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terça-feira, 13 de outubro de 2015

As vezes te levo,em pensamento, para sentar ali comigo e não pensar em nada sério...


 Houve um tempo em que o mundo estava repleto de coisas para fazer para as pessoas que eu amava ou dependiam de mim de alguma forma. Depois, mesmo quando havia apenas eu e só mais uma pessoa, meu mundo ainda era povoado por idéias, projetos, trabalho a realizar, caminhos por percorrer, desafios para vencer. Meu mundo. Engraçado dizer isto, uma vez que era meu coração que estava preenchido, tanto de planos como de crenças.E o coração, como tudo o mais, tem seu ritmo, com movimentos que se complementam e se nutrem.
  Todo mundo conhece aquele enfeite que costumamos comprar nas lojas de suvenirs - uma bola de vidro com uma casinha dentro e flocos de neve. A gente vira, balança, e então, ao colocar aquele bibelô no lugar, a neve cai. Um dia, alguém de fora do meu mundo veio e, não sei como fez, mas o caso é que meu mundo que então já me parecia vazio de tantas idéias que antes o povoaram, ficou, de repente, de pernas para o ar. Eu olhava para ele e as coisas não eram como antes. E me sentia insegura como uma criança. A criança que não morre jamais e está dentro de nós, tinha parado de sorrir. Me senti muito mais velha.
   Quase todo mundo deve saber como é sentir o vazio dentro de si quando a parte criança que somos, cheia de fé e milhões de idéias, não pode mais crer no que vê ao redor. Ou quando envelhecemos tanto que ficamos cansados.
   Foi quando eu o vi e percebi que a luz podia vir de fora daquela bola de vidro.
   Um noite, quando estava assustada e triste, desnorteada mesmo, eu o levei comigo para a cama. Ele estava comigo em pensamento, antes que eu conseguisse pegar no sono. Então, não me senti só. Assim, repeti este truque outras vezes, e a magia se fazia. Eu sorria novamente. Porque depois das batalhas normais da vida, obrigações cumpridas, desafios encarados, tanto trabalho realizado e algum prazer, quando os cabelos teimam em ficar prateados, a gente pensa que é chegada a hora de fazer algo "gostoso", de finalmente usar nosso tempo para criarmos mais momentos de prazer. E quando falta-nos a alegria e o prazer de certas coisas simples que deveriam estar a um palmo de serem alcançadas, é preciso sermos criativos. Do contrário, por que iríamos desejar viver por mais tempo? O significado estaria em parte perdido! É fundamental envelhecermos com um pouco de alegria e o prazer que possa vir de nossa própria vida pessoal, não apenas pela realização dos que amamos. E não que isto não nos seja importante! Seria, contudo, uma sorte, uma benção, alcançarmos algum prazer próprio, colheita de nosso quintal! A felicidade nos permite conhecer e sentir o tempo a um ritmo novo. O ser humano vai geralmente em direção do sentir-se bem, confortável ou feliz.Mais que isto, alguns de nós queremos poder AMAR, nos doar, oferecer de nós ao outro, o melhor. E, ser amado faz com que o que temos de potencial venha para a flor da terra, e se desenvolva e dê frutos, como acontece com o pé de fruta em terra ricamente adubada. O ser humano tem uma mente criativa e a capacidade de reagir em busca de alguma felicidade. Alguns mais que outros. Tudo para evitar sentir-se como algo inerte, embolorando com o tempo, enquanto este mesmo tempo o desfaz. Pelo menos tenta reagir para minimizar o que lhe causa mal. Então ele inventa, cria, imagina...
   Imaginava-me deitada em seu ombro,ou em sua barriga macia, sentindo sua respiração e com bom humor conversávamos. Ah! como é fundamental o bom humor com a vida! Ríamos, embora fosse possível chorar, se assim quiséssemos, pois que confiaríamos plenamente em nós, como os amigos verdadeiros podem confiar um no outro. Fazíamos planos. Imaginei que tudo seria apenas uma questão de tempo porque as coisas se encaixam e tomam naturalmente seu lugar,como acontece com os flocos de neve daquela bibelô de vidro, mesmo depois de o balançarem. Imaginei tudo.
   Um dia percebi que a imaginação tem asas imensas e voa por alturas que não podemos alcançar.
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   Olho para meu mundo. Continuo a (tenho capacidade ainda para) ver os raios de sol por entre os últimos flocos de neve. Embora envelheça dia após dia, acho que sempre os verei brilhar ou refletir até nas gotas de orvalho ou chuva! É meu jeito. Às vezes, no entanto, sou como aquela adolescente solitária, que raramente encontra um lugar onde, em companhia de um semelhante,sinta-se realmente em casa. Mas como ela, consigo ficar bem no meu próprio canto. Nem sempre coloco as mãos na massa ou a cara na terra. Por vezes, observo a certa distância o mundo em que vivo, e penso que isto me satisfaz. Outras vezes me aborreço, mergulho inteira no sentir, reajo e fico brava, e me sinto forte e corajosa embora não veja nisto nenhuma vantagem. Gosto dos meus momentos de estar só, o que é diferente da solidão que me toca por mais vezes do que gostaria.
   Então, quando isto me incomoda, fecho os olhos e me permito levar-te comigo pra cama, ou para uma mesinha na calçada onde bebemos alguma coisa e rimos um pouco. Sempre imagino encontrarmos alguma graça no mundo ou em viver nele, pois somente conviver com o reclamar ou criticar me asfixia. Ah! é claro que o mundo não é um mar de rosa e tanta coisa está errada! Com certeza, contudo, há ainda muitas coisas simples e boas que podem nos comover. E seria maravilhoso poder compartilhá-las com alguém que quisesse estar ao nosso lado e se dispusesse também a reconhecer estes pequenos milagres ou perceber que pode ser parte ativa na criação deles.
   Respiro fundo. Nesta cena que imagino posso respirar todo o ar puro que cabe em meu peito lentamente, e relaxar ao exalá-lo. Sem pressa, fazemos planos sobre coisas sem importância ou sentimos pena daqueles que não conseguem perceber o quanto da vida desperdiçam com seu desejo de tudo controlar. Nós dois já sabemos que não podemos controlar as coisas do mundo, mas podemos tentar decidir, sempre que possível, o que vamos fazer do tempo que nos resta....  

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Torre Eiffel - Paris

 Penso que Paris é uma destas cidades em que é maravilhoso podermos estar em boa companhia.

 Porque Paris tem alguns lugares que podemos visitar, mesinhas em cafés nas calçadas onde podemos sentar por alguns momentos e conversar ou observar as pessoas passarem, e lugares onde temos de ir à noite... só para ver as luzes! E é claro, em boa companhia podemos fazer tudo isto, acima de tudo, com bom humor.    Bom é fazermos o que quer que seja, tendo a certeza de que é preciso saborear o momento como uma coisa boa, diferente, não igual a rotina de nosso dia a dia.
 Como turistas, viajar para tão longe e para uma cidade como Paris, é claro que não é para a gente ficar pensando que "tudo é igual aqui como em todo lugar!"

Ah não! mas não é mesmo!
Se um dia não é igual ao outro! Se mesmo quando queremos repetir uma vivência agradável não conseguimos vivê-la de maneira igual ainda que estejamos no mesmo local... imagine estar viajando por diferentes cidades em diferentes países, com diferentes culturas... as experiências são, de fato, únicas.

   Vi a Torre Eiffel em 3 dias diferentes, enquanto estive em Paris. No primeiro dia, estava sol, e eu a vi quando num passeio no Bateaux Mouche. Este foi um passeio maravilhoso proporcionado por um casal de amigos franceses - Christine e Allan.
   Eu estava agoniada porque queria conversar mais com Christine, contar sobre nosso país e falar a respeito do que estava achando daquela cidade - Paris. Queria dizer com palavras, da minha gratidão por estar sendo tão bem recebida por eles, mas meu francês é nulo. Serve-me apenas para compreender o básico do que me dizem.
 

No entanto, eu e Christine nos vimos mais de uma vez, e nos demos muito bem. Surpreendente! Parece que nos compreendíamos ou pelo menos, soubemos demonstrar, uma para a outra, carinho e alegria por estarmos juntas. Mas confesso que faltaram as palavras. Ainda hoje faltam. Gostaria de conversar mais com ela... em francês...Senti saudades dela hoje. Senti saudades também de Paris.
 

   Bem, mas como eu dizia, vi a Torre Eiffel de vários ângulos. Sentados num banco sob as árvores aos pés dela, fizemos um pic nic.
  Neste dia, às vezes garoava e não chegamos a ir até lá em cima. Faltou coragem para enfrentar uma pequena fila e o vento frio.
  Estávamos cansados, pois a gente sempre anda bastante em Paris. Contentamo-nos em descansar ali, sentados em um banco ao lado de um pequeno lago.

  Se um dia eu voltar à Paris, terei algumas coisas para fazer com mais tempo. Coisas que não fiz, como visitar dois jardins muito bonitos, sentar num café com calma e ver a Torre Eiffel à noite, toda iluminada.
   Quando a gente está num país estranho, e não sabe comunicar-se na língua do local, é natural que fiquemos receosos de ficar na rua perambulando à noite. É também um pouco perigoso.
   De qualquer modo, aproveitei da viagem o que foi possível !
 Foi, de fato, uma viagem inesquecível!



terça-feira, 22 de setembro de 2015

A distância...

