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terça-feira, 28 de maio de 2013

Comemorando meus 62 anos!


 Como diz uma amiga, a Carla, se queremos comemorar algo, deixemos de expectativas e tratemos nós de agitar e criar a oportunidade para que nós e outros possamos passar horas agradáveis, brindando à vida.
E eu completo... e aceitemos com alegria os gestos de carinho que algumas pessoas espontâneamente nos oferecem.
  Eu acho que nunca fiz nada totalmente sozinha e independente de outros.
 Enfrentar a vida sozinha deve ser uma vitória, sem dúvida, mas eu, na maior parte das vezes, sempre a enfrentei em "equipe", seja por cumplicidade, seja por ter um sonho ou amor que me impulsionava, ou mesmo aprendendo com o outro.
  Hoje tive um dia maravilhoso, no qual comemorei meus 62 anos. Fui com a Lika ( minha nora) no cabeleireiro ( escondi todos os meus cabelos brancos...hehehe...que há uns 8 anos vieram pra ficar...rs..). Recebi carinho dos familiares e amigos, desenhos dos netos, tive um jantar delicioso, e um bolo delicioso que meu marido fez questão de me dar de presente, conversamos sobre a vida e brindamos a ela.
 Sim, hoje eu agitei e me deixei levar. Todos tivemos um dia e noite maravilhosos que termina com serenidade e gratidão, por minha saúde, por minha capacidade de poder "ver" o bem que posso absorver de tudo que me cerca, de reconhecer que o que passou me ensinou a ser mais forte e foi uma prova para burilar meu caráter, ensinando-me mais ainda sobre a humildade de reconhecer que, nem sempre a gente pode reagir a tudo da melhor maneira e que também cometemos muitos erros, mas que, mesmo assim, a vida pode ser melhor sempre que estivermos dispostos a vivê-la com comprometimento e valorizando o que há de mais importante nela.

  Foi sim, um Feliz Aniversário ! e quero agradecer a todos os amigos e familiares os seus votos.Beijos!
  

segunda-feira, 27 de maio de 2013

50 tons de cinza... uma opinião.


Resolvi escrever sobre algo que tenho evitado, embora já tenha conversado com algumas pessoas a respeito. É sobre o tema desenvolvido no livro : 50 tons de cinza.
  Meu marido comentou comigo sobre uma entrevista em algum lugar, com alguém que ele não se lembra, onde se falava que as mulheres gostam de ler livros do tipo, e porque.
  Nada tenho contra o livro, é uma fantasia e foi feito para vender. Lê quem quer. O que me assusta é a interpretação.
  Uma vez que minha opinião é diferente da opinião de alguns,já vou avisando que li o livro sim. A gente lê esperando encontrar na próxima frase algo que nos satisfaça o romantismo, o desejo de sermos desejadas e amadas ao mesmo tempo! Contudo, esta frase não vem. É frustrante e talvez, por um truque comercial, a gente compra o 2º livro esperando o mesmo. Gostei de ter lido, mas fiquei tremendamente preocupada! Comprei o 2º há mais de 5 meses e ainda não o li. Vou fazê-lo quando e se tiver tempo sobrando. Mas confesso que espero um pouco mais de conteúdo, pois em se tratando apenas de pornografia, então há filmes e estes, só para ver a dois, seriam melhores ( embora não se aguente por muito tempo...rs..).
  Afirmo, então, que minha opinião não é a de uma mulher recalcada, complexada sexualmente falando, ou que desvaloriza a vivência e o prazer sexual como algo pecaminoso, ou de menor valor. Ao contrário, sou plenamente realizada neste assunto. Se algum dia pensasse em me separar de meu marido, como já aconteceu, nunca seria por este motivo, por sentir-me insatisfeita por este motivo, uma vez que o relacionamento sexual tornou-se com o passar dos anos, um dos pontos altos de nosso relacionamento. Muitas vezes, era graças a isto e ao amor, é claro, que as dificuldades quanto às outras diferenças eram vencidas ou contornadas, além do carinho, evidente, que sempre senti por meu marido.
   Então por que me assustei com a leitura do livro, e alguns comentários no Face, de alguns rapazes mal avisados e a amadurecer ? É porque fiquei com muita pena de ver que um passo para trás está sendo dado em relação à qualidade de relacionamento entre homem e mulher, qualidade esta que foi duramente conquistada pelas mulheres de minha geração e das que vieram antes de nós.
  Se eu tivesse uma filha, o que lhe diria, então??? Que é verdade o que andam dizendo após a leitura deste livro?  Que mulher gosta de ser tratada como lá está escrito? Que se um homem a tratasse desta maneira, ela deveria agir como a moça do livro e pensar que isto é o correto, ideal pelo que devemos lutar e sonhar?
  Claro que não! E é claro que sei que alguma pornografia, fantasia ou algumas palavras ligeiramente picantes tem certo efeito, no local e hora apropriados, é claro. Mas não é o caso de se ter um relacionamento onde nada mais exista ou una o casal a não ser o sexo onde a mulher é humilhada, desrespeitada, e pior, seduzida a acreditar que isto é legal, uma vez que acaba sendo gostoso e ela aceita. Quantas crianças são seduzidas e estupradas pelo pai que soube explorar o fato de sexo poder ser "gostoso" ou por saber da dependência emocional de suas crianças?
  Para minha filha eu diria que, a dependência emocional sempre existirá, impossível que a evitemos totalmente e é coisa de ser humano, mas que será sempre melhor a opção de nos apegarmos emocionalmente a alguém que nos trate com respeito, carinho...muito carinho...e que, para sentir prazer e mesmo chegar ao auge do gozo do prazer, não precisa fazê-lo às custas de humilhar a companheira. Isto jamais se justifica! Que à mulher se deve o prazer, tanto quanto proporciona! E diria mais à minha filha! Que não confunda abuso com acordo... e jamais se cale a respeito disto.
  Peça ajuda a uma pessoa de sua confiança para conversar e esclarecer as coisas, e ajudá-la a pensar, se isto estiver lhe acontecendo. Pois somente os mal intencionados pedem-nos segredo de suas ações "contra" nós. Uma mulher sem experiência sexual ou da vida, pode aceitar muitas coisas que em nada as dignificam como seres humanos que são, tão valorosas quanto é o valor que a sociedade tem dado aos homens. Segredos entre os casais é algo delicioso e confirma o comprometimento e cumplicidade, mas então, não caberia aqui, que a mulher fosse humilhada, ou seduzida a fazer o que, de outro modo não escolheria para si. E ser humilhada, seja em que assunto for, acaba por plantar uma semente de raiva que, a despeito da presunção de uma mulher em pensar que está acima deste sentimento, mais dia menos dia, vai desencadear um alvoroço e sofrimento, e culpa.
  Quando o sexo não for mais tão importante, ou mesmo que for, não puder mais ser exercitado com antes (o que acontece com todos..rs...), o que sobrará de um relacionamento que se constrói apenas nestas bases?
  Assim, para  minha filha eu diria...Sexo é bom, muito bom, uma das maiores gostosuras da vida!
  Mas, se você quer ser amada ou respeitada, não alimente atitudes que lhe pareçam abusivas ou grosseiras, que não lhe dêem prazer sem diminuí-la como pessoa, porque o preço será alto. Você é que se tornará fechada e grosseira, com o tempo.  Sexo, carinho e emoção são coisas que nós mulheres costumamos juntar numa receita que nos deixa apegadas emocionalmente e, com nosso instinto maternal, nosso dom para o romantismo e nossa compaixão acaba por se transformar em amor. Fantasiar e fazer sexo não é algo para nos deixar envergonhadas. Só nos sentiremos assim, quando no fundo soubermos que estamos vivenciando um abuso. Porque a vergonha vem da culpa de não conseguirmos nos afastar de uma situação que não nos deixa felizes e serenas.
  Minha filha, diria eu, faça tudo para proporcionar prazer a seu companheiro, mas tudo é o que dá a VOCÊ prazer em viver, e o que te faz sentir-se segura e sair pisando em nuvens, com seu olhar para o alto, e não para baixo. E se pergunte: Por que, em nossa brincadeira sexual, meu companheiro não pode sentir prazer por estar comigo, a mulher que ele escolheu, sem precisar me desprezar como faria com uma puta da qual ele nem se lembraria o nome?
  Então, meu receio é que esta juventude que está aí, já tão carente de limites comece a pensar que toda mulher quer ser abusada, e passar a não acreditar mais quando uma jovem ( ou nao) se negar a fazer o que ao homem parecer indispensável para que ele sinta prazer. Então estaremos muitos passos voltando para um tempo em que mulher era apenas um objeto!!! E é preciso responsabilidade e cuidado pois este tempo não deveria voltar jamais!!!
  Não é porque os absurdos estejam acontecendo, que devemos aceitá-los, não é?
Texto: Vera Alvarenga  

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Apenas um aniversário...


