quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Um mundo todo iluminado...

 Como em Paris...
   Ela já se perguntara muitas vezes por que motivo, apesar de todo o amor, tudo tinha acabado desta maneira.  Não sem luta, nem de repente, mas de uma maneira insidiosa, triste e sem jeito de se evitar.
Não encontrava resposta. Talvez porque o amor tinha sido sustentado por alguma coisa que era mais finito e passageiro do que o tempo deles. Talvez porque o amor deles tivesse beleza mas não possuísse a alma dos dois. Ela não tentava mais saber nem de si mesma. Aquele, era um daqueles dias em que o mundo parecia ter parado e ela, nem se importava. Não era mais possível recomeçar, apenas seguir em frente.
Então, o seu amor veio. Sem lhe pedir licença, andou pela casa dela a procurar e quebrar espelhos, quando os encontrava. E quebrou todos, menos um.
Já estava começando a escurecer. Ela devia estar sonhando acordada...só podia ser.  Foi acender as luzes. Ele a deteve. Levou-a de fronte ao único espelho que deixara restar na casa. Ela não queria olhar. Já sabia que se tornara uma estranha e que o amor não podia mais existir - faltava-lhe sua juventude, o que o sustentara até então. Por isto, virou o rosto.
Com mãos firmes, ele a sacudiu um pouco pelos ombros, como para acordá-la de um pesadelo. Quem era este homem? Então, ela olhou primeiro para o rosto dele e viu que ele a olhava.
O último clarão do sol entrou pela janela, refletiu no espelho. Era a mesma luz dourada que clareia intensamente tudo, antes que o sol se vá e deixe a sombra anunciar de vez, a noite. A luz refletiu em seus olhos e impediu-a de enxergar. Finalmente ela viu. No olhar dele viu tanto amor e cuidado, que o medo se desfez.
Devagar, foi descendo o olhar até encontrar-se com um rosto mais abaixo do dele... era o seu. Não conseguiu encarar o próprio olhar. Como é difícil olhar para si mesma quando se sente que o tempo nos escapou! Desviou o rosto, quis afastar-se dali. E ele a sacudiu levemente, de novo.
Surpresa pela insistência dele, olhou-se. Seus olhos encontraram-se com os daquela outra, que era ela. Que pena, pensou, o que posso oferecer agora? A juventude pela qual eu fui amada, se foi para sempre!
Ele, que nunca antes tinha amado aquela mulher, aproximou seu corpo ao dela. Virou-a de encontro a si e a abraçou. Por que ela não confiava nele? Ela encostou o rosto em seu peito, ouviu seu coração, sentiu seu calor. Fechou os olhos. Só pode ser sonho, pensou.
Quando abriu os olhos, já tinham sido apenas um, respirado o mesmo ar, experimentado  o mesmo sabor de vida e de amor. 
Sorriu para ele. Sim, ele estava lá. E ainda queria estar ao lado dela. O amor assim, como fora experimentado, sem espelhos, com cuidado, trazia em si a alma dos dois. No início, entregaram-se como se só aquele momento houvesse. Mais tarde, deixaram-se levar pelo desejo de descobrir, reconhecer os limites, percorrer a pele um do outro como se só assim fosse possível se misturarem e depois, ainda se adorar... e foi na brandura de um crescente carinho que, desta vez se fez o amor entre eles, sem pressa, porque queria ser eterno.
No escuro, corpos nus, como se a juventude nunca os tivesse deixado, e antes de perceberem que se amariam para sempre, foram até a janela. Ela lembrou-se de uma noite em Paris, um sonho que parecia distante...
Lá fora, nada mais podiam ver com detalhes, porque a noite havia chegado, mas juntos olhavam, e viam o mundo todo iluminado.


Texto: Vera Alvarenga
Fotos: retiradas do Google imagens.

4 comentários:

  1. Esse texto é muito emocionante, romântico, quando existe amor não se vai embora nem se esquece, ele permanece.
    Beijo.

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  2. Boa noite amiga Fátima!
    Tem razão, quando existe amor tudo é possível. Nem sempre o sonho realiza o amor, mas o amor concretiza todos os sonhos...
    Beijos.

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  3. Vera, puxa.. eu me senti tão emocionada, esta historia narrada espelha momentos que vivi - breve, docemente eterna enquanto durou, triste quando se foi. Eu queria ser mais dura, este lado meu tão sensível que estraga tudo. Sonhos são desejos abstratos, podem ser eternos, nos envolvemos neles, o desejamos, contudo, não existem.

    Lindo seu comentario acima:

    "Nem sempre o sonho realiza o amor, mas o amor concretiza todos os sonhos..."

    BEIJOS

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  4. Sim,querida e sensível amiga Sissym, eu a compreendo. No sonho tudo é possível e eu, por exemplo,que também queria ser mais dura ( rs...em vão..)penso que sonhamos o próprio amor e nos apaixonamos por ele, não porque queremos a perfeição,mas porque queremos apenas que nosso amado se entregue também a ele,como nos entregamos e tenha a coragem de se comprometer (afinal, sabemos que a responsabilidade de ser feliz é nossa...). Mulheres responsabilizam-se pelas emoções dos seus, desde sempre, e quando vão amadurecendo querem construir a própria felicidade. Às vezes, só falta aquele ser imperfeito como ela, para juntos seguirem finalmente por este caminho, da felicidade e tranquilidade a dois.
    Beijos, amiga.

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