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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Quando não sentirei mais este amor me tocar?

Você!
Você nunca sente saudades?
Nunca sentiu saudades de algo que vislumbrou, e era tudo o que jamais antes pensou que lhe faria tanta falta?
Nunca olhou naquele lago e de repente viu refletido nele tantas coisas que agora, pareciam  sem sentido, diante do que estava a um passo de o tocar?
 Aquilo que você jamais pensou precisar, pois que tudo você acreditava ter e amar, e nada mais queria de sua vida, porque você era uma pessoa doce e simples e pouco era o que precisava para viver...aquilo que você experimentou sentir tão intensamente, mesmo sem compreender como antes estivera escondido. Aquela ausência do que podia ser, nunca o assombrou?
 Não sei que coisa em mim me faz pensar assim! Que tudo o que parece intocável, na verdade está a um palmo de nosso alcance uma vez que tenhamos consciência de onde está. Bastaria estender os braços e o tocar...tomar para si ao mesmo tempo em que todo milagre estaria, finalmente em se dar, inteira e simplesmente, ao verdadeiro amor maior, pelo qual, todos nós ansiamos....
   Ah! que pena...mas não é tão simples assim....

foto/texto:vera alvarenga

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Saudade Renato Teixeira(poesia de Mário Palmério)


- Hoje to triste, cara.
- É o vinho, Moraes. Você não tá comendo nada. Pega aí o provolone.
- Não é não. É que me bateu uma saudade danada, sabe, daquele sentimento que quando a gente tem, faz todo sentido, faz a gente...
- Ou daquela mulher?
- É. Dá no mesmo. Você sabe, a gente se sentir vivo novamente, pulsante, como dizia o Silva. Aliás, aquele, entendeu-se lá com aquela amiga dele, bem mais nova. Bonita até.
- Mas a tua, não era nova, né?
- É. Tem a minha idade. Portanto não é velha! Madura eu diria. E me fazia sentir o maior e o melhor dos homens... Sabia o que queria.
- Ela estava apaixonada, não é? Sem dúvida, meu amigo, isto é bom. Eu, por mim, desconfio um pouco dessas que agradam tanto...
- Não é isso. Você tá enganado. Para ela, eu era melhor do que aquele com quem convivia. Sei lá, um relacionamento daqueles que a gente não entende porque duram tanto! Não é por nada, mas acho que ela cometeu aquele erro que é fatal para a efêmera felicidade. Comparação. De repente, como ela mesma disse várias vezes, ficou perdida lá naquele quintal dela. Sabe o que ela me disse? Que diante do amor..o que não é amor, de repente, parece grosseiro. Parecia ter uma sede de pular aquele muro, de conhecer o mundo. Pular, não! Voar comigo, como ela dizia. Até emociona, viu? Aquela ingenuidade com a qual me falava do que sentia, lembrar o jeito como ela me via, como alguém que...
- Ah! e quem ia pagar este voo para um novo mundo?
- Você não acredita em ninguém? Ela era diferente, confia em mim. Era sincera. Acho que me superestimava até! Como pessoa, porque não sabia o que tenho. Hã... Ela queria poder conversar, aprender, ouvir, enfim, queria alguém um pouco mais parecido com ela, sabe como é. Tinha uma solidão tamanha que... Bom, confesso que seria melhor se tivesse também uns anos a menos.
- E por que você não foi atrás dela? Por que, aliás, não vai atrás dela?
- Águas passadas meu caro. E não quero problemas, alguém me endeusando, mimando, somos de mundos diferentes.
- Talvez de nível diferente, eu diria. Mas eu me lembro que você me disse que ela tinha uma simplicidade que o encantava. Tinha ou não tinha? Não era nenhuma ignorante ou coisa que o valha?!
- Não, claro que não! Mas, começar tudo de novo? Sei lá. E ela certamente não pensa mais em mim. O meu silêncio foi bem eloquente. Foi só uma lembrança...
- Poxa Moraes. Então tá resolvido. Esquece. Toma mais vinho e come provolone que a saudade passa. Eu te falei. Isso é fome, amigo. E falta de..
- Você me subestima. Me dá a garrafa. E vamos mudar de assunto, que não quero problema na minha vida. Passa o provolone também...

( o ser humano é criativo em momentos de crise, ou de saudade. Fazemos de tudo para viver bem, até inventamos histórias...rsrs....) texto: vera alvarenga






domingo, 2 de novembro de 2014

Ela o esperava para antes do Natal.

 Encostada no portão, olhava a rua que descia numa ladeira preguiçosa. Olhava com aqueles olhos de esperar, de confiar. Só que agora , o olhar também era preguiçoso. Porque já fazia nove meses que ela esperava.
Amanhã seria dezembro. Com certeza ele viria logo! Ela teria sorte. Tudo correria bem.
Não sonhava mais com os detalhes daquele encontro com aquela nova vida. Porque em se tratando de uma vida, teria seu próprio jeito de ser, de acontecer. E também porque já havia sonhado todas as formas pelas quais o encontro se daria. E, depois de um tempo, cansou de sonhar sozinha. Só sonho não a satisfazia mais. A vida quase que perdia a graça.
Pra falar a verdade até cansou de esperar.
Não! ela não esperava uma criança dele! Entregou-se de corpo e alma mas tomou precauções. Não era como a empregada do Dr. Heitor. E tinha mais uma coisa. só esperaria por ele até amanhã, ou talvez até vésperas de Natal.
Natal! Antes do Natal aquele presente chegaria, aquilo pelo que esperava há tanto tempo! Finalmente encontraria o amor e um novo jeito de viver a vida. Não sorriu, porque ainda tinha um bocadinho de fantasia e o coração ainda batia com emoção. O sorriso, estava guardado para amanhã.
Ele chegaria amanhã. Nem que fosse o amor próprio!

Texto/foto: Vera Alvarenga

sábado, 1 de novembro de 2014

Como uma onda...

Pela manhã veio-lhe um desejo,não maior do que ela nem tão inesperado mas tomou-a inteira.
Tomou-a como a onda que vem porque o mar já não cabe no que antes era limite.
E como a onda na maré cheia toma a praia e banha o corpo e molha a pele da mulher que deitada seca ao sol, assim foi com ela e o desejo.
Suspirou ao contato da água morna e salgada em seu corpo.

E como uma onda, o desejo veio. E igual aquela história do homem que tinha um sentimento ...
como uma onda, o desejo se foi.

Foto e Texto: Vera Alvarenga ( inspirado numa crônica de Rubem  Braga).

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Tem gente que não acredita em magia...

- Você está tão bem naquela foto! Parece que está serena, feliz.
- E por que não estaria? Há tantas coisas pelas quais posso agradecer...e sentimentos que posso resgatar na lembrança...
- Mas ontem à noite você... afinal, o que ainda a comove para que...
- Ah este mundo é mesmo feito de contrastes! quando nos sentimos impotentes diante de realidades difíceis de aceitar, seja na vida pessoal ou em aspecto mais amplo, é isto que acontece : a gente precisa sonhar! Mesmo que no final acabe dando de ombros porque não consegue fazer toda uma mudança sozinhos, mesmo que acabe voltando apenas para os pequenos sonhos do "um dia de cada vez"...é para isto que existem os sonhos, a imaginação criativa, pra gente recordar ou criar na mente imagens e felizes momentos, enfim, pra gente pensar naquilo que nos deixa a alma mais mansa.  
- Mas ontem... o que houve?
- Você não soube? Logo você, que não acredita em magia me diga, do que se tratou então?
- Explique-se ! Não estou entendendo patavina!
- Ora, aquela luzinha verde, aquela sensação boa que vinha junto com as palavras daquela canção, você sabe tudo era real! Você também ouviu, lembra?
- Sim, ouvi, e daí?

- Pois dizem que aquela cidade inteira desmoronou, como se tivesse sido implodida! Sumiu do mapa, virou poeira e depois...simplesmente sumiu!
- Mas como foi isto? Aquela cidade era imensa, tinha até aeroporto, indústrias, o que foi? Uma bomba? um terremoto?
- Não, minha cara. Apenas magia às avessas! Como se o mágico tivesse cansado de deslumbrar quem lhe dirigia aquele olhar de sonho, como se ele tivesse se cansado de ser afeto, de ser lembrança dos melhores sentimentos, de ser sorriso na boca dos inocentes, como se ele não quisesse mais inspirar...Pode pesquisar aí e depois me diga o que pensa a respeito.
- Estou vendo aqui na internet...é verdade! não está mais aqui já faz algum tempo. Fala sério! Onde está?
- Estou lhe dizendo...apenas magia, uma cruel magia que se transforma na mais pura, nua e crua realidade! uma cidade inteira sumiu! Tudo porque aquela pequena luz verde se apagou... eu não a vejo mais, nem ouço a canção dos pássaros, nem sinto o vento que me trazia as folhas de outono, nem os raios de sol da manhã... Eu não a vejo mais acesa, você a vê?
- Você tem razão. Agora acredito em magia, mesmo que seja às avessas...rs...como você diz.
- Pois eu, não acredito mais! E pra sempre vou ter cem anos de idade.....
- !!!???....


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Arma certeira...ou..." Não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram...”


(Por uma destas coincidências, depois que fiz o post li esta frase que atribui-se a Fernando Pessoa e caberia bem melhor aqui como título)

   Hoje vou lhe contar uma coisa quase secreta. Chega mais perto. Falarei em voz baixa...
   Outro dia fui lá, naquela loja.
   - Quero uma arma, eu disse, aos olhos de quem me olhava desconfiado. Desconfiava que sabia que eu não era capaz de matar uma mosca!
   - E que seja de corte ou tiro, não importa, mas quero-a certeira! Que um só golpe ou toque no gatilho possa acabar com aquilo que, por vezes quase me mata.
   Quase tive de chacoalhar pelos ombros aquele que me olhava impassível, como a não crer que eu fosse capaz.Como se me conhecesse! ou conhecesse as fraquezas humanas, aquelas que percebemos ter bem quando pensamos não ter mais nada novo para sentir.
   Não preciso lhe dizer. Saí de lá sem arma alguma.
   Não porque ele, com seu silêncio, não a quisera dar a mim que ali insistia, mas porque depois de testar algumas, tive certeza de que não era o que eu procurava, desisti. Pois constatei, observando-as, que cada uma conviria a uma situação e exigiria certas particularidades que o caso não poderia atender.
   E para todas seria preciso, sem sombra de dúvida, mão firme e bom foco!
   Como posso ter mão firme se tremo de pensar que estaria cometendo um assassinato ? Se fosse como matar uma barata, aranha ou qualquer animal perigoso e intruso que estivesse em minha casa, enfim, em meus domínios a ameaçar minha segurança e paz, seria fácil. Pois é claro que sou capaz de matar uma mosca nojenta que quer entrar na minha boca ou nadar na comida do meu prato!
   Mas, o que de vez em quando acontece subitamente como o leite que sobe na vasilha em fogo baixo e ferve de repente, e de susto quase me mata a ponto de me descontrolar de minha calmaria...
aquilo que machuca,mas de início começa como uma nostálgica e doce lembrança cujo pensar me dá prazer e me fazia sorrir, aquela presença que pela ausência me violenta de certo modo, nunca esteve suficientemente perto para que eu pudesse fazer a mira certeira, ou mesmo pudesse escolher o que fazer. E nunca esteve suficientemente longe, pois o que de tudo isto introjetei, foi o melhor.
   E então, como posso ter mira certeira, se o que resta de todo aquele pouco para o qual dei muito significado ainda está dentro de mim? Como fazer a mira certeira?
   Melhor continuar com o sorriso brando com o qual saí da loja, e com a certeza de que por vezes estamos lidando com um sentimento, amigo ou inimigo, que está dentro de nós. E matar sentimentos, eu sei bem, é perigoso demais! Ao mesmo tempo que nos anestesia, nos amortece e nos protege da dor da saudades e outras, ao mesmo tempo nos dessensibiliza em relação aos demais sentimentos...e são os sentimentos e a emoção partes importantes de nossa pretensão de viver a vida e ou evoluir nela, na nossa condição humana.
foto/texto: Vera Alvarenga

domingo, 29 de junho de 2014

Reencontrar o amor...


  Em algumas ocasiões imaginava o quanto ficaria feliz se pudesse mostrar a você como, às vezes, é possivel ver o mundo com olhos de quem entra nos detalhes mais belos que há, nos melhores ângulos, com a melhor luz... não que eu seja presunçosa a ponto de querer lhe mostrar algo que creia que você mesmo, e sozinho, não pudesse ver. E também não porque eu sempre consiga viver desta maneira como se fosse a mais abençoada das mulheres! É apenas porque há momentos em que me sinto como se fosse uma lente de uma câmera fotográfica... a entrar em contato com um pequenino detalhe que me leva a algo muito maior!
   É algo talvez que eu precise fazer, não como um dom, mas até por necessidade vinda com certeza por alguma fragilidade. E se não posso fazer, sinto falta! Portanto não é de forma nenhuma pretensão. E entro naquele detalhe. E entro nele como se fizesse parte daquilo e isto, me traz uma sensação de doce pertencer e de paz.  Eu então, só quis poder compartilhar isto com você, como já desejei um dia que você pudesse compartilhar tantas outras coisas do mundo comigo. Porque do mundo nada sei.
   Uma vez me lembro que imaginei estarmos sentados lado a lado e eu lhe mostrava como moldar aquela argila que eu havia colocado num torno a sua frente. E então eu pegaria em suas mãos e o faria sentir como é este toque no macio da argila... primeiro como se quisesse conhecer do que é feita, como reage ao toque, saber seus limites, sua resistência e temperatura para então brincar com ela, moldá-la e sentir nisto prazer.
   E este prazer só viria, assim como eu o conheço e imagino, porque você conseguiria sentir que o prazer não é um poder apenas seu. Não seria apenas você moldando a argila, assim como não é um homem que decide no que vai transformar o momento em que toca a mulher que quer de fato amar. Porque quando isto se dá, e afirmo que não ocorre sempre, de uma forma que sei que acontece quando você é totalmente absorvido pelo  agir sobre aquilo que deixa também agir sobre você, quando você dá tanto quanto recebe, então você está tão inteiro neste "fazer e sentir"que perceberia a interação entre você e a "coisa" tocada. Não é uma teoria, por mais que alguém pudesse falar dela, só é possível sentir.
  Por uns instantes a gente sente que nesta interação e respeito mútuo entre o que sou e o que desejo criar naquele momento ou o que estou observando porque já é,  há um surpreendente intervalo de tempo em que somos um só... você estaria inteiramente lá, com ela e nela, a argila...
   Ah, não tenho nada do mundo a lhe ensinar... aliás, como poderia se nunca pretendi? Mas em meus devaneios a única coisa que pensei que poderia ter compartilhado seria este "sentir", ou este "olhar" que se pode ter em momentos sublimes quando nos esquecemos da aparência, idade e individualidade que somos para fazer parte de algo maior...e melhor. E nem por um momento penso que o mundo é apenas beleza ausente de dor e perdas! Mas, é bem por isto que talvez desde menina tenha escolhido viver assim com este meu tipo de sensibilidade que sente o bem e o mal, mas se deixa encantar apenas por um deles.
    Ah... algumas vezes te sonhei assim, "sentindo" pequenos momentos comigo... e sabe por que? Porque imaginava que com você eu poderia sentir ainda mais... sem precisar disfarçar ou esconder tal sensibilidade... seria o nosso segredo... meu e seu - pequenos momentos de ingenua alegria por ainda estarmos vivos e conseguirmos fazer disto algo bom . Acho que tenho de falar sobre estas coisas porque são coisas das quais o tempo faz a gente entender que tem de se despedir...você que é apenas um sonho meu...que não fala comigo... que existe em algum outro espaço que não conheço e nunca ousaria invadir... mesmo porque não teria sentido... porque você com quem imaginei que poderia sorrir tantas vezes mais,por pequenos motivos, sem me encabular por isto, você está em meu coração...você não seria um homem qualquer, teria sido um presente de Deus... e eu também não seria mais uma mulher qualquer. Deus teria feito em nós um daqueles seus milagres.... mas há outros que ele faz dia a dia...inclusive o de acordarmos de nossos sonhos e ainda olharmos com amor ao nosso redor... e ainda termos força para viver mais um dia, porque temos esperança e amor no coração. Porque esperamos um dia reencontrar talvez o verdadeiro Amor do qual tenhamos quem sabe, esta nostalgia....
Foto e texto:Vera Alvarenga

domingo, 22 de junho de 2014

E ela dançou aquela seleção inteira....


Parada em frente à janela, resguardada do frio, olhava para mais longe, através daquelas árvores verdes onde o sol brilhava sobre as flores vermelhas do jardim e pensava sobre aquilo que podia fazer o mundo ser maravilhoso aos nossos olhos. Distraída, ouvia uma daquelas fitas antigas onde gravara um dia, algumas músicas de que gostava. Sem resistência e mesmo sem perceber, seu corpo deixou-se levar pelo ritmo de Willie Nelson cantando "Always on my mind" e logo balançava suavemente de um lado para outro. E ainda mais soltou-se, descruzando os braços, quando ele cantou "Valantine".
   Tão antigas aquelas músicas, nossa! De olhos abertos vendo só o pouco que queria ver e imaginando o outro tanto, deixou-se levar... de repente sentiu que estava sendo observada e um minuto antes de desmanchar seu sorriso, de parar, envergonhada, os movimentos suaves com que acompanhava as músicas, olhou para ele. Estava sentado numa poltrona ao lado de uma estante cheia de livros e DVDs. Não era mais em sua sala que estava, como antes, mas sim num ambiente sóbrio e íntimo como um escritório ou biblioteca pode ser para aqueles que gostam de abrir sua alma e ali, escrever. Sentiu-se quase em casa.
 
Sorrindo, ele estendeu-lhe a mão e pegando a dela, fez com que continuasse a girar em torno da poltrona em que estava. Levantando em seguida, olhou-a nos olhos e ela pode ler neles o que a música cantava naquele mesmo instante - " You are so beautiful...to me..." De mãos dadas, mantendo-a distante de si como se quisesse mais olhar pra ela do que abraçá-la, ele a fez rodar e dançar em movimentos lentos ao redor dele. Aliás como cabia aos dois, nesta idade, os movimentos eram lentos mas intensos. E ela sentiu-se leve. E não importava mais o tempo nem a idade, e assim dançaram enquanto Louis Armstrong cantava para eles "A wonderful world".

E quando Riccardo cantava "Margherita" eles se abraçaram, dançaram juntos, beijaram-se... e ela o ouvia dizer baixinho : perché tu è dolce, perché tu è vera, perché tu ama, è un sogno, il vento e adesso è mia...

Tudo era extremamente intenso e leve ao mesmo tempo, e puro embora sensual, e forte, e o tempo parou por uma eternidade....sentiram-se vivos por saberem que tristes são aqueles que não sabem o que é amar.... Mas aquela música que falava do coração dos puros quando amam a deixou muito leve, tão leve que já não parecia real mas uma bolha de sabão colorida, pelo sol, feito arco-íris, indo para o alto.

Foi quando olhou novamente para as flores vermelhas atrás das árvores verdes que ficavam em frente sua janela e, ouvindo a última música daquela seleção, ainda com o sorriso nos lábios e alguma leveza na alma, pensando que pelo amor é que a vida segue em frente, acompanhava em pensamento a mesma pergunta da canção....
...." Quem poderá explicar o espírito secreto de uma vida?..."


terça-feira, 11 de março de 2014

Quem não bebeu desta água ?


Quando a gente já viveu alguns anos, muitas experiências, criou filhos, andou por muitos caminhos, carregou muitas mudanças nas costas e tantas vezes que chegou a pensar que até ficou lá nos ombros, afinal de contas, um caracol feito ninho portátil...
Quando a gente já teve muito medo, mas mesmo assim continuou, e andou, e andou, pensando estar quase sozinho só para então lembrar que o mundo tem muito mais gente como nós, e que mais além há muito mais do que nosso próprio umbigo, mas mesmo assim, ainda teve coragem de assumir a própria fraqueza, penalizar-se das próprias mazelas e rir-se de nós mesmos no final...
Quando a gente já perdeu um amigo e pessoas que amava, e sonhos, e já sentiu saudades, e já lutou por princípios, e já lutou para conquistar bens não só por nós, mas também...
Claro que a gente sabe que não é perfeito!!

  Mas...chega mais perto...quero lhe perguntar uma coisa... - Sabe aquele momento na vida, não importa onde estejamos ou com que idade e é sempre depois que amadureceu,em que a gente mesmo com toda a tal experiência, começa a ver o mundo com outros olhos, e mesmo estando cansado tem a incrível idéia de recomeçar? E então começa a sonhar de olhos abertos, mas pensamos que desta vez muito realísticamente porque afinal, já somos maduros, e sente que mesmo não sendo perfeitos ao encontrar a pessoa certa a gente até pode vir a ser? Tudo porque parecemos encontrar, ou talvez reencontrar, a pessoa que nos permite ser, e por consequência nos inspira a ser o melhor da gente mesmo, e retribui o que sentimos, aquela pessoa que desejamos tocar, com quem desejamos conversar, namorar, beijar, fazer e viver o amor de tantas maneiras quantas ainda nos for possível ...
  Ah! então é porque o amor voltou a nos tocar. E mesmo silencioso, não se sabe por que porta entrou, dá um tapinha nos nossos ombros já meio caídos, pega a nossa mão e com um sorriso deliciosamente sedutor nos diz:
- Nossa! Em que mundo você estava vivendo que não me percebeu?! Como resistiu? Vem!
E aí, não importa se ele nos apresenta suas credenciais ou se nos prova ser confiável, se a gente pode ter certeza de que realmente não é uma ilusão... mesmo com todo cuidado, é muito dificil  não lhe darmos a mão e não sairmos com ele por aí, nos sentindo leves e ridículos como adolescentes apaixonados pela vida!
Porque afinal... ele só veio atender ao chamado do fundo da nossa alma que ansiava por amar de novo!

foto e texto: Vera Alvarenga.  

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Humano desejo...

Somos feitas de tantas coisas... até daquelas que não nos é ainda permitido comentar...até daquelas coisas que não é prudente confessar... até do que gostaríamos de esconder. Somos mulheres.
Às vezes me toma um sentimento que mistura uma saudade do que conheci com o desejo de te ter ao meu lado, e num abraço amar-te e ser amada como se não houvesse amanhã, mas pudéssemos acreditar que seria para sempre.
   Então me conformo. Ainda bem que não estamos juntos neste exato momento! porque não suportaria que me falasses de possíveis  ou impossíveis realidades, nem que me olhasses como se eu não fora o mesmo pra ti... e então, ia querer sentir tua pele e cada pedaço dela, e amar-te e amar-te, como antes eu sabia amar... e talvez isto te sufocasse, como me sufoca este desejo que às vezes me visita.
E eu bem que me pergunto - Por que?

   Sou água e sentimento. Meu princípio é o da vida, e me faz lembrar como tenho sorte e o quanto da vida recebi... e meu impulso... apenas deixa à mostra a minha humanidade e o quanto sou igual a qualquer um...

foto e texto: Vera Alvarenga

domingo, 20 de outubro de 2013

Penso que te conheço...

   
  Penso que te conheço, começava assim aquela carta, mas me engano.
    E ficou olhando para fora, olhar distante, procurando em algum lugar, ao longe, encontrar finalmente o que ela procurava, em pensamento. Mas ele parecia não estar mais em lugar algum, a não ser, apenas em seu coração e na lembrança. Ela sabia que era assim que devia ser, uma lembrança de um sonho que ninguém arriscara ver se daria certo. Ninguém?
    Ela sabia, que já nada mais sabia dele.
   O ímpeto, o impulso, se acomodavam agora, nas malhas da realidade, e permaneciam quietos como os leões velhos, feridos e cansados depois da luta pela sobrevivência, e que se acomodam sob a sombra porque precisam dormir. Talvez para sempre...talvez até amanhã....
    Quem és, que somente me prometias dar-te a conhecer e não o fizeste, de fato?  ainda preciso adivinhar-te? Quem és, que te escondes, que silencias, e, de repente, vem me beijar?
    Qual o tempo de tua vida? Sonhas comigo? Desejarias me abraçar, me tomar em teus braços, me conhecer, me tocar e com tuas mãos acordar de novo cada parte do meu corpo, já quase todo adormecido? Tudo porque o desejo era maior do que o sonho e cansara de idealizações! Alguma vez, como eu, acreditaste que tudo era possível, e que serias para mim, o suficiente, o desejo finalmente realizado, para depois, logo depois, duvidares de ti e sentires que este teu sonho não era mais do que simples pretensão?
   Tinhas o mesmo desejo que eu, de novamente pertencer? O mesmo sonho de paz? A mesma canseira e indisposição quanto às coisas que permanecem sempre as mesmas, e se repetem como viciadas, como se não quisessem melhorar, porque não há mais tempo ou porque não querem se dar ao trabalho?
   Alguma vez durante este tempo, durante o tempo nosso, pelo menos uma vez fizeste como eu, quase deixaste tudo que era conhecido, unicamente pelo desejo de conhecer a possibilidade de realizar este teu sonho? Alguma vez te faltou coragem e, mesmo sentindo que parecias perdido, foi a fé em mim e naquele sentimento que te impulsionou a fazer o que, de outro modo não farias? Alguma única vez a saudade parecia doer no peito, e tanto, e de um modo tão incompreensível porque não tinha cheiro, nem cor, nem som, que a única saída era engrossar tua pele e negar os teus sentidos, para esquecer o quanto ainda és sensível?
   Por algum tempo eu permaneci contigo, em teu pensamento, e tantas vezes quantas imaginavas que poderíamos estar rindo e compartilhando algo, que nos faria transcender qualquer das limitações que afastam aqueles que vivem de aparências? Quantas vezes tu imaginaste que poderíamos estar saciados, mesmo no silêncio, de todas as juras, promessas e palavras? Ou que todo dinheiro ou coisas juntadas só teriam significado por estarmos juntos? e que aquele vinho tomado numa noite em Paris ou em qualquer outro lugar teria o sabor do que é conquistado? Alguma vez, ao imaginar estar comigo, sentias que o tempo não passaria para nós e tudo valeria a pena? Por quanto tempo desejastes  partilhar comigo o melhor de ti, e me ver sorrir, e me abraçar se eu sentisse vontade de chorar? E acabar com a nossa solidão, sem culpa?Quando pensaste que eu era insubstituível, desejaste pelo menos tentar descobrir se este sentimento era recíproco e se poderia vir a ser uma vivência real de amor?
   Acho que nada sei de ti, pois teu coração estava fechado para mim. Pois se assim não fora, terias, como eu, atravessado aquela ponte! Eu fui, até um pouco mais da metade do caminho, rompi barreiras e laços, mas voltei, porque tu não estavas lá, porque aquela ponte ainda estava lá, e eu... já não sei mais viver sozinha.

   Quando ela terminou de escrever a carta, olhou novamente pela janela. Já estava escuro. Respirou fundo. Apagou o endereço do email e devagar, apagou tudo o mais que ele continha. E jamais enviou.
    Este era um daqueles dias em que a saudade daquele sonho apertava o coração. E ela ficava assim, quase com raiva, quase muito triste... Mas era um bom sonho, e ela preferia pensar em como ele lhe trazia sorrisos e a inspirava até mesmo para sentir a alegria de estar viva. Levantou-se e foi buscar uma taça de vinho....

Foto retirada do Google
Texto: Vera Alvarenga


   

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Levo-te comigo...


A mesma história pode sempre ter mais de uma versão... eu prefiro esta:
- Amor, não posso levar-te....
- Que pena.
- Mas você sabe que te levarei em meu coração.
- Sim, eu sei.
.....................................................
- Ora, amiga, e como sabes que é verdade? O que ele fez neste momento para convencer-te que te leva no coração?
- Nada. Não foi neste momento que me convenceu!

O sentimento quando é sincero é como um cavaleiro nobre, que se fortalece com sua armadura à prova do tempo, e é coerente com o gesto. E não é preciso ficar pedindo, e pedindo.... ou tentando explicar...

Foto e texto: Vera Alvarenga

sábado, 21 de setembro de 2013

Melancolia...


Desde ontem, após ler o email de um amigo, me volta ao pensamento,repetidamente, esta palavra que não sei bem definir...melancolia.
   Seria, quem sabe, sermos interrompidos insistentemente por lembranças do passado?  E muitas vezes nos sentirmos tomados por uma sensação de surpresa por ver que algumas coisas que nos pareciam certas, tomaram um rumo tão diferente daquele que imaginávamos?E frente a isto, à sensação de impotência,nos bate um cansaço, como se quiséssemos ser capazes de descer desta roda que gira e gira independente de nossa vontade e apesar de nós. Então, apenas ficamos ali, a nos convencer de que as coisas são assim mesmo e diante deste fato, que façamos o melhor, apesar da preguiça que nos rouba o entusiasmo de outrora!!
   Seria isto a melancolia?
  Ou seria o desejar ardentemente poder recomeçar outro caminho, novo, e reencontrar neste a nossa antiga energia ou motivação, para logo perceber que não é possível? Porque, para alguns de nós, este não é, não, um caminho que se faz solitariamente! Porque, para alguns de nós, o que se deseja é nos encontrarmos novamente apaixonados e amando alguém e como consequência, a própria vida. E não falo do amor, aquele que a gente encontra quando racional e maduramente lembra de tantas histórias, batalhas vencidas, dedicação pessoal para que consigamos, sob grande esforço, fazê-lo sobreviver. Falo do desejo de experimentar talvez um novo amor, um amor de outro tipo, seja com a mesma pessoa (embora isto exija igual empenho dos dois) ou com outra. Falo de sentir um amor que nos emocionasse novamente, nos tomasse, nos inundasse, simplesmente porque viria naturalmente do compromisso mútuo de fazer o outro tão feliz quanto a nós mesmos, e por isto, seria o sentimento que nos traria mansa alegria de termos finalmente encontrado nosso recanto de paz e prazer...
   Falo do amor que se constrói com respeito, carinho, amizade e a antiga bagagem dos que já se viram a caminhar corajosamente por caminhos solitários, quando deviam estar acompanhados.
   Melancolia seria a estranheza que nos assombra diante do próprio presente onde estamos agora, sem contudo sentir que ele realmente nos pertence? Seria nos perguntar com estranheza como chegamos ali?
   Ah, certamente o rumo de nossas vidas e sentimento não são coisas que podemos construir e controlar como se dependessem exclusivamente de nosso empenho, dedicação e sonhos! Há muitos outros aspectos que interferem, além de nossos próprios humanos erros, sem que possamos fazer muito a respeito. Tantos momentos nos quais tivemos de optar, e na maior parte das vezes fazemos a escolha no escuro, contando também com a sorte, além daquelas escolhas para as quais não pudemos nos sentir livