sexta-feira, 4 de março de 2011

O grande o e pequeno silêncio...

 Ao ler um texto de Clarice Lispector, no qual ela fala de um grande silêncio,refleti sobre o como ele me afeta.
O grande silêncio? Sinto falta quando não o tenho! é nele que medito,renovo energias,sossego a alma e a mente curiosas. As respostas? Vem depois dele, ou apenas a tranquilidade do sentir-me novamente centrada. É o pequeno silêncio que hoje pode me incomodar- aquele que se mostra no virar das costas de quem se afasta, porque encerra o que poderia ser um diálogo. Mas me irrito comigo mesma, por não tê-lo ouvido há mais tempo, já que sempre esteve ali.
Mas o grande silêncio...este não temo! Eu, às vezes me assusto se logo após sair dele, me deparo com alguém em ritmo ansioso, que com voz de pedra esteja a cobrar algo que só lhe posso dar, se entro novamente no girar da pequena roda gigante do hamster ( sabe qual é? aquele brinquedinho que colocam na gaiola do ratinho, que gira e gira?). E hoje, quando isto acontece, num rápido instante me lembro que já sei o que fazer e ainda me dá tempo de marcar com ele, o silêncio, meu próximo encontro.

   Durante o grande silêncio da noite, olho ao meu lado e ao ver quem ali está, meu coração se enche de paz, porque neste silêncio nos encontramos e eu me lembro o quanto o amo e quanto o amei. 
   No grande silêncio da noite hoje, posso fechar os olhos e ver um rosto no sonho de amor que idealizei, que nada mais é do que um sonho, mas está na lembrança como algo que um dia já tenha vivido ou desejado tanto, que talvez ainda que seja em sonho, possa encontrar...
  
Texto e fotos : Vera Alvarenga

quinta-feira, 3 de março de 2011

Minhas mãos...

   Minhas mãos não são como "mãos de pianista", delicadas e elegantes com seus dedos longos e finos. Aliás, só toquei piano por poucos anos. Ao contrário, elas são pequenas, dedos largos, próprias do que sou - uma artesã. Já fiz muito com elas, como qualquer um de nós, nos dias rotineiros que tecem a vida.
  Com elas, acarinhei os que amava, cuidei deles e de mim, fiz curativos para eles e para mim mesma; com elas dei apoio e nelas me apoiei, mas também as estendi e busquei o braço do homem amado, para me sentir mais segura e evitar um tombo. Elas enxugaram lágrimas, de alguns poucos amigos, as minhas e as de meus filhos homens, quando pequeninos, e a eles ofereceram segurança nos primeiros passos. Com elas plantei minha primeira árvore, um Ipê, e depois muitas outras, e plantas e flores, e esparramei sementes...
   Segurando pincéis, com elas pintei um mundo novo em quadros e paredes. Com firmes toques numa máquina de escrever, daquelas antigas, escrevi meus primeiros livros infantis, que foram publicados. Juntando areia e água, construí castelos na areia, o que não me agradou, porque prefiro o que possa ter alguma permanência. Segurando uma pequena máquina à altura do meu curioso olhar, hoje, guardo para sempre o que me encanta, enquanto com um clic apenas, minhas mãos se tornam minhas cúmplices neste encantamento.
    Descobri que as mãos, além do mágico poder de criar, tem em si mais que isto, o poder de transformar, pois são feitas de modo que a tudo podem tocar e envolver. E seu toque pode transformar, dar nova vida! Trabalhei com elas tocando as pessoas com massagens terapêuticas, o que as ajudava a sentir seus próprios limites (logo que eu comecei a sentir os meus) e sua primeira realidade - o corpo. Depois, com o Reiki, fui para um trabalho mais sutil. Contudo, neste momento, confesso que me assustei, pois não me senti à vontade para afirmar que aquele toque tão suave, poderia trazer tantos benefícios como na verdade acredito. Então voltei a trabalhar com o que mais me colocava à vontade e era especial para mim - "a transformação" - modelar, pintar, criar, transformar o barro em esculturas e peças de cerâmica. Com minhas mãos, catando cacos,  e sempre com ternura pois acredito que é esta energia que deve acompanhar a criação, fiz mosaicos.Juntando as mãos de muitas crianças e as minhas, fizemos painéis que ficarão por anos levando a nossa mensagem até o futuro.
  Elas também foram fortes, para carregar pesos e fazer os trabalhos mais desagradáveis quando necessário, como todos nós somos obrigados a fazer. Sempre tive consciência de que nossas mãos são muito especiais. Senti mais fortemente isto, quando há 10 anos atrás, fiquei algum tempo sentindo muita dor, ao fazer com elas tudo que antes fazia, sem problemas. Fui me adaptando e criando novas maneiras de trabalhar, poupando-lhes esforços demasiados. Talvez elas fossem, afinal, mais delicadas do que eu supunha!  Ficou muito claro, que eu e elas precisávamos nos movimentar em outra direção, ou devíamos fazê-lo com maior suavidade ou em outro ritmo. Pode ser que a energia que direcionamos, como uma flecha, precise encontrar seu objeto apropriado, que a receba e a transforme, e lhe dê pleno significado, maior do que apenas quando é lançada a esmo. Fui obrigada a respeitar novos limites e, assim o fazendo, entramos, eu e minhas mãos, novamente em sintonia. Foi neste período, que aprendi a estendê-las para pedir ajuda e ensinar a outros, o belo que elas não podiam mais criar, durante horas seguidas.
   Até hoje, minhas mãos me ajudam a tocar a própria vida. Poucas vezes elas ficaram vazias ou frias. Fiz e ainda faço muitas coisas com elas...
   ....só não pude tocar teu rosto como imaginei e sentir imediatamente as tuas mãos a envolvê-las, como eu gostaria...só não pude colocá-las em teu ombro em sinal de apoio, como eu queria, e sentir teu beijo nelas, como a me dizer o quanto consegues compreender e valorizar o que elas buscam... só não pude sentir tua mão firme e segura buscando a minha, num alegre e decidido convite para seguirmos juntos em busca do que tem maior valor,como eu desejei... no que talvez tenha sido meu último sonho, que em delírio me deixou febril de susto e vida... e que devo aprender a deixar ir...
   Mais uma vez aprendo com minhas mãos...nem tudo está ao alcance delas e no momento que desejamos!

Texto : Vera Alvarenga
Foto : retirada do google imagens.
   

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Carta de uma filha, a seu pai...

Resolvi postar aqui a carta que Juliana, filha do nosso amigo Toninho Scardua escreveu ao pai. É uma despedida e uma homenagem de uma filha amorosa ao pai...
Com respeito e meu carinho, um beijo para vocês.Vera.


Pai...
Uma semana sem você!
Como é difícil encontrar palavras para definir tudo o que você representa para nós. Isso por um lado é muito bom, pois mais uma vez me mostra o tanto de importância e qualidades que você sempre demonstrou ter.
Hoje, mais do que ontem e menos do que amanhã te nomeio LUTADOR. Um lutador constante. Um lutador que teve sempre muito bem definido o seu grande adversário: a própria vida. Digo que foi sua vida pois você lutou contra a pobreza, as barreiras, as dificuldades, as dúvidas, as dívidas e por fim a própria vida. Você foi um cara que desde cedo teve uma historia de luta, mas uma luta com a vida, sempre pelo melhor.
Você veio de uma condição de vida muito simples, que segundo suas próprias estórias, tinha apenas um sapato e um chinelo para dividir com seu irmão mais novo. Algumas vezes iam cada um com um, mas muitas vezes, vocês trocavam para os dois poderem ir de sapatos, enfaixavam um dos pés (para dizerem que estava machucado) e nele colocava um pé do chinelo e no outro pé o sapato. E assim os irmãos iam de pés invertidos para a escola, porém ambos de sapato como queriam. Este primeiro exemplo que me lembro dele ter me contado mostra um pouquinho de tudo aquilo que ele foi, realmente um cara sem limites, em todos os sentidos, para alcançar o que desejava.
Meu pai não se importava de chamar a atenção, ele não se importava de se expor, ele não se importava de fazer trapalhadas ele simplesmente se importava com uma coisa: a sua família. Família esta que Deus quis que se formasse e que meu pai construiu junto com minha mãe, família que em nenhum momento, por mais difícil que fosse, deixou-se abater. Sempre fomos unidos e assim continuaremos, pois aquilo que Deus constrói o tempo não destrói.
A criatividade e a sorte sempre foram suas aliadas em sua luta, luta esta para sempre proporcionar o melhor impossível em primeiro lugar para nós, mas ele nunca, jamais, se esqueceu daqueles que vinham em segundo lugar... sempre tentando agradar e ajudar todo mundo, ele não tinha jeito. Meu pai foi o maior exemplo que se pode ter para o velho termo “frita o peixe e olha o gato”, ele fazia isso como ninguém. Está certo que muitas vezes ele “fritou o gato e olhou o peixe”, mas posso afirmar com toda certeza que tenho em meu coração que em nenhum momento ele fez qualquer coisa, o mínimo que seja para prejudicar alguém.
A sua incomparável alegria de viver encantava e contagiava a todos por perto, e não havia que não deixasse escapar um sorriso com as sacadas dele. Uma pessoa sem igual.
Assim como eu disse para a mamãe, a nossa vida é como um grande e colorido quebra-cabeças, muitas vezes temos peças de uma mesma cor, do mesmo tamanho, mas nunca de um mesmo formato. Assim são as pessoas, muitas podem ser parecidas, porém nenhuma será igual a outra, nenhuma pessoa ocupará o espaço de outra pois estas “peças” são únicas e especiais, portanto insubstituíveis. Meu pai é, foi e sempre será uma dessas pessoas únicas e insubstituíveis, terá sempre seu lugar em nossos corações.
Enfim, a homenagem que eu queria deixar para você meu pai e para todos aqueles que gostam de você é que você foi um grande lutador, e até o último minuto da sua vida eu sei que você lutou com todas as forças que tinha para mostrar a sua bravura e vontade de viver. No entanto, todo grande lutador merece o seu descanso após enfrentar um grande adversário. Você enfrentou meu amigo, sou prova e companheira da sua luta e sei mais ainda que o grande lutador não se importa só com o resultado final do placar, mas sim com a vontade de vencer que faz com que permaneça no ringue até o último segundo antes do anúncio final. Agora, só resta dizer uma coisa: DESCANSE em paz. A sua luta deixou marcas e fez estória e, com certeza, ainda que tenha perdido a sua última grande luta, você é um VENCEDOR.
Esteja onde estiver sei que acompanhou cada palavra que escrevi, assim como cada sentimento que tive ao colocar no papel (ainda que virtual) esta mensagem. Fique em paz e contagie com sua alegria aqueles que aqui ficaram rezando por você, àqueles que aí onde está te receberam muito bem e àqueles que continuarão ao seu lado.

