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terça-feira, 13 de março de 2012

Na boca da noite, ele veio...

Ele chegou na boca da noite.
Ela não o estava esperando, arrepiou-se. Por instinto permaneceu atenta, a certa distância. Depois, olhou fixamente para ele e cuidadosamente se aproximou.
Ele tinha um cheiro bom, olhar distante e carente. E tinha sede.
Ele se aproximou mais. Ela não recuou mais, e sentiu o calor de seu toque, embora ele dissesse que estava quase morto de frio.
Ela o cheirou, deu-lhe de beber, percebeu sua dor, ouviu seu lamento, abriu seu peito, quis limpar sua ferida que era funda demais e teria cicatriz eterna. Ofereceu-lhe abrigo para aquela noite.
Então, quis aconchegar-se e neste gesto, sua ternura veio à superfície da pele, e também sua fraqueza e sensibilidade. Mais uma vez, beberam juntos da água. E, apesar de tudo, sorriam, juntos sentiam-se bem. Ele, dormiu um sono pesado, relaxado, seguro e sem sonhos, apenas para renovar as forças. Ela dormiu seu mais leve sono e sonhou.  Inquieta e sonhando, ela sorria. E o sonho lhe trouxe alguma luz. Então, ele partiu.

Texto e foto: Vera Alvarenga   

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A imensidão do mar...


Dar-se conta do amor que a gente tem dentro do peito é assim como ver o mar pela primeira vez e perceber sua imensidão. Primeiro a gente pensa que parece impossível que aquilo tudo não derrame pelas bordas do mundo, não invada o urbano e a natureza do outro que está próximo. 
A gente olha o vai e vem das marolas na areia que brilha a cada vez que o mar se retrai. Ele, que a hidrata e penetra. Ela, que o acolhe sem resistência. Ambos se tocam numa alternância de movimentos que pareceriam opostos, se não soubéssemos que são complementares. Como afago, carinho que faz à amante, o mar se estende grandioso e soberano sobre ela, sobre aquela que lhe dá suporte. Fica claro, neste momento, que ele é feito para banhar, alimentar, maravilhar aquele que descobre sua existência. O que vemos é o depois, depois deste ato de amor, depois que o amor toca a alma e a toma para si. É quando os dois ficam ali deitados apenas respirando, embora grande parte de si mesmos, ao mesmo tempo esteja fertilizando a vida, cada um em seu próprio elemento. Vemos o momento da intersecção dos dois elementos, onde seus limites se permitem penetrar, quando o amor e a alma a que pertence interagem e ambos se fazem um. Contudo, ele não a fertiliza diretamente, mas prepara o ambiente da amante para aquele que virá, um pescador, um habitante da aldeia ou talvez, da cidade.
Algumas vezes, este interlúdio, encontro do amor com nossa alma não é tão manso nem o ritmo é um “pianíssimo”. Quando as pedras estão em seu caminho e a paisagem se modifica, podemos ter uma visão diferente do amor que nos fertilizou. O mar batendo bravo contra a alma que está ali endurecida e não quer ceder, é uma das possibilidades. E a isto podem somar outros elementos da paisagem e da natureza, os ventos, tempestades e furacões. Então, o mar invade, num movimento de força indomável e incontida, muitas vezes furiosa, como reagindo a alguém que tivesse ousado pretender represá-lo ou mantê-lo em filtro de barro, com uma torneirinha para ser aberta só quando dele quisesse beber. Mar de verdade, não aquele das pinturas e aquarelas, vai buscando aquilo que era seu, o espaço que deveria lhe pertencer se não houvessem antes o invadido na maré vaza, ou negado sua existência só por não conhecê-lo. E, em algumas praias, temos visto que ele vem, cobre, engole, destrói até!
Ah! não é porque somos do interior, que podemos negar o que ele é. Um dia, mais cedo ou mais tarde a gente descobre que está mais perto do que supúnhamos. Ele está ali, dentro do peito, vivo, com capacidade para inundar de amor, perdão e afago, ou destruir. Ele é água, sentimento, emoção e procurará sempre o espaço que é seu. Não é possível represar a força de vida do mar, sua necessidade imperiosa de ser, sua pulsação natural. No entanto, podemos tentar conhecer aquilo que trazemos no peito. Eu, por mim, procuro manter-me numa praia mansa, onde haja espaço para deixar que se espalhe, pois um dia tentei contê-lo, e aprendi que isto não é viável.
Independente de eu ter escolhido amar o mesmo pescador, entre tantos, pela eternidade,
a paisagem neste tempo nunca seria a mesma e as marés se revezaram. Eu sei, assim é a vida para quem vive com o mar a seus pés ou dentro do peito. Um dia apanho conchas, deito na areia fresca e banho meu corpo, sentindo o sol brilhar em minha pele. Em outra manhã, logo após a maré cheia e a tempestade, verei destroços, galhos e algum lixo. O pescador pode ter se ausentado em viagens a procura de conhecer mares distantes, ou mesmo entrado mar adentro de seu peito até descobrir quem, afinal, habitava suas praias.
Mansa era minha forma de amar e embora tenha escolhido uma praia tranqüila para viver junto ao mar, um habitante de Nova York, náufrago de tempestade, trazido por inesperada corrente marinha, poderia aparecer de repente na praia idílica e quase deserta onde eu estava. E talvez se demorasse a descansar e observar as conchas, e a respirar a brisa do mar que conheço. O mar que, por seguir pulsando dentro do peito, iria fatal e naturalmente de encontro aquele que ao se aproximar demais, mostrou que trazia nos olhos o mesmo brilho da areia e de estrelas marinhas. 
Água do mar é viva. Não morre como estátua no cimento, não pode ser mal contida. Seu destino é fluir, banhar, encontrar-se com o limite que a receba. O amor dentro do peito, não pode ser represado. Mar também não. É desperdício não crer em sua capacidade de fertilizar a vida. Tolice imaginar que ao se recolher na maré baixa ele ficasse por lá, para sempre quieto, e não retornasse trazendo tesouros ou escombros de suas profundezas. Ele não obedece à nossa vontade, mas ao que está acima de nós, e pertence à nossa natureza.
Minha natureza é a daqueles que conhecem o mar, mergulharam nele de corpo inteiro e andaram anos com os pés tocando suas águas rasas e a areia, exatamente naquele ponto em que o amor e a alma se encontram, numa paisagem que se mostra diferente a cada dia, a cada fase da lua.
Portanto, procurar a praia onde possa de novo deitar com o amado e amar mansamente é instintivo, é o único modo de conter o mar, é reencontrar a paz e sentir, como no respirar dos amantes, o pulsar harmonioso da vida que se completa no movimento  daquilo que, neste ato, encontra sentido.
Texto: Vera Alvarenga
Foto: Priscila Pereira 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Quando quero me aconchegar...

  Tenho uma característica, não sei se indica um ponto fraco ou se é apenas natural, algo que faz parte de mim...
  Tem dias em que tudo está bem e então, a calma em mim se faz, e me sinto assim, como um inseto que procura mel.
 Então, me sinto atraída por você.
 E como a abelha que vai em busca do néctar e se deixa envolver pelo abraço das pétalas, me dá vontade de me aconchegar.
 É uma característica de minha natureza, que me faz pensar em você, não por estar me sentindo triste ou só, mas por uma docilidade que toma conta de mim.
 Isto me lembra uma vez que vi este casal de leões.
Tranquilos, aconchegados em seu momento de relaxamento, a fêmea com a cabeça apoiada nele, que dormia.
  Ela só não pode relaxar também porque uma porção de garotos de uma escola, intrusos como eu, se acercaram de seu momento de docilidade.

 Às vezes, eu me sinto assim, como a natureza que quer descansar em paz e em pares...


Como é bom quando nos sentimos assim, e podemos nos entregar a estes momentos de
preguiça, de calma, de aconchego, de carinho,
de paz, de ternura...

Que nos adoça a alma, acalma, repõe energias,
nos equilibra, nos flexibiliza...

Como seria bom que nada impedisse o desejo de ainda sermos naturais, como as abelhas que naturalmente procuram e encontram o néctar,
no abraço das flores...




Texto e fotos: Vera Alvarenga

domingo, 8 de janeiro de 2012

A história dos rabinos e eu...

