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domingo, 19 de julho de 2015

Onde você está?

As vezes a vida me coloca assim, frente a propostas ou idéias que me parecem querer tirar de mim, a tranquilidade do coração e a maravilhosa sensação de liberdade.
Eu sei que o Amor liberta! nos deixa ser o que acreditamos que podemos ser de melhor! O Amor constrói para os dois que se amam e respeitam, uma base sólida onde podem ancorar-se nos momentos difíceis.
Se eu o amo, quero o melhor para você e se você me ama...então estamos "feitos"!
... e quando estou então, frente a estes momentos em que me sinto assim pressionada...
...ah! a vida é assim...tem momentos complicados... então eu me pergunto:
- Onde está VOCÊ? Onde está VOCÊ,  Amor  maior, amor com quem sonhei?
E sinto saudades do sonho, do desejo, da fé em que tudo se pode realizar! Porque em presença do Amor, tudo o que não é amor mas apenas imitação ou arremedo, nos parece grosseiro.

Então eu olho através da janela, vejo as árvores e me perco no infinito do verde das folhas, e meu olhar perdido está, porque não te encontra.
- ONDE ESTÁ VOCÊ? Em quem você está? Como conhecê-Lo, se não através do outro nos braços de quem gostaria de estar?
- Quando poderei estar em sua presença e ser o melhor de mim? E deitar em teu ombro e me sentir em paz? Quando poderemos olhar para o mesmo infinito, e sentir que a tranquilidade do mundo nos pertence? Quando eu poderei me sentir livre por ser amada por Você?




música : por Jota Quest
texto: vera alvarenga

terça-feira, 30 de junho de 2015

Escultor, escultura....

O inverno havia chegado.
Ela não gostava do frio. Pressentiu que o dia estava claro lá fora e que logo seria hora de levantar-se, mas sentiu-se quentinha ali, no meio das cobertas. E ficou quieta como em meditação ou adorada preguiça. Estar aposentada tinha suas vantagens, podia levantar-se mais tarde. Bem mais tarde. Não havia horário rígido para nada.
No inicio da noite não conseguira dormir tão rapidamente como gostaria. Seu pensamento estava em outro lugar e a tinha levado, em sonho, para longe dali. O frio, então, parecera maior pela madrugada. Pegou a mão do marido e suavemente colocou-a sobre o peito. Eles ainda tinham este hábito de abraçarem-se, de vez em quando, mesmo durante a noite. Bastava um pegar o braço do outro e virar-se. Aconchegavam-se por momentos, sem nem precisarem acordar.
 Era um hábito. Como um agrado caso a vida tivesse sido difícil no dia anterior ou uma concessão, se algo entre eles tivesse deixado um gosto amargo na boca. Não importando como tinha sido o dia anterior, ela sempre acreditara que juntarem os pés sob as cobertas ou aconchegarem-se mesmo sem nada dizer, era como perdoarem-se por não serem perfeitos, e por serem tão diferentes. Era um jeito de criar um futuro melhor -  para ela, cada dia deveria começar zerado, como uma folha de papel em branco onde o sol refletiria assim que ela abrisse a janela, e o abraçasse e se cumprimentassem com um bom dia.
E aquele abraço durante a noite era algo bom, era como o escultor que volta àquela mesma escultura que ainda não conseguiu terminar pela manhã e a descobre, e continua seu trabalho com as mesmas mãos, mas toca a argila como se fosse a primeira vez.
Ela podia fazer esta analogia porque era escultora. E além disto, trabalhara muitos anos com o toque - tocar o outro de algumas formas podia dar sentido, esperança, alento, vida, energia ou todo o seu contrário.
Este abraço funcionara por anos, como um acordo mútuo, como se um cuidasse de dizer ao outro:
- Estou aqui. Dorme. Fica bem.
Sim, havia muitas vantagens em se ter um relacionamento assim tão longo, coisas boas podiam acontecer como que por encanto...ou, na verdade, automaticamente por hábito. Por um hábito cuidadosa e intencionalmente mantido. Quem disse que disciplina e bons hábitos não fazem bem?
Virou-se, e como era costume antigo nas manhãs de domingo, mas já andava a esquecer de colocar em prática ultimamente, colocou a mão no peito dele e ele imediatamente abriu o braço para que ela deitasse em seu ombro. E ficaram assim, quietos, por mais algum tempo antes de começar um novo dia.
Aquele homem era o seu passado e seu presente. O relacionamento, uma escultura. O toque era um ato de fé. A fé e o amor são coisas que devem ser exercitados com disciplina, como pudermos, com quem pudermos, quantas vezes nos for possível, ou ficaremos como aquela argila ressecada, aquela escultura com rachaduras porque o escultor esqueceu de cobri-la de noite, e descobri-la no dia seguinte, e olhá-la com fé e tocá-la mais uma vez, quase como pela primeira vez.
As vezes somos como o escultor, outras como escultura. E algumas vezes, alguns de nós tem a sorte de experimentar os dois papéis.

foto e texto: vera alvarenga




sábado, 27 de junho de 2015

Escolhas....

Mariana pegou o livro na cabeceira. Ler um pouco ia lhe trazer o sono. Abriu na página onde se falava de "escolhas". E leu.
Sua mente viajou. E num instante repassou mentalmente uma fase recente em sua vida onde ela fez escolhas. Escolheu deixar-se apaixonar, e depois escolheu ser coerente, deixar tudo o que não poderia manter, se quisesse honestamente dedicar-se aquele que poderia vir a ser o amor maduro de sua vida, um amor cuja experiência da amizade e respeito, atrelados à paixão, se transformaria facilmente no amor maior, como presente dado por Deus, por merecimento talvez, ou por compaixão deste que sabia tudo de si. Era assim que ela olhava para tudo que aquele homem lhe trazia - um presente.
E assim, acreditou que tudo acontecia como se o próprio Deus estivesse mostrando-lhes um caminho de luz e descanso após outras batalhas, como se certas pessoas e ela mesma fossem marionetes a cumprir o papel idealizado por Ele. E se era assim, sentia-se abençoada e perdoada por estar apaixonada, de novo. Valia a pena "escolher", porque aqueles que não escolhem podem ficar para sempre imaginando o que seria se não tivessem escolhido acreditar que valia a pena investir tudo, entregar-se inteiramente.
Então ela nem mesmo se importou de confessar, sem reticências, sem vergonha, sem pudor, o que sentia. Nem que tivesse de parecer aos olhos dele, um tanto imatura, um tanto tola por estar apaixonada novamente. Nem que tivesse de pedir desculpas e justificar-se por se sentir assim tão viva e feliz, inesperadamente, no momento exato em que nada mais esperava.
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Sim, arriscou-se e fez escolhas mas, de repente, viu-se sozinha neste movimento de ir em frente...
Andou até o meio da ponte e com a ousadia de sua fé, porque acreditava que tudo era idealizado por Aquele que tudo sabia e conhecia sobre sua índole amorosa, foi um pouco mais além do que seus padrões antigos teriam permitido. 
Ela escolheu mas não foi escolhida.
E passou muito tempo sem compreender.
- Então, Por que???!!! Por que tantas coincidências,tantos encontros? Porque o apego e saudade que doía nos ossos? Por que aquele tão grande sentimento, sem nem mesmo cheiro, tato ou concretude?
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E, naquela noite, lendo aquela página do livro, de repente ela percebeu. 
Percebeu como fora importante que tivesse, mais uma vez em sua vida, feito a escolha de ficar inteiramente dentro de alguma coisa - de entregar-se inteira a um sentimento. Os que não fazem isto nunca saberão a resposta, nunca terão de enfrentar a consequência de suas escolhas ou perceber que a dor de não terem sido também escolhidos pelo outro é melhor do que o banho em águas mornas do que não é nada mais do que um oásis dentro de uma noite solitária de sonho. A vida é cruel, por vezes, com as respostas que recebemos diante do assumirmos publicamente nossas escolhas. Mas também é cruel ficarmos assombrados pela culpa por não termos sido o bastante claros sobre o que desejávamos.
Naquela noite ela percebeu que não se sentiria jamais culpada por este pecado- o de não ter tido coragem da integridade de seus sentimentos e desejos. Por lembrar dos desejos, sentiu vir novamente aquela onda que tomava, aos poucos, conta de seu corpo. Contudo, imediatamente fechou as páginas do livro que engoliram esta onda. E calmamente, sem que ninguém pudesse adivinhar se havia tristeza em seus olhos ou apenas sono, ela os fechou e, antes de dormir, disse a si mesma:
- Foi melhor ter feito escolhas. Só assim poderia saber que não fui a escolhida. Não fiz parte da mesma escolha consciente e decidida a abraçar tudo aquilo como se fora uma oportunidade grandiosa de um amor sedento de certas reciprocidades e cuidados mútuos. Era preciso que ela pudesse ver no outro olhar, este mesmo desejo dela. Ela já conhecia o amor, um tipo de amor.  E, a não ser para realizar-se num amor de igualdades e diferente daquele que conhecia, não teria valido a pena. 
Que pena. 
E então,escolheu silenciar a mente e o coração...dormiu.
foto/texto:vera alvarenga  

