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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Olá! Vim pra te contar...

- Olá! aqui estou eu de novo a falar contigo.
- Olá. De novo? Como estás?
- Estou bem. Tudo vai bem. Como dirias: tudo em paz. Quero saber de ti.
- Estou vivo. Tudo em paz....rs...
- Senti saudades deste teu sorriso. Queria te contar - vai acontecer algo que sonhei. Estou feliz por isto - uma viagem, aquela que me parecia um sonho distante...
- Que bom. Então segue, vive a vida!
- Pois é o que estou fazendo! E viver significa sentir. E seguir a vida, bem, é levar-me inteira comigo. Sentimentos, lembranças, saudades, amigos do peito no peito, sonhos sonhados e os do porvir, desejos, enfim, tu sabes que o que importa não podemos apenas enterrar no passado e esquecer, fazer de conta que não é parte de nós. Não é? Somos grandes ou pequenos conforme o que nos permitimos sentir, lembrar. Eu acho. Posso estar enganada.
- Pra onde vais?
- Antes de lhe dizer quero comentar uma coisa... acabo de me lembrar como era fácil conversar contigo! Pois é, sabe? sinto que somos uma respiração. Por um tempo vamos nos recolhendo, soltando o ar pra fora e as lembranças e as nossas histórias também. E encolhemos, e ficamos no nosso canto, introspectivos, calados, quietos. Alguns não gostam deste vazio, desta solidão consigo mesmos. Eu gosto. É estar no lar. Mas bem prefiro saber que tenho ali ao lado ou pelo menos ao alcance, alguém com quem compartilhar alguma coisa, nem que seja um leve suspiro...
- E...?
- E depois a gente precisa de ar, e movimento, vida...e sai pra fora e inspira novas histórias, relembra antigas, e a gente expande. Então, é isto. Vou conhecer outros mundos, mesmo e apesar de ter pensado que só tu me levarias a conhecer o distante. E não vou sem companhia, embora não seja a tua, o que é uma pena porque imaginei, um dia, que seria bom demais. É tão fácil construir um mundo ideal em nossa mente! Somos todos crianças a planejar aventuras com um amigo imaginário? De todo modo, vou! E vou porque alguém que me ama me possibilitou isto. Tanto tempo sem me distanciar de casa nem mais de 2 km. e agora vou voar pra longe! Acreditas? Nem eu! A coragem? Veio de dentro. E é muita porque levo comigo quem tem motivações bem diferentes. Pensando bem, é como se eu mesma me levasse.... Engraçado, será bom ? Não, não posso ser injusta. Ninguém faz nada sozinho a não ser hibernar, expirar, ou morrer. A companhia é a melhor que posso ter e sou grata. Então foi por isto que vim...também para te contar. Sei que vais alegrar-te por mim. E a ti, como sempre, desejo que nunca mais tenhas as asas quebradas...porque és sonho e um sonho tem de voar para nos levar às alturas também!

domingo, 9 de novembro de 2014

Voar...para sacudir o peso da terra nas asas...