   
Existe uma distância das coisas, entre nós e as pessoas também. Podemos estar há anos ao lado de alguém e, de repente, só de repente notar que os olhos dele não buscam mais o nosso olhar. Que a busca foi substituída pela indiferença dos que sabiam que sempre esteve à mão, o que queriam encontrar.
    Pode ser que há algum tempo soubéssemos do que acabamos de descobrir mas não queríamos nunca desvendar. E mesmo ainda acontece que não levantamos todos os véus, porque o ser humano tem mania de insistir, que o que cismamos ou quase vemos não é mais do que bobagens, enganos, uma ilusão fruto de sinais mal interpretados. O ser humano tem mania de dizer que ama, sem amar. Quem sabe até inventamos esta intuição que temos! Quem sabe nada vemos! Pode ser, não sei. E por isto, o tempo passa.
   Talvez esta intuição sentida como sinal de que as coisas não vão bem, seja a cada vez, oportunidade de renovar gestos, olhar, sentimentos. Contudo, há os que jamais se darão conta, a não ser quando tiverem causado um mal que nem suspeitavam, quando tiverem plantado uma tristeza que marcará para sempre o olhar do outro, quando estiverem catando as cinzas frias do amor que antes, ardia.
   Quem mudaria uma vida inteira por um simples sinal? Que louca seria aquela que jogaria fora tantas lembranças, tanta história, tantos momentos de viver bem, por pequenos sinais, ainda que a certa altura da vida se repitam mais constantemente? Bem na altura da vida em que as pessoas precisariam ficar mais próximas, em que o prazer de viver e compartilhar as amenidades e insignificâncias seria finalmente possível?! E talvez fosse chegado o tempo de se alcançar a tal felicidade, a dos pequenos momentos, das pequeninas e deliciosas coisas que estariam bem ao alcance da nossa mão, de tão próximos.
   Talvez uma louca que fosse amada, que conhecesse também de repente, um amor cheio de olhares, imperfeito mas refletido de fato e simplesmente em gestos e palavras amenas, pudesse mudar um pouco o mundo. Duas pessoas que decidem viver o seu amor, um pelo outro, é assim que se vive um amor, seriam como uma pedrinha ao tocar o lago inerte e espelhado. E só assim ela poderia saber que felicidade não era aquele pouco encontrado até então, ao longo do caminho. Que não se tratava apenas de um ideal inatingível. Quem disse que não podemos nos decidir a nos comprometer com o amor? Quem disse que amar é impossível???!!
   Acontece que há, muitas vezes, uma distancia que nos separa de tocar a face de um sonho, aquela infinita distância que sozinhas não podemos percorrer, e que cria um abismo intransponível, um desejo insaciável, um oceano de silêncio que ensurdece e adormece os sentidos. Muitas vezes é impossível construirmos uma ponte.Talvez por isto, fiquemos meio cegos ao envelhecer ou busquemos tantos de nós, nos amigos ou na esquina, a alegria que perdemos em algum canto da casa.
   Quem ama e é amado não é perfeito e nem precisa, porque jamais deixa de ver toda a beleza que seu olhar encontra. Quem ama nem por isto tem a vida mais facilitada, mas ri mais vezes e ainda se encanta, apesar de tudo.
   Para consolo de muitos, o amor que sentimos, aquele que experimentamos dentro do nosso mais íntimo ser, esta capacidade de amarmos verdadeiramente, este sentimento que nos pertence, está estreitamente ligado a nós. Este amor nos faz nostálgicos, é verdade, como se lembrássemos de que já foi possível. Nos faz tristes também, por certo. Bastaria, algumas vezes, um outro sinal. Um sinal que diminuísse as distâncias, um gesto de carinho e verdadeira amizade, para que este sentimento se transformasse em alegria e transbordasse, o que muitas vezes nos bastaria, nos daria forças para atravessar as distâncias e suportar as tempestades quando estamos solitários em alto mar....
    

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Saudade Renato Teixeira(poesia de Mário Palmério)


- Hoje to triste, cara.
- É o vinho, Moraes. Você não tá comendo nada. Pega aí o provolone.
- Não é não. É que me bateu uma saudade danada, sabe, daquele sentimento que quando a gente tem, faz todo sentido, faz a gente...
- Ou daquela mulher?
- É. Dá no mesmo. Você sabe, a gente se sentir vivo novamente, pulsante, como dizia o Silva. Aliás, aquele, entendeu-se lá com aquela amiga dele, bem mais nova. Bonita até.
- Mas a tua, não era nova, né?
- É. Tem a minha idade. Portanto não é velha! Madura eu diria. E me fazia sentir o maior e o melhor dos homens... Sabia o que queria.
- Ela estava apaixonada, não é? Sem dúvida, meu amigo, isto é bom. Eu, por mim, desconfio um pouco dessas que agradam tanto...
- Não é isso. Você tá enganado. Para ela, eu era melhor do que aquele com quem convivia. Sei lá, um relacionamento daqueles que a gente não entende porque duram tanto! Não é por nada, mas acho que ela cometeu aquele erro que é fatal para a efêmera felicidade. Comparação. De repente, como ela mesma disse várias vezes, ficou perdida lá naquele quintal dela. Sabe o que ela me disse? Que diante do amor..o que não é amor, de repente, parece grosseiro. Parecia ter uma sede de pular aquele muro, de conhecer o mundo. Pular, não! Voar comigo, como ela dizia. Até emociona, viu? Aquela ingenuidade com a qual me falava do que sentia, lembrar o jeito como ela me via, como alguém que...
- Ah! e quem ia pagar este voo para um novo mundo?
- Você não acredita em ninguém? Ela era diferente, confia em mim. Era sincera. Acho que me superestimava até! Como pessoa, porque não sabia o que tenho. Hã... Ela queria poder conversar, aprender, ouvir, enfim, queria alguém um pouco mais parecido com ela, sabe como é. Tinha uma solidão tamanha que... Bom, confesso que seria melhor se tivesse também uns anos a menos.
- E por que você não foi atrás dela? Por que, aliás, não vai atrás dela?
- Águas passadas meu caro. E não quero problemas, alguém me endeusando, mimando, somos de mundos diferentes.
- Talvez de nível diferente, eu diria. Mas eu me lembro que você me disse que ela tinha uma simplicidade que o encantava. Tinha ou não tinha? Não era nenhuma ignorante ou coisa que o valha?!
- Não, claro que não! Mas, começar tudo de novo? Sei lá. E ela certamente não pensa mais em mim. O meu silêncio foi bem eloquente. Foi só uma lembrança...
- Poxa Moraes. Então tá resolvido. Esquece. Toma mais vinho e come provolone que a saudade passa. Eu te falei. Isso é fome, amigo. E falta de..
- Você me subestima. Me dá a garrafa. E vamos mudar de assunto, que não quero problema na minha vida. Passa o provolone também...

( o ser humano é criativo em momentos de crise, ou de saudade. Fazemos de tudo para viver bem, até inventamos histórias...rsrs....) texto: vera alvarenga






domingo, 16 de agosto de 2015

Quer sentar-se comigo? Vamos jogar conversa fora....

As vezes dá uma vontade doida de pegar um café, uma cerveja, um vinho, uma limonada, seja lá o que for, e sentar ali com alguém e ter uma conversa amigável, não é? Cada um lendo um livro e de repente, pensando sobre algo, jogar conversa fora, como se diz. Se há uma coisa que dá saudade,  é de "ter uma conversa mansa". Li agora um texto sobre isto do Rubem Alves e me lembrei das pessoas com quem eu tive alguns destes raros momentos. Ô coisa boa!
  De tão bom eu sempre sonho acordada com isto! De tão raro e bom eu ainda tento "reproduzir" momentos assim, com outras pessoas quando há oportunidade.
  Olhar para alguém e compartilhar idéias, conseguir rir das diferenças de opinião, sem esperar por discussão ou, pior, "castigo."
Pode ser até que, por tão diferente, a idéia desconcerte, cause um choque ou pareça insana. Ou simplesmente canse, depois de algum tempo de conversa, a cabeça de um dos interlocutores que acabe por bem encerrar numa boa a discussão (amigável) do assunto. Claro que depois de um ter ouvido o outro, de se fazerem as ponderações e divagações cabíveis.
   Mesmo que não cheguemos a um acordo, além de tudo o mais, haverá a oportunidade de estreitarmos laços: - Você é meu amigo apesar de pensarmos de modo diferente, às vezes. Que bom! quando estou com você, posso sentir-me feliz por ser eu mesmo, e posso mudar, revendo as coisas nas quais acredito. No mínimo podemos rir juntos.
   È certo que, mesmo que tentemos justificar e com entusiasmo convencer o outro de que nossa idéia é de fato boa, não quer dizer que vamos lhe impor nossa verdade e menosprezar a dele. E não estamos falando de diálogos intermináveis com crianças ou adolescentes,nem de quando uma decisão se faz urgente e é necessário dizer: - É assim, e ponto final!
  Estou falando de conversa amigável e não importa se é com um filho adulto, uma pessoa velha como nós, um amigo ( quando ficamos mais velhos, como dá saudades dos raros amigos com os quais estas conversas eram possíveis). Lembro-me que meu pai, algumas poucas vezes, mas que ficaram gravadas na minha memória, quando tinha tempo, conversava comigo assim : - " E se tal coisa fosse diferente e...."
   Com meus filhos então, naturalmente me acostumei a ouvir ( mesmo que depois tivesse de dar ordens). Isto era trabalhoso e as vezes cansativo, mas conversávamos. Pelo menos eu tentava ouvir. Eu, de fato, queria ouvir! Talvez porque desde menina detestava algo que me "persegue", me incomoda desde então - quando alguém "nos castiga de algum modo" por ousarmos pensar diferentemente. Não falo de disciplina não! Isto não me incomodou nunca. Falo de atitudes de distanciamento ou daquelas frases do tipo:
- Não responda! Não se explique! Não me conteste! Se você faz tantas perguntas, se põe o que digo em dúvida é porque não aceita que o que eu digo é a verdade!
   Eu tenho certeza que, se você convive a vida toda com pessoas que lhe repetem e repetem isto, dependendo de seu jeito de ser, você aprende a esconder o que pensa, ou a não pensar, ou então, encolhe as idéias. No meu caso, acho que encolhi as minhas. Quando a gente fica mais velha então, e intolerante a discussões com os donos de uma verdade, e com preguiça de levar tudo tão à sério, acaba por ser seletiva sobre o que vai valer a pena conversar. Pudera! Devia ter ido para a faculdade de Filosofia, não de História. Isto foi um vacilo meu! Depois talvez eu nem tivesse tido tanta atração pela Psicologia, afinal, ao invés de desejar entender as emoções, estaria procurando entender o mundo e suas idéias!
  Ainda bem que nas minhas artes e em casa pude colocar em prática a ânsia de criatividade, mesmo que fosse num modo diferente de passar fraldas ou numa receita de esmalte para cerâmica. Bem, se encolhi minhas idéias não sei, só sei que agora não tenho paciência para levar tudo à sério ou para entrar em discussões sem fim, mas continuo a ter certeza de que o mundo é muito maior do que o que se pode afirmar, e mais interessante nas diferenças.
  Agora bateu-me no peito uma saudade danada das pessoas que me demonstraram seu amor me permitindo ter dúvidas ou pensar diferente, e conversaram comigo amigavelmente sobre as possibilidades...
  Todas as pessoas deveriam poder envelhecer com seus pares, tendo 2 cadeiras num jardim qualquer e algum tempo para sentarem lado a lado, bebericando fosse o que fosse, observando finalmente a vida... só pra ficarem próximos, mesmo quietos,  e talvez de mãos dadas apesar de suas diferenças, ou para conversarem amigável e mansamente sobre a vida, seus problemas e suas delícias....
   você tem alguém assim? convide-o/a! E vão lá para aquelas cadeiras...não esqueçam de levar banquetas para apoiar os pés, afinal, nesta fase da vida, algum conforto é fundamental!

