sexta-feira, 18 de junho de 2010

- " Afinal, quem ganhou esta competição? "

Eu estava na praça, sentada ao lado da banca de livros e de outras pessoas que assistiam o mesmo show...
Um casal chegou e sentou-se nas cadeiras próximas. Logo notei que o homem resmungava alguma coisa a respeito da altura do som,depois, que ela tentava iniciar uma conversação e ele dizia que queria ler seu jornal.Dali a pouco, a mulher se levantou e perguntou:
- "Vou então até ali, ver os livros e caminhar um pouco, quer vir?"
O homem educadamente lhe disse para ir sozinha. Ela pediu licença e foi. Era uma mulher de meia idade, sem nenhum atrativo especial, mas parecia tranquila. Ficou bem próxima a mim, já que minha cadeira estava na ponta daquela fileira. Eu a acompanhei com o olhar e pensei: -" Este deve ser o marido e ela deve gostar de ler e ouvir música. Casal legal!" Ele, parecia tranquilo, ali, lendo seu jornal.
  A mulher, mal começou a folhear os livros, foi interrompida por outro frequentador daquele local agradável, onde passo algumas horas, nas minhas manhãs de domingo. O homem começou a conversar animadamente com a senhora, que mais ouvia do que falava. Ele era bonitão, mudava de assunto a todo o instante, porque na certa tinha muita experiência e o que contar e, quando ela parecia se interessar por um deles, ou fazia um breve comentário, ele já se animava para contar muito mais de si. Para outras pessoas que estivessem mais distante, poderia dar a impressão de que a conversa estava mesmo muito animada, mas a mim, que estava ali ao lado...posso dizer que, não tinha o mesmo interesse para os dois. De repente, a mulher interrompeu o homem e lhe perguntou : _ " De que signo você é?"  ele respondeu algo que não pude ouvir bem e ela disse: - " Ah, o mesmo do meu marido". E continuaram aquela conversa na qual um parecia estar habituado a ser ouvido e o outro, a ouvir... E eu, cá com meus botões, pensei: - " Que engraçado, ambos do mesmo signo. Será que esta mulher atrai o mesmo tipo de pessoa, ou terá outro significado?" Ri, comigo mesma, desta mania de querer compreender as coisas que acho curiosas, desta vida! Então, me interessei mais por acompanhar o que lá se passava. A mulher, de vez em quando, pegava outro livro na tentativa, talvez de escolher algum para levar. Para falar a verdade, comecei até a torcer para que a conversa pudesse ser agradável também para ela, pois o homem que viera consigo, o marido, parecia não ter muita disposição para conversar, e era um pouco resmungão...Parece que, finalmente minha torcida deu certo e vi nascer um interesse dela, pelo assunto!
  O tempo passou. O marido, então, terminou de ler seu jornal e olhou displicentemente para o lado. Ao ver sua mulher naquela "conversa animada", levantou-se de um pulo!
  - " Ai,ai... vejamos o que acontece!", pensei eu.
  Todo simpático, aproximou-se, colocou a mão gentilmente nos ombros daquela para  quem, até a pouco, nem levantara um olhar, e brincou simpaticamente, com o outro:
  - "Bom Dia! então é o senhor que está roubando minha mulher, por este tempo todo!" Gente, mentira! eu sabia que ele só tinha dado pela falta dela, quando terminou seu jornal! E que não lhe dera atenção nas poucas tentativas que ela fizera para falar sôbre a música, as pessoas ou sôbre a praça.
  O outro homem, não se deu por vencido e lhe respondeu que estava tendo uma agradável conversa com aquela que já podia considerar uma amiga e continuou:
 _ " Estávamos falando sôbre...." e o marido logo o interrompeu, dando uma opinião diferente, no assunto. O estranho, comentou rindo, que já sabia que eram do mesmo signo e que, naturalmente não iriam concordar em dar razão um para o outro. E ambos riram. Assim, os dois começaram uma conversa realmente animada, daquelas em que ambos tem o que dizer, daquelas que se tem entre iguais! A mulher, olhava para um, e para outro, ali, a competir para ver quem seria o vencedor. De repente, colocou o livro na banca, balançou a cabeça e virou-se para ir embora. O marido foi interrompido por aquele que, pelo menos demonstrou estar um pouco mais atento à presença dela. E este perguntou:
  - " Já vai embora? Sem ao menos levar um livro? Desculpe se a atrapalhei!"
  E ela, educadamente respondeu :
  - " Claro que não! Gostei de conhecê-lo, mas prefiro voltar outro dia e escolher, com mais calma."
  E eu me perguntei... "Afinal, quem ganhou esta competição maluca?" Os homens se afastaram, sorrindo e arrastando as esporas, feito galinhos de briga, depois de um empate. E ela, parecia menos alegre do que chegou, mas um pouquinho mais sábia, embora ainda tivesse as mãos vazias...

