domingo, 18 de agosto de 2013

Um grande prazer compensa o seu contrário...


- Nossa! como eu gosto de comer bem!
  Comer uma comida bem temperada, no ponto como se diz, saborear com calma e prazer um prato que a gente aprecia, tendo sido bem feito, é realmente muito bom. Comer, nestas circunstâncias, não apenas para matar a fome mas porque apreciamos aquele manjar que, por vezes chamamos de manjar dos deuses é, de fato, um dos maiores prazeres.
  É quando vejo que sou mais carne e osso do que um ser espiritual. Minha concretude quase grita de prazer ao provar o cardápio escolhido e, como sou grata às pessoas e à Deus por poder sentir este prazer.
  Pensando nisto, até entendo um pouco os homens meio primitivos quando inventaram esta história de "comer" quando se relaciona a sexo. Sim, porque sexo é outro dos grandes prazeres que alguns de nós podemos escolher ou, por sorte, empenho e atributos físicos e emocionais, nos é dado sentir.
  Esquecendo o sexo, por hora, e voltando ao prazer de saborear um prato que apreciamos, o de hoje foi "Filé de Peixe com Batatas e Alcaparras", salada, arroz e vinho, o qual eu comecei a tomar logo que fui preparar o prato. Isto foi às 15:30 hs, quando chegávamos com fome e cansados de ver coisas mal feitas pelos dois pedreiros que meu marido contratou para reformar nosso apartamento acreditando que fossem profissionais responsáveis.
  Céus! como existem profissionais que na verdade nem o são, e fazem do trabalho algo apenas para matar a fome! Sem preocupar-se com a qualidade do serviço prestado e com o orgulho que poderiam sentir se fizessem o mesmo com interesse, criatividade e disposição de dar o seu melhor naquilo que estão fazendo e, que é a sua vida, afinal de contas!
  Um dos pedreiros foi pego nos roubando descaradamente, com 6 caixas fechadas de piso, metros de fios e mais algumas miudezas, já dentro de seu carro. Depois demos por falta de mais material. O outro, nos roubou o sossego e a confiança, que foi pro brejo, depois de vermos como fez o acabamento e por ter nos enrolado por duas semanas dizendo que ia providenciar um ajudante melhor. E não o fez. Assim, nossa mudança está marcada e temos ainda de contratar outro profissional para refazer e terminar algumas coisas, antes que armário e piso possam ser colocados. Não sei como vai ser esta mudança desta vez, mas, como as outras, havemos de dar um jeito. Porque, como costumo dizer...só para a dor e a morte não se tem jeito.
   Não importa qual a profissão que se escolha ou o que quer que seja que a gente resolva fazer, temos de fazê-lo com real interesse. Erros ou acidentes podem acontecer, é claro, como posso às vezes, colocar um pouco mais de sal na comida ou não gostar de uma receita que invento e faço pela primeira vez. Contudo, a incompetência vindo do desinteresse e falta de compromisso com o que se faz e com aquilo que você propõe fazer a outro por um preço combinado, não tem perdão! Ah! e não me venham dizer que o perdão é algo nobre. Sim, é claro que é! É algo para os que erram apesar de ter tentado ou para aqueles que se arrependem, e procuram consertar o erro. Entretanto, para os que optam por ser desonestos, folgados e fogem dos compromissos com outros, sem medir consequências nem se preocupar com o prejuízo de toda sorte que causam para aqueles que, muitas vezes se sacrificam para obter seus serviços e contam com ele ... para estes, confesso, minha concretude, provada ao confessar o quanto uma boa comida me dá prazer, custa a desculpar.
  Para muitos profissionais assim fajutos que se apresentam como profissionais sem ao menos saber o que isto representa, o dinheiro de outros, o tempo e a paciência lhes parece cair dos céus ou dar em árvores! E não é assim!
   Ainda bem que ao voltar do apartamento, que deveria estar "um brinco" pelo que investimos em dinheiro e expectativas, resolvi fazer aquele peixe... e dei o melhor de minha atenção, pois o prazer ao saboreá-lo nos fez esquecer de tudo o mais, e lembrar com gratidão dos que de um modo ou outro nos proporcionam este tipo de prazer, que encanta os sentidos de nossa concreta humanidade... Com eles eu gostaria de compartilhar minha prazerosa refeição, com orgulho sim, de ter feito o meu melhor.

Texto e foto: Vera Alvarenga.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Eu desisto...






Por que as gravadoras hoje incentivam tanto,  músicas sem qualidade?

Procurei esta música no Youtube, porque estava com esta frase/sentimento repetindo-se em minha mente...
Para cada um em seu momento, uma frase pode ter diferentes significados...
Eu desisto....
não existe este amanhã que eu procurava....

Pensei que teria algumas coisas para dizer e que esta música seria apenas um acompanhamento...
mas depois de ouví-la e sentí-la, não tenho mais nada a dizer...Esta música é linda e já diz tudo.
Apenas lamento que algumas gravadoras incentivem tanto hoje, músicas sem qualidade, como se não fossemos capazes de fazer coisa melhor!

Músicas: Viagem e Universo em teu corpo - interpretadas por Taiguara.


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Como se o tempo fosse acabar...


Ao mesmo tempo que fechou a porta, silenciou os pensamentos.
Trazia um copo de vinho e movia-se devagar, para não assustar as delicadas lembranças. Não de alguma coisa específica, mas de um jeito de sentir-se.
Acendeu a vela que estava guardada há tempo e a colocou ali, displicentemente, ao lado. Do vidro maior deixou cair os cristais coloridos da cor que ela mais gostava. E daquele vidrinho menor, retirou a tampa empoeirada e derramou gotas do óleo essencial perfumado...
- Ah! a luz! Apagou-a.
 Agora sim, a realidade deixada de lado por instantes devolvia o clima necessário para o momento. E a realidade bem que podia ser deixada de fora, porque o que importava agora, era o sentir... sentir o prazer de proporcionar ao corpo, que já não era mais belo nem jovem, o toque quente e macio e, aos sentidos, a delícia de pequenos e raros prazeres... Era importante também o não sentir... não sentir pressa, não sentir-se pressionada a falar ou funcionar num ritmo que não fosse aquele, que iria pacificar seu coração.
  O coração, quando jovem, esteve correndo por si, pelos outros, pela vida! Por circunstâncias e cobranças, para cumprir prazos, chegar em algum lugar... onde estaria seu amor a lhe esperar? Por um encontro, finalmente um verdadeiro encontro, talvez? Um encontro de entrega, de paz, de deixar-se ficar?
Ah! mas a vida é feita de fugazes encontros. Momentos raros, gotas preciosas e essenciais, ela sabia.
 E soubera apreciar os que tivera.
Inspirou devagar, como se quisesse provar, aos poucos, daquilo que era especialmente bom.
E era...embora estivesse sozinha. E ainda que tivesse se acostumado a ver sentido nas coisas só quando estavam sendo compartilhadas, aquilo era bom. Recostou-se, tomou um gole do vinho...
À meia luz tudo era ... era... como tinha de ser. E simplesmente relaxar... que luxo!
Afastou um pensamento conhecido:
- Ah! mas seria muito melhor se ele estivesse...
Não. Por esta vez não ia se deixar abalar por sua convicção de que estar ali, sozinha,  não era o bastante. Colocou o roupão de lado e pôs os pés na água. A temperatura estava excelente - quente - era assim que gostava do banho naquela estação do ano.
Aquilo era também uma despedida. Aquela hidro tinha estado sempre lá, por anos, e quase não houvera tempo ou disposição para curtir o que hoje decidira aproveitar, pela última vez, antes da mudança.
Tanta coisa a interferir, a nos levar para as raias das corridas como se fossemos cavalos selvagens...
Assustou-se. De repente o telefone tocou. Assustou-se porque sabia que tudo aquilo que mal tinha começado já ia chegar ao fim. Assim, sem mais nem menos, só porque ela tinha esta mania de atender a tudo como se... como se o tempo fosse acabar.
Sentiu frio ao levantar-se da água e então, se deu conta. O tempo estava mesmo se acabando! Já era hora de algumas escolhas.
- Não, sinto muito...desta vez não!
- Mas e se for um dos ... E então, riu de si mesma.
- Pára com isto sua louca! ... nada vai acontecer com quem quer que seja, que não possa esperar.Tenho um encontro, um destes instantes que perfumam a vida.
E lentamente deixou-se ficar naquela lânguida paz.... consigo mesma...

Foto retirada do google. Texto: Vera Alvarenga.

sábado, 10 de agosto de 2013

Amado

Algumas músicas, em determinados momentos, são como uma extensão dos sentimentos...
suas notas, as palavras, parecem dançar em nós e dali sair como um suspiro,
um desabafo, um soluço, uma canção nascida ali no peito...
e por vezes, é só o que resta...uma constatação
do que existe apenas como um desejo... um sonho...
uma quimera que mora no coração...
e para sempre ali se encerra...






Música: Amado..canta Vanessa da Mata
Texto: Vera Alvarenga. 

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Embaraços de uma pretensa escritora...