foto e texto:Vera Alvarenga

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Dora.

 Dora era uma mulher de sorte. Por muitas razões sabia disto. Era também uma sobrevivente. Alguém que agarrara a vida e tudo que de bom pudesse optar por viver. Inventava, mesmo do seu jeito tímido, muitas pequenas alegrias. Encontrara, em seu modo de ser mais solitário, embaixo de cada pedra, um grão de areia dourado, uma argila macia com a qual podia esculpir alguma coisa, uma formiga esquisita que lhe despertava a curiosidade, e nas paredes por acaso intransponíveis, um musgo que subia até um buraco qualquer e assim, lhe mostrava o que havia do outro lado. Por causa do musgo ela sabia que o mundo não era pequeno e que o seu umbigo não era o centro dele.
Não ficava feliz nas compras, ou nos shoppings a menos que fosse para comprar um presente ou para ver pessoas, mas sim, nos lugares calmos onde pudesse apreciar natureza, jardins, pessoas tendo suas vidas, tomando café, conversando, bebericando, rindo.
Dora envelheceu, como todo mundo. Agora sua vida era bem mais calma. Aposentados, ela e o marido viviam vida simples mas com necessidades atendidas e pequenos prazeres, como o vinho de todas as noites. Durante o dia, o marido ocupava-se com andar pelo condomínio em busca do que estivesse errado para poder pensar em soluções - era seu modo de cooperar com o grupo social do qual fazia parte. Era também seu modo de construir com sua crítica algo melhor, como ele mesmo dizia. E como encontrava muitas coisas erradas, mantinha-se ocupadíssimo. Por vezes divertia-se a criticar, provocar as pessoas, fazê-las compreender o quanto tudo estava errado! Dora por sua vez, cuidava de suas próprias coisas, escrevia, organizava a casa - desde sempre pensara que ela, a casa, era uma extensão de seus donos e deveria ser um lugar agradável de se viver.
Durante o dia então, cada um fazia suas próprias coisas e ficava no seu mundinho, mas ela, entrava no mundo dele, levava cafezinho ao marido ou o ajudava com o computador sempre que ele precisava de sua ajuda.
Nesta noite Dora estava sozinha e ele demorava-se a pegar assinaturas para certas providências. Em frente ao computador, levantou-se e começou uma dança tímida, ao som de Ray Conniff. Ah! quem resistiria a isto? Que bom ter passado para o computador este CD de músicas, que delícia deixar o corpo lembrar de como era bom dançar.
Dançar é bom, aliás, em qualquer idade, o corpo se alegra, pensou. E ela não podia desperdiçar pequenas alegrias. Amanhã, quem sabe onde estaria? Poderia não poder nem mais dançar. O marido chegou. Cumprimentaram-se rapidamente. Ela o chamou:
- Vem, vem dançar um pouquinho comigo...olha só o que encontrei...
- Não dá, não tenho mais idade pra isto.
- Ué, se sou eu que tenho dor no corpo e estou dançando! Faz bem, só um pouquinho, vem! lembra destas músicas? Mas já falava sozinha. Ele respondeu lá da sala que precisava ver as notícias que não vira mais cedo.
- Mas você fica o dia todo procurando o que consertar lá em baixo e não tem um tempinho pra dançar comigo? Reclamou da maçaneta do banheiro que estava quebrada há dias e de como ele criticava tudo que estivesse por fazer lá no condomínio. Ao que ele respondeu que ela só estava querendo ser chata. Ficou azeda. Teve vontade de sacudi-lo, mas não adiantaria. Ele era assim mesmo, pensou. A vida nos escapa, não temos mais prazeres comuns e ele não percebe.
Foi à cozinha, pegou seu copo de vinho, delicioso por sinal, e voltou para o quarto. E dançou sozinha mais algumas músicas. Sozinha não! Dançou com um sonho, uma lembrança, um desejo. E mais uma vez perguntou-se porque se achava assim uma mulher de tanta sorte!
 Por que Deus fizera mulheres precisando de homens para se sentirem completas e vice versa? Pensou que só quem já sentiu amor, só quem já amou de corpo e alma podia sentir tanta saudades assim deste sentimento, desta sensação de completude. Só quem já pode alguma vez e por amor, sentir-se tão corajosa e forte diante de qualquer dificuldade, quem já foi apaixonada pela vida, podia sentir tão grande desejo de o experimentar novamente. Porque para ela, a vida sem as pequenas alegrias do amor, não valia nada. Amar era o que a fizera sempre sentir-se livre. Quando você ama, nada a aprisiona, pensou.
E assim, para continuar a conviver bem com aquele que se tornara tão apegado às suas próprias vaidades, que se tornara grosseiro e intolerante com todos, aquele que desde há muito tempo parecia ir buscar longe o que lhe valeria o esforço da conquista e no futuro a motivação de sua atenção, ela fez como ele. Tornou-se igual a ele. Traiu o presente. Traiu o marido e foi buscar longe, no pensamento, algo que valia a pena. Lembrou de alguém que, apesar da dor de ter sofrido grande perda, maior do que as que seu marido sofrera na infância, tinha sabido ser gentil com ela e, num dado momento, até a incentivara. Como esquecer? Alguém que, apesar de sua perda não estivera centrado só em si mesmo, por certo serviria de inspiração para outros. Contudo, ao terminar a dança e o vinho  lembrou-se : o sonho servia para a inspirar ou apenas para a consolar por momentos. A vida se faz de momentos vividos mais do que de sonhos. Pegou um livro para ler e acalmar os ânimos. Amanhã, pela manhã, seria mais uma vez, um bom dia para recomeçar.... recomeçar a viver sem se deixar amargar. Buscar o sentimento, o momento de sentir amor, para sentir-se liberta, para sentir o quanto a vida vale a pena... apesar dos sonhos frustrados.
foto e texto: vera alvarenga

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O verde muda rápido de tom...ou de cor...

 
O verde muda muito rápido de cor... Ante ontem, quando vim ao terraço olhei para cima. Entre onde eu estava e o céu, havia apenas o prédio mais na lateral e centenas de brotos, pequeninos botões verde claro, na árvore em frente. Ontem saí e nem cheguei ao terraço. Agora no final da tarde sentei aqui e, ao olhar para a árvore...
- Onde estão os botões eu não sei. Sumiram. O verde claro dos botões, claríssimo como costuma ser o verde da esperança, foi substituído por muitas folhas pequeninas de tom mais escuro. Entre eu e parte do céu agora, há uma renda esverdeada que, inclusive, me impede de ver as janelas de quatro andares do prédio do qual falei. Não é pouco! A mudança se deu,mas eu esperava por isto. São fases e nós, eu e a árvore, vamos nos relacionando assim, num estreito e significativo convívio. E não estou reclamando, porque bem gosto de me sentir como num ninho em meio às árvores. E ela sabe que tem todo meu amor e admiração, esteja nua, apenas com botões, coberta de folhas ou florida. Só constatei que as coisas vivas modificam nossa visão do mundo e até do céu, num tempo em que pertence a elas, e não a nossa vontade ou acomodamento. Isto me fez lembrar de outra coisa.
   Ainda ontem, quando eu via em meu blog uma luzinha verde acesa lá, numa determinada cidade, invariavelmente ficava feliz. Ela pertencia a alguém e tinha significado. Era uma felicidade pequenina, mas do tipo daquela que alegra a gente e vem lá de dentro, do coração, como se a gente estivesse mais perto do céu. E eu me acostumei com ela e ela me fortalecia. O tempo passou. Já não vejo mais aquela luzinha verde claro brilhando, e quando a vejo já não posso me alegrar porque não sei mais a quem pertence, há algum tempo que ela se desvinculou da presença à qual pertencia todo o significado. Na natureza, as estações tem suas características e sei o que posso esperar da árvore que me serve de ninho aqui, frente ao meu terraço, porque eu a conheço um pouco. Temos uma convivência franca e amiga já de mais de três anos!
   Seres humanos não se deixam conhecer assim. Não são nada previsíveis. Sua "natureza" nos confunde.
   Acabo de me lembrar que, uma luz verde hoje talvez só me traga a certeza de que é hora de atravessar a rua correndo porque logo ela estará vermelha e me sinalizando que, se eu não estiver à salvo, um carro mais aflito pode me passar por cima!  
foto e texto:vera alvarenga

sábado, 27 de junho de 2015

Escolhas....