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Apaixonar-se

Amar...alguém...estar apaixonada é...
É assim, vem manso como brisa e depois, inesperadamente como vendaval ou tornado, assusta, embaralha o que está solto, deixa o coração batendo forte, surpreso, sensibilizado, emocionado por tanta vida.... e varre tudo ao  redor.
E tendo varrido tudo, o que se vê então claramente, é o que resta daquilo que se tinha. O que se sente é o pulsar da vida ainda nas veias, o que se deseja é amar e é apenas o que importa, o que se sonha é tudo, o que falta é o que estava vazio... E a gente se sente bela e capaz de qualquer coisa.
O sentimento era tão forte como a ventania que batendo em nosso rosto nos impede de respirar porque em presença dele mal podemos tomar fôlego.... tão forte, que até hoje, ao lembrar-me reavivo o sentimento, e me falta o ar.
Quando a gente está apaixonada... alguns dizem que nos tornamos tolos, fazemos coisas ridículas, rimos ou choramos por pouco! ah... é como deixar-se carregar pelo vento e como uma folha, rodar e dançar e rodar até voar... e alçamos altos vôos e tudo podemos alcançar!
O mundo parece nos importar porque, quando amamos, de tudo somos capazes e cada detalhe da vida é vivido como... apenas como um detalhe, natural do próprio caminhar. Porque o que importa de fato, não é o viver... o que inspira, o que dá força , o que se deseja é amar...e amar...
O engraçado é que, se alguém já não ama mais, se por qualquer razão se desapaixonou ou ainda, se o elo que une na vida a fugaz paixão ao eterno e verdadeiro amor se quebrou antes do tempo de se consolidar, então, tudo perde um pouco da cor.
Para alguns, a presença de uma paixão que veio e se foi como ilusão, só pra mostrar o que restava de suas vidas, acaba por inspirar uma transformação, por exigir uma resolução. Como o vendaval faz constatar que o que ficou não se compara ao sentimento que inspira à vida, então a vida parece nos gritar de suas próprias entranhas que precisa ser vivida mais vividamente em cada detalhe. E cada detalhe precisa encher-se de uma importância que antes não tinha, e alguns neste caso, até tentam agarrar coisas e supervalorizá-las, ou dedicar-lhes um olhar mais condescendente. Seria esta uma grande ilusão? Ou não, apenas uma outra forma de resolver a realidade. Tudo, na verdade, pode trocar de lugar....  alguns passam a valorizar mais a vida... alguns buscam um sonho que podem jamais encontrar, outros decidem voltar a amar... a viver o verdadeiro amor onde este possa estar.

texto: vera alvarenga 

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Gatos e lagartas não tem asas!

 

Acho que sou uma lagarta rastejante. Daquelas que vai no seu próprio ritmo, calmo e constante, para onde tem de ir. Gosto de pensar que já então, tenho cores em mim e não, pêlos. Algumas tem pêlos que queimam a pele dos que vem lhes tocar.
   - Eu não! Nunca queimei ninguém, espero. Já queimei tua pele, por acaso já te machuquei?
   Bem que até gostaria de ter transmitido um pouco mais de meu calor, mas não para queimar. Quem sabe no máximo queimarmos juntos num fogo que não machuca. Já fiz isto tantas vezes. Foi bom, muito bom.
 
- Êpa! já estou divagando por outros caminhos... ôh vida esta que vive eternamente enquanto dura! Fogo que quase todas as criaturas tem, na ilusão de com ele perpetuar a própria existência, mesmo que seja nos demais, mesmo que seja nas doces e deliciosas lembranças.
 
   Mas então, como ia dizendo, sou uma lagarta. Se tivesse pêlos, seria uma gata, é claro. E como tal, qualquer uma das duas quero dizer, gosto de me aconchegar em meu casulo, esconderijo, toca, ou colo macio. Sou capaz de rastejar ou caminhar silenciosamente, até encontrar meu destino. E então, subir numa árvore bem alta e de lá de cima ver o mundo. E fico quietinha no meu canto. Adoro isto. E vem a brisa. E depois o vento, que me dá uma idéia.
   - Ah! As idéias são uma tentação, ou seriam uma motivação?
   Se é que neste instante comecei a ter medo das alturas, e o medo fica insuportável, eu me protejo, porque estou balançando e quase caio! E é bem nesta hora, quando minha vida está por um fio, que me transformo. É verdade, de vez em quando, me transformo. Não precisa de bombeiros ( já viram aqueles, que nos filmes água com açúcar, vão tirar os gatinhos ousados lá dos galhos mais altos?). Também não me deixo espatifar lá em baixo e me esparramar feito gosma verde ( já viram uma lagarta ou casulo nesta situação? é de dar pena e nojo.Ninguém gosta de ver uma lagarta espatifada).
   A culpa é do vento? Ele é que me dá asas?
   O que estou dizendo? Se eu for uma lagarta, tudo bem, ganho minhas coloridas asas, tá tudo explicado e coerente. Gosto de coerência no sentir e demonstrar. Mas....................
   - E SE EU FOR UMA GATA???
   Então, como poderia voar? Ter asas, nem pensar!
   - No entanto...hahaha... poderia saltar, macio, com elegância... e teria sete vidas!
   Legal! porque, numa delas, quem sabe eu poderia pular no teu colo, e pra sempre te conquistar - tu que és o personagem dos poetas, o Amor que nunca se acaba, aquele com quem eu ia envelhecer e, juntos, de cabelos brancos iríamos seguir sorrindo e nos divertindo apesar de tudo e qualquer coisa mais mundana, deixando um rastro de luz a lembrar aos que olhassem pra nós, que um sonho realizado é mais emocionante quando o construímos a dois, quando é compartilhado.  

