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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A ciência da Felicidade...

   Numa palestra, Nancy Etcoff, da área de psicologia, diz que hoje em dia, ao contrário do que Freud pensava: “A felicidade não é somente a ausência de tristeza”.
   E ela continua explicando- somos muito sensíveis ao negativo. O ser humano sofre mais com a perda do que fica feliz com a experiência de um desejo realizado. Uma interação negativa, pelos estudos feitos, demonstra ser mais poderosa do que uma positiva. Em especial as expressões de desrespeito e rejeição tem bastante poder! É mais ou menos assim..por ex., em um relacionamento/casamento : “é necessário 5 comentários ou interações positivas para compensar cada interação negativa”. Uau!
   Se entendi bem então, sofro mais com a perda de um sonho ou pessoa, do que ficaria feliz com a realização deste sonho ou o sucesso em ter comigo a tal pessoa. Eu não costumava ter dificuldades em descobrir formas de sentir prazer com o que tenho, mas entendo o que o texto diz. É preciso nos "anestesiar", nos"desligar" um pouco de nossa sensibilidade para sofrermos menos com a perda, e então isto pode ser uma faca de dois gumes! 
   Bem, evidentemente, se tivermos a pessoa ao lado e pudermos conviver com ela por longo tempo, teremos novamente muitas oportunidades de nos encontrar nesta alternância entre o realizar desejos e sonhos com ela sentindo prazer em nossa vida juntos ou o de enfrentar os desafios escolhendo a proporção de nossa reação negativa diante das frustrações.
  Nossa vida é como um pêndulo que alterna em diferentes graus de importância, entre a felicidade e seu oposto, não é? De todo modo, é sempre bom aprender a controlar, se já não aprendemos, nossas expressões negativas ou a forma como as demonstramos, evitando ao máximo aquelas que desprezam ou desrespeitam. Porque podemos nos esquecer ou nos arrepender delas, mas o peso sobre o outro é maior.      Nancy Etcoff não fala de proporções, nem do nível limite a que cada um pode chegar mas é evidente que cada um de nós, com certeza sabe seus próprios limites. E mesmo que façamos de conta que não percebemos o limite do outro, a gente deve refletir sobre, para controlar nossas expressões negativas.   
   Parece tão óbvio, mas para alguns não é fácil! É preciso lembrar que, controlando nosso “gênio” estaremos não só nos tornando melhores como pessoa e mantendo o relacionamento mais confortável para nós e para o outro, mas atraindo para nós muito provavelmente e de modo geral, sentimentos, lembranças e pensamentos naturalmente positivos.  Para os mais egoístas, se outros motivos não forem o suficiente, parece interessante então lembrar que o controle sobre si mesmos é também uma forma de assegurar maior prazer na vida em comum. Evidentemente, que aqueles que não são exageradamente egocêntricos aprenderam mais cedo a respeitar e por outras razões, não apenas em interesse próprio, habituaram-se a ponderar suas atitudes. Algumas vezes até se acostumaram mais naturalmente a fazer isto, porque viver em paz ou levar o outro que lhe é próximo e íntimo em consideração, lhes é fundamental para sentirem-se felizes. Ou porque a isto estava acostumados.  De qualquer modo, hoje os estudos provam que todos nós queremos ser felizes.
   Ela diz que emoções não são apenas sentimentos mas também alertas que modificam o modo como percebemos as coisas e até nossas lembranças( o que queremos ou não lembrar). Não devemos nos esquecer que todos desejamos ser felizes. Ninguém está dizendo aqui que devamos viver para dar prazer apenas ao outro, um erro que muitos de nós cometemos porque a felicidade do outro nos leva também à nossa felicidade, em parte. Algo assim unilateral não poderia durar, nem alimentar o relacionamento com o qual sonhamos e gostaríamos de viver por toda a poética e real eternidade! E se queremos ser lembrados, se ficamos felizes quando alguém sente prazer com nossa presença ou ao pensar em nós,  é importante proporcionar maior oportunidades de prazer do que dor. Parece tão óbvio mesmo, não é? Então por que esquecemos tantas vezes disto? Por que muitos de nós ainda pensam que o elogio e incentivo fazem um menor papel do que a crítica? Por que evitamos o prazer de nossa presença na vida de algumas pessoas para as quais sabemos que apenas nossa presença já é importante? Por que este medo de nos relacionar com quem nos valoriza, esta mania de achar que ficaremos vazios de nós se dermos prazer ao outro? Talvez por medo de passarmos a sentir um pouco mais a vida sem a proteção anestésica que nos proporciona aquela posição na qual tentamos por vezes nos manter...ali no meio, quase em neutralidade? 

   Pensando bem...estas pessoas de fato estão de acordo com o que Nancy disse em sua palestra sobre estudos que há algum tempo se fazem sobre a Felicidade. Estas pessoas de reação negativa sobre os que lhe são próximos e até os que amam, talvez saibam que estas suas reações tem mais poder! E se buscam o poder, seja por auto defesa, insegurança ou "vocação", podem repetir estas reações constantemente. Em contrapartida, quem conviva com estas pessoas pode acabar por ir para o lado oposto e cada vez sinta que precisa controlar-se mais, ser mais dócil ou adaptável para compensar o outro. Ou ainda se habituará a "desligar-se" da situação ou negar as próprias emoções como forma de passar mais ileso ao desrespeito. O ser humano quer ser feliz e portanto tenta sobreviver da melhor maneira a tudo. Se isto se tornar um modo de vida ou sobrevivência, aos olhos de outros, ambos estarão visivelmente nos extremos, um parecerá " o tal do genio forte" enquanto o outro poderá ser visto como "o fraco ou excessivamente permissivo". Ao mesmo tempo, pelo menos com certeza aquele que não se conforme com o papel que passou a ter de desempenhar para compensar a grosseria do outro, se sentirá em posição desconfortável porque não consegue voltar ao centro, ao que se aproximaria do chamado equilíbrio. Ora ninguém consegue ser bom o tempo todo quando é constantemente desrespeitado,e ainda que se esforce o preço pode ser alto quando e decidimos ultrapassar limites para conviver de modo positivo com aquele que precisa manter-se sempre no poder. Ora, ora, nunca tinha pensado nisto desta maneira!
   Então talvez seja uma questão de escolhermos que tipo de poder queremos exercer sobre o outro... e no final das contas, sobre nossa vida e nossa Felicidade. Que tipo de poder podemos deixar que o outro exerça sobre nós, sem que nos tire a dignidade que por nossa essência divina, temos.  Aliás, melhor seria perguntar se queremos exercer poder sobre quem amamos ou queremos, de fato, amar?
Foto e texto: Vera Alvarenga

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