sábado, 5 de fevereiro de 2011

A bicicleta...

     Eu vejo meu vizinho, em algum momento de quase todos os dias, ali em frente, na calçada, conversando com algum amigo, ou limpando seu próprio carro, ou trazendo a mulher e os dois meninos de algum lugar, uma consulta talvez. São um casal de vida simples e ela está sempre atarefada com casa e família; quase nem saí ali fora. Ele faz compras, traz o gás. De vez em quando estaciona do outro lado da rua, os meninos descem do carro, e ele invariavelmente fala firme:
   - "Êh! olha a rua, garoto!", ou ainda "pera ái, menino"!
   Muitas vezes fala bravo e demonstra impaciência, chamando a atenção de um ou outro quando começam uma briga. E, às vezes, grita com um deles, mandando ir logo para dentro.
    No final desta tarde de sábado quente e preguiçoso, lá estava ele, com o filho maior, a ensinar-lhe a andar de bicicleta. Pela primeira vez eu o vi sem camisa. Devia saber que a tarefa a que se propunha, seria um exercício que lhe faria gastar calorias e suar em bicas. E como todo aquele que ensina um filho a andar de bicicleta, iniciou aquele vai e vem interminável  pela rua, empurrando e segurando a bicicleta com as duas mãos, dizendo algumas poucas palavras de incentivo. Eu tinha coisas a terminar no computador, mas era impossível deixar de olhar, de vez em quando.
   A porta de vidro do meu escritório que dá de frente para a rua, fica bem atrás do monitor. Notei que após algum tempo, ele já se distanciava mais, colocando apenas uma das mãos no banco, e de vez em quando abria os braços, feito galinha abrindo asas para proteger os pintinhos. Olhava para trás, quando o menino se desequilibrava ou vinha mais para o meio da rua e imediatamente, colocava a bicicleta na direção correta. Difícil tarefa, que requer coordenação, mas os pais geralmente estão preparados para ela. Tão mais fácil é corrigir a direção dos primeiros vôos dos filhos! A gente mora numa rua sossegada, mas bem numa curva, onde é preciso muito cuidado para não se surpreender e jamais se pode atravessar a rua ali, sem olhar atento para ambos os lados. Contudo, o pai fazia isto por ele e pelo menino, que ia afoito ultrapassando os limites do mundo, olhar fixo adiante, sem nem imaginar que não tivesse ali um anjo a cuidar da retaguarda.
   Até eu me preocupei. De vez em quando passam lá alguns carros ou motos barulhentos e numa velocidade que não combina com a calma do lugar. Contudo, as coisas correram como o esperado. Após muitas indas e vindas e dois tombos, pelo que percebi, o menino já andava sozinho.
   - Mãe, olha eu! E plóft, um tombo!
   E lá ia, novamente tentar, e feliz mesmo com o joelho levemente dolorido. Lembrei-me que foi minha prima que me ensinou a andar de bicicleta. Ela tinha quinze anos, eu sete. Caí, quando percebi que não estava mais me segurando,mas logo tentei novamente e consegui. A bicicleta era enorme para mim, e estávamos em um corredor do quintal. Quando eu dava impulso na coragem e nos pedais, e começava a sentir o vento no rosto, lá chegava o portão,quase a bater na minha cara. Tinha de coordenar a freagem com o rápido colocar os pés no chão, ou eu ia por terra. O mundo,naquele tempo, parecia menor, mas os quintais eram maiores! Para este garoto a sensação era de maior espaço e liberdade, pois a rua que sempre lhe fora proibida, agora era algo a explorar e a bicicleta, sendo apropriada a uma criança, por certo lhe proporcionava maior segurança.
   Notei que o pai estava cansado, mas orgulhoso. Não saía de traz do filho, lhe dando retaguarda, protegendo-o mas permitindo os dois tombos que presenciei. O menino se sentia cada vez mais confiante... e livre.
   - Pai, já sei í sozinho!  E foi mesmo, cheio de si. Por um segundo, o pai parou, coçou a cabeça, depois foi novamente atrás, protegendo.
   E pensei:
   - É pai, agora teu filho já sentiu o gostinho... e começou a te dizer adeus...o mundo hoje é bem maior...

Imagem: Google internet
Texto: Vera.
             

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

"Qual vida me será tirada agora?..."

