor eu dizer também...- Ai !
   Eu seguia com ele, mas imaginava o que ele dizia sem na verdade conhecer de fato a experiência. Contudo no final, o último parágrafo quando ele começava assim: " Por que me machucais lembranças minhas?" Ai! E neste momento me vem uma das raras e fortes saudades que recentemente tenho...do que parecia tão perto e, como ele diz em parágrafo anterior -"distante agora, ausência sem remédio".  No último parágrafo ele de fato colocou aí exatamente o que já experimentei e já escrevi sobre, com alguma diferença pouca nas palavras. O sentido, porém, o sentido não apenas das palavras mas o que foi sentido por mim e por ele foi, acredito, algo muito semelhante! Semelhante demais! Sei o que é. Adorei a crônica! Sorri do bom humor dele, algo que tenho de aprender em relação a esta nostalgia.
   É neste ponto, na alegria, na dor ou em especiais sentimentos que nós, seres humanos, apesar de muito diferentes e de termos cada um uma única digital, um único conjunto de experiências, é aí nestes sentimentos que, apesar de tudo e de toda a diferença, quase nos igualamos... agora, como cada um de nós reage, bem, isto vai depender das nossas digitais...

Foto retirada do Google imagens
Texto: Vera Alvarenga
Inspirado na crônica " Lamento" do livro " O nó da gravata" de Gióia Junior

..."Por que me machucais lembranças minhas? E no entanto eu não saberia viver e nem a vida teria motivação um minuto sequer, sem a vossa presença." !!!!!!
 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

..e por falar em cheiros e músicas de nossa infância...

...e por falar em cheiros e na música que penetrou em nossa alma quando ainda crianças...

Fui buscar naquela caixa fechada desde a última mudança, algumas fitas K7. Coisa antiga estas fitas, mas eu queria lembrar...
Foi há muitos anos atrás quando fui trabalhar em casa de uma amiga de minha mãe e minha, a fim de organizar sua biblioteca. Eu estava atravessando uma baita crise pessoal e financeira, e fui chamada por ela para prestar-lhe este serviço. E adorei, por todos os motivos, inclusive porque, além de tocar em livros, encontrei lá uma coleção de fitas com as orquestras famosas e os clássicos. Eu devo ter ficado encantada e ela, pessoa sensível e delicada, ao notar me emprestou algumas.
Foi então que eu, levando-as para casa, em meio ao um turbilhão de problemas, fui ouvir os clássicos.
  E, ao ouvir, aproveitei para gravar as que mais gostei. E assim, fiz uma seleção, porque nem todas me agradavam, mas algumas me emocionavam.
Naquela ocasião, as que escolhi foram as que relaciono abaixo. A partir de hoje vou ouvi-las de novo. Será que gostarei das mesmas? E agora com os vídeos do youtube, se tiver tempo, vou ouvi-las, aos poucos, numa nova versão. Um dia vou aprender a baixar as músicas e gravá-las em um CD, o que combina mais com o nosso tempo agora que temos tanta tecnologia e inovações como a internet, a nos possibilitar um encontro com coisas do mundo que tínhamos sede de conhecer, mas que sem a internet, não nos seria possível! Que bom.
   Pena que eu tenha tanta sede e tão pouco tempo de vida...kkk... para conhecer tanto quanto gostaria... deveríamos poder ganhar mais 25 anos junto com a aposentadoria, só para curtirmos o bom das coisas e do mundo, em boa companhia, não é mesmo? (falo em companhia porque, sou do tipo de pessoa que me emociono um pouco mais quando posso compartilhar, ou pelo menos comentar...acho que só assim tudo faz mais sentido). Talvez por isto, vendo todo o potencial de beleza no mundo que ia criar, Deus tenha decidido criar também o ser humano, que evoluindo iria compartilhar também com Ele, o que é belo!
- Debussy : Prelúdio à sesta de um fauno
- Camille Saint Saens : O carnaval dos animais - o Cisne
- Ottorino Respighi : Fontes de Roma
- Lizt: Jogos de água
-Maurice Ravel: Jogos de água
- Tchaikovsky: Suite Quebra nozes e Valsa das Flores
- Jacques Offenbach: Os contos de Hoffman
-Bedrich Swetana: O moldava
- Gustav Holst : Os planetas (Marte)
- Dvorák: Sinfonia nº 9 - Do novo mundo e 4º movimento
- Johan Pachelbel - Canon
-Ludwig Beethoven - Sinfonia nº 5( 1ª, 3ª e 4ª parte), Egmont, e 9ª sinfonia
-De Falla: Dança Ritual do fogo
- Edvard Grieg : Peer Gynt - Suite nº 1 - Manhã
- Lizt : Sonho de Amor
- Pietro Mascagni Cavalleria Rusticana
- R. Strauss: Assim falou Zarathustra,
- Johann Strauss Jr.: Valsa do Imperador, Danúbio Azul( porque minha mãe amava esta música)
   contos dos bosques de Viena( meu pai gostava desta música), Marcha Egípcia, Folhas da manhã, Sangue vienense.