Quando leio, meio que converso com aquele que escreveu o texto, que mexeu comigo  por alguma estranha razão. Às vezes, nem tão estranha assim. Estranhamento é o que já senti quando li, por sugestão de Sérgio Marcondes ,um amigo do Dihitt, as primeiras crônicas de Clarice Lispector. Não as primeiras que ela escreveu mas que eu tive oportunidade de ler.
   Nossa! Parecia então que sentíamos as mesmas sensações, emoções e aceitação descontente diante de algumas coisas da vida.
  Mas voltando ao que dizia, comecei a escrever algumas de minhas crônicas inspiradas em crônicas de alguns escritores. Não que eu tenha, só agora, começado a fazer isto. Como comentei, já conversava com eles e até discutia, há muito tempo. Só que estou numa fase de escrever sobre o que nossas conversas me inspiram, não mais sobre o que sinto ou meus segredos. É só isto.     Não pensem que copio trechos e idéias, por favor, porque não me atrevo a assinar aquilo que não seja meu, embora saiba, como eles sabiam ao escrever, que nada é só meu ou seu, tudo neste mundo é mais ou menos "nosso" levando em conta os que vieram antes de nós e a forma como estamos interligados nesta trama da vida...tudo vem de algum ponto anterior e então segue adiante. O que acontece é que uma frase algumas vezes me leva a caminhos totalmente diferentes, outras vezes, a uma visão do assunto de um outro ângulo   .
  Certamente eles me inspiram, porque sozinha poderia não ter a idéia de discutir tais assuntos, naquele momento.  E eles me dão ampla liberdade de deixar minha mente voar por estes temas que eles sim, desenvolveram tão bem e eu apenas com eles me distraio. Voar é mesmo próprio de quem tem asas nos pés, como voava Mercúrio, regente do meu signo. E voar em pensamento é natural a quem tem asas atrofiadas como as minhas. Não por culpa de ninguém, não! Atrofiadas porque sou humana e responsável, e não me cabe, nesta condição, voar.
  E eu jamais voaria como as águias, em vôos solitários, nem como andorinhas que seguem o bando num desenho pré fixado, organizado com eficiência e maestria para que tudo corra bem e dentro do esperado.
  Coube-me, contudo, sentir-me livre e libertar aqueles com quem convivi.
  Sou o tipo de asas que ao retornar de um vôo solitário iria logo querer contar o que vi e então insistiria a convidar meu parceiro para o próximo vôo. Estive habituada até agora, a voar somente até as alturas que me possibilitassem voltar aos meus, sempre que ouvisse seu pio. Sempre voltei rapidamente com o alimento no bico.
   Lembro-me como conversei incansavelmente, seja com palavras ou  silêncios com aquele Fernão Capelo, o gaivota! Me impressionou tanto conhecê-lo que fiz até um quadro para ele e o levei à uma exposição de minhas artes, certa vez. Ah! como ele, venho de muito tempo sofrendo acidentes de vôo, desmaios até, quando mais nova, bico amassado, asas estrupiadas, e vertigens, tudo porque também tenho um corpo muito mais pesado do que meu desejo de leveza!
   Gosto de um ninho macio e acolhedor e não apenas do ar. Contudo, preciso dele. Preciso bater minhas asas livremente no ar, e dançar acima de todas as coisas. Acima do barro, da poeira,do cheiro da fumaça que queimou os sonhos e ninhos de tantos, do odor da morte, e até  dos espinhos que por vezes vem junto com a ramagem com a qual renovamos a almofada do ninho, pois que renovar o ninho é exigência da vida, do contrário os fungos, mofo e piolhos tomarão conta de tudo. Não quero voar acima de tudo, por me achar distante ou melhor do que os que aqui estão.
   Sem comparar-me a ninguém, vôo, nem que seja nos sonhos ou na escrita, porque necessito! Porque me pesam minhas asas que sujo na terra onde moro e tenho uma vaga lembrança de que elas já foram muito mais leves, outrora.
   E quando voo, só quando voo, posso sorrir e brincar, e ser tão lúdica quanto era quando tinha meus filhotes e ninguém me observava. Posso abrir meu peito e gritar o amor que desejo, que sinto ou que me falta, deixar toda a luz sair de lá e viajar como raios até o coração do mais confiável dos amantes, ou dos meus mais queridos familiares, e ainda, ser tão sonhadora quanto a mais tola das mulheres...
   Êpa!nem sei porque fiz a comparação...afinal, era de uma ave que falávamos ou de uma mulher???

Texto e foto: Vera Alvarenga

terça-feira, 16 de abril de 2013

Vi tuas asas de esmeralda...

 
Viestes, mas não me deixastes nem uma só palavra. Então, o que ouvi no teu silêncio, não passava do som do meu próprio coração. Tuas asas coloridas roçaram minha pele tão levemente, que só por ser assim sensível pude sentir. Eu sei, nada me querias dar, apenas o que tenho é o que posso imaginar. Então, nem é de ti, é apenas o reflexo, algo do que tenho em minha natureza... e minha natureza é sonhar, é sentir a verdade que há no meu coração, é provar deste mundo o que emociona minha alma... é saber que nem sempre é possível compartilhar.
Voa, leva tuas asas coloridas aos lugares desse mundo... o meu está aqui, encontrei o meu lugar - é onde posso estar... livre mesmo assim, porque não aprisiono as asas do meu pensamento... e planto meu sentimento onde a terra se fizer fértil, mesmo que seja apenas em meu coração.
De lá saem as raízes que, transformadas, alcançam aquele que vem me beijar...
 
texto/fotos: Vera Alvarenga. 
 

domingo, 11 de novembro de 2012

A eternidade do amor...