Andam me contando histórias..e elas me fazem pensar.
A daquele anjo, por exemplo,que levou 4 rabinos ao céu, onde eles contemplaram algo tão maravilhoso que ao descer do Paraíso para a terra novamente...
... o primeiro, após ter visto tanto esplendor, enlouqueceu e passou a perambular espumando de raiva até o final de seus dias. ( e bem assim estava eu, há pouco tempo, espumando de raiva e me sentindo culpada por isto). Que destino cruel o dele. Não quero isto pra mim.
... o segundo rabino encarou tudo com cinismo:  - -  
- "Ah, eu só sonhei com tudo, só isto, nada aconteceu de verdade. Foi só sonho!" ( que pena! eu bem pensei assim também. Nunca pensei que seria cínica na minha vida, mas algumas vezes é uma saudável opção agir como a raposa que diz - as uvas estavam verdes! outra, que pelo cinismo se salva da loucura e se cura da raiva.)
... o terceiro passou a falar incessantemente sobre o que havia visto, demonstrando sua total obsessão e assim, perdeu-se e traiu sua fé. ( Assim diz a história. Eu penso que tudo o que ele sentiu pode ter sido tão grandiosamente simples e maravilhoso que ele não podia conter dentro de si. Contudo, a obsessão talvez tenha sido a de continuar a desejar, e desejar colocar tudo na realidade palpável. O que não seria erro, se fosse possível. Afinal depois que nos inspiramos, e foi assim comigo, a gente quer trazer à realidade, e dar a ela um maior sentido.)
... Bem, o quarto rabino, este era poeta e usou toda a sensibilidade despertada nele, pegou um papel e uma flauta, sentou-se junto à janela e começou a compor uma canção atrás da outra, elogiando a pomba do anoitecer, sua filha no berço e todas as estrelas no céu. E daí em diante passou a viver melhor.
  Pensei sobre este rabino em particular.Como ele me lembra o que eu fui e fiz desde o começo de meus tempos, desde menina quando a sensibilidade e um amor puro transbordavam de mim. E me lembrei que, chega um dia em que, na maturidade, a gente quer ver transformada a realidade que nos toca de perto, e quer sentir o amor chegar de fora pra dentro, e nos tocar como milagre surpreendente. E os olhos vêem o mundo de outra forma. Então, após decepcionar-se e depois quase tocar os céus por instantes, a gente fica como os 3 rabinos anteriores, esquecendo-se do que é ou não sabendo mais como sê-lo! Isto aconteceu comigo, sem dúvida!
   Ainda mais me convenço de que..." diante do que é o sentimento do amor, todo gesto que não vem inspirado por ele, e tudo o que não é mais o amor, nos parece sem vida ou grotesco!"
  Sabe de uma coisa? Esta história me lembrou que preciso voltar a ser poeta! ainda que esta história não tenha me ensinado como me conformar com o andar sobre pedras, quando podia estar deitada na relva macia de um jardim florido que vislumbrei lá no paraíso....
 
texto: Vera Alvarenga
foto retirada do Google, onde não estava nomeado o autor.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O romântico, culpado de traição!

Entrou sozinha, sentou-se, pediu café com canela.
Tentou colocar-se à vontade, como se estivesse habituada a ir sozinha a cafés. Não estava. Olhou as mesas ao redor. Mulheres conversando aqui e ali, uma mãe com sua filha adolescente, um homem de cabelos grisalhos olhando no relógio e, em seguida levantando-se para cumprimentar a mulher um pouco mais jovem, que acabava de chegar sorrindo.
  Ao sentir o cheirinho e experimentar o sabor do líquido quente que lhe foi servido, sentiu-se estranha. Como se o prazer não pudesse ser experimentado num momento solitário. Como se tudo que desse prazer tivesse de ser compartilhado. Era assim para ela, por isto parecia estar traindo alguém.
  Sorriu. Quem sabe aqueles dois...olhando-se com aquele ar de cumplicidade, sorvendo tão rapidamente o delicioso café como se tivessem urgência em sair dali. Algumas coisas a gente reconhece à longa distância, é como o aroma que se espalha no ar. E eles se levantaram. Ela baixou o olhar, evitando ser intrusa e também desejando voltar a si mesma. A gente se distrai muito com outras pessoas e pouco olha para si, pensou . Claro que seria muito melhor estar ali com companhia, como aqueles dois, mas sentia prazer assim mesmo.Solitário prazer que deveria ter seu tempo alongado. Então, pediu torta de chocolate.
   Não tinha dito a ninguém que ia tomar café ali, sozinha, nem poderia imaginar que isto lhe daria prazer. Mas dava! E não, não estava traindo ninguém. Aliás, o que seria a traição? Tanto se fala sobre traição. Traição, algo sempre imperdoável. Ela não podia estar traindo com algo tão simples, para o que sabia não ter companhia apesar de ser desejo antigo, apesar de ser apenas uma das coisas que não podia compartilhar. Então, havia prazeres que devia buscar por si! Isto de querer companhia era um "problema seu", uma vez que há muito tempo sabia que o companheiro nem sempre esperava sua companhia para satisfazer seus desejos. Ah, e o que é o desejo? Algo que cresce em nós mas podemos sempre sublimar, transformar sua energia em algo "produtivo"? Por vezes, o que precisamos, e com certeza queremos, é satisfazê-lo ou matá-lo. Então seremos culpados, cúmplices de um crime. Seja porque matamos o desejo ou porque vem de algo que tanto nos fazia falta que cresceu em nós e acabou por ser imperiosa necessidade para sobrevivermos. E de tudo seremos capazes, até tomar para nós o que nos vai nutrir! Seríamos, por isto, menos culpados? Ah, mas se assim fosse, os que roubam para matar a fome cometem crime mas não seriam condenados. Imaginou alguém, num palco, dizendo: - Cortem-lhes as mãos, tirem-lhes a liberdade, olho por olho...!
  Esta coisa de traição era mesmo um assunto complicado. Para ela, era mais sério do que fazer sexo, ou mesmo amor, com outra pessoa! Traição era desprezar o amor que você tanto quis para si e substituir o acordo mútuo por uma atitude falsa e descomprometida.
   Sorriu mais uma vez, reconhecendo que seus pensamentos vinham-lhe de modo teatral, de certa forma. A vida em si, parecia um teatro de fantasias mesmo para ela que gostava da verdade. A vida estava no centro do palco, não porque fosse falsa, mas porque era vibrante e dramática. Quem seria o inocente? e o maior culpado naquele ato, qual seria? Certamente é aquele que, de olhos fechados,  com nada se contenta. Não dá valor ao que tem ou ao que veio a suas mãos porque  tomou pra si e conquistou, e transforma esta conquista no motivo de seu desinteresse, na certeza de que o poder sobre o conquistado é eterno. O que tem fome, vai buscar alimento por instinto de sobrevivência ou definhará. Mesmo o insaciável vai buscar o prazer em outro lugar, porque ainda tem fome!
   Contudo, o egoísta, este é o pior. Ainda que apenas suspire pelo que está distante não despreza totalmente o que possui, ao contrário, o desvaloriza e o enfraquece mas apega-se porque lhe dá prazer e o mantém junto a si com promessas que sabe serem uma ilusão, porque teme comprometer-se, dar igualmente de si. Irresponsável traidor de si mesmo, extrativista em busca de mais e mais para viver é como o homem que suga da terra tudo que ela lhe pode dar, sem notar que fertilidade é um processo de relacionamento e que demanda cuidado. Não há solo fértil que se mantenha assim, sem uma relação de respeito.
   Não era, no entanto, nos traidores cínicos que ela pensava. Era nos inocentes, nos que nunca antes pensaram trair.
   Os românticos que se entregam totalmente. E fiéis, e confiantes, seguem a lutar por uma bandeira, até o dia que percebem que, por quase todo o tempo, estiveram mais sós que acompanhados? Ah, estes apenas fantasiam, imaginam um amor para si com tanta ternura que todos ririam, se soubessem o que sua sensibilidade esconde. São ingênuos, estão perdoados! Não sabem que querem o impossível? diriam todos. Pobres coitados, não sobrevivem sem amor, como os artistas não vivem sem o belo. Contudo, atentos, os competitivos diriam: - Prendam-nos! eles são os piores, porque traem com alguém que jamais poderia ser vencido!
  O objeto de seu amor, pensarão, seria tão idealizado e perfeito, que ser humano algum poderia competir com ele. É como aquele cheirinho do café que a gente sentiu na nossa infância, ou daquele bolo que só a mãe ou a avó faziam...nunca mais alguém conseguirá vencer este desafio com o que se iguale a tão apetitosa lembrança e desejo. Seria por isto que os românticos e ingênuos são os piores?
  Não, não por isto. Eles apenas acreditam na partilha. Na verdade, são os piores sim, porque sem que muitos saibam,  eles se apaixonam por algo tão real, e muito simples, e fundamental - pelo amor. Simplesmente pelo amor que contém amizade e respeito, e quem puder lhes oferecer isto, realmente  terá toda a sua atenção. Eles sabem que serão saciados se encontrarem o amor. Porque já o provaram, já provaram de seu próprio amor. Não conseguem fazer de conta que nada sentem. Eles só desejam poder amar de novo.Conhecem o amor, porque foram capazes de amar, talvez durante muito tempo, uma vez. De fato, eles não trairiam jamais! O que ocorre é que, diante do que é amor, o que não é, finalmente a seus olhos livres da nebulosa ilusão, não sobreviveria.
   O sensível "trai" tudo o que não é mais amor, ou o que nunca foi.
   O que mais se sensibiliza com as sombras e demora a conformar-se com viver nelas, é o que já conhece a luz.
 Então, ao contrário do que parece, os sensíveis não desejam nem sonham com o que o companheiro jamais poderia ser para reconquistá-los novamente. Não desejam o impossível. Não como aqueles que fingem não sentir, não como os que se dizem traídos e que, se um dia são vencidos não é por um fantasma mas por sua incapacidade de compartilhar ou viver na luz. Porque na luz, descortina-se o simples no real, enquanto que no escuro, apenas o que é glamour consegue ser valorizado, e os sentimentos se escondem na penumbra. Os sensíveis desejam algo que está facilmente ao alcance, embora muitos não o percebam. Por isto sofrem. Os românticos, os sensíveis sofrem porque vêem a possibilidade na simplicidade, onde outros não conseguem ver. E, para não trair sofrem, mas acabam traindo de uma maneira ou outra. Porque traem a seu próprio ideal quando não encontram mais seu antigo objeto de amor, que se tornou inalcansável porque não quis descobrir-se do véu que o isola e o impede de compartilhar de si. O egoísta que não se mostra contente e exige cada vez mais, traiu primeiro a quem se uniu para compartilhar. E, ao trair, atrai para si, mais cedo ou mais tarde, o mesmo.
  Quando se fala em traição, não daqueles que traem porque é assim que entendem a vida, que traem em inúmeras pequenas e irresponsáveis atitudes, mas daqueles que gostariam de não fazê-lo, é porque no final das contas, seu desejo, saudade e carência tornaram-se imensos. E quando se fala em traição, na maior parte das vezes é porque já sofreram antes inúmeras pequenas traições, que passaram desapercebidas ou   não puderam encarar, porque o sol acabava encobrindo-lhes a visão. A traição que dói é aquela por amor, quando um não consegue mais evitar o desejo  de apaixonar-se outra vez, quando percebe que esteve vivendo parte do tempo no Ades, e quer sair à luz, banhar-se nela, mesmo que por isto fique momentâneamente cego.
   Podemos cegar-nos num ambiente triste, úmido e escuro, ou igualmente, com os raios de uma manhã de sol, ou com o pólen de dourado brilho das asas de um pássaro!
   O sensível adapta-se à sombra, mas prefere a luz.  Então acontece que, aquele que nunca desejou trair, trai, mesmo que por um segundo e em pensamento.  Apaixona-se pelo amor que conhece, pelo amor que sentiu e que o satisfará, porque já o experimentou. Trai ao outro porque apaixona-se pelo amor que o outro não pode lhe dar. Antes, já traiu a si mesmo, ainda que sem perceber, insistindo em amar mais ao outro do que a si próprio, apesar de tudo.
   O romântico e sensível num último olhar ao centro do palco percebe que mesmo aquele que o traiu por não cumprir sua promessa de partilha da benção do maná, também aquele foi vencido antes mesmo de se unir a alguém,  talvez porque nele, o desejo de amor estivesse desde o início, tão voltado para si mesmo que jamais poderia ser saciado.
Texto: Vera Alvarenga
Foto: retirada do Google -não está citado o autor da foto.