Escrevi mais um livro infanto juvenil, já há algum tempo. E ele é bom. Sim, podia virar filme... e dirigido por Spielberg ficaria maravilhoso!
Tem 80 páginas e se trata de uma aventura encantada, onde a garota...bem, não posso contar, ainda.
Há dias, meses, que o estou preparando a fim de enviar a algumas editoras. Então, fui seguindo passo a passo, primeiro revisando, depois registrando na Biblioteca Nacional, depois procurando por editoras que estejam recebendo originais...porque algumas não estão, outras podem demorar até 2 anos para dar uma resposta, e um amigo me disse que o setor editorial está em crise... mas enfim, escolhi uma, para a primeira tentativa. E ela pede exclusividade por algum tempo. É justo.
Contudo, hoje me deparei com um problema que me deixou "presa" entre uma palavra e outra. Por ignorância minha, lá fiquei eu a olhar surpresa para as duas palavras que fazem parte de uma exigência que devo cumprir, sem saber o que fazer - pedem-me uma "sinopse" e um "sumário". E eu que pensei que fossem dois modos diferentes de dizermos a mesma coisa, ou coisa bem semelhante!
Mas, certamente não é, ou não teriam me pedido isto, não é mesmo?
Então, lá fui eu, entre uma providência e outra do dia a dia de quem está finalizando uma reforma de apartamento, procurar no Google, Dicionário, Wikipédia, Fóruns, etc.. o que cada coisa significava.
Complicado isto. Wikipédia começa assim: " um sumário, por vezes chamado de sinopse"...Ui ! mas lá aprendo que são diferentes de um resumo. Já é um passo.
Uma coisa leva a outra e, entre uma saída e outra, vou lendo sobre o assunto em diferentes lugares, em diferentes momentos, até quase tratados sobre o assunto ( o que em parte me alivia porque descubro que não sou só eu que não sabe distinguir muito bem a diferença). E é claro, é preciso que eu saiba o que fazer "EXATAMENTE" porque se eu não cumprir com as "normas" para avaliação do original, o meu pobre livro, pobre porque deixado nesta situação, mas muito bom por sinal, nem ao menos irá para avaliação.
Bem, sonhar é possível, e é coisa para os sonhadores como nós, artistas ou escritores. Mas, dá uma sensação de impotência já que desde o início da tentativa não sabemos, na verdade, o que é exigido exatamente de nós, uma vez que há divergências no modo como nos indicam que deva se fazer cada coisa...    E há textos tão complexos que não compreendi. E também li que..." os grupos de revisão podem desenvolver políticas próprias sobre o processo de elaboração de sinopses". Isto em parte é bom, porque se eles podem, penso eu, que eu também possa...rs... Mas não, não é assim.
Mais um dia passou num piscar de olhos e fico pensando que, na próxima encarnação, vou nascer com sensibilidade artística novamente mas... vou começar a ler desde criança, talvez meu pai seja o dono de um sebo ou livraria... rs...além de incentivar minha sensibilidade como já o fez este que tive... terei uma excelente memória e quero ser uma grande escritora. Tão grande que meu editor não me peça uma sinopse! Tão boa que não eu, mas minhas palavras é que vão emocionar, e estarão perfeitamente arrumadas em contos e textos que encantarão uns, farão outros refletirem, divertirão ainda mais alguns e sempre lembrarão um pouco do belo e de amor aos que as lerem. Além disto, pelo menos 2 livros se transformarão em filmes que vão emocionar ( eu me emociono com alguns livros e filmes, principalmente como os encantados ou como o " A menina que roubava livros").
Bem, mas enquanto este tempo não chega, lá vou eu aprender o que fazer destas duas palavras.

Uma coisa é certa. Se meu livro não for aprovado para publicação em nenhuma editora, de todo modo, para servir de consolo, eu poderei pensar que talvez...só talvez... ele não tenha sido nem considerado e levado para avaliação só porque eu não soube, de verdade, o que eles queriam de mim, além da minha história...rs...

Texto e foto: Vera Alvarenga
Para pesquisa sugiro, entre outros... : http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-86501998000200011
Achei um tanto confuso...: http://www.sitedoescritor.com.br/sitedoescritor_professor_virtual_perguntas_00092.html

domingo, 21 de julho de 2013

Eu e meus cachos...

   
 
 "Espelho, espelho meu, existe alguém (na minha idade) mais..."
 - Sim, sim, claro! Todas as que tem cabelos lisos! ..kkk...
 
  Não estou querendo me vangloriar (não tenho motivo), nem dizer que não enxergo a realidade. Bem sei como meu cabelo está quando acordo(uau! corro para o banheiro), bem sei que não é de qualquer ângulo que fico bem em fotos, bem sei que se tivesse 8 kgs. a menos estaria melhor, que nesta idade não é todo dia que estamos bem..rs...bem sei... CHEGA!

Saimos 6ª f. à noite com filho e nora. Eles elogiaram meu cabelo ( também concordo..mesmo miojo...rs... está mais bonito assim mais curto e depois que vi 2 vídeos). Eu tinha assumido meus cabelos brancos e cachos, mas não cuidava deles..Se não era vaidosa antes, pra que vaidade com esta idade?? pensava eu.

Hoje estou me sentindo bonita, e pronto! Com meus cachinhos, que na verdade gostava mas não sabia como lidar com eles!! E agora sei.
Sou como qualquer outra mulher..quando a gente se arruma e se acredita bonita ( ou sente estar mais bonita naquele momento do que no anterior...rs...), a gente fica mesmo!
  Não sou uma velha deslumbrada! Sei de meus 62 anos e tudo o que vem com ele, mas quero falar de algo mais sério - muito sério - auto estima.
  Quando você tem auto estima muito baixa e nem percebe isto, não acredita nas suas boas qualidades e capacidades, e não as aproveita! Pior que isto! você tem uma expectativa baixa também em relação ao que pensa que merece da vida ou pode conquistar!

  SE VOCÊ É MÃE de uma garotinha com cabelos cacheados, que podem até ser rebeldes ou difíceis de vez em quando, VEJA O VÍDEO.Eu o coloquei aqui porque me encantei com o carinho que esta mãe fala do cabelo da filha!
  Se você tem cabelos lisos lembrem-se de que não somos todos iguais e que não existe beleza padronizada.
Ajude sua "princesa" ( ou filho) a ver em você o primeiro exemplo de amizade, cuidado e tolerância junto com a valorização e aceitação daquele que é diferente de você mesma. Minha mãe certamente não teve acesso aos vídeos e a educação, naquele tempo, era outra. Mas meu marido e minha mãe que me perdoem, na minha opinião, elogiar também as qualidades e o belo que cada um tem em si, constrói mais do que apenas criticar sempre que necessário!

  Certamente beleza física não é fundamental,  MAS... sentir-se belo e capaz, e aprender como sentir-se melhor, é!! Enfim, bem vindos os elogios que colocam em evidência algo que cada um de nós tem de bonito, seja no visual ou nos gestos ou capacidades! Bem vindos o cuidado e carinho com que tratamos aqueles que a gente diz que gosta!


Texto e fotos: Vera Alvarenga
Vídeo: Amanda Gil

Amanhã...tomar um café e lembrar dos amigos...

 
Minha avó já dizia..." Burro velho não pega trote!"
Pois então... eu estava aqui pensando...quase meia noite e vi agora pouco no Face que é dia do amigo. E tem gente que tem muitos amigos.
Destes que a gente encontra de vez em quando, para beber alguma coisa, conversar, rir um pouco, falar da vida, ir ao cinema junto e comentar sobre o filme, falar abobrinha, contar os planos...enfim...( ou será que é só literatura?...rs). Amigos não caem do céu, de repente. Vem do trabalho, da escola ou das proximidades...sim, são os que se aproximaram e assim ficaram. Amigo lembra abraço e, para isto precisamos estar próximos de vez em quando.

Bem, eu sou uma mulher comum e tive alguns poucos e bons amigos... tenho ou tive, nem sei... porque na verdade a vida de gente como eu foi passando e cheia de coisas pra fazer, um trabalho dentro de casa e o da cerâmica que ocupou quase o tempo todo, e os amigos foram ficando distantes,seja pela distância fisica, seja por falta de tempo ou pela ausência do hábito de conviver...
Pena isto. Acontece com muita gente, esta solidão que a gente aceita como parte da vida.
   Hoje, depois de 17 anos volto para São Paulo, mas não me aventuro a sair por aí de carro, sozinha, para rever os poucos amigos que sobraram. E sempre penso que eles estão ocupados, tem sua vida para cuidar, o que diríamos um ao outro? Sim, amizade é algo que se deve cultivar, para ser natural e não ser sentida como uma "interferência"... interferir no que mesmo? Nos hábitos solitários ou exclusivistas de cada um.
  Na verdade, o que estava pensando é que, apesar do meu jeito mais introspectivo, da total falta de hábitos sociais, bem que hoje gostaria de ter criado o hábito do encontro com um amigo ou amiga, daqueles por quem a gente sente carinho especial, afinidades, e com quem se sente muito à vontade. Ah! pelo menos uma vez por mes, ir a um cinema ou ir apenas tomar um café, jogar baralho, conversar, sorrir um pouco... sair do meu cantinho, que eu adoro, é claro, mas que ainda estaria aqui quando eu voltasse.
...Mas, burro velho não pega trote. E não tenho este hábito de sair por aí, só por sair...