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Quem mandou voltar a escrever?

  Ela teve medo de escrever. De voltar a escrever.   Fazia tempo que estava assim como numa mar calmo, sem ondas, sem marés nem tempestades. Entretanto ela sabia que lá no profundo do mar ou do lago, fosse o que fosse,  havia vida e luz. Todo mundo sabe.
  Ela teve medo de voltar a escrever, porque as palavras quando começavam a vir não conseguiam esconder a vida. Podiam disfarçar, brincar de esconder, não dizer tudo que havia pra se dizer, porque afinal, há coisas que não são mesmo para serem ditas. São como o suave e íntimo perfume de cada um. Não dá para descrever. São como o cheiro de certas coisas, como o abraço no qual a gente se deixa envolver.    Certas coisas são para serem compartilhadas naquele abraço que de terno, de repente passa a ser mais envolvente, e forte e vivo e audaz... e por fim passa a ser tudo e a única coisa... e como a única coisa de fato que pode nos dissolver... Assim pensava ela, enquanto sentia aquele medo de escrever.
  - Nossa! pensei que estivesse tudo acomodado, morto e enterrado!
   Porque escrever era sentir, era saber-se viva, era reviver emoções que surpreendentemente mexiam até com seu estômago, sem falar, em certos casos, com uma saudade funda. Porque escrever era conversar consigo mesma. E ela não mentia pra si.
   - Existe isto de saudade funda? ela pensou...
  Estava lá um sentimento ainda, que ela não sabia como,e nem queria mais ter de explicar, mas era saudade profunda...sim profunda. Era uma vontade de ter sido algo, qualquer coisa, melhor do que aquilo que nunca foi. E o que nunca foi, não poderia ter força! Contudo, era forte o que ela sentia quando cometia o deslize de sentir-se viva e deixar as palavras saírem alvoroçadas, como a vida mesmo o é. Mesmo que ela não escrevesse, a mente já as tinha escrito, plasmado no ar... Estavam lá, soltas no ar e agora, tinham peso.
   As águas daquele lago tranquilo se ondulavam neste momento, balançavam o barco atracado na beirada. Coloriam a cena com tons fortes.
   - Quem foi que jogou uma pedra aqui?
  Bem feito! Quem mandou ela voltar a escrever....
  

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Mais um momento de gratidão...

Novamente sinto gratidão!
Sou uma mulher sensível e emocional, mesmo que por vezes pense que minhas emoções estão adormecidas ou que as tenho sob controle.
   Como sou grata a Deus por poder, muitas vezes, continuar a acompanhar com alegria os passos, conquistas ou vitórias que meus filhos, cada um a seu modo, alcançam por seus esforços e pela graça de Deus! Eles tem me dado muitas alegrias. 
   Parabéns Rodrigo, por ter concluído seu Mestrado em Economia. Valeu seu esforço e desejo de realizar algo mais em sua vida para uma qualidade de vida melhor para você e sua família, e para uma realização pessoal que será, tenho certeza, algo que compartilhará também com outras pessoas. Valeu por sua fé!  Parabéns filho!
  Meu coração de mãe agradece a Deus por cada conquista deles, mas também quando os vejo em meio a suas batalhas e, mesmo assim não se acomodam apenas ao mais fácil, mas continuam desejando fazer seu melhor sem prejudicar outros, ou dividindo com outros seus valores e se esforçando para uma vida de realizações no bem. Como mãe, os vejo vitoriosos quando fazem suas escolhas dentro de um padrão de valores onde amor, valores humanitários  e respeito são os principais pontos que norteiam seus caminhos.  
  Nós, os pais, sempre somos gratos por ainda estarmos aqui e podermos compartilhar com os filhos, os momentos de alegria!

foto/texto:Vera Alvarenga

domingo, 9 de novembro de 2014

Voar...para sacudir o peso da terra nas asas...


Quando leio, meio que converso com aquele que escreveu o texto, que mexeu comigo  por alguma estranha razão. Às vezes, nem tão estranha assim. Estranhamento é o que já senti quando li, por sugestão de Sérgio Marcondes ,um amigo do Dihitt, as primeiras crônicas de Clarice Lispector. Não as primeiras que ela escreveu mas que eu tive oportunidade de ler.
   Nossa! Parecia então que sentíamos as mesmas sensações, emoções e aceitação descontente diante de algumas coisas da vida.
  Mas voltando ao que dizia, comecei a escrever algumas de minhas crônicas inspiradas em crônicas de alguns escritores. Não que eu tenha, só agora, começado a fazer isto. Como comentei, já conversava com eles e até discutia, há muito tempo. Só que estou numa fase de escrever sobre o que nossas conversas me inspiram, não mais sobre o que sinto ou meus segredos. É só isto.     Não pensem que copio trechos e idéias, por favor, porque não me atrevo a assinar aquilo que não seja meu, embora saiba, como eles sabiam ao escrever, que nada é só meu ou seu, tudo neste mundo é mais ou menos "nosso" levando em conta os que vieram antes de nós e a forma como estamos interligados nesta trama da vida...tudo vem de algum ponto anterior e então segue adiante. O que acontece é que uma frase algumas vezes me leva a caminhos totalmente diferentes, outras vezes, a uma visão do assunto de um outro ângulo   .
  Certamente eles me inspiram, porque sozinha poderia não ter a idéia de discutir tais assuntos, naquele momento.  E eles me dão ampla liberdade de deixar minha mente voar por estes temas que eles sim, desenvolveram tão bem e eu apenas com eles me distraio. Voar é mesmo próprio de quem tem asas nos pés, como voava Mercúrio, regente do meu signo. E voar em pensamento é natural a quem tem asas atrofiadas como as minhas. Não por culpa de ninguém, não! Atrofiadas porque sou humana e responsável, e não me cabe, nesta condição, voar.
  E eu jamais voaria como as águias, em vôos solitários, nem como andorinhas que seguem o bando num desenho pré fixado, organizado com eficiência e maestria para que tudo corra bem e dentro do esperado.
  Coube-me, contudo, sentir-me livre e libertar aqueles com quem convivi.
  Sou o tipo de asas que ao retornar de um vôo solitário iria logo querer contar o que vi e então insistiria a convidar meu parceiro para o próximo vôo. Estive habituada até agora, a voar somente até as alturas que me possibilitassem voltar aos meus, sempre que ouvisse seu pio. Sempre voltei rapidamente com o alimento no bico.
   Lembro-me como conversei incansavelmente, seja com palavras ou  silêncios com aquele Fernão Capelo, o gaivota! Me impressionou tanto conhecê-lo que fiz até um quadro para ele e o levei à uma exposição de minhas artes, certa vez. Ah! como ele, venho de muito tempo sofrendo acidentes de vôo, desmaios até, quando mais nova, bico amassado, asas estrupiadas, e vertigens, tudo porque também tenho um corpo muito mais pesado do que meu desejo de leveza!
   Gosto de um ninho macio e acolhedor e não apenas do ar. Contudo, preciso dele. Preciso bater minhas asas livremente no ar, e dançar acima de todas as coisas. Acima do barro, da poeira,do cheiro da fumaça que queimou os sonhos e ninhos de tantos, do odor da morte, e até  dos espinhos que por vezes vem junto com a ramagem com a qual renovamos a almofada do ninho, pois que renovar o ninho é exigência da vida, do contrário os fungos, mofo e piolhos tomarão conta de tudo. Não quero voar acima de tudo, por me achar distante ou melhor do que os que aqui estão.
   Sem comparar-me a ninguém, vôo, nem que seja nos sonhos ou na escrita, porque necessito! Porque me pesam minhas asas que sujo na terra onde moro e tenho uma vaga lembrança de que elas já foram muito mais leves, outrora.
   E quando voo, só quando voo, posso sorrir e brincar, e ser tão lúdica quanto era quando tinha meus filhotes e ninguém me observava. Posso abrir meu peito e gritar o amor que desejo, que sinto ou que me falta, deixar toda a luz sair de lá e viajar como raios até o coração do mais confiável dos amantes, ou dos meus mais queridos familiares, e ainda, ser tão sonhadora quanto a mais tola das mulheres...
   Êpa!nem sei porque fiz a comparação...afinal, era de uma ave que falávamos ou de uma mulher???