domingo, 6 de novembro de 2011

Tempo de delicadeza...

Há o tempo da paixão
e o da delicadeza...
Sob suas águas mornas e calmas,
ainda que aceitasse com ternura
os frios desígnios da natureza
com suas asas de candura,
sob a luz, escondida correnteza
corria nela ainda livre, emoção
que pelo corpo se entranharia
feito pulsante artéria principal,
levando o desejo de vida
e cor, ao que então não morreria.
Assim, como era natural
a quem conhecera o verbo amar,
finalmente permitiu-se sonhar
que num doce e envolvente abraço
ao amor se entregariam.
E o que pele, corpo e alma sabiam,
demorou-se ela a compreender :
- mesmo seu delicado sentimento
jamais se poderia opor
ao que é da natureza do amor,
ao soberano desejo de pertencer.

Foto e poema: Vera Alvarenga
Vídeo you tube









terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sobre a morte...

 Quantas lágrimas a gente já chorou diante dela?
 Quantas vezes nosso orgulho se desfez diante dela?
   Ela vem por vezes tão inesperadamente, que a gente nunca sabe o que esperar dela. Algumas vezes é tão estúpida, injusta, outras vem de manso e a gente está tão triste de ver aquele que ama sofrendo que chega a bendizê-la. Sei que ela é necessária, de algum modo para renovação de tudo que há neste mundo. Mas de qualquer modo, é inexplicável sempre para mim. E ela sempre vem, infalível, eficiente, inadiável, cumpre seu papel e se vai, sem direito a apelação, sem emoção, sem nenhum sentido para quem fica. Daquela fonte, não podemos mais beber,daquilo que morre não poderemos mais nutrir a vida que há em nós.
   Quem fica é que cai de joelhos, chora rios, ou esconde tempestades no peito. Quem fica é que sente toda a incoerência de estarmos aqui, ao mesmo tempo que percebe como é necessário refletir no modo em que vive a vida, enquanto aqui estiver. Porque quando ela vier, tudo que conhecemos se acabará e não sabemos, de fato o que virá.
   Sim, eu sei, alguns sabem, ou assim acreditam. Que sorte a deles! Eu ainda não sei, procuro crer, há momentos em que realmente creio e outros em que sinto que é melhor nem pensar a respeito porque não posso aceitá-la, a não ser através de minha fé ou crença, que construa para mim, o que me salvará do medo que tenho dela. Porque ela é implacável e soberana, e tão superior a tantas outras verdades relativas, que iguala a todos nós, de todas as raças, de todas as crenças, de todos os amores. Ela vem e acaba com qualquer dúvida, e mostra que enquanto existirmos, ela existirá, e tá acabado!
Por isto, prefiro nem pensar nela e tenho de desprezá-la. Não me entenda mal, por favor, senhora, reconheço sua soberania sobre tudo e todos que conheço, sobre o reino fincado neste solo de tantas mães gentis, e até por isto, e por reconhecer-me impotente, deve desviar meu olhar de si e seguir em frente com sua opositora, feliz da vida enquanto posso sorrir e esquecer-me de sua existência. Perdoe-me por isto, mas é o que posso fazer... levar comigo em meu pensamento, nas boas lembranças, todos os que a senhora levou para não sei onde. É o que posso fazer, o carinho que lhes posso dar. E minha fé em que um dia vou reencontrá-los de alguma forma, sei lá como e isto nem importa, é o que me consola. E lembrar que temos tido pequenas evidências de que, o que vai consigo não é tudo o que temos, e mesmo o que levará um dia de mim não será tudo o que sou, me traz certa tranquilidade ao coração. Só assim, apesar da dor que fica quando perdemos alguém, só assim podemos imaginar que um dia, humildemente estaremos de alguma forma pisando em sua cabeça com algo que será eterno, mas reconheceremos então, que a senhora fazia parte apenas complementar no mundo de opostos, do que a gente chamava de vida! Quem sabe a Vida tenha sido mais esperta e numa tática do preservar o sempre existir, tenha se dividido em duas e, apenas uma de suas partes veio se colocar neste mundo de dualidades de igual força. Assim é que vida e seu oposto seriam apenas uma ilusão, apenas reflexo de uma vida perene. Como seria isto? Evidentemente não espera que eu lhe responda,não é senhora? Afinal, esta é a parte de mim que também não compreendo, mas que, ao contrário de si, ela não se dá a conhecer e ninguém que eu saiba conhece seus segredos. Por isto, não há o que possa destruí-la, perca as esperanças!

   Que os que perderam seus queridos possam ter alguma tranquilidade no coração e jamais desistir de viver a vida de modo a transformá-la numa benção, enquanto for possível beber desta fonte.
Texto e fotos: Vera Alvarenga   

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Nova versão para a escolha amorosa de Páris..

 Na mitologia, o Julgamento de Páris representa o problema da escolha no amor, 1º grande desafio que a vida nos força a passar, e que representa nossos valores e o tipo de pessoa que queremos ser. Páris escolheu Afrodite seguindo mais seus instintos( de acordo com o livro que li),pois era jovem, e o apelo erótico e amoroso tinham grande peso, e não ponderou sobre a necessidade que teria dos dons que as outras escolhas lhe trariam.
  O mais importante nesta figura mitológica não é se ele cometeu um erro mas, que nos mostra que qualquer escolha que fazemos traz consequências para nosso "Destino". Pensando na escolha de Páris, cheguei à conclusão que, embora já não seja jovem como ele era da primeira vez, minha escolha continuaria a ser fundamentada no que mais acredito que necessito do outro e para mim como pessoa. Para brincar comigo mesma e com meus amigos, fiz uma nova versão de Páris, agora com idade madura..rs...tendo de fazer uma nova escolha entre 3 Deusas. Então é assim...
 - " No tempo em que deuses habitavam o monte Olimpo e os homens ainda apaixonavam-se por deusas, Páris, homem já maduro, foi chamado para escolher uma delas, desta vez já tendo conhecimento, por experiência, que as outras duas tentariam se vingar ( se ele se encontrasse desprevenido! ..rs...).
 A 1ª , numa grande bandeja de ouro, cravada de pedras valiosas, trouxe-lhe e lhe ofertou o Poder e a Influência no Mundo, ainda lhe prometendo deixá-lo ir e vir para usufruir disto, como bem quisesse. Páris encheu-se de júbilo ao imaginar com que prazer tiraria proveito desta oferenda.
A 2ª, numa bandeja igualmente grande de prata, forrada com valiosissimo brocado trazia um livro com inscrições de ouro. Ofertou-lhe o Conhecimento sem limites e garantiu-lhe que ela estaria à altura de sua Inteligência, podendo aconselhar-lhe para conseguir a realização de seus anseios políticos e de justiça, incluindo saber as respostas a todas as suas dúvidas existenciais. Agradou-o enormemente ao intelecto, tal proposta, o que lhe preocupou porque sentiu que seria difícil escolher e ficou apreensivo quanto ao dom da 3ª. Esta porém, o decepcionou de certa forma.
 Trazia uma pequena bandeja com uma taça dourada,onde apenas um diamante brilhava. Contudo, embora não fosse a mais exuberante e, para contrariar a história, nem a mais bela das três, vinha,mesmo assim, com um semblante calmo.
 Páris notou surpreso leve tremor em suas mãos, mas em seu olhar viu orgulho quando ela o dirigia a sua oferenda.
- Não lhe ofereço Poder, nem total Liberdade, pois ainda não os conquistei totalmente. Quanto ao Conhecimento, temo que terei de aprender muito contigo. Porém, não sou modesta! Prometo amar-te como se fosse o meu deus, embora saiba que não é, e oferecer-te a Felicidade numa taça a cada dia, nunca deixando de retribuir cada gesto teu que me surpreenda ou agrade, porque terei enorme prazer em amar-te. Te darei meu colo e irei aconchegar-me no teu. Através do ato de poder te amar, serei feliz e fiel ao próprio Amor, de quem sou cativa e sem o que, nada sou. Eu te farei feliz porque jamais rirei de teus sonhos e serei companheira em teus voos, com a única condição de participares comigo de um ritual uma vez por ano. Nele, nos olharemos nos olhos e, do que virmos dependerá o quanto poderei continuar a te fazer feliz.
Dizendo isto, afastou-se emocionada.
  Páris estranhou o fato da deusa, exatamente a que falava de amor, trazer velada em sua oferta certas condições. Desconfiou de sua idade, que não aparentava a beleza eterna das outras deusas. Virou-se e ao pé do ouvido de seu conselheiro Saturno, o também chamado Tempo, perguntou:
- Não achas estranho? Não te soa meio falso falar de amor e desafiar-me a merecê-lo?
- Tem razão, Páris. Quero alertá-lo de que, neste ritual a cada ano, notarás que ela estará envelhecendo um pouquinho e talvez também precise de ti.Contudo, posso garantir que não se trata de falsidade, mas de certa "condição" desta deusa.
- Conta-me, sem demora, então! Que segredo esconde esta deusa?
- Seu segredo e seu pecado foi uma vez ter deixado de amar, e então, renunciou a sua condição divina e tornou-se, para sempre, quase totalmente humana, com exceção dos momentos em que puder estar amando.