texto : Vera Alvarenga
foto : internet, modificada por Vera Alvarenga

5 comentários:

  1. SAUDAÇÕES!
    AMIGA VERA ALVARENGA, a sua crônica é fascinante, agora, eu acho muito difícil dizer quem ganhou num primeiro instante eu acho que todos perderam, porque, faltou alguma colocação da parte do casal, ou alguma palavra, coisa assim. Provavelmente, se o casal tivesse uma profunda afinidade no relacionamento tal fato não teria ocorrido, ou também, podem estar passando por alguma crise, tipo falta de trabalho, amor, ou ao menos um pouquinho de princípios, acho que a coisa é por aí. Quanto ao outro, o língua de tamanduá que subitamente apareceu está mais para fanfarrão.
    Parabéns por mais um excelente Post!
    Abraços,
    LISON.

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  2. Minha cara,
    Com toda certeza a mulher sabia muito além do que os dois podiam imaginar e muito além do que poderias fabular neste conto maravilhoso.
    A sabedoria feminina não é aquela que consente em tudo, mas aquela que aceita estar certa, sempre. Ainda que calada. ainda que rara. rs*

    Um forte abraço!

    *Os dois perderam. Perderam a atenção da mulher.

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  3. Este embate, quem venceu foi A senhorita Vera Alvarenga, cujo tino observador lhe trouxe mais uma experiência de vida.
    No caso da esposa, talvéz ela por ser tão importante a ponto de ser trocada por um jornal, mesmo que por alguns minutos, tenha a vida vazia, com seus sonhos femininos apenas na esfera do sonhar mesmo.
    Aos dois irmãos de signo, nunca se darão por satisfeitos, pois quem se considera sábio entra a fundo nestes embates, quem realmente tem alguma sabedoria sabe que não precisa competir, pois não precisa provar nada a ninguém.
    Um grande abraço
    Giba

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  4. Olá amiga Vera,
    Concordo com o amigo Lison, todos perderam principalmente o casal onde rotina de um bom casamento como é um imenso conjunto de minúcias adoráveis, beijar as costas do outro antes de dormir, estar casado com alguém é dividir os momentos que se repetem e, por isso mesmo, se aprimoram. Já a monotonia, esta é a vilã não só do casamento, mas da própria vida. Ela mata a criatividade, afoga a alegria, sufoca as relações, amaldiçoa a felicidade. Monotonia significa manter o mesmo tom, mesmo tendo à disposição uma grande variedade de tantos outros.
    E é nesta hora que não percebemos a ausencia do parceiro.
    Meu carinho

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  5. Oi Vera,
    Bela observação da realidade humana. Que olhos...
    A mulher foi quem ganhou mais, naquele momento.
    Pois deixou os dois com a doce ilusão de uma conquista efêmera...ou pelo domínio e posse, ou pela mera sensação de uma disputa de atenção.
    E ainda deve ter voltado sozinha e se sentido mais livre das arramas, mesmo que sutis,dos dois.
    Belo post.
    Grande abraço.
    Grande abraço.

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