Nos próximos dias estarei fazendo 62 anos. Não é pouco!
Ontem, vindo da casa da norinha e ainda influenciada por seu bom humor, conversei sobre a comemoração de meu aniversário, que é em seguida ao aniversário de casamento. 41 anos de casados!
- Podíamos fazer alguma coisa juntos... você pensa e então, me faz o convite ?
- Ah, não tenho jeito pra isto não.
A conversa evoluiu nas tentativas, mas não nas respostas.
- Pensa em me convidar para alguma coisa..
- Não tenho idéia...
- Qualquer coisa.. podem ser 3 idéias e eu escolho uma..tá bem?
- Você sabe que não sei fazer estas coisas.
- Ah tá, você só sabe receber estas coisas. Escute, pelo menos diga que vai tentar. É só pensar no que gosto ( nem eu mesma sei muito bem do que gosto de fazer por mim, mas é uma lista pequena, não seria dificil !).
   Acho que nós todas, mulheres, somos parecidas( como disse a Maria em seu post). Bem desejaríamos uma surpresa, ou algo espontâneo, ou na verdade, na verdade mesmo, queríamos ver no olhar dele o reflexo sincero do desejo e prazer de nos proporcionar algo que nos trouxesse alegria. E o mais importante ( no meu caso) ver que eles curtem estes momentos conosco! ( sejam como forem estes momentos!)
- Não precisa ser viagem, claro! Nenhuma noitada no Motel nem uma noite dançante,como antigamente. Esse tempo passou. Tudo bem, nem o churrasco pro pessoal. Agora não dá, eu sei, tudo bem. Nem o cinema, que você não gosta. Nada complicado. Coisa simples... Um lugar onde pudéssemos ir juntos, caminhar em paz, quem sabe até um convite pra você me levar ao Horto Florestal, então? Você sabe como gostei de ir lá tirar fotos, e é longe, eu não iria sozinha( não me aventuro a dirigir ao longe em São Paulo).
Mas o tom de voz já não era o mesmo. E o tempo passava mais rápido que no início da conversa.
- Prefiro que você vá numa loja, escolha uma bijou e eu pago.
Nestas alturas eu já estava brava. Tom de voz mais alto, indignada.
- Mas, puxa! podia ser um simples convite para irmos aqui ao lado, a pé, tomar um café numa destas casas deliciosas que tem aqui e nunca fomos! E você sabe como gosto de um café com creme! Será que antes de morrer a gente pode curtir tomar um cafezinho com creme e canela aqui ao lado? Será que a gente não pode ser feliz com tudo de bom que tem bem pertinho de nós? Caramba! Sempre fui tão calma e cordata a vida toda. Será que você não podia resgatar aí um pouco daquela sua energia e disposição de quando era mais novo e não parava em casa, não deixava de comemorar nem um só aniversário seu ou do sócio?
  Nossa, vou fazer 62 anos! E não sou a velha que pensei que me tornaria - mansa, resignada e espiritualizada. Às vezes fico p... da vida. ( Só às vezes). Tantas rugas, tanto tempo passou e eu ainda não me acostumo com o "não sentir entusiasmo em apanhar os frutos ao alcance no próprio quintal!"  Não me conformo com o desperdício de recursos. Me assusta ter de sonhar, quando seria possível realizar!!
  Perguntaria a qualquer um - O que adianta ficar recordando de quando era menino e junto com outros fazia coisas gostosas que ficaram na lembrança, se hoje, você não faz mais nada do que ainda lhe é possível? Não é legal colocar a felicidade longe de você, num tempo em que não a pode mais alcançar. Deste modo, priva a si e a quem está ao seu lado e o ama, de compartilhar momentos reais de uma felicidade que precisa ser construída e cultivada.
  Por que só sentir prazer com o que precisou conquistar sob pressão, em grandes desafios? O que lhe é dado não é bom? Por que não se pode valorizar o que se tem e curtir a vida a cada fase de vida, com as possibilidades ao alcance? Outras pessoas há que precisam se conformar em apenas sonhar com a felicidade, por que não tem os recursos, ou os companheiros se foram.... E ainda estamos aqui.
  E eu me dei conta de que, se considerar que felicidade é sinônimo de grandes coisas como saúde e tranquilidade, estou muito feliz, no momento, e então me acalmei - marido em casa, ambos com relativa saúde, aposentados, cada um em seu escritório com liberdade para escrever o que desejar, tarefas de casa divididas, alguns últimos desafios da vida sendo vencidos pouco a pouco, uma noite no final de cada dia para recobrar forças e esquecer das diferenças e discussões, às vezes pra sonhar, enfim, uma vida finalmente tranquila. Mas...(eu devo ser, de fato, a pessoa que contesta, como diz meu marido, as coisas que são feitas apenas porque estão pré-estabelecidas)...
- Mas... o que fazemos das pequenas coisas e gestos que poderiam adoçar a vida e nos fazer curtir o que poderia haver de bom nela, apesar de tudo o mais que temos de enfrentar? Por que não perceber a responsabilidade de cultivar a alegria das coisas simples e colher frutos de ternura? Viver o presente da melhor forma é sempre nossa maior conquista!
  Talvez os homens, principalmente os antigos, não gostem muito deste nosso modo de pensar. E então fico imaginando se eles compreenderiam melhor se pudessem lembrar-se da diferença entre se fazer sexo simplesmente por fazer, ou de se fazer sexo de forma apaixonada, como quem curte a vida e o prazer que pode proporcionar ao outro e a si mesma, e de quando ambos decidem fazer daquele simples ato, um brinde à vida e ao amor...
Texto e foto: Vera Alvarenga  

sábado, 20 de abril de 2013

Diálogo com o Diabo...sem acordo.

   
   Lendo uma crônica bem humorada de Luis Fernando Veríssimo a gente não pode deixar de entrar na história e imaginar-se ali, como naquele diálogo tentando um acordo com o Diabo.
   Já estou até vendo as duas secretárias dele cochichando entre dentes e riso debochado, ao mesmo tempo que levam o espelho embora:
- Falsa! Não quis ser jovem e bonita outra vez?! Pois sim!
   Mas a coisa não é esta. Ser ou não ser, não seria a questão aqui, pelo menos não comigo. Comigo seria na base do sentir. O que queria mesmo é que, estando com meu companheiro, eu me sentisse especial e bonita...que ele me achasse linda sorrindo, tendo eu rugas, ou não... Afinal, sou avó, não me ficaria bem a mesma cara dos quarenta.
- Ah, então você quer algo especial! Posso providenciar, imagino que o capeta me diria.
   Certamente que teria de ser especial. E tem mais, eu ia querer algo pra ele também.
- Isto já não costumo fazer. Dois por um preço só? Cada um pede para si e eu atendo, é o que faço. Não trabalho com procuração.
   Você sabe como sou... algo só pra mim? De que me adiantaria?
- Só por curiosidade, o que me pediria caso eu resolvesse abrir uma exceção?
   Simples. Que ele, estando comigo, pudesse também sentir-se jovem e bonito. Isto é a parte mais fácil, nunca tive dificuldades nisto. Contudo, chega uma época da vida que parece que as coisas desmoronam, e a gente fica amargo consigo e com o outro, porque se cobra demais. Aí entra você. Seria para que encontrássemos nosso jeito de rir juntos, com uma disposição para o bom humor à prova  de vaidades e qualquer dissimulação. Já não tenho mais tempo a perder com rabugentices, críticas excessivas. Sabe aquela coisa da gente simplesmente se divertir, de fato, um com o outro, antes que você nos viesse buscar?
- A..ha...Bem, diversão mesmo, você sabe... aí tem de ter, huummm... como direi para uma senhora na sua idade, sem ser grosseiro? digamos, pelo menos um pouco de sensualidade. Não é pouco o que me pede, ainda mais para dois, depois dos sessenta. A senhora poderia ser mais específica?
   Claro que não! Sem detalhes. Disto, com bom humor cuidaríamos nós, a nosso modo, afinal, teríamos prazer de estarmos juntos lembra? Então, o resto seria por nossa conta.
- E risco?
   Claro! Você crê muito pouco na criatividade e flexibilidade humana, não é mesmo? Mas não o culpo. Então seria isto, para nós dois... estarmos juntos sentindo prazer em viver, sem frescura, com delícias e ternura.
- Interessante a conversa, mas como disse no início, não costumo assinar contrato com um, para satisfazer a dois. E além do mais, o que me pede é como que um milagre. Não é bem da minha alçada. E quem me garante que ele iria se comprometer de fato, querer a mesma coisa que a senhora? Não tá se achando muito poderosa pedindo algo por ele? Quando eu viesse buscá-lo seria capaz dele recuar, e ainda me dizer que foi enganado!
   Pois é, se não dá pra colocar ambos na mesma canoa, nada de acordo meu caro. Não é por ora que me comprometo a por meus pezinhos na "barca do inferno".

Foto retirada do Google.
Texto: Vera Alvarenga, inspirada por "O que eu pediria ao Diabo" - Luis Fernando Veríssimo.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Entregando a alma a Deus ou ao diabo...