Foto e Crônica : Vera Alvarenga.


domingo, 23 de outubro de 2011

Apaixonar-se? outra vez?

Estava lendo um texto sobre o apaixonar-se que fala de um modo divertido sobre as agruras por que passam os apaixonados.
Então me lembrei que já me apaixonei poucas vezes, na maioria, reapaixonei-me".
Pensava assim: Se conhecesse outro homem e me apaixonasse,  desejaria dar ao relacionamento todas as chances, teria paciência, valorizaria nele só as coisas que me agradassem, não é?. Então pensava, se a vida é um jogo, é preciso aprender a jogar com as cartas que ela nos dá. Alguém me dissera que a vida era um jogo. Não queria jogar para blefar, nem guardar cartas na manga. Pensava em "jogo da vida" para entendê-la como algo positivo que nos desafiava, que trazia surpresas, tinha regras, mas podia dar prazer a dois parceiros que jogassem com honestidade,pelo prazer de estarem juntos para se divertir, apesar de tudo. Eram, na verdade, dois parceiros a jogar unidos, o jogo que a vida lhes apresentasse! Não deveria ser um contra o outro. Deste modo, quando a rotina nos distanciava eu tentava embaralhar as cartas, trocar dados viciados, usar a criatividade.Olhava para aquele que estava comigo há anos e me perguntava o que eu gostava mais nele, o que nele me atrairia, e o que eu podia fazer para virar o jogo a nosso favor. Assim, nos seduzíamos, e não era difícil para mim, sentir-me novamente apaixonada, porque era bom, a não ser pelo fato de que demonstrava minha insegurança - tudo ficava tão bom que eu temia que acabasse. Portanto, outrora, nunca me arrependi deste sentimento. Talvez muitos casais façam o mesmo. De vez em quando tudo se repetia como num disco quebrado. Eu devia estar fazendo algo errado, embora resultasse certo. Pois apesar de a cada vez colhermos recompensas, parecia que era eu que devia proporcionar as condições para que tudo ficasse azul e em paz, como é o céu dos apaixonados.
Com o tempo, surpreendentemente, me reapaixonar ficou mais difícil, embora antes não fosse sacrifício nenhum, porque gostava de estar apaixonada, pelo mesmo homem. 
Estar apaixonada era desarmar-se, entregar-se, uma coisa pra lá de boa! E era fazer sexo, com frescor e juventude algumas vezes por semana. Bom demais, para ambos!
Contudo, falar em apaixonar-se já numa idade em que a gente está um pouco cansada de só receber quando agrada,  e começa a querer receber mais, numa idade em que a gente
se olha no espelho e não vê mais uma mulher cuja aparência seja coerente com o que ainda sente, numa idade em que o espírito ainda é mais alegre do que o rosto consegue demonstrar, apaixonar-se, entregar-se a este sentimento que nos lança no escuro já que estamos meio "cegos" como dizem alguns, apaixonar-se com romantismo, sem a imediata retribuição, pode nos fazer fugir ou tremer na base. É uma faca de dois gumes que mais se pareceria com uma ferradura, com as duas pontas voltadas para o ser apaixonado. Nesta idade, apaixonar-se é sofrer é arriscar-se demais, por isto muitos ficam anestesiados. 
E é bem nesta idade que a sociedade mais nos cobra que tenhamos maturidade para sabermos que nesta vida, "não há certezas"! Bobagem! A sabedoria da maturidade não nos garante maior segurança, pois o sentimento de apaixonar-se é o mesmo de quando estávamos mais jovens, mas o corpo então, podia fazer movimentos livres, soltos e mais sedutores, e não tínhamos medo! O nosso espírito quer, mas o corpo não é o mesmo. Ah, dirão alguns, mas no amor...
Sim, respondo eu, no AMOR, o corpo não importaria tanto! 
Mas e quando é preciso apaixonar-se ou reapaixonar-se primeiro? Afinal ele, eu, estaremos envelhecendo e sabemos, é preciso outro tipo de sedução, confiança. Penso que o desejo é movido pela alegria de estar junto, não mais por um corpo escultural ou sedutor.
Pois é, na maturidade é preciso coragem e decisão! Decidir não desperdiçar a vida, decidir assumir comprometimento, decidir resgatar ou valorizar a amizade e o carinho que começarão a ter uma importância infinitamente maior. Alguns homens se afastam, outros ficam amargos ou se fecham devido a insegurança que sentem quanto às mudanças no funcionamento de seu próprio corpo. Embora tudo pareça culpa da mulher, e se faça até piadas a este respeito, o que acho de extremo mau gosto, na maior parte das vezes, é ela que precisa sublimar desejos. Sei que alguns homens, sem precisarem se iludir,  mantem um relacionamento de amor e sexual satisfatório mesmo após os 65 anos de idade, mas certamente são os que tem um relacionamento no qual AMBOS ainda sentem a alegria de desejar proporcionar ao outro e a si, momentos de brincadeira e isto só pode refletir o prazer que sintam em viver juntos - e assim, comemoram a vida. Muitas vezes, mesmo quando o ato sexual não seja mais possível para o homem, como antes, se houver alegria no coração de AMBOS, corpo e  mente encontrarão uma maneira criativa de enfrentar mais este desafio.Então estarão juntos com uma qualidade de vida que transparecerá no brilho do olhar, apesar de envelhecerem juntos. 
Se apaixonar-se é loucura, na idade madura é ainda pior! não é fácil. Nem para um homem, nem para uma mulher, a menos que este apaixonar-se leve junto a alegria, e à descoberta do amor, carinho e grande amizade, pois é disto que precisamos ainda mais do que da paixão, após os sessenta e poucos. Embora apaixonar-se após os sessenta nos encha de uma vida que pensávamos não ter mais, e quando correspondido possa levar ao amor, é um sentimento que dá medo, eu acho, porque pensamos que não temos mais tempo de não ser correspondidos, não queremos mais ser manipulados justamente quando estamos talvez mais prontos e maduros para o amor, que voltará a ser leve, à sua própria maneira. 
O texto do qual falei no início termina dizendo que a loucura da paixão passa e ..."a alma que parecia apartada de tudo retornará dando vida ao corpo e então, você poderá compreender tudo isso e esperar que um amor de verdade chegue".
Pois eu não sei do que se trata esta ausência de minha alma, que há tempo demais está não sei onde! Se é medo ou o que. Queria minha alma de volta pra mim, para viver uma realidade que eu pudesse tocar, carinhar, reconhecer e por ela ser reconhecida, com a equivalente medida de carinho que dou. Compreendo muito bem agora, quem deseje fugir disto( como comenta a Sissy). rs....
Apaixonar-se é mesmo loucura, não é tão bom assim.rs... Amar sim, pois amar é atitude responsável e individual, mas o que resulta do verbo, o amor, é algo construído a dois, lenta e cuidadosamente. Amar é ser chamado porque o outro quer nossa companhia para as coisas boas também, porque o outro nos quer em sua vida e sente que nos ter é um tipo de presente, é retribuir este sentir naturalmente, é velar o sono do outro porque ele é jóia rara e delicada. Penso que é assim que se cuida de quem se ama. Quero voltar a sentir, calma e seguramente de novo, com todas as rotinas deliciosas e bem vindas, um apaixonamento que se descubra amor! Na minha vida, me reapaixonei tantas vezes. Onde estará minha alma agora? Minha alma amorosa e crente era o melhor de mim e sinto falta dela!
Por que agora é mais difícil? Por que agora somos mais condescendentes com tantas coisas e mais exigentes com poucas outras? rs... Por que deixamos nos escapar pelos dedos, como areia, o prazer de viver que ainda podemos sentir? Vejo o tempo e a areia escorrerem na ampulheta num ritmo diferente do meu, que desejo e sigo com mais calma, do que a pressa que ele teima em mostrar. Quero agarrar minha chance, mas tenho medo. Com a idade, enxergamos menos, mas sentimos mais?
Como avisar ao espírito que só ele não tem idade e que só para ele tudo é possível? Como acalmá-lo e dizer-lhe que tudo está bem, apesar das coisas que passamos a conhecer? Talvez por isto o "velho" volte a ser inocente, porque se desprende do que lhe era importante e muda seus valores,mas eu queria poder fazer isto por opção consciente,por ser feliz de fato, não apenas porque a vida é mesmo assim. Há velhos que apenas carregam a vida ou desistem e outros que flutuam em sua leveza!

