domingo, 17 de outubro de 2010

"Não somos o que aparentamos? então de quem é este meu corpo?"

Conheci Gaiarsa, médico psiquiatra, através de seus livros e depois pessoalmente.Hoje, no jornal, li a notícia de que morreu ontem, com noventa anos - José Angelo Gaiarsa.
  Na época em que fui procurá-lo para conversar,já era casada, tinha 3 meninos adolescentes e acabara de descobrir "verdades incontestáveis" sôbre a importância do corpo, do "toque terapêutico" e da consciência corporal. Ele me ajudou a compreender melhor Reich, com sua teoria das couraças musculares e a importância social (e até política) do prazer e do sexo(pessoas que podem se entregar inteiramente ao prazer/orgasmo sentem-se mais renovadas, corajosas, fortes, engajadas).
  Conversamos 1 ou 2 vezes e ele me avisou que precisaria coragem para o preconceito que enfrentaria,mas incentivou a continuar a desenvolver meu trabalho de massagem terapêutica e consciência corporal, num tempo em que, ao se falar de uma mulher a fazer massagens, logo se pensava:- ou é fisioterapeuta ou prostituta! E eu era apenas uma mulher que após muitos cursos,fazia um trabalho de consciência corporal, para minimizar a dor e chamar as pessoas para ficarem menos alheias a si mesmas! e criara uma técnica profissional e séria, para ajudar a outras pessoas a tomar consciência da verdade de seu corpo, de seus limites e de seu poder de escolherem se tornar mais disponíveis para sua vida, colocando de lado suas armaduras musculares e máscaras. No pouco tempo que estive exercendo minha profissão em consultório, numa clínica com outros profissionais da saúde, não podia me dedicar apenas a atender mulheres, pois eu era mãe de 3 "homens" e tinha um marido...como ignorar a importância deste companheiro de vida, masculino? Graças a seu incentivo, tive mais coragem de enfrentar o inicial preconceito de alguns familiares (eu e meu marido, não falávamos de minha profissão com o orgulho que eu gostaria de ter falado aos amigos- eu me calava ), e aos poucos, médicos indicavam meu trabalho. Sòzinha, eu me orgulhava, mesmo assim!
   Eram tempos mais difíceis para as mulheres que, como eu, saíam do que era "habitual",esperado e permitido às mulheres direitas. E eu era direita, pessoal! sem falsidades, e por convicção! Naquela época ainda era preciso cautela, se uma mulher quisesse seguir por caminhos em que acreditasse, sem perder a família!
   Então hoje, fiquei triste de saber de sua morte, porque ele era um homem que incentivava as pessoas a viverem a verdade, dentro do possível e reconhecia como é terrível esta história de usarmos palavras para dizer o que "dizemos estar sentindo", enquanto o corpo demonstra outra coisa. Ele sempre dizia que as criancinhas não sabem ler, mas sabem perfeitamente quando sua mãe está com raiva, sofre, ou está feliz, pelo tom de sua voz, pela maneira que nos tira do berço ou pelo jeito de seu corpo e olhar. Ele sabia que nós somos sim, muito do que aparentamos por fora, pois nosso corpo é nosso, com nossa história, nossos sinais, medos e marcas, ou será de outra pessoa??
  Sua "voz" era ouvida nos meios de comunicação e nos livros que escreveu. Na época que o conheci eu tinha quase 40 anos e ele, quase 70!
  O tempo passa Gaiarsa....passou... quem sabe um dia eu possa estar com você para agradecer pela "força"!
   Um beijo, com respeito e carinho e minhas homenagens a você, Gaiarsa! Vá com Deus!
Texto : Vera Alvarenga
Foto de capa de um dos livros de Gaiarsa.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

" Meus meninos...meus tesouros,,,"

Hoje é dia das crianças e eu estive vendo umas fotos dos meus meninos... que lindinhos...o tempo passa depressa, hoje já são homens - bons, lindos e inteligentes!
Então resolvi postar hoje aqui, uma poesia que meu marido fez outro dia e me entregou:
-" Fiz pra você!" disse ele.
  Foi uma emoção muito boa, primeiro porque ele não tem hábito de elogiar e, nesta poesia, me faz um baita elogio, e também porque, como mãe... vocês sabem...adoçou minha boca elogiando também meus/nossos  tesouros.