De vez em quando, ela vem e me toca. Sem aviso. Não tem hora exata para acontecer, quase sempre é quando deixo a emoção e o sentir existirem por si, sem questionamentos. E quando permito que existam sem impedi-los, eles se espalham, me causam arrepio.
   É então que pressinto que ela chega. E vem quieta e lentamente, e me toca. Meu arrepio é de medo e respeito por sua coragem.Sei que em sua fragilidade, é mais forte que eu e causa transtorno quando quer me mostrar que ainda faz parte de alguma maneira, e para sempre.
   Temo que ela me ame. Por isto talvez nunca tenha me deixado. Já o meu amor, maduro e sensato amor, é por sua memória pois não a posso ver, apenas sentir. Acho que a amo mais agora do que jamais a amei, justo quando ela já não pode ser! Nós, seres humanos, temos esta inconsciência das coisas que são, enquanto naturalmente estão sendo.
   A presença dela me traz uma doce sensação de leveza e liberdade! E num instante me transporta para o alto de uma paisagem... e tenho asas! Vejo flores e as árvores, a lagoa que se encontra com o mar. E então, lá do outro lado, eu o vejo também. Dali, posso alcançar tudo que quiser. Posso cavalgar nas nuvens e tocá-lo. E certamente, seria tocada por ele! Isto também me causa arrepio. Voar ao encontro dele é maravilhoso!
   Contudo, é bem isto que me apavora. Logo abaixo de minhas asas, quando a caminho do meu destino, a lagoa reflete minha humanidade e o que o tempo escreveu na realidade. E então, o encanto se desfaz. Para continuar seria preciso enlouquecer totalmente de modo a nunca mais olhar para um espelho? Não sei. Só sei que sempre há o aviso, mas parece que não o vejo a tempo.
   - Não olhe para seu reflexo! ele grita amordaçado pra mim. Não posso ouvir direito.
   Como evitar se tudo que nos cerca, a lagoa e o mar, refletem como espelhos? Como cortar as asas que ela grudou em mim?
   Se não a loucura, só outro olhar tão louco quanto o meu, refletido no mesmo espelho, teria me salvado. Só um olhar semelhante, do outro lado dos espelhos, nos salva a todos. Mas isto é magia! Não havemos de desejá-la? E há magia do mal ou do bem... como no espelho da madrasta da Branca de Neve ou no olhar do homem amado...
   Então me entristeço porque minha loucura está só. É loucura crer na eternidade de qualquer sentimento que pertença ao humano e viva solitário apenas em um coração. E este sentimento é o melhor de todos eles. Dele, muitos nem se lembrarão, outros não podem saber do que nunca existiu, alguns se conformam com a gradativa perda da luz como se fizesse parte do envelhecer nobremente... E ela? parece  simplesmente dispensar a nobreza de títulos, só quer cultivar o que já sentiu. Para sempre, de um modo ou outro, como se fosse o que mantém o significado das coisas! Ah! ela acredita! Sabe que algumas árvores vivem mais do que a própria pessoa que a plantou em seu quintal. Esta jovem mulher carrega tanto desejo e vigor quase inconformados, porque crê que conheceu o amor e que por longo tempo o viveu. Assim, jamais envelhece. Congelou-se no tempo?  Mantem-se fresca, ao contrário de mim. Por isto devo reconhecer que é quase impossível crer que ela possa ser assim, tão real como deseja mostrar-se a mim.
   É difícil conviver com ela, com sua absurda crença na eternidade do amor, transformado ou não. Ela, certamente, é feita apenas de desejo mesmo que seja com a mais nobre convicção.
   Por isto, quando ela vem me tocar, metade de mim se encanta e a outra metade sente arrepio.
   E não posso evitar que ela me mostre o quanto é mais bela que eu com meus humanos limites. Não posso fingir que não a conheço, tapar meus ouvidos aos argumentos que usa para lamentar a eternidade do desejo de amor que vive em nós e poderia ser escolha, mas não é. Ela apenas me enlouquece com seu egoísmo quixotesco em defesa do amor. Eu tenho de usar a sabedoria e a ternura que dizem que a maturidade traz, para compreendê-la. Tento. Raramente consigo.
   E nem ao menos posso fugir dela,  porque quando vem, ela me toca de dentro para fora e então percebo, que ainda está em mim...
Texto e foto : Vera Alvarenga

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Dia das crianças...