Mariana pegou o livro na cabeceira. Ler um pouco ia lhe trazer o sono. Abriu na página onde se falava de "escolhas". E leu.
Sua mente viajou. E num instante repassou mentalmente uma fase recente em sua vida onde ela fez escolhas. Escolheu deixar-se apaixonar, e depois escolheu ser coerente, deixar tudo o que não poderia manter, se quisesse honestamente dedicar-se aquele que poderia vir a ser o amor maduro de sua vida, um amor cuja experiência da amizade e respeito, atrelados à paixão, se transformaria facilmente no amor maior, como presente dado por Deus, por merecimento talvez, ou por compaixão deste que sabia tudo de si. Era assim que ela olhava para tudo que aquele homem lhe trazia - um presente.
E assim, acreditou que tudo acontecia como se o próprio Deus estivesse mostrando-lhes um caminho de luz e descanso após outras batalhas, como se certas pessoas e ela mesma fossem marionetes a cumprir o papel idealizado por Ele. E se era assim, sentia-se abençoada e perdoada por estar apaixonada, de novo. Valia a pena "escolher", porque aqueles que não escolhem podem ficar para sempre imaginando o que seria se não tivessem escolhido acreditar que valia a pena investir tudo, entregar-se inteiramente.
Então ela nem mesmo se importou de confessar, sem reticências, sem vergonha, sem pudor, o que sentia. Nem que tivesse de parecer aos olhos dele, um tanto imatura, um tanto tola por estar apaixonada novamente. Nem que tivesse de pedir desculpas e justificar-se por se sentir assim tão viva e feliz, inesperadamente, no momento exato em que nada mais esperava.
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Sim, arriscou-se e fez escolhas mas, de repente, viu-se sozinha neste movimento de ir em frente...
Andou até o meio da ponte e com a ousadia de sua fé, porque acreditava que tudo era idealizado por Aquele que tudo sabia e conhecia sobre sua índole amorosa, foi um pouco mais além do que seus padrões antigos teriam permitido. 
Ela escolheu mas não foi escolhida.
E passou muito tempo sem compreender.
- Então, Por que???!!! Por que tantas coincidências,tantos encontros? Porque o apego e saudade que doía nos ossos? Por que aquele tão grande sentimento, sem nem mesmo cheiro, tato ou concretude?
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E, naquela noite, lendo aquela página do livro, de repente ela percebeu. 
Percebeu como fora importante que tivesse, mais uma vez em sua vida, feito a escolha de ficar inteiramente dentro de alguma coisa - de entregar-se inteira a um sentimento. Os que não fazem isto nunca saberão a resposta, nunca terão de enfrentar a consequência de suas escolhas ou perceber que a dor de não terem sido também escolhidos pelo outro é melhor do que o banho em águas mornas do que não é nada mais do que um oásis dentro de uma noite solitária de sonho. A vida é cruel, por vezes, com as respostas que recebemos diante do assumirmos publicamente nossas escolhas. Mas também é cruel ficarmos assombrados pela culpa por não termos sido o bastante claros sobre o que desejávamos.
Naquela noite ela percebeu que não se sentiria jamais culpada por este pecado- o de não ter tido coragem da integridade de seus sentimentos e desejos. Por lembrar dos desejos, sentiu vir novamente aquela onda que tomava, aos poucos, conta de seu corpo. Contudo, imediatamente fechou as páginas do livro que engoliram esta onda. E calmamente, sem que ninguém pudesse adivinhar se havia tristeza em seus olhos ou apenas sono, ela os fechou e, antes de dormir, disse a si mesma:
- Foi melhor ter feito escolhas. Só assim poderia saber que não fui a escolhida. Não fiz parte da mesma escolha consciente e decidida a abraçar tudo aquilo como se fora uma oportunidade grandiosa de um amor sedento de certas reciprocidades e cuidados mútuos. Era preciso que ela pudesse ver no outro olhar, este mesmo desejo dela. Ela já conhecia o amor, um tipo de amor.  E, a não ser para realizar-se num amor de igualdades e diferente daquele que conhecia, não teria valido a pena. 
Que pena. 
E então,escolheu silenciar a mente e o coração...dormiu.
foto/texto:vera alvarenga  

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Olá! Vim pra te contar...

- Olá! aqui estou eu de novo a falar contigo.
- Olá. De novo? Como estás?
- Estou bem. Tudo vai bem. Como dirias: tudo em paz. Quero saber de ti.
- Estou vivo. Tudo em paz....rs...
- Senti saudades deste teu sorriso. Queria te contar - vai acontecer algo que sonhei. Estou feliz por isto - uma viagem, aquela que me parecia um sonho distante...
- Que bom. Então segue, vive a vida!
- Pois é o que estou fazendo! E viver significa sentir. E seguir a vida, bem, é levar-me inteira comigo. Sentimentos, lembranças, saudades, amigos do peito no peito, sonhos sonhados e os do porvir, desejos, enfim, tu sabes que o que importa não podemos apenas enterrar no passado e esquecer, fazer de conta que não é parte de nós. Não é? Somos grandes ou pequenos conforme o que nos permitimos sentir, lembrar. Eu acho. Posso estar enganada.
- Pra onde vais?
- Antes de lhe dizer quero comentar uma coisa... acabo de me lembrar como era fácil conversar contigo! Pois é, sabe? sinto que somos uma respiração. Por um tempo vamos nos recolhendo, soltando o ar pra fora e as lembranças e as nossas histórias também. E encolhemos, e ficamos no nosso canto, introspectivos, calados, quietos. Alguns não gostam deste vazio, desta solidão consigo mesmos. Eu gosto. É estar no lar. Mas bem prefiro saber que tenho ali ao lado ou pelo menos ao alcance, alguém com quem compartilhar alguma coisa, nem que seja um leve suspiro...
- E...?
- E depois a gente precisa de ar, e movimento, vida...e sai pra fora e inspira novas histórias, relembra antigas, e a gente expande. Então, é isto. Vou conhecer outros mundos, mesmo e apesar de ter pensado que só tu me levarias a conhecer o distante. E não vou sem companhia, embora não seja a tua, o que é uma pena porque imaginei, um dia, que seria bom demais. É tão fácil construir um mundo ideal em nossa mente! Somos todos crianças a planejar aventuras com um amigo imaginário? De todo modo, vou! E vou porque alguém que me ama me possibilitou isto. Tanto tempo sem me distanciar de casa nem mais de 2 km. e agora vou voar pra longe! Acreditas? Nem eu! A coragem? Veio de dentro. E é muita porque levo comigo quem tem motivações bem diferentes. Pensando bem, é como se eu mesma me levasse.... Engraçado, será bom ? Não, não posso ser injusta. Ninguém faz nada sozinho a não ser hibernar, expirar, ou morrer. A companhia é a melhor que posso ter e sou grata. Então foi por isto que vim...também para te contar. Sei que vais alegrar-te por mim. E a ti, como sempre, desejo que nunca mais tenhas as asas quebradas...porque és sonho e um sonho tem de voar para nos levar às alturas também!

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Tem gente que não acredita em magia...

- Você está tão bem naquela foto! Parece que está serena, feliz.
- E por que não estaria? Há tantas coisas pelas quais posso agradecer...e sentimentos que posso resgatar na lembrança...
- Mas ontem à noite você... afinal, o que ainda a comove para que...
- Ah este mundo é mesmo feito de contrastes! quando nos sentimos impotentes diante de realidades difíceis de aceitar, seja na vida pessoal ou em aspecto mais amplo, é isto que acontece : a gente precisa sonhar! Mesmo que no final acabe dando de ombros porque não consegue fazer toda uma mudança sozinhos, mesmo que acabe voltando apenas para os pequenos sonhos do "um dia de cada vez"...é para isto que existem os sonhos, a imaginação criativa, pra gente recordar ou criar na mente imagens e felizes momentos, enfim, pra gente pensar naquilo que nos deixa a alma mais mansa.  
- Mas ontem... o que houve?
- Você não soube? Logo você, que não acredita em magia me diga, do que se tratou então?
- Explique-se ! Não estou entendendo patavina!
- Ora, aquela luzinha verde, aquela sensação boa que vinha junto com as palavras daquela canção, você sabe tudo era real! Você também ouviu, lembra?
- Sim, ouvi, e daí?