E Mozart???? Preciso ouvir, recordar e escolher as minhas preferidas. Além do romântico Chopin,claro!
Sem falar no TESTAMENTO de Beethoven, traduzido por Érico Veríssimo e narração de Paulo Autran. É maravilhoso e triste.

Foto: retirada do Facebook - texto: Vera Alvarenga




 

domingo, 20 de outubro de 2013

Penso que te conheço...

   
  Penso que te conheço, começava assim aquela carta, mas me engano.
    E ficou olhando para fora, olhar distante, procurando em algum lugar, ao longe, encontrar finalmente o que ela procurava, em pensamento. Mas ele parecia não estar mais em lugar algum, a não ser, apenas em seu coração e na lembrança. Ela sabia que era assim que devia ser, uma lembrança de um sonho que ninguém arriscara ver se daria certo. Ninguém?
    Ela sabia, que já nada mais sabia dele.
   O ímpeto, o impulso, se acomodavam agora, nas malhas da realidade, e permaneciam quietos como os leões velhos, feridos e cansados depois da luta pela sobrevivência, e que se acomodam sob a sombra porque precisam dormir. Talvez para sempre...talvez até amanhã....
    Quem és, que somente me prometias dar-te a conhecer e não o fizeste, de fato?  ainda preciso adivinhar-te? Quem és, que te escondes, que silencias, e, de repente, vem me beijar?
    Qual o tempo de tua vida? Sonhas comigo? Desejarias me abraçar, me tomar em teus braços, me conhecer, me tocar e com tuas mãos acordar de novo cada parte do meu corpo, já quase todo adormecido? Tudo porque o desejo era maior do que o sonho e cansara de idealizações! Alguma vez, como eu, acreditaste que tudo era possível, e que serias para mim, o suficiente, o desejo finalmente realizado, para depois, logo depois, duvidares de ti e sentires que este teu sonho não era mais do que simples pretensão?
   Tinhas o mesmo desejo que eu, de novamente pertencer? O mesmo sonho de paz? A mesma canseira e indisposição quanto às coisas que permanecem sempre as mesmas, e se repetem como viciadas, como se não quisessem melhorar, porque não há mais tempo ou porque não querem se dar ao trabalho?
   Alguma vez durante este tempo, durante o tempo nosso, pelo menos uma vez fizeste como eu, quase deixaste tudo que era conhecido, unicamente pelo desejo de conhecer a possibilidade de realizar este teu sonho? Alguma vez te faltou coragem e, mesmo sentindo que parecias perdido, foi a fé em mim e naquele sentimento que te impulsionou a fazer o que, de outro modo não farias? Alguma única vez a saudade parecia doer no peito, e tanto, e de um modo tão incompreensível porque não tinha cheiro, nem cor, nem som, que a única saída era engrossar tua pele e negar os teus sentidos, para esquecer o quanto ainda és sensível?
   Por algum tempo eu permaneci contigo, em teu pensamento, e tantas vezes quantas imaginavas que poderíamos estar rindo e compartilhando algo, que nos faria transcender qualquer das limitações que afastam aqueles que vivem de aparências? Quantas vezes tu imaginaste que poderíamos estar saciados, mesmo no silêncio, de todas as juras, promessas e palavras? Ou que todo dinheiro ou coisas juntadas só teriam significado por estarmos juntos? e que aquele vinho tomado numa noite em Paris ou em qualquer outro lugar teria o sabor do que é conquistado? Alguma vez, ao imaginar estar comigo, sentias que o tempo não passaria para nós e tudo valeria a pena? Por quanto tempo desejastes  partilhar comigo o melhor de ti, e me ver sorrir, e me abraçar se eu sentisse vontade de chorar? E acabar com a nossa solidão, sem culpa?Quando pensaste que eu era insubstituível, desejaste pelo menos tentar descobrir se este sentimento era recíproco e se poderia vir a ser uma vivência real de amor?
   Acho que nada sei de ti, pois teu coração estava fechado para mim. Pois se assim não fora, terias, como eu, atravessado aquela ponte! Eu fui, até um pouco mais da metade do caminho, rompi barreiras e laços, mas voltei, porque tu não estavas lá, porque aquela ponte ainda estava lá, e eu... já não sei mais viver sozinha.