"Teu Ventre"
No macio e aconchegante ventre gerou
o brilhante, o rubi e o diamante.
Com muito carinho e calor criou
três minerais, no mundo nada abundantes.
Assim, nossos filhos nasceram.
Teu ventre criou preciosidades.
Assim, nossos filhos cresceram
para nós, três celebridades!
   Do teu arco-íris, o brilhante nasceu,                                                                                                                                            
   com o vermelho, teu sangue o rubi pintou,
   aos três minerais,sua beleza desprendeu,
   a resistência do diamante, seu pensamento plantou.
   Aparentemente pequena no tamanho,
   gigante como mãe e como mulher
   em atitudes que às vezes estranho, de
   tão boas!... que eu gostaria de colher.

Texto e fotos : Vera Alvarenga
 Poesia : Cesar Alvarenga

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

" Segurança tem preço! "

Bastava deixar-se ir livre e solta para onde o desejo e o olhar alcançasse...podia ser ali, do outro lado da rua, pegar amoras, ou atravessar limites.

Então, a realidade pedia uma escolha e optou-se pela segurança... que impediria que algo de valor fosse roubado, ou que uma criança mais afoita se machucasse no tombo provocado pelas asas que não tinha!
Segurança, algo que buscamos quando não temos, quando sentimos medo, quando outros nos ameaçam,
ou quando somos avarentos com nossos valores.

    Nossa, que triste! Novamente as grades de uma prisão! Não, as grades da segurança!
   Quantos de nós precisamos viver assim? Mas não adianta resmungar, é assim e tá acabado!
   Então, uma surpresa: ela veio sozinha, uma sabiá.
Que prazer me deu esta sua primeira visita, nunca tinha vindo antes! 
   E logo vieram os dois Sanhaços... engraçado, pousaram na grade, atravessaram por ela sem cerimônia! Fora os 3 pequeninos Cambacicas, que já são de casa.
   Em seguida os beija-flores, que, de início estranharam aqueles duros e frios limites, mas depois já estavam a atravessá-lo facilmente. 
   Após alguns minutos, voltou a sabiá com seu companheiro. Nunca tive tantos visitantes em tão pouco tempo,a provar do que ofereço e, a me dar tanto prazer com sua "conversa filosófica".
Todos parece que vieram em solidariedade a mim. E ela me olhou bem nos olhos e me lembrou que o ninho, é melhor seguro; o coração precisa limites para sentir-se tranquilo e não se machucar... mas o pensamento te leva sempre livre para voar! E, se tivermos sorte, podemos ter companhia em nossos vôos e em busca do que nos alimenta. E se este companheiro nos quiser abraçar e proteger, nós cuidaremos dele e ficaremos em paz!  Acho que encontrei uma nova amiga! rs.................

Texto e fotos : Vera Alvarenga

   
                                                                              

sábado, 9 de outubro de 2010

" Reflexos da alma ? "...

Li uma vez: " As pessoas à sua volta são "espelhos" que refletem seus pensamentos." (Masaharu Taniguchi.) .Ele comentava então que no mundo " a pessoa vê o reflexo de sua mente, pensando que aquela imagem é o mundo exterior,mas que ao seu redor só estão surgindo consequências de seus próprios pensamentos".

Acho maravilhoso este pensamento. Confesso que tenho dificuldade para aceitá-lo quando penso nas  crianças que nascem em um ambiente carente de amor e paz, no qual não tiveram nenhuma interferência(como as que nascem no meio de uma guerra, por ex. ou em situações em que pouco terão de opção para melhorar seu meio).
   Contudo reconheço que temos sim, capacidade para mudar o meio em que vivemos, ou pelo menos o efeito

que nos causa e podemos nos aproximar mais dos que são iguais a nós. Podemos, sempre que possível, numa escolha madura e consciente, manter ao nosso lado aqueles que atraímos por uma natural seleção; conviver com aqueles que pensam como nós, que tem amor para dar, que querem compreender o mundo como tentamos fazer...então é fundamental mantermos em nós a confiança de que merecemos ser amados e estar disponível para dar e receber amor, é algo de que não devemos desistir.
     Sou grata e serei sempre a todos aqueles que me ajudaram a não desistir de confiar em meus instintos, aos que me apoiaram, aos que me ensinaram e principalmente aos que, de alguma forma, me deram amor, porque  sinceramente  acredito que o ser humano precisa de amor e que é ele o que mais pode construir! Sou grata a Deus, por ter me dado apoios em meu caminho.
   Meu carinho especial aos familiares e aos amigos do coração que estarão sempre marcados em mim.

Texto e fotos : Vera Alvarenga

  

sábado, 2 de outubro de 2010

"Uma nova vida para viver..."



