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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Despedidas...

Despedir-se do que se gosta é difícil para muita gente. Costumo despedir-me aos poucos, porque há muito aprendi que vida é movimento, nada é eterno e mesmo o que a gente goste, não dura. Assim, quando gosto muito de alguma coisa tento dar-lhe a devida atenção no momento presente em que ainda a tenho. Então, despedir-me? tudo bem.
Despedir-se das pessoas de modo geral é um pouco mais difícil. Então, dou-lhes atenção mas tento não apegar-me muito a elas porque sei que não me pertencem. Até dos amigos, familiares já tive de afastar-me, como muitas pessoas antes de mim já tiveram, movidos por contingências do trabalho, da decisão de recomeçar tudo em outra cidade, enfim... despedir-me, tudo bem.
Despedir-me ou me afastar de alguém ou coisas que gostava como atividades, ou mesmo trabalho que adore, cantinhos especiais onde faço o que me dá prazer, a casa onde se mora, já vai trazendo maior dificuldade, ou diria melhor, requer mais esforço para desprender-se. Contudo, a gente leva para onde for, a possibilidade de recriar a partir da própria criatividade e capacidade de amar que, esta sim, nos pertence. Então, tudo bem também.
 Agora, é diferente quando se trata de despedir do homem que a gente amou, ou por ventura do que deseja amar, a coisa complica muito e, reconheço, quase impossível!
Nossa! como sou lenta nisto! Como demoro a aprender com a raposa. Como é extremamente difícil desenrolar-me, desatar laços que estão adornados por sonhos, esperanças, desejos, sentidos, emoções, sensação de ser especial.
Quem não deseja sentir-se amado? Quem não quer ver um olhar dirigido a si, que traga brilho e  desejo de conhecer e ter mais do que somos? Quem não deseja ver-se reconhecido no olhar do outro? E disto, já foi comprovado, depende a vida! Por mais que nos façamos fortes e espiritualizados, é do que precisamos.
E quando se sonha com isto, ou pior, quando a gente chega mesmo a sentir que é finalmente ou novamente possível, quando a gente quase alcança ou até o faz, a gente tem tanto medo de perder. Porque tem muito a perder! Significa ter consciência de que a partir dali, por um tempo que não sabemos quanto, a vida será ainda mais frágil do que sabíamos que era, porque esvaziou-se do sentido principal. 
Ah, e a vida é tão frágil! E nela estaremos então, tão soltos, sem raízes, sem vontade de voltar para o leito, poder ir para os braços, perdidos que estamos do sonho que nos recarregava de esperança e luz. E tal modo de estarmos não nos trará a sensação de Liberdade, mas apenas da inconsistência, da impermanência no que vale a pena.
Um amigo enviou-me hoje esta frase : - "Todos os dias Deus nos dá um momento em que é possível mudar tudo que nos deixa infelizes. O instante mágico é o momento em que um "SIM" ou um "NÃO" pode mudar toda a nossa existência"  Parece significar que é necessário aproveitar toda a chance que Deus nos dá. 
Sei bem disto. Quando eu era andorinha, não me sentia sozinha e costumava não deixar o trem passar na estação sem que aproveitasse o momento para uma criativa mudança. Entretanto, para mim agora, acima e além disto, a frase significa também que devemos levar em conta as responsabilidades com a gente mesmo, com o que a gente pode ser de melhor. É preciso antes olhar nos olhos do maquinista para ver se ambos queremos partir juntos para um mesmo destino, ainda que desconhecido para nós. Porque a gente já experimentou outros momentos que pareciam raros é que a gente sabe o que quer ou o que não quer mais! Nem tudo que cai na rede é peixe. A gente sabe que não é qualquer chance que nos interessa. Que não é qualquer pessoa que preenche em nós aquele vazio e nos devolve as asas da fé e da liberdade de viver a vida como ser único e divino em sua essência, e que quer viver a felicidade alcançável, respeitando o outro e sendo respeitado por ele. Não é com qualquer outro que a gente sente que está vivo novamente, ou com quem quer viver tudo que ainda for possível. Ah, e como a gente queria que o outro a quem entregamos nossos sonhos, quisesse nos entregar também os deles e pudéssemos voar juntos, além e acima dos trilhos de uma vida pré programada.
Ter de despedir-se deste sonho, porque não há o trem com o maquinista na estação, ou o que lá está não encaixa mais no que queremos construir do nosso destino, é como não poder mais alimentar o pássaro dourado que vinha cantar em meu terraço e alegrar minhas manhãs. É como perder a luz do sol porque é despedir-me do ideal, que estava já entranhado em mim e justificaria tudo o mais. 
Esta despedida sim, me apavora, de um jeito que nada mais o tinha feito e me deixa fora de prumo, meu ritmo entra em desassossego, perco a direção e isto me aflige. Por isto então é algo além de minhas forças, dói só de pensar, machuca, me acovarda, me deixa pequenina, frágil como a adolescente que está sentindo que vai lançar todo o seu orgulho no chão e abrir o maior berreiro! E sabe que ninguém vai escutar, porque não tem sentido que alguém venha lhe salvar, se antes já não tivesse vindo sorrir com ela.
Perder o sonho em que se apoiam outros valores significa, por um tempo que pode ser longo demais, esvaziar-se de sentido, do desejo e da crença em que : “ Por amor, tudo vale a pena, basta querer amar!”  E este é o valor pelo qual caminhei toda a minha vida até agora, sempre com esperança, levantando após cada pequeno tombo, porque nada era grande o suficiente para me fazer cair de vez. Agora estou no chão, embora ainda deseje voar. Não há peneira que tampe o sol que quase me cega mas deixa à luz, a verdade de tudo o que envolve minhas recentes descobertas sobre meus valores e sonhos e crenças.
Talvez o meu momento seja aquele em que tenha de aprender de um jeito que jamais esqueça, que não basta querer amar. Para isto é preciso dois, que queiram olhar juntos para o mesmo destino. Isto me parecia tão romanticamente óbvio, mas é na prática que dói. É um tempo em que tenho aprendido a dor da perda como a morte de alguém. E o tempo de luto é longo. É tempo de respiração suspensa, de medo e necessária coragem para encarar o fato de que não tenho nenhuma garantia,que o único sentimento que conheço é o meu, que é verdadeiro, forte e real e que quanto mais tentava explicar e evitar,mais me entranhava nele. É o tempo de reconhecer que nada mais posso fazer além de me entregar ao meu sentimento, com a humildade que devo a mim mesma, para depois de conhecê-lo, saber o que virá.
Texto e foto: Vera Alvarenga

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