Texto e foto: Vera Alvarenga

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Eu que não queria ser urubu...

- "Quando poderias ter tido asas, minha velha?" Perguntou-me ela, sem ao menos esperar resposta, tal como aquele homem que um dia perguntou-se quando poderia ser um urubu.
   Eu que não queria ser um urubu! A única vez que os achei menos deprimentes foi quando os fotografei, naquela tarde, brindando de asas abertas ao sol.
   Por que o homem, aquele, queria ser um urubu, era um problema dele devido ao reconhecimento de sua tristeza. Para ele, um urubu não iria se aventurar a cantar, nem desejaria alcançar alguma coisa.
   Ah, mas eu já quis voar! E era meu coração então, que cantava.E eu tinha forças em minhas asas para voar para longe, bem longe, lá onde estaria um novo horizonte. Queria voar pra longe e para perto. Longe daqui. Perto dele. E estando com ele, poderia ir ou voltar para todos os lugares.
   Com ele, nossos voos seriam gloriosos, não por serem heróicos, como as infindáveis batalhas dos  que voam pelos céus desta vida maluca, vencendo desafios incansavelmente, mas por serem apenas vida! Apenas isto. E devido a isto apenas, haveria alegria. E a consciência de nossa sorte que é aquela que salva aqueles que quase morreram, nos faria gentis e grandemente reconhecidos a cada passo possível, por esta dádiva. Porque viver é arriscar-se e também sofrer, às vezes. E sabíamos disto, e por isto teríamos um sorriso sereno em nossa cara.
   Juntos conseguiríamos voar pelo mesmo céu. Por isto, e não por querer mais do que simplesmente esta vida gentil e por isto, abençoada.
- " Ah! mas bem sabes, minha cara, que de nada adiantam asas se não se sente que há horizonte para o qual se queira ou possa voar."
   Vai ver então que foi isto. Vai ver que aquele Rubem também suspeitava disto. Por isto, nem mesmo quis saber se poderia de fato ser um urubu. Falou só por falar.

foto e texto: Vera alvarenga ( inspirado em crônica de Rubem Braga.)

domingo, 2 de novembro de 2014

Ela o esperava para antes do Natal.

 Encostada no portão, olhava a rua que descia numa ladeira preguiçosa. Olhava com aqueles olhos de esperar, de confiar. Só que agora , o olhar também era preguiçoso. Porque já fazia nove meses que ela esperava.
Amanhã seria dezembro. Com certeza ele viria logo! Ela teria sorte. Tudo correria bem.
Não sonhava mais com os detalhes daquele encontro com aquela nova vida. Porque em se tratando de uma vida, teria seu próprio jeito de ser, de acontecer. E também porque já havia sonhado todas as formas pelas quais o encontro se daria. E, depois de um tempo, cansou de sonhar sozinha. Só sonho não a satisfazia mais. A vida quase que perdia a graça.
Pra falar a verdade até cansou de esperar.
Não! ela não esperava uma criança dele! Entregou-se de corpo e alma mas tomou precauções. Não era como a empregada do Dr. Heitor. E tinha mais uma coisa. só esperaria por ele até amanhã, ou talvez até vésperas de Natal.
Natal! Antes do Natal aquele presente chegaria, aquilo pelo que esperava há tanto tempo! Finalmente encontraria o amor e um novo jeito de viver a vida. Não sorriu, porque ainda tinha um bocadinho de fantasia e o coração ainda batia com emoção. O sorriso, estava guardado para amanhã.
Ele chegaria amanhã. Nem que fosse o amor próprio!

Texto/foto: Vera Alvarenga

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Cor de vinho...

    Ela estivera andando de um lado para outro sem poder encontrar o que queria, desde aquele inverno em que sentira na alma, que trazia no ventre e na mente aquele botão de uma nova vida.
Nada a satisfazia como antes. E não sabia se fora por causa do tempo, dos silêncios, dos momentos de solidão, muitos momentos por sinal, ou do vazio dos gestos que iam mas não retornavam igualmente plenos do que alimenta o sorriso e o corpo. Quem sabe teria sido por causa daquele vento morno que veio forte, trouxe-lhe o pólen que a fertilizou e bateu-lhe no rosto, abrindo seus olhos como janelas para um novo mundo.
   Ela flutuara por uma eternidade em meio àqueles sonhos e pensamentos que, de súbito tinham vindo iluminar suas noites como pirilampos. Vivia então, em carne viva, vermelha do sangue que ainda pulsava nas veias, corada dos desejos e vontades que procurava esconder de si mesma, mas ainda estavam lá.
   Ela não queria mais sonhar... a noite agora era escura mas tranquila, e a esta calmaria iria se entregar com todo o seu ser,como sempre fizera a tudo a que decidia se entregar, atenção focada no melhor que sua mente e olhar podiam transformar de cada momento de vida. Era este o seu jeito - tinha escolhido sonhar a vida, vestida em cores, ao invés de vivê-la de uma forma nua ou crua.

   E quando quase dormia, ainda vestida de vermelho mas de um vermelho mais maduro em tom mais escuro, quando a noite também escurecia seu olhar e escondia tudo que a cercava, então... ele chegou.
   No escuro do quarto, num canto, o vestido cor de vinho... O único som que ouvia era o do coração dele ... fechou os olhos para sonhar...

Fotos e texto:Vera Alvarenga.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A ciência da Felicidade...