Até qualquer dia.
Com saudades e amor
Sua filha, Juliana




terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A textura da pele...

    Olhei para meu braço e notei umas bolhinhas. Está muito calor,é final de verão. Minha pele está tão fina, que no calor, ocorre este fenômeno – se eu olhasse para ela com meu olhar de zoom fotográfico, poderia dizer que se assemelha aquele corinho de porco pururuca, em dia de feijoada, que a gente tem que passar longe para não colocar no prato.
   - Nossa, que exagero! é só um minúsculo pedacinho no braço!
  Pensariam que sou exagerada. Não estariam longe totalmente da verdade, contudo meus olhos sempre viram as coisas como máquina fotográfica e me distraio com as texturas, já de longa data.
   Dizem que, quando a gente se aproxima dos sessenta anos, a pele fica mesmo mais fina. Todos os velhos são mais doces e sensíveis, então? Sim, sabemos que muitos são, mas alguns parece que não. E doçura ou ternura precisa de pele e toque, mas não depende só de sua textura. Pele é uma coisa tão incrível, que acho que temos duas...assim como temos dois corações, aquele que bombeia o sangue e o que guarda os afetos.    
   Sou uma pessoa sensível, por isto minha pele é assim tão fina? Ou por ser minha pele tão fina, é que sou sensível? Então, todas as garotinhas loiras de olhos claros, como eu nasci, seriam mais sensíveis e precisam de maior proteção do que as negras,por exemplo? Só hoje se sabe que peles clarinhas precisam desta proteção e que peles negras também são sensíveis, se não tiverem proteção ficam esbranquiçadas, rachadinhas. Parece que os extremos tem problemas. 
   O bom para resistir ao sol, seria mesmo uma pele morena, assim como a de minha mãe. Podia ter herdado uma pele com uma boa mistura dos dois,mas tinha de "sair ao pai"..italiano. Ela, pele mais grossa, resistente, pele de índio e brasileiro, como ela dizia, ou como a do meu marido, pele de espanhol, mouros, índios, negro,tudo misturado eu acho. Seriam pessoas menos sensíveis? Cheguei a pensar isto confesso, contudo, ao olhar o caderno de desenho de minha mãe que guardo até hoje, vejo como ela desenhava e penso que não poderia ser insensível. Meu marido, há um ano anda escrevendo... até poesias! Certo que sua preferência são textos críticos e poesias políticas, mas evidente que mostra sua sensibilidade em algumas cujo tema é mais apropriado ao romantismo ou espiritualidade. Como ficamos, então? Não sei. Há pessoas de pele mais sensível que outras.Tenho certeza de que, a forma como lidamos com a sensibilidade interior, é uma questão de grau e oportunidades, e que a textura da pele é, de fato, algo que indica nossos limites. Ela é o nosso próprio limite e  cada um tem de aprender como lidar com isto.
   Nossa própria pele, nos ensina muito. Quem é muito sensível,seja de que modo for,com qualquer uma das inúmeras cores de pele, precisa criar “uma pele mais grossa” para proteger-se contra o que pode ferir... “pero, sin perder la ternura, jamais”! Pois é ela nosso primeiro contato, com ela afagamos nossos amados, sentimos o outro, somos afagados, sentimos o quanto o ambiente em que estamos nos aconchega ou nos re..pele. Ela é nosso limite mais externo e o que primeiro partilha do que somos, mesmo com os desconhecidos.
   Por isto a pele de quem amamos ou queremos amar, quando está longe, vem a nossa mente e imaginamos um afago em seu rosto, um beijo na face. Temos saudades ou desejo deste contato.
   Este contato, como já foi repetidamente comprovado cientificamente, nos mantém vivos. Sem afagos, pele a pele, criancinhas não desenvolvem todo o seu potencial. Ao mesmo tempo, podemos lembrar como uma palavra ou agressões físicas, nos ferem passando pela pele, indo até a alma.
   Divaguei. Viajei na minha pele, em lembranças e em saudades. Lembrei até o cheiro “de pele” que sentia na mão de minha mãe, quando eu dormia num bercinho ainda.
   Sabe de uma coisa? Talvez nossa pele devesse ser capaz de se tornar lisa e macia ao toque, quando a oferecêssemos ao afago daquele que a gente ama, e escorregadia quando em outras ocasiões, se fizesse necessário... e rugosa, quando triste, e áspera, quando...enfim, talvez a pele pudesse mudar de textura, a um comando do pensamento!
   Será que se eu pusesse novamente em mim, aquele olhar de zoom potentíssimo, não veria isto acontecer, em alguns momentos?  
Foto e texto: Vera Alvarenga

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Homenagem a você mãe,mulher aquariana...

  Hoje,quero falar de uma mulher que conheci. Uma mulher aquariana.
  Nasceu no interior de São Paulo, há tanto tempo, (1923) no tempo em que as meninas, geralmente, quando queriam estudar depois do ginásio, faziam o curso "Normal", para serem professoras.
  Isto já era lá por 1940!! Tudo bem, mas ela não queria ser professora,não! E começou a fazer seus planos.
  Queria ir para São Paulo. Queria ser secretária... e logo que pode ir morar com uma irmã já casada, foi o que ela fez - foi para a cidade grande e moderna,que se parecia com o jeito dela,  prestou concurso, fez curso de datilografia e se tornou uma das mais rápidas secretárias que o serviço público já teve. Como ela contava e os amigos dela também, datilografafa ...humm...não sei quantas palavras por minuto!!( não me lembro, desculpe, mãe. Estou aqui a falar da "senhora" e não me lembro de detalhes! rs.....) Mas ela não precisava que alguém falasse por ela. Não mandava recado, era franca, não tinha esta coisa de falsa modéstia, tinha muitos amigos e amigas que a queriam bem, era respeitada no ambiente de trabalho. Bem, eu me lembro que era vaidosa. Se vestia bem, embora simplesmente. Sempre de salto alto e batom vermelho, lá ia todos os dias, andando 7 quadras a pé até a Av. Santo Amaro, onde tomava o ônibus até o centro. Morávamos em Moema, na época. Enquanto esteve apaixonada era também uma mulher apaixonada pela vida e era social. Quando se aposentou, os colegas lhe deram um anel de brilhante - era muito querida.
   Quase na mesma época que se aposentou,separou-se do homem que amava. Sofreu muito, mas levou a vida ativamente pois mantinha amizade com amigas leais que se encontravam para jogar baralho e conversar por telefone. Dizia que a gente tem de cultivar amizades.
   Era uma mulher independente, orgulhosa, com seu próprio salário, sempre querendo repartir despesas, ou pagar as suas,nunca tendo sido um fardo financeiro para qualquer um dos 4 filhos, mesmo quando nos últimos 2 anos de vida foi morar com uma das filhas ( eu!),por estar com câncer. Bem, o que mais me lembro que me fazia orgulhar-me dela, eram duas coisas: seu caráter honesto e seu desejo de viver! Namorou algumas vezes e apaixonou-se sériamente aos 72 anos! rs..........me confidenciou na ocasião:
  - Filha, estou me sentindo tola, como uma adolescente! Eu adorei vê-la assim feliz e a incentivei, claro!
  Bem, era minha mãe, uma mulher corajosa, trabalhadeira, moderna, honesta, forte, independente, que valorizava suas amizades, sendo leal com elas, e que, para o seu tempo, estava um pouco à frente... Hoje seria seu aniversário se estivesse viva. Aprendi muito em meu convívio com ela, principalmente nos últimos 2 anos de sua doença, enquanto esteve em casa e já lhe apareciam os primeiros sinais de alzheimer. Eu a amei e quando ela morreu, eu estava ao seu lado, junto com minha irmã. Ela não suportava depender de alguém. Após sua morte, senti que estava comigo mais do que antes, como amiga então, e que poderia compreender melhor o que me motivou a cuidar dela do modo como fiz (ela não sabia de sua doença,pensava que tinha apenas a diabete).
   Assim, hoje me deu vontade de tomar um cafezinho com ela, como fazíamos, mas depois, me lembrei que estamos melhor assim, sem limites que nos impeçam de compreender uma a outra. Beijos, mãe. Meus respeitos.
  Imagino como ela seria rápida aqui no teclado deste computador!!kkk.......

Foto retirado do blog: imotion.com.br e google
Texto: Vera Alvarenga
 

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Carta a um amigo...