   Quando ela terminou de escrever a carta, olhou novamente pela janela. Já estava escuro. Respirou fundo. Apagou o endereço do email e devagar, apagou tudo o mais que ele continha. E jamais enviou.
    Este era um daqueles dias em que a saudade daquele sonho apertava o coração. E ela ficava assim, quase com raiva, quase muito triste... Mas era um bom sonho, e ela preferia pensar em como ele lhe trazia sorrisos e a inspirava até mesmo para sentir a alegria de estar viva. Levantou-se e foi buscar uma taça de vinho....

Foto retirada do Google
Texto: Vera Alvarenga


   

sábado, 19 de outubro de 2013

Doando livros...e enfrentando a tentação...

 Hoje, antes do almoço estávamos dando umas voltas de carro nas ruazinhas do bairro à procura de um serralheiro e eu estava entediada. Queria voltar logo pra casa, para curtir meu escritório. Então, eis que vejo uma Biblioteca Volante do SESC, estacionada em frente a Casa de Cultura Cora Coralina.
- Olha só! Pára, pára! Vamos ver!
- Vamos doar uns livros aí?
- Claro, vamos. E fomos. E levamos 3 livros que andam agora em nosso carro para doarmos sempre que houver chance. Meu marido perguntou como faríamos para doar, e a resposta me trouxe um problema. Era coisa simples, disse o funcionário gentil, só deixar os três livros ali sobre a mesa redonda logo na entrada, para que as pessoas pudessem levar para casa o que lhes interessasse.Aproximei-me, como mosca sobre um pingo de mel...
  Eu estava com os livros. Difícil demais para mim, apenas deixar os três livros ali.
- Não acredito, olha só, um livro de José Mauro de Vasconcelos! Esse não li! E olha aqui que interessante este de Reinaldo Pimenta - a Casa de mãe Joana.
- Vera. Viemos aqui para doar! Falou meu marido, sério.
Ele tinha razão. Comecei a me afastar da mesa como criança que a mãe ensina a dizer -não, obrigada - quando lhe oferecem uma bandeja de doces na casa de alguém que ainda é estranho. Ao meu lado, um pouco mais à frente, sentou-se no chão, indiferente, uma gata preta. E o funcionário às minhas costas, chamava-a para comer, enquanto ela, indiferente parecia alheia, cega e surda.
Eu a chamei. Ela me olhou com lindos olhos verdes e mostrei a ela, apontando, o seu provável dono que já balançava a vasilha com a ração da bichana. Falei com ela incentivando-a a olhar pra ele - que oferecia algo tentador. Sou boazinha, sempre incentivo outros a aproveitar o que a vida lhes oferece. Ela parece que acordou então, e não resistindo à tentação, foi correndo em direção a ele.
Eu pensei - meu marido diz isto porque não gosta de ler e ao mesmo tempo ouvi o funcionário que dizia:
- Pode pegar! E eu e a gata pegamos.
Ah! como ela, também não resisti à tentação. Corri para a mesa. O marido já saía pela porta mas eu ainda tive tempo de pegar também um de Crônicas! Tentação demais! Tudo acabou sendo apenas como uma troca. Elas por elas....rs...