 Ele sentiu uma dorzinha no ombro. Arrumou-se na cama, com cuidado para não acordá-la  O que exatamente significava aquele relacionamento? Eles tinham tido uma vida longa sem ao menos se conhecerem, cada um tinha caminhado por sua própria história, sem contarem com o apôio um do outro para o que quer que fosse, e agora, estavam ali juntos. Lembrou-se quando a conheceu, de como sentiu-se ligado a ela, talvez porque ambos estivessem saindo de um período de stress emocional, que os tinha deixado fragilizados. Ele, se recuperou mais rápido, mas ela parecia continuar frágil, em algumas circunstâncias. As feridas em sua auto-estima não cicatrizavam com facilidade.
  Ele não queria se responsabilizar pela felicidade dela! Tinha oferecido apoio, é verdade, mas como poderia ter deixado de fazê-lo? Ela tinha medo, dúvidas, não parecia perceber do que era capaz e tinha uma tristeza nos olhos, que ele não pode ver, sem emocionar-se. Talvez porque fosse a tristeza, aquilo que ambos tinham em comum, e que os aproximou. Depois, foi o desejo de viverem uma paixão que iniciou tímida e logo se tornou forte, e parecia possível...
   Agora ela estava ali, dormindo em seus braços e tinha entregue a ele, todo o seu amor, sua vida, suas esperanças. Teria expectativas demais?
   Sentiu algo no estômago. Seria fome? ou desconforto por ter deixado a situação chegar a este ponto?  Se ao menos ela fosse mais jovem, talvez fosse justificada a mudança em sua vida! Contudo, reconhecia que ela tinha uma alegria sincera e valorizava as coisas e a ele, como há muito ele não via acontecer. E ele, que se achava um homem comum, até rústico, agora sentia-se especial.
   Lembrou-se como estava quando a conheceu...Ela virou para o outro lado e, sonhando, falou alguma coisa que ele não entendeu. Ele se virou também e a abraçou. Ele sentia-se bem, quis protegê-la. Reconheceu que nos últimos dias, começou a fazer planos novamente, ria mais vezes no trabalho, a tristeza estava lá mas não tomava conta de toda a sua vida, como antes...Sentia preguiça no trabalho, talvez porque sonhasse viver finalmente mais momentos de bem estar e prazer em sua vida. Ela o fazia sentir-se capaz e importante.
   Não eram jovens, não teriam uma vida inteira pela frente para construirem juntos uma família...cada um já tinha a sua...mas teriam ainda uma vida nova a viver, pelo tempo que fosse possível. Talvez valesse a pena tentar! Ela pegou em sua mão e a descansou sôbre seu seio. E ele deixou-se envolver pela ternura daquela promessa, e dormiu em paz.
 Texto : Vera Alvarenga
 Foto: Vera Alvarenga


terça-feira, 28 de setembro de 2010

Olhou para ele, como se fosse pela primeira vez...


Um dia, após algum silêncio,olhou para ele e o viu como se o estivesse vendo pela primeira vez, nos últimos anos.
Toda aquela impaciência e agressividade não foram dirigidas a ela, especificamente. O olhar de raiva com que a olhara e que tantas vezes a magoara. Só agora compreendia claramente. Ele o dirigia a qualquer um que o interrompesse quando estava a fazer inúmeras combinações em jogos de loteria que certamente teriam chance de ser contemplados, quando assistia uma notícia política e se imaginava lá, mostrando como poderia resolver o problema ou mesmo quando, recentemente se descobriu poeta e estava a escrever poesias.
Mesmo que fosse uma questão de trabalho, ou uma frase amorosa dela, lhe oferecendo algo que ele gostava?! Por que me tratar assim?
Era a raiva com que inconscientemente recebia tudo que o despertava de seus sonhos!!
Não teria um homem o mesmo direito de sonhar, como tem as mulheres? Era o que ela se perguntava agora.