Por isto o ser humano tem de sonhar. Se não puder sentir-se especial por qualquer motivo verdadeiro que alguém compartilhe consigo, ele acaba por inventar um, se não puder sentir-se  capaz de ainda viver um sonho, a vida a partir dos 60 seria como minha madrinha recomendava para minha mãe: 
" Vá pegar no terço e rezar!"..rs......

Texto: Vera Alvarenga
Fotos retiradas do Google
Texto citado da amiga Marcela no link:Paixão é navegar em barco de papel. 

domingo, 16 de outubro de 2011

Queria ser brisa para beijar-te...

    Hoje eu queria poder ser como o vento de primavera que leva consigo o perfume das flores, e passando por teu rosto, o faria levantar-se. Te distrairias, por curiosidade, do que te mantinha dentro do espaço cujos portões de ferro são pesados demais para minhas mãos abrirem e sairias para sentir o vento. E ele seria, em teu rosto, o meu beijo.
  Feliz e forte, como ventania, aos teus olhos incrédulos, varreria folhas secas e rugosas que o inverno teima em mostrar-te para te fazer sofrer. Num segundo me tornaria cálida e terna como brisa de verão para aquecer teu coração. Como brisa fresca, traria leve frescor para nossos corpos e libertaria nosso espírito.
   Eu me sentiria bela e te faria belo, e juntos, sem pressa dançaríamos a nossa dança. E eu iria envolver-te inteira, varrer do teu tempo e do meu, tudo o que fosse mau. E em nós e nossas lembranças traríamos todo amor que aprendemos e já pudemos sentir por alguém, o mesmo amor que já nos alimentou, ele que nos alimentaria ainda e  através de nós e de outros, alimentará o mundo, sempre e sempre.
   E antes que tivesses medo e te fechasses pra mim, ou que tua face se tornasse de novo séria e dura, ou triste, e que em sua fronte se fizessem as marcas de um olhar novamente descrente e distante, e que por isto minha alegria se dissolvesse, eu me afastaria de ti. Porque tenho medo de ficar novamente do lado de fora de qualquer fortaleza, porque sei que não sou perfeição nem solução, mas apenas amor que precisa se dar e receber, então, por este meu próprio medo e minha fraqueza, eu me afastaria, mesmo que longe de ti me sentisse morrer de um amor que não se fez por inteiro.
   E, no fundo do meu coração, prisioneira, esperaria que um dia tua mão viesse me buscar...
Texto: Vera Alvarenga
Fotos: retiradas do Google images-não estava citada a autoria.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Um mundo todo iluminado...

 Como em Paris...
   Ela já se perguntara muitas vezes por que motivo, apesar de todo o amor, tudo tinha acabado desta maneira.  Não sem luta, nem de repente, mas de uma maneira insidiosa, triste e sem jeito de se evitar.
Não encontrava resposta. Talvez porque o amor tinha sido sustentado por alguma coisa que era mais finito e passageiro do que o tempo deles. Talvez porque o amor deles tivesse beleza mas não possuísse a alma dos dois. Ela não tentava mais saber nem de si mesma. Aquele, era um daqueles dias em que o mundo parecia ter parado e ela, nem se importava. Não era mais possível recomeçar, apenas seguir em frente.
Então, o seu amor veio. Sem lhe pedir licença, andou pela casa dela a procurar e quebrar espelhos, quando os encontrava. E quebrou todos, menos um.
Já estava começando a escurecer. Ela devia estar sonhando acordada...só podia ser.  Foi acender as luzes. Ele a deteve. Levou-a de fronte ao único espelho que deixara restar na casa. Ela não queria olhar. Já sabia que se tornara uma estranha e que o amor não podia mais existir - faltava-lhe sua juventude, o que o sustentara até então. Por isto, virou o rosto.
Com mãos firmes, ele a sacudiu um pouco pelos ombros, como para acordá-la de um pesadelo. Quem era este homem? Então, ela olhou primeiro para o rosto dele e viu que ele a olhava.
O último clarão do sol entrou pela janela, refletiu no espelho. Era a mesma luz dourada que clareia intensamente tudo, antes que o sol se vá e deixe a sombra anunciar de vez, a noite. A luz refletiu em seus olhos e impediu-a de enxergar. Finalmente ela viu. No olhar dele viu tanto amor e cuidado, que o medo se desfez.
Devagar, foi descendo o olhar até encontrar-se com um rosto mais abaixo do dele... era o seu. Não conseguiu encarar o próprio olhar. Como é difícil olhar para si mesma quando se sente que o tempo nos escapou! Desviou o rosto, quis afastar-se dali. E ele a sacudiu levemente, de novo.
Surpresa pela insistência dele, olhou-se. Seus olhos encontraram-se com os daquela outra, que era ela. Que pena, pensou, o que posso oferecer agora? A juventude pela qual eu fui amada, se foi para sempre!
Ele, que nunca antes tinha amado aquela mulher, aproximou seu corpo ao dela. Virou-a de encontro a si e a abraçou. Por que ela não confiava nele? Ela encostou o rosto em seu peito, ouviu seu coração, sentiu seu calor. Fechou os olhos. Só pode ser sonho, pensou.
Quando abriu os olhos, já tinham sido apenas um, respirado o mesmo ar, experimentado  o mesmo sabor de vida e de amor. 
Sorriu para ele. Sim, ele estava lá. E ainda queria estar ao lado dela. O amor assim, como fora experimentado, sem espelhos, com cuidado, trazia em si a alma dos dois. No início, entregaram-se como se só aquele momento houvesse. Mais tarde, deixaram-se levar pelo desejo de descobrir, reconhecer os limites, percorrer a pele um do outro como se só assim fosse possível se misturarem e depois, ainda se adorar... e foi na brandura de um crescente carinho que, desta vez se fez o amor entre eles, sem pressa, porque queria ser eterno.
No escuro, corpos nus, como se a juventude nunca os tivesse deixado, e antes de perceberem que se amariam para sempre, foram até a janela. Ela lembrou-se de uma noite em Paris, um sonho que parecia distante...
Lá fora, nada mais podiam ver com detalhes, porque a noite havia chegado, mas juntos olhavam, e viam o mundo todo iluminado.


Texto: Vera Alvarenga
Fotos: retiradas do Google imagens.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

A árvore antiga e a andorinha...



 Eu estava à certa distância e os observava.
   Ela, era mais jovem que ele. Podia adivinhar que os gestos discretos continham uma juventude e alegria que ousaria mostrar-se em circunstâncias favoráveis, em momentos resguardados de intimidade. Tinha uma ansiedade de ser. E seu olhar dirigia-se a ele,como se lá estivesse o que buscava.Ele, beirando já os sessenta, mantinha-se sério, aparentemente calmo mas ciente do fardo que carregava com sua tristeza e algum tédio que, por vezes, lhe amortecia a alma.
   Ora, ele mais combinava comigo,que com ela. Com exceção do tédio, que chego a pensar seria uma benção para mim, no resto éramos parecidos. Minha inquietude não é ainda tão preguiçosa, conformada e suave como o tédio. Provavelmente, no futuro que se aproxima,será.
Mas não era para mim que ele olhava e sim, para ela. E, dos dois, quem mais buscava o outro com olhar apaixonado, era ela. Ela era jovem e tudo lhe era permitido, até apaixonar-se.
   Ela sabia o que queria. Ele, talvez não quisesse saber. Mas estava lá e, gentil a olhava , alimentando nela aquela visível dedicação.
   E eu me perguntava por que motivos ela olhava com tanta ternura e adoração para aquele homem? Via-se que não era olhar apenas de luxúria, embora houvesse fome no seu olhar. Sinal de que o relacionamento não tivera tempo de satisfazer as necessidades de cada um. Será que ele saberia compreender a fome que ela tinha? 
   E eu, sabia?Ora, eu sabia, sim! Sabia que não poderia ser eternamente jovem, nem crédula, que este tipo de juventude quando se eterniza vira tolice, é tormento que não se pode carregar. Eu tinha experiência de vida para ensinar a ela o que só eu sabia - que só se pode contar com o real, palpável, ao alcance da mão. Na maturidade provamos este saber com gosto um tanto amargo, de quem sabe que remédio não pode ser sempre doce. Como ela ousava ainda ser tão jovem quando o tempo passou tão rápido para mim?
   Ver a fé que a movia, fazia-me lembrar da recente descrença que me abateu e me encheu de medo. Fazia-me desejar o unguento mágico que cura até mesmo as feridas que, de tão repetidamente cicatrizadas, tornaram-se invisíveis aos outros, mas sensíveis ao toque.
   Ela, em sua teimosia ingênua, me fazia lembrar da troca do olhar amoroso que a tudo cura e que eu mais temia carecer para sempre. Ela parecia gritar para mim acusando-me de não ser mais capaz de amar ingenuamente, a não ser que voltasse a ser como ela. Impossível. O tempo passou para mim e eu me feri no espelho quebrado.
   Para distrair-me de mim e esquecer-me dela, tentei virar-lhe as costas, deixá-la. E lá permanecia ela, como encantada - feito pé de jabuticaba nova que foi podada e parece que nunca mais vai crescer e amadurecer frutos, com aquele olhar que não se incomoda com o tempo porque ele lhe parece eterno...
   Olhei para trás...lá permanecia ela, como andorinha ou anjo de asa quebrada, que em sua fé ingênua olha a árvore frondosa e sonha ali se aninhar e ser feliz. Por que o tempo não passou para ela, só para mim?
   Se continuar assim, ela nunca será como árvore madura, resistente, calma e farta, que oferece frutos doces e sombra para quem a tem em seu quintal...para quem lhe deu estrutura de um modo ou outro. A árvore que frutifica por amor, também o faz por gratidão.Talvez algumas frutifiquem apenas porque é de sua natureza frutificar.
  Pensando bem... quem disse que a árvore não poderia abrigar uma andorinha em seu ninho, e um dia, por amá-la, sua alma não poderia ganhar asas para voar?
   Acho que vou voltar, perdoar esta jovem que tanto me provoca com sua juventude e desrespeita minha antiguidade e vou tentar amá-la, mais do que alguma vez tentei... talvez ela amadureça e não me torture mais....talvez ela envelheça, e isto me deixe triste... talvez ela me ame e nunca me deixe, e possamos seguir em paz...
 