Claro, passamos por lá na próxima semana e levamos mais 3, assim meu marido ficará contente, afinal estará "realmente" doando. Eu já fiquei contente no ato. E isto me fez pensar que talvez a troca, de um modo ou outro seja mais a minha praia, porque acredito que a gente sempre acaba dando e recebendo, como é na vida, nos gestos, no sexo, independente da intenção, não costumo crer que a gente apenas dê alguma coisa, e saia de mãos vazias. De um jeito ou outro, trocamos fluídos, energia, presentes ou saímos pelo menos com algum aprendizado a cada vez que "doamos" algo de nós.
- Tá bem, tá bom, pode ser até que devolva um deles, depois de ler. ( esta sou eu, respondendo ao meu grilo falante)....rs....
Foto retirada do Google
Texto: Vera Alvarenga

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Levo-te comigo...


A mesma história pode sempre ter mais de uma versão... eu prefiro esta:
- Amor, não posso levar-te....
- Que pena.
- Mas você sabe que te levarei em meu coração.
- Sim, eu sei.
.....................................................
- Ora, amiga, e como sabes que é verdade? O que ele fez neste momento para convencer-te que te leva no coração?
- Nada. Não foi neste momento que me convenceu!

O sentimento quando é sincero é como um cavaleiro nobre, que se fortalece com sua armadura à prova do tempo, e é coerente com o gesto. E não é preciso ficar pedindo, e pedindo.... ou tentando explicar...

Foto e texto: Vera Alvarenga

Leva-me contigo..

Por vezes vivemos esta versão da história...
- Então, vou me arrumar.
- Não , não posso levar-te desta vez.
- Outra vez? ( "Leva-me contigo para onde fores"... pensou ela, quase pedindo).
- Há lugares que você não pode ir. Você não iria gostar. Compreende, não é?
...........................................
- Então, leva-me em teu coração. ( "Só se me levares contigo em teu coração sentirás que tens liberdade pois meu amor não te aprisionará em momento algum. E só se me levares contigo em teu coração posso tocar-te em alguns momentos, e me sentirei livre ainda que fazendo parte de tua vida. E de algum modo o amor não morrerá. Porque amor é livre opção, mas precisa de contato e cabe em qualquer lugar"....
 -pensou ela, sem dizer porque não adiantava explicar).

foto e texto: Vera Alvarenga

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Aos professores, meu carinho.