Carta a você, meu amigo Toninho...
   Nossa, como o tempo passou rápido,meu amigo!
   Sinto tanto saber que você está sofrendo de alguma forma! Outro dia mesmo, mais uma vez lembrei de vocês e pensei:
   - Como é que o Toninho conseguia trabalhar com o Alvarenga?! hehehe...lembra como vocês brincavam sobre aguentar um ao outro? Ah, tempos bons, né ? ( depois que ficamos bem de grana, claro!?) Nós 4 fomos mesmo, heróis nas nossas vidas. E ríamos muito juntos, lembra? 
   Quero que saiba, meu querido Toninho... sempre vou ser grata a você, por seus primeiros convites e insistência para o Alvarenga me levar para jantarmos juntos em tantos restaurantes,lembra? Foi você que começou isto, com aquele teu jeito social! Você sabe, cá pra nós, o Cesar tinha aquele jeito de não me convidar para as coisas sociais, não dava o braço a torcer, mas era ciumento, possessivo ..kkk......
   Com a Valéria, então, aprendi bastante e a admirava, pois eu tinha vindo lá de Bragança, onde passei anos dentro de casa, sem empregada, só cuidando da casa, marido e filhos.. e com Valéria, aprendi ( ela não sabe disto, pode contar, viu!) que tinha o direito de me vestir melhor ( pelo menos ir no Shopping e comprar roupas no C&A!!), e que mulher podia dizer o que pensava,  até nome feio ou contar piadinhas, não era feio não! Bem, pra ela não ficava feio ( sou fã dela!), eu nunca tive jeito pra contar piadas, levava a vida muito à sério ( tonta!!hehehe), mas com vocês, ria muito, lembra?
   Depois, começamos a sair para dançar no Restaurante Metrô, em Moema,lembra? Ôh, tempo bom! Então, eu e o Cesar criamos este "bom hábito"! Agora não posso mais dançar não...rs....você sabe, a artrose dói aqui e lá também! rs....... Mas é isto que eu queria lhe contar, Toninho. Sem que você soubesse, você foi muito importante para mim ( e Valéria) e será sempre! Não foi só um amigo do Alvarenga, meu amigo lindo, mas aquele que por ser amigo do Cesar, deu-lhe uma incentivada a acordar para o bem que nos faria sairmos juntos. E foi sempre muito bom, para nós quatro! As viagens e tudo o mais onde estivemos juntos, foram bons momentos e é isto que faz a nossa vida valer a pena, não é mesmo? Lembrar que vivemos bons momentos e fizemos a diferença na vida das pessoas.
   Mais uma coisinha, meu querido amigo. Quando moramos 10 anos em Floripa, longe dos filhos e amigos como vocês, eu me sentia muito solitária, ia para o meu jardim e ali, vendo as flores, observando-as em suas texturas, nas infinidades de cores e formas, padrões de seus desenhos e perfumes característicos, admirando-as quase em meditação, pude sentir, pela primeira vez na vida, a presença de Deus próximo a mim, como jamais antes tinha sentido! Não era uma coisa que eu pudesse pensar ou explicar, só sentir. Por isto, meu querido amigo, sugiro... se é que não está tomando ainda, tome FLORAIS DE BACH. A vida deste médico é muito emocionante! Peça para Juliana te contar sôbre ele. E ele conseguiu compreender que nas flores, estão essências que podia usar para as dores da alma e das nossas emoções. Ele tinha cancer e percebeu que, as flores tinham em si, o que era mais sublime, espiritual e desenvolvido, digamos assim, das coisas da natureza... acho que uma energia do bem e do belo, que tem reflexo também dentro de nós e na própria energia divina.
   Bem, meu  amigo, quero te abraçar carinhosamente,beijar seu rosto e lhe dizer, obrigada Toninho, pelas inúmeras horas que passei de alegria em minha vida, na companhia de vocês!! Abraço também a seus filhos e à especial Juliana, que tenho certeza, são bençãos na vida de vocês dois.
   Para você, Valéria, meu carinho e solidariedade de mulher que compreende o quanto seu coração deve ficar espremido aí no peito, quando vê seu querido sofrer.
   Beijo, Toninho, fiquem com Deus...e meu desejo de que você consiga tranquilizar seu coração e que dores não te judiem, meu querido. Tenha a certeza de que seu amigo Cesar te gosta muito também.
  Beijos a todos
  Vera Alvarenga.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Aprender a nadar,aprender a viver...

   Como era bom estar na água novamente!
   Final de uma tarde muito quente. A água estava na temperatura ideal. Envolveu seu corpo, proporcionou prazer. Conseguiria atravessar a piscina? Há meses que não nadava e mal havia aprendido! Ainda tinha medo. Uma vez, engoliu um pouquinho de nada de água mas como não dava pé, tossiu, se engasgou, foi horrível. Não queria lembrar. Não podia lembrar, ou não chegaria do outro lado! Afinal a piscina não dava pé, a não ser no início...ou no final de todo esforço.
   Deu uma braçada e mais outra. Estava indo bem.    
   - Engraçado isto! No início as coisas são fáceis, não parecem oferecer risco.Sim, era uma armadilha, sedução, um convite que parecia levar à ventura desejada, mas então no meio do caminho, tudo ficava mais difícil, quase impossível. Ela tinha certeza de que não dava para desistir...tinha que chegar até o final. O final, apesar de tudo,sempre traz uma possibilidade de sucesso e é seguro novamente, mesmo quando tristemente for apenas o final. Mas é preciso chegar lá, ver a linha de chegada claramente, ver as possibilidades. É impossível ficar em luta o tempo todo, para se manter na superfície e não se afogar...calma...mais um pouco, mais um pouco e você consegue.
   - Nossa, como isto cansa, vou desistir... seguro na borda,descanso e saio daqui. Respiro aliviada, no meu ritmo, volto para minha rotina e pronto. Não, não posso! Concentre-se. Sinta o corpo, pense nele, na sensação boa que vai ser poder entregar-se sem medo. Como é bom isto!
   Ela pensou nele. Por que não? Serviria de incentivo. Fazer algo bom para si mesma, a fez lembrar dele.
   - Dele quem? Do corpo? Atenção, calma, respire... Pra que fui inventar isto?
   - Ora porque é bom! pense, como é gostoso sentir o corpo cheio de vida, fresco...
   - Quem é gostoso? Ele ou o corpo? ou estar com ele?
   - Nada disto, estar aqui! Quase se engasgou...teve vontade de rir de si mesma. Valeu! O escuro da raia demarcada, dos limites estabelecidos, tinha terminado. Então, faltaria apenas mais uma braçada, duas e ...
   Não aguentou, parou antes do final. Frustrada,tirou a cabeça da água, como se há muito não respirasse! e respirou como para se devolver à sua própria vida. Ar é pensamento,raciocinar... precisava respirar devagar...recobrar o controle dos sentidos, acalmar seu coração que disparava quando nadava e também ainda quando pensava nele. Pensar nele ainda a fazia sorrir dentro de si. Sentiu-se frustrada. Não queria desistir. Disto não! Mas não queria fazer feio, engasgar, passar ridículo... Ora, para o inferno seus medos! Olhou para frente. Piscina quase vazia. Liberdade para tentar, errar. Como era difícil aprender a nadar ( e a viver!), como era difícil coordenar a respiração, o racional, com a água, tão teimosamente macia e perigosamente emocional! Contudo, valia a pena. Se conseguisse  sentir-se segura, se pudesse entregar-se totalmente a ele, sem medo...
   - A ele quem?
   - Ao coração, ao corpo, ao amor... juntar tudo e ela mesma, à vida, à emoção, à água... seria tão bom.
   Respirou fundo, procurou o salva vidas, estava lá, lá longe. Colocou novamente nos olhos o que a faria enxergar melhor dentro de tanta água, tanta emoção e foi, entregou-se ao seu exercício em busca do prazer de viver! Mesmo que tivesse de aprender a nadar sòzinha!

Foto e texto: Vera Alvarenga
   

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Edgard me convidou para este MEME...

Amigos, Edgard nosso amigo que gostamos tanto me indicou, então eu fui “taggeada”.Agradeço pelo carinho  deste sorridente prof. de Tai Chi, que trata a todos aqui com consideração, sempre com palavras de alegria!

O Tagged é: "Tag" é uma brincadeira em que você "toca" na pessoa e faz um "está com você", assim você tem que colocar coisas a seu respeito no post.
As "regrinhas" que não são bem regras, mas questões:
1- Você coloca a foto de tagged no post.
2- Falar 10 ou mais coisas sobre você (qualquer coisa), 5 ou mais manias (esquisitices) suas, 5 ou mais coisas que te irritam, 5 ou mais coisas que você adora, 5 hobbies seus; 5 coisas que ninguém sabe sobre você; seu maior sonho; seu maior medo; as coisas mais importantes na vida pra você.
3- Você ‘taggeia’ mais 5 pessoas para participarem da brincadeira!

 Os meus indicados são: Jackie,Márcia Canêdo,Vera Luz, Edson Gil e Fátima.
- 10 ou mais coisas sobre mim:
   1- Amo minha família. Tenho o maior orgulho de meus filhos e apesar de ter tido uma crise com o mau humor do meu marido e sua impaciência, eu já aprendi muito com ele e o admiro por muitas coisas!
   2- Apesar da pouca altura( estou copiando o Edgard nesta), tenho só  1,46cm. descobri que sou uma grande mulher, em algumas coisas...e uma nanica ainda em outras...rs.... E também jogava volei no colégio!
   3- Já publiquei 2 livros infantis nas Ed. Paulinas, que tiveram 5 edições e isto significa que pelo menos 12 mil crianças leram cada um dos livrinhos. Eu adoro pensar que pude fazer isto. Um dos livros era para ajudar as crianças a não temer pesadelos.
   4- Geralmente minha vida não tem tédio... não dá tempo.
   5- Meu jeito introspectivo e mais calmo de ser me proporcionou a chance de vivenciar uma criatividade efervescente que tenho dentro de mim ( agora muito menos,claro).
   6- Escrevo desde menina, poesias, músicas,enfim, se não escrever ...não sei...preciso escrever!
   7- Hoje em dia, minha pele do braço é tão sensível, que fica logo vermelha e descasca, por poucos minutos ao sol...mas sempre fui " à flor da pele" , mesmo que disfarce.Assumo meus sentimentos ( mas não sou chorona, nem fico magoada nos cantos. Me afasto, se estou triste, até passar.)
   8- Catástrofes me assustam, mas pessoas que manipulam a ingenuidade e crianças, me assustam muito mais!
   9- Adoro tirar fotos, mas não sei nada de técnicas. Meu filho uma vez disse que eu não servia para tirar foto de acidentes de automóvel, por exemplo, porque quando tirei do carro em que ele se acidentou, parecia mais bonito do que tinha sido, parecia arte! kkk..... Realmente, tenho interesse pelo belo, ele me atrai, mesmo que seja num gesto ou em algo que não se vê, logo de cara! Ver o ângulo melhor da vida ou das pessoas, está no meu olhar tanto quanto a cor dos meus olhos.
   10- Tenho uma vida prática. Sempre procurei conseguir algum (ou muito) prazer nas tarefas que tenho de realizar, assim, hoje comemos todos os dias em restaurante por quilo, adoro ter frutas ou sopa para o lanche, e sempre opto por algo que possa fazer de modo eficiente e mais rápido, para sobrar tempo para outras coisas que gosto. TENHO VOCAÇÃO PARA A FELICIDADE e a quero, hoje, acompanhada de tranquilidade e relativo conforto.
   11- Adorava dançar e cantar. Agora, tenho artrose e não consigo dançar mais, contudo, entrei numa aula de canto e vou participar de um coral. Muitas e diferentes pequeninas coisas, podem me fazer feliz...já fui feliz até com quase nada!
   12- A vida, para mim, é um presente, mas sem amor, não vale a pena! Tenho de amar, por convicção e sobrevivência! Seja uma pessoa, seja um projeto de trabalho, sejam os netos, ou um sonho... Sou uma pessoa apaixonada.
   13- Sempre fui extremamente leal e fiel, e hoje, é ainda mais um gesto meu, que será oferecido por convicção e não obrigação.