Texto e fotos: Vera Alvarenga
   

Dia dos Avós...

Dia 26 de julho foi o Dia dos Avós! Um dia especial.
Eu me sinto muito feliz por ser avó dos meus 3 netos: Pedro de 15 anos, Guilherme de 6 e Larissa de 4.

Para comemorar esta alegria, fiz um vídeo com algumas fotos de uma tarde com os netinhos, um dia especial com a netinha e uma foto do neto mais velho, que por ser adolescente não gosta de tirar fotos, mas cá pra nós,é  bonito!
Parabéns a todos os que tem a alegria de poder renovar momentos em sua vida, em companhia dos netos.
Que todas as crianças pudessem ser uma luz na vida dos familiares e que pudessem ter carinho dos avós,
seria o melhor... que possamos respeitar seus direitos à saúde, educação e liberdade para brincar e viver uma infância feliz, e que possamos ensinar-lhes com exemplo, carinho, disciplina e amor, a viver com responsabilidade
e alegria, incentivando suas potencialidades e criatividade.

Vídeo e texto :Vera Alvarenga
Música: Aquarela - Toquinho. 

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Deus, este inatingível...

   Só quando, ao invés de falar com Ele,posso viver o que Ele é, estando em mim como está, é que poderei crer n´Ele com fé inabalável, e me sentirei segura.
   Enquanto o coloco fora de mim, posso estar tão longe.. e é por isto que me esqueço e me sinto tão só; e é por isto que preciso implorar Seu olhar sobre mim, e me sentirei indigna deste. O que terei de fazer, para merecer seu amor?
   Se o coloco fora de mim,então, por certo não posso crer que está no que é pior do que eu. Onde estará? Como acreditar que me ama e que não estou só no mundo?
   Como vencer o medo desta nossa solidão, se não pudermos crer que a semelhança existe porque em algum ponto de nós, somos um só e igual a Ele? Será por causa desta solidão que, quando aquele homem olhou para mim com seu doce e inteiro olhar, eu quis entregar-me inteiramente ? O que estava fazendo ao olhar para ele com este desejo de união?
   Buscava eu encontrar, outra parte de Deus no homem, ou fazia do homem o meu deus?
   Talvez aquele incerto sentimento de nostalgia de não sei o que, seja o desejo de completar-me. Por isto creio no amor que conheço, como humana que sou. É limitado, mas é um bocado que posso experimentar de um amor maior. E ainda outros bocados maiores experimentei como mãe, ou quando admiro a natureza. O feio não admiro e não quero introjetar, porque já tenho em mim o que nem sempre parece belo. Como mulher, ao buscar o amor no homem, reflito também sobre Deus: - Se Ele, está fora de mim, não me pertence, mas parte Dele está comigo e nesta, me reconheço e é esta que quer religar-se. Por isto preciso possuí-lo e ao seu amor,colocá-lo em meu coração, e assim, me sinto completa quando nos unimos. Mas se quero o seu amor,ofereço e, em confiança também entrego o meu. Homem e Deus completam minha carne e meu espírito. O mais real, ainda é minha carne e o que é igual a mim. Quem sabe juntos, lado a lado, seria mais fácil encostar nosso dedo, por um instante de felicidade, no ombro de Deus e lhe dizer: - Obrigada, por tanto amor que sei sentir! Quem sabe aquele homem apontaria em minha direção, mas apenas para lembrar-me a parte de Deus que está em mim, e eu, faria o mesmo por ele. Seria a herança maior que deixaríamos, aos nossos iguais em humanidade - este amor. Isto não seria o bastante? Ou é ingenuo demais crer nisto?
   Há quem deseje um encontro marcado especialmente, pessoal, secreto, particular e exclusivo com Deus. Existem os que ficam adiando, ou os perdidos no deserto.E aqueles que são o próprio representante dele!
   Eu? Me contentaria em encontrá-lo em cada um dos seus sorrisos dirigidos a mim, e naqueles momentos em que eu pudesse sentir amor, e através dos nossos gestos e capacidade de amar, sentiríamos o amor Dele.

Foto retirada do Google Imagens (pode ter direitos autorais)
Texto: Vera Alvarenga

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Neste outono, eu me entrego...

  Na aula de Tai Chi desta semana, o prof. Luis comentou que nos meses de outono, deveríamos levar nossa atenção para o que está com ele relacionado.
  Outono : maturidade, pulmão, intestino grosso, e a emoção é a tristeza, que pode levar à depressão. Bem, isto já dá pano pra manga!
  Cada um de nós foi montando outras relações e significados aos que ele ia citando. Esta época sugere que é chegada hora de cuidarmos do que nos é imprescindível, como a respiração; e de fazermos o que o intestino grosso faz - eliminar o que não nos serve mais, o que não está funcionando ou o que não usamos. O professor insistia nisto - eliminar, nos afastar do que nos faz mal ( mesmo que seja uma ilusão que nós mesmos criamos?)
   Abandonarmos um pouco nossas lutas, parar de dar murro em ponta de faca, desistir de querer fazer tudo funcionar do nosso jeito (mesmo que estejamos cobertos de razão?). Juntamente com o eliminar/abandonar inclusive a raiva, vem junto o aceitar. E eu penso: - Claro! Se vamos amadurecer nesta espiral em busca de auto conhecimento, encarar nossa própria vida para ver o que deixaremos de lado já é uma grande mudança,mas não basta! Certamente perceberemos o que não podemos mudar,e é aí que aceitamos.
    O pensar nos leva claramente a entender que, deixar de carregar peso é soltar o que já não é nosso, deixar de lado as armaduras que precisamos para brigar com o outro - penso que estas atitudes nos tensionam, funcionam como se impedíssemos o pulsar ritmado dos pulmões e do intestino - ficamos então sufocados, tristes e com o intestino preso, retendo em nós o que não nos serve! Contudo,o aceitar também é importante.
    Muitas vezes, a atitude de uma pessoa não muda, ou uma tal situação não tem mais jeito e mesmo assim, ela ainda faz parte de nossa vida. Vamos nos livrar do que nos faz mal ? Sim, quando possível! Mas até uma pessoa que amamos ou importante para nós, pode nos fazer mal, com algo que ela não consegue mudar. Podemos querer evitar algumas pessoas, não todas! O que não percebemos é que, em muitos casos, insistimos para que ela mude e é esta insistência que nos paralisa!  Lembrei-me que o professor riu :
   -" Não quer dizer que vamos eliminar o outro!"  Não podemos lhe dar corda, mas não vamos matá-lo em nós! Tais pessoas ou situações difíceis, então servirão para aprendermos a nos poupar das lutas inglórias.      
    Vamos aceitar nossos limites, olhar de frente a situação, mas não permanecer nela, apenas entender que devemos "entregar armas", para que esta atitude do outro ou situação de vida que nos afeta, seja primeiro aceita como tal - algo que é como é, e nos faz mal. Só então, depois de apenas ver o que tivermos pra ver, podemos nos livrar da própria tristeza que ela causa, levando nossa atenção e ação para outro foco. Assim seria melhor que fizéssemos também com nossas ilusões, esperanças vãs que estivemos a alimentar e que não deram frutos. Deixemos ir ( pelo menos até o próximo inverno, quando ficarmos grávidas de novos sonhos).
     Hoje em dia é muito comum ouvirmos que a gente tem que parar de lutar e sair em buscar da felicidade, o que pode parecer que temos de eliminar o outro de nossa vida.Nem sempre é possível, muitas vezes não é necessário.
    O que melhor temos a fazer no outono, é eliminar de dentro de nós o desejo de insistir...Depois desta aula, a ficha caiu! As folhas cairão, quer eu queira, quer não!!!
    Vamos então nos entregar, relaxar, começar a nos recolher, virar para o outro lado, antes que a raiva e a tristeza se instalem em nós, e estes sim, são os pesos que podemos evitar segurar! Eliminar a tristeza que está nascendo ali dentro do peito, mas continuar abertos para a vida e apenas para o que o outro tem que não nos afete de modo negativo, isto sim pode nos ajudar!
     Este período está relacionado também com a pele... e mais uma vez lembro então de nossos limites. Perceber onde está o limite de cada um, e onde podemos tocar o outro, ou permitir que ele nos toque, evitar ficar ao sol escaldante do deserto quando a pele é fina, eis parte do segredo. Embora irremediável, que eu possa fazer do meu outono algo agradável...procurar uma sombra, fazer uma limonada e observar o lado belo da paisagem... Como me conheço, sei que não esconderei de mim a lágrima que quiser cair, mas será breve, e não mais porque eu não consegui realizar algum sonho, mas apenas aquela que cai quando dizemos adeus ao inevitável... então, o calor que sentiremos não nos queimará a pele, virá com a brisa da tarde de outono, será como o do amor maduro que podemos sentir e talvez, em muitos momentos possamos ainda ter com quem compartilhar...
     Solto meus braços, relaxo meus ombros, já não luto mais para alcançar o fruto...me entrego a mim, neste outono...
Texto e foto: Vera Alvarenga

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Aprender a nadar,aprender a viver...