 Minha irmã falou no Face, sobre a responsabilidade do professor por "despertar e lapidar o talento latente em cada aluno" e junto com os pais, moldar "o ser humano para que ele contribua para uma sociedade melhor". Falou de sua gratidão a eles e do desejo de que continuem a "fazer a diferença a todos que estiverem sob o seu cuidado".
E ela tem razão...é uma nobre missão quando levada com responsabilidade e comprometimento e, neste caso, o sentimento mais apropriado que podemos lhes dedicar é a gratidão.
  Lembrei-me então, imediatamente, dos que fizeram a "diferença" por motivos diferentes. Desde minha professorinha do 3º ano, Maria Lúcia, que tinha o único cabelo crespo que eu achava bonito - ela usava um rabo de cavalo cheio de cachos...rs. Depois dona Zeca, a prof. do 4º ano e admissão ao ginásio. Entrei na sala dela porque não queria ficar na sala da irmã "Ediviges" e esta então me levou até a D. Zeca, me contando pelo caminho que ela costumava jogar borracha e régua nos alunos...Fiquei com medo, mas fui assim mesmo. E esta D. Zeca, hehehe, um dia, quando eu estava no hospital depois de ter meu 1º filho, foi me visitar. Sinal de que nos demos muito bem, o que não ocorreria por certo, com a irmã, aquela outra.      Lembro-me também da irmã Maria Aparecida que me fez detestar o Frances, embora eu gostasse do som deste idioma, mas que me pareceu dificílimo de aprender com as aulas dela.
  Depois, no Ginásio noturno, prof. Zacarias, uma figura! Meio surdo e portanto um pouco desconfiado dos alunos porque sabia que faziam caçoada dele pelas costas. Eu achava isto de extremo mau gosto. Uma vez passou para a classe, 100 exercícios de álgebra. E era muito exigente. Eu tirei 10 !! Nunca fiz questão de seguir a maioria, mas de aprender o que eu decidia que queria saber. E ser boa aluna, pra mim, era melhor escolha do que ser baderneira...isto me dava mais prazer. Neste mesmo ano, o prof. de desenho que, no momento não me lembro o nome, suspendeu uma aula pedindo-me para cantar e tocar violão. Ajudou-me a vencer um pouco meu jeito mais tímido. E profª Ilka Brunilde, prof. de Portugues, que me incentivou a escrever, elogiando minhas redações. A partir daí, minhas redações fluíam facilmente...rs...
  Mais tarde, no colegial, o prof. Cácio Machado, que apesar de ser prof. de contabilidade nos aplicou um teste psicológico, mas a mim disse que o resultado do meu o deixou um pouco confuso, ou que eu estava entre uma coisa e outra...kkk...não me lembro com detalhes. Contudo, ficamos amigos. O prof. Aldo que era de Geografia, um homem que me comovia de alguma forma, que as meninas achavam feio fisicamente e que eu fazia questão de tratar bem. Ele me fez aguentar as aulas de Geografia que antes eram terríveis porque eu não conseguia decorar nomes,  e até gostar delas, pois "decorar" não era uma exigência dele. E a prof. de latim e portugues que me disse uma vez ter planos de me encontrar na Academia Brasileira de Letras, para incentivar-me a fazer Letras e seguir como escritora.
   Infelizmente não segui o conselho dela, porque no Cursinho ( CIOP) desviei do caminho que parecia natural pra mim. Me lembro do prof. de Física Décio, um cara divertidíssimo que me fez compreender para sempre a idéia de "Inércia". O prof. Arnoni, de Literatura por quem eu e minha amiga tínhamos uma "queda". E o prof. Bandeira de Mello, prof. de História, que me fez gostar desta matéria e dava uma aula tão legal que eu decidi colocá-la como 2ª opção para o vestibular da USP. Não porque gostasse da matéria, mas porque eu admirava o fato de haver um modo de ensinar história sem forçar os alunos a decorar ( já contei que tinha dificuldades para isto), e sim, fazendo-os compreender as implicações dos fatos.
Bem, minha primeira opção era Psicologia, claro, porque eu queria compreender emoções, motivações, etc., mas entrei mesmo em História e, logo após 1 ano e meio vi que meu negócio não era mesmo esta matéria, muito menos a política, o poder e seus líderes e o que ocorria com o povo, ou com as minorias - algo que sempre tive dificuldade de compreender como se repete, se repete, algumas vezes com rituais violentos, ou com requintes sádicos, desumanos, que não se justificam. Bem, foi meio triste lembrar disto agora, mas foi legal lembrar destes professores em particular.
  Com minha memória, me surpreendi que eles vieram tão prontamente à lembrança. A eles, e àqueles que permitiram aos meus filhos o direito de fazer perguntas em aula, ou mesmo de duvidarem que somente uma resposta haveria para toda e qualquer pergunta, minha eterna gratidão.
  E digo isto porque há alguns poucos professores que meus filhos e alguns de meus sobrinhos tiveram de encarar na Faculdade que, em não sabendo como direcionar sua curiosidade, ou até suas dúvidas e desejo de aprender ou mesmo contribuir, mostraram-se fechados e incapazes de incentivar os melhores alunos, exatamente aqueles que tem melhor potencial, só porque estes alunos divergiam um pouco da atitude descompromissada que parece nortear a maioria em relação a estudo hoje em dia, ou em nossa sociedade ocidental. O aluno que realmente se interessa, se compromete, interrompe aula para discutir novas possibilidades, evidentemente dá mais trabalho, contudo é o que deveria ser valorizado no ambiente acadêmico, o que nem sempre ocorre. Há alguns poucos professores que colocam sua vaidade acima dos interesses nobres de sua profissão. Mas com certeza, estes jamais serão lembrados com gratidão.
  Parabéns a todos os prof. que reconhecerem que não precisam saber tudo e que mesmo que o quisessem, não saberiam, e que souberem incentivar seus alunos para ser melhores seres humanos.