Estava relendo um post antigo e me lembrei de uma mulher que conheço.
Ela, certamente, venderia sua alma ao diabo se ele, olhando nos olhos dela e colocando o som que ela imaginava nas palavras, lhe dissesse: - " Minha querida!...." E se ele a tomasse em seus braços e ela sentisse que estava em paz, então...
Isto me fez lembrar de outra que, ao contrário,tudo imaginaria ser obra de Deus, todos os sinais, as coincidências da vida, a redescoberta do prazer de se estar vivo, e os sorrisos brotando deliciosamente no jardim de seus lábios mesmo que já quase ressecados, tudo seria provavelmente uma benção, o mundo conspirando a seu favor...

Também vi um casal de velhos( um só entre muitos),ambos de cabelos prateados, mas estes se olhavam com carinho e brincavam como se entre eles não houvesse nenhum motivo para mágoa. Queria poder envelhecer assim, como quem aproveita os últimos dias de férias...

Evidentemente conheci homens que também venderiam sua alma ao Diabo ou a entregariam às mãos de Deus se, qualquer um deles lhes mandasse, por exemplo, um enviado que lhes satisfizesse a vaidade. Talvez alguns queiram ser de fato amados e outras mulheres, bajuladas. Bem sei eu que há muitas possibilidades.

Ah! os necessitados! Os que buscam o que sentiram falta, os que não querem viver sem o que já provaram, os que procuram, os que se inquietam, os que ainda se surpreendem e puros de alma ainda querem se deslumbrar, os cansados de tentar, os que não se conformam ainda que se adaptem...Ah! os que ainda sonham, desejam e tem pena de desperdícios... 
Estes se entregam mais facilmente, ao diabo ou a Deus, pelo castigo ou pela benção, tudo por suas necessidades...tudo para não desperdiçar algo que julgam precioso...brindar à vida.

Evidentemente muitos há que estão numa fase que pode durar muitos anos até, sei como é, em que pensam que jamais necessitarão mais do que tem, não por presunção, mas porque estão amando e se sentem completos. E aqueles que fingem uma humildade que não possuem. E outros que se orgulham de nunca precisarem de nada, porque acreditam que se bastam a si mesmos, ainda que façam de conta que não contam com quem os ama e está ao lado. Estarão escondendo aí alguma coisa, olhando sem ver, sem reconhecer de si mesmos a própria humanidade? Sem reconhecer os presentes que alguém lhes oferece com alegria, que estão ao alcance das mãos. Mas tomam posse mesmo assim, fazendo de conta que nada tomaram para si. Claro, há aqueles que se dizem completos porque já aprenderam todo o saber e, então, gabam-se de nada precisar. Talvez não precisem mesmo e não devêssemos nos preocupar com eles. 
Neste grupo, evidentemente, não estou incluída. E alguns outros tipos há de haver, pois que do mundo conheço apenas o pouco que me rodeia.
E eu, é claro, sou daquelas sensíveis, e como não sou a mesma coisa o tempo todo, espio de longe o diabo, mas prefiro colocar tudo em melhores mãos. Se observo com olhos de quem não consegue ou não quer "amadurecer" totalmente, vejo que os melhores que eu, também não compreendem muita coisa. Somos todos necessitados de uma compreensão melhor. Depois de velha, fiquei malcriada. Chego a questionar os enganos que Ele pareceu cometer comigo ultimamente. Logo me calo, com medo do castigo. E imediatamente me lembro que não o temo mais como no colégio das freiras e volto a confiar n´Ele, embora não o compreenda. Por compreender-me, talvez ele saiba o quanto preciso de palavras assim carinhosas e as envia, de vez em quando. Sorrio ao pensar nisto. Ou talvez Ele não queira que eu esqueça o sabor de certas coisas, para que eu não pense que não existem. Para que eu possa aprender que há diferentes tipos de amor. E é bem aí  que não compreendo mesmo. Queria continuar burra! Por que me fazer saber disto? Minha mãe vivia dizendo: "o que os olhos não vêem, o coração não sente"!!
   Ui! me lembrei de como sou grata de poder ver e sentir o mundo, e não fingir. Pois é, reconheço, tenho uma grande qualidade, sou grata. E a gratidão me adoça, tanto quanto ouvir alguém que me chama :
 - " minha querida" - com verdadeiro sentimento de carinho. Palavras sem som, tem os significados que colocamos nelas. E quando pensava que tudo estava em paz e acomodado, eis que vejo palavras e coloco nelas os sons que imagino. E são apenas o que são, no momento em que foram ditas, mas são fortes, e doces, e me embalam, e é bom, e eu não finjo, me fazem sorrir e colocar a música que gosto... e me fazem cantar mesmo que depois chore ( porque são apenas palavras que não se repetem). Mas canto, como a natureza canta diante de tudo que se move em direção à vida querendo refletir a luz, ou o que é belo. E se fico feliz com pouco, é porque para mim, a vida é feita do pouco/muito que cabe em cada momento, é porque sou mulher simples e acomodada demais para buscar sonhos grandiosos. Gosto das pequenas coisas ( e das grandiosas também mas só quando são belas),  pena que não se repitam como numa rotina deliciosa de bem viver. Muitos há que conseguem plantar uma nova rotina para viver melhor e com mais valor, os dias restantes. Não posso reclamar. De tanto que sou persistente, consegui manter pequenas rotinas que são como gotas doces. E isto é sempre bom.
   Que maravilha que por vezes e por alguns instantes nossas almas tocam e se deixam tocar, sem medo, por aqueles por quem sentimos especial carinho. Com pequenos momentos de ternura que recebemos e oferecemos, os filhos que nos observam e são a humanidade que segue em frente, carregam consigo não a amargura mas a esperança como herança eterna a transmitir, se não como um exemplo vivo do amor ( o que seria muito melhor se nos vissem a exercitar com plenitude a vivência do amor), pelo menos como notícia de que nem todos desistimos de desejar, sonhar, esperar... por uma verdadeira capacidade de amar e demonstrar carinho pelo companheiro (a), e por que não? até por um antigo vizinho ou um amigo muito, muito querido que está distante.

foto retirada do Google imagens.
Texto: Vera Alvarenga. 

quarta-feira, 13 de março de 2013

Cegueira...

  Li no Facebook há pouco : " Cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança". Atribuem a frase a José Saramago.

 No começo do ano passado, recebi um diagnóstico de que estava com Glaucoma exatamente quando sentia que perdia totalmente minhas esperanças e "entregava os pontos". Me perdi até de mim. Não sonhava mais, e pronto! Mas diante de tal diagnóstico pensei em algo semelhante ao que diz esta frase acima....
  Então agora, minhas esperanças estão sendo colocadas ao alcance de minha mão!
  Um 2º médico suspendeu o tratamento e me disse que devemos observar... há uma chance de que fique
tudo bem! de que tudo, apesar das aparências, ainda esteja bem!
- " Talvez você seja assim... talvez este sintoma seja algo a que seu organismo tenha se adaptado.." disse-me ele. Juntos, então, estamos observando.
  Não é maravilhoso voltar a ter esperança? perguntei então a mim mesma. Como eu pude imaginar que poderia viver sem ela... sem meus sonhos... sem as borbulhas da alma, sem o olhar terno para um outro que estivesse ao meu lado? Não importa muito como o outro seja, sério, isto ficou claro como água mais cristalina! Importa como eu vejo o mundo!! Por não saber disto, perdi o rumo, me senti só e no escuro... agora, refaço, ainda que  lentamente, os mapas de minhas digitais... não sei se me encontrarei comigo, com o outro, com os demais, mas estou ainda "enxergando" minhas possibilidades. Que bom!!

Foto e texto: Vera Alvarenga
 

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Sensibilidade, razão e saudade...