Amanhã, contudo, vou sair... mesmo sozinha..aqui pertinho, num café. Vou sentar-me lá... E fazer o quê???
Talvez eu leve meu kindle que comprei recentemente. Fico lá por alguns minutos. Vou lembrar do meu amigo Antonio Carlos, com quem uma hora de papo passava tão depressa e sempre guardávamos algo a dizer, para a próxima vez. E vou me lembrar de cada uma das amigas ou amigos que eu bem gostaria de ter ali do meu lado para conversar um pouco! Um de cada vez, claro! ou no máximo 4, para que a conversa pudesse ser mais íntima, olhos nos olhos, todos realmente interessados um no outro e nas coisas que tivéssemos a contar. Vou saborear meu café delicioso, caminhar pela sombra das árvores da rua onde moro e feliz por estar viva e nesta maravilhosa condição que me proporciona optar por este prazer!
   Ainda bem que a internet e os emails nos aproximam dos amigos que a gente quer bem.
 


terça-feira, 16 de julho de 2013

A visão de um artista...

 
  Eu também sonhei que tive uma visão. Ela me olhou de frente, olhos nos olhos, e me deu a mão.
Então me tomou em seus braços e me senti pequena, confortável e segura. Depois transformou-se numa ave com asas quebradas. Em seguida chorou, e fui eu que a abracei. E ela se tornou pequena, confortável e segura. Cuidamos uma da outra até que ela cresceu, e cresceu, frente a meu olhar. E eu a vi transformar-se numa ave formosa que voou, lá para o horizonte onde um arco-íris meio apagado tentava brilhar. Quando ela pousou nele, suas cores ficaram fortes e reais.
  Ainda tenho a visão desta ave quando me sinto triste ou ameaçada no que sou. É apenas uma visão, mas posso vê-la quando preciso me sentir bela e viva como as cores do arco-íris. E lembro de abraçá-la quando temo que tenha se machucado. Lembro-me dela também nos momentos em que estou muito feliz.
  Voltei a rir de mim mesma por me encontrar assim, num episódio melodramático, em que tristeza e beleza coexistem, como antes na literatura romântica.
    Embora sinta uma tristeza imensa por saber que não passa de uma visão, e me pergunte por que eu tive aquele sonho, reconheço que o mundo ficou melhor depois disto.
   Não, com certeza para alguns, não é proibido sonhar...
Texto e foto: Vera Alvarenga
Inspiração... a vida e Manoel de Barros.

"Aprendi que o artista não vê apenas. Ele tem visões. A visão vem acompanhada de loucuras, de coisinhas à toa, de fantasias, de peraltagens. Eu vejo pouco. Uso mais ter visões. Nas visões vêm as imagens, todas as transfigurações. O poeta humaniza as coisas, o tempo, o vento. As coisas, como estão no mundo, de tanto vê-las nos dão tédio. Temos que arrumar novos comportamentos para as coisas. E a visão nos socorre desse mesmal."
 - Manoel de Barros




segunda-feira, 15 de julho de 2013

Sentimentos...

 
 Ingenuidade é algo que me faz assustar-me, quando olho no espelho!
  É algo que não combina com o passar dos anos, mas sim, com o jeito de ser de cada um. Melhor seria talvez pensar que é apenas um modo de sentir que me arrebata e tem força, e preenche tudo por dentro e transborda, e ao mesmo tempo tem a simplicidade da crença...apenas é assim.
  Se a ingenuidade não é realidade do mundo, é  realidade do ser. É um modo de sentir. E porque a conheço, respeito aquele que é uma incógnita. Não vejo apenas o que está na sua cara! Como em minhas terras, ele pode ter aquelas flores que nasceram à beira do lago e quisemos que permanecessem ali. Por isto penso que só sei de mim. De meus momentos de alegria, de meus momentos de saudade, de meus desejos, minhas vontades. E estes, para mim mesma não traduzo em palavras, porque basta sentí-los. Já são fortes o suficiente. Tão forte, que às vezes penso que não vou aguentar, que seria melhor não sentir a vida assim com tanta sensibilidade. Mas aguento.
  De uma forma ou outra, a gente sempre acha um jeito de controlar isto tudo que está apenas ao alcance de nosso olhar, porque pertence a uma terra só nossa, é água em uma represa que desce em cachoeira até se transformar em uma corredeira mansa, lá onde outros a podem ver. Posso ver minha imagem refletida nela. Apenas imagino a sua. E, se a gente se afasta, ainda ouve o suave barulhinho que nos faz enfim, relaxar... aquele som é um sinal de que há vida naquele que não se transformou, ainda, em deserto.

  E, por isto, gosto das palavras, porque elas quando trocadas, sussurradas ou confessadas, são o único modo de se saber dos sentimentos de uma pessoa, quando não considerarmos os gestos.
  Quanto sentimento tem por trás de cada rosto, ou de cada gesto e cada olhar teu? Não sei, a menos que me digas.
  Por isto gosto das palavras. E as tuas? bebo-as, por vezes, para matar minha sede, imaginando que tem a mesma simplicidade dos sentimentos genuínos...como são os meus, que nasceram como aquela flor à beira do lago... e eu as deixo ficar...
Texto e foto: Vera Alvarenga

domingo, 14 de julho de 2013

Ela e eu....

 





Hoje te abraço como aquela mãe, que não percebia a presença da filha ao seu lado, porque com ela sentia-se uma, e não viu o tempo passar...


Mas o tempo passou...




Hoje te abraço, e compreendo,
e sei que eras a melhor parte de mim.
Tu e eu somos ainda a mesma coisa,
nos confundimos, nos pertencemos,
nos traímos, nos encantamos, nos escondemos...
Combinamos com a Natureza,
o tempo passa por nós
e deixa suas marcas,
mas ainda me perfumo de ti
quando estou no jardim
ou ouço um passarinho cantar...


Hoje sou assim, só presente
mesmo estando um pouco ausente de mim...

Texto e fotos: Vera Alvarenga






quarta-feira, 10 de julho de 2013

Palavras...

 
 Ah...estou pensando nas palavras...novamente as palavras...
  Elas me perseguem ou eu a elas? Não sei. Já gostei tanto delas e hoje as esqueço tão facilmente. E já não as compreendo como antes. Para mim, hoje, não fazem o sentido do que é apenas verdade, como quando eu acreditava nelas sem desconfiar que um dia, modernamente, seriam usadas apenas como figuras. Figuras socializadas, de linguagem, modo de falar, não foi o que se quis dizer... Mas a verdade, não pode mesmo ser dita apenas em palavras, é preciso o gesto! Então, tudo bem.
  Ah... mas elas tem peso. As que me chegaram agora são como plumas, como uma pena que alguém passou suavemente em meu rosto para me acariciar, para brincar comigo. Então, era quase um gesto! E quase não acreditei nelas, porque não tenho o hábito de vê-las daquele modo, ajuntadas talvez até sem nenhuma grande intenção, eu sei, mas arrumadas daquela maneira e dirigidas só para mim, num pedaço branco do que antigamente seria uma folha de papel para um bilhete.
  Há palavras pesadas. Estas eram leves. Ah...Se pudéssemos nos construir por muito mais palavras assim leves e claras e cheias de boa semente... seria tão melhor! Nenhuma flor jamais murcharia triste por ter um fim. Todos, nós e elas, saberíamos nosso valor e apenas cumpriríamos nossa missão, nosso plano de vida e simplesmente deixaríamos lugar para o que viria depois. Há olhares que ferem, mesmo sem palavras. Há olhares que já feriram por falta de compromisso e agora já não ferem mais porque se acomodaram na grande verdade da vida e sabem finalmente, que não deveriam ter sido tão duros.
  E há olhares que não nos tocam verdadeiramente "só" porque não estão ali. Apenas os intuímos, imaginamos, quase podemos senti-los. Eles vem com palavras que nos fazem bem e precisamos aprender a recebê-los, sem cerimônia, sem modéstia, sem nos preocuparmos muito com a intenção. Apenas recebê-los como o carinho que são. E como fazem bem!
Texto Vera Alvarenga
Foto retirada do Google imagens 

quarta-feira, 26 de junho de 2013

De vez em quando, ela dançava até cansar...

 
  De vez em quando, cambaleava, arrastando asas emboloradas que pesavam, às vezes, como chumbo.
  Os olhos,vermelhos, porque tinha chorado, mas ninguém percebeu.Poucas lágrimas, porque nunca mais chorou desesperadamente, isto era para as jovens e ela, já não o era.  Eram lágrimas tristes, lágrimas de lembrar sentimentos fortes... depois, algumas lágrimas doces, que lhe vieram lembrar que tudo um dia acaba, morre, se transforma, ou não se pode alcançar (se o desejo de preservar é solitário, se a crença não é a mesma).