Sabedoria não é algo de que se possa tomar posse e deixar estagnada...é algo que está em constante movimento, como a própria vida e com ela deve fluir livre para espalhar seus frutos, ou de nada valerá!

Texto e foto: Vera Alvarenga

sábado, 12 de outubro de 2013

Dia das crianças! Que bom, ele lembra!

 Dia das Crianças...
Todo mundo brincando no Face de colocar fotos de criança, ou dos filhos.
  Então fui nos arquivos do computador e peguei algumas. Amigos trocando comentários, foi legal.
Então veio um comentário de um de meus filhos, o Roberto, o menorzinho ( mas que hoje é o mais alto) o que está à minha direita, ou à esquerda na foto...rs... e que está lá longe, na França :
- " Mãe, que linda!!! Que maravilhoso poder crescer com uma visão tão linda como essa... um olhar como este... nos olhando nos olhos... expressando tanto carinho e amor... todos os dias... ao longo de toda uma infância..."

Bem, fiquei emocionada e feliz, porque eu bem me lembro que, mesmo na adolescência de meus filhos, eu gostava de sentar-me perto deles, olhar nos olhos e perguntar : E aí, filho, como você está?


Eu queria demonstrar a eles que estava disponível pra ouvir, mesmo que não soubesse como resolver todos os problemas. Quando eram crianças era fácil, depois que ficaram adolescentes, eu reconhecia que não sabia muito bem o que seria melhor dizer a eles...rs..e isto me deixava meio aflita, às vezes. Eu sabia disto, do meu desejo de demonstrar estar presente, mas e eles, se lembrariam?

Surpresa, vi que sim. Que bom! Porque meu amor foi a melhor coisa e a única que eu tinha segurança real de ser algo bom que eu podia dar a eles. Eu não tinha muita experiência de vida, não sabia muitas respostas, na ocasião desta foto já não trabalhava fora mais, portanto não podia ser a "provedora" de tantas coisas necessárias ( este papel era do meu marido), mas minha atenção e carinho pude dar. Que bom! Sou feliz por ter certeza que proporcionamos uma infância calma e sem grandes traumas para nossos filhos. Isto é bom, compensa por tantas vezes que eu me lembro que desejei ter algo importante e mais interessante pra lhes dizer, mas que não vinha à minha mente!...rs... 


  Texto e foto: Vera Alvarenga

sábado, 5 de outubro de 2013

Gandalf


- Mentira! é mentira!
O que foi Gui?
- Gato não tem sete vidas! o meu morreu!
Como foi isto?
- Ele pulou lá de cima, vó. E a gente tinha colocado tela de segurança!
- É. E ele pulou por cima do vidro, você acredita? Disse a Lalá, chorando.
Sabe, crianças, esta história de que gato tem sete vidas, é só um dito popular. É uma frase que as pessoas repetem, e repetem.
- Por que?
Tem duas histórias. Uma é bem interessante. Uma vez, há muito tempo atrás, algumas pessoas acreditavam que os druidas e algumas mulheres que viviam isolados perto das florestas e rodeados de gatos eram bruxos. Eles faziam chás e remédios caseiros para tentar curar as doenças e também faziam outras coisas que as pessoas achavam que era bruxaria. Naquele tempo começaram a dizer que o gato preto era coisa de bruxa e até quiseram matar todos eles...principalmente os pretos! mas não conseguiram porque as pessoas que amavam gatos,continuaram a criá-los escondido. É claro que a quantidade de gatinhos diminuiu muito, mas como eles sempre reapareciam, então começaram a dizer que tinham 7 vidas. E sabe de uma coisa? Depois que diminuiram os gatos, os ratos negros aumentaram muito de quantidade e a Europa sofreu com a Peste Negra.
- Que é isso?
Foi uma doença causada por uma bactéria que morava na pulga dos ratos. Muita gente morreu, dizem os historiadores que foi porque não havia gato suficiente para comer os ratos...
- Nheca....mas o nosso Gandolf não comia ratos, vó!
Eu sei, os gatos de hoje que moram em apartamentos,não precisam comer ratos.
- Ele era nosso companheiro, vó. E qual era a outra história? perguntou Gui.
Bem, é que, como eles tem uma grande capacidade de escapar com vida de situações perigosas, e podem pular de um muro não muito alto até o chão sem se machucar, o povo começou a dizer que eles tinham 7 vidas.
Queridos, então vamos fazer um enterro simbólico pra ele?
-Como vó?
A gente pega uma caixinha de fósforo vazia, vocês escrevem o nome dele em um papel, a gente coloca ali dentro da caixinha. Depois a gente vai lá em cima e enterra a caixinha em baixo da amoreira, que tal? perto daquelas florzinhas azuis. E a gente fala um pouco sobre ele, sobre como ele era engraçado com aquele jeito de andar... e faz uma homenagem.
- Mas eu queria chorar. Tô com saudades.
Claro que pode chorar também.
- E pode cantar na homenagem?
Pode, é claro. E dizer a ele que ele sempre vai existir na nossa memória, nas fotografias e no coração. Deixa te dar um beijo Lalá! E você também, Gui. Pronto, vamos fazer esta homenagem. Chama o papai e a mamãe.
Eu já sei o que vou dizer sobre ele.
- O que vovó?
Que ele era o gato mais fofo e bonito que conheci!