  Às vezes bate uma saudade e sinto uma enorme vontade de abraçá-lo. E abraçá-lo, eu penso, do modo como jamais o abracei. Do jeito que a gente sempre sonha abraçar aquele que a gente ama. Sabe como é, não é?
 Quantas vezes imaginamos estar com alguém e, sem precisar dizer muitas palavras, compreender que muito já está subentendido e, com um abraço selar um acordo íntimo de cuidado e confiança eternos. Quem não sonha com este tipo de encontro onde  desprendimento e comprometimento não se fazem contraditórios, mas complementares? Algo como se as almas tivessem finalmente se encontrado...
   Ah! nossa! quão delicado e profundo pode ser o sentimento de que somos capazes quando estamos apenas a vislumbrar o encontro, seja com um filho, um amigo ou a pessoa por quem estamos ou estivemos apaixonados.
   E quantas vezes nos acontece que, ao estarmos diante daquela pessoa nos toma, de corpo inteiro, uma inércia desconcertante. E esta, é filha da dúvida entre o desejo de demonstrar espontâneamente o carinho que queríamos dar( ou trocar), e o conjunto de crenças ou afirmações que tantas vezes ouvimos - "é preciso respeitar o momento do outro", "não podemos apenas pensar no que desejamos mas nos perguntar se o outro o deseja também", "demonstrações de afeto não esperadas podem fazer o outro sentir-se invadido" ( ainda mais no tempo em que as pessoas se habituaram a manter-se resguardadas, isoladas do outro e a verdadeira "intimidade" não é muito bem vinda, a menos que seja através dos toques em um teclado). Evidentemente são regras do bem viver. E necessárias, sem sombra de dúvidas! Eu mesma hoje, sou assim - sei que aquilo que sentimos e tem um toque de divino e verdadeiro, é diferente do que podemos transformar em gesto real. Sei que nem tudo que parece ser, é. Somos seres humanos racionais e deve fazer parte de nosso desenvolvimento, o saber controlar desejos e impulsos, o aprender que a vida é feita de frustrações e alguns momentos de felicidade ( por isto mesmo, também é melhor evitar nos apegar ao que pode ser colocado apenas em palavras e jamais em gestos).
   E sendo assim, não estando mais presente, onde estiveres, certamente não recebes nem precisas de meu abraço, penso eu. Quantas léguas me separam de onde estás agora?
  Ao pensar nisto a saudade fica mais forte, mas hoje, já sei como estancar o sentimento como aquele que impede que o corpo se veja inteiramente tomado. E é preciso fazê-lo antes que se torne quase insuportável, porque então, ia doer. E só masoquistas precisam sofrer, diz mais uma crença. O melhor é apenas lembrar, sorrir, deixar ficar e seguir. Então, acalmo meu coração, viro as costas e saio... livre, agora, de tua lembrança...
  - Hei! Espere ai! Quem é que disse que viver é fazer de conta que nada sentimos? E que todos estes pensamentos e sentimentos contraditórios de um mundo que mal conheço e pelo qual minhas pernas mal caminharam, podem me roubar assim, tão totalmente de mim ( daquilo que acreditava) ? Penso, logo existo? Creio, logo sou! Ah, como sou terrivelmente influenciável e fraca neste ponto! Traí a mim mesma mais do que a estranhos.
  Decidida volto então a buscar-te em minha lembrança, porque viver é lembrar também. Descuido da razão. Escolho minha sensibilidade. Procuro tua face e cara a cara te digo que, neste momento em que quero ser fiel a mim mesma, não importa teu silêncio, a distância ou mesmo tuas escolhas. Coloco em prática o gesto que aprendi... ( Psiu! ninguém vai saber e só quem crê, sem soberba, poderia compreender...) e na calma do meu coração me coloco como em meditação, e para ti envio o melhor de um singelo e forte sentimento envolto em luz azul, junto com meu carinho, desejo que fiques bem e que Deus esteja contigo. Neste momento tenho asas e é o melhor de mim que vai em tua direção. Pronto, feito!
   Mas, um minuto após este doce instante de meditação, guardo meu espírito e minha viola no saco, no mesmo instante em que, sem nenhuma razão, passa por meu corpo e minha vontade um pensamento furtivo...
  - Ah! tivesse o destino permitido que ainda houvesse tempo para que tudo pudesse ter sido mais concreto, como ainda sou...
   
Texto e foto: Vera Alvarenga:
  

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Amor...

      Sou extremamente positiva, porque mesmo no auge dos meus sonhos ou da visão de minhas realidades, ainda que precisasse deixar muita coisa de lado, jamais desisti ou duvidei daquilo em que mais acredito, o que me impele a continuar.... 
   E, embora seja deste modo idealista e firme em alguns princípios,...quando te ausentas assim por tanto tempo que até mesmo duvido que um dia estiveste tão perto, quando demoras para vir, quando não sinto que, de algum modo tu estás comigo por momentos e o que tu representas transborda do meu coração, não posso evitar entristecer porque parece que a luz do mundo se apagou um pouco... de tão forte, extremamente forte que tu és, quando se traduz em sentimento que promove a vida – a minha vida.
   E antes, experimentei o contrário. A luz do sol brilhava em meu dia quando o sentia, quando o sabia perto, quando recebia tuas palavras, porque sem que estivesse isto em minhas mãos ou em meu poder, o amor vibrava então, e por tua presença, também em meu coração. E em presença do sentimento de amor que se esparrama como um rio dourado e fértil, o que se banha nele se torna melhor, e tudo que não é, nos parece por demais grosseiro.
   Sim, sou feliz com tanto que tenho, quando olho ao redor e vejo que tenho mais do que tantos. Tenho diferentes coisas do que já tive. Sou grata. Hoje, a consciência que antes procurava e me fugia, está a impregnar-se em meus momentos, embora ao mesmo tempo me sinta desapegar-me de tudo. Tenho uma tranqüilidade que antes não tinha, e tempo para mim... mas isto não impede que perceba que a inevitabilidade das coisas me faz sentir medo, algo que antes não sentia. A maturidade não impede que sinta falta de tua presença...  amor.
   Meu amor ... néctar, bebida  doce que faz esquecer como somos limitados, nós, os seres humanos, e me permitia relaxar e descansar de meus cuidados em almofadas de cetim...
   Deixa-me sentir teu olhar amoroso de novo e o bater de tuas asas douradas em meu coração de pedra... e serei leve e livre novamente...
foto e texto: Vera Alvarenga. 

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O pêndulo...

   Uma vez ele lhe perguntou:
- Você existe?
- Claro que sim, respondeu.
E sabia que existia! porque naquele instante começava a pesar-lhe sua existência. Ela, que sempre tivera asas, vergava agora, diante dele e pesava-lhe  sua simplicidade e mais algumas características que a faziam sentir-se mais concreta e deslocada do que nunca.
   Engraçado como quando a gente se sente parte atuante na construção de um sonho, ou quando a gente ama e se sente amado sem que para isto precise renunciar a alegria que pode acompanhar tal experiência, tudo parece encaixar-se, tudo se torna mais leve, inclusive nós. E o contrário, é consequência de vivermos o momento em que descobrimos que estamos vivendo no mundo de dualidades e opostos. E nele, experimentamos os dois lados da moeda, embora alguns tenham a sorte de descobrir um terceiro. Porque o amor pode ser leve, ou pesado, conforme o modo como se ama ou que se é amado. Por vezes é uma escolha.
   Para ela, era impossível duvidar de sua própria existência, porque debatia-se e por isto, sentia cada limite do seu ser. Isto a tornava bastante concreta.
   Uma outra vez, ele lhe disse:
- Com toda certeza posso afirmar-lhe que você é insubstituível para mim.
  Aquelas palavras eram dirigidas a ela e assim, teve certeza de que poderia libertar seu coração. E logo, era ele que se tornava insubstituível para ela. E quando ele lhe falou que, algumas vezes, a sentia junto a si porque ela parecia adivinhar o que acontecia, sorriu. Porque ela o trazia sempre junto a si, em seu coração, e conversava com ele, e todos os dias dizia-lhe bom dia e boa noite.
   Quando já nada mais esperava, ele era como uma doce promessa, que naturalmente se realizaria em breve, algo que seria como colher o fruto que já está maduro - o melhor sabor, o melhor cheiro - a promessa da leveza de poder ser. Então, ela passou a viver entre o sonho e a realidade, entre a esperança e a desistência, alternando sentimentos de impotência e poder, limite e liberdade - o desejo da liberdade de caminhar livremente, não por estar só, ao contrário disto, por sentir-se plenamente reconhecida e capaz de ser. O sonho parecia mais real do que tudo o mais, porque refletia o que estava nela.
 Chegou o dia em que ela viu que nossa vida pendura-se, por vezes, no pêndulo do relógio do Tempo. E o tempo não parou para ela descer, nem recomeçou. No pêndulo, ora estamos de um lado, ora em seu oposto.
  Agora, era ela que perguntava novamente:
- E você, ainda existe?
Mas não ouvia mais nenhuma resposta.
  E, com as pernas penduradas no ar, sentada no grande pêndulo do relógio da vida, observava. Talvez nunca mais descesse de lá e se adaptasse por fim, ao balanço ritmado. Sentiu a brisa no rosto. Seria o vento que leva tudo? Mesmo que antes ela não acreditasse nisto, reconhecia agora, que era possível que ele tudo levasse. Ainda assim, ela procurava o equilíbrio, mesmo sabendo que o pêndulo jamais pararia enquanto ela vivesse... a cada dia ela o cumprimentaria pela manhã e se despediria, com um beijo, à noite...
Foto e texto: Vera Alvarenga
  

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Comprometer-se...