Não importava comparar diferenças entre seu modo de reagir e o dele. Não era novidade que eram muito diferentes. Ele sempre tivera um jeito mais agressivo de reagir ao mundo, e por sua história de vida acreditava que com força e crítica se conseguia aprender e ensinar mais, diferentemente do modo dela encarar as mesmas questões.
 O que importava a ela agora, era perceber que ao businar para assustar alguém que atravessava a rua sem prestar muita atenção, ele realmente acreditava estar lhe fazendo um favor, e se isto a aborrecia, era simplesmente porque ela estava ao seu lado, naquele momento. Que o olhar duro que lhe dirigia, não era para ela; ela apenas o acordara do sonho. Muitas coisas a vida negou a este homem, porque ele teve sonhos grandiosos! Esforçado, corajoso, decidido, dizia que era feliz, realizado, era amado por ela, pela família,mas ela percebia nele a inquietação de quem não tivera oportunidade de realizar muitos dos seus sonhos.Talvez ele não soubesse como lidar com isto. Portanto, já não tinha medo dele agora, olhava-o com maior compreensão sobre o que antes pensou que ele fazia para feri-la. Ela o via como ele era. 
Tinham algo em comum – a inconveniente inquietação dos sonhos que não puderam ser realizados. E ambos, continuavam a sonhar seus sonhos...
Texto : Vera Alvarenga
Foto: alterada no photoshop - pode ter direitos autorais

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

" A mais bela canção que podia ser tocada"...

  Há muito tempo,quando menina ela tivera um sonho.
  Agora, nada mais existia, a não ser o piano e ela!
  Não sabia que podia sentir tal emoção. Nem poderia saber, que o desejo que crescera em silencio, era o sonho que queria realizar-se há tanto tempo!
  Em sua vida, já de tantos anos para contar,  experimentara sentimentos fortes, verdadeiros, sinceros, sonhos que viu realizarem-se, após luta, garra, coragem ou apenas esperança. O amor fazia parte da vida dela, com a emoção que lhe era peculiar viver tudo que era de valia. Não tinha sonhos ousados. A vida era boa assim, com suas batalhas e simplicidades...
   Mas, realizar este sonho,era algo que não tinha sequer idealizado e sentia-se pequena,agora, diante dele.
   Então, pensou que o que alcançava era uma graça, pois era assim que vinha, sem que ela premeditasse, apenas por ter pedido há muito tempo. E diante deste fato maior que ela, pois assim é uma graça, nenhuma presença, ninguém mais importava naquele momento, a não ser "ela e aquele que se deixaria tocar pela sensibilidade dela, ao mesmo tempo que a tocava com sua gentil concretude". Juntos, neste dueto, comporiam a mais bela canção possível para ambos, cujas histórias diferentes se uniam no desejo de expressar-se inteiramente, através daquela canção.
   A música era forte, arrebatadora ao mesmo tempo que apresentava, em certos instantes, o som que, de tão suave, apenas alguns podiam compreender...e era tão envolvente, que seria como um testemunho ouvido por todos,porque era a última e mais sublime música que tocariam, conscientes de que era a última obra que ambos poderiam realizar. Foi por isto que se aproximaram e harmonizaram-se de tal maneira, que seriam reverenciados por todos que os pudessem ver e ouvir - ela e .... o piano - um sonho de amor escondido.
     Era por isto que para ela, tudo parecia um milagre e não podia se importar com mais nada, só havia ela e ...o piano. Até que de repente e só então, percebeu ... não havia som! A música estava a ser tocada apenas em seu coração. Seria possível? Por um instante se desconcentrou... e olhou em volta. a realidade.
     As notas musicais então, imediatamente caíram ao chão, junto com as teclas do piano.
     Meu Deus, o que aconteceu, o que foi que eu fiz? Perguntou-se.
    A música que silenciosamente tocava e ninguém mais escutava, gritava só em seu coração os últimos acordes e foi se calando, e ficou ali, escondida outra vez. Ela não sabia o que fazer, no meio de um palco que jamais pensou que existisse, pois nem sabia como tinha ido parar ali..no meio daquela gente que se comunicava estranhamente. Tentou juntar as notas que rolavam pelo chão junto às lágrimas que tentou ainda esconder, quis ter coragem para desculpar-se com o público, se ali ainda houvesse alguém...
    Então, o maestro pegou-lhe a mão, abriu a janela e deixou a luz entrar, para gentilmente lhe mostrar... realidade.
   Ela quase desfaleceu, mas reagiu. Afinal, se ela apenas havia sonhado, que bom porque ninguém a tinha visto! Foi o que pensou para consolar-se. Seu sonho podia continuar a ser um segredo só seu. Podia seguir e sorrir, como se nunca tivesse chegado tão perto de realizá-lo e tudo ficaria em paz para todos.
   O sonho lhe pertencia e só ela sabia que um dia, tinha sonhado compor aquela canção...com ele.

Texto e foto : Vera Alvarenga  email : mulhernaidademadura@gmail.com
                                                         e  fotoseimagensdomeuolhar@gmail.com

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