  Como são felizes aqueles que amam, tão pura e inocentemente que não veem mais do que aquilo que se harmoniza com seu desejo de amar! E para eles o tempo pára, tudo é possível e nada falta!
  Naquele tempo não havia saudade, nem havia futuro, nem tempo para deter-se nas pequenas frustrações que começavam a acumular-se em algum lugar que ela mesma não tinha noção de onde era, nem de seu poder, mas descobriria um dia que tinham ficado lá e formaram um muro...
  Agora, ela ia devagar... tinha as mãos feridas porque tentou quebrar o muro. Conseguiu, mas agora seguiam por caminhos paralelos que já não tinham tantas flores, nem sol. Seguiam na sombra das árvores, no solo de barro úmido e um tanto frio, onde nascia apenas relva macia mas pouco densa, e onde havia pedras. Era um mundo real, tanto quanto fora o outro quando ela caminhava nas nuvens mesmo ao fincar pés no chão!
  Agora, de vez em quando ela via uma réstia de luz, e olhava para o céu azul. E então pensava que não haveria limites para quem não desistisse de sonhar, e se animava, e quase voltava a sentir aquela mesma alegria que sentem os que vivem apenas no presente porque lá está tudo de que precisam... e então seu entusiasmo começava a brotar de dentro de seu ser. Ela queria compartilhar... e estendia suas mãos, e sorria timidamente, e em seu rosto havia um quê de pedinte, de quem espera apenas um sinal em resposta para que toda a transformação pudesse se dar...ah, morava ainda em seu corpo aquela fada que ainda se sentia daquela maneira! onde estaria o desejo de amor que nos põe asas? certamente, onde Deus colocou, e na lembrança dos que amaram apaixonadamente. Ah...se o outro permitisse que ela reencontrasse aquela leveza...e às vezes ela lutava e se debatia com a loucura de gestos desencontrados que inconformados querem salvar do naufrágio o tesouro que possuem.
  Tentativa vã. Então ela sabia que não ia mais voar. Não era apenas o corpo que queria amar, era a alma. Por que carregar pedras eternamente se é possível, de vez em quando, voar verdadeiramente? E ela sabia como era bom.
   Havia o caminho, e caminhar ali era dificil, e dava trabalho, mas ainda caminhavam juntos.
 ... Algumas noites, porém, ela se retirava para uma clareira, e lá, sózinha ouvia música... e  às vezes dançava, e dançava... até se cansar. E então dormia pesadamente. No dia seguinte, havia mais caminho para seguir, e com sorte, quem sabe o sol lhe secasse as asas...

Musica: Bandolins -Oswaldo Montenegro
Texto e foto: Vera Alvarenga    

terça-feira, 25 de junho de 2013

Eu também odeio passeata quando tem confusão, mas estou aqui!

Eu também odeio passeata quando tem baderna, e estou aqui!
Sou uma pessoa normalmente calma e pacífica(exceção quando alguém mexia com meus filhos!).
 Não, não sou alienada, preguiçosa, ao contrário, sempre cumpri com meus deveres, sempre fui muito séria e responsável, desde criança, acho que é coisa de berço, mas nunca fui de participar de passeatas e, pelo meu modo de ser e tipo de sensibilidade, achava sempre melhor fazer a minha parte para cooperar com o todo e continuar com esperança. Tenho a mania de acreditar que, se cada um fizer sua parte ( ou fizesse, no caso dos políticos deste maravilhoso país), todos poderíamos ter direitos respeitados, inclusive o de ficar curtindo a família ao invés de ir às ruas reclamar pelo que outros deixaram de fazer.  Deixava sim, os protestos veementes para quem tem mais jeito para isto e pensava que estas pessoas tem mais ferramentas para fazerem um protesto alcançar seu fim. Eu tenho também minhas ferramentas para outras coisas terem êxito. Cada macaco no seu galho, ué! Mas, paciência tem limite, amor e esperança acabam se não forem alimentados...
http://www.pontodopowerpoint.com/2013/06/o-povo-acordou.html
Parabéns Yolanda pelo post, e Dea Maia pela arte digital!

 Parabéns Boechat ! É isto mesmo, NÃO AGUENTO MAIS é o grito para quem esteve tanto tempo em paz e viu esperanças frustradas!!
" Eu Odeio passeata, estou aqui" - era um dos cartazes!!
 Tentar adaptar-se e preservar a paz, não pode ser para sempre, se o fato de calar leva o outro ao abuso. Às vezes é preciso gritar, falar, mostrar que estarmos caladas não era por covardia ou ignorância, era até por idealismo,heroísmo ou esperança que foram frustradas. Então, também estou aqui!
Por que ainda precisamos gritar para conseguir respeito e viver em paz com dignidade? E ainda disseram que não havia um objetivo claro a definir a razão do protesto????
   O objetivo é sempre o mesmo quando se trata de lutar contra DOMINADORES ABUSIVOS : 
  - RESPEITO E DIGNIDADE!

Assim, quando mulheres pacíficas saem às ruas ou participam à sua maneira do protesto, é porque estão cansadas, indignadas!


Se quiséssemos USAR DO PODER para DESTRUIR, ou ABUSAR, seríamos iguais aos que superfaturam as obras públicas ou a todos os que ABUSAM dos que são generosos e querem apenas viver em paz, cumprindo com suas obrigações. Não! Não somos baderneiras, ou contestadoras  estamos "cobrando" apenas o que nos cabe por direito, como uma mulher COBRA de seu homem o respeito que a ela é devido! E é o homem covarde e dominador que vem com aquela história de que NÃO DEVEMOS "COBRAR" , porque eles sim, são comodistas e querem continuar na deles, como se fosse possível viver sem apoios. Dependemos uns dos outros e a harmonia também depende de cooperação dos dois lados!!! E estamos lutando mais uma vez por um mundo melhor para nossos filhos... e netos... eu temo revoluções exatamente por eles, pois são sempre os nossos jovens os sacrificados, por isto me rebelo agora, para que eles não se sintam sozinhos, para que eles possam viver num país com mais Justiça e MENOS CORRUPÇÃO IMPUNE !!!  Vera



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domingo, 16 de junho de 2013

O trem não espera...

 
 Acabo de ler um texto muito bom de Paulo Roberto Gaefke que uma amiga postou. Fala de viagens, e malas...
  Sou aquele tipo de pessoa que precisa de tempo para se preparar para uma viagem - gosto mesmo de arrumar a mala com antecedência, embora sempre tenha tido bom humor com a vida, o que me fazia muito disposta para viajar. Bom humor é fundamental tanto para nós como para a pessoa que temos como acompanhante. Paciência, jogo de cintura, disposição para fazer dar certo apesar dos contratempos, também.
  Agora que estou mais velha, reconheço que ando meio comodista, cansada mesmo de tanta agitação e tanto mau humor com o qual, muitas vezes, tenho me deparado. Confesso que muitas vezes, ultimamente, me sinto  insegura e se alguma viagem não acontece por algum motivo, acabo pensando que foi bom, sinto até certo alívio.
  A vida é uma viagem, como nos diz Paulo em seu texto. E há alguns momentos na vida em que até ouço o apito do trem. Neste instante, sei que, se me demorar para decidir e não arrumar uma mala básica, o trem não vai me esperar.
  Em minha vida houve momentos assim. Eu arrumei a mala e decidi seguir aquela grande viagem - foram os momentos "de virada" em minha vida. Grandes mudanças, fortes momentos, com suas consequências e encantamentos. A última grande viagem foi quando disse ao meu marido..."estou ouvindo o apito do trem e sinto que devo ir. Vem comigo ou vai ficar por aqui?" E fomos, para conviver de novo com parte da família. E deu certo, e minha alma foi renovada com a brisa do amor, da ternura, do sentimento de cumplicidade e companheirismo dos quais eu sentia falta.
  Nem sempre a gente pode partir para uma nova viagem. Ainda bem, pois para mim, agora, é mais seguro ficar. A idade nos torna cuidadosos, mesmo que em muitos momentos ainda nos atrevamos a sonhar com alguém a nos convidar para a melhor viagem de nossa vida! Mais velhos, somos cuidadosos, mas ainda sonhamos!
  Apesar dos cuidados, há momentos em que é necessário partir para renovar o ar que se respira e recomeçar com nova disposição e possibilidades. Não me arrependo de meu espírito aberto para atender a intuição e chamado para as viagens que fiz. De qualquer modo, sempre que vou ou fico, minha alma procura pelas melhores paisagens e cantinhos onde eu possa me aconchegar - minha mãe dizia que sou muito conformada - não! apesar de comodista, acho que sou uma lutadora e faço tudo para, da minha maneira calma, conseguir encontrar o que me impeça de esquecer a ternura e sentimento de encantamento pela vida. Pois sei bem que não é fácil viver. É preciso ter coragem para mudar ou saber adaptar-se ao entorno. E, peço a Deus que sempre me permita ter boas intuições, ouvido atento ao apito do trem, e ainda a benção de uma boa companhia para as viagens, pois se há algo que acho um desperdício, é fazer uma bela viagem sem ter com quem compartilhar, com alegria serena e bom humor, os bons momentos que são bençãos mas não são eternos......

Foto retirada do Google imagens
Texto: Vera Alvarenga
E Texto de Paulo Roberto postado pela amiga Sissym :
 http://masquerade-sissym-blog.blogspot.com.br/2013/06/a-grande-viagem-e-mala-pequena.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed:+blogspot/NmNNk+(Masquerade)

sábado, 8 de junho de 2013

O amor daquele tempo...



