terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A textura da pele...

    Olhei para meu braço e notei umas bolhinhas. Está muito calor,é final de verão. Minha pele está tão fina, que no calor, ocorre este fenômeno – se eu olhasse para ela com meu olhar de zoom fotográfico, poderia dizer que se assemelha aquele corinho de porco pururuca, em dia de feijoada, que a gente tem que passar longe para não colocar no prato.
   - Nossa, que exagero! é só um minúsculo pedacinho no braço!
  Pensariam que sou exagerada. Não estariam longe totalmente da verdade, contudo meus olhos sempre viram as coisas como máquina fotográfica e me distraio com as texturas, já de longa data.
   Dizem que, quando a gente se aproxima dos sessenta anos, a pele fica mesmo mais fina. Todos os velhos são mais doces e sensíveis, então? Sim, sabemos que muitos são, mas alguns parece que não. E doçura ou ternura precisa de pele e toque, mas não depende só de sua textura. Pele é uma coisa tão incrível, que acho que temos duas...assim como temos dois corações, aquele que bombeia o sangue e o que guarda os afetos.    
   Sou uma pessoa sensível, por isto minha pele é assim tão fina? Ou por ser minha pele tão fina, é que sou sensível? Então, todas as garotinhas loiras de olhos claros, como eu nasci, seriam mais sensíveis e precisam de maior proteção do que as negras,por exemplo? Só hoje se sabe que peles clarinhas precisam desta proteção e que peles negras também são sensíveis, se não tiverem proteção ficam esbranquiçadas, rachadinhas. Parece que os extremos tem problemas. 
   O bom para resistir ao sol, seria mesmo uma pele morena, assim como a de minha mãe. Podia ter herdado uma pele com uma boa mistura dos dois,mas tinha de "sair ao pai"..italiano. Ela, pele mais grossa, resistente, pele de índio e brasileiro, como ela dizia, ou como a do meu marido, pele de espanhol, mouros, índios, negro,tudo misturado eu acho. Seriam pessoas menos sensíveis? Cheguei a pensar isto confesso, contudo, ao olhar o caderno de desenho de minha mãe que guardo até hoje, vejo como ela desenhava e penso que não poderia ser insensível. Meu marido, há um ano anda escrevendo... até poesias! Certo que sua preferência são textos críticos e poesias políticas, mas evidente que mostra sua sensibilidade em algumas cujo tema é mais apropriado ao romantismo ou espiritualidade. Como ficamos, então? Não sei. Há pessoas de pele mais sensível que outras.Tenho certeza de que, a forma como lidamos com a sensibilidade interior, é uma questão de grau e oportunidades, e que a textura da pele é, de fato, algo que indica nossos limites. Ela é o nosso próprio limite e  cada um tem de aprender como lidar com isto.
   Nossa própria pele, nos ensina muito. Quem é muito sensível,seja de que modo for,com qualquer uma das inúmeras cores de pele, precisa criar “uma pele mais grossa” para proteger-se contra o que pode ferir... “pero, sin perder la ternura, jamais”! Pois é ela nosso primeiro contato, com ela afagamos nossos amados, sentimos o outro, somos afagados, sentimos o quanto o ambiente em que estamos nos aconchega ou nos re..pele. Ela é nosso limite mais externo e o que primeiro partilha do que somos, mesmo com os desconhecidos.
   Por isto a pele de quem amamos ou queremos amar, quando está longe, vem a nossa mente e imaginamos um afago em seu rosto, um beijo na face. Temos saudades ou desejo deste contato.
   Este contato, como já foi repetidamente comprovado cientificamente, nos mantém vivos. Sem afagos, pele a pele, criancinhas não desenvolvem todo o seu potencial. Ao mesmo tempo, podemos lembrar como uma palavra ou agressões físicas, nos ferem passando pela pele, indo até a alma.
   Divaguei. Viajei na minha pele, em lembranças e em saudades. Lembrei até o cheiro “de pele” que sentia na mão de minha mãe, quando eu dormia num bercinho ainda.
   Sabe de uma coisa? Talvez nossa pele devesse ser capaz de se tornar lisa e macia ao toque, quando a oferecêssemos ao afago daquele que a gente ama, e escorregadia quando em outras ocasiões, se fizesse necessário... e rugosa, quando triste, e áspera, quando...enfim, talvez a pele pudesse mudar de textura, a um comando do pensamento!
   Será que se eu pusesse novamente em mim, aquele olhar de zoom potentíssimo, não veria isto acontecer, em alguns momentos?  
Foto e texto: Vera Alvarenga

2 comentários:

  1. Olá querida amiga tem um Meme literário lindo esperando por você no blog mundo virtual!!
    confira!!
    bjsss!!!

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  2. Como a gente se modifica a medida em que o tempo passa, não é?
    A maior alteração acredito é em nossa cabeça!
    E o corpo nunca irá acompanhá-la, por causa das suas limitações, já as memórias as experiências essas não envelhecem, pois muitas quando lembradas em tempos recentes, conseguem encher nossos olhos de alegria, ou tristeza,são marcas da nossa caminhada, agora a passos mais lentos mas o corpo continua ali, quietão, passando pelos "janeiros".
    Vera só não de prive do courinho pururuca, é muito bom!
    Grande Abraço!

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