- Pois dizem que aquela cidade inteira desmoronou, como se tivesse sido implodida! Sumiu do mapa, virou poeira e depois...simplesmente sumiu!
- Mas como foi isto? Aquela cidade era imensa, tinha até aeroporto, indústrias, o que foi? Uma bomba? um terremoto?
- Não, minha cara. Apenas magia às avessas! Como se o mágico tivesse cansado de deslumbrar quem lhe dirigia aquele olhar de sonho, como se ele tivesse se cansado de ser afeto, de ser lembrança dos melhores sentimentos, de ser sorriso na boca dos inocentes, como se ele não quisesse mais inspirar...Pode pesquisar aí e depois me diga o que pensa a respeito.
- Estou vendo aqui na internet...é verdade! não está mais aqui já faz algum tempo. Fala sério! Onde está?
- Estou lhe dizendo...apenas magia, uma cruel magia que se transforma na mais pura, nua e crua realidade! uma cidade inteira sumiu! Tudo porque aquela pequena luz verde se apagou... eu não a vejo mais, nem ouço a canção dos pássaros, nem sinto o vento que me trazia as folhas de outono, nem os raios de sol da manhã... Eu não a vejo mais acesa, você a vê?
- Você tem razão. Agora acredito em magia, mesmo que seja às avessas...rs...como você diz.
- Pois eu, não acredito mais! E pra sempre vou ter cem anos de idade.....
- !!!???....


terça-feira, 3 de junho de 2014

Coisas pra dizer enquanto é tempo...

Eu já tive muita coisa para dizer, e dizia, as vezes.
Já tive muita coisa que queria escrever, mas não tinha tempo.
Veio o tempo em que eu encontrava tempo para escrever, e precisava fazê-lo porque os sentimentos estavam efervescendo. E eu escrevi, e escrevi, e escrevi por vezes como quem estivesse falando para alguém em quem confiava, e que compreenderia. Contudo,  pessoas são desconfiadas e nem sempre compreendem quando a gente abre o coração e desnuda a alma, como criança feliz quando não tem medo de nada.
A maioria das pessoas inteligentes são também muito desconfiadas. Pensam que se derem ouvidos aos corações eles vão querer mais do que elas podem dar. Isto é um pouco triste, ou pelo menos deixa saudades. Porque algumas pessoas as vezes se afastam, com medo, como se lhes fosse faltar um pedaço se nos mandassem o mesmo abraço de volta. Mas eu também sou assim, as vezes me afasto das pessoas porque penso que não posso dar nada de importante a elas, então dou meu coração em pensamento e pretensiosamente tento enviar a algumas, uma energia boa, em forma de luz... é uma luz que esquenta mas é invisível.
Agora tenho todo o tempo do mundo, mas não estou mais tão ligada ao mundo, eu acho. Estou com preguiça. E, apesar de algumas vezes sentir saudades de alguma coisa, estou em paz.
  É tanta paz que não preciso escrever tanto. Mas isto me assustou por algum tempo, porque nem queria mais ler. É como se meus sentimentos estivessem dormentes ou talvez ao contrário, tenha voltado meu coração em direção a algo que não pode me abandonar, se eu não quiser - um amor que temos incondicionalmente porque depende unicamente de nós mesmos, em certo sentido. Depende da fé. Aliás eu sempre tive fé nas pessoas, mas nós somos complicados.
De qualquer modo, meu coração queria tanto sentir uma outra forma de amor que ao me dirigir para ele, talvez minha capacidade de amar a vida como ela é tenha me trazido de volta um bocado de carinho que não me passa desapercebido, de jeito nenhum, é claro.
Ainda sonho, mas não como quem deseja e sim, como quem lembra.
Então, quem é o filho do amor? O próprio amor. Quem seria a mãe do Amor? A vontade de amar e ser amado. Ou a fé...ou a auto ilusão, diriam alguns mais desconfiados.
Mas tudo está tão tranquilo, que  quase me assusto, mas acho bom. Tudo está tão tranquilo que até esqueço que estou envelhecendo e desta vez, é pra valer! Tudo está tão tranquilo que as vezes tenho de afastar o medo com meus bons pensamentos. Então lembro de alguém ou alguma coisa que me faça sorrir.
   Será que as pessoas sentem isto que sinto quando estão envelhecendo e pisando nas folhas do outono?
Tudo está tão tranquilo que até me esqueço que sinto saudade...Penso que as transformei em lembranças.   E lembranças eu não esqueço. Sei que há buracos pelo caminho cujo fundo nem mesmo consigo ver e que parece que nunca serão preenchidos. São assim os caminhos. Nem tudo é apenas encantadora paisagem. Não estou mais triste. Digamos que só fico triste porque acho que não é bom sentir saudades porque alguém foi embora. A gente devia poder abraçar, de vez em quando, as pessoas de quem sente saudades. Mas, desconfio que mais uma vez, adocei meu caminho, e mesmo no silêncio parece que estou encontrando favos de mel. Quando era menina, comia uma parte de uma flor porque sabia que era doce. Ainda bem que meu olhar não se amargou. Que bom!
Não quero ficar eternamente no silêncio ou hibernando como uma mamãe ursa. Quero deixar aquele meu beija flor sair do meu peito em direção ao sol. E quero ter fé, porque só assim se recebe aquele tipo de amor que não nos abandona. E se o amor preencher nosso coração, como uma coisa leva a outra, a gente recebe mais amor de quem ainda não quiser nos deixar apenas saudades...
Foto e texto: Vera Alvarenga

domingo, 26 de janeiro de 2014

Uma boa sugestão...

 Alguém compartilhou este texto no Facebook. Não costumo colocar aqui no meu blog textos que não sejam meus ou de minha responsabilidade,mas este simplesmente é ótimo, não artificialmente poético, mas verdadeiro e atual e acho que é mesmo nisto que está a poesia...Hoje eu também diria isto para uma filha, se eu tivesse uma - case com alguém que goste de curtir a vida com você, que goste de estar em sua companhia e lhe demonstre isto, fique com alguém que te faça sorrir e ria junto com você, pois a vida já nos traz responsabilidades e momentos difíceis demais que teremos de enfrentar sozinhos e, se estamos junto com alguém é para fazer esta pessoa feliz e sentir-se bem na maior parte do tempo em que estivermos juntos, e vice/versa não é mesmo?... Adorei.
E aqui vai o texto:
"Casamento: modo se usar. Case-se com alguém que adore te escutar contando algo banal como o preço abusivo dos tomates, ou que entenda quando você precisar filosofar sobre os desamores de Nietzsche. Case-se com alguém que você também adore ouvir. É fácil reconhecer uma voz com quem se deve casar; ela te tranquiliza e ao mesmo tempo te deixa eufórico como em sua infância, quando se ouvia o som do portão abrindo, dos pais finalmente chegando. Observe se não há desespero ou insegurança no silêncio mútuo, assim sendo, case-se. Se aquela pessoa não te faz rir, também não serve para casar. Vai chegar a hora em que tudo o que vocês poderão fazer, é rir de si mesmos. E não há nada mais cruel do que estar em apuros com alguém sem espontaneidade, sem vida nos olhos. Case-se com alguém cheio de defeitos, irritante que seja, mas desconfie dos perfeitinhos que não se despenteiam. Fuja de quem conta pequenas mentiras durante o dia. Observe o caráter, antes de perceber as caspas. Case-se com alguém por quem tenha tesão. Principalmente tesão de vida. Alguém que não lhe peça para melhorar, que não o critique gratuitamente, alguém que simplesmente seja tão gracioso e admirável que impregne em você a vontade de ser melhor e maior, para si mesmo. Para se casar, bastam pequenas habilidades. Certifique-se de que um dos dois sabe cumpri-las. É preciso ter quem troque lâmpadas e quem siga uma receita sem atear fogo na cozinha; é preciso ter alguém que saiba fazer massagem nos pés e alguém que saiba escolher verduras no mercado. E assim segue-se: um faz bolinho de chuva, o outro escolhe bons filmes; um pendura o quadro e o outro cuida para que não fique torto. Tem aquele que escolhe os presentes para as festas de criança e aquele que sabe furar uma parede, e só a parede por ora. Essa é uma das grandes graças da coisa toda, ter uma boa equipe de dois. Passamos tanto tempo observando se nos encaixamos na cama, se sentimos estalinhos no beijo, se nossos signos se complementam no zodíaco, que deixamos de prestar atenção no que realmente importa; os valores. Essa palavra antiga e, hoje assustadora, nunca deveria sair de moda. Os lábios se buscam, os corpos encontram espaços, mas quando duas pessoas olham em direções diferentes, simplesmente não podem caminhar juntas. É duro, mas é a verdade. Sabendo que caminho quer trilhar, relaxe! A pessoa certa para casar certamente já o anda trilhando. Como reconhecê-la? Vocês estarão rindo. Rindo-se." 

Se alguém souber quem é o autor, me avise e terei prazer de colocar aqui.

domingo, 21 de julho de 2013

Amanhã...tomar um café e lembrar dos amigos...

 
Minha avó já dizia..." Burro velho não pega trote!"
Pois então... eu estava aqui pensando...quase meia noite e vi agora pouco no Face que é dia do amigo. E tem gente que tem muitos amigos.
Destes que a gente encontra de vez em quando, para beber alguma coisa, conversar, rir um pouco, falar da vida, ir ao cinema junto e comentar sobre o filme, falar abobrinha, contar os planos...enfim...( ou será que é só literatura?...rs). Amigos não caem do céu, de repente. Vem do trabalho, da escola ou das proximidades...sim, são os que se aproximaram e assim ficaram. Amigo lembra abraço e, para isto precisamos estar próximos de vez em quando.