- Como era bom fazer amor não se importando com os sons, com a hora, com o lugar da casa onde a vontade e o inesperado combinassem de se encontrar! pensou, lembrando do tempo em que seu amor vivia com ela.
   Mariana lembrou-se daquela época, logo depois que os filhos casaram. A previsão era de que viria o tempo do ninho vazio, de dificuldades para se adaptar com o marido trabalhando em casa. Entretanto, tudo era como sempre fora com ela, uma questão de ponto de vista. Era uma questão de escolher o ângulo melhor para se olhar, como ela fazia com suas esculturas. Deste modo, foram descobrindo o gostinho da liberdade, mesmo apesar de tudo o mais, da maresia, ventanias ou temporais.            E o redescobrir o mundo e fazer planos somente para eles, era algo tão novo que causava-lhe uma intrigante sensação de desafio e aventura a encarar. E havia o amor, muito amor. Somente isto ajudava a preencher o vazio do qual todos falavam e a encher de vida, uma vida que tinha muito ainda a desbravar.  
- Ah o amor!...
  Como era bom amar assim...e quando se ama, se tem a certeza de ter o céu tão próximo que quase é possível tocar! E tudo era uma questão de sentir e acreditar que aquele era o único ângulo possível. Quando se é jovem e o sangue esquenta a pele ao leve toque da barba por fazer e do beijo inesperado no pescoço, tudo acontece tão depressa, naquele instante os problemas desaparecem tão rapidamente, e o mundo passa a ser um lugar do qual nos ausentamos para aquele encontro com alguém, por quem vale a pena fazer planos para se viver.
- Ah! O amor!... e olhando para aquele objeto antiquado na estante, virou-o. Ficou a olhar a areia escorrer por ele, enquanto suas recordações a levaram para dias distantes... lá, muito atrás no tempo, este objeto servira para contar a passagem dos minutos enquanto a areia escorria por entre o vidro.
  Ah! O amor!... o amor daquele tempo em que a maturidade começava a tecer a trama que  leva fatalmente a  perceber o valor das coisas, e do que não são coisas simplesmente. E mesmo assim, ela ainda se sentia tão jovem, cheia do mais puro idealismo, da mais doce paixão.
- Não escorrestes por minhas mãos, sem que eu percebesse que és feito também do mais fino e puro ouro... que és uma dádiva do nosso próprio coração não só ao outro, mas a nós mesmos...

Foto e texto: Vera Alvarenga

quarta-feira, 5 de junho de 2013

A mulher da floresta...

   
  Havia uma mulher estranha, outrora bela, que hoje morava numa floresta. No interior do tronco de uma árvore muito antiga.
Por muitos anos, todas as manhãs abria sua janela para receber a luz do sol e ouvia o canto dos passarinhos que ali viviam. Ela os alimentava com o melhor que lhes podia oferecer. Então era feliz e achava que o sol brilhava um pouquinho também por ela, e que os pássaros também cantavam um pouco para ela, embora soubesse que era da natureza de cada um, fazer o que fazia.
   E ao preparar seu café da manhã, uma poção que tomava todos os dias, misturava suas coisas com a dos outros... 
   Assim, acrescentava um pouco do brilho do sol e algumas notas de um pássaro em especial em sua receita. Como se faz com vinhos ou perfumes, estas "notas", ela pensava, na medida exata, eram o que a fazia sorrir e enfrentar tudo o que o mundo lá fora trazia como desafio, tudo que pudesse de algum modo interagir com sua sensibilidade e jeito próprio de viver sua vida. Era no que acreditava. E ela se sentia forte e cheia de amor.
   O tempo foi passando e quase todos os passarinhos voaram para outros mundos. Um inverno mais rigoroso chegou, ela não se sentia tão forte e o sol não brilhava mais como antes. Nem o chá de maçã, vinho e canela bem quente podia aquecê-la como outrora. Ela pensou que ia morrer de frio e desânimo, sem a poção com a tal receita que tomara por tanto tempo. Já não abria mais sua janela para não congelar-se.
   Um dia, o vento inesperado abriu a tranca... o sol entrou... e ouvindo o canto de um novo pássaro, seu coração encheu-se de amor. E ela, que já não sorria, voltou a fazê-lo toda vez que ouvia a canção. 
   E novamente se pôs a misturar tudo - as suas coisas, o brilho do sol que para ela representava vida, e o canto do pássaro, que para ela era a inspiração que, como um sopro morno, esquentava-lhe a alma.
   Sem saber se cometia o mesmo erro ou se era próprio da vida, constatou que o amor que a sustentava, não podia brotar eternamente apenas da sua fonte interior. Para encher-se de amor, era preciso mais - o sol e o canto de um pássaro raro que lhe tocasse a alma, como amigo. E quando aconteceu, embora não tivesse a mesma coragem de antes, ao sair para fora, já não a incomodavam mais as buzinas, o trânsito, as injustiças, as grosserias e seu próprio medo, fruto de um tempo em que viveu reclusa e não se importou por faltar-lhe o alimento que a deixava saudável e forte. 
   O tempo passou. Ela já sabia que não bastava a sua capacidade de amar e seus próprios sentimentos, para encher-se de amor. O brilho do sol, no céu, era para todos, e brotava-lhe também incontrolavelmente do coração, quando estava feliz. Contudo, não podia fazer o pássaro cantar para si. Com medo que o pássaro fosse embora para nunca voltar, prometeu, a si mesma, tentar não misturar mais as coisas, esquecer aquela poção cuja magia transformava o mundo. Logo percebeu que repetia o que antes fizera - tentava agradar para receber amor. Talvez fosse o que todos fizessem, afinal de contas!
   Contudo compreendeu que seus sentimentos, se não compartilhados, eram apenas seus. Tomou posse deles e de seus desejos e descobriu que jamais poderia voltar a sentir-se segura e plena de amor como antes. Ninguém pode, quando perde a receita do amor. Entretando, há várias formas de amar e viver, quando se consegue manter os olhos atentos.  
   Mas em noites de lua cheia, ela ainda se deixava levar... tomava um líquido de sabor acridoce e, em pouco segundos, sentia nascerem-lhe as asas.... e sonhava que era ainda uma das mais belas e felizes mulheres aladas... e se deitava nos ombros do homem amado e adormecia embalada por sua respiração...

foto e texto: Vera Alvarenga

terça-feira, 28 de maio de 2013

Comemorando meus 62 anos!


 Como diz uma amiga, a Carla, se queremos comemorar algo, deixemos de expectativas e tratemos nós de agitar e criar a oportunidade para que nós e outros possamos passar horas agradáveis, brindando à vida.
E eu completo... e aceitemos com alegria os gestos de carinho que algumas pessoas espontâneamente nos oferecem.
  Eu acho que nunca fiz nada totalmente sozinha e independente de outros.
 Enfrentar a vida sozinha deve ser uma vitória, sem dúvida, mas eu, na maior parte das vezes, sempre a enfrentei em "equipe", seja por cumplicidade, seja por ter um sonho ou amor que me impulsionava, ou mesmo aprendendo com o outro.
  Hoje tive um dia maravilhoso, no qual comemorei meus 62 anos. Fui com a Lika ( minha nora) no cabeleireiro ( escondi todos os meus cabelos brancos...hehehe...que há uns 8 anos vieram pra ficar...rs..). Recebi carinho dos familiares e amigos, desenhos dos netos, tive um jantar delicioso, e um bolo delicioso que meu marido fez questão de me dar de presente, conversamos sobre a vida e brindamos a ela.
 Sim, hoje eu agitei e me deixei levar. Todos tivemos um dia e noite maravilhosos que termina com serenidade e gratidão, por minha saúde, por minha capacidade de poder "ver" o bem que posso absorver de tudo que me cerca, de reconhecer que o que passou me ensinou a ser mais forte e foi uma prova para burilar meu caráter, ensinando-me mais ainda sobre a humildade de reconhecer que, nem sempre a gente pode reagir a tudo da melhor maneira e que também cometemos muitos erros, mas que, mesmo assim, a vida pode ser melhor sempre que estivermos dispostos a vivê-la com comprometimento e valorizando o que há de mais importante nela.

  Foi sim, um Feliz Aniversário ! e quero agradecer a todos os amigos e familiares os seus votos.Beijos!
  

segunda-feira, 27 de maio de 2013

50 tons de cinza... uma opinião.