   Como era bom estar na água novamente!
   Final de uma tarde muito quente. A água estava na temperatura ideal. Envolveu seu corpo, proporcionou prazer. Conseguiria atravessar a piscina? Há meses que não nadava e mal havia aprendido! Ainda tinha medo. Uma vez, engoliu um pouquinho de nada de água mas como não dava pé, tossiu, se engasgou, foi horrível. Não queria lembrar. Não podia lembrar, ou não chegaria do outro lado! Afinal a piscina não dava pé, a não ser no início...ou no final de todo esforço.
   Deu uma braçada e mais outra. Estava indo bem.    
   - Engraçado isto! No início as coisas são fáceis, não parecem oferecer risco.Sim, era uma armadilha, sedução, um convite que parecia levar à ventura desejada, mas então no meio do caminho, tudo ficava mais difícil, quase impossível. Ela tinha certeza de que não dava para desistir...tinha que chegar até o final. O final, apesar de tudo,sempre traz uma possibilidade de sucesso e é seguro novamente, mesmo quando tristemente for apenas o final. Mas é preciso chegar lá, ver a linha de chegada claramente, ver as possibilidades. É impossível ficar em luta o tempo todo, para se manter na superfície e não se afogar...calma...mais um pouco, mais um pouco e você consegue.
   - Nossa, como isto cansa, vou desistir... seguro na borda,descanso e saio daqui. Respiro aliviada, no meu ritmo, volto para minha rotina e pronto. Não, não posso! Concentre-se. Sinta o corpo, pense nele, na sensação boa que vai ser poder entregar-se sem medo. Como é bom isto!
   Ela pensou nele. Por que não? Serviria de incentivo. Fazer algo bom para si mesma, a fez lembrar dele.
   - Dele quem? Do corpo? Atenção, calma, respire... Pra que fui inventar isto?
   - Ora porque é bom! pense, como é gostoso sentir o corpo cheio de vida, fresco...
   - Quem é gostoso? Ele ou o corpo? ou estar com ele?
   - Nada disto, estar aqui! Quase se engasgou...teve vontade de rir de si mesma. Valeu! O escuro da raia demarcada, dos limites estabelecidos, tinha terminado. Então, faltaria apenas mais uma braçada, duas e ...
   Não aguentou, parou antes do final. Frustrada,tirou a cabeça da água, como se há muito não respirasse! e respirou como para se devolver à sua própria vida. Ar é pensamento,raciocinar... precisava respirar devagar...recobrar o controle dos sentidos, acalmar seu coração que disparava quando nadava e também ainda quando pensava nele. Pensar nele ainda a fazia sorrir dentro de si. Sentiu-se frustrada. Não queria desistir. Disto não! Mas não queria fazer feio, engasgar, passar ridículo... Ora, para o inferno seus medos! Olhou para frente. Piscina quase vazia. Liberdade para tentar, errar. Como era difícil aprender a nadar ( e a viver!), como era difícil coordenar a respiração, o racional, com a água, tão teimosamente macia e perigosamente emocional! Contudo, valia a pena. Se conseguisse  sentir-se segura, se pudesse entregar-se totalmente a ele, sem medo...
   - A ele quem?
   - Ao coração, ao corpo, ao amor... juntar tudo e ela mesma, à vida, à emoção, à água... seria tão bom.
   Respirou fundo, procurou o salva vidas, estava lá, lá longe. Colocou novamente nos olhos o que a faria enxergar melhor dentro de tanta água, tanta emoção e foi, entregou-se ao seu exercício em busca do prazer de viver! Mesmo que tivesse de aprender a nadar sòzinha!

Foto e texto: Vera Alvarenga
   

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Edgard me convidou para este MEME...

Amigos, Edgard nosso amigo que gostamos tanto me indicou, então eu fui “taggeada”.Agradeço pelo carinho  deste sorridente prof. de Tai Chi, que trata a todos aqui com consideração, sempre com palavras de alegria!

O Tagged é: "Tag" é uma brincadeira em que você "toca" na pessoa e faz um "está com você", assim você tem que colocar coisas a seu respeito no post.
As "regrinhas" que não são bem regras, mas questões:
1- Você coloca a foto de tagged no post.
2- Falar 10 ou mais coisas sobre você (qualquer coisa), 5 ou mais manias (esquisitices) suas, 5 ou mais coisas que te irritam, 5 ou mais coisas que você adora, 5 hobbies seus; 5 coisas que ninguém sabe sobre você; seu maior sonho; seu maior medo; as coisas mais importantes na vida pra você.
3- Você ‘taggeia’ mais 5 pessoas para participarem da brincadeira!

 Os meus indicados são: Jackie,Márcia Canêdo,Vera Luz, Edson Gil e Fátima.
- 10 ou mais coisas sobre mim:
   1- Amo minha família. Tenho o maior orgulho de meus filhos e apesar de ter tido uma crise com o mau humor do meu marido e sua impaciência, eu já aprendi muito com ele e o admiro por muitas coisas!
   2- Apesar da pouca altura( estou copiando o Edgard nesta), tenho só  1,46cm. descobri que sou uma grande mulher, em algumas coisas...e uma nanica ainda em outras...rs.... E também jogava volei no colégio!
   3- Já publiquei 2 livros infantis nas Ed. Paulinas, que tiveram 5 edições e isto significa que pelo menos 12 mil crianças leram cada um dos livrinhos. Eu adoro pensar que pude fazer isto. Um dos livros era para ajudar as crianças a não temer pesadelos.
   4- Geralmente minha vida não tem tédio... não dá tempo.
   5- Meu jeito introspectivo e mais calmo de ser me proporcionou a chance de vivenciar uma criatividade efervescente que tenho dentro de mim ( agora muito menos,claro).
   6- Escrevo desde menina, poesias, músicas,enfim, se não escrever ...não sei...preciso escrever!
   7- Hoje em dia, minha pele do braço é tão sensível, que fica logo vermelha e descasca, por poucos minutos ao sol...mas sempre fui " à flor da pele" , mesmo que disfarce.Assumo meus sentimentos ( mas não sou chorona, nem fico magoada nos cantos. Me afasto, se estou triste, até passar.)
   8- Catástrofes me assustam, mas pessoas que manipulam a ingenuidade e crianças, me assustam muito mais!
   9- Adoro tirar fotos, mas não sei nada de técnicas. Meu filho uma vez disse que eu não servia para tirar foto de acidentes de automóvel, por exemplo, porque quando tirei do carro em que ele se acidentou, parecia mais bonito do que tinha sido, parecia arte! kkk..... Realmente, tenho interesse pelo belo, ele me atrai, mesmo que seja num gesto ou em algo que não se vê, logo de cara! Ver o ângulo melhor da vida ou das pessoas, está no meu olhar tanto quanto a cor dos meus olhos.
   10- Tenho uma vida prática. Sempre procurei conseguir algum (ou muito) prazer nas tarefas que tenho de realizar, assim, hoje comemos todos os dias em restaurante por quilo, adoro ter frutas ou sopa para o lanche, e sempre opto por algo que possa fazer de modo eficiente e mais rápido, para sobrar tempo para outras coisas que gosto. TENHO VOCAÇÃO PARA A FELICIDADE e a quero, hoje, acompanhada de tranquilidade e relativo conforto.
   11- Adorava dançar e cantar. Agora, tenho artrose e não consigo dançar mais, contudo, entrei numa aula de canto e vou participar de um coral. Muitas e diferentes pequeninas coisas, podem me fazer feliz...já fui feliz até com quase nada!
   12- A vida, para mim, é um presente, mas sem amor, não vale a pena! Tenho de amar, por convicção e sobrevivência! Seja uma pessoa, seja um projeto de trabalho, sejam os netos, ou um sonho... Sou uma pessoa apaixonada.
   13- Sempre fui extremamente leal e fiel, e hoje, é ainda mais um gesto meu, que será oferecido por convicção e não obrigação.

 5 manias ou mais esquisitices que tenho:
1- Gosto de começar a dormir sentindo meu companheiro ali ao lado, me abraçando( por alguns momentos).
2- Não gosto de ambientes escuros e fechados.
3- Em restaurantes,gosto de sentar-me de costas para a parede e em local onde, de preferência, possa ver as pessoas ou a paisagem, e não a cozinha!!
4- Quando vou dormir em hotel, gosto que o quarto seja claro e preciso olhar nos cantos para certificar-me que tudo está limpo e não tem baratinhas ...hehehe... Limpeza é um conforto que gosto de ter.
5- Gosto de encontrar as minhas coisas no escuro se eu precisar, portanto, tenho mania de organizar minha bagunça, para que isto seja possível.
6- Não consigo dormir se puder ouvir o tic tac do relógio! Preciso colocá-lo em baixo de almofadas e odeio acordar com o som estridente de um despertador!

5 coisas que adoro:
   1. Adoro beijo, abraço, cócegas nas costas e demonstração de carinho ou um gesto de gentileza quando menos espero....
   2. Adoro poder conversar com alguém que possa confiar, com quem possa sorrir e observar as coisas da vida com bom humor, com quem saiba que podemos ter opiniões diferentes, sem que isto seja motivo para sentir-se desafiado, porque eu gosto de aprender e só se aprende sendo flexível.
   3. Adoro a liberdade... de poder acordar mais tarde(8:30hs durante a semana e quase as 10 hs.no final de semana); de trabalhar na minha casa ou do meu jeito para render mais e poder ser criativa; de poder criar meus horários e agenda com flexibilidade; de escrever o que sinto; de comer o que tenho vontade, mesmo que seja uma fruta antes do almoço...( como sou feliz!!)
   4. Adoro fazer as coisas no meu ritmo, pois acho que já trabalhei muito e conquistei este direito.
   5. Adoro terraços, ou lugares onde eu possa sentir um pouco de vento e sentar para conversar, jogar baralho ( ou para ler,sozinha) e observar outras pessoas em seu movimento, sem que minha liberdade seja tolhida.