 5 manias ou mais esquisitices que tenho:
1- Gosto de começar a dormir sentindo meu companheiro ali ao lado, me abraçando( por alguns momentos).
2- Não gosto de ambientes escuros e fechados.
3- Em restaurantes,gosto de sentar-me de costas para a parede e em local onde, de preferência, possa ver as pessoas ou a paisagem, e não a cozinha!!
4- Quando vou dormir em hotel, gosto que o quarto seja claro e preciso olhar nos cantos para certificar-me que tudo está limpo e não tem baratinhas ...hehehe... Limpeza é um conforto que gosto de ter.
5- Gosto de encontrar as minhas coisas no escuro se eu precisar, portanto, tenho mania de organizar minha bagunça, para que isto seja possível.
6- Não consigo dormir se puder ouvir o tic tac do relógio! Preciso colocá-lo em baixo de almofadas e odeio acordar com o som estridente de um despertador!

5 coisas que adoro:
   1. Adoro beijo, abraço, cócegas nas costas e demonstração de carinho ou um gesto de gentileza quando menos espero....
   2. Adoro poder conversar com alguém que possa confiar, com quem possa sorrir e observar as coisas da vida com bom humor, com quem saiba que podemos ter opiniões diferentes, sem que isto seja motivo para sentir-se desafiado, porque eu gosto de aprender e só se aprende sendo flexível.
   3. Adoro a liberdade... de poder acordar mais tarde(8:30hs durante a semana e quase as 10 hs.no final de semana); de trabalhar na minha casa ou do meu jeito para render mais e poder ser criativa; de poder criar meus horários e agenda com flexibilidade; de escrever o que sinto; de comer o que tenho vontade, mesmo que seja uma fruta antes do almoço...( como sou feliz!!)
   4. Adoro fazer as coisas no meu ritmo, pois acho que já trabalhei muito e conquistei este direito.
   5. Adoro terraços, ou lugares onde eu possa sentir um pouco de vento e sentar para conversar, jogar baralho ( ou para ler,sozinha) e observar outras pessoas em seu movimento, sem que minha liberdade seja tolhida.

5 coisas que me irritam:
   1. Conversar com alguém que finge querer conversar, mas só quer fazer prevalecer suas idéias, ou se sinta contestado a cada pergunta que eu faça.
   2. o EGOÍSTA = Atitudes de mau humor com a vida e tolerância zero à frustração, querendo logo culpar alguém quando as coisas não saem como planejou, ou me pressionar para fazer as coisas num ritmo que não é meu,principalmente quando estou fazendo um trabalho pelo qual sou responsável.
   3. INTOLERÂNCIA- Alguém me ofender ou me julgar mal ( ou fazer isto com pessoas que eu gosto) porque não reagimos à vida, da mesma maneira que ela, e então tentar com isto,pressionar. Me irrita profundamente a incoerência de quem usa deste tipo de violência e diz estar defendendo o bem ou a paz.
   4. FALTA DE LEALDADE- alguém a quem confiei um sentimento,receio ou ponto fraco meu, e que fala disto sem nenhum respeito com outras pessoas, ou em voz alta, sabendo que como sou discreta.
   5. Gente que manipula a generosidade ou amorosidade que sabe que eu tenho - me conta coisas tristes para me impressionar, ou diz frases de efeito que sabe que vão me deixar ligada a ela de alguma maneira - é aquela pessoa que manipula, não tem nada verdadeiro para lhe dar mas quer prender você a ela, naquele momento que isto lhe interessa. Me irrita pessoas falando de amor com muita facilidade, banalizando o amor que a gente sente, para mudarem para uma atitude oposta, assim que lhes convém e sem motivo que não seja seu egoísmo.

5 Hobbies meus :
1. Escrever e meus blogs.
2. Tirar fotos.
3. Ler.
4. Refletir e Conversar.
5. Ouvir música e cantar.

MEU MAIOR SONHO:
 - Sentir a alegria de amar e compartilhar a vida com paixão, tranquilidade e respeito - e fazer uma viagem onde eu possa sentir tudo isto.

MEU MAIOR MEDO:
- Prejudicar alguém (principalmente as pessoas que amo) com minhas atitudes, ou com o meu modo de ser, pois gostaria de levar coisas boas para a vida das pessoas com quem convivo.

COISAS MAIS IMPORTANTES PARA MIM:
- Deus, Família, Amor, o homem que amo, saúde, amigos sinceros, e Gratidão - ser grata por tudo e cada coisa boa que tenho, por pequena que seja, pois, o dia que eu não puder mais reconhecer estas coisas, então estarei amarga ou muito infeliz.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

A bicicleta...

     Eu vejo meu vizinho, em algum momento de quase todos os dias, ali em frente, na calçada, conversando com algum amigo, ou limpando seu próprio carro, ou trazendo a mulher e os dois meninos de algum lugar, uma consulta talvez. São um casal de vida simples e ela está sempre atarefada com casa e família; quase nem saí ali fora. Ele faz compras, traz o gás. De vez em quando estaciona do outro lado da rua, os meninos descem do carro, e ele invariavelmente fala firme:
   - "Êh! olha a rua, garoto!", ou ainda "pera ái, menino"!
   Muitas vezes fala bravo e demonstra impaciência, chamando a atenção de um ou outro quando começam uma briga. E, às vezes, grita com um deles, mandando ir logo para dentro.
    No final desta tarde de sábado quente e preguiçoso, lá estava ele, com o filho maior, a ensinar-lhe a andar de bicicleta. Pela primeira vez eu o vi sem camisa. Devia saber que a tarefa a que se propunha, seria um exercício que lhe faria gastar calorias e suar em bicas. E como todo aquele que ensina um filho a andar de bicicleta, iniciou aquele vai e vem interminável  pela rua, empurrando e segurando a bicicleta com as duas mãos, dizendo algumas poucas palavras de incentivo. Eu tinha coisas a terminar no computador, mas era impossível deixar de olhar, de vez em quando.
   A porta de vidro do meu escritório que dá de frente para a rua, fica bem atrás do monitor. Notei que após algum tempo, ele já se distanciava mais, colocando apenas uma das mãos no banco, e de vez em quando abria os braços, feito galinha abrindo asas para proteger os pintinhos. Olhava para trás, quando o menino se desequilibrava ou vinha mais para o meio da rua e imediatamente, colocava a bicicleta na direção correta. Difícil tarefa, que requer coordenação, mas os pais geralmente estão preparados para ela. Tão mais fácil é corrigir a direção dos primeiros vôos dos filhos! A gente mora numa rua sossegada, mas bem numa curva, onde é preciso muito cuidado para não se surpreender e jamais se pode atravessar a rua ali, sem olhar atento para ambos os lados. Contudo, o pai fazia isto por ele e pelo menino, que ia afoito ultrapassando os limites do mundo, olhar fixo adiante, sem nem imaginar que não tivesse ali um anjo a cuidar da retaguarda.
   Até eu me preocupei. De vez em quando passam lá alguns carros ou motos barulhentos e numa velocidade que não combina com a calma do lugar. Contudo, as coisas correram como o esperado. Após muitas indas e vindas e dois tombos, pelo que percebi, o menino já andava sozinho.
   - Mãe, olha eu! E plóft, um tombo!
   E lá ia, novamente tentar, e feliz mesmo com o joelho levemente dolorido. Lembrei-me que foi minha prima que me ensinou a andar de bicicleta. Ela tinha quinze anos, eu sete. Caí, quando percebi que não estava mais me segurando,mas logo tentei novamente e consegui. A bicicleta era enorme para mim, e estávamos em um corredor do quintal. Quando eu dava impulso na coragem e nos pedais, e começava a sentir o vento no rosto, lá chegava o portão,quase a bater na minha cara. Tinha de coordenar a freagem com o rápido colocar os pés no chão, ou eu ia por terra. O mundo,naquele tempo, parecia menor, mas os quintais eram maiores! Para este garoto a sensação era de maior espaço e liberdade, pois a rua que sempre lhe fora proibida, agora era algo a explorar e a bicicleta, sendo apropriada a uma criança, por certo lhe proporcionava maior segurança.
   Notei que o pai estava cansado, mas orgulhoso. Não saía de traz do filho, lhe dando retaguarda, protegendo-o mas permitindo os dois tombos que presenciei. O menino se sentia cada vez mais confiante... e livre.
   - Pai, já sei í sozinho!  E foi mesmo, cheio de si. Por um segundo, o pai parou, coçou a cabeça, depois foi novamente atrás, protegendo.
   E pensei:
   - É pai, agora teu filho já sentiu o gostinho... e começou a te dizer adeus...o mundo hoje é bem maior...

Imagem: Google internet
Texto: Vera.
             

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

"Qual vida me será tirada agora?..."

