sábado, 8 de outubro de 2011

Vim apenas lhe abraçar...

 Ela sabia que ele estava lá,em algum lugar,mas há algum tempo não recebia notícias. E naquele dia, quando ela já ia partir,com os ventos da primavera, as recebeu. Vieram nas asas do pássaro que entrou pela janela. Seu coração encheu-se de felicidade e o sorriso apoderou-se de todo o semblante.
  Mas o pássaro estava machucado, debateu-se  um pouco antes de sair em seu voo novamente silencioso e cansado. A saudade, que antes tinha sido sua companheira algoz e transformara-se há pouco em oposta alegria, logo vestiu-se com a palavra fria que não consegue descrever os sentimentos, como um abraço ou o olhar melhor fariam. E, como estátua, agora congelara e continha dentro de si, o impulso da vida, pois diante do oposto que lhe foi revelado,era o que lhe cabia. Nada podia fazer para evitar que ele sofresse. Não tinha o poder de protegê-lo, nem ele viera para ser protegido. Encontravam-se como sempre, por algum motivo que não ficava claro, além do querer bem, apesar de tudo e da distância. Quantas lágrimas ele tinha chorado outra vez e ela não pode enxugar? Era assim a vida.
 Mais uma vez, ela o abraçou ternamente. Isto, às vezes, bastava. Contudo, neste período das chuvas de primavera, gostaria de tomá-lo em seus braços, curá-lo de seu ferimento, ou quem sabe, ambos se curariam do que quer que ali houvesse que os machucava de maneiras distintas. Sim, ela também queria ser tomada nos braços, mas não por um momento. Apesar de saber do caráter efêmero de tudo, o que a curaria tinha de estar vestido da certeza do que é verdadeiro por estar ali para se realizar em gestos e olhar...como se fosse para sempre. Só o despojamento das vaidades e a disposição para viver o eterno, seriam capazes de curar os espíritos feridos pela morte, em suas diferentes roupagens. Era sonho. Talvez se encontrassem apenas para darem-se este abraço dos que sabem que não serão julgados.
Antes de sair, ele pediu-lhe um sorriso para lembrar-lhe de que a vida continua... e ela, ao fazê-lo pensou em como isto era difícil quando aquele que amava inconsistentemente do modo como era possível, sofria. Assim, ela aprendeu na carne, porque alguns amam e apesar de tudo, não conseguem proteger o outro. Era um desafio mais uma vez sorrir de encantamento, quando o que parecia realidade era oposto ao que parecia sonho. Por isto ela sabia que era impossível para o ser humano deixar de sonhar. Por isto ela permitia que sonho e realidade se confundissem, por vezes...
Fotos e texto: Vera Alvarenga

5 comentários:

  1. Oi Vera! comecei a ler seu texto e de início pensei estar lendo algo de Clarice Lispector, depois vi q era seu o texto...não me surpreendi, pq vc é uma escritora maravilhosa! mas hoje tb descobri q tem o raro "jeito" Clarice.
    Lindo!!!

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  2. Olá Marcela!
    Quero agradecer-lhe muito pelas palavras que me servem de elogio e incentivo. Há cerca de um ano,creio,um dos amigos aqui do dihitt me recomendou um texto dela e fui ler. Depois disto minha curiosidade aguçou-me a vontade de ler mais. Comprei há poucos meses 3 livros dela e estou lendo aos poucos,já o segundo. Escrevi ao meu amigo outro dia, que penso que eu e ela poderíamos ter sido confidentes... pelo menos nos compreenderíamos. Como ela, eu escrevo porque preciso,embora ela tivesse quase total controle sobre este fazer, eu não.rs.. Algo que ela escreveu parecia tê-lo feito por mim. Acho que muitas pessoas sentem-se assim, ao lerem o que ela escreve,não é?
    Por isto estou muito agradecida pelo elogio.Obrigada.
    Abraço e Bom final de semana!

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  3. Eu me lembrei, depois desta leitura, sobre uma cena que vi certa vez: num tronco oco havia um ninho dentro. 2 serpentes verdes estavam deslizando ao redor prestes a entrarem, quando os pais passaros vieram desesperados para salvarem a ninhada. Eu tentei ajuda-los. Jogava pedras, mas o vento forte desviava todas... entao deixei por conta da natureza, provalvemente era isso que Deus deixou como destino.

    Bjs

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  4. Olá Sissy!
    Provavelmente é isto mesmo,cada um de nós tem sua história.Podemos apenas ajudar uns aos outros,apoiar quando preciso, e amar quando for possível.
    Beijos e bom domingo!

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  5. Oi minha querida amiga.... quanto tempo né? Demorei mas consegui dar uma esculida hoje e passei pra tomar um cafézinho....heheheh
    Que lindo texto Vera.... me fez lembrar da frase de uma música ...."cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é"....
    Beijo no coração e muita saudade!

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