 Mais uma viagem a trabalho.
 Recostou-se, fechou os olhos. Melhor cochilar para não ficar enjoado,não pensar em nada, descansar o corpo e a mente dos acontecimentos dos últimos meses.Tanta ansiedade,consultas,médicos,hospital. Detestava o cheiro que existe nos hospitais,mesmo naqueles que não havia cheiro, mas ele o sentia assim mesmo! Sentia-se mal com a realidade ali presente, a tristeza e a preocupação estampadas nos rostos, e pior ainda, no rosto daquela que era sua companheira por tanto tempo, e agora, parecia tão frágil. A vida viria roubar-lhe mais uma vida? Ele chegou a perguntar-se se foi necessário esta ameaça para que acordassem para o fato de que já não se pertenciam há muito tempo... a doença era uma ameaça, ou também um sinal que mais vidas estariam se perdendo ali? Vidas que não eram vividas, como se o tempo pudesse ser desperdiçado. Dizem que após grandes traumas, uma pessoa começa finalmente a viver... seria na mesma direção ou em outra? Teria de ser na direção da vida verdadeira, ou tudo seria mais uma vez inútil! Mas a verdade é tão simples, é tão mais leve como talvez só o amor o seja, e por isto, às vezes passa tão despercebida!
   Aquele que quase morre, mas se recupera e vive, tem uma experiência única e dá um novo sentido à própria vida, mas não necessariamente a daquele que o acompanhou. Então, levará consigo o outro com quem já compartilhava uma vida, ou apenas levará um refém, junto de si ?
   Ele não queria mais se permitir pensar sôbre isto.Tinha decidido! Ia ficar ao lado dela,apoiá-la, fazer o que era certo, tentar amá-la e rezar para que não ficasse sem seu amor, no futuro(fosse este amor, de que tipo fosse, pois era o que tinham entre si). Virou a cabeça para outro lado. Queria esquecer de si mesmo.Bom seria saber meditar,não pensar em mais nada, tornar-se leve,flutuar...como daquela vez em que, depois de desabafar um pouco da dor escondida no peito há tanto tempo, sua amiga lhe colocou a mão suavemente na direção de seu coração e falou baixinho:
- Vamos, respira.Solta este peso junto com o ar, você consegue...deixa sair. E encostou seu rosto perto do dele, e foi respirando com ele, mostrando-lhe como fazer...até que um soluço escondido saltou-lhe pela boca. Quis segurar, foi impossível. Ia se afastar, se recompor, mas ela docemente o abraçou e as lágrimas sairam teimosas, até que ele as libertou de vez, e chorou no abraço dela.
   Naquela única vez que estiveram assim juntos, ele se perguntou quem era aquela mulher, que tinha se aproximado dele a ponto de derrubar aquela parede,há tanto tempo construída? O que seria dele sem sua fortaleza a apoiá-lo? Como fechar as comportas do que começava a jorrar? Julgava a si mesmo um homem bom, contudo seria agora, também um tolo, um fraco?
   Não precisou preocupar-se com isto. Eram amigos, podia confiar nela. Fizeram amor, mas desta vez, de uma forma mais branda, embora também intensa. Ao contrário do que pensou, sentiu-se forte e potente, e como se tivesse dez anos menos, possuiu da vida todo o prazer que ela podia lhe dar. E, conduzido pela experiência da maturidade, deu àquela mulher o amor que ela sonhava receber. Como se não houvessem nuvens escuras no céu, sentiu-se tão leve, que podia voar. Por alguns momentos ambos flutuaram juntos, como ela sempre havia acreditado que fariam.
   Voltaram, aos poucos, à realidade. Ele sabia que já não era jovem. Sua barriga, seus músculos, já não eram mais ...
   - Adoro estar assim, deitada no macio do seu corpo. Sim, ela escondia partes de seu próprio corpo, também não era jovem mas sabia como fazê-lo sentir-se único e bem.
   Ele percebeu que ela enxugou uma lágrima. Tinha certeza que aquela mulher estava apaixonada por ele e isto,ùltimamente lhe dera ânimo para tudo o mais. Sabia que ela sonhava com um amor onde houvesse respeito e cumplicidade.Ele mesmo lhe havia dito, que merecia ser amada assim. Ele, com a experiência da vida e de tudo que já perdera, sabia mais do que ninguém que a ausência de amor é um preço muito alto a pagar, seja por que motivo fosse, então,se o desejasse saberia amá-la. Se colocassem a vaidade e orgulho de lado... o orgulho que faz com que seres humanos desconsiderem os próprios limites, o saudável desejo de viverem um amor verdadeiro e desistam de tudo que permita que alguém possa lhes acusar de terem cometido um erro...o orgulho que tanto teme não ser perfeito...o mesmo orgulho que faz com que se arraste uma vida em comum, sem que se note nela a alegria espontânea inerente da própria vida, a não ser pelo esforço de um só. Se a vida pudesse mostrar a eles, de algum modo, que não se pode controlar tudo,ou tudo sacrificar, que não se pode segurar uma vida nas mãos, quando já não é plena, pois que escapará, de uma forma ou outra...que só depois de reconhecer um erro é possível seguir-se inteiro numa escolha honesta em outra direção, que estarem corretos nem sempre é mais importante do que aquilo que sentiram naqueles momentos, nem mais do que o bem que a presença de um fazia ao outro, verdadeiramente... Se a vida pudesse lhes contar sôbre a falta que sentiriam um do outro, pelo que não tiveram a chance de construir, enquanto outros tem a chance e não o fazem....
  Pela primeira vez, depois de tanto tempo, ele estava sentindo seu corpo e coração vibrarem como um violoncelo afinado, tocado por mãos suaves da musicista que sabia tirar dele o som harmonioso, para o qual foi criado. Quando tudo parecia tão sem vida ao redor de si, tanta vida lhes foi dada!
   Depois daquela tarde, ele se perguntara se estaria certo em mudar sua vida... e se chegara finalmente o momento de aprender a se amar, deixar-se amar e amar na mesma medida. Queria entender como ela podia estar se tornando uma presença tão importante... algo que lhe trazia a sensação de tranquilidade e iluminava suas noites. Mas então, aquele problema maior surgiu, que lhe trouxe mais uma vez o medo da perda e era preciso controlar a situação. Era preciso, desta vez não cometer nenhum erro, dedicar-se por inteiro a resolver o problema,nem que para isto, tudo o mais tivesse de ser esquecido. Como ele poderia estar presente na vida de duas pessoas que gostava tanto? Será que sua amiga compreenderia se ele lhe contasse sôbre estes sentimentos tão seus? Talvez, só bastasse dizer a verdade...mas a verdade é tão....
   A aeromoça  servia o homem sentado ao seu lado e ele despertou. Balançou a cabeça, afastou os pensamentos e, com o mesmo olhar triste que trazia há algum tempo, aceitou o que ela lhe oferecia, pelo menos lhe confortaria o estômago....
Texto e foto: Vera Alvarenga                                                                          