 Em minha recente viagem para o sul, reencontrei um casal que descobriu no seu casamento, o segundo para ambos, que para o relacionamento dar certo, amar não é apenas sentimento, mas o comprometimento em desejar fazer o "outro" feliz. Em um próximo post vou contar uma historinha sobre eles.
   Sorte daqueles que descobrem que acomodar-se a um individualismo exagerado e "falsa" liberdade e independência sem limites do "cada um por si desde que todos por mim" não é a melhor solução para a vida a dois. Sorte dos que não pretendem ter sempre razão. Aliás, o individualismo radical não é solução nem para a vida em sociedade, pois comprovadamente traz ansiedade, sentimento de insegurança, depressão e pânico, de acordo com especialistas no assunto.
   Amar não é apenas o que se diz de um sentimento - é atitude - o amor pede ação, deseja conjugar o verbo. São dos pequenos gestos em benefício e engrandecimento do outro e do próprio relacionamento que o amor se sustenta ( e também o bom humor, e a disponibilidade para uma vida mais plena)! E não, de um sentimento que se esvazia na ausência da ação, presença de orgulho e recusa de se comprometer.
   Mesmo quem já amou, se não é correspondido, um dia acaba por se transformar em um sonhador. E se seus gestos encontram constantemente a barreira que impede a alegria da troca constante, acaba por pensar que a ele, só restou sonhar. E então, seu desejo o leva a sonhar... inconformado sonha, a cada novo dia, mesmo em presença de frustrações, porque sem esperança, entristece... e sonhar, por vezes o alimenta... mas quem apenas sonha, também não realiza mais o amor, pois seu desejo está no amor e em presença do desejo de amor, o que não é amor não satisfaz mais . Seu olhar se tornará triste e distante como que em busca da ave dourada que se banhava, antes, na água da fonte de seu próprio coração. Porque é por causa deste alegre encontro, que da fonte brota a água mais cristalina e do peito do pássaro dourado sai a mais bela canção em homenagem à vida. Nesta troca, ambos se comprazem. Sem ela, a fonte seca e a ave dourada sente-se ferida, emudece.
   Sorte ( será só isto?) dos casais que reencontram seu pássaro dourado junto à fonte!
   Os outros...viverão de lembranças ou sonhos. De certa forma, tem sorte também os que tem as lembranças e até os que pelo menos podem sonhar! Mas viver plenamente o amor é incomparavelmente uma escolha melhor, quando se pode ainda escolher. Porque este trabalho de amar nos preenche a vida, põe um brilho no olhar e um sorriso na alma.
   Assim como acontece para toda uma sociedade contemporânea, manter um individualismo egocêntrico tem um alto preço para cada um de nós, em nossa vida, de um jeito ou outro. Fatalmente, o ser humano que tentar reproduzir em sua vida íntima e familiar o individualismo radical com o qual aprendeu a sobreviver no mundo,  aumentará para si e para quem conviver consigo, o sentimento de vazio e solidão que já existe em cada um de nós. Se não se compromete com o amor em sua vida íntima desejando fazer também o outro feliz tendo oportunidade para fazê-lo, logo se desviará do caminho que o levava à fonte, não terá mais como encontrar repouso em seu ninho e forças para alçar vôos que lhe tragam mais do que uma ilusória sensação de realização. E, certamente, perderá a alegria que lhe brotava espontaneamente no riso. E, quando sorrir alegremente nos encontros ditos sociais, alguém sempre perceberá que o sorriso "é de alumínio" que, como uma máscara, ao virar a esquina, cairá por terra.
Foto e texto: Vera Alvarenga.

domingo, 11 de novembro de 2012

A eternidade do amor...

De vez em quando, ela vem e me toca. Sem aviso. Não tem hora exata para acontecer, quase sempre é quando deixo a emoção e o sentir existirem por si, sem questionamentos. E quando permito que existam sem impedi-los, eles se espalham, me causam arrepio.
   É então que pressinto que ela chega. E vem quieta e lentamente, e me toca. Meu arrepio é de medo e respeito por sua coragem.Sei que em sua fragilidade, é mais forte que eu e causa transtorno quando quer me mostrar que ainda faz parte de alguma maneira, e para sempre.
   Temo que ela me ame. Por isto talvez nunca tenha me deixado. Já o meu amor, maduro e sensato amor, é por sua memória pois não a posso ver, apenas sentir. Acho que a amo mais agora do que jamais a amei, justo quando ela já não pode ser! Nós, seres humanos, temos esta inconsciência das coisas que são, enquanto naturalmente estão sendo.
   A presença dela me traz uma doce sensação de leveza e liberdade! E num instante me transporta para o alto de uma paisagem... e tenho asas! Vejo flores e as árvores, a lagoa que se encontra com o mar. E então, lá do outro lado, eu o vejo também. Dali, posso alcançar tudo que quiser. Posso cavalgar nas nuvens e tocá-lo. E certamente, seria tocada por ele! Isto também me causa arrepio. Voar ao encontro dele é maravilhoso!
   Contudo, é bem isto que me apavora. Logo abaixo de minhas asas, quando a caminho do meu destino, a lagoa reflete minha humanidade e o que o tempo escreveu na realidade. E então, o encanto se desfaz. Para continuar seria preciso enlouquecer totalmente de modo a nunca mais olhar para um espelho? Não sei. Só sei que sempre há o aviso, mas parece que não o vejo a tempo.
   - Não olhe para seu reflexo! ele grita amordaçado pra mim. Não posso ouvir direito.
   Como evitar se tudo que nos cerca, a lagoa e o mar, refletem como espelhos? Como cortar as asas que ela grudou em mim?
   Se não a loucura, só outro olhar tão louco quanto o meu, refletido no mesmo espelho, teria me salvado. Só um olhar semelhante, do outro lado dos espelhos, nos salva a todos. Mas isto é magia! Não havemos de desejá-la? E há magia do mal ou do bem... como no espelho da madrasta da Branca de Neve ou no olhar do homem amado...
   Então me entristeço porque minha loucura está só. É loucura crer na eternidade de qualquer sentimento que pertença ao humano e viva solitário apenas em um coração. E este sentimento é o melhor de todos eles. Dele, muitos nem se lembrarão, outros não podem saber do que nunca existiu, alguns se conformam com a gradativa perda da luz como se fizesse parte do envelhecer nobremente... E ela? parece  simplesmente dispensar a nobreza de títulos, só quer cultivar o que já sentiu. Para sempre, de um modo ou outro, como se fosse o que mantém o significado das coisas! Ah! ela acredita! Sabe que algumas árvores vivem mais do que a própria pessoa que a plantou em seu quintal. Esta jovem mulher carrega tanto desejo e vigor quase inconformados, porque crê que conheceu o amor e que por longo tempo o viveu. Assim, jamais envelhece. Congelou-se no tempo?  Mantem-se fresca, ao contrário de mim. Por isto devo reconhecer que é quase impossível crer que ela possa ser assim, tão real como deseja mostrar-se a mim.
   É difícil conviver com ela, com sua absurda crença na eternidade do amor, transformado ou não. Ela, certamente, é feita apenas de desejo mesmo que seja com a mais nobre convicção.
   Por isto, quando ela vem me tocar, metade de mim se encanta e a outra metade sente arrepio.
   E não posso evitar que ela me mostre o quanto é mais bela que eu com meus humanos limites. Não posso fingir que não a conheço, tapar meus ouvidos aos argumentos que usa para lamentar a eternidade do desejo de amor que vive em nós e poderia ser escolha, mas não é. Ela apenas me enlouquece com seu egoísmo quixotesco em defesa do amor. Eu tenho de usar a sabedoria e a ternura que dizem que a maturidade traz, para compreendê-la. Tento. Raramente consigo.
   E nem ao menos posso fugir dela,  porque quando vem, ela me toca de dentro para fora e então percebo, que ainda está em mim...
Texto e foto : Vera Alvarenga

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Tocar o céu com meus dedos...