Resolvi escrever sobre algo que tenho evitado, embora já tenha conversado com algumas pessoas a respeito. É sobre o tema desenvolvido no livro : 50 tons de cinza.
  Meu marido comentou comigo sobre uma entrevista em algum lugar, com alguém que ele não se lembra, onde se falava que as mulheres gostam de ler livros do tipo, e porque.
  Nada tenho contra o livro, é uma fantasia e foi feito para vender. Lê quem quer. O que me assusta é a interpretação.
  Uma vez que minha opinião é diferente da opinião de alguns,já vou avisando que li o livro sim. A gente lê esperando encontrar na próxima frase algo que nos satisfaça o romantismo, o desejo de sermos desejadas e amadas ao mesmo tempo! Contudo, esta frase não vem. É frustrante e talvez, por um truque comercial, a gente compra o 2º livro esperando o mesmo. Gostei de ter lido, mas fiquei tremendamente preocupada! Comprei o 2º há mais de 5 meses e ainda não o li. Vou fazê-lo quando e se tiver tempo sobrando. Mas confesso que espero um pouco mais de conteúdo, pois em se tratando apenas de pornografia, então há filmes e estes, só para ver a dois, seriam melhores ( embora não se aguente por muito tempo...rs..).
  Afirmo, então, que minha opinião não é a de uma mulher recalcada, complexada sexualmente falando, ou que desvaloriza a vivência e o prazer sexual como algo pecaminoso, ou de menor valor. Ao contrário, sou plenamente realizada neste assunto. Se algum dia pensasse em me separar de meu marido, como já aconteceu, nunca seria por este motivo, por sentir-me insatisfeita por este motivo, uma vez que o relacionamento sexual tornou-se com o passar dos anos, um dos pontos altos de nosso relacionamento. Muitas vezes, era graças a isto e ao amor, é claro, que as dificuldades quanto às outras diferenças eram vencidas ou contornadas, além do carinho, evidente, que sempre senti por meu marido.
   Então por que me assustei com a leitura do livro, e alguns comentários no Face, de alguns rapazes mal avisados e a amadurecer ? É porque fiquei com muita pena de ver que um passo para trás está sendo dado em relação à qualidade de relacionamento entre homem e mulher, qualidade esta que foi duramente conquistada pelas mulheres de minha geração e das que vieram antes de nós.
  Se eu tivesse uma filha, o que lhe diria, então??? Que é verdade o que andam dizendo após a leitura deste livro?  Que mulher gosta de ser tratada como lá está escrito? Que se um homem a tratasse desta maneira, ela deveria agir como a moça do livro e pensar que isto é o correto, ideal pelo que devemos lutar e sonhar?
  Claro que não! E é claro que sei que alguma pornografia, fantasia ou algumas palavras ligeiramente picantes tem certo efeito, no local e hora apropriados, é claro. Mas não é o caso de se ter um relacionamento onde nada mais exista ou una o casal a não ser o sexo onde a mulher é humilhada, desrespeitada, e pior, seduzida a acreditar que isto é legal, uma vez que acaba sendo gostoso e ela aceita. Quantas crianças são seduzidas e estupradas pelo pai que soube explorar o fato de sexo poder ser "gostoso" ou por saber da dependência emocional de suas crianças?
  Para minha filha eu diria que, a dependência emocional sempre existirá, impossível que a evitemos totalmente e é coisa de ser humano, mas que será sempre melhor a opção de nos apegarmos emocionalmente a alguém que nos trate com respeito, carinho...muito carinho...e que, para sentir prazer e mesmo chegar ao auge do gozo do prazer, não precisa fazê-lo às custas de humilhar a companheira. Isto jamais se justifica! Que à mulher se deve o prazer, tanto quanto proporciona! E diria mais à minha filha! Que não confunda abuso com acordo... e jamais se cale a respeito disto.
  Peça ajuda a uma pessoa de sua confiança para conversar e esclarecer as coisas, e ajudá-la a pensar, se isto estiver lhe acontecendo. Pois somente os mal intencionados pedem-nos segredo de suas ações "contra" nós. Uma mulher sem experiência sexual ou da vida, pode aceitar muitas coisas que em nada as dignificam como seres humanos que são, tão valorosas quanto é o valor que a sociedade tem dado aos homens. Segredos entre os casais é algo delicioso e confirma o comprometimento e cumplicidade, mas então, não caberia aqui, que a mulher fosse humilhada, ou seduzida a fazer o que, de outro modo não escolheria para si. E ser humilhada, seja em que assunto for, acaba por plantar uma semente de raiva que, a despeito da presunção de uma mulher em pensar que está acima deste sentimento, mais dia menos dia, vai desencadear um alvoroço e sofrimento, e culpa.
  Quando o sexo não for mais tão importante, ou mesmo que for, não puder mais ser exercitado com antes (o que acontece com todos..rs...), o que sobrará de um relacionamento que se constrói apenas nestas bases?
  Assim, para  minha filha eu diria...Sexo é bom, muito bom, uma das maiores gostosuras da vida!
  Mas, se você quer ser amada ou respeitada, não alimente atitudes que lhe pareçam abusivas ou grosseiras, que não lhe dêem prazer sem diminuí-la como pessoa, porque o preço será alto. Você é que se tornará fechada e grosseira, com o tempo.  Sexo, carinho e emoção são coisas que nós mulheres costumamos juntar numa receita que nos deixa apegadas emocionalmente e, com nosso instinto maternal, nosso dom para o romantismo e nossa compaixão acaba por se transformar em amor. Fantasiar e fazer sexo não é algo para nos deixar envergonhadas. Só nos sentiremos assim, quando no fundo soubermos que estamos vivenciando um abuso. Porque a vergonha vem da culpa de não conseguirmos nos afastar de uma situação que não nos deixa felizes e serenas.
  Minha filha, diria eu, faça tudo para proporcionar prazer a seu companheiro, mas tudo é o que dá a VOCÊ prazer em viver, e o que te faz sentir-se segura e sair pisando em nuvens, com seu olhar para o alto, e não para baixo. E se pergunte: Por que, em nossa brincadeira sexual, meu companheiro não pode sentir prazer por estar comigo, a mulher que ele escolheu, sem precisar me desprezar como faria com uma puta da qual ele nem se lembraria o nome?
  Então, meu receio é que esta juventude que está aí, já tão carente de limites comece a pensar que toda mulher quer ser abusada, e passar a não acreditar mais quando uma jovem ( ou nao) se negar a fazer o que ao homem parecer indispensável para que ele sinta prazer. Então estaremos muitos passos voltando para um tempo em que mulher era apenas um objeto!!! E é preciso responsabilidade e cuidado pois este tempo não deveria voltar jamais!!!
  Não é porque os absurdos estejam acontecendo, que devemos aceitá-los, não é?
Texto: Vera Alvarenga  

Brindar à vida, é sempre bom...

 - Nossa, que tarde, porque não me acordou?..rs..
 Mas vamos assim mesmo, decidi. Sim, é isto que quero de presente de aniversário...me leva até lá?
   E fomos. Pela segunda e última vez, porque acho que não pretendo voltar mais ao Horto. Já deu, e "é longe pra dedéu" ! Quase uma hora, de carro. Mesmo com um bom motorista..se não fosse meu marido levar-me, não iria nunca! Sou o tipo de "mulherzinha" dependente para estas coisas...
  Passamos no Supermercado e comprei um lanche para o Pic-nic. Há quanto tempo eu não fazia um! Sem toalha xadrez, que não me aventuro a sentar-me no chão, com meus 62 anos se aproximando...
  O lugar é lindo. Tirei as fotos que queria.
Assim comemorei no domingo, de uma maneira simples e econômica, o aniversário que se aproxima.
O marido gostou de ter ido ( aliás, confesso com orgulho que nunca o levei a fazer algo que se arrependesse, no final das contas...rs...).
Conversamos com mais dois casais que também achavam que, podermos ver aquela paisagem era uma benção de Deus. Eu, com certeza, tenho motivos de sobra para pensar assim. Meu marido conversou mais, eu fiquei mais com minhas fotos e minha calma meditativa... que bom ter saúde para estar ali ( só não sei se amanhã vou andar sem manquitolar um bocadinho.. de tanto que andei!).
Umas coxinhas com catupiri, risoles de palmito e um refri. Delícia de almoço, depois de caminhar devagar sob as árvores, por uma hora, tirando fotos e admirando a natureza. Teve até pipoca doce, daquela vermelha, que comprei na saída do parque, e eu adoro, me lembra a infância!
  Amanhã mais um dia. E, no final da tarde, com certeza vou levá-lo para tomarmos um cafézinho logo aqui ao lado, numa das cafeterias - Fran´s Cafe´ ou Kopenhagen. Minha nora me levou lá um dia e eu tomei um café com chocolate delicioso...
Finalmente consegui postar estas fotos, depois de sofrer um bocado aqui no meu windows 8, onde não sei lidar com as fotos do modo fácil de antes. Acho que vou mandar colocar o windows XP no meu computador novo, porque percebi que, quando a gente fica mais velho, é melhor simplificar as coisas, não cansar muito a cabeça e não perder muito tempo fazendo o que antes fazíamos na metade do tempo, mesmo que de uma forma mais antiquada.
Amanhã será outro dia, e eu pretendo vivê-lo da melhor forma, se me for possível. E na 3ª, à noite, comemorar com familia e netinhos o meu niver, numa pizzaria, e tomar uma cervejinha geladíssima. Que bom quando podemos comemorar e brindar a vida! Que bom quando podemos incluir na comemoração as pessoas que a gente ama...se eu pudesse incluiria também alguns poucos e bons amigos que me são muito caros e estão no meu coração.
Texto e fotos: Vera Alvarenga.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Apenas um aniversário...