Amanhã é dia das Crianças. Estava lembrando de quando era uma delas. Tinha 2 irmãos mais velhos que podiam brincar na rua, eu não, pois era menina e morávamos em São Paulo! Meu pai trabalhava no Hospital das Clínicas, um dos responsáveis pelo Setor de Custos daquela imensidão. Pessoa simples, carinhosa, humanitária, ensinou-me que um sorriso sincero era algo bom a oferecer ao cumprimentar as pessoas, naquele ambiente onde elas estavam preocupadas ou com dor. Sua ambição parecia se resumir ao viver em paz e tranqüilidade, poder escrever suas poesias e pescar, de vez em quando. Além disto, às vezes pegava o carro e no domingo dizia: - Vamos até o alto da serra, comer pão de semolina com mortadela...e lá íamos nós. Adorava o miolo daquela enorme fatia de pão - era uma delícia.
Minha mãe, também trabalhava fora e embora não muito afeita a carinhos físicos, era humanitária, ajudava pessoas que chegavam para atendimento no INPS,vindas de outras cidades, sem dinheiro para um lanche, às vezes. Animada, ambiciosa embora não em exagero, social, agitada, não esquecia de presentear aniversariantes, dizendo que uma data especial não podia passar em branco. Ensinou-me, com seu exemplo, sobre a disciplina, a força de vontade e persistência. Dizia que a ambição é necessária para um futuro mais seguro e que a vaidade era fundamental...neste último quesito eu fui uma péssima aluna, mas aprendi por observá-la, a importância nos apresentarmos bem socialmente ou no trabalho. Ambos tinham “caráter”,princípios dignos e eram honestos. Tive sorte em ter pais como eles.
  Fui feliz na infância. Nenhum grande trauma, nenhum drama. O que me faltou? Hummm... bicicleta, piano, oportunidade de estudar ballet. Dizem que eu dançava bem, desde pequenina. Tais faltas materiais fizeram parte do aprender a lidar com frustrações, mas, na verdade, não me lembro de frustrar-me por muito tempo, inventava outra coisa pra fazer, como tocar violão, e com ele, compunha minhas músicas. Sentia-me um pouco só, mas com isto me habituei a ficar bem comigo mesma. Quando tinha quase 8 anos nasceu minha irmã, para mim uma boneca viva, e eu adorava ajudar a empregada a tomar conta dela na ausência de minha mãe durante o tempo que ficava no trabalho. O fato de viver numa casa com quintal onde  permanecia horas sozinha, fez com que eu desenvolvesse  a capacidade de imaginar e criar, e também a de concentrar-me e entrar fundo no que estava fazendo.
Amadureci cedo, aos 10 anos sabia fazer bolo, cuidar de afazeres na casa e fiquei “mocinha”. A criança (contando com o periodo da adolescência inclusive) que ainda vive em mim, é crédula, ingênua, tranquila, feliz, criativa, “excessivamente” comportada, confiante em si em termos..rs.. e romântica. Foi no colégio das freiras quando criança, que recebi minhas primeiras asas de anjo... Hoje não sou mais anjo, mas guardo as asas e vôo com elas, sempre que posso por alguns minutos, para lugares onde recarrego baterias...rs..
  Tudo foram flores?? Não. Honestamente, gostaria que meu pai não tivesse se separado de minha mãe, que tivessem sido felizes juntos até o fim, sentimos muito a falta dele e ele a nossa. E, sobre minha mãe, gostaria que tivesse sido mais incentivadora, que fosse menos crítica e mais carinhosa. Contudo, apesar do amor que sinto por meus filhos, sei que não terei preenchido todas as suas expectativas. Somos todos humanos, temos falhas e necessidades. Penso que as pessoas de minha geração desejam que suas crianças brinquem mais e vivam por maior tempo a sua infância. Acho bom. Contudo,o que penso fazer falta realmente, é um olhar atento e carinhoso para o que a criança é e sente...hoje  me assusta um pouco o excesso de estímulos, brincadeiras e brinquedos, pois noto que isto não lhes permite desenvolver a capacidade de criar a partir do pouco, ou a se concentrar pelo menos até o final de uma brincadeira. Então, o desafio hoje, acho que é o concentrar-se apesar do excesso e filtrar o que é bom, do muito que chega. A criança de hoje talvez tenha mais trabalho que nós...
A criança que existe em mim saúda a criança que existe em cada um de vocês. 