 Mais uma viagem a trabalho.
 Recostou-se, fechou os olhos. Melhor cochilar para não ficar enjoado,não pensar em nada, descansar o corpo e a mente dos acontecimentos dos últimos meses.Tanta ansiedade,consultas,médicos,hospital. Detestava o cheiro que existe nos hospitais,mesmo naqueles que não havia cheiro, mas ele o sentia assim mesmo! Sentia-se mal com a realidade ali presente, a tristeza e a preocupação estampadas nos rostos, e pior ainda, no rosto daquela que era sua companheira por tanto tempo, e agora, parecia tão frágil. A vida viria roubar-lhe mais uma vida? Ele chegou a perguntar-se se foi necessário esta ameaça para que acordassem para o fato de que já não se pertenciam há muito tempo... a doença era uma ameaça, ou também um sinal que mais vidas estariam se perdendo ali? Vidas que não eram vividas, como se o tempo pudesse ser desperdiçado. Dizem que após grandes traumas, uma pessoa começa finalmente a viver... seria na mesma direção ou em outra? Teria de ser na direção da vida verdadeira, ou tudo seria mais uma vez inútil! Mas a verdade é tão simples, é tão mais leve como talvez só o amor o seja, e por isto, às vezes passa tão despercebida!
   Aquele que quase morre, mas se recupera e vive, tem uma experiência única e dá um novo sentido à própria vida, mas não necessariamente a daquele que o acompanhou. Então, levará consigo o outro com quem já compartilhava uma vida, ou apenas levará um refém, junto de si ?
   Ele não queria mais se permitir pensar sôbre isto.Tinha decidido! Ia ficar ao lado dela,apoiá-la, fazer o que era certo, tentar amá-la e rezar para que não ficasse sem seu amor, no futuro(fosse este amor, de que tipo fosse, pois era o que tinham entre si). Virou a cabeça para outro lado. Queria esquecer de si mesmo.Bom seria saber meditar,não pensar em mais nada, tornar-se leve,flutuar...como daquela vez em que, depois de desabafar um pouco da dor escondida no peito há tanto tempo, sua amiga lhe colocou a mão suavemente na direção de seu coração e falou baixinho:
- Vamos, respira.Solta este peso junto com o ar, você consegue...deixa sair. E encostou seu rosto perto do dele, e foi respirando com ele, mostrando-lhe como fazer...até que um soluço escondido saltou-lhe pela boca. Quis segurar, foi impossível. Ia se afastar, se recompor, mas ela docemente o abraçou e as lágrimas sairam teimosas, até que ele as libertou de vez, e chorou no abraço dela.
   Naquela única vez que estiveram assim juntos, ele se perguntou quem era aquela mulher, que tinha se aproximado dele a ponto de derrubar aquela parede,há tanto tempo construída? O que seria dele sem sua fortaleza a apoiá-lo? Como fechar as comportas do que começava a jorrar? Julgava a si mesmo um homem bom, contudo seria agora, também um tolo, um fraco?
   Não precisou preocupar-se com isto. Eram amigos, podia confiar nela. Fizeram amor, mas desta vez, de uma forma mais branda, embora também intensa. Ao contrário do que pensou, sentiu-se forte e potente, e como se tivesse dez anos menos, possuiu da vida todo o prazer que ela podia lhe dar. E, conduzido pela experiência da maturidade, deu àquela mulher o amor que ela sonhava receber. Como se não houvessem nuvens escuras no céu, sentiu-se tão leve, que podia voar. Por alguns momentos ambos flutuaram juntos, como ela sempre havia acreditado que fariam.
   Voltaram, aos poucos, à realidade. Ele sabia que já não era jovem. Sua barriga, seus músculos, já não eram mais ...
   - Adoro estar assim, deitada no macio do seu corpo. Sim, ela escondia partes de seu próprio corpo, também não era jovem mas sabia como fazê-lo sentir-se único e bem.
   Ele percebeu que ela enxugou uma lágrima. Tinha certeza que aquela mulher estava apaixonada por ele e isto,ùltimamente lhe dera ânimo para tudo o mais. Sabia que ela sonhava com um amor onde houvesse respeito e cumplicidade.Ele mesmo lhe havia dito, que merecia ser amada assim. Ele, com a experiência da vida e de tudo que já perdera, sabia mais do que ninguém que a ausência de amor é um preço muito alto a pagar, seja por que motivo fosse, então,se o desejasse saberia amá-la. Se colocassem a vaidade e orgulho de lado... o orgulho que faz com que seres humanos desconsiderem os próprios limites, o saudável desejo de viverem um amor verdadeiro e desistam de tudo que permita que alguém possa lhes acusar de terem cometido um erro...o orgulho que tanto teme não ser perfeito...o mesmo orgulho que faz com que se arraste uma vida em comum, sem que se note nela a alegria espontânea inerente da própria vida, a não ser pelo esforço de um só. Se a vida pudesse mostrar a eles, de algum modo, que não se pode controlar tudo,ou tudo sacrificar, que não se pode segurar uma vida nas mãos, quando já não é plena, pois que escapará, de uma forma ou outra...que só depois de reconhecer um erro é possível seguir-se inteiro numa escolha honesta em outra direção, que estarem corretos nem sempre é mais importante do que aquilo que sentiram naqueles momentos, nem mais do que o bem que a presença de um fazia ao outro, verdadeiramente... Se a vida pudesse lhes contar sôbre a falta que sentiriam um do outro, pelo que não tiveram a chance de construir, enquanto outros tem a chance e não o fazem....
  Pela primeira vez, depois de tanto tempo, ele estava sentindo seu corpo e coração vibrarem como um violoncelo afinado, tocado por mãos suaves da musicista que sabia tirar dele o som harmonioso, para o qual foi criado. Quando tudo parecia tão sem vida ao redor de si, tanta vida lhes foi dada!
   Depois daquela tarde, ele se perguntara se estaria certo em mudar sua vida... e se chegara finalmente o momento de aprender a se amar, deixar-se amar e amar na mesma medida. Queria entender como ela podia estar se tornando uma presença tão importante... algo que lhe trazia a sensação de tranquilidade e iluminava suas noites. Mas então, aquele problema maior surgiu, que lhe trouxe mais uma vez o medo da perda e era preciso controlar a situação. Era preciso, desta vez não cometer nenhum erro, dedicar-se por inteiro a resolver o problema,nem que para isto, tudo o mais tivesse de ser esquecido. Como ele poderia estar presente na vida de duas pessoas que gostava tanto? Será que sua amiga compreenderia se ele lhe contasse sôbre estes sentimentos tão seus? Talvez, só bastasse dizer a verdade...mas a verdade é tão....
   A aeromoça  servia o homem sentado ao seu lado e ele despertou. Balançou a cabeça, afastou os pensamentos e, com o mesmo olhar triste que trazia há algum tempo, aceitou o que ela lhe oferecia, pelo menos lhe confortaria o estômago....
Texto e foto: Vera Alvarenga                                                                          

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

" O velho do rio..."

    Estavam indo para casa.
    - Estaciona aqui, por favor! Só um minuto, prometo.
   O marido estacionou o carro ali mesmo, na avenida, à beira do rio que passava dentro da cidade. Ela pegou a máquina fotográfica e caminhou uns poucos passos.Tinha visto patos na água. Duas ou três fotos, era do que precisava. Estava descobrindo o prazer de fotografar aves na água, com seus reflexos e cores que se ondulavam formando desenhos incríveis. A buzina a chamou, mas as fotos já estavam ali. Podia voltar ao carro.
   De repente o viu.
   E foi chegando mais perto. Tirou apenas uma foto, pois lhe veio a mente um cuidado..
   - Até que ponto poderia tirar fotos de uma pessoa, sem pedir-lhe licença? Mas ele estava recostado ali na árvore, cochilando. O lugar era público e ela não o exporia ao ridículo, não estava lhe fotografando para expor sua pobreza, mas simplesmente porque ele era belo. Ali naquela luz, naquele lugar, naquele exato segundo, ele era belo.
   A buzina tocou novamente. E ela se foi,querendo ficar. Entrou no carro perguntando ao marido:
  - Você viu que lindo?! O marido a olhou espantado.Ela completou - A figura dele, é interessante, não acha?
  Decidiu que iria pesquisar sôbre a ética na fotografia e que procuraria saber sôbre o homem. Na tarde seguinte, o marido disse que perguntou por ali e lhe contaram algo que parecia mais um boato. O homem, disseram, falava alguns idiomas e tinha sido importante profissional projetista, até que a mulher o deixou e.... Que história! Se ela fosse jornalista,seria uma história e tanto,mas ela não queria saber de sua vida, queria apenas fotografá-lo.O marido contou mais, que perguntou a uma assistente social, na Prefeitura, e que ela dissera que ele era "maluco", que tentaram ajudá-lo, tirá-lo da rua, mas ele era agressivo, dizia besteiras e não aceitava ajuda. Não havia para quem pedir licença para fotografá-lo, a não ser para o pobre louco.
   Outra tarde, estavam voltando do almoço e lá estava ele novamente. Ela desceu do carro e, com sua câmera se aproximou. Tirou uma foto. Ele estava desenhando! Desenhava num papelão. Chegou mais perto e assustou-se! O cão que estava deitado ao lado dele,levantou-se e latiu, como para avisá-la que ela não poderia se aproximar mais. Havia um limite a ser respeitado. Mesmo assim, ela arriscou perguntar a ele, se podia fotografá-lo. Sem olhar para ela, o homem ouviu, continuou desenhando e fez um gesto com os ombros, como para consentir. Seria mesmo maluco ou apenas um pobre homem, pobre? Ela quis conversar um pouco e ele respondeu, a maneira dele, com palavras que pareciam desconexas e que ela não podia compreender, por mais que se esforçasse. Então, ele disse algo como "homem nu" e ficou um pouco agitado.
    Ela o deixou em paz, com pena de ter de se afastar por medo e por não conseguir se comunicar com ele.
Afinal, disseram que era louco e podia ficar agressivo e ela não queria ser ferida, mas também não queria ferí-lo, nem invadir sua vida...pois talvez, ali debaixo daquela árvore,aquele cantinho fosse o seu espaço íntimo e, aquele momento que ele dividiu um pouco com ela, fosse seu momento de entrega a si, a suas lembranças ou a sua loucura.
   - Adeus, senhor. Obrigada.
   Só então ele olhou pra ela, levantou o papelão mostrando o desenho e, num instante,voltou ao seu mundo tão particular, como se nada mais existisse ali, além de seu cão amigo,sua arte e sua história.


 Texto e fotos: Vera Alvarenga                                                                        

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

" As duas faces da solidariedade..."