Nos próximos dias estarei fazendo 62 anos. Não é pouco!
Ontem, vindo da casa da norinha e ainda influenciada por seu bom humor, conversei sobre a comemoração de meu aniversário, que é em seguida ao aniversário de casamento. 41 anos de casados!
- Podíamos fazer alguma coisa juntos... você pensa e então, me faz o convite ?
- Ah, não tenho jeito pra isto não.
A conversa evoluiu nas tentativas, mas não nas respostas.
- Pensa em me convidar para alguma coisa..
- Não tenho idéia...
- Qualquer coisa.. podem ser 3 idéias e eu escolho uma..tá bem?
- Você sabe que não sei fazer estas coisas.
- Ah tá, você só sabe receber estas coisas. Escute, pelo menos diga que vai tentar. É só pensar no que gosto ( nem eu mesma sei muito bem do que gosto de fazer por mim, mas é uma lista pequena, não seria dificil !).
   Acho que nós todas, mulheres, somos parecidas( como disse a Maria em seu post). Bem desejaríamos uma surpresa, ou algo espontâneo, ou na verdade, na verdade mesmo, queríamos ver no olhar dele o reflexo sincero do desejo e prazer de nos proporcionar algo que nos trouxesse alegria. E o mais importante ( no meu caso) ver que eles curtem estes momentos conosco! ( sejam como forem estes momentos!)
- Não precisa ser viagem, claro! Nenhuma noitada no Motel nem uma noite dançante,como antigamente. Esse tempo passou. Tudo bem, nem o churrasco pro pessoal. Agora não dá, eu sei, tudo bem. Nem o cinema, que você não gosta. Nada complicado. Coisa simples... Um lugar onde pudéssemos ir juntos, caminhar em paz, quem sabe até um convite pra você me levar ao Horto Florestal, então? Você sabe como gostei de ir lá tirar fotos, e é longe, eu não iria sozinha( não me aventuro a dirigir ao longe em São Paulo).
Mas o tom de voz já não era o mesmo. E o tempo passava mais rápido que no início da conversa.
- Prefiro que você vá numa loja, escolha uma bijou e eu pago.
Nestas alturas eu já estava brava. Tom de voz mais alto, indignada.
- Mas, puxa! podia ser um simples convite para irmos aqui ao lado, a pé, tomar um café numa destas casas deliciosas que tem aqui e nunca fomos! E você sabe como gosto de um café com creme! Será que antes de morrer a gente pode curtir tomar um cafezinho com creme e canela aqui ao lado? Será que a gente não pode ser feliz com tudo de bom que tem bem pertinho de nós? Caramba! Sempre fui tão calma e cordata a vida toda. Será que você não podia resgatar aí um pouco daquela sua energia e disposição de quando era mais novo e não parava em casa, não deixava de comemorar nem um só aniversário seu ou do sócio?
  Nossa, vou fazer 62 anos! E não sou a velha que pensei que me tornaria - mansa, resignada e espiritualizada. Às vezes fico p... da vida. ( Só às vezes). Tantas rugas, tanto tempo passou e eu ainda não me acostumo com o "não sentir entusiasmo em apanhar os frutos ao alcance no próprio quintal!"  Não me conformo com o desperdício de recursos. Me assusta ter de sonhar, quando seria possível realizar!!
  Perguntaria a qualquer um - O que adianta ficar recordando de quando era menino e junto com outros fazia coisas gostosas que ficaram na lembrança, se hoje, você não faz mais nada do que ainda lhe é possível? Não é legal colocar a felicidade longe de você, num tempo em que não a pode mais alcançar. Deste modo, priva a si e a quem está ao seu lado e o ama, de compartilhar momentos reais de uma felicidade que precisa ser construída e cultivada.
  Por que só sentir prazer com o que precisou conquistar sob pressão, em grandes desafios? O que lhe é dado não é bom? Por que não se pode valorizar o que se tem e curtir a vida a cada fase de vida, com as possibilidades ao alcance? Outras pessoas há que precisam se conformar em apenas sonhar com a felicidade, por que não tem os recursos, ou os companheiros se foram.... E ainda estamos aqui.
  E eu me dei conta de que, se considerar que felicidade é sinônimo de grandes coisas como saúde e tranquilidade, estou muito feliz, no momento, e então me acalmei - marido em casa, ambos com relativa saúde, aposentados, cada um em seu escritório com liberdade para escrever o que desejar, tarefas de casa divididas, alguns últimos desafios da vida sendo vencidos pouco a pouco, uma noite no final de cada dia para recobrar forças e esquecer das diferenças e discussões, às vezes pra sonhar, enfim, uma vida finalmente tranquila. Mas...(eu devo ser, de fato, a pessoa que contesta, como diz meu marido, as coisas que são feitas apenas porque estão pré-estabelecidas)...
- Mas... o que fazemos das pequenas coisas e gestos que poderiam adoçar a vida e nos fazer curtir o que poderia haver de bom nela, apesar de tudo o mais que temos de enfrentar? Por que não perceber a responsabilidade de cultivar a alegria das coisas simples e colher frutos de ternura? Viver o presente da melhor forma é sempre nossa maior conquista!
  Talvez os homens, principalmente os antigos, não gostem muito deste nosso modo de pensar. E então fico imaginando se eles compreenderiam melhor se pudessem lembrar-se da diferença entre se fazer sexo simplesmente por fazer, ou de se fazer sexo de forma apaixonada, como quem curte a vida e o prazer que pode proporcionar ao outro e a si mesma, e de quando ambos decidem fazer daquele simples ato, um brinde à vida e ao amor...
Texto e foto: Vera Alvarenga  

terça-feira, 21 de maio de 2013

Um urso na floresta...

Ela era tão tola, que doía.
Toda manhã ela ia ao seu jardim em busca daquele olhar...
E nada mais era além de apenas um olhar. Nada mais significava de concreto ou real. Contudo, ela ou as circunstâncias uma vez tinham feito deste olhar um momento especial de alegria, que em certa ocasião e, quando as ondas do mar a deixaram enjoada, lhe serviram de bóia, e a levavam por instantes a uma ilha bem próxima ao paraíso. E na ilha havia frutos que lhe devolviam a energia.
   Assim ela tinha experimentado esta vivência e aquele olhar. Tudo com uma luminosidade virtual de promessa, de magia, de coisa pré-determinada pelos deuses. Mesmo quando os deuses saíram voando em suas carruagens ou asas douradas, ela teve tempo de tomar para si aquele significado.
   Ou será que foi a magia do significado que tomou a ela? Mais provável isto, com certeza. Porque ela não precisava fazer nada, além de ver lá na caixa do correio o remetente, vindo de uma cidade não tão distante quanto a distância absurdamente intransponível que a separava daquele olhar, agora.
   E na caixa de correio, não eram mais palavras que ela encontrava. Apenas uma luzinha pequenina, verde, que piscava mostrando que ele estivera lá para vê-la. Somente isto. E neste quase nada de luz, ela simplesmente resplandecia, num sorriso interior que a fazia ter um dia ainda melhor do que normalmente seria. Tudo porque era tola. Tudo porque o significado que nem ela mesma compreendia, a arrebatara uma vez, quando foi deixada à deriva. Tudo porque uma vez foi salva da tempestade, num dia que ficava mais distante conforme o tempo teimava em passar com sua constância e a persistência do sempre...
Nada mais era real ou seria para ela, sem aquele pequeno sinal. Será que fora, algum dia?
Não se importava em responder tal pergunta, pois pensar nisto a deixava triste, justo a ela que sempre tivera o dom de transformar tudo, mesmo o que parecia morto em algo que podia renascer e viver de algum outro modo. E ela já estava ficando muito velha para tentar explicar ou entender todos os significados.
- Cada um com seus vícios, apoios, sonhos ou truques, pensava ela. Afinal, eles nos ajudam a transpor longas distâncias em mares bravios, ou planícies ressequidas, até que tudo não passe de um momento que o vento levou. Ela amava o vento e a brisa, mas não o vento que levava tudo embora.
  Então, lhe restava o que guardara em seu coração - um sentimento de lealdade a um gesto que não mais existia, mas do qual, a lembrança alimentava, como outras doçuras de sua vida, a parte terna e doce de si mesma. E ela não queria secar como as folhas que caem no outono, mas como a árvore cuja seiva, de tão doce, poderia ainda alimentar aquele urso da floresta. Aquele que todos conhecemos e mora nas entranhas de nossa própria terra, e fica raivoso quando faminto, ou quando algo ameaça seus filhotes ou aquilo em que acredita. Pois foi para isto que fora criada. Para aprender a descobrir em si, alimentar  e resgatar a doçura daquele urso fêmea que, de outro modo, seria capaz de destruir o que havia de belo na floresta e em sua própria natureza...
Texto e foto: Vera Alvarenga
  

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Um dia especial marcado no calendário...


Ela estava distraída olhando para um calendário...
- Quem é você? ( uma flor interrompeu seus pensamentos).
Desinteressadamente respondeu: - Sou uma barata.
- Não me parece. Você esta a dirigir o olhar deste calendário para o céu e vice-versa, das outras vezes que a vi, seus olhos pousavam interessados em detalhes que uma barata não notaria. Baratas tem a visão achatada, não é? Não olham para o céu, pelo que sei. Por que assinalou aí o dia de hoje?
- É um dia especial para alguém especial que conheci, certa vez. E olho para o céu porque fico imaginando enviar-lhe um pensamento azul de luz morna e macia, e meu desejo de que esteja bem. Peço aos anjos que o acompanhem sempre.
- Ah! Baratas não pensam assim! Certamente então o que vejo aí no chão são algumas de suas pétalas e não as asas de uma barata.
- Bobagem. Uma vez, fiquei fina e marrom. Porque me decepcionei muito com quem amei por tanto tempo e ainda amo profundamente mesmo que de forma diferente, tudo porque ele considerou que sou uma barata. E assim o fazendo, deixou-me tão carente que meu coração rodopiou. E para meu espanto, tive uma doce vertigem que me derrubou e me levantou aos céus, ou vice-versa. Depois, caí outra vez. Por isto, senti muita raiva dele em contraponto ao antigo amor. E eu não costumava sentir raiva por ninguém. Foi demais pra mim conviver com estes dois sentimentos que eu considerava inconciliáveis.
- Ai ai... quanta incoerência. Flores não pensam assim. Você não é totalmente uma de nós. Contudo, barata também não é. Não que eu tenha algum preconceito contra as pobres bichinhas. Sabia que elas são indispensáveis para fazerem a decomposição do que morreu?
- Nheca... decomposição? Não podemos falar de transformação? Processo indispensável a todo renascimento...como uma Fênix...
- É. Você fala de um jeito que estou começando a supor que, apesar de sua mimetização, não passa de uma... de um...
- Flor! Veja bem, não podemos falar tão friamente da morte, seja lá do que estiver morrendo. A morte me dói. Ser uma barata agora até me conviria uma vez que tenho enfrentado tanta "transformação", gente que parte, sentimentos que se transformam, outros que renascem diferentemente...
- Credo, você fala demais. E põe emoção em tudo. Como desconfiei... é apenas um ser humano! E ainda por cima, mulher!
Texto e foto: Vera Alvarenga

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Alguns sonhos são assim...