   Numa palestra, Nancy Etcoff, da área de psicologia, diz que hoje em dia, ao contrário do que Freud pensava: “A felicidade não é somente a ausência de tristeza”.
   E ela continua explicando- somos muito sensíveis ao negativo. O ser humano sofre mais com a perda do que fica feliz com a experiência de um desejo realizado. Uma interação negativa, pelos estudos feitos, demonstra ser mais poderosa do que uma positiva. Em especial as expressões de desrespeito e rejeição tem bastante poder! É mais ou menos assim..por ex., em um relacionamento/casamento : “é necessário 5 comentários ou interações positivas para compensar cada interação negativa”. Uau!
   Se entendi bem então, sofro mais com a perda de um sonho ou pessoa, do que ficaria feliz com a realização deste sonho ou o sucesso em ter comigo a tal pessoa. Eu não costumava ter dificuldades em descobrir formas de sentir prazer com o que tenho, mas entendo o que o texto diz. É preciso nos "anestesiar", nos"desligar" um pouco de nossa sensibilidade para sofrermos menos com a perda, e então isto pode ser uma faca de dois gumes! 
   Bem, evidentemente, se tivermos a pessoa ao lado e pudermos conviver com ela por longo tempo, teremos novamente muitas oportunidades de nos encontrar nesta alternância entre o realizar desejos e sonhos com ela sentindo prazer em nossa vida juntos ou o de enfrentar os desafios escolhendo a proporção de nossa reação negativa diante das frustrações.
  Nossa vida é como um pêndulo que alterna em diferentes graus de importância, entre a felicidade e seu oposto, não é? De todo modo, é sempre bom aprender a controlar, se já não aprendemos, nossas expressões negativas ou a forma como as demonstramos, evitando ao máximo aquelas que desprezam ou desrespeitam. Porque podemos nos esquecer ou nos arrepender delas, mas o peso sobre o outro é maior.      Nancy Etcoff não fala de proporções, nem do nível limite a que cada um pode chegar mas é evidente que cada um de nós, com certeza sabe seus próprios limites. E mesmo que façamos de conta que não percebemos o limite do outro, a gente deve refletir sobre, para controlar nossas expressões negativas.   
   Parece tão óbvio, mas para alguns não é fácil! É preciso lembrar que, controlando nosso “gênio” estaremos não só nos tornando melhores como pessoa e mantendo o relacionamento mais confortável para nós e para o outro, mas atraindo para nós muito provavelmente e de modo geral, sentimentos, lembranças e pensamentos naturalmente positivos.  Para os mais egoístas, se outros motivos não forem o suficiente, parece interessante então lembrar que o controle sobre si mesmos é também uma forma de assegurar maior prazer na vida em comum. Evidentemente, que aqueles que não são exageradamente egocêntricos aprenderam mais cedo a respeitar e por outras razões, não apenas em interesse próprio, habituaram-se a ponderar suas atitudes. Algumas vezes até se acostumaram mais naturalmente a fazer isto, porque viver em paz ou levar o outro que lhe é próximo e íntimo em consideração, lhes é fundamental para sentirem-se felizes. Ou porque a isto estava acostumados.  De qualquer modo, hoje os estudos provam que todos nós queremos ser felizes.
   Ela diz que emoções não são apenas sentimentos mas também alertas que modificam o modo como percebemos as coisas e até nossas lembranças( o que queremos ou não lembrar). Não devemos nos esquecer que todos desejamos ser felizes. Ninguém está dizendo aqui que devamos viver para dar prazer apenas ao outro, um erro que muitos de nós cometemos porque a felicidade do outro nos leva também à nossa felicidade, em parte. Algo assim unilateral não poderia durar, nem alimentar o relacionamento com o qual sonhamos e gostaríamos de viver por toda a poética e real eternidade! E se queremos ser lembrados, se ficamos felizes quando alguém sente prazer com nossa presença ou ao pensar em nós,  é importante proporcionar maior oportunidades de prazer do que dor. Parece tão óbvio mesmo, não é? Então por que esquecemos tantas vezes disto? Por que muitos de nós ainda pensam que o elogio e incentivo fazem um menor papel do que a crítica? Por que evitamos o prazer de nossa presença na vida de algumas pessoas para as quais sabemos que apenas nossa presença já é importante? Por que este medo de nos relacionar com quem nos valoriza, esta mania de achar que ficaremos vazios de nós se dermos prazer ao outro? Talvez por medo de passarmos a sentir um pouco mais a vida sem a proteção anestésica que nos proporciona aquela posição na qual tentamos por vezes nos manter...ali no meio, quase em neutralidade? 

   Pensando bem...estas pessoas de fato estão de acordo com o que Nancy disse em sua palestra sobre estudos que há algum tempo se fazem sobre a Felicidade. Estas pessoas de reação negativa sobre os que lhe são próximos e até os que amam, talvez saibam que estas suas reações tem mais poder! E se buscam o poder, seja por auto defesa, insegurança ou "vocação", podem repetir estas reações constantemente. Em contrapartida, quem conviva com estas pessoas pode acabar por ir para o lado oposto e cada vez sinta que precisa controlar-se mais, ser mais dócil ou adaptável para compensar o outro. Ou ainda se habituará a "desligar-se" da situação ou negar as próprias emoções como forma de passar mais ileso ao desrespeito. O ser humano quer ser feliz e portanto tenta sobreviver da melhor maneira a tudo. Se isto se tornar um modo de vida ou sobrevivência, aos olhos de outros, ambos estarão visivelmente nos extremos, um parecerá " o tal do genio forte" enquanto o outro poderá ser visto como "o fraco ou excessivamente permissivo". Ao mesmo tempo, pelo menos com certeza aquele que não se conforme com o papel que passou a ter de desempenhar para compensar a grosseria do outro, se sentirá em posição desconfortável porque não consegue voltar ao centro, ao que se aproximaria do chamado equilíbrio. Ora ninguém consegue ser bom o tempo todo quando é constantemente desrespeitado,e ainda que se esforce o preço pode ser alto quando e decidimos ultrapassar limites para conviver de modo positivo com aquele que precisa manter-se sempre no poder. Ora, ora, nunca tinha pensado nisto desta maneira!
   Então talvez seja uma questão de escolhermos que tipo de poder queremos exercer sobre o outro... e no final das contas, sobre nossa vida e nossa Felicidade. Que tipo de poder podemos deixar que o outro exerça sobre nós, sem que nos tire a dignidade que por nossa essência divina, temos.  Aliás, melhor seria perguntar se queremos exercer poder sobre quem amamos ou queremos, de fato, amar?
Foto e texto: Vera Alvarenga

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

" Meu garoto"...

Sempre disse que meus filhos são bençãos pra mim. Sou grata a Deus por atender minhas preces, protegendo-os, fortalecendo seu caráter, ajudando-os nas escolhas dos caminhos, abrandando seus corações, humanizando suas atitudes, fazendo-os abertos ao aprendizado e peço a Deus que lhes inspire para sempre olharem para o mundo com a humildade de saber que não somos apenas o que obtemos, mas o que nossa alma acredita.
  Que eles tenham oportunidades para também agir de acordo com seus princípios. Nunca meu coração duvidou de cada um deles, que é especial com suas características individuais e espero ter sempre lhes demonstrado que não os amo por serem vencedores, mas por honestamente tentar sempre e sempre, tentando melhorar e encarar os erros como aprendizado, e aceitar as falhas como limites naturais que nos ensina a respeitar também os outros.
    E sinto orgulho dos 3, homens que se tornaram responsáveis e levam a sério seu trabalho e os princípios que regem suas vidas, e embora sejam diferentes em certas particularidades e na forma de agir, tem uma coisa em comum - são generosos, compartilham com outros o que aprenderam ou obtiveram com seus esforços - e é disto que mais me orgulho, e por lutarem por aquilo que acreditam que é o mais correto, digno e justo, embora não lhes tenha sido o caminho mais fácil.
   Não é fácil seguir algumas vezes contra a corrente num mundo com tanta violência e ou corrupção. Aliás, cada um deles passou por seus momentos dificeis e com certeza ainda terão de enfrentar muitos, por decidirem defender as causas em que acreditam.
  Nós, mães e as esposas, sabemos o que veio antes de um momento de sucesso, todas as batalhas e sonhos que nem sempre puderam realizar... Por isto nosso coração se enche de gratidão quando um deles, ou todos conseguem realizar um pouco do que tem como projetos...
    Agradeço a Deus porque eles tem me proporcionado momentos de orgulho e deles tenho sentido o carinho que me dedicam, me permitindo fazer parte de suas vidas até hoje. Que Deus os proteja sempre!