- Acudam! Me ajudem por favor!
- Venham ajudar Dona Maria!
Verônica,no telefone com a irmã, contava como estava feliz de ter escolhido aquele tranquilo bairro para morar, onde muitos se conheciam,eram amigos,quando ouviu gritos pedindo ajuda.
- Mana,parece que aconteceu uma tragédia. Não gosto de me meter, mas a coisa é séria.Tão me chamando no portão.Vou desligar.
- Ô Dona Verônica, a senhora viu? Levaram Dona Maria.Tá muito mal, acabou de saber que os 3 filhos, mais a irmã,cunhado e sobrinhos, todos morreram naquele ônibus que caiu no rio!
- Meu Deus! Dá licença, vizinha, que meu telefone tá tocando... Quando atendeu, Verônica ouviu a voz entrecortada da Dona Maria, que deixara um recado na secretária, pedindo que rezasse por ela e pelos seus,que se foram. A linha caiu e quase que ela cai junto.Um arrepio corria pelo corpo todo; tremia por dentro. Como é que a Maria ia aguentar isto?!
Saiu apressada.Encontrou um grupo de pessoas conversando na calçada,em frente.
- Não adianta irmos lá, ela está acompanhada pelo marido.
- Na certa vão tomar providências cabíveis no momento senhores.Vamos aguardar.Não há o que fazer agora.E a gente nem sabe se não se trata de boato!
- Ô seu Oswaldo,parece que num tem coração! A mulher perde a família toda e o senhor aí, parece que num acredita! Tá querendo o que? A gente sempre foi unido, temos de dar apoio agora!Vou lá oferecer meus préstimos. Sei lá se precisam de alguém com carro...não é mesmo,Dona Verônica? O que a senhora acha?
- Pessoal, ela acabou de me deixar um recado! É muito sofrimento pra uma pessoa aguentar sozinha! Assim que passarem alguns dias, vamos visitá-la, levar flores,telefonar... sei lá, vocês que são mais antigos no bairro, amigos dela, é hora de oferecer seu carinho...respondeu Verônica, antes de se recolher,como todos os demais fizeram,em demonstração de respeito. Era o que a situação exigia.
Dona Maria não apareceu naqueles dias.Ninguém sabia se estava no hospital ou acamada em choque, mas amigos e vizinhos se faziam presentes. Eram novenas que Dona Helena tinha encomendado para o vigário, eram flores que os vizinhos levavam ao portão, bilhetes carinhosos, gestos de solidariedade, comida pronta... O bairro todo ficou de luto. Até seu Agenor, aquele que nem religião tinha, comparecera na novena,na igrejinha da esquina. Todos choravam imaginando a dor de Dona Maria,e ao mesmo tempo agradeciam a Deus por não estarem na pele dela.Muitas luzes ficaram acesas naquela noite, no bairro. Verônica,romântica, achou até bonito!
Na tarde do segundo dia, outro alvoroço. Gente brigando,discutindo,gritando,chingando...E lá foi Verônica, assim que viu em frente a casa,duas amigas que queria bem.Por um momento, ninguém mais se doía pelas vítimas do acidente, pois eram eles, as vítimas agora.
- Tudo mentira! Desavergonhada!
- E eu que fui até rezar! reclamava seu Agenor.
- Eu bem que avisei que era muito estranho...Viu, Dona Helena? A senhora acredita em tudo!
Dona Helena magoadíssima, se afastou de seu Oswaldo, aquele a quem ela tinha dado seu coração, sem que ele soubesse ainda...
- Pessoal calma! A gente não sabe direito o que houve - disse Verônica. Será que vocês não estão se precipitando? Afinal, a família dela estava naquele ônibus,não estava? Estas notícias se atropelam.
Dona Helena aproveitou o dito e completou:
- A coitada,só depois ficou sabendo que a família sobreviveu.Credo! Parece que vocês preferiam que tivesse sido verdade, só pra não gastar vela à toa. Vão crucificar a pobre,porque ela demorou pra avisar que a família estava em segurança?!
- Ah,ela brincou com nossa boa fé.Você não entende tudo que está em jogo? Sai daqui, beata!
- Tem gente sonsa mesmo! Pior do que aqueles que mentem, só mesmo os que ficam defendendo, acobertando. Estes deviam ser linchados!
Ui, será que era com ela, ou com a Beata? Pelo sim, pelo não, Verônica resolveu entrar, porque neste momento, quem não está com a maioria, pode levar tiro daqueles que escapam quando os ânimos estão exaltados e vai tiro pra todo lado.Entrou,mas não se sentia protegida do próprio pensar - era seu jeito de ser, não acusar as pessoas - mas,ficou lá dentro, dando tratos à bola. Se sentiu enjoada. Que coisa! ou morriam os familiares da outra, ou morria a confiança e a solidariedade que as pessoas precisavam ter, para viverem em paz? Será que não tinha meio termo, nesta história toda?
Verônica, só agora ficou mesmo de luto...não sabia mais no que acreditar.A família da dona Maria não morrera, mas alguma coisa morrera ali! Foi para o quintal, no meio de suas flores e ficou lá a meditar... e meditou...e meditou muito para tirar aquele nó do estômago, que teimava em ficar entalado ali.
O tempo, sabido como ninguém,passou indiferente a tudo e a todos, e as coisas começavam a voltar ao normal. Os que se envolveram nesta história,estavam mais certos agora de que, para se morrer, bastava estar vivo! Afinal, muitos morreram mesmo, naquele outro ônibus! E havia ainda a certeza de que, era repugnante,até odioso,tudo o que pudesse abalar a boa fé das pessoas de bem.
Afinal, como poderiam viver suas vidas, se não pudessem confiar?
Verônica agradeceu a Deus por não ser advogada, promotora ou juíza. Olhou pela janela,viu Dona Maria passando tranquila do outro lado da rua, como se nada a tivesse afetado, e pensou:
- Bem, quem tem a consciência tranquila age assim. Depois lembrou que, as pessoas que costumam mentir,ou exagerar para chamar a atenção sôbre si,também se saem bem destas situações. Comentou com a irmã ao telefone:
- Eu preciso da minha fé nas pessoas, mas confesso que neste caso,não posso mais confiar. Também não gostei do exagero nas acusações...nunca vou saber se estou sendo injusta,mas não me interessa mais...tá além do que eu posso.
Ao que sua irmã respondeu:
- Todo mundo sabe que há pessoas que vão nos mentir. E daí? Sigam a vida! Acho que quem ainda está triste, é porque não se conforma é de ter cometido este erro de "se deixar enganar", ou porque está aí com uma ponta de dúvida,como você irmã...e ninguém quer cometer um erro deste... Ninguém é perfeito, mana! Esquece. Nem sempre a gente pode ter certeza de tudo. Vai pro computador e escreve uma crônica, uai!
- E aí, não vão dizer que estou me aproveitando deste episódio deprimente,para aparecer?
- E está? Você não diz que só escreve quando algo te emociona, ou precisa organizar as idéias? Vai lá maninha...

Texto: Vera Alvarenga

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Humano Amor de Deus-para Cacau

Estou tentando há mais de 1 hora postar um lindo vídeo para Cacau, pra lembrá-la de que, apesar de tudo, ela não está sozinha e Deus a ama. Tomara que agora eu consiga!

sábado, 8 de janeiro de 2011

" Entre o desejo e o prazer..."

  O amor que oferecemos, se correspondido, permite que cada um possa desvendar-se, livres para experimentar o que podem ser e o que sentem, levando em consideração a 3ª pessoa formada pelo encontro = de nós.Isto proporciona alegria, segurança e tranquilidade e por isto, apesar da liberdade, faz com que um deseje estar mais tempo com o outro. Faz falta!
   Refletindo sôbre estas questões fundamentais da vida,li um texto que gostei tanto, que pela primeira vez, vou colocar partes aqui ( entre "aspas")...
    Ele diz que Deus nos criou livres para descobrirmos e vivenciarmos nossas potencialidades ( o bom e divino em nós) e que há pessoas que nos ajudam nesta descoberta, e através de seu amor,nos mostram outra realidade diferente às vezes, daquela que estava nos limitando. "É a forma como Deus nos ama através do outro que, nos promove!"
   Eu não havia pensado nisto! E concordo plenamente que, "quanto maior é o bem com que o outro me toca, maior também será o desejo que tenho de estar com ele", pois ele me faz sentir bem por  desvendar o mistério que sou, junto comigo. E isto não é egoísmo! (uma vez que o destino de cada ser humano é a realização do melhor que ele pode ser, sendo ele mesmo). Quando nos sentimos amados, nos transformamos para melhor, usamos nosso potencial e naturalmente podemos nos orgulhar do que sentimos pelo outro e oferecemos a ele. Junto com o outro nos sentimos mais fortes e melhor, mas não porque o outro tenha tentado destruir nossa individualidade, por egoísmo ou insegurança. Ambos fazemos concessões.
    Somos movidos por desejos e prazeres. Quando reconhecemos um amor que realmente nos faz  sentir bem e ter esperanças quanto ao que ainda temos para experimentar dos nossos sentimentos, queremos preservá-lo. É a força do desejo que manterá este amor(mesmo que não possamos compreender - é o melhor de nós,tentando se realizar).
    A busca apenas pelo próprio prazer nos cega em relação à dignidade do outro. O prazer, quando satisfeito, nos afasta porque queremos nos manter solitários, não sobra muito do encontro que realizamos! O desejo, ao contrário, pode nos levar a outros desejos focados na mesma pessoa, que vão se complementando num constante conquistar e se desvendar mutuamente.
    Se o relacionamento foi focado mais no prazer egoístico, o outro não aceita que não possamos satisfazê-lo em tudo, não aceita nossa imperfeição(carências!), e por isto critica exageradamente. Se eu gosto de você, sei que você precisa de mim, tanto quanto preciso de você, recebo e dou, e tudo se equilibra.Não transformei o outro num objeto do meu prazer!
     Já o desejo é uma motivação mais profunda, que aceita o real, o sacrifício e o desafio...só não pode aceitar o egoísmo, no qual uma pessoa não quer o encontro verdadeiro e se isola(não está a fim de dar de si)!
    Ao longo da historia o "desejo" foi associado ao "pecado". A Filosofia o associou à imperfeição pois "só deseja aquele que carece", portanto é imperfeito. O Budismo o aponta como obstáculo à realização humana.  
   O autor do texto retoma o contexto do desejo como algo que não se opõe nem à felicidade,nem à construção do outro como pessoa. Concordo com ele. Sinto que o desejo de estarmos com o outro nos salva, nos resgata, como a arte e o amor, e nos eleva para a realização. Assim, é ele que nos inspira, "nos mantém na estrada, mesmo quando nos deparamos com realidades adversas". O outro não transforma nossa vida num conto de fadas, mas traz alegria e tranquilidade para que possamos vivê-la da melhor maneira- e o desejamos ao nosso lado.
    " O que nos faz querer estar ao lado de alguém" é o desejo, "combustível da vida", que nos dá a sensação de estarmos cada vez mais vivos. Existem desejos temporários e há o que mantém o foco - " o outro mudou, foi transformado pela vida,mas continua sendo o foco do meu desejo".Sua permanência está ligada à preservação do mistério - " que não significa guardar segredos, mas manter a reverência que não permite a banalização"! O que foi focado no prazer não nasceu para ser definitivo; se durou longo tempo é porque um deles talvez se motivasse pelo desejo. O desejo é mais profundo,precisa de tempo para ser despertado e vivido,mas alimenta por mais tempo porque tem consistência, cria permanência porque acalma, e movimenta para novas buscas não porque estou descontente ( porque me devolve a confiança em mim),mas não desorienta.
    Claro que seria bom ter os dois juntos! O que foi focado só no prazer acaba, ou existe só para satisfazer este impulso rápido, enquanto uma das pessoas não se conscientiza disto - o relacionamento se transforma  em algo que possui em si uma "ausência", que não satisfaz. É como uma relação sexual que nunca encontra o climax, não se completa na paz. "O desejo nos faz respeitar a sacralidade do outro - é feito de vagarezas" - é assim como ter de caminhar muitos quilômetros, enfrentar uma viagem dura, mas por estarmos certos de que há um lugar que vale a pena chegar, onde o outro estará, onde nos encontraremos, o cansaço será vencido cada vez que nosso desejo for relembrado. É bom quando conseguimos criar e preservar este "lugar sagrado" onde nos encontramos com o outro, foco de nosso desejo, aquele que eu reverencio, por quem sinto mais desejo de estar vivo, para quem sinto desejo de voltar, de ser melhor e em quem posso repousar,sabendo que desta relação, ambos poderemos vivenciar e solidificar nossos melhores sentimentos.
    Quantas vezes me surpreendo a desejar estar com o outro ? Quanto é o bem que ele me traz e o meu desejo retribuir?