Bem, eu sou uma mulher comum e tive alguns poucos e bons amigos... tenho ou tive, nem sei... porque na verdade a vida de gente como eu foi passando e cheia de coisas pra fazer, um trabalho dentro de casa e o da cerâmica que ocupou quase o tempo todo, e os amigos foram ficando distantes,seja pela distância fisica, seja por falta de tempo ou pela ausência do hábito de conviver...
Pena isto. Acontece com muita gente, esta solidão que a gente aceita como parte da vida.
   Hoje, depois de 17 anos volto para São Paulo, mas não me aventuro a sair por aí de carro, sozinha, para rever os poucos amigos que sobraram. E sempre penso que eles estão ocupados, tem sua vida para cuidar, o que diríamos um ao outro? Sim, amizade é algo que se deve cultivar, para ser natural e não ser sentida como uma "interferência"... interferir no que mesmo? Nos hábitos solitários ou exclusivistas de cada um.
  Na verdade, o que estava pensando é que, apesar do meu jeito mais introspectivo, da total falta de hábitos sociais, bem que hoje gostaria de ter criado o hábito do encontro com um amigo ou amiga, daqueles por quem a gente sente carinho especial, afinidades, e com quem se sente muito à vontade. Ah! pelo menos uma vez por mes, ir a um cinema ou ir apenas tomar um café, jogar baralho, conversar, sorrir um pouco... sair do meu cantinho, que eu adoro, é claro, mas que ainda estaria aqui quando eu voltasse.
...Mas, burro velho não pega trote. E não tenho este hábito de sair por aí, só por sair...

Amanhã, contudo, vou sair... mesmo sozinha..aqui pertinho, num café. Vou sentar-me lá... E fazer o quê???
Talvez eu leve meu kindle que comprei recentemente. Fico lá por alguns minutos. Vou lembrar do meu amigo Antonio Carlos, com quem uma hora de papo passava tão depressa e sempre guardávamos algo a dizer, para a próxima vez. E vou me lembrar de cada uma das amigas ou amigos que eu bem gostaria de ter ali do meu lado para conversar um pouco! Um de cada vez, claro! ou no máximo 4, para que a conversa pudesse ser mais íntima, olhos nos olhos, todos realmente interessados um no outro e nas coisas que tivéssemos a contar. Vou saborear meu café delicioso, caminhar pela sombra das árvores da rua onde moro e feliz por estar viva e nesta maravilhosa condição que me proporciona optar por este prazer!
   Ainda bem que a internet e os emails nos aproximam dos amigos que a gente quer bem.
 


quarta-feira, 10 de julho de 2013

Palavras...

 
 Ah...estou pensando nas palavras...novamente as palavras...
  Elas me perseguem ou eu a elas? Não sei. Já gostei tanto delas e hoje as esqueço tão facilmente. E já não as compreendo como antes. Para mim, hoje, não fazem o sentido do que é apenas verdade, como quando eu acreditava nelas sem desconfiar que um dia, modernamente, seriam usadas apenas como figuras. Figuras socializadas, de linguagem, modo de falar, não foi o que se quis dizer... Mas a verdade, não pode mesmo ser dita apenas em palavras, é preciso o gesto! Então, tudo bem.
  Ah... mas elas tem peso. As que me chegaram agora são como plumas, como uma pena que alguém passou suavemente em meu rosto para me acariciar, para brincar comigo. Então, era quase um gesto! E quase não acreditei nelas, porque não tenho o hábito de vê-las daquele modo, ajuntadas talvez até sem nenhuma grande intenção, eu sei, mas arrumadas daquela maneira e dirigidas só para mim, num pedaço branco do que antigamente seria uma folha de papel para um bilhete.
  Há palavras pesadas. Estas eram leves. Ah...Se pudéssemos nos construir por muito mais palavras assim leves e claras e cheias de boa semente... seria tão melhor! Nenhuma flor jamais murcharia triste por ter um fim. Todos, nós e elas, saberíamos nosso valor e apenas cumpriríamos nossa missão, nosso plano de vida e simplesmente deixaríamos lugar para o que viria depois. Há olhares que ferem, mesmo sem palavras. Há olhares que já feriram por falta de compromisso e agora já não ferem mais porque se acomodaram na grande verdade da vida e sabem finalmente, que não deveriam ter sido tão duros.
  E há olhares que não nos tocam verdadeiramente "só" porque não estão ali. Apenas os intuímos, imaginamos, quase podemos senti-los. Eles vem com palavras que nos fazem bem e precisamos aprender a recebê-los, sem cerimônia, sem modéstia, sem nos preocuparmos muito com a intenção. Apenas recebê-los como o carinho que são. E como fazem bem!
Texto Vera Alvarenga
Foto retirada do Google imagens 

quarta-feira, 5 de junho de 2013

A mulher da floresta...

   
  Havia uma mulher estranha, outrora bela, que hoje morava numa floresta. No interior do tronco de uma árvore muito antiga.
Por muitos anos, todas as manhãs abria sua janela para receber a luz do sol e ouvia o canto dos passarinhos que ali viviam. Ela os alimentava com o melhor que lhes podia oferecer. Então era feliz e achava que o sol brilhava um pouquinho também por ela, e que os pássaros também cantavam um pouco para ela, embora soubesse que era da natureza de cada um, fazer o que fazia.
   E ao preparar seu café da manhã, uma poção que tomava todos os dias, misturava suas coisas com a dos outros... 
   Assim, acrescentava um pouco do brilho do sol e algumas notas de um pássaro em especial em sua receita. Como se faz com vinhos ou perfumes, estas "notas", ela pensava, na medida exata, eram o que a fazia sorrir e enfrentar tudo o que o mundo lá fora trazia como desafio, tudo que pudesse de algum modo interagir com sua sensibilidade e jeito próprio de viver sua vida. Era no que acreditava. E ela se sentia forte e cheia de amor.
   O tempo foi passando e quase todos os passarinhos voaram para outros mundos. Um inverno mais rigoroso chegou, ela não se sentia tão forte e o sol não brilhava mais como antes. Nem o chá de maçã, vinho e canela bem quente podia aquecê-la como outrora. Ela pensou que ia morrer de frio e desânimo, sem a poção com a tal receita que tomara por tanto tempo. Já não abria mais sua janela para não congelar-se.
   Um dia, o vento inesperado abriu a tranca... o sol entrou... e ouvindo o canto de um novo pássaro, seu coração encheu-se de amor. E ela, que já não sorria, voltou a fazê-lo toda vez que ouvia a canção. 
   E novamente se pôs a misturar tudo - as suas coisas, o brilho do sol que para ela representava vida, e o canto do pássaro, que para ela era a inspiração que, como um sopro morno, esquentava-lhe a alma.
   Sem saber se cometia o mesmo erro ou se era próprio da vida, constatou que o amor que a sustentava, não podia brotar eternamente apenas da sua fonte interior. Para encher-se de amor, era preciso mais - o sol e o canto de um pássaro raro que lhe tocasse a alma, como amigo. E quando aconteceu, embora não tivesse a mesma coragem de antes, ao sair para fora, já não a incomodavam mais as buzinas, o trânsito, as injustiças, as grosserias e seu próprio medo, fruto de um tempo em que viveu reclusa e não se importou por faltar-lhe o alimento que a deixava saudável e forte. 
   O tempo passou. Ela já sabia que não bastava a sua capacidade de amar e seus próprios sentimentos, para encher-se de amor. O brilho do sol, no céu, era para todos, e brotava-lhe também incontrolavelmente do coração, quando estava feliz. Contudo, não podia fazer o pássaro cantar para si. Com medo que o pássaro fosse embora para nunca voltar, prometeu, a si mesma, tentar não misturar mais as coisas, esquecer aquela poção cuja magia transformava o mundo. Logo percebeu que repetia o que antes fizera - tentava agradar para receber amor. Talvez fosse o que todos fizessem, afinal de contas!
   Contudo compreendeu que seus sentimentos, se não compartilhados, eram apenas seus. Tomou posse deles e de seus desejos e descobriu que jamais poderia voltar a sentir-se segura e plena de amor como antes. Ninguém pode, quando perde a receita do amor. Entretando, há várias formas de amar e viver, quando se consegue manter os olhos atentos.  
   Mas em noites de lua cheia, ela ainda se deixava levar... tomava um líquido de sabor acridoce e, em pouco segundos, sentia nascerem-lhe as asas.... e sonhava que era ainda uma das mais belas e felizes mulheres aladas... e se deitava nos ombros do homem amado e adormecia embalada por sua respiração...

foto e texto: Vera Alvarenga

terça-feira, 21 de maio de 2013

Um urso na floresta...