Texto em homenagem ao gato dos meus netos, o Gandolf (corrigindo...rs...Gandalf).
Informações retiradas do blog :http://www.muitointeressante.com.br/pq/perguntas/como-surgiu-a-historia-de-que-gatos-tem-sete-vidas
Foto e texto: Vera Alvarenga


quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Descascando laranjas...


 Ontem escrevi sobre laranjas, com nostalgia de quando eu as chupava na porta da minha cozinha, depois de adulta. Saudades também da Cora, minha cocker esperta, inteligente, alegre e companheira. E chupar laranjas me lembrava a infância e trazia boas sensações.
  Uma amiga minha, a Sissy, comentou sobre como se lembrou, ao ler o que escrevi, do seu pai descascando as laranjas para ela.
  Muitas vezes meu pai descascava-as para mim. E com aquele jeito seu, calmo, paciente, tirava primeiro as cascas, depois toda a parte branca e finalmente, cortava os gomos ao meio e retirava as sementes. Isto, como contei à minha amiga, era como um ritual dele, um ritual de relaxamento, de encontro com a paz. E era bom, tão bom que ficou em mim e quando tive tempo de repetí-lo, a sensação de paz acompanhou-me por aqueles momentos que durava aquele simples ato de descascar e chupar laranjas, olhando para o quintal.Parece que, naquela época, o relógio não andava tão rápido e havia até algum tempo para se conversar alguma coisa, enquanto se chupava laranja, ou melhor, enquanto a gente esperava aquele ritual terminar. Ainda que hoje eu as prefira chupar de tampinha quando estão bem doces e ninguém está por perto, chupar laranjas me leva a um momento de prazer e paz.
   E eu vi meu pai fazer isto muitas vezes. Com mexericas também... e tirava as "pelinhas", os fios,e oferecia à minha mãe e a mim. Pais geralmente fazem isto para as filhas. É uma forma de cuidar. Se fosse com os meninos talvez ele pegasse um canivete e dissesse:
- Vai lá, pega uma laranja que vou te ensinar a descascar.
  E não deixa de ser uma forma de cuidar, preparando aquele garoto que, mais tarde vai descascar laranjas para suas "meninas". De qualquer modo, era um momento de intimidade, porque a TV geralmente não estava ligada a todo volume, nem os jogos de computador e, assim, eram instantes para se ficar lado a lado. Com "filha mulher", como se dizia antigamente, é diferente. Os pais ensinam mas gostam de ser gentis. Aliás, mesmo não tendo filha, eu vi uma vez meu marido em um momento como este. Ele, que costuma dizer que não tem paciência para nada, estava lá, sentado no sofá da sala descascando mexirica e tirando os fios, para uma garotinha pequenina, amiga de meu filho mais novo. Eu ouvi quando ela pediu, toda meiguinha, para o "tio" tirar os fiozinhos...E aquilo se transformou em um momento de ternura, de cuidado.
  Acho que os homens antigos, de um modo geral, esforçavam-se ou gostam naturalmente de "cuidar" das garotinhas, não naquele sentido de atender no cuidado com a saúde, que disto eles se pelam de medo, mas no da gentileza. E as garotinhas e nós mulheres, sempre gostamos destas gentilezas, por que não? Aceitá-las faz parte do processo de criar vínculos, escrever história, proporcionar ao outro a experiência do saber que seu gesto foi bem recebido.
  Tomara que homens e mulheres continuem assim hoje, com a oportunidade de dar e sentir-se aceitos, de receber e sentir gratidão. Seja num simples descascar laranjas ou não. Porque sem dúvida, isto preencherá nossa história e memória de boas sensações. E nós, ficaremos mais mansos.

