quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Amanhã, será um dia único!

 Devíamos ter coragem de proteger o que é mais delicado em nossa alma e não envelhece.
 Como a pequena fêmea do beija-flor não desiste de experimentar o doce da vida, apesar de ser como é, a cada dia percebo com mais calma e mais claramente que preciso investir em meu sonho.
 - "Ah! então continuas a sonhar, confias, e deixas para um futuro. És incorrigível!"
 - Não, meu sonho não é mais para o futuro, para uma viagem a Paris, Áustria, Holanda, ou para resgatar a felicidade que o relacionamento deixou sempre para colher num dia, talvez. Ou para aquela viagem de navio que um dia, alguém que eu amava muito, para minha surpresa me disse que faria sem mim, porque lhe disseram que viagens assim não eram boas para pessoas casadas. E o som daquilo feriu meus ouvidos como nota aguda e desafinada para a qual me ensurdeci, porque não soube lidar com a decepção que causou aquela verdade que eu não quis compreender - a de que não era preciso que ele me protegesse contra algo que desejava para si, de tão bom que era. Meu sonho é o de ter renovada minha fé em que eu mereço ser feliz e receber de quem diz que me ama, as melhores coisas, só até logo mais. E logo mais está muito próximo, chega com a manhã do dia seguinte.
Como próxima está a morte, portanto, o futuro, não me ilude mais.
- "E o dia seguinte não seria o mesmo de um futuro distante?"
- Não. Porque começará pela manhã, logo após esta noite, será meu primeiro dia seguinte. E eu  quero dele, grande parte para meu sonho. Quero talvez o dia todo de cada dia seguinte. Quero-o único, porque quero viver um dia de cada vez, no ritmo que me for possível, às vezes com calma, outras com intensidade. E nele, quero criar e dar minha atenção a um único momento de paz e felicidade que talvez dure o dia todo ou o pouco tempo que tem para durar. Que este dia me dê a certeza de que valeu a pena tê-lo vivido e de que sou única. Reconhecer-me deste modo, será uma experiência nova. Quero buscar com o olhar um instante de beleza, seja num gesto ou onde a possa encontrar. Disto, não posso abrir mão. Foi preciso me decidir. Não sei exatamente como farei para despojar-me das crenças que não eram minhas, mas vou começar amanhã, porque cansei de dar atenção ao que me faz triste. Muitas vezes, o que vemos na atitude do outro, não é algo dirigido pessoalmente apenas a nós, mas a maneira como vê o mundo, são suas crenças, não as quero todas para mim. É trabalho árduo este, pois desde pequenos somos fortemente influenciados pelos gestos e olhares dos que são fundamentais em nossa vida. O primeiro passo, penso que é distinguir e então filtrar, a bem de nossa felicidade, o que não serve para nós.
- Quero poder sorrir por um momento, mesmo sozinha. Melhor ainda, como é de minha natureza, será dividir esta alegria com quem deseje o mesmo que eu. Imprescindível, contudo, é reconhecer quando algo não está a nosso alcance, nem depende do que somos e então, resolver a questão como fez a inteligente raposa, que se afastou pensando que aquelas uvas estavam verdes e, em seguida foi procurar alimento de outra forma. E assim, de qualquer maneira, que a alegria ou riso de cada dia lave minha alma, porque sei agora com certeza que meu espírito, como os demais, de fato, não envelhece. Já percebeu isto?
 - Quero um instante de ternura, neste meu único dia seguinte, que começará logo mais, depois desta noite. E esta ternura me fará lembrar com orgulho que não sou rocha nem vegetal, mas mulher, e só comparável à delicadeza de uma flor, mesmo apesar de tudo e dos limites que possa ter, aos seus olhos ou aos meus. Eu quase me esqueci disto!
  - E no fim deste dia único, mesmo que tenha sido difícil,quero saber que teve seus momentos especiais e que nele,  fiz as melhores escolhas que podia ter feito pelo sonho de não desperdiçar a benção da minha vida.
 - "Isto não é muito diferente do que você pensava antes".
 - Sim, mas agora, tenho mais urgência e certeza, ao mesmo tempo que sou mais livre para assumir a responsabilidade por minha crença. Percebo que há muito, conquistei este direito. Só quero ter disciplina para não me esquecer disto.Finalmente, antes de dormir, seria bom evitar sentir pena porque não tive ajuda para colher aquelas uvas tão altas ou pensar que o dia que passou poderia ter sido melhor, pois deste modo estarei eternizando a sombra que faz em mim, a impossibilidade do que provavelmente nunca será. Há pomares que já conheço, e sei o que é possível para nós que ali estamos. Outros, que ainda não fui visitar. Engraçado pensar que, em questão de felicidade, talvez devamos ser espertos como a raposa e não apegados como um cãozinho doméstico. Apesar da importância de reconhecer o que está fora de alcance, ao fechar meus olhos só por esta noite ou para sempre, quero ter a certeza de que alcancei o queria do possível, neste meu único dia, e isto me fez acreditar que na manhã do dia seguinte, valeria a pena acordar disposta a experimentar mais um dia único, onde talvez me seja dado viver novos momentos especiais. E por eles, sorrir ou fazer sorrir.
 - Você vem comigo? Vamos tentar um único dia, único e especial, de cada vez?
Texto e fotos: Vera alvarenga  

sábado, 24 de setembro de 2011

Um pequeno ritual mágico...


 É possível mudar uma rotina com a qual a gente não se sinta bem. De algum modo a gente pode mudar o que é possível mudar.
Não é como nadar contra a maré, não desgasta, ao contrário, suaviza.
Gosto de poder criar momentos diferentes dentro da rotina, não para desafiar estruturas. Não ligo a mínima pra esta história de desafiar padrões estabelecidos, mesmo porque, rotinas me deixam segura. Mas se faço isto é porque me dá prazer poder sentir-me relativamente livre para criar e, fazer diferente.Nem sempre é contestar, mas apreciar algo mais agradável.
 Assim, em minha casa hoje, uma 2ª feira não começa mais como aquele dia chato...não temos ninguém a trabalhar em casa neste dia, assim, meu marido não precisa levantar cedo para abrir a porta para a funcionária que não tocará a campainha pela manhã...rs....
Mesmo sendo 2ª feira, nós a tornamos mais agradável, como é uma manhã de feriado no meio da semana. Dá para acordar de manhã, com o canto dos passarinhos e, ao invés de levantar, fazer ainda um momento de preguiça...colocar a cabeça no ombro daquele que dorme em paz a seu lado. Dá pra sonhar acordada, sonhos de paz.
 Depois de alguns momentos,virar-se,puxar o braço preguiçoso e deixar-se abraçar, porque receber o que se deu é sempre bom. Em pouco tempo, torna-se um ritual - e rituais mágicos são sempre bem vindos até mesmo para os mais resistentes. Tudo para mudar na memória e aliviar o peso que antes tinha uma 2ª feira rançosa, ou que tenha qualquer rotina que nos desgasta sem que seja imprescindível!
 São estas pequenas coisas que a gente pode mudar, sem que dependa apenas do outro.Tudo pra começar o dia com bom humor e ouvir com mais prazer o canto dos passarinhos.
Tudo para proporcionar pequenos momentos de gostosura para a vida, e que podem se tornar rituais que chamo de mágicos, porque não são os necessários, mas fazem uma pequena e doce diferença, que os sensíveis notarão e os que não o forem, assim mesmo aproveitarão e sentirão seus efeitos, por mais que não queiram reconhecê-los..rs.....
 Isto de cuidar do ninho e proporcionar gostosuras, aconchego e suavidade, é mesmo coisa que mulher gosta de fazer e oferecer como um presente, não é mesmo? Mas, tanto homens como mulheres, podem criar seus rituais mágicos para uma vida melhor.
Texto e fotos: Vera Alvarenga

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Redemoinho domingo na praça

Domingo estávamos calmamente sentados no Parque Campolim. Eu lia um livro, depois de uma agradável conversa com Kátia, alguém que gostei muito de conhecer quando, de repente, uma ventania muito forte passou ali onde estávamos, trazendo poeira e muitas folhas.
Passou por nós, aquilo que parecia um redemoinho, e seguiu em linha reta levantando mais poeira, surpreendendo as pessoas e ao chegar ao lago, formando um pequeno chafariz de água dançante.

 Tudo muito rápido...tão rápido que logo passou e se transformou apenas num acontecimento curioso.
Não fez estragos, mas chamou a atenção daqueles que foram pegos de surpresa, em seu caminho. Levantou poeira, fez um pouco de sujeira.Só isto!
Tudo logo voltou ao normal. Que bom!

Então, me lembrei  de uma outra vez que eu estava no caminho de um tornado, em Florianópolis,ainda bem que protegida dentro de casa, porque o estrago foi maior - vasos e telhas quebradas, muito barulho, um som estranho que parecia de turbinas, o limoeiro do quintal tombado com as raizes à mostra!
E para muitos, em diferentes locais deste nosso mundo, um tornado pode ser um desastre.
Por vezes, algo semelhante acontece em nossas vidas. De repente, tudo que estava bem, parece virar de pernas para o ar como se um tornado  passasse sobre nós. Demora mais para organizarmos tudo novamente. É preciso então, coragem, determinação e confiar em que a vida, apesar de imprevisível, apesar de nos assustar e expor nossa fragilidade, vale a pena ser vivida. Muitas vezes, é a partir destes movimentos inesperados, que nos desestabilizam, tiram nossas coisas de lugar, mexem com uma rotina que antes era segura e nos forçam a reagir em busca de uma nova relativa segurança, que passamos a valorizar outras coisas e exigir menos de nós mesmos. Os que davam atenção só a si, podem passar a levar o outro em consideração, e o contrário também acontece, mas nada é regra. É comum que, logo após a poeira baixar, a gente tenha outra visão sobre o mundo que nos cerca e, por vezes, sobre como queremos estar nele enquanto pudermos escolher. Pode acontecer de precisarmos descobrir como andar por outros caminhos uma vez que os antigos já não mais existam. Mesmo que já valorizássemos o que tínhamos, após algo imprevisto assim, que balança ou desarruma nossa conhecida estrutura e, por isto nos desequilibra de certa maneira, a maioria de nós se empenhará de forma diferente diante do que possa trazer momentos de felicidade. De qualquer modo, por algum tempo antes de nos habituarmos a nova rotina e voltarmos a ser como éramos, o olhar sobre o mundo não é mais o mesmo. Este é um momento que, para muitos, pode significar o momento " da virada".
Alguns de nós experimentam perdas irreparáveis, outros levarão consigo uma saudade que ficará para sempre, outros precisarão de alguma ajuda para perceberem que a vida, enquanto está lá como a conhecemos, pulsa ainda mais forte quando pressente sua própria fragilidade.
Ao olharmos para o que ficou após um tornado, não veremos culpados, apenas teremos de juntar forças para o trabalho que temos pela frente e decidir como o faremos.
Que possamos ser leves companheiros para aqueles que, ao nosso lado, precisem enfrentar tais redemoinhos e a tarefa de se reorganizarem.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Sapatos vermelhos na vitrine

Ela, vinha com passos felizes e seguros, movida pela certeza de que teriam tanto a se dizer e tamanho prazer com o encontro, que tudo correria naturalmente, tudo seria bom. Contudo, ao perceber certa palpitação no peito, diminuiu o ritmo e andava agora devagar. Olhava para os carros estacionados, ouvia o barulho daquela cidade fervilhante e constantemente barulhenta, e percebeu que os sons iam ficando distantes, como se já não fizessem parte do mundo que pisava. Ao invés do barulho de carros, pessoas, sirenes, ouvia cada vez mais alto, o som do  coração.
Ele, já havia chegado ao local do encontro. Não pediu café, embora tivesse vontade. Pediu água, pois conhecia do que se alimentava o comércio.Era homem atento e pensara ser gentil, deixando que ela decidisse o que gostaria de tomar, antes de impor-lhe a escolha. E se ela tivesse vontade de pedir vinho, ou suco? Naquela hora da tarde e, pelo que conhecia dela, tudo seria possível contanto que ele não fizesse a escolha primeiro. No final, ela pediria para ele escolher. Como oferecer-lhe vinho se estivesse tomando café? Ao ver o café, faria pedido igual só para acompanhá-lo, mesmo que estivesse pensando no vinho . Ele sabia como ela era. E tudo estaria então resumido num cafezinho. E ele não queria resumir fosse o que fosse, do que estava para acontecer.
Esperar, não era algo que fizesse com tranqüilidade. Não sabia preencher os espaços vazios com facilidade como faziam as mulheres que tinham sempre um leque de opções a seu alcance, além de uma mente sonhadora. Ele, não. Era homem que se habituara à objetividade. A vida o instigara a ser mais realizador do que dado a devaneios. Não tinha paciência ultimamente, nem para esperar que algumas pessoas chegassem ao fim do que começavam a dizer-lhe, talvez porque já adivinhasse o final, uma vez que conhecia a mesmice de tudo que lhe rodeava há anos. Com o tempo, sabia que ela também chegaria a ser tão conhecida e talvez tão previsível como tudo o mais. Rotina era uma coisa boa, algo confortável com o que podia lidar. Sair dela também seria bom, se representasse agregar algum valor a sua vida e desde que, o que conquistara para si, não fosse perdido. Ele preferia colecionar seus valores do que sonhos. Logo saberia e também deixaria claro, de uma vez por todas, o objetivo daquele encontro e ao que poderia levar.
Ela cometeu um erro. Prestou atenção ao seu coração e, ao fazê-lo, perdeu o ritmo do caminhar. O som parecia o retumbar de algo vivo que lhe saltaria pela boca, se ela a abrisse. Parou frente à vitrine. Engoliu em seco. Fingiu olhar os sapatos e tentou recuperar o controle. Respirou fundo. Pelo vidro pôde ver sua silhueta, salpicada por sapatos vermelhos, que pareciam pendurados nela,como os passos que ela poderia dar. Sentiu medo. Tal insegurança não era porque não se gostasse. Valia mais do que todos aqueles sapatos juntos, mas não estava acostumada com encontros. E há muito tempo não se expunha assim, como numa vitrine, para ser avaliada. Sentia medo que o próprio medo se tornasse tão grande, que a fizesse desistir.  
Desistir do que? De nada! Ela não queria nada a não ser apenas os passos que pudesse dar. Com companhia de outros passos,seria melhor. -"Só por hoje", lembrou e sorriu. Era uma frase usada pelos que querem aprender a caminhar felizes, um dia de cada vez. Que tudo fosse verdadeiro, fosse como fosse, e não machucasse demais. Mas que ela não fizesse papel de tola. A vendedora aproximou-se gentil. Que coisa! por que não lhe era permitido um tempo para ficar ali, só pensando na vida? Por que tudo se resumia apenas na compulsão de vender e comprar? Tenho algo que lhe interessa, e você, tem o valor equivalente para me dar? Me dê logo ou siga em frente! Era assim a vida. A vitrine era bonita,como ela se sentia por dentro, os sapatos eram lindos,como aquilo que ela sonhara um dia ter.
Voltou a caminhar. O coração sossegara um pouco, mas estava apreensiva. Segurança e  alegria foram-se. Quem sabe se, ao virar a esquina apenas para espiar, desse logo de cara com um largo sorriso dele na boca e no olhar, e seu medo pudesse então, desaparecer para sempre. Quem sabe seria melhor rodar nos calcanhares e sair depressa dali. Tinha apenas mais três passos para se decidir.
Crônica: Vera Alvarenga
Foto da vitrine de Crisscalçados.                                           

domingo, 11 de setembro de 2011

A alquimista.

Não era a primeira vez que ia ao quintal e ficava sòzinha com um silêncio que podia preencher como bem quisesse- ler, ouvir música, pensar. Estar sozinha assim não era sentir-se só,nem triste. Este era o tipo de solidão que possuía o silêncio de prata,como pensava, porque silêncio de ouro seria o que proporciona indescritível prazer a duas pessoas que, mesmo estando quietas, conseguem sentir-se incrivelmente unidas. Mas, quando no silêncio de cor prateada ela experimentava o prazer de estar consigo mesma e encontrar-se com o que habitava dentro de si, então era como o alquimista ou feiticeira que sabe como transformar prata em ouro. Antigamente era no banho,ou na cama quando todos já dormiam, ou num momento de ociosidade como este,que lhe aconteciam as idéias criativas.
Agora,filhos criados, afastada das artes que antes faziam parte ativa de sua vida, não precisava mais criar, e escrevia, ou lia. Ou então, lembrava com saudades de alguém, ou sonhava. Era dona de si e destes seus momentos.E como isto era bom! Podia até mesmo apenas respirar. Deitada num colchonete no chão, mãos postas em concha sôbre os olhos e depois no peito, apenas respirava. Assim, meditava. No movimento da respiração se deixava levar para dentro de si ou voava por sensações que depois não sabia como descrever em palavras.
Estes rápidos momentos traziam no final uma nostalgia,como se fizessem parte de uma despedida de algo bom.
O sol se punha às suas costas. Hoje ela sentara ali para um momento de leitura, mas logo percebeu que precisava escrever. Os pardais vinham cantar ao seu redor as últimas canções do dia. Andorinhas logo viriam agitadas, procurar seus ninhos no telhado. Mais alguns minutos e, ao olhar para o céu, veria os patos vindos do sul voando para a direção oposta. Como sabiam que deveriam voar naquela formação que desenhava duas imensas asas no céu? Asas iguais as que a levavam àquela quietude interna.
Tudo parecia tão natural e agradável naqueles momentos que ela sentia fazer parte do ritmo que pulsava na natureza ao seu redor, obedecendo ao tempo do instinto e não do relógio. Tudo parecia tão perfeito e calmo,que era até um pouco triste. Despedidas sempre o são. O sol já desaparecia atrás do sobrado do outro lado da rua. As maritacas que gritavam na amoreira aquietaram-se.
Então, ela pensou nele.Tudo só seria mais perfeito se ele viesse e lhe desse um beijo, como ela gostava de beijar quando sentia-se assim repleta de si ou daquela tranquilidade. Ele não veio. Talvez porque os homens não percebam o risco que é viver sempre a um passo de uma despedida. Talvez porque eles só percebam que a noite chegou quando alguém não acende a luz para eles.
Ah! mas ela percebia e tinha o jarro de seu coração, tantas vezes pronto para transbordar o que não podia caber só em si, mesmo às custas de saber que a cada dia, pode haver despedidas...e a cada beijo também.
Texto e fotos:Vera Alvarenga

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Você leu um destes livros?

 Os Embaixadores da Galáxia e Fábrica de Sonhos foram 2 livros meus que a Ed. Paulinas publicaram em 1987. Foram 4 e 5 edições de 2500 livros cada uma. Faz 24 anos isto e hoje recebi um email que me deixou sensibilizada e mais uma vez pensei em como devemos ser cuidadosos com aquilo que escrevemos para crianças.
  As crianças que leram meus livros devem ter agora por volta de 30 anos  ou pouco menos, a idade aproximada de meu filho mais novo.
 Os Embaixadores da Galáxia é a aventura de um garoto raptado por uma nave espacial. Nela, ele encontra os Embaixadores da galáxia que estão reunidos para o julgamento da Terra, torna-se amigo de uma garota e volta, como as outras crianças, para a terra,com uma missão importante, porém esquecido de sua aventura. Dei o nome de meu filho mais velho Rodrigo, ao personagem principal.
  O livro Fábrica de Sonhos conta sobre um outro menino que tinha pesadelos e numa noite é visitado por outro garoto, "Nosbór" o "avesso " de seu nome, e com ele entra em seu cérebro para compreender como são feitos os pesadelos. Ao personagem principal, dei o nome de Robson, meu filho do meio, porque ele na época estava tendo muitos pesadelos. O meu filho mais novo, Roberto, me ajudou a ilustrar mais um livro infantil, junto com seus colegas da escola.
  Bem, os livros estão esgotados na Editora, mas quem sabe um dia eu possa reeditá-los, continuando com outro projeto que tenho para editar livros ilustrados pelas crianças. Quero agradecer muito ao Alexandre Brito por seu carinho em me enviar email, e por suas palavras generosas. Fiquei muito feliz, pois para quem escreve principalmente para crianças, é delicioso saber que levou uma boa influência para aquele que leu. Gostei de saber de você, menino Alexandre ( hoje um homem,claro! rs...)Aqui vai o email do Alexandre:
 "Entrei no seu Blog!
Hoje estava tentando lembrar do primeiro livro que comprei... Era um feira de livros do colégio que eu estudava, quando eu ainda estava na 1ª série, ainda era um criança... Me deparei com a capa do livro "A fábrica de sonhos" Comprei-o, e desde daí, me tornei um apaixonado por livros... Ou seja, vc fez eu me apaixonar pela literatura, e graças a internet, tenho a oportunidade de agradecer por teres feito parte de minha história, mesmo que nas páginas de um livro já antigo...
Queria saber por onde anda este livro, já que o com o tempo, foi perdido ou deixado em algum lugar, e isso é uma "pena"
Abraços e bjus!
                    Alexandre Brito
 
  E VOCÊ, leu um destes livros? Mande notícias, vou gostar de saber.
  Beijos a todos.
  Vera Alvarenga.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O desejo ...

 O primeiro desejo no momento em que se vai concretizando é como o escravo que, libertado, corre com medo de ser ainda apanhado, antes de sentir o gosto da liberdade. E vai afoito e desenfreado, sôfrego e meio cego,sem destino certo, sem saber até onde pode ir. Vai como barco levado pelas ondas e abençoa a praia onde chegar. Embora cego, contudo, é desbravador de novas terras e delas traz o vírus com o qual, muitos ficam contaminados.
O outro desejo, o que vem do que é conhecido, falo daquele selecionado entre tudo o já por vezes experimentado, o que nos ensinou sobre ter o gosto apurado...deste, a gente quer tudo. Por saber o caminho, vai saboreando devagar e, mesmo assim, com cuidado,porque sabemos que agora, somos escravos da liberdade. E esta é para tudo, até para o que fomos buscar e, surpreendentemente, pode nos escapar no último momento.
O desejo daquilo que experimentamos uma vez ou muitas, e se foram muitas mais marcados ficamos, o desejo daquela experiência do dissolver-nos sem medo, do nos entregarmos à plenitude, este tem alvo certo, e traz em si tremenda contradição. Nos reconhece livres,mas nos leva a uma doce prisão!
A esta prisão ficamos presos por magia, a ela queremos retornar, como aquele que conhece o sabor de doce alimento, ou aquela que sedenta bebeu de fresca fonte. Somos escravos do que não tem nome, mas está na lembrança, na pele, no olhar. Ao lembrar dela, o desejo nasce e volta a arder. Como se no corpo ressurgisse e ardesse  a marca que ali foi tatuada para sempre. E todas as células do corpo guardam em si a memória. É a marca que trazem aqueles que já estiveram livres o bastante para provar do ritual mágico levado às últimas consequências, o que nem a todos é dado participar. Porque é preciso perseverança no tempo, empenho e extrema vontade ao mesmo tempo que, exige grande desprendimento da vaidade quanto ao que se quer realizar.Muitos se iludem nesta questão, e talvez seja melhor assim, pois quem sabe onde chegou, torna-se prisioneiro, como aquele que ouve o canto da sereia ou a mulher que sonha jamais envelhecer. É o querer doar-se inteiro e receber tanto, que se completa. É de fato, uma contradição. No mesmo instante em que não se pode exigir, é que se tem a harmonia e o ritmo perfeitamente combinado, como se fosse ato, durante muito tempo,ensaiado. E ensaiar é o melhor...pode levar anos e anos de prazer.
E, apesar disto tudo, que nos lembra que também e ainda somos corpo e emoção, a razão quer em vão, nos convencer de que, em um momento dado, melhor seria ficar só na lembrança, ou mesmo esquecer, do que desejar de novo e de novo, mergulhar nas águas cristalinas do ser nada e tudo, a que nos leva o ato de amar.
Texto: Vera Alvarenga   foto: retirada do google e modificada.

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