quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Sobre aquele conto : "Dora" e um texto de Rubem Alves.


 Aquela Dora, ontem, disse que "quando você ama, nada a aprisiona". E hoje, pensei aqui com meus botões: talvez só o desejo de continuar amando. A gente fica viciado no amor. Será isto?
   A gente ouve o conselho: seja como a árvore que dá frutos sem esperar retribuição. O cuidado, os gestos, quando vem do sentimento amoroso, são como os frutos, então devem ser dados, pois para isto somos árvores de frutos. Há dias porém que estamos mais pra raiz, e precisamos da seiva nutridora. Nestes dias ou fases, precisamos receber. Penso que assim se fazem as árvores, quando inteiras, ora dão, ora recebem.
   ... Concordo com Rubem Alves quando fala do sentimento amoroso como algo que existe dentro da gente independente do que o outro faça. Concordo até certo ponto, se pensarmos no nascer do sentimento ou num amor incondicional como o de algumas mães por seus filhos em muitas situações. Ou ainda quando alimentamos em pensamento um apaixonamento por alguém como no caso dos poetas românticos, e nos servimos do sentimento apenas para nos sustentar em momentos específicos, pois tal amor não se concretiza no real para que possamos solucioná-lo - acabar com ele de vez ou sair montado em suas asas, voando acima das intempéries do mundo cá em baixo. Mas não é deste tipo de amor que estamos falando. Por causa de Dora, estávamos refletindo no amor dentro de uma relação amorosa. Se tenho sentimento amoroso por você, suponho que naturalmente lhe darei meus gestos de amor, e vou querer viver de sonhos realizados e não dos que não passam de desejos. Então,se e quando lhe dou meus gestos de atenção e carinho, fruto do meu sentimento amoroso por você, já estamos numa relação, ora. E, a relação amorosa como ele comenta, "exige" retribuição. Amar o AMOR que está em nosso coração, talvez seja a única forma de não desejarmos retribuição e poder dar sempre de seus frutos.
    Me detendo um pouco mais no que ele escreveu e que adorei ler, recordo o exemplo que deu de um casal em que a moça "inundada de amor" transforma este sentimento numa cachoeira de gestos que inunda o outro, em meio à qual o "pobrezinho" se encolhia, sem tempo de respirar ou retribuir, quase a afogar-se. Também já vi isto. E posso crer que tudo vá mesmo acabar, em alguns casos, em pouco tempo. Como também sei que há muitos casos em que o rapaz, machista ou experiente, frente a outros e diferentemente de sua apaixonada que não teme demonstrar seu amor em público, se retraia com vaidade e certa satisfação camuflada, e fora das vistas alheias, alimente aquela situação de um tal modo, com tais atitudes que garanta perpetuar aquelas cenas que mais tarde se repetirão, caso o relacionamento dure! Porque, se ele também retribuísse os gestos naquele momento, fosse do modo como melhor lhe conviesse, ela não teria tempo para tantos. Se estava sendo afogado então, que saia logo da relação. Se ele não tem para dar, que não a confunda, porque se o fizer, a coisa pode durar muito e parecer um arranjo feliz para ele, até que ela perceba que a fonte secou. Enquanto durar, quando este for o caso, as cenas serão sempre a de dois atores onde um fica na situação cômoda de receber, faz de conta que não liga mas precisa que a outra fique a lhe demonstrar sempre, através de pedidos de atenções, o quanto o ama. Aí entra aquele comentário que o Rubem Alves fez de que " preciso sentir nos seus olhos e na sua voz que você me ama"(como é verdade isto! concordo plenamente!). E ele conclui " se sinto que você me ama não é preciso que você retribua nenhum dos meus gestos". ( Ui! aí fica difícil...digamos que não precisa retribuir da mesma forma, mas com as devidas semelhanças).
 Voltando àquela cena dos dois namorados, quem foi que disse que aquele rapaz não sussurrou estas palavras amorosamente ao ouvido de sua amada, e em meio a suspiros não repita que a ama apenas na intimidade de seus momentos mais secretos e deliciosos? e se ela acreditar que tem seiva suficiente para que isto lhe baste, o relacionamento e a árvore darão frutos por muito tempo.
   Bem, fiz com este texto de Rubem Alves o que ele gosta - refleti sobre ele e ele me deu idéias, me propôs outras interpretações, embora de modo algum eu queira dizer que ele não tenha interpretado maravilhosamente bem a cena que viu. Apenas quis aqui deixar a minha visão diante de um mesmo fato. Eu tenho a terrível mania de achar que por trás das cenas há algo mais....
  O que posso dizer para concluir é que o amor e as árvores que dão frutos tem, certamente, fases e são compostos de mais de um verbo, atravessam estações, quase se afogam nas tempestades, mas de qualquer modo, para permanecerem fortes e vivos dando frutos, sem dúvida é necessário que retirem do solo, em certa época, com suas raízes sugadoras, a nutrição para que permaneçam em outro momento e com alegria, doando frutos saborosos sem pedir retribuição. Acho que aqui, nesta terra, nada pode continuar a nutrir se não for nutrido. E, nos momentos atuais, estamos constatando que até as cachoeiras secam.

Inspirado pelo conto "Dora" e pelo texto de Rubem Alves: "Amar sem esperar retribuição", do livro Coisas do Amor.
texto e foto: vera alvarenga

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