  Lendo algo sobre Platão, penso que me ajudou a compreender um pouco os relacionamentos e porque insistimos, alguns de nós, em tocar o céu com os dedos...
  Com certeza não nos é permitido viver um grande amor, daqueles que nos satisfaçam plenamente, o tempo todo. Somos humanos, e neste mundo dos sentidos em que tudo se modifica,se transforma e tanto nos é exigido como se fôssemos máquinas, muito de nossas atitudes fluem ao sabor das circunstâncias e impermanências. Assim, o que nos agrada e nos lembra o amor ideal, o verdadeiro sentimento pelo qual todos ansiamos, ora está ao nosso alcance, ora já não está mais. Num relacionamento amoroso, espera-se que o casal esteja atento para cultivar as oportunidades de vivenciar estes pequenos deliciosos bocados do amor. Quando isto passa a não ocorrer mais, porque uma das pessoas se deixou engolir por uma crença qualquer que a impede disto,  instala-se a dúvida se tudo não teria passado de ilusão...
   Mas não! Quando encontramos uma pessoa pela qual nos apaixonamos e com ela convivemos, desenvolvemos um relacionamento de amor e, acredito, que de fato experimentamos muitos momentos de satisfação deste nosso desejo por este sentimento pleno. Algumas pessoas, uma vez tendo consciência de tudo que este sentimento lhes proporciona, agarram-se a esta idéia como se fosse a lembrança de algo de valor que resgataram para si e não o querem esquecer. Portanto, se lhes falta este íntimo encontro com o sentimento, sentem-se desconfortáveis, vazios, inúteis. Nos deixar preencher por ele, mesmo que por momentos, é o que nos é possível em nossa condição humana, é o  que nos basta para recarregar energia, relembrar a existência de algo bom e do bem, exercitar o melhor em nós devido a algo que talvez nossa alma já tivesse conhecimento e sentisse saudade.
   O sentimento de amar pode ser para sempre, porém o amor é vivido realmente em alguns momentos especiais. Tais momentos se dão quando as almas se encontram, apesar de estarem vivendo uma vida normal e humanamente possível. Vivenciar estes “encontros” mesmo rápidos, fugazes, com quem a gente escolheu amar, é como renovar-se e nos mantém centrados e em paz, por um tempo ainda, mesmo depois que acontece – e pode ser um olhar, um gesto, um toque. É como se nossa fé na vida e em tudo o mais também se renovasse, porque vislumbramos o significado maior das coisas. Em relacionamentos mais longos, há inúmeras oportunidades para que isto ocorra. Há inúmeras formas de se dar este encontro que propicia este pequeno milagre – é como tocar nossos dedos no céu por um instante e ver que aquilo que tínhamos em mente e no coração, não é uma idealização barata e infantil, mas um pequeno sinal de algo ainda mais belo, e durável, e maior do que nos é possível supor.
   Evidentemente, há relacionamentos que se desgastam, minam energias de um ou ambos, porque alguém ali desistiu. A desistência pode ser a desvalorização do sentimento ou ato de fé que lhe conferiria a leveza para flutuar num espaço imaterial onde a realidade do amor pode existir em toda sua extensão. Há desistência quando uma das pessoas envolvidas na relação pensa que aquilo é imaterial e simples demais para ser importante, e passa a duvidar ou menosprezar o que antes, verdadeiramente, lhe trazia conforto. Pelo descaso, estes pequenos momentos de quase pleno contato com o que satisfaz, se tornam raros. Apagam-se de sua memória pequenos atos sinceros que julga sem valor, ou pior, desdenha deles. Deixa-se envolver de tal modo pelo que é de fato ilusório e de menor valia, que se compraz com o viver na comodidade da sombra, como se na vida comum não pudesse haver lugar para o prazer e a alegria singela de tocar, com o dedo, o céu.
   Outras pessoas, por sua vez, se adaptam mas não se conformam, como se sua alma estivesse sempre ansiando por estes pequenos instantes de contato com a luz para se recarregarem de fé e vida.    
   Porque já tiveram contato com o que mais se assemelha e lhes recorda a idéia de amor verdadeiro, o qual sua alma já conheceu, sua consciência sabe que existe e seus sentidos já provaram pequenos bocados, estas são as "inconformadas". Algumas até, podem seguir dóceis pela vida ou desistir dela, ou desligarem-se em algum grau da realidade que as cerca, mas, porque não conseguem desistir ou "esquecer" totalmente aquela "idéia" carregam consigo, lá no fundo, o anseio amoroso. Para as primeiras, estas outras que se demoram em desistir, que continuam como que apaixonadas por uma idéia parecem inquietas ou difíceis de contentar porque enquanto tem força, estão em busca de algo que, conquanto seja simples, não está mais ali, embora guardem a esperança de o encontrar. E o que não está mais ali pode ser simplesmente o consentimento e comprometimento do outro - uma vez que os tivessem recebido, seria possível a ambos tocarem novamente o céu, mesmo que por valiosos e rápidos instantes. Com o tempo, em alguns casos, estas últimas sentem-se murchar. Ambas ou uma delas pode se aquietar e para sempre adormecer em si, a idéia luminosa que outrora lhe fazia brilhar o olhar.  
   Muitas vezes, a mais dominadora e rígida sobrevive com a certeza de que sabe de todas as coisas e de que, graças a seu modo realista e materialista de agir é que a verdade do mundo  se constrói. Enquanto a outra, por vezes, acaba por conformar-se com sua própria loucura causada por aquele anseio amoroso que não encontra mais eco num mundo dito real. Entretanto, quem conheceu o amor jamais o esquece! E quanto mais o sentiu maior a falta que seus sentidos terão de tudo que era um reflexo dele.  Mesmo que ambos se adaptem, porque flexíveis são os seres humanos, a alma, inconseqüente, porque é amante da vida e não tem idade, pode então desejar criar nova idéia que não a deixe esquecer como é reavivar aquele sentimento. E, por sua teimosia em conformar-se, arrisca-se a confundir-se, e tentar até, talvez um dia, tocar o que no escuro é o piscar de um vagalume, pensando tratar-se da luz que conheceu!
Texto: Vera Alvarenga
Vídeo da Música com Fábio Junior - Foi tão bom.

sábado, 8 de setembro de 2012

Pode me informar, quem pintou isto?

  Às vezes ainda me surpreendo pensando se Deus brinca com a gente... ou quem sabe na sua onipresença e grandiosidade seria impessoal, não nos ouve, seríamos infantis em pensar o contrário... Talvez, a culpa seja mesmo da gente - tudo acontece porque a gente reza, pede, ora e, de repente, começa a ver coisas, e pensa que foi Ele que nos enviou o que pedimos, e então... Bem, algumas vezes dá certo, outras não! E outras ainda, a gente chega a vislumbrar, e sente tão de perto como se experimentasse uma lambida de um sorvete em dia de secura, calor e sede, para depois ver que alguém passou tão rápido e levou a delícia embora, deixando a gente ali, com "cara de tacho". E tudo que parecia que ia mudar, agora parece que permaneceu no mesmo( mas nunca é o mesmo). Seria o Tempo, este que nos roubou o que era quase como uma promessa a se realizar? E se não era, por que veio? Passam no nosso nariz, quando já não esperamos,tantas coisas que parecem sinais de que tudo vai mudar para melhor e depois... Seríamos nós os eternos atrapalhados?
   Não sei responder. E seguimos tentando acertar o passo. E quando estamos assim, começando a girar em volta da mesma dúvida, a respeito de Deus, ou dos homens... ou pelo menos quando eu estou assim, com pena de não ter tido asas para voar para um mundo novo, sem guerras, sem pequenas e constantes traições, com mais amor e lealdade, sensibilidade e reconhecimento, me sinto meio perdida na minha ignorância, como se soubesse que por causa dela me escapa um segredo...então recolho asas imaginárias e começo a olhar atentamente para os detalhes do que exista ali ao meu redor, aos meus pés, ou logo acima da cabeça, ou ao alcance da mão. Procuro ali ( como quem busca um sinal ou a mão Dele) pela beleza e a ela me agarro se a encontrar... 
   ...E a encontro... por vezes, me surpreendo porque ela está ali, mas não é aquela óbvia, é outra, uma beleza delicada, sutil, dentro da outra que se vê mais facilmente. Um sinal. E este pelo menos tenho certeza, de que me conta da existência Dele, porque, sem sombra de dúvida, quem poderia criar deste modo, colocando o belo onde não esperamos, ou ainda ao alcance de nossos sentidos? Só pra não deixar morrer a nossa fé, a esperança....
Foto e texto: Vera Alvarenga
Música Amelinha - do youtube

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Nada importante a fazer a não ser...

 Ontem soube que meu sobrinho que pensei já estivesse em casa há muito tempo, após uma cirurgia complicada, ainda está no Hospital! Evidentemente com coragem diante do que não podemos controlar, e com fé, ele e esposa enfrentam os desafios que a vida lhes traz.
  Eu, com este meu jeito introspectivo e às vezes. medroso de ser ( tenho medo de perder o amor ao qual possa me dedicar, e tenho medo de problemas de saúde que nos levem a hospital) acabo por ficar quietinha no meu canto, pensando que não tenho nada verdadeiramente importante para fazer a fim de mudar as coisas para melhor. Então, oro, e penso em coisas boas que posso "enviar" como energia aos que estão distantes e procuro agir no que está no meu limite próximo. Contudo, às vezes a gente nem percebe mas vai se encolhendo, só porque não vê os resultados imediatos de nossas ações, ou porque as coisas não ocorrem como gostaríamos.
   Sim, eles sabem! Sabem que há momentos em que nos sentimos pequenos e pensamos que nada mais há a fazer a não ser... pois são nestes momentos em que pensamos que nada importante podemos fazer é que está acontecendo o que realmente é relevante!!
 E então, na minha vida é assim também, acontecem fatos que me lembram que estou me acomodando ou desistindo desta minha crença no amor ( mesmo que seja o crer no amor e amar da minha forma de amar!).
 E hoje pela manhã, antes de ir ao oftalmo saber o resultado de uns exames( que foram bons, por sinal!), pedi a Deus por meu sobrinho e esposa, e por mim, que afastasse meus medos, que me permitisse livrar-me do sentimento de "não ser o bastante" e da recente mania de racionalizar mais do que realmente viver com simplicidade as coisas que posso viver. Antes eu fazia isto e agora parece que andei me esquecendo de como fazê-lo - viver o que é possível como se fosse um presente que mereço (já que as dificuldades, como sempre digo, a gente tem mesmo de enfrentar quando surgem). Logo depois, pensando que gostaria de ter algo importante para escrever como mensagem ao sobrinho, abri uma página de um livro desejando que a mensagem fosse inspiradora. É um livro psicografado de Teresa de Calcutá. O que estava escrito, evidentemente, serviu pra mim e espero que anime os dois em sua fé e no momento que estão atravessando, ali juntos há semanas, sem ter nada mais importante a fazer do que viver seu amor, aprender a descobrir o quanto são boas as pequenas bençãos que vem a cada dia, a ter paciência, coragem, humildade e a não esmorecer... Nada a realizar para o mundo(aparentemente, porque o exemplo deles pode inspirar outros) , muito a realizar por sua própria evolução... 
E no livro ela diz : "- Na verdade, passo a passo descobri que o medo cedia à medida que eu caminhava; que a coragem crescia na proporção do amor e da fé dedicados ao pouco que eu realizava. Descobri em mim uma força que em momento algum supus deter. Percebi que estava a meu alcance amar intensamente, tão intensamente quanto possível, apesar de não poder fazer coisas grandiosas. Logo canalizei minhas certezas,minha esperança e minha coragem para a força do amor...."  Cada um pode usar estas palavras como inspiração para sua vida e em sua maneira de ser...