foto e texto: Vera Alvarenga.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Quem pode explicar ?

ah!
quem pode explicar? a vida que vivemos... e nela o tempo que passa, as marcas, os sinais,a terra, o fogo, o vento e a água que transformam a tudo e junto com toda a coisa viva, ela mesma ?
... e nisto tudo de certo modo um dia, agora mais amadurecida, penso que consegui aceitar o que não pude mudar, humildemente entregar-me a verdade de que sou como tudo, finita e envelheço, e morro a cada dia um pouco, e um sonho morre comigo, justo aquele que não consegui realizar, mais ousado que todos porque parecia fora do contexto de uma realidade ainda que eu também a moldasse e na qual interagia, ora adaptando-me ora transformando-a...
  ah! mas mesmo assim, eu dizia, apesar das voltas que o mundo dá, e as surpresas e os caminhos, a esta altura eu pensava estar absolutamente serena, e digo mesmo que estou surpreendentemente entregue ao que é, e em paz e ainda tenho o sorriso na alma e a mão de afagar, e uma paciência que me acompanha e um desejo de conviver fraternalmente com aquela que não sou mais eu concretamente, mas está em mim...
   então...por favor,diga-me! quem pode explicar ?
   ...que de repente, assim por conta de um momento grosseiro que me leva a sentir o cheiro da terra que exala de tudo o que se tornou a vida assim como ela é, ainda que considerando que ela é muito boa e me devia satisfazer inteiramente e satisfaz se me mantenho serena mas um pouco alheia...de repente, por conta de uma música e uma imagem que me levam a me sentir quase mais leve, me vem esta saudade, nostalgia, vontade de abraçar e amar e amar e satisfazer o sentimento que, a certo ponto me parece impossivel até de controlar??
  Por que? quem me poderia explicar? e em não tendo explicação nem razão ou lógica em que me possa apoiar, escrevo... único modo de compreender que na alma existe algo maior que esta vida em que simplesmente andamos, que para alguns não morre nem envelhece, que permanece desejo, forte e real, não pode ser sufocado, mas que ao fim do desabafo, e na escrita na falta do sonhado abraço, como tudo o mais passa... sossega... se enternece com as sutilizas da vida e enfim volta a serenar....

Foto e texto: Vera Alvarenga  

domingo, 29 de junho de 2014

Reencontrar o amor...


  Em algumas ocasiões imaginava o quanto ficaria feliz se pudesse mostrar a você como, às vezes, é possivel ver o mundo com olhos de quem entra nos detalhes mais belos que há, nos melhores ângulos, com a melhor luz... não que eu seja presunçosa a ponto de querer lhe mostrar algo que creia que você mesmo, e sozinho, não pudesse ver. E também não porque eu sempre consiga viver desta maneira como se fosse a mais abençoada das mulheres! É apenas porque há momentos em que me sinto como se fosse uma lente de uma câmera fotográfica... a entrar em contato com um pequenino detalhe que me leva a algo muito maior!
   É algo talvez que eu precise fazer, não como um dom, mas até por necessidade vinda com certeza por alguma fragilidade. E se não posso fazer, sinto falta! Portanto não é de forma nenhuma pretensão. E entro naquele detalhe. E entro nele como se fizesse parte daquilo e isto, me traz uma sensação de doce pertencer e de paz.  Eu então, só quis poder compartilhar isto com você, como já desejei um dia que você pudesse compartilhar tantas outras coisas do mundo comigo. Porque do mundo nada sei.
   Uma vez me lembro que imaginei estarmos sentados lado a lado e eu lhe mostrava como moldar aquela argila que eu havia colocado num torno a sua frente. E então eu pegaria em suas mãos e o faria sentir como é este toque no macio da argila... primeiro como se quisesse conhecer do que é feita, como reage ao toque, saber seus limites, sua resistência e temperatura para então brincar com ela, moldá-la e sentir nisto prazer.
   E este prazer só viria, assim como eu o conheço e imagino, porque você conseguiria sentir que o prazer não é um poder apenas seu. Não seria apenas você moldando a argila, assim como não é um homem que decide no que vai transformar o momento em que toca a mulher que quer de fato amar. Porque quando isto se dá, e afirmo que não ocorre sempre, de uma forma que sei que acontece quando você é totalmente absorvido pelo  agir sobre aquilo que deixa também agir sobre você, quando você dá tanto quanto recebe, então você está tão inteiro neste "fazer e sentir"que perceberia a interação entre você e a "coisa" tocada. Não é uma teoria, por mais que alguém pudesse falar dela, só é possível sentir.
  Por uns instantes a gente sente que nesta interação e respeito mútuo entre o que sou e o que desejo criar naquele momento ou o que estou observando porque já é,  há um surpreendente intervalo de tempo em que somos um só... você estaria inteiramente lá, com ela e nela, a argila...
   Ah, não tenho nada do mundo a lhe ensinar... aliás, como poderia se nunca pretendi? Mas em meus devaneios a única coisa que pensei que poderia ter compartilhado seria este "sentir", ou este "olhar" que se pode ter em momentos sublimes quando nos esquecemos da aparência, idade e individualidade que somos para fazer parte de algo maior...e melhor. E nem por um momento penso que o mundo é apenas beleza ausente de dor e perdas! Mas, é bem por isto que talvez desde menina tenha escolhido viver assim com este meu tipo de sensibilidade que sente o bem e o mal, mas se deixa encantar apenas por um deles.
    Ah... algumas vezes te sonhei assim, "sentindo" pequenos momentos comigo... e sabe por que? Porque imaginava que com você eu poderia sentir ainda mais... sem precisar disfarçar ou esconder tal sensibilidade... seria o nosso segredo... meu e seu - pequenos momentos de ingenua alegria por ainda estarmos vivos e conseguirmos fazer disto algo bom . Acho que tenho de falar sobre estas coisas porque são coisas das quais o tempo faz a gente entender que tem de se despedir...você que é apenas um sonho meu...que não fala comigo... que existe em algum outro espaço que não conheço e nunca ousaria invadir... mesmo porque não teria sentido... porque você com quem imaginei que poderia sorrir tantas vezes mais,por pequenos motivos, sem me encabular por isto, você está em meu coração...você não seria um homem qualquer, teria sido um presente de Deus... e eu também não seria mais uma mulher qualquer. Deus teria feito em nós um daqueles seus milagres.... mas há outros que ele faz dia a dia...inclusive o de acordarmos de nossos sonhos e ainda olharmos com amor ao nosso redor... e ainda termos força para viver mais um dia, porque temos esperança e amor no coração. Porque esperamos um dia reencontrar talvez o verdadeiro Amor do qual tenhamos quem sabe, esta nostalgia....
Foto e texto:Vera Alvarenga

domingo, 22 de junho de 2014

E ela dançou aquela seleção inteira....


Parada em frente à janela, resguardada do frio, olhava para mais longe, através daquelas árvores verdes onde o sol brilhava sobre as flores vermelhas do jardim e pensava sobre aquilo que podia fazer o mundo ser maravilhoso aos nossos olhos. Distraída, ouvia uma daquelas fitas antigas onde gravara um dia, algumas músicas de que gostava. Sem resistência e mesmo sem perceber, seu corpo deixou-se levar pelo ritmo de Willie Nelson cantando "Always on my mind" e logo balançava suavemente de um lado para outro. E ainda mais soltou-se, descruzando os braços, quando ele cantou "Valantine".
   Tão antigas aquelas músicas, nossa! De olhos abertos vendo só o pouco que queria ver e imaginando o outro tanto, deixou-se levar... de repente sentiu que estava sendo observada e um minuto antes de desmanchar seu sorriso, de parar, envergonhada, os movimentos suaves com que acompanhava as músicas, olhou para ele. Estava sentado numa poltrona ao lado de uma estante cheia de livros e DVDs. Não era mais em sua sala que estava, como antes, mas sim num ambiente sóbrio e íntimo como um escritório ou biblioteca pode ser para aqueles que gostam de abrir sua alma e ali, escrever. Sentiu-se quase em casa.
 