Alguns sonhos a gente sonha sozinho.
Como o abraço que braços estendidos não conseguiram alcançar, como o grito no deserto que não teve eco, como linhas paralelas que nunca puderam se encontrar.
Às vezes são sonhos tão bons que a gente deixa ali, ou são eles que ficam colados no peito, como o reflexo no lago... uma imagem mais bonita de nós mesmos que um dia quisemos resgatar.
   Porque então, teria sido possível um recomeço de uma vida onde liberdade seria poder amar e ser o que se quer ser, sem motivo para desconfiar. Como poder dançar sobre o fogo sem se queimar, quando aquele que nos ateia fogo é o que também renasce de cinzas.
 
No início dói como ferida que demora cicatrizar. Com um certo heroísmo despretensioso, não nos deixamos anestesiar.

Depois de um tempo a gente deixa vir à tona, como lembrança nostálgica de uma bonita visão numa manhã azul de verão...

Foto e texto: Vera Alvarenga

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Rotinas, "espontâneamente" cultivadas, são fundamentais...


Viver dá trabalho. E viver sem rotinas dá mais, para qualquer um, aposentados ou não, todos precisamos das rotinas que nos facilitam as coisas. Mas estou pensando naquelas que vem de uma atitude que um dia foi novidade e espontânea, e depois virou rotina que só existe porque faz a vida ficar mais gostosa. Pequenas rotinas...
- Não é importante, diriam alguns. Se não leva a nada, pra quê?
- Ah! é sim! se é! são bem destas coisas que a gente sente saudades ou lembra com um sorriso, como se fosse uma trégua ou intervalo pra relaxar no meio a tudo o mais.
   Como a rotina que eu e meu amigo Antonio Carlos tínhamos uma vez por semana, ao voltarmos do atelier de escultura do Calabrone. Eu dava carona a ele até minha casa e ele continuava dali, sozinho o resto do caminho, não sem antes, durante o trajeto, conversarmos sobre nossas coisas. Falar de um projeto, comentar o tema em aula e mais raramente sobre algo mais importante da vida de cada um. Coisa rara a gente poder falar com alguém sobre o que quiser. E a gente tinha isto.
   Quando parei o curso, esta rotina foi abandonada. Normal, vida corrida pra cada um de nós e, quase já não falávamos mais. Que pena. Que mania a minha de não gostar de telefonar, de ser meio bicho-do-mato. E naquele tempo não tinha emails. Agora, o que não temos mais é o contato a não ser em pensamento. Ele, lá no céu, fazendo esculturas para São Pedro e eu aqui, não fazendo mais escultura nenhuma e há muito, sem meu atelier. A gente bem que podia ter mantido contato, só pra dizer um "Oi", "Bom dia!" o que anda fazendo, como foi a semana? Ah, tudo bem por aqui e não estou fazendo nadinha, já seria de bom tamanho. Ou, eu estou confuso, ou doente, vem me ver... Como eu gostaria de ter sabido.
   Tem coisas que fazem bem e não custam muito, e como eu costumo dizer às vezes, "põem um sorriso na nossa cara" e a gente bem que devia continuar a fazê-las. Não estou me referindo a uma porção de emails e frases vazias, no meio de uma correria só para se manter antenado ou ligado com milhões de pessoas ao mesmo tempo. E gosto muito de poder ter amigos virtuais, pois que entre eles, alguns se tornam especiais, mas isto é outra coisa. Estou falando daqueles por quem a gente tem um especial carinho, que a gente sente que são parte da nossa vida, e são a boa parte. Com eles sempre vale a pena a gente cultivar uma troca gentil de gestos que adocem a boca.
   Algumas rotinas bem que deviam poder continuar... Algumas valeriam a pena a gente criar...Ah, não faz mal que a gente tenha de criá-las, trabalhar nelas, se comprometer...é por isto que são boas.
   - E aí, vamos assistir a um filme por semana, bebendo vinho? Que tal um joguinho de cartas? Um bom dia pela manhã, uma vez ou outra, contando as novidades? Ou como aquela à qual, em casa, nos habituamos. Antes de sentarmos para o café da manhã, tem um abraço que gosto de dar... por tantos motivos e nem que fosse por apenas estarmos começando vivos um novo dia.
E um dia começou a ficar meio rápido... e é aí que a gente tem de ficar atento. Não vale fazer só por fazer, é como beijar olhando o futebol na TV!...rs....
   - E aí, dormiu bem? Uma simples mas interessada pergunta. E a mão, que nas costas tem de descer um pouquinho, interessada no abraço. Sim, assim mesmo que é bom, é assim que eu gosto. E entre sorrisos ele lhe dá um tapinha...de leve, e foi espontâneo. Viu só, como é bom "cobrar" pequenas atenções? Como à noite, antes de dormir, aqueles primeiros minutos no início do sono, deitada no ombro do homem que é nosso companheiro. Se não fosse isto, do que teríamos saudades quando um viaja e o outro fica? das brigas, grosserias, discussões? Claro que não. E do amigo que sumiu ou morreu, nos lembraríamos do que?
   Algumas rotinas, como o cafèzinho com minha mãe em casa dela, deixam uma saudade boa... sempre valem a pena, porque são especiais. É a melhor coisa que fica do que vivemos com alguém. São as boas lembranças, que dão mais sentido e nos confirmam que estávamos comprometidos com os que queríamos bem. Não é?

Foto e texto: Vera Alvarenga 

sábado, 20 de abril de 2013

Diálogo com o Diabo...sem acordo.

   
   Lendo uma crônica bem humorada de Luis Fernando Veríssimo a gente não pode deixar de entrar na história e imaginar-se ali, como naquele diálogo tentando um acordo com o Diabo.
   Já estou até vendo as duas secretárias dele cochichando entre dentes e riso debochado, ao mesmo tempo que levam o espelho embora:
- Falsa! Não quis ser jovem e bonita outra vez?! Pois sim!
   Mas a coisa não é esta. Ser ou não ser, não seria a questão aqui, pelo menos não comigo. Comigo seria na base do sentir. O que queria mesmo é que, estando com meu companheiro, eu me sentisse especial e bonita...que ele me achasse linda sorrindo, tendo eu rugas, ou não... Afinal, sou avó, não me ficaria bem a mesma cara dos quarenta.
- Ah, então você quer algo especial! Posso providenciar, imagino que o capeta me diria.
   Certamente que teria de ser especial. E tem mais, eu ia querer algo pra ele também.
- Isto já não costumo fazer. Dois por um preço só? Cada um pede para si e eu atendo, é o que faço. Não trabalho com procuração.
   Você sabe como sou... algo só pra mim? De que me adiantaria?
- Só por curiosidade, o que me pediria caso eu resolvesse abrir uma exceção?
   Simples. Que ele, estando comigo, pudesse também sentir-se jovem e bonito. Isto é a parte mais fácil, nunca tive dificuldades nisto. Contudo, chega uma época da vida que parece que as coisas desmoronam, e a gente fica amargo consigo e com o outro, porque se cobra demais. Aí entra você. Seria para que encontrássemos nosso jeito de rir juntos, com uma disposição para o bom humor à prova  de vaidades e qualquer dissimulação. Já não tenho mais tempo a perder com rabugentices, críticas excessivas. Sabe aquela coisa da gente simplesmente se divertir, de fato, um com o outro, antes que você nos viesse buscar?
- A..ha...Bem, diversão mesmo, você sabe... aí tem de ter, huummm... como direi para uma senhora na sua idade, sem ser grosseiro? digamos, pelo menos um pouco de sensualidade. Não é pouco o que me pede, ainda mais para dois, depois dos sessenta. A senhora poderia ser mais específica?
   Claro que não! Sem detalhes. Disto, com bom humor cuidaríamos nós, a nosso modo, afinal, teríamos prazer de estarmos juntos lembra? Então, o resto seria por nossa conta.
- E risco?
   Claro! Você crê muito pouco na criatividade e flexibilidade humana, não é mesmo? Mas não o culpo. Então seria isto, para nós dois... estarmos juntos sentindo prazer em viver, sem frescura, com delícias e ternura.
- Interessante a conversa, mas como disse no início, não costumo assinar contrato com um, para satisfazer a dois. E além do mais, o que me pede é como que um milagre. Não é bem da minha alçada. E quem me garante que ele iria se comprometer de fato, querer a mesma coisa que a senhora? Não tá se achando muito poderosa pedindo algo por ele? Quando eu viesse buscá-lo seria capaz dele recuar, e ainda me dizer que foi enganado!
   Pois é, se não dá pra colocar ambos na mesma canoa, nada de acordo meu caro. Não é por ora que me comprometo a por meus pezinhos na "barca do inferno".

Foto retirada do Google.
Texto: Vera Alvarenga, inspirada por "O que eu pediria ao Diabo" - Luis Fernando Veríssimo.

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