Texto e foto: Vera Alvarenga (Texto baseado no do Padre Fábio Melo)
Texto entre " aspas" : Padre Fábio Melo.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

" A arte é luz que resgata..."

Hoje,relembrando descobri,
que das vezes que senti medo
e achei que quase me perdi,
em todas eu reagia,
me debatia,reclamava,
me conhecia, me reencontrava,
e estancava naquele degrau,
apoiada por minha teimosia
providencial.
E ali ficava, criando algo belo
e esperava...
até a tempestade passar.
Foi a arte que me resgatou
quando eu não podia te amar!
Foi o trabalho honrado,
foi o sorriso tantas vezes dado
junto com os meus meninos!
Foi o modo de não prostituir
minhas crenças, de não me sabotar!
                                                            
Então, até quando me senti                    
vazia e sem sentido,
não foi porque tivesse me perdido!
Pois ainda me vejo aqui,
e em mim, em tudo me reconheço.
Ah, mas você me roubou algum tempo
que me pertencia,
e muitas vezes calou a alegria e o canto,
no instante que já quase brotavam,em mim.
Mas, o dom de poder criar,
era a luz que me resgatava,
me elevava a outro patamar,
só hoje compreendo.
Eu ainda estava ali,
só não sabia!
O que me apavorava era
a ausência de luz do amor
que naquele momento,não podia sentir
por quem não olhava pra mim.
Mesmo assim, eu ainda era eu.
Começo a perceber que não me perdi...
O tempo? inexoravelmente passou,
e foi o teu rosto, que em algum canto
do meu coração se perdeu....

Fotos e Poesia : Vera Alvarenga

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

"Tudo é como uma lenta bola de neve..."

PARTE II _  de (A importância de nossos limites)...
      Seja por insegurança devido a uma infância difícil ou por não saber lidar com seus sentimentos, seja por medo de perder o amor do outro, ciúmes ou egoísmo em  diferentes graus, penso que aquele que sabe exercer poder sobre o outro, porque este depende dele emocional ou financeiramente, deveria ter consciência de sua responsabilidade. É preciso que seja honesto com seus sentimentos, pois se for pesado a ele esta dependência, deve deixar livre e dar condições a sua mulher, de recomeçar sua vida, enquanto é tempo. Deste modo seria livre, não manteria a situação de dependência, nem cobraria direitos sobre sua parceira.  Quem ama e quer o outro a seu lado, deveria querer contribuir para vê-lo também feliz!
     Falamos de um mundo mais justo! Desde que não precisemos pensar e ouvir os que se sentem prejudicados, e possamos fazer de conta que são sempre aqueles que gostam de se vitimizar  a si mesmos! Isto é tão falso e perigoso, quanto seria aquele vizinho conhecido que, vendo na rua a adolescente sozinha (poderia ser a filha de quem me lê!), a chama para pedir-lhe ajuda  com a intenção de abusar dela, e sabe que a sociedade poderá culpá-la por ter se deixado vitimizar! Ele pode achar que a ingenuidade está aí para que se tire vantagem dela. 
     Quando olhamos para uma mulher que na maturidade olha com olhos mais experientes seu passado para compreender o presente, e vê com indignação,que foi abusada em sua ingenuidade(seja pelo marido ou por seu superior hierárquico no trabalho), tendemos a não crer nisto. Com certeza, ela mesma se espantará, ao olhar-se ao espelho, contudo, devemos lembrar que isto se deu quando ela era mais jovem, e foi crescendo lenta como uma bola de neve que apenas rola pelo vento e que foi crescendo enquanto ela se sentia diminuir. Talvez ela não tivesse tempo para parar e analisar sua vida,em meio a tarefas das quais dependiam outras pessoas e crianças. Talvez, nem na maturidade ela saiba o que fazer para se proteger da excessiva confiança ou ainda pense que a vida deva ser vivida com coragem e peito aberto. 
     É claro que há diferentes graus deste abuso, e homens que não são assim maus, apenas vem de lar e infância instáveis, o que lhes acarretou este olhar desconfiado e um tanto agressivo para com o mundo. Nós todos estamos constantemente aprendendo a nos conhecer e a superar limites possíveis. O problema é quando o homem se habitua com uma resposta para a vida e continua a usá-la com sua parceira,mesmo quando não se faz  necessário porque esta mulher confia e se entrega ao que acredita ser o amor, e quando criança não teve  necessidade de criar para si mesma, as couraças que ele teve de criar para sobreviver. Nunca representou um perigo,nem é páreo para ele!
      Após o período em que o casal batalhou junto e venceu as dificuldades, se  ela  continuar sobrecarregada com tarefas a que se dispôs para enfrentar a crise e não puder contar com pequenos prazeres e apoio que o outro tem, ou com sua companhia para juntos buscarem estes prazeres, isto minará sua capacidade de reação, sua energia, enquanto ao mesmo tempo, o outro se recupera sozinho e se fortalece. Isto se agrava quando a mulher não se relaciona com outros adultos porque trabalha em casa, por exemplo. Então, sente-se cada vez mais desvalorizada. Continuará a esforçar-se por longo tempo, para continuar a vencer obstáculos e o próprio descontentamento, por não ter mais a companhia do outro, que se distancia, por ter se colocado num patamar “superior” ou à parte. Talvez um dia não mais acredite em seu próprio valor. É como uma bola de neve...Sua fragilidade aumenta, o que a faz retrair-se e mais tarde, quando tiver oportunidade, talvez sinta-se despreparada e tenha real medo de enfrentar o mundo por não se sentir capacitada para isto e, por ser responsável pelo bem dos filhos, quando os tiver ainda dependentes dela.
     Fatalmente a mulher sentirá que aquelas suas características essenciais antes desejadas na relação, agora marcam mais e mais sua vulnerabilidade. Muitas vezes não percebe que sentir-se  desencorajada, se deve não a uma fraqueza sua, mas a não ter tido as mesmas chances de recuperação e valorização que o outro teve e, muitas vezes, por não ter outros relacionamentos importantes. Acaba culpando-se e tenta agradar mais para recuperar seu lugar ao lado do outro. Luta pelo amor e igualdade que acredita, e não para acomodar-se na situação de dependente! Seu erro é acreditar que o erro... é apenas dela!
     Acaba se esquecendo do que gostava, ou quem sabe nem tenha tido tempo de descobrir, se casou-se muito jovem e esteve anos ocupada a dedicar seu tempo a causa comum - família! Sua auto-estima sofre porque não consegue elevar-se aos padrões que lhe são exigidos pelo outro ou por si mesma, não tem apoio para respeitar seus limites, e para complicar, sente grande culpa por não compreender como não consegue mais ser feliz ao lado daquele, a quem tanto e sempre amou.
     Quando recupera forças e consciência, através de algo externo que lhe faz ver sua situação real, ou a faz acreditar que mereceria mais do que recebe em nome do amor, reage, exige o direito à igualdade, pede o reconhecimento do outro. Se o outro a reconhece, aproveita a chance para juntos reconstruírem... os dois crescem e o relacionamento frutifica.
     Se, ao contrário, o outro não quer abandonar sua posição individualista, com desrespeito irá culpá-la por estar “cobrando receber por tudo que ela deveria ter dado por amor e desinteressadamente!”  Talvez ela tenha dado amor desinteressadamente, e se adaptado a realidade a cada passo da vida, de peito aberto com sinceridade e movida pela fé, até o dia em que o tempo lhe branqueou os cabelos e ela finalmente olhou para si e para o passado, e deixou-se vencer pelo cansaço. A grande decepção não se dá por “coisas” que tenha perdido, mas porque a atitude que ela perdoara e era para ser provisória ,tornou-se permanente. O que é permanente, sequestra a esperança! À decepção se junta o reconhecimento dos próprios limites...não é mais culpa dele, é ela mesma que não quer mais isto para si! Contudo, tudo aconteceu tão lentamente como uma bola de neve que vai rolando apenas pelo vento e gelando aos poucos. Nem sempre o momento de romper, e as condições se apresentam ao mesmo tempo! Ela pode desistir de parte de si, neste ponto, e nunca mais recuperará a si mesma. Antes ela primeiro se rebelou, depois tentou perdoar para então decepcionar-se consigo mesma pois viu que não era capaz de fazê-lo total e sinceramente, a menos que conseguisse se afastar do que a magoa, a menos que conseguisse ser feliz novamente... e então..... passa a sonhar!
       Neste ponto, esta mulher sabe que, ao contrário do que muitos falam, não é a “mulherzinha dona de casa” que se acomoda no papel cômodo de “boazinha”.Definitivamente nunca foi a que vivia num mundo encantado a sonhar com um príncipe! Não! Vivia dentro da  realidade, não tinha oportunidade de sair dela , ou de “enfeitar-se” (como as que trabalham fora) , mas encarava a realidade com heroísmo,bom humor e dignidade..
      Neste momento, esta mulher sabe de todas as suas falhas, e vê novas qualidades. Olha com carinho para a jovem mulher que foi um dia e sente pena . Perdoa-se e perdoa o outro, mas não totalmente, pois já sabe que não é perfeita. Reage. Deseja mais. Sabe que, se falar disto para alguém, algumas pessoas podem pensar que ela gosta de se fazer de vítima, porque está sentindo pena de si! Então ela vê sua ternura e compaixão como duas características que, sendo suas, terão que ser direcionadas para outra pessoa, usadas de outra forma, ou voltarão a ser consideradas, como uma fraqueza. E ela não quer suportar isto novamente, mas está cansada e nada busca a não ser a tranqüilidade. Quer viver em paz, sem precisar amputar-se do que é. No fundo de sua alma ainda sonhava ser feliz.
     E neste momento, quando já desiste e parece afundar na tristeza de chegar a este ponto do arco-íris sem o seu tesouro, exatamente quando a realidade de sua vida foi tanta que a fez cair, quando ela pensa que não voltará a viver em seu coração a verdade do sentimento que preenchia sua vida, quando ela se rendeu ao tempo que já tem tantos dias que não pode mais contar, quando ela finalmente desiste até de si mesma.... alguém pode aparecer em sua vida.... alquém que a trate como ela nem sonhava, que veja nela as possibilidades, alguém que precisa dela e a toca de diferentes modos... então, esta mulher pode apaixonar-se  com tanta sinceridade quanto era sincero o seu desejo de sentir amor novamente e poder confiar em alguém!  E, finalmente, como para não decepcionar o que agora parece uma profecia.... ela sorri e reconhece:
     - "Agora sim, talvez seja absurdamente verdadeiro! Finalmente, pela primeira vez, estou a sonhar com um príncipe, que só pode ser encantado....e que mesmo em sonho, me parece tão real. E sinto falta dele."
     Mais uma vez ela sorri.... e imagina estar ao lado dele,e só assim o sol derrete a neve... e ao lado dele testemunha seu sorriso quando a outros ele provoca para ver-lhes a reação, mas para ela não esconde o que sente... e se olham cúmplices, compreendendo o que é prioridade, afastando de si os gestos e palavras fáceis e vazias apenas para seduzir vaidades...e ambos tranquilamente seguem para reconstruir suas vidas, dívidas pagas, missão cumprida, perdões pedidos e concedidos... de mãos dadas seguiriam em busca de ver o que mais ninguém vê, em qualquer canto do Brasil ou do mundo, no quarto, no sofá comendo arroz doce, na praça bebendo cerveja alemã, sorririam benevolentes, de toda a realidade desta vida onde as pessoas ficam anos e anos se debatendo, porque ainda não aprenderam a reconhecer que é o amor aquilo de que mais precisam... não aprenderam a se amar e se comprometer com o amor verdadeiro, enquanto a vida lhes pertence e é possível construí-la a cada dia que ainda nos cabe viver.
     Mas, isto é apenas um sonho, que ela acalenta... só para não desistir ! 
      Foto e texto: Vera Alvarenga