Fotos e texto: Vera Alvarenga

Texto entre aspas/ grifado: retirado do livro A força Eterna do Amor - Robson Pinheiro

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Corrupião....

 Com o tempo, apegara-se a ele. E tudo nele a agradava. Foi um gostar aos poucos. Cada um se aproximando devagar, com cuidado para não ferir ao outro, não assustar, não invadir o espaço.
 Ela tinha sentido medo. Talvez porque adivinhasse o que estava por vir.
  De vez em quando, podia senti-lo perto de si, mas ele não se deixava ver. Saía antes que ela tivesse tempo para ver a luz do sol entrar pela janela ou, quem sabe, nem estivera de fato ali, mas apenas dentro de seu coração. Por isto o sentia ainda tão próximo a si.
  Quem sabe o assustara naquele dia, ao abrir a janela tão impetuosamente, alegre com sua já habitual presença, desejando olhar nos seus olhos e compartilhar com ele o que tinha nos seus. Quem sabe, foi porque começara de novo a soltar a voz, incentivada por ele, pensando que ainda sabia cantar. Ou quem sabe aproximara-se demais, quisera tocar no que era intocável. E ele estaria bem? Algum menino cruel teria lhe tirado a vida com uma pedra lançada de um antiquado estilingue de mira certeira? Estaria preso em algum lugar distante?
  Se ele voltasse, ela não saberia mais como se aproximar. Teria de ter mais cautela, ser mais cuidadosa do que já era? Isto, então, lhe tiraria a alegria que tinha pensado ser possível. Ocorreu-lhe, pela primeira vez, que apesar de tanto em comum, o mundo deles talvez  fosse demasiadamente diferente. E que a união de dois mundos só valeria a pena se houvesse igualdade no desejo de fazer o outro tão feliz quanto a si mesmo - duas aves livres a aninhar-se juntas num imenso viveiro com portas abertas.  Era preciso ter a mesma natureza. Isto, a vida lhe ensinara. Então, apesar da saudade, agora, tudo estava em paz. Ela nada mais queria ser,do que era, e nada mais queria ter, do que já tinha. Nada mais desejava... a não ser, talvez, ouvir seu canto novamente, só para saber que ele vinha porque queria cantar para ela... e então, por sua natureza, talvez ela ficasse calada e encantada, ao sentir o coração iluminar-se outra vez...
Foto e texto: Vera Alvarenga.

sábado, 2 de junho de 2012

Estrelas no mar...

Naquele tempo, ela caminhava na praia deserta.
Trazidas pela maré, um dia chegaram palavras, resposta ao desejo que lançara ao mar. E outro dia, o barco, e nele o pescador, e ao redor dele, as gaivotas. Eram dias como aqueles em que o brilho do sol aquece a alma e desenha estrelas no mar.
Longe vai este dia...
Agora, alguns habitantes da ilha voltavam. Voltavam um pouco vazios do que tinham sido, voltavam ligeiramente transformados, envelhecidos ou cansados, emoções à mostra como se isto, agora então, valesse a pena. Mas as dela, como gaivotas voaram para detrás daquelas pedras e ela as perdia de vista, por dias e dias, perdida que estava daquela visão de estrelas no mar...
A volta viera como a maré cheia que a despeito do que seria natural a seu tempo, retarda. Contudo, mesmo assim, ao vir finalmente é real e traz junto seja lá o que o mar lhe tenha para dar. Estranho ver no outro e só agora, a compreensão para si mesmo, do muito que ela tinha sido e não compreendida. Mas o tempo muda tudo, algumas coisas trocaram de lugar! Tivesse tido ela ainda mais paciência, e seu coração não teria batido desigual. Impossível, contudo, que não reconhecesse que a ilha não era mais deserta!
Já não olha mais para o horizonte distante, nem espera ver o barco, porque em vão e por longo tempo tinha esperado seu retorno.
Colhe os frutos da ilha. Morde-os.Se alimenta deles como quem quer, com sua polpa madura, preencher-se do seu gosto, da sua materialidade. Ela mesma talvez queira mais concretude. Cobrir sua doçura com casca resistente.
Caminha. Seus passos ficam marcados mais fundo na areia, pois que já não pode flutuar como antes. Sente o real e caminha em paz consigo sob o peso de si mesma. Senta-se sob a sombra dos coqueiros. Já não fecha os olhos para sonhar. Perdeu asas, mas recuperou uma visão mais adequada à luz do local. E olha, e vê a paisagem, e admira as aves e o colorido daquele paraíso alcançável. É paraíso,não é?

Por vezes, porém, ainda deseja e o coração trai esta mulher compenetrada, séria e macia...e então, ao caminhar na areia, por culpa da brisa que vem lhe beijar, quase se deixa levar. Olha para o mar, de propósito afunda os pés na areia... mas a ave dourada que hoje habita somente em seu coração busca com o olhar, as estrelas, os sinais, as palavras, e ela sente no peito o leve tremor de suas asas, e cala o canto que não será ouvido.
Fotos e texto: Vera Alvarenga
E por falar em coração batendo desigual... a música Trem do Pantanal com Almir Sater vai bem...

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Amor tatuado no corpo.

   Estava tão quieta que não seria notada se não fora porque a outra, em frente à doutora, neste momento falara algo sobre ela. Permanecia, ultimamente, quieta e um tanto distante, mas ouvia as duas mulheres experientes a falar sobre a vida que era mesmo assim, o sexo que era bom, o tempo implacável e os homens. Assuntos complexos  resumidos em pouquíssimas palavras. Finalmente a outra voltou ao principal - ela. Afinal tinham ido lá, em parte, por causa dela. Antes, nunca tinha sido um problema, mas agora, era. Antes, todos os hormônios pareciam adequados ao que dela se esperava. Ela, agora parecia rebelde. Por que demorava compreender que um dia, de repente, tudo acaba? Não, não precisava ser de repente, como um corte, um abismo ou a morte!
   Para ela, sempre haveriam pontes a se atravessar mesmo a passos lentos, e processos em transformação com infinitas possibilidades antes de se considerar que uma moeda só teria dois lados, mesmo porque não tem. Teimava em não deixar-se surpreender apenas pelos opostos absolutos - o branco ou o preto, o sim ou o não, o pecador ou o santo, o céu ou o inferno - e há muito sabia não pertencer ao grupo dos que são capazes de fingir que dançam num mesmo ritmo o tempo todo, ao som da mesma canção, como bonecos movidos à corda, aprisionados numa caixinha de música.
   A mulher, discretamente, falou dela um quase nada, embora o bastante, porque escolhera acertadamente as palavras que a descreviam com a importância que merecia. Falara, contudo, sem o entusiasmo com o qual teria gostado de ouvir alguém referir-se à parte mais feliz de si. O tom da conversa era pouco vibrante,como se  tivesse pudores ou receio de confidenciar à profissional, outra mulher, o quanto se orgulhava e tinha sido bom conviverem felizes por tanto tempo. Ignorando sua presença, as duas  falaram num tom nostálgico, como especulando sobre alguém que fora importante, deixaria saudades,  mas que, como todos já sabiam, era certo que logo não poderia estar mais ali.
   Mentira! ela estava, e bem viva! Mas continuava calada. Sentia vontade de gritar para que não a ignorassem como se nada fosse, pois ainda vivia! Ainda sonhava viver. Embora prevendo os dias contados, ninguém, nada, conseguira acabar com seu desejo de viver e ser. Ainda não. Como ser de outra forma, ela, que na outra, fora a amante?   
   Em segredo, apaixonada pela vida, flutuava nela sempre que o sentimento de amor tomava conta de si e o permitia. O amor, diziam, tinha diferentes modos de se fazer. Ela o sabia. Para ela, felicidade era amar e amar era fazer o outro feliz, e isto era possível de modos diferentes, com tantos infinitos detalhes e gestos, quantos fosse possível sua imaginação conceber. Mas... sentir-se amada, era uma outra coisa! Dependia do gesto do outro. E o amor não é apenas sentimento –  é ação, é verbo, e é assim que se pode recebê-lo. Se não for ação, aprisiona-se como o boneco que dança solitário numa caixa de música espelhada e fechada, ao som da canção que só ele pode ouvir. Sua memória trazia lembranças gravadas no corpo. Com seu homem, fazer amor tinha sido o modo habitual de sentir-se amada. Seus corpos foram o espaço sagrado onde ardia o fogo no ritual pelo qual ele se permitira deixar-se encantar. Nele, percebia o amor que dela recebia mais do que em todo o resto, fazendo deste o seu próprio gesto de amá-la.
   Como sentir o amor dele, agora? E, não podendo fazê-lo feliz como quando o mundo era, para ele, simplesmente branco no preto, precisava lembrar como novamente amar dos diferentes modos que antes pensava possíveis, antes de ser convencida do contrário. Na alma, escondidas, as cores do arco íris. No corpo, o branco e o preto, tatuados.
   Sentiu na boca da outra, que era a sua, o mesmo sorriso amarelo da  doutora que, cruel ou sabiamente, proferia a sentença, como se ela e o amor não estivessem presentes ali:
   - O tempo é implacável. E se ele diz que a chama não precisa mais arder deste modo, para que tanto hormônio? Melhor deixar o fogo se apagar lentamente - a vida é assim...
   E foram para casa juntas. Em sua rebeldia, ela ainda não se sentia velha para amar...
foto retirada do Google imagens.
Texto: Vera Alvarenga
  

sábado, 28 de abril de 2012

Sôbre voos e liberdades...