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

" O velho do rio..."

    Estavam indo para casa.
    - Estaciona aqui, por favor! Só um minuto, prometo.
   O marido estacionou o carro ali mesmo, na avenida, à beira do rio que passava dentro da cidade. Ela pegou a máquina fotográfica e caminhou uns poucos passos.Tinha visto patos na água. Duas ou três fotos, era do que precisava. Estava descobrindo o prazer de fotografar aves na água, com seus reflexos e cores que se ondulavam formando desenhos incríveis. A buzina a chamou, mas as fotos já estavam ali. Podia voltar ao carro.
   De repente o viu.
   E foi chegando mais perto. Tirou apenas uma foto, pois lhe veio a mente um cuidado..
   - Até que ponto poderia tirar fotos de uma pessoa, sem pedir-lhe licença? Mas ele estava recostado ali na árvore, cochilando. O lugar era público e ela não o exporia ao ridículo, não estava lhe fotografando para expor sua pobreza, mas simplesmente porque ele era belo. Ali naquela luz, naquele lugar, naquele exato segundo, ele era belo.
   A buzina tocou novamente. E ela se foi,querendo ficar. Entrou no carro perguntando ao marido:
  - Você viu que lindo?! O marido a olhou espantado.Ela completou - A figura dele, é interessante, não acha?
  Decidiu que iria pesquisar sôbre a ética na fotografia e que procuraria saber sôbre o homem. Na tarde seguinte, o marido disse que perguntou por ali e lhe contaram algo que parecia mais um boato. O homem, disseram, falava alguns idiomas e tinha sido importante profissional projetista, até que a mulher o deixou e.... Que história! Se ela fosse jornalista,seria uma história e tanto,mas ela não queria saber de sua vida, queria apenas fotografá-lo.O marido contou mais, que perguntou a uma assistente social, na Prefeitura, e que ela dissera que ele era "maluco", que tentaram ajudá-lo, tirá-lo da rua, mas ele era agressivo, dizia besteiras e não aceitava ajuda. Não havia para quem pedir licença para fotografá-lo, a não ser para o pobre louco.
   Outra tarde, estavam voltando do almoço e lá estava ele novamente. Ela desceu do carro e, com sua câmera se aproximou. Tirou uma foto. Ele estava desenhando! Desenhava num papelão. Chegou mais perto e assustou-se! O cão que estava deitado ao lado dele,levantou-se e latiu, como para avisá-la que ela não poderia se aproximar mais. Havia um limite a ser respeitado. Mesmo assim, ela arriscou perguntar a ele, se podia fotografá-lo. Sem olhar para ela, o homem ouviu, continuou desenhando e fez um gesto com os ombros, como para consentir. Seria mesmo maluco ou apenas um pobre homem, pobre? Ela quis conversar um pouco e ele respondeu, a maneira dele, com palavras que pareciam desconexas e que ela não podia compreender, por mais que se esforçasse. Então, ele disse algo como "homem nu" e ficou um pouco agitado.
    Ela o deixou em paz, com pena de ter de se afastar por medo e por não conseguir se comunicar com ele.
Afinal, disseram que era louco e podia ficar agressivo e ela não queria ser ferida, mas também não queria ferí-lo, nem invadir sua vida...pois talvez, ali debaixo daquela árvore,aquele cantinho fosse o seu espaço íntimo e, aquele momento que ele dividiu um pouco com ela, fosse seu momento de entrega a si, a suas lembranças ou a sua loucura.
   - Adeus, senhor. Obrigada.
   Só então ele olhou pra ela, levantou o papelão mostrando o desenho e, num instante,voltou ao seu mundo tão particular, como se nada mais existisse ali, além de seu cão amigo,sua arte e sua história.


 Texto e fotos: Vera Alvarenga                                                                        

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

" As duas faces da solidariedade..."

- Acudam! Me ajudem por favor!
- Venham ajudar Dona Maria!
Verônica,no telefone com a irmã, contava como estava feliz de ter escolhido aquele tranquilo bairro para morar, onde muitos se conheciam,eram amigos,quando ouviu gritos pedindo ajuda.
- Mana,parece que aconteceu uma tragédia. Não gosto de me meter, mas a coisa é séria.Tão me chamando no portão.Vou desligar.
- Ô Dona Verônica, a senhora viu? Levaram Dona Maria.Tá muito mal, acabou de saber que os 3 filhos, mais a irmã,cunhado e sobrinhos, todos morreram naquele ônibus que caiu no rio!
- Meu Deus! Dá licença, vizinha, que meu telefone tá tocando... Quando atendeu, Verônica ouviu a voz entrecortada da Dona Maria, que deixara um recado na secretária, pedindo que rezasse por ela e pelos seus,que se foram. A linha caiu e quase que ela cai junto.Um arrepio corria pelo corpo todo; tremia por dentro. Como é que a Maria ia aguentar isto?!
Saiu apressada.Encontrou um grupo de pessoas conversando na calçada,em frente.
- Não adianta irmos lá, ela está acompanhada pelo marido.
- Na certa vão tomar providências cabíveis no momento senhores.Vamos aguardar.Não há o que fazer agora.E a gente nem sabe se não se trata de boato!
- Ô seu Oswaldo,parece que num tem coração! A mulher perde a família toda e o senhor aí, parece que num acredita! Tá querendo o que? A gente sempre foi unido, temos de dar apoio agora!Vou lá oferecer meus préstimos. Sei lá se precisam de alguém com carro...não é mesmo,Dona Verônica? O que a senhora acha?
- Pessoal, ela acabou de me deixar um recado! É muito sofrimento pra uma pessoa aguentar sozinha! Assim que passarem alguns dias, vamos visitá-la, levar flores,telefonar... sei lá, vocês que são mais antigos no bairro, amigos dela, é hora de oferecer seu carinho...respondeu Verônica, antes de se recolher,como todos os demais fizeram,em demonstração de respeito. Era o que a situação exigia.
Dona Maria não apareceu naqueles dias.Ninguém sabia se estava no hospital ou acamada em choque, mas amigos e vizinhos se faziam presentes. Eram novenas que Dona Helena tinha encomendado para o vigário, eram flores que os vizinhos levavam ao portão, bilhetes carinhosos, gestos de solidariedade, comida pronta... O bairro todo ficou de luto. Até seu Agenor, aquele que nem religião tinha, comparecera na novena,na igrejinha da esquina. Todos choravam imaginando a dor de Dona Maria,e ao mesmo tempo agradeciam a Deus por não estarem na pele dela.Muitas luzes ficaram acesas naquela noite, no bairro. Verônica,romântica, achou até bonito!
Na tarde do segundo dia, outro alvoroço. Gente brigando,discutindo,gritando,chingando...E lá foi Verônica, assim que viu em frente a casa,duas amigas que queria bem.Por um momento, ninguém mais se doía pelas vítimas do acidente, pois eram eles, as vítimas agora.
- Tudo mentira! Desavergonhada!
- E eu que fui até rezar! reclamava seu Agenor.
- Eu bem que avisei que era muito estranho...Viu, Dona Helena? A senhora acredita em tudo!
Dona Helena magoadíssima, se afastou de seu Oswaldo, aquele a quem ela tinha dado seu coração, sem que ele soubesse ainda...
- Pessoal calma! A gente não sabe direito o que houve - disse Verônica. Será que vocês não estão se precipitando? Afinal, a família dela estava naquele ônibus,não estava? Estas notícias se atropelam.
Dona Helena aproveitou o dito e completou:
- A coitada,só depois ficou sabendo que a família sobreviveu.Credo! Parece que vocês preferiam que tivesse sido verdade, só pra não gastar vela à toa. Vão crucificar a pobre,porque ela demorou pra avisar que a família estava em segurança?!
- Ah,ela brincou com nossa boa fé.Você não entende tudo que está em jogo? Sai daqui, beata!
- Tem gente sonsa mesmo! Pior do que aqueles que mentem, só mesmo os que ficam defendendo, acobertando. Estes deviam ser linchados!
Ui, será que era com ela, ou com a Beata? Pelo sim, pelo não, Verônica resolveu entrar, porque neste momento, quem não está com a maioria, pode levar tiro daqueles que escapam quando os ânimos estão exaltados e vai tiro pra todo lado.Entrou,mas não se sentia protegida do próprio pensar - era seu jeito de ser, não acusar as pessoas - mas,ficou lá dentro, dando tratos à bola. Se sentiu enjoada. Que coisa! ou morriam os familiares da outra, ou morria a confiança e a solidariedade que as pessoas precisavam ter, para viverem em paz? Será que não tinha meio termo, nesta história toda?
Verônica, só agora ficou mesmo de luto...não sabia mais no que acreditar.A família da dona Maria não morrera, mas alguma coisa morrera ali! Foi para o quintal, no meio de suas flores e ficou lá a meditar... e meditou...e meditou muito para tirar aquele nó do estômago, que teimava em ficar entalado ali.
O tempo, sabido como ninguém,passou indiferente a tudo e a todos, e as coisas começavam a voltar ao normal. Os que se envolveram nesta história,estavam mais certos agora de que, para se morrer, bastava estar vivo! Afinal, muitos morreram mesmo, naquele outro ônibus! E havia ainda a certeza de que, era repugnante,até odioso,tudo o que pudesse abalar a boa fé das pessoas de bem.
Afinal, como poderiam viver suas vidas, se não pudessem confiar?
Verônica agradeceu a Deus por não ser advogada, promotora ou juíza. Olhou pela janela,viu Dona Maria passando tranquila do outro lado da rua, como se nada a tivesse afetado, e pensou:
- Bem, quem tem a consciência tranquila age assim. Depois lembrou que, as pessoas que costumam mentir,ou exagerar para chamar a atenção sôbre si,também se saem bem destas situações. Comentou com a irmã ao telefone:
- Eu preciso da minha fé nas pessoas, mas confesso que neste caso,não posso mais confiar. Também não gostei do exagero nas acusações...nunca vou saber se estou sendo injusta,mas não me interessa mais...tá além do que eu posso.
Ao que sua irmã respondeu:
- Todo mundo sabe que há pessoas que vão nos mentir. E daí? Sigam a vida! Acho que quem ainda está triste, é porque não se conforma é de ter cometido este erro de "se deixar enganar", ou porque está aí com uma ponta de dúvida,como você irmã...e ninguém quer cometer um erro deste... Ninguém é perfeito, mana! Esquece. Nem sempre a gente pode ter certeza de tudo. Vai pro computador e escreve uma crônica, uai!
- E aí, não vão dizer que estou me aproveitando deste episódio deprimente,para aparecer?
- E está? Você não diz que só escreve quando algo te emociona, ou precisa organizar as idéias? Vai lá maninha...

Texto: Vera Alvarenga

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Humano Amor de Deus-para Cacau

Estou tentando há mais de 1 hora postar um lindo vídeo para Cacau, pra lembrá-la de que, apesar de tudo, ela não está sozinha e Deus a ama. Tomara que agora eu consiga!

sábado, 8 de janeiro de 2011

" Entre o desejo e o prazer..."

  O amor que oferecemos, se correspondido, permite que cada um possa desvendar-se, livres para experimentar o que podem ser e o que sentem, levando em consideração a 3ª pessoa formada pelo encontro = de nós.Isto proporciona alegria, segurança e tranquilidade e por isto, apesar da liberdade, faz com que um deseje estar mais tempo com o outro. Faz falta!
   Refletindo sôbre estas questões fundamentais da vida,li um texto que gostei tanto, que pela primeira vez, vou colocar partes aqui ( entre "aspas")...
    Ele diz que Deus nos criou livres para descobrirmos e vivenciarmos nossas potencialidades ( o bom e divino em nós) e que há pessoas que nos ajudam nesta descoberta, e através de seu amor,nos mostram outra realidade diferente às vezes, daquela que estava nos limitando. "É a forma como Deus nos ama através do outro que, nos promove!"
   Eu não havia pensado nisto! E concordo plenamente que, "quanto maior é o bem com que o outro me toca, maior também será o desejo que tenho de estar com ele", pois ele me faz sentir bem por  desvendar o mistério que sou, junto comigo. E isto não é egoísmo! (uma vez que o destino de cada ser humano é a realização do melhor que ele pode ser, sendo ele mesmo). Quando nos sentimos amados, nos transformamos para melhor, usamos nosso potencial e naturalmente podemos nos orgulhar do que sentimos pelo outro e oferecemos a ele. Junto com o outro nos sentimos mais fortes e melhor, mas não porque o outro tenha tentado destruir nossa individualidade, por egoísmo ou insegurança. Ambos fazemos concessões.
    Somos movidos por desejos e prazeres. Quando reconhecemos um amor que realmente nos faz  sentir bem e ter esperanças quanto ao que ainda temos para experimentar dos nossos sentimentos, queremos preservá-lo. É a força do desejo que manterá este amor(mesmo que não possamos compreender - é o melhor de nós,tentando se realizar).
    A busca apenas pelo próprio prazer nos cega em relação à dignidade do outro. O prazer, quando satisfeito, nos afasta porque queremos nos manter solitários, não sobra muito do encontro que realizamos! O desejo, ao contrário, pode nos levar a outros desejos focados na mesma pessoa, que vão se complementando num constante conquistar e se desvendar mutuamente.
    Se o relacionamento foi focado mais no prazer egoístico, o outro não aceita que não possamos satisfazê-lo em tudo, não aceita nossa imperfeição(carências!), e por isto critica exageradamente. Se eu gosto de você, sei que você precisa de mim, tanto quanto preciso de você, recebo e dou, e tudo se equilibra.Não transformei o outro num objeto do meu prazer!
     Já o desejo é uma motivação mais profunda, que aceita o real, o sacrifício e o desafio...só não pode aceitar o egoísmo, no qual uma pessoa não quer o encontro verdadeiro e se isola(não está a fim de dar de si)!
    Ao longo da historia o "desejo" foi associado ao "pecado". A Filosofia o associou à imperfeição pois "só deseja aquele que carece", portanto é imperfeito. O Budismo o aponta como obstáculo à realização humana.  
   O autor do texto retoma o contexto do desejo como algo que não se opõe nem à felicidade,nem à construção do outro como pessoa. Concordo com ele. Sinto que o desejo de estarmos com o outro nos salva, nos resgata, como a arte e o amor, e nos eleva para a realização. Assim, é ele que nos inspira, "nos mantém na estrada, mesmo quando nos deparamos com realidades adversas". O outro não transforma nossa vida num conto de fadas, mas traz alegria e tranquilidade para que possamos vivê-la da melhor maneira- e o desejamos ao nosso lado.
    " O que nos faz querer estar ao lado de alguém" é o desejo, "combustível da vida", que nos dá a sensação de estarmos cada vez mais vivos. Existem desejos temporários e há o que mantém o foco - " o outro mudou, foi transformado pela vida,mas continua sendo o foco do meu desejo".Sua permanência está ligada à preservação do mistério - " que não significa guardar segredos, mas manter a reverência que não permite a banalização"! O que foi focado no prazer não nasceu para ser definitivo; se durou longo tempo é porque um deles talvez se motivasse pelo desejo. O desejo é mais profundo,precisa de tempo para ser despertado e vivido,mas alimenta por mais tempo porque tem consistência, cria permanência porque acalma, e movimenta para novas buscas não porque estou descontente ( porque me devolve a confiança em mim),mas não desorienta.
    Claro que seria bom ter os dois juntos! O que foi focado só no prazer acaba, ou existe só para satisfazer este impulso rápido, enquanto uma das pessoas não se conscientiza disto - o relacionamento se transforma  em algo que possui em si uma "ausência", que não satisfaz. É como uma relação sexual que nunca encontra o climax, não se completa na paz. "O desejo nos faz respeitar a sacralidade do outro - é feito de vagarezas" - é assim como ter de caminhar muitos quilômetros, enfrentar uma viagem dura, mas por estarmos certos de que há um lugar que vale a pena chegar, onde o outro estará, onde nos encontraremos, o cansaço será vencido cada vez que nosso desejo for relembrado. É bom quando conseguimos criar e preservar este "lugar sagrado" onde nos encontramos com o outro, foco de nosso desejo, aquele que eu reverencio, por quem sinto mais desejo de estar vivo, para quem sinto desejo de voltar, de ser melhor e em quem posso repousar,sabendo que desta relação, ambos poderemos vivenciar e solidificar nossos melhores sentimentos.
    Quantas vezes me surpreendo a desejar estar com o outro ? Quanto é o bem que ele me traz e o meu desejo retribuir?

Texto e foto: Vera Alvarenga (Texto baseado no do Padre Fábio Melo)
Texto entre " aspas" : Padre Fábio Melo.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

" A arte é luz que resgata..."

Hoje,relembrando descobri,
que das vezes que senti medo
e achei que quase me perdi,
em todas eu reagia,
me debatia,reclamava,
me conhecia, me reencontrava,
e estancava naquele degrau,
apoiada por minha teimosia
providencial.
E ali ficava, criando algo belo
e esperava...
até a tempestade passar.
Foi a arte que me resgatou
quando eu não podia te amar!
Foi o trabalho honrado,
foi o sorriso tantas vezes dado
junto com os meus meninos!
Foi o modo de não prostituir
minhas crenças, de não me sabotar!
                                                            
Então, até quando me senti                    
vazia e sem sentido,
não foi porque tivesse me perdido!
Pois ainda me vejo aqui,
e em mim, em tudo me reconheço.
Ah, mas você me roubou algum tempo
que me pertencia,
e muitas vezes calou a alegria e o canto,
no instante que já quase brotavam,em mim.
Mas, o dom de poder criar,
era a luz que me resgatava,
me elevava a outro patamar,
só hoje compreendo.
Eu ainda estava ali,
só não sabia!
O que me apavorava era
a ausência de luz do amor
que naquele momento,não podia sentir
por quem não olhava pra mim.
Mesmo assim, eu ainda era eu.
Começo a perceber que não me perdi...
O tempo? inexoravelmente passou,
e foi o teu rosto, que em algum canto
do meu coração se perdeu....

Fotos e Poesia : Vera Alvarenga

Clic para compartilhar com...

Compartilhe, mas mantenha minha autoria, não modifique,não uso comercial

 
BlogBlogs.Com.Br
diHITT - Notícias