Sorrindo, ele estendeu-lhe a mão e pegando a dela, fez com que continuasse a girar em torno da poltrona em que estava. Levantando em seguida, olhou-a nos olhos e ela pode ler neles o que a música cantava naquele mesmo instante - " You are so beautiful...to me..." De mãos dadas, mantendo-a distante de si como se quisesse mais olhar pra ela do que abraçá-la, ele a fez rodar e dançar em movimentos lentos ao redor dele. Aliás como cabia aos dois, nesta idade, os movimentos eram lentos mas intensos. E ela sentiu-se leve. E não importava mais o tempo nem a idade, e assim dançaram enquanto Louis Armstrong cantava para eles "A wonderful world".

E quando Riccardo cantava "Margherita" eles se abraçaram, dançaram juntos, beijaram-se... e ela o ouvia dizer baixinho : perché tu è dolce, perché tu è vera, perché tu ama, è un sogno, il vento e adesso è mia...

Tudo era extremamente intenso e leve ao mesmo tempo, e puro embora sensual, e forte, e o tempo parou por uma eternidade....sentiram-se vivos por saberem que tristes são aqueles que não sabem o que é amar.... Mas aquela música que falava do coração dos puros quando amam a deixou muito leve, tão leve que já não parecia real mas uma bolha de sabão colorida, pelo sol, feito arco-íris, indo para o alto.

Foi quando olhou novamente para as flores vermelhas atrás das árvores verdes que ficavam em frente sua janela e, ouvindo a última música daquela seleção, ainda com o sorriso nos lábios e alguma leveza na alma, pensando que pelo amor é que a vida segue em frente, acompanhava em pensamento a mesma pergunta da canção....
...." Quem poderá explicar o espírito secreto de uma vida?..."


quinta-feira, 19 de junho de 2014

Mais uma Festa Junina!

 Como foi bom acompanhar mais de perto seu crescimento!
E como crescem depressa estes rebentos!
Quanta alegria me trouxe poder ver
que a cada festa Junina estão mais crescidos,
continuam saudáveis e
fazem novos amigos!



E se divertem e brincam
vivem sua infância perto de quem muito os ama!

Todo tipo de amor, é claro, é importante,
todo tipo de amor tem seu valor,
e todo carinho é bem vindo
uma benção, seja em que idade for,
e nunca um com outro deve se comparar,
são momentos e pessoas diferentes
para as quais damos o amor que soubermos dar
e recebemos o que nos tem a oferecer...

 Estão crescendo e logo serão mais independentes...
é assim mesmo que a vida segue em frente!
Falta pouco para se tornarem adolescentes !!

Mas meus queridos, posso lhes falar 
de algo que vocês talvez nunca
vão poder avaliar ?....
O quanto sou feliz por ter acompanhado
vocês desde pequeninos, desde bebês!
Porque o sorriso dos pequeninos e
sua mão a carinhar nosso rosto em
retribuição de nosso carinho,
deixam qualquer velho sentir-se menino!
Como avó pude de novo me sentir
criança, inocente e cheia da luz
que preenche a vida, que leva o medo pra longe,
que nos dá a oportunidade de
novamente amar,através de vocês,
nossos próprios rebentos!

E parece até que a vida vai poder recomeçar!......
Seu sorriso de criança nos contamina,
Seu olhar de confiança nos faz confiar 
que temos em nós ainda, o melhor pra lhes dar e
Voltamos até a sonhar!
De fato, só gratidão nós velhos podemos sentir
por termos escolhido viver
ao lado dos pequeninos e ingenuos 
olhos de vocês, crianças,
e de seu lindo sorriso dirigido a nós!

Fotos e texto: Vera Alvarenga.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Coisas pra dizer enquanto é tempo...

Eu já tive muita coisa para dizer, e dizia, as vezes.
Já tive muita coisa que queria escrever, mas não tinha tempo.
Veio o tempo em que eu encontrava tempo para escrever, e precisava fazê-lo porque os sentimentos estavam efervescendo. E eu escrevi, e escrevi, e escrevi por vezes como quem estivesse falando para alguém em quem confiava, e que compreenderia. Contudo,  pessoas são desconfiadas e nem sempre compreendem quando a gente abre o coração e desnuda a alma, como criança feliz quando não tem medo de nada.
A maioria das pessoas inteligentes são também muito desconfiadas. Pensam que se derem ouvidos aos corações eles vão querer mais do que elas podem dar. Isto é um pouco triste, ou pelo menos deixa saudades. Porque algumas pessoas as vezes se afastam, com medo, como se lhes fosse faltar um pedaço se nos mandassem o mesmo abraço de volta. Mas eu também sou assim, as vezes me afasto das pessoas porque penso que não posso dar nada de importante a elas, então dou meu coração em pensamento e pretensiosamente tento enviar a algumas, uma energia boa, em forma de luz... é uma luz que esquenta mas é invisível.
Agora tenho todo o tempo do mundo, mas não estou mais tão ligada ao mundo, eu acho. Estou com preguiça. E, apesar de algumas vezes sentir saudades de alguma coisa, estou em paz.
  É tanta paz que não preciso escrever tanto. Mas isto me assustou por algum tempo, porque nem queria mais ler. É como se meus sentimentos estivessem dormentes ou talvez ao contrário, tenha voltado meu coração em direção a algo que não pode me abandonar, se eu não quiser - um amor que temos incondicionalmente porque depende unicamente de nós mesmos, em certo sentido. Depende da fé. Aliás eu sempre tive fé nas pessoas, mas nós somos complicados.
De qualquer modo, meu coração queria tanto sentir uma outra forma de amor que ao me dirigir para ele, talvez minha capacidade de amar a vida como ela é tenha me trazido de volta um bocado de carinho que não me passa desapercebido, de jeito nenhum, é claro.
Ainda sonho, mas não como quem deseja e sim, como quem lembra.
Então, quem é o filho do amor? O próprio amor. Quem seria a mãe do Amor? A vontade de amar e ser amado. Ou a fé...ou a auto ilusão, diriam alguns mais desconfiados.
Mas tudo está tão tranquilo, que  quase me assusto, mas acho bom. Tudo está tão tranquilo que até esqueço que estou envelhecendo e desta vez, é pra valer! Tudo está tão tranquilo que as vezes tenho de afastar o medo com meus bons pensamentos. Então lembro de alguém ou alguma coisa que me faça sorrir.
   Será que as pessoas sentem isto que sinto quando estão envelhecendo e pisando nas folhas do outono?
Tudo está tão tranquilo que até me esqueço que sinto saudade...Penso que as transformei em lembranças.   E lembranças eu não esqueço. Sei que há buracos pelo caminho cujo fundo nem mesmo consigo ver e que parece que nunca serão preenchidos. São assim os caminhos. Nem tudo é apenas encantadora paisagem. Não estou mais triste. Digamos que só fico triste porque acho que não é bom sentir saudades porque alguém foi embora. A gente devia poder abraçar, de vez em quando, as pessoas de quem sente saudades. Mas, desconfio que mais uma vez, adocei meu caminho, e mesmo no silêncio parece que estou encontrando favos de mel. Quando era menina, comia uma parte de uma flor porque sabia que era doce. Ainda bem que meu olhar não se amargou. Que bom!
Não quero ficar eternamente no silêncio ou hibernando como uma mamãe ursa. Quero deixar aquele meu beija flor sair do meu peito em direção ao sol. E quero ter fé, porque só assim se recebe aquele tipo de amor que não nos abandona. E se o amor preencher nosso coração, como uma coisa leva a outra, a gente recebe mais amor de quem ainda não quiser nos deixar apenas saudades...
Foto e texto: Vera Alvarenga

domingo, 11 de maio de 2014

O meu Dia das Mães.