Foto: retirado Google imagens
texto: Vera Alvarenga

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Chupando laranjas...


Hoje, antes do almoço, bem naquela hora em que dá uma vontade de comer alguma coisa, vi umas laranjas na cesta de frutas. Estão azedas, isto sei pela cor das cascas, de um amarelo esverdeado, sem as pintinhas marrons no laranja forte que eu acho que indica a doçura da fruta. Como prefiro-as doce e estando com pressa, passei rapidamente. Não peguei nenhuma. Contudo, logo ao passar meu pensamento me levou de volta à porta de minha cozinha, lá no quintal, na casa de Florianópolis.
O pensamento é uma coisa mágica. Ao mesmo tempo que meu corpo sentou-se de volta em frente à gaveta do escritório onde procurava uns papéis, meu pensamento levou-me para longe. Por uns momentos parei e apenas me deixei levar junto com a lembrança. Foi bem no tempo em que eu criava o hábito de parar com tudo que estivesse fazendo, logo antes de começar a preparar o almoço, pegava umas 2 laranjas, sentava-me à porta da cozinha, encostava-me na soleira e começava a descascar os frutos. Ali, sentada, aproveitava para relaxar olhando para o quintal da casa. Eram apenas alguns minutos, mas eu tinha decidido não deixar escapar esta oportunidade de curtir duas coisas novas e boas que haviam recentemente entrado em minha vida . Chupar laranjas era uma delas. Apreciar o quintal de uma casa à beira mar, após morar em apartamentos por mais de trinta e tantos anos, era a outra novidade.
Não fazia isto todos os dias porque a situação estava difícil e nem sempre tínhamos laranjas, mas, sempre que o fazia, tinha uma companheirinha ao meu lado, a Cora, minha Cocker cuja cor também era laranja, ou dourada, como preferiam os criadores de cães. Quando meu marido estava em casa, eu descascava uma para ele também. E tinha de ser de tampinha. Aquele jeito de chupar laranja que me lembrava a infância. E tinha de ser mesmo de cara para o quintal, porque não é o jeito mais elegante de chupar laranja e, muitas vezes junto com a careta que fazemos para abocanhar o fruto, tem o barulho e o suco que escorre pelo canto da boca. Nada elegante, mas delicioso de se fazer! Em pouco tempo a vida melhorou e nos acostumamos com este momento, eu e a Cora. Este hábito durou por quase dois anos, enquanto moramos naquela casa que era alugada. Faz tanto tempo isto, quase dezessete anos! Mesmo assim, só de lembrar me deu água na boca.
Hoje, tomo um cafezinho antes do almoço. Sento-me no terracinho do apartamento e olho para as árvores do condomínio, o que também me dá prazer, embora Cora não esteja mais aqui. Contudo, pensando bem, meu marido também deve ter gostado daqueles momentos de partilha, porque hoje, quando temos laranjas ou mexericas, frente à TV, à noite, ele descasca algumas e me oferece. E quando estão doces eu aprecio, mesmo que não seja mais olhando para o quintal.
E ainda gosto de chupá-las de tampinha.

Foto: Google imagens
crônica: Vera Alvarenga

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