 Somos seres sociais. Alguns mais, outros menos,mas todos dependemos uns dos outros e de nossa possível convivência.
Vivemos entre tantos.Como bandos, caminhamos ao lado de muitos, por vezes na mesma loucura em meio à corrida contra o tempo.
Contudo, somos solitários na dor e nos sonhos.
Evidentemente podemos ser solidários, na dor. E os sonhos, podemos tentar compartilhar, tentar levar conosco alguém que ansiamos possa ver a mesma beleza que vemos nas cores daquele arco-íris, ou ter as mesmas visões que tivemos em nossa meditação.
- Então, você pode vislumbrar como será maravilhoso?! Dizemos ingenuamente, quando encantados.
Algumas vezes encontramos resposta de quem  entra em sintonia conosco. Nos acompanham, alguns,outros seguem paralelamente, porque seus sonhos se assemelham aos nossos ou porque se encantam com a luz que brilhou em nosso olhar.
Aquela visão, porém, aquelas cores, são o nosso sonho, é o nosso desejo, estão ligadas à nossa experiência individual e única de meditar em meio ao burburinho da vida em sociedade, no meio em que estamos inseridos.
 Sim, para diminuir expectativas é preciso compreender que o sonho é de cada um! Contudo, não devíamos esperar de nós mesmos que apenas deixemos que cada um "fique na sua", porque, para quem voa ou sonha, ou tem uma visão, é quase impossível não desejar compartilhar... a menos, é claro, quando, como muitas vezes acontece,a alegria por experimentar tal liberdade ou talvez desejo, se apaguem vencidos  pelo insistente desejo contrário de manter tudo da forma que está. E esta é uma tendência do bando, e de nós todos. Sonhar, refletir, e então meditar para depois ir em busca da realização, ou mesmo somente buscar manter a ligação que possamos ter com o que somos no íntimo, requer fé, dá trabalho, exige disciplina, compromisso, dedicação e perseverança. Eu me acovardo, muitas vezes, mas a despeito de tudo, resisto.
Há vôos especiais, destes nos quais quase podemos tocar estrelas! Quando os tivemos, nosso corpo e alma pedem que se repitam. Por isto, mesmo quando a vida muda os cenários e quebra uma de nossas asas, ainda esperamos a cura para transformar o que temos, num novo plano de vôo.
Como seria bom termos sempre companhia!
Seria ideal diminuirmos nossa expectativa, sem contudo apagar o brilho dos nossos gestos espontâneos. Como fazer isto? No mais, compreendendo assim este aspecto da vida, finalmente não me sinto mais em  solidão, como tantas vezes antes. Eu a recebo e reconheço como pano de fundo numa cena em que ela é mais estrela do que eu, faz parte de mim, e se torna fundamental num e outro ato, no palco da minha vida.
Já não me assusto por gostar tanto de voar neste cenário, embora reconheça minha dependência total do convívio com meus pares. Sei que posso ir e voltar, sentir o vento e pisar na terra, rir e chorar, aceitar meu direito e meu avesso.
Fotos e texto: Vera Alvarenga

terça-feira, 3 de abril de 2012

Uma caixa, meu presente pra você...

 Hoje pensei em você e lembrei de como gosto de caixas. Sei quantas coisas podem caber nelas. Então resolvi dar-lhe esta de presente. Ela tem a aparência de uma caixa para os amantes da música, do jazz, talvez para DVDs, ou sei lá!
De propósito! só para não lhe constranger..rs... parece pequena, mas cabe muito aí. Nela encontrará ataduras e unguento, para ajudar a curar feridas, caso ainda estejam latejando. Sim, eu sei, algumas doem para sempre,mas o unguento, dizem , tem poderes de colocar a dor no lugar de honra onde deve ficar sem que nos impeça o viver, embora seja companhia constante, e em alguns casos, algo que nos ensina sobre nossa fragilidade e heroísmo.
Hoje, senti sua presença tão forte ao meu lado, como se tivesse estado aqui pouco antes de eu chegar! Então, coloquei também sementes. São como aquelas que a gente colhe dos sonhos mais íntimos, até daqueles que ninguém mais sabe onde está a árvore que um dia plantamos. Mas nós sabemos e, às vezes, envergonhados, vamos até lá. Pois lhe trouxe algumas para que não esqueça de dar atenção amorosa a seus sonhos. Basta tomá-las em suas mãos e soprá-las, com o mais puro e decidido desejo de as lançar no solo. Dizem que, jamais decepcionaram alguém, pois delas, ninguém ficou sem colher frutos. Não tenho garantias quanto aos frutos, mas virão.
Ah! e tem um pó aí...não, não é nenhuma droga alucinógena,não! É para assoprar sobre sua cabeça. Sim, é preciso olhar para o céu, levantar a cabeça! em seguida, abaixá-la e de olhos fechados pedir humildemente o que mais deseja. Eu mesma experimentei. Dizem, que o tal pó tem certa magia, mas eu lhe aviso que pode demorar para a gente compreender o que fará com nosso desejo. Ainda estou tentando, mas você sabe... eu escorrego, levanto, me adapto por um tempo, mas não me conformo, então, guardei os óculos, aqueles das lentes azuis. Ele sempre me ajudou a procurar o amor ao meu redor, e agora a compreender a resposta que desconfio, estar bem no meu nariz! Tomara que sim, porque não pretendo procurar nada que não esteja ao meu alcance. Meu óculos ficou com uma lente só. A outra, está nesta caixa, pra você. Use-a, se precisar! Posso garantir que se sentirá algo mais feliz, com ela.
 E as asas, claro, também estão aí!  Há dois pares para que não precise voar só.
Há duas luvas também. Assim que você as puser, penetrarão em sua pele e não te deixarão mais esquecer de afagar, carinhar aqueles que você diz gostar. Ou mesmo de dar aquele abraço apertado, meio seco mas sincero e cheio de afeto,sabe?
O mais são conchas do mar, areia, bobagens que gosto, que acredito, bobagens de mim como tudo o mais que está nesta caixa. Só que, desta vez, eu não a trouxe à sua porta. Eu a deixo aqui, há algumas quadras, porque temo que só assim, se vier buscá-la, você realmente a abrirá. Então, receberá meu presente, que leva também meu afeto e este meu jeito de desejar o melhor para aqueles que amo. Tomara que não precise usar quase nada de tudo que está nela, mas lembre que pode fazer mágicas. Que você tenha sempre a disposição de acreditar e não desista! É o que desejo a você. Ah! quando a fechei, fiz uma oração para Deus diretamente, sem intermediários de religiões, para que Ele, seja como for, e estando em todos os lugares, cuide de você! Isto seria o melhor, para cada um de nós!

Fotos e texto: Vera Alvarenga

sábado, 17 de março de 2012

Campos verdes...

Acordou de seu cochilo mal dormido, daquele sono satisfeito, de entrega e paz. Olhou para ele por alguns momentos.
Suas mãos foram em busca do exercício do sentir. Foi tateando e conhecendo novamente aquele que conhecia tão bem.
E ia envolvendo cada parte, descobrindo cada textura e reação. Caminhando pelo conhecido, sem medo de se aventurar, como quem sai a caminhar por terras que são suas, apenas para não perdê-las de vista, para saborear seus encantos e tomar posse, mais uma vez, do que é seu. Fechava os olhos, quando em vez, porque sabia cada som, cada canto, e dedilhava, tocava suavemente ou pressionava, conforme sua vontade. Se um dia ficasse cega, o reconheceria pelo tato. Se um dia esquecesse de tudo, seu corpo guardaria a memória do que é sentir. Agora não tinham fome e ela podia ir lentamente. Era uma brincadeira, sua hora de brincar e ela se deliciava, e sorria. Em troca, só exigia a entrega. Não pensava que devia exigir mais, embora, às vezes virasse o jogo ao contrário, e ficasse ali inerte fingindo dormir, próxima o suficiente para que ele desejasse acordá-la. Era um acordo deles, nunca posto em palavras, nem contestado, um acordo de paz num campo nem sempre fértil, nem sempre próspero, nem tão florido assim. Mas era o território dela. Olhava o campo coberto de verde e seus olhos sabiam que havia recantos a explorar. Sentiu o calor do sol na pele e a brisa no rosto. Montou a cavalo e saiu a galopar, e junto com o vento, inspirando os aromas do campo, já podia ver no fim do caminho, as flores silvestres que ia colher.
E naquele instante eles eram tudo, não careciam de nada mais.
Texto: Vera Alvarenga
Foto retirada do Google - não há referência ao fotógrafo.

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