 Meu dia das Mães foi maravilhoso!
 Lembrei de você mãe, como lembro em muitos outros dias e tive vontade de tomar um cafezinho daqueles que tomava em sua casa, quando conversávamos então sobre algumas coisas e depois eu voltava para meus afazeres e filhos.

 Você ia ficar orgulhosa de seus netos, mãe!
  E de suas noras! E de seus bisnetos!


Eu bem queria que você estivesse aqui hoje participando de meu dia.
Tive um dia maravilhoso! Um almoço delicioso feito com amor pelo Robson, as palavras generosas ditas por amor pelo Rodrigo que mora em outro Estado, e o Roberto que está num outro país, eu também tenho certeza que me traz sempre em seu coração! Tomara que você tenha se sentido abençoada por seus filhos como eu me sinto por ter os meus em minha vida!
 Sou grata a Deus pelos filhos que tive, 3 filhos homens,que trouxeram tanta mudança, aprendizado e amor para minha vida. Filhos são bençãos, e os netos...rs....ah! são um presente que nos dá a oportunidade e a delícia de revivermos os bons momentos em seus sorrisos. Tenho sorte de ter noras também que trouxeram para minha vida uma outra visão sobre as coisas. Acima de tudo olhar para elas com generosidade e o desejo de me aproximar com sinceridade, confiar nelas e acompanhar alguns de seus passos sob o ponto de vista do feminino, da coragem que demonstram e também da maternidade ( no caso de 2 delas), me deu a oportunidade de olhar para mim mesma e relembrar o que eu fui. E assim, aprender a olhar com um olhar mais amoroso não só para os homens da minha vida, mas para as mulheres também. Isto me deu ainda mais a certeza de que homens e mulheres quando pretendem se amar, devem procurar se completar, reconhecendo um no outro as virtudes que tem usando-as em benefício de um relacionamento fértil de amor e alegria.
  E me deu a certeza de que, enquanto mães, temos de ter pulso forte muitas vezes sim, mas jamais economizar os gestos amorosos, porque tudo vale a pena!
fotos e texto: Vera Alvarenga

quarta-feira, 26 de março de 2014

Ah! a minha nuvem negra...

Foto
No Face hoje alguém colocou esta imagem e eu logo pensei:
Quem acumula inveja,preconceito ou raiva também...olha só a tal nuvenzinha que eu contava para os meus meninos que a gente atraía quando ficava nutrindo pensamentos ruins ou julgando os outros...olha só...kkk.
 Lá em casa a gente era tranquilo mas tinha de ter bom humor com a própria vida e deixar a vida dos outros em paz...é sim...ainda creio nisso..rs...
    Tanto tempo passou e esta nuvenzinha ainda existe! Olha só! e pode ser a escolha consciente ou não de cada um. Que raios ou trovões venham junto com uma nuvem de raiva que a gente não queria ter ou não sabia que estava lá porque tentava esconder da gente mesmo, ou simplesmente porque não tem afinidade com este sentimento, vá lá. A gente às vezes demora quase uma vida inteira para entrar em contato com esta emoção, e na verdade não é apenas ou unicamente por "negação" como diriam os psicólogos de plantão, mas porque realmente não tem muito a ver com tal emoção e não quis ficar ali dando brilho, curtindo e polindo, fazendo frutificar ou se espalhar feito bolor. Algumas pessoas são um tanto desligadas de certos detalhes e, a raiva requer uma especial atenção a eles, uma vontade forte para julgar e firmeza para chegar a um veredito. Além de memória, é claro! Daquele tipo de memória "que não esquece"! Eu certamente sou muito desligada de algumas coisas e raiva nunca foi uma emoção motivadora ou objeto de importância que me desse o trabalho de trancafiar lá no sótão.
   Que sapos e lagartos saiam de nossa boca de vez em quando, ou do sótão quando fazemos uma limpeza por lá, tudo bem. Porque em todas as casas há um sótão, ou porão. Eu prefiro sotão, dá uma sensação de estar a um nível mais acima da umidade excessiva do porão, mas de qualquer modo, um deles está lá em nossa casa. É onde guardamos as antiguidades, relíquias e os "escondidos". As fotografias, os porta retratos vazios ou com fotos amareladas, quando não rasgadas pela metade, como se pudéssemos tirar de nossas vidas a lembrança de alguém, só porque rasgamos a foto. Aliás, este tipo de foto, na verdade, nem as tenho! Contudo, já presenciei pessoas que tentavam matar pessoas, rasgando fotos. É uma dor muito grande que as consome.
   Inveja...ah! a inveja... quantas vezes desejei algo que não tinha e por isto senti minha felicidade abalada?
   Pelo que me lembre, só depois de velha isto me aconteceu. E não foi nunca por inveja de alguém que tivesse o que eu não tinha, mas unicamente quando desejei ter o que havia nos meus próprios sonhos. E um sonho tardio pode ser tão inoportuno quanto inesperado, mas ao mesmo tempo pode ser o que nos salva da nossa nuvem particular de mágoa e tristeza, que poderia sugar nossa energia como a parasita suga a seiva de uma árvore madura até secá-la de vez. A menos que possa considerar que invejo meus próprios sonhos, não sofro da inveja.     Contudo a raiva, aquela que não guardava no sótão mas chegou como uma nuvem trazida pelo vento que varreu o pó e deixou as superfícies mais reconhecíveis, a raiva que caiu feito tempestade e lavou a alma que não compreendia mais nada e pensava estar perdendo o laço que a ligava à razão, a raiva que nos faz agir e tirar o que amamos do caminho do tornado e nos colocar em lugar mais seguro, esta sim eu senti. Como se sente a chuva... E depois a nuvem se desfez... penso que quase totalmente.
   Assim, resta-me lidar com aquela nuvenzinha que teima em vir de vez em quando para cima de minha cabeça e quer tirar minha atenção das coisas que amo. Uma nuvenzinha acinzentada e sombria com a qual eu até já me acostumei a conviver, já conheço seus sinais e sei para ela um bom antídoto. Ela se enfraquece toda vez que consigo obter, de meu sonho, um tequinho de realidade, toda vez que meu sonho me toca se transmutando em um gesto real, toda vez que me lembro que foi através de um sonho, mesmo tardio, que eu vi que minha nuvenzinha de mágoa tem de ser colocada no seu lugar, e lá é infinitamente menor que eu, menor que minha capacidade de amar e que, portanto jamais irá me engolir.... se eu não permitir. 
Foto retirada do Facebook
texto: Vera Alvarenga

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