5 coisas que me irritam:
   1. Conversar com alguém que finge querer conversar, mas só quer fazer prevalecer suas idéias, ou se sinta contestado a cada pergunta que eu faça.
   2. o EGOÍSTA = Atitudes de mau humor com a vida e tolerância zero à frustração, querendo logo culpar alguém quando as coisas não saem como planejou, ou me pressionar para fazer as coisas num ritmo que não é meu,principalmente quando estou fazendo um trabalho pelo qual sou responsável.
   3. INTOLERÂNCIA- Alguém me ofender ou me julgar mal ( ou fazer isto com pessoas que eu gosto) porque não reagimos à vida, da mesma maneira que ela, e então tentar com isto,pressionar. Me irrita profundamente a incoerência de quem usa deste tipo de violência e diz estar defendendo o bem ou a paz.
   4. FALTA DE LEALDADE- alguém a quem confiei um sentimento,receio ou ponto fraco meu, e que fala disto sem nenhum respeito com outras pessoas, ou em voz alta, sabendo que como sou discreta.
   5. Gente que manipula a generosidade ou amorosidade que sabe que eu tenho - me conta coisas tristes para me impressionar, ou diz frases de efeito que sabe que vão me deixar ligada a ela de alguma maneira - é aquela pessoa que manipula, não tem nada verdadeiro para lhe dar mas quer prender você a ela, naquele momento que isto lhe interessa. Me irrita pessoas falando de amor com muita facilidade, banalizando o amor que a gente sente, para mudarem para uma atitude oposta, assim que lhes convém e sem motivo que não seja seu egoísmo.

5 Hobbies meus :
1. Escrever e meus blogs.
2. Tirar fotos.
3. Ler.
4. Refletir e Conversar.
5. Ouvir música e cantar.

MEU MAIOR SONHO:
 - Sentir a alegria de amar e compartilhar a vida com paixão, tranquilidade e respeito - e fazer uma viagem onde eu possa sentir tudo isto.

MEU MAIOR MEDO:
- Prejudicar alguém (principalmente as pessoas que amo) com minhas atitudes, ou com o meu modo de ser, pois gostaria de levar coisas boas para a vida das pessoas com quem convivo.

COISAS MAIS IMPORTANTES PARA MIM:
- Deus, Família, Amor, o homem que amo, saúde, amigos sinceros, e Gratidão - ser grata por tudo e cada coisa boa que tenho, por pequena que seja, pois, o dia que eu não puder mais reconhecer estas coisas, então estarei amarga ou muito infeliz.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

"Qual vida me será tirada agora?..."

 Mais uma viagem a trabalho.
 Recostou-se, fechou os olhos. Melhor cochilar para não ficar enjoado,não pensar em nada, descansar o corpo e a mente dos acontecimentos dos últimos meses.Tanta ansiedade,consultas,médicos,hospital. Detestava o cheiro que existe nos hospitais,mesmo naqueles que não havia cheiro, mas ele o sentia assim mesmo! Sentia-se mal com a realidade ali presente, a tristeza e a preocupação estampadas nos rostos, e pior ainda, no rosto daquela que era sua companheira por tanto tempo, e agora, parecia tão frágil. A vida viria roubar-lhe mais uma vida? Ele chegou a perguntar-se se foi necessário esta ameaça para que acordassem para o fato de que já não se pertenciam há muito tempo... a doença era uma ameaça, ou também um sinal que mais vidas estariam se perdendo ali? Vidas que não eram vividas, como se o tempo pudesse ser desperdiçado. Dizem que após grandes traumas, uma pessoa começa finalmente a viver... seria na mesma direção ou em outra? Teria de ser na direção da vida verdadeira, ou tudo seria mais uma vez inútil! Mas a verdade é tão simples, é tão mais leve como talvez só o amor o seja, e por isto, às vezes passa tão despercebida!
   Aquele que quase morre, mas se recupera e vive, tem uma experiência única e dá um novo sentido à própria vida, mas não necessariamente a daquele que o acompanhou. Então, levará consigo o outro com quem já compartilhava uma vida, ou apenas levará um refém, junto de si ?
   Ele não queria mais se permitir pensar sôbre isto.Tinha decidido! Ia ficar ao lado dela,apoiá-la, fazer o que era certo, tentar amá-la e rezar para que não ficasse sem seu amor, no futuro(fosse este amor, de que tipo fosse, pois era o que tinham entre si). Virou a cabeça para outro lado. Queria esquecer de si mesmo.Bom seria saber meditar,não pensar em mais nada, tornar-se leve,flutuar...como daquela vez em que, depois de desabafar um pouco da dor escondida no peito há tanto tempo, sua amiga lhe colocou a mão suavemente na direção de seu coração e falou baixinho:
- Vamos, respira.Solta este peso junto com o ar, você consegue...deixa sair. E encostou seu rosto perto do dele, e foi respirando com ele, mostrando-lhe como fazer...até que um soluço escondido saltou-lhe pela boca. Quis segurar, foi impossível. Ia se afastar, se recompor, mas ela docemente o abraçou e as lágrimas sairam teimosas, até que ele as libertou de vez, e chorou no abraço dela.
   Naquela única vez que estiveram assim juntos, ele se perguntou quem era aquela mulher, que tinha se aproximado dele a ponto de derrubar aquela parede,há tanto tempo construída? O que seria dele sem sua fortaleza a apoiá-lo? Como fechar as comportas do que começava a jorrar? Julgava a si mesmo um homem bom, contudo seria agora, também um tolo, um fraco?
   Não precisou preocupar-se com isto. Eram amigos, podia confiar nela. Fizeram amor, mas desta vez, de uma forma mais branda, embora também intensa. Ao contrário do que pensou, sentiu-se forte e potente, e como se tivesse dez anos menos, possuiu da vida todo o prazer que ela podia lhe dar. E, conduzido pela experiência da maturidade, deu àquela mulher o amor que ela sonhava receber. Como se não houvessem nuvens escuras no céu, sentiu-se tão leve, que podia voar. Por alguns momentos ambos flutuaram juntos, como ela sempre havia acreditado que fariam.
   Voltaram, aos poucos, à realidade. Ele sabia que já não era jovem. Sua barriga, seus músculos, já não eram mais ...
   - Adoro estar assim, deitada no macio do seu corpo. Sim, ela escondia partes de seu próprio corpo, também não era jovem mas sabia como fazê-lo sentir-se único e bem.
   Ele percebeu que ela enxugou uma lágrima. Tinha certeza que aquela mulher estava apaixonada por ele e isto,ùltimamente lhe dera ânimo para tudo o mais. Sabia que ela sonhava com um amor onde houvesse respeito e cumplicidade.Ele mesmo lhe havia dito, que merecia ser amada assim. Ele, com a experiência da vida e de tudo que já perdera, sabia mais do que ninguém que a ausência de amor é um preço muito alto a pagar, seja por que motivo fosse, então,se o desejasse saberia amá-la. Se colocassem a vaidade e orgulho de lado... o orgulho que faz com que seres humanos desconsiderem os próprios limites, o saudável desejo de viverem um amor verdadeiro e desistam de tudo que permita que alguém possa lhes acusar de terem cometido um erro...o orgulho que tanto teme não ser perfeito...o mesmo orgulho que faz com que se arraste uma vida em comum, sem que se note nela a alegria espontânea inerente da própria vida, a não ser pelo esforço de um só. Se a vida pudesse mostrar a eles, de algum modo, que não se pode controlar tudo,ou tudo sacrificar, que não se pode segurar uma vida nas mãos, quando já não é plena, pois que escapará, de uma forma ou outra...que só depois de reconhecer um erro é possível seguir-se inteiro numa escolha honesta em outra direção, que estarem corretos nem sempre é mais importante do que aquilo que sentiram naqueles momentos, nem mais do que o bem que a presença de um fazia ao outro, verdadeiramente... Se a vida pudesse lhes contar sôbre a falta que sentiriam um do outro, pelo que não tiveram a chance de construir, enquanto outros tem a chance e não o fazem....
  Pela primeira vez, depois de tanto tempo, ele estava sentindo seu corpo e coração vibrarem como um violoncelo afinado, tocado por mãos suaves da musicista que sabia tirar dele o som harmonioso, para o qual foi criado. Quando tudo parecia tão sem vida ao redor de si, tanta vida lhes foi dada!
   Depois daquela tarde, ele se perguntara se estaria certo em mudar sua vida... e se chegara finalmente o momento de aprender a se amar, deixar-se amar e amar na mesma medida. Queria entender como ela podia estar se tornando uma presença tão importante... algo que lhe trazia a sensação de tranquilidade e iluminava suas noites. Mas então, aquele problema maior surgiu, que lhe trouxe mais uma vez o medo da perda e era preciso controlar a situação. Era preciso, desta vez não cometer nenhum erro, dedicar-se por inteiro a resolver o problema,nem que para isto, tudo o mais tivesse de ser esquecido. Como ele poderia estar presente na vida de duas pessoas que gostava tanto? Será que sua amiga compreenderia se ele lhe contasse sôbre estes sentimentos tão seus? Talvez, só bastasse dizer a verdade...mas a verdade é tão....
   A aeromoça  servia o homem sentado ao seu lado e ele despertou. Balançou a cabeça, afastou os pensamentos e, com o mesmo olhar triste que trazia há algum tempo, aceitou o que ela lhe oferecia, pelo menos lhe confortaria o estômago....
Texto e foto: Vera Alvarenga                                                                          

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