sábado, 1 de janeiro de 2011

" Seremos tão tolos assim?"

Até onde podemos ir por amor? Quais nossos limites?

A importância dos nossos limites!" (Parte I)
  Pensando sobre a dificuldade de impor limites, li um texto importante que me fez refletir e colocou alguma luz para que entendesse melhor, a respeito de como somos levados por circunstâncias financeiras, pelo amor e até por nossos idealismos espiritualistas, a deixar o que somos de lado, por muito tempo. E a compreender o papel dos sonhos e apaixonamentos em nossa vida, como algo que, por vezes nos salva do esquecimento total do que ainda somos.
      Quando sabemos o que somos, e o que não somos,conhecemos nossos limites.Isto completa o que nos descreve, o que gostamos, o que nos faz bem, o que permite que sejamos felizes e nos sintamos seguros, as coisas e pessoas das quais queremos nos aproximar. Todas estas coisas fazem parte de um conjunto de “significados” que delimitam nosso espaço de segurança. Eu, sei facilmente o que “não sou” e não gosto, mas tinha dificuldade para ver os limites que tenho, como algo que teria de aceitar, pois fazem parte de mim, e que eu só deveria transpor no meu ritmo e quando estivesse pronta, sem atropelar a mim mesma.
     Se, por exemplo, sei que sou sensível e criativa, será mais fácil desenvolver e explorar minhas possibilidades,usando estas características nos artesanatos, música, fotografia, para escrever poesias, embelezar ambientes, criar filhos e educá-los, e no convívio com as pessoas. Certamente poderei influenciar positivamente na vida dos que me rodeiam, enquanto puder viver com os limites do que sou.Não me fará bem tomar muito sol e expor-me a muito barulho, brigas, permanentes discussões, agressividade. Se, além disto sou compassiva,  e dependendo do grau, talvez não seja indicado trabalhar em hospitais, com pessoas doentes ou pelas quais eu possa sentir compaixão, pois ao invés de ajudá-las a lidar com seus problemas apenas, talvez  me sobrecarregue se não souber preservar meus próprios limites. Experimentar e depois respeitar meus limites será sempre algo fundamental para o bem estar.
     Minhas características essenciais podem ser incentivadas, ou não, fazem parte das minhas digitais, me acompanharão para onde for, mas se forem negadas por outro, a quem eu respeito mais do que a mim mesma, seja pelo motivo que for, fico impossibilitada de desenvolver minhas potencialidades e sinto falta disto. Sentimos falta de viver podendo vivenciar os valores e crenças que temos. Se isto ocorrer por muito tempo, posso até esquecer parte do que sou! Pode ser por um período longo, mas será suportável se, meu companheiro de vida estiver, em nome do mesmo objetivo comum, tentando como eu, suportar algumas e vencer outras dificuldades que a vida apresenta. Por amor e somado a um caráter menos belicoso, podemos suportar qualquer dificuldade, desde que tenhamos fé e acreditemos não estar sozinhos nesta luta comum para enfrentar a vida e superar alguns limites ( não todos, porque estaríamos negando o que somos e nos convencendo de que seríamos melhores se fôssemos uma outra pessoa,com características diferentes do que as que são nossas. Se sou uma boa melancia, não preciso ser abóbora! E tomara que meu companheiro veja a coisa assim!).
    Quando casamos, somos duas individualidades a desejar caminhar “juntas”, lado a lado, enfrentando o que vier pela frente, com apoio mútuo. Contudo, terminadas as dificuldades, vencidas as batalhas por ambos, aquele que se caracterizava por ser o mais dominador na relação, deveria ter o bom senso de dividir com o outro o prazer que esta liberdade de ação pode trazer. Muitas vezes porém, ocorre o contrário ou ainda pior, quando este, pouco a pouco, sutilmente, foi deixando de proporcionar ao outro as oportunidades, que para si aproveita,ou negando-as, contando muitas vezes, exatamente com a sensibilidade e docilidade do que tinha estas características inicialmente.Quando, por egoísmo ou prepotência, deixa de dividir com o outro os direitos e passa a decidir tudo sem levar o primeiro em consideração, manipulando-o, negando-lhe o direito a igualdade, está manipulando a situação para preservar sua superioridade sobre o outro, de alguma forma. Aí estará surgindo uma vítima, e uma relação de dependência que não mais se justifica.
     Somos sempre nós que devemos impor os limites do respeito, como se repete modernamente? Toda culpa recai sobre a pessoa que é abusada, de alguma forma?(seja o “homem”, ou a “mulher” em se tratando de um casal). Mesmo alguns homens de ação podem ser “usados” ou “manipulados” . Seremos tão tolos assim que gostamos de nos tornar vítimas? Ou vamos nos enredando nesta triste condição aos poucos, levados por alguma característica natural nossa, e que o outro conhece, e usa para ter controle?
     Quando alguém grita ou protesta em voz tímida sua decepção quando teme ter percebido que foi manipulado, creio que é perigoso esta mania de apenas dizer:
     -" Acorda! Deixa de se fazer de vítima!”
     Claro que há variações em que estas coisas acontecem, e cabe a cada um no relacionamento, medir a proporção de sua parcela de responsabilidade.
     Penso que estaremos sendo um pouco algozes também, se colocarmos todos os que tiveram parte de sua chance de desenvolvimento impedida pela vida ou pelo outro, no mesmo balaio,rotulando todos igualmente de masoquistas, covardes, provocadores ou ignorantes, sem compreender o processo envolvido nesta questão. É o que fazem contra o povo quando vota em alguém em quem depositou sua total confiança e que depois se mostrou um governante que abusa do poder e tira do povo sua dignidade! E dizem:
    - " O povo tem o que merece!"
     Não podemos tirar dos ombros dos que abusam do seu poder ou negam ao outro viverem sua potencialidade e suas crenças, o quinhão de responsabilidade por sua atitude. Assim como a vítima vive com a consequência de sua ingenuidade, o outro precisa também compreender que um dia a "casa cai" e a moleza pode acabar! 

Foto e texto: Vera Alvarenga

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