Ela era tão tola, que doía.
Toda manhã ela ia ao seu jardim em busca daquele olhar...
E nada mais era além de apenas um olhar. Nada mais significava de concreto ou real. Contudo, ela ou as circunstâncias uma vez tinham feito deste olhar um momento especial de alegria, que em certa ocasião e, quando as ondas do mar a deixaram enjoada, lhe serviram de bóia, e a levavam por instantes a uma ilha bem próxima ao paraíso. E na ilha havia frutos que lhe devolviam a energia.
   Assim ela tinha experimentado esta vivência e aquele olhar. Tudo com uma luminosidade virtual de promessa, de magia, de coisa pré-determinada pelos deuses. Mesmo quando os deuses saíram voando em suas carruagens ou asas douradas, ela teve tempo de tomar para si aquele significado.
   Ou será que foi a magia do significado que tomou a ela? Mais provável isto, com certeza. Porque ela não precisava fazer nada, além de ver lá na caixa do correio o remetente, vindo de uma cidade não tão distante quanto a distância absurdamente intransponível que a separava daquele olhar, agora.
   E na caixa de correio, não eram mais palavras que ela encontrava. Apenas uma luzinha pequenina, verde, que piscava mostrando que ele estivera lá para vê-la. Somente isto. E neste quase nada de luz, ela simplesmente resplandecia, num sorriso interior que a fazia ter um dia ainda melhor do que normalmente seria. Tudo porque era tola. Tudo porque o significado que nem ela mesma compreendia, a arrebatara uma vez, quando foi deixada à deriva. Tudo porque uma vez foi salva da tempestade, num dia que ficava mais distante conforme o tempo teimava em passar com sua constância e a persistência do sempre...
Nada mais era real ou seria para ela, sem aquele pequeno sinal. Será que fora, algum dia?
Não se importava em responder tal pergunta, pois pensar nisto a deixava triste, justo a ela que sempre tivera o dom de transformar tudo, mesmo o que parecia morto em algo que podia renascer e viver de algum outro modo. E ela já estava ficando muito velha para tentar explicar ou entender todos os significados.
- Cada um com seus vícios, apoios, sonhos ou truques, pensava ela. Afinal, eles nos ajudam a transpor longas distâncias em mares bravios, ou planícies ressequidas, até que tudo não passe de um momento que o vento levou. Ela amava o vento e a brisa, mas não o vento que levava tudo embora.
  Então, lhe restava o que guardara em seu coração - um sentimento de lealdade a um gesto que não mais existia, mas do qual, a lembrança alimentava, como outras doçuras de sua vida, a parte terna e doce de si mesma. E ela não queria secar como as folhas que caem no outono, mas como a árvore cuja seiva, de tão doce, poderia ainda alimentar aquele urso da floresta. Aquele que todos conhecemos e mora nas entranhas de nossa própria terra, e fica raivoso quando faminto, ou quando algo ameaça seus filhotes ou aquilo em que acredita. Pois foi para isto que fora criada. Para aprender a descobrir em si, alimentar  e resgatar a doçura daquele urso fêmea que, de outro modo, seria capaz de destruir o que havia de belo na floresta e em sua própria natureza...
Texto e foto: Vera Alvarenga
  

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Rotinas, "espontâneamente" cultivadas, são fundamentais...


Viver dá trabalho. E viver sem rotinas dá mais, para qualquer um, aposentados ou não, todos precisamos das rotinas que nos facilitam as coisas. Mas estou pensando naquelas que vem de uma atitude que um dia foi novidade e espontânea, e depois virou rotina que só existe porque faz a vida ficar mais gostosa. Pequenas rotinas...
- Não é importante, diriam alguns. Se não leva a nada, pra quê?
- Ah! é sim! se é! são bem destas coisas que a gente sente saudades ou lembra com um sorriso, como se fosse uma trégua ou intervalo pra relaxar no meio a tudo o mais.
   Como a rotina que eu e meu amigo Antonio Carlos tínhamos uma vez por semana, ao voltarmos do atelier de escultura do Calabrone. Eu dava carona a ele até minha casa e ele continuava dali, sozinho o resto do caminho, não sem antes, durante o trajeto, conversarmos sobre nossas coisas. Falar de um projeto, comentar o tema em aula e mais raramente sobre algo mais importante da vida de cada um. Coisa rara a gente poder falar com alguém sobre o que quiser. E a gente tinha isto.
   Quando parei o curso, esta rotina foi abandonada. Normal, vida corrida pra cada um de nós e, quase já não falávamos mais. Que pena. Que mania a minha de não gostar de telefonar, de ser meio bicho-do-mato. E naquele tempo não tinha emails. Agora, o que não temos mais é o contato a não ser em pensamento. Ele, lá no céu, fazendo esculturas para São Pedro e eu aqui, não fazendo mais escultura nenhuma e há muito, sem meu atelier. A gente bem que podia ter mantido contato, só pra dizer um "Oi", "Bom dia!" o que anda fazendo, como foi a semana? Ah, tudo bem por aqui e não estou fazendo nadinha, já seria de bom tamanho. Ou, eu estou confuso, ou doente, vem me ver... Como eu gostaria de ter sabido.
   Tem coisas que fazem bem e não custam muito, e como eu costumo dizer às vezes, "põem um sorriso na nossa cara" e a gente bem que devia continuar a fazê-las. Não estou me referindo a uma porção de emails e frases vazias, no meio de uma correria só para se manter antenado ou ligado com milhões de pessoas ao mesmo tempo. E gosto muito de poder ter amigos virtuais, pois que entre eles, alguns se tornam especiais, mas isto é outra coisa. Estou falando daqueles por quem a gente tem um especial carinho, que a gente sente que são parte da nossa vida, e são a boa parte. Com eles sempre vale a pena a gente cultivar uma troca gentil de gestos que adocem a boca.
   Algumas rotinas bem que deviam poder continuar... Algumas valeriam a pena a gente criar...Ah, não faz mal que a gente tenha de criá-las, trabalhar nelas, se comprometer...é por isto que são boas.
   - E aí, vamos assistir a um filme por semana, bebendo vinho? Que tal um joguinho de cartas? Um bom dia pela manhã, uma vez ou outra, contando as novidades? Ou como aquela à qual, em casa, nos habituamos. Antes de sentarmos para o café da manhã, tem um abraço que gosto de dar... por tantos motivos e nem que fosse por apenas estarmos começando vivos um novo dia.
E um dia começou a ficar meio rápido... e é aí que a gente tem de ficar atento. Não vale fazer só por fazer, é como beijar olhando o futebol na TV!...rs....
   - E aí, dormiu bem? Uma simples mas interessada pergunta. E a mão, que nas costas tem de descer um pouquinho, interessada no abraço. Sim, assim mesmo que é bom, é assim que eu gosto. E entre sorrisos ele lhe dá um tapinha...de leve, e foi espontâneo. Viu só, como é bom "cobrar" pequenas atenções? Como à noite, antes de dormir, aqueles primeiros minutos no início do sono, deitada no ombro do homem que é nosso companheiro. Se não fosse isto, do que teríamos saudades quando um viaja e o outro fica? das brigas, grosserias, discussões? Claro que não. E do amigo que sumiu ou morreu, nos lembraríamos do que?
   Algumas rotinas, como o cafèzinho com minha mãe em casa dela, deixam uma saudade boa... sempre valem a pena, porque são especiais. É a melhor coisa que fica do que vivemos com alguém. São as boas lembranças, que dão mais sentido e nos confirmam que estávamos comprometidos com os que queríamos bem. Não é?

Foto e texto: Vera Alvarenga 

terça-feira, 16 de abril de 2013

Hoje ouvi o doce murmúrio de uma fonte...


Uma vez encontrei um tesouro. Não porque fosse ouro ou pedra preciosa de qualquer espécie, mas porque tinha, para mim, imenso valor. Porque surgira quando e onde jamais esperava, até porque eu nada mais esperava.
Eu o queria pra mim. E queria que quisesse me pertencer e me ter. Como o reflexo que, pelo que o reflete, vive. Como aqueles que pensam ser dois mas se sentem mais fortes porque são um. Ou vice e versa. Como o sonho que pensa que é dono do sonhador, e segue como se tivesse vida própria, porque o outro assim o permite, por amor.
Não era ouro, não era pedra, não tinha cor. Apenas eu o via e assim o sabia. Meu tesouro, o que era de valor, não tinha gosto, nem cheiro, nem forma que eu pudesse tocar, mas eu acreditava que saciaria minha sede, tão antiga como antigo era o meu mundo, por mais que eu tivesse sido feliz nele. Era como água cristalina e pura na qual eu queria mergulhar inteira, sem precisar me debater para não me afogar.
E vinha de uma fonte. Quando fui abraçá-la, sumiu. Nunca mais ouvi seu murmúrio, que para mim era como o barulhinho doce do riacho a correr lento sobre as pedras, nas sombras de um entardecer do verão que findava.
Foi tão surpreendente me dar conta desta visão nova para mim, que não queria perdê-la. Não podia!
Mas sumiu! Meu Deus, o que fiz eu?
Então, além das ventanias que há pouco acabara de enfrentar, e que nada mais eram do que o mal tempo já previsto embora não desejado, agora era o silêncio, a agonia do último sonho. Deparei-me com a culpa pela ousadia do sonho e por não ter sabido o que fazer com ele, e encarei o medo de envelhecer para sempre até lá de dentro dos ossos, até o fundo da minha alma, sem mais ser tocada pelo que parecia a fonte de onde nascia um arco-íris.
- Depois que se vive muito, é fatal envelhecer e desistir - assim me disseram.
Desisti. Pois desistir daquilo que não se pode ter é a coisa mais prudente e correta. E da desistência me veio a paz de quem volta a ser feliz, porque mais nada espera. Felizes os que não criam expectativas, já ensinou alguém a outros. Quem sabe por isto, para não criarem expectativas em relação às pessoas é que as pessoas tem tantos desejos então por possuírem coisas.....
Entretanto, tenho outra natureza, sou menos prudente do que me ensinaram...decidira guardar um segredo, apesar de tudo.
O meu segredo era apenas a imagem do que eu vi ou concebi um dia. Sem consistência ou verdade alguma, era mais verdadeiro do que tudo aquilo que podemos possuir, e ficamos anos lutando para não perder. E era meu. E estava em mim. O meu tesouro por si só era bom e sua presença me fazia bem, sem que eu pudesse interferir nisto, ou precisasse lutar para mantê-lo. Acho que ele é que me mantinha este tempo todo. E dele, que agora conscientemente estava em mim, me contentava em beber gotas. E por estar em mim, não será destruído enquanto eu não quiser, ou pelo menos enquanto conseguir me permitir ( sim, porque toda fonte que não se auto alimenta, um dia seca, pensei ).
  Eu brincava com ele, porque sabia que era apenas criação minha e não mais existia...Nem aquela que brinca existe.  Vive por trás de uma cara séria e compenetrada que envelhece agora, calmamente.
  Hoje, surpresa, ouvi um certo murmúrio e, ao duvidar, até senti alguns respingos em meu braço! Era verdade, estava lá! " Vi com estes olhinhos que a terra..."
   Surpreendentes são estas coisas que temos em nosso coração e, às vezes, agem como se tivessem vida própria! E como isto nos faz bem...Pra que fingir? se sei o que vejo e sinto, embora não explique.
  É como o personagem do livro que escrevemos e, de repente, nos surpreende com sua própria fala!
  Se eu pudesse, se fosse jovem, naquele momento meu coração teria saído pulando de alegria, feito uma cabrita, pela relva úmida! Ou, como mulher, na lua cheia, teria saído eu a dançar e rodar com os pés na areia e braços e cabelos ao vento! Mas tenho a dignidade dos que envelhecem com sabedoria...dos que querem ser felizes na paz, porque já sofreram.
  - ( Então, Psiu! quieta!). "Tudo é passageiro. Tudo é ilusão. O vento leva tudo". (Tudo o que é apenas exterior, eu retruco).
Nada é tão consistente como o que está no  coração( me lembrei), e isto sim, é de minha autoria, sabedoria de minhas entranhas. Seja no meu coração, ou no de quem quer que seja. Nada é tão verdadeiro quanto nossa própria mentira (ilusão) necessária, ou quanto nosso desejo insatisfeito e sedento que por algum tempo escondíamos de nós mesmos - Nada é tão verdadeiro quanto nosso sentimento. Não é preciso lutar com o que é verdadeiro. No amor se pode descansar.
  - Então, lembre-se...sim, tocar apenas o que realmente nos toca, o que é "real", pesar ação e reação na mesma balança, na mesma medida... se conseguir...parece ser uma boa norma para o bem viver a realidade deste mundo.

   ...Mesmo assim, não sou de negar o que sinto. Olhei pela janela. Eu já estava em paz, mas o dia, então, me pareceu por ora, mais azul e iluminado...  e tive de colocar aqui esta canção...estou nela...

Texto e foto: Vera Alvarenga
Canção : "Sonho de Ícaro" - Biafra

domingo, 3 de fevereiro de 2013

O telefonema

  Estava passando, distraída, ao lado do telefone, quando algo acordou-me do tédio que não costumava sentir, mas agora me visita. Telefonei. Ninguém imagina como me custa fazer um telefonema. Telefonar foi um hábito que não criei. Foi uma conversa rápida. Apesar do assunto, ao final terminamos sorrindo como geralmente terminam as conversas de pessoas que se ouvem e se gostam. Do outro lado, alguém de quem gosto bastante contou-me, entre outras coisas, que uma tia distante morreu.
  A tia era bastante idosa e sua morte fora prevista várias vezes, com direito à visita e preocupação , por um ou outro parente. A todos porém, e à própria iminência da morte, a senhora idosa havia enganado. Alguns familiares mais jovens foram-se antes dela que, teimosa, permaneceu por quanto tempo ainda quis. Contudo, ela agora se fora. E como em outros casos, talvez a morte já esperada, não se tenha tornado o personagem mais importante desta história, mas sim, os figurantes que trazia consigo, o cenário que deixava à mostra, o que fazia refletir sobre a vida. Como por exemplo quando marcava um encontro de familiares que já não tinham mais nada a ver uns com os outros, se a amizade houvesse se acabado.Talvez o sentimento nem tivesse resistido verdadeiramente, também em relação àquela que acabara de morrer, por todas as vezes que alguém se sentiu como que traído pelos falsos anúncios daquela visita, que mais dia menos dia, bate à porta de cada um de nós, mas se demorava a levar a velha. Ela enfim, se foi. Quem sabe cansou ou se encheu de tédio.
  Tédio não faz bem, engorda, prejudica o coração e tira o gosto doce da vida. Tédio, o companheiro dos solitários, dos que vivem silenciosamente ou dos que, na ausência do sentimento recíproco de amizade, perderam o caminho que os levava aos momentos mais espontâneos, simples e vívidos que animam o viver. Mesmo que gostemos de nossos momentos de solidão, tem gente que se perde um pouco, se não conseguir ver-se refletido nos olhos de outro. Não é certo nem errado, apenas existe gente que é assim. Evidentemente, sempre há os que digam : - Que se encontre então! Que se salve e por si mesmo descubra a vida! Seria o ideal. Ideal, é quando a razão pensa que sabe o que fazer, mas o resto não acompanha.
Só sei que, quando desliguei o telefone, estava sentindo-me mais viva.
   Incrível o poder que tem uma rápida conversa entre amigos que se gostam. O poder de desatar os nós, até das tramas mais enroscadas de um casulo. Mesmo daquele em que se esconda o mais tímido e comodista animalzinho. Não é culpa de ninguém, nem minha porque conto esta história, eu, que gosto de casulos apenas para me aconchegar. Nem é culpa de quem, já sendo dado à quietude e, ainda mais, não tendo com quem conversar suas próprias falas além de ouvir as do outro, acaba por penetrar no casulo que, se algumas vezes aconchega, ao mesmo tempo, aquieta em demasia.
   Lembrei-me de um amigo com quem conversava de vez em quando. Para mim, era algo raro e precioso a que me permiti. E conversávamos pouco, coisas tolas ou importantes. A gente tem necessidade de ter alguém com quem possa conversar coisas simples, comentar sobre nossos pequenos desejos ou iniciativas que planejamos ter, contar pequenas vantagens. Um amigo que acredite em nós e nos ouça, só por isto nos encoraja e anima. Eu, que por muito tempo pensei que amizade fosse algo precioso mas secundário se não viesse junto daquilo que tivéssemos julgado ser o maior objetivo de nossa vida, hoje sei que não é bem assim.Tenho certeza disto. Hoje me falta o amigo. E ele, apenas por existir, me animava. E quando a gente se anima, acredita em si, faz planos.
A vida passa tão rapidamente. Dura tão pouco! Quanto tempo dura a vida quando se pensa na eternidade? A vida é um bem precioso. Um bom amigo também. Sinto muita falta.   
   Mas tenho a vida. Ouço a voz que conversa comigo. Ainda sou eu, ela dentro de mim, a me fazer companhia. E ela me sacode às vezes, me compreende outras, porque me conhece, me abraça e concorda comigo quando penso que tem de haver alguém superior a nós, a nos dar um sentido maior, a nos consolar quando descobrimos nossas fraquezas. E, de vez em quando ela me convida... – Vem, passa um baton, vamos sair um pouco deste casulo! Eu te faço companhia...  
Foto retirada do Google
Texto:Vera Alvarenga 

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Nos emails dele...

    Começo de ano. Caixa de correio cheia, emails que ele nem abria mais, há algum tempo. Era o momento certo para deletar tudo - Ano Novo, vida nova.
  E lá estava um e-mail dela. Há meses eles se corresponderam. Tinha sido importante numa fase em que a vida estava difícil com a perda que o abalara tão profundamente. Ela dissera que também sofrera uma perda. Ele lhe incentivara a continuar. Ela lhe emprestara suas asas, bem que ele  reconhecia. Mas vieram outras perdas. A vida, às vezes sabe ser ainda mais dura.Tudo mudara muito. Não tinha mais tempo para amizades virtuais. 
   Parou de escrever-lhe. Por que ela também não fazia o mesmo? O que a movia a escrever-lhe como se tudo continuasse como antes? Ela não sabia que o tempo leva tudo? Seria doida? Uma mulher como tantas outras com sede de afeto, que não sabia viver sua solidão e se apegara a ele como se fosse uma oportunidade de recomeçar sua vida, talvez. Mas e ele? Ela não se importava com o que ele queria?
  Antes, ela confessara, pensou que ele fora um presente de Deus em sua vida, com tantos sinais que de início não compreendera, mas que depois ficaram claros. Como ela podia pensar isto apenas por aquelas pequenas coincidências, e se até mesmo Deus parecia haver esquecido dele?   
   Depois, ela disse que não esperava mais nada dele mas desejava sua amizade. Não, ela não podia estar falando sério. Não podia ser tão crédula e ingênua sendo tão velha! Ou então estava confusa. Era uma artista, romantizava tudo, com uma criatividade absurda misturava ilusão à realidade. E ele, não era homem de confundir as coisas. Ele tinha desejos, mas não tinha planos. Ou pelo menos não, os que pudessem fazer juntos. Por ventura ela acreditava que Deus os havia aproximado porque sabia o que acontecia a ambos? Isto tinha sido uma explicação que respondia às incertezas dela, não as dele. Sem dúvida, era apenas uma mulher simplória demais, que colocou a vida nas mãos de Deus, talvez porque nunca o tivesse feito, de fato, antes. Uma vez ela contou-lhe que fez isto porque estava cansada de tentar fazer tudo dar certo, sozinha. Depois de tantas perdas, ele também estava cansado. Precisava seguir a vida e adaptar-se da melhor forma. E ela não estava nos planos dele.
   Mas quem sabe, para Deus, podia abrir uma exceção. Quem sabe pudesse colocar sua vida nas mãos dele, com a simplicidade de um homem que sabe que necessita fazer a sua parte, mas que uma ajuda divina seria bem vinda para aquele novo ano...
foto retirada do Google imagens. Texto: Vera Alvarenga.

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