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Asas de andorinha!

Deixou os outros entretidos numa conversa destinada a se estender e da qual não queria participar. Voltou sozinha ao local por onde haviam passado há instantes.
Ia tirar as últimas fotos.Com esta desculpa, afastou-se de mais uma provável discussão.
Discutir democraticamente, faz parte do pensar. Contudo, há ocasiões em que isto é um sacrilégio, quando situações,como este passeio, são criadas exatamente para que se possa sentir momentos de paz.  Por que as pessoas precisavam resolver suas diferenças de opinião, justamente quando tudo estava bem, e em meio a uma paisagem linda como aquela? Por que não relaxar? Talvez seja porque a vida não pode esperar e, cada um tem suas prioridades. Por isto ela respeitou, mas se afastou.
À sua frente, o mar estava azul, lindo, brilhando à luz do sol de um final de tarde.  
 Tirou fotos. Tinha medo de altura. Aproximou-se do barranco, mas guardou uma distância segura. Ùltimamente, desejava sentir-se em segurança. Segurança era o que aquele local devia representar no passado, afinal era um "Forte". Ela, porém, não queria a segurança das armas. Hoje, ela queria voar.
   Atrás de si, sabia que estavam suas coisas já conhecidas, alguém mais forte do que ela, pessoas que amava,o mundo ao qual ela pertencera até então.
   Olhou para o horizonte distante. Sentiu o vento no rosto. Ah, se tivesse asas!
   Voaria, e alguns dos seus iam finalmente admirá-la por ousar conquistar novos horizontes? Antes lhe bastavam aqueles que seu olhar alcançava! O que haveria para lá daquelas montanhas, para lá de onde seu olhar podia alcançar? Sentia-se em paz como quem já cumprira sua missão.Todos que amava tinham sua própria vida, encaminhados, cada um por sua própria conta,cumprindo seus destinos. Ela bem que poderia voar dali, com sua máquina fotográfica, antes que o cansaço a vencesse.
   Ora, quem não gostaria ? Voar, e voar. Alguns prefeririam voos solos, outros, conquistar alturas, outros ainda sentiriam o prazer em vencer os desafios dos ventos,das distâncias. Ela não. Ela queria apenas se encontrar, em si, mas também, no outro.Aves não fazem voos sem planejamento, sem intenção, sem direção. Ela também não.
   Quem estaria lá, do outro lado daquelas montanhas no horizonte distante? Sim, era distante, distante por demais. E ela ainda seria a mesma, buscando o mesmo. E, com certeza, não era a liberdade para atravessar sozinha aquela imensidão azul! Não eram as conquistas de liberdade para altos vôos solitários que lhe dariam prazer ou significado. Suas asas não teriam forças! Não, certamente, não. Sem o vento para ajudar, sem pontos de apoio em meio ao caminho, sem outras asas a bater a seu lado, ou um olhar à frente a lhe inspirar? Isto seria aventura para aves solitárias, águias talvez, que quisessem voar apenas a grandes alturas. Ela gostava de voar e depois sentir o imenso prazer de planar, como as gaivotas, para experimentar a imensidão e sentir o vento,mas o ninho tinha de ser confortável, seguro e próximo. Não temia a solidão dos momentos de intimidade consigo, mas como as andorinhas, queria saber-se acompanhada por outra ave semelhante a ela, que experimentasse o prazer de uma especial companhia durante os vôos .
   Se tivesse asas, talvez hoje ela se arriscasse... e cometesse um crime contra sua natureza de andorinha.
   Ah, por isto Deus não lhe dera as asas de uma águia!
fotos e texto : Vera Alvarenga

quarta-feira, 2 de junho de 2010

- " Uma segunda chance..."

Eram um casal comum, com uma história de desafios e batalhas vencidas juntos,como tantos outros.
   Uma vez...entraram em crise. Ela principalmente! Porque, para ele,tudo estava bem,com exceção do fato da companheira estar assim um tanto indelicada,impaciente,reclamando de tudo e contestando suas idéias,o que o desagradava bastante. Ultimamente ele se via obrigado a falar com ela secamente ou deixá-la falando sòzinha. Virar as costas,sair de perto,foi a melhor alternativa para evitar discussões e parece que ela não queria compreender,que ele só estava querendo evitar ouvir a mulher menosprezar a si mesma, na frente dele, como se não tivesse valor. Claro que ela tinha valor para ele! ele a amava! Contudo, ela não queria entender que poderia evitar tudo isto facilmente, voltando a agir como antes. Por que sua mulher teimava em cometer o mesmo erro? Ele fora franco,avisara que não gostava daquele jeito dela perguntar sôbre tudo e colocar em dúvida suas convicções,o que o aborrecia muito...mas,fora isto,tudo estava como sempre, o que significava que estava tudo bem.
   Para ela, não. Os sentimentos estavam à flor da pele. A impaciência surgia disfarçando um outro sentimento,muito mais forte,que ela tinha medo de enfrentar. Até o dia que, para surpresa sua, este sentimento apareceu assim, desnudado - uma visão nua e crua do que se passava dentro de si mesma - o motivo que fazia ferver um caldeirão interno,que ela temia, pudesse transbordar, a qualquer momento. Este sentimento a assustava. Será que esta decepção vinha porque ela é que havia esperado demais, do outro?
   A raiva era algo muito feio para seus padrões de beleza. Não queria encará-la, grudada em seu prórpio rosto e, conviver com ela no dia a dia, nem pensar! Entretando o sentimento já se dera a conhecer, e sem nenhum pudor! Ela já o havia reconhecido ali, escondido por debaixo da indelicadeza nas palavras que brotavam de sua própria boca,cheias de doloridas acusações,sem mesmo que ela pudesse engolí-las, antes de serem proferidas. E logo, estas acusações se transformaram em auto-flagelo, porque ela não se permitia direcionar toda esta raiva para ele, o homem que amara acima de tudo e de todos,acima dos próprios filhos, de certo modo. Todos que os vissem juntos,sempre pensavam que estavam bem, que conversavam, mas ela sabia que isto ocorria quando ela guardava sua espontaneidade para si, e falava principalmente dos assuntos que ele queria ouvir. Então, finalmente, todo aquele impulso que começara a se direcionar a uma atitude decisiva de auto-afirmação, a uma reação enfurecida de auto-preservação,voltava-se contra ela própria.
   Não era certo sentir raiva de um homem trabalhador,responsável,que não gritava com ela,que já sofrera na infância e vencera na vida,exatamente por ser assim corajoso, briguento,dominador,crítico,forte. Mas ele precisava ser isto tudo com ela, que sempre fizera tudo para agradá-lo? Ela devia estar errada...talvez por não ter sofrido o bastante,por não saber como a vida poderia ser dura...era ela que deveria ceder e mostrar-lhe mais uma vez, outra forma de demonstrar amor? Onde estaria sua espiritualidade,tudo que acreditava,se não pudesse compreender e aceitar as diferenças no outro? Assim, sem perceber,começou a acostumar-se ao processo de culpar-se, uma vez que, teve a pretensão de realizar a tarefa que cabia aos dois. Passou a ver-se como a mais vil criatura,cansada,sem forças,covarde,um anjo que perdera as delicadas asas e se transformara num animalzinho rastejante - uma barata. Sua voz e gritos morriam na garganta, mas nem sempre:
  - "Por que você não me respeita? Por que sua atitude provoca em mim este desespero, se você diz que me ama? Por que você só me vê, quando amorteço parte de mim? Por que eu te admirei tanto e te ofereci asas, e você só olha para mim, quando não posso voar? ou quando me transformo naquela gueixa que quero ser, mas não por todo o tempo? Por que, depois de todos estes anos, eu vejo que você é melhor do que era e eu, me vejo feia e aquém do que gostaria de ser como pessoa? Por que não sou capaz de me desvencilhar de você, não sou capaz de me sustentar sòzinha?
   Esta última frase ela não tinha coragem de dizer e, ao pensar nela, sentia-se derrotada.

Parte Final- no próximo post
texto: Vera Alvarenga
imagem da internet - pode ter direitos autorais.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

- " O Pássaro e a Flor"...

O dia estava frio. O ar gelado. Nem parecia verão...
   A enorme árvore, olhando para a flor que estava à sua sombra, perguntou:
   - O que você tem? Por que estas lágrimas em seus olhos?
   - Está vendo aquele pássaro lá, bem distante?
   - Sim, flor. Eu o conheço de vista, pois sempre vinha buscar sementes por aqui. Notei que não tem vindo mais, você sabe por que?
   - Ele me confidenciou que tem o coração triste. Então, nos tornamos amigos.
   - Eu sei. Percebi que ficavam alegres juntos. Que tanta novidade ele tinha pra lhe contar?
   - Ele me trouxe notícias sôbre a luz do sol e o brilho do luar!
   - Humm...Você o conhece bem?
   - Não, mas penso que sei quem ele é. Além disto, ele me  ofereceu um pouco da luz do sol e do brilho do luar. Fiquei tão feliz, que meu coração quis voar também. Sonhei que podíamos sobrevoar outros jardins,conversar sôbre tantas coisas do mundo!
   - Hei, acorde! você é uma flor, presa ao solo deste jardim. O único modo de sair daqui seria se alguém a levasse ou se um pássaro carregasse sua semente. Olha! lá vem seu jardineiro. Virá lhe trazer algo, será?
   - Com certeza, virá.
   - Certamente, depois que quase te deixou secar, sem água! Justamente você, a única flor aqui, no meio de todos estes arbustos.Mas, você dizia...?
   - Que meu amigo tem no coração uma grande tristeza, mas nas asas traz um pouco da luz do sol e do brilho do luar...
   - E ele sabe disto?
  - Tentei lhe mostrar. Contudo, eu mesma me assustei com meu desejo de voar, e acho que o assustei também, por mostrar-lhe quanta vida ele tem em si, para compartilhar, doar a quem ama...
   - Ah! por isto ele não veio mais! Escute flor, vou lhe dar um conselho - não se iluda! você é o que é, não pode voar!
   - Engano seu! Posso voar em pensamento, ou quando alguém me traz notícias que me fazem sonhar ...
   - Pare de sonhar! Seja forte e independente como eu! sua estrutura precisa fortalecer-se. Veja se quando o jardineiro vier, não faz esta cara de quem está tão feliz pela presença dele, que nem precisa de mais nada! Se você mostrar sua sensibilidade, ele não vai te valorizar! Vai achar que você é frágil demais!
   - Mas eu não sou como você!  Mesmo assim, já demonstrei o quanto sou resistente. Eu amo o meu jardineiro e sou muito grata a ele. Vou perdoá-lo, porque preciso disto pra viver. Preciso do amor, do perdão, da paz, da alegria...
   - Entretanto, vi você se debater, querendo arrancar-se desta terra... tentar voar com frágeis asas de uma flor, você ia deixar-se ao vento, no meio do nada, pra que? queria se punir?
   - Eu, por que?
   - Por ter desejado voar com aquele pássaro! Tanta emoção à flor das pétalas! Siga meu conselho:  aprenda a se valorizar, e entenda que sua missão é deixar o mundo mais belo no que lhe for possível. Faça isto e pronto, estará tudo bem. Não crie problemas, não queira voar, ser o que não pode ser. Diga-me, você compreendeu? Não deseja mais partir, não é?
   - Quem sabe este seja, de fato, o melhor lugar para mim... mas, em meu pensamento, posso voar...
   - E assim, nunca estará feliz, sendo o que é? Será sempre rebelde?
   - Não! Ao contrário! Serei a mais feliz de todas as flores, porque posso voar em pensamento!
   - Olhe, fique firme aí. Quem sabe um outro dia, um pássaro venha e carregue suas sementes... então suas filhas poderão voar...
   - E minha alma poderá ir com este pássaro? Temo que talvez não consiga ficar o tempo todo aqui..
  - Isto não sei...Parte de você nascerá em outro lugar! Pronto, siga meu conselho, está bem? Fique firme, dura e fortemente presa ao solo! Você entendeu o que eu disse? entendeu? Em que está agora a pensar?
   - Em um pássaro que conheci que, de repente silenciou e então, levou consigo em suas asas, um pouco da luz do sol e do brilho do luar que havia antes trazido para mim...

autora : Vera  Alvarenga
                   fev./2010
imagem: retirada do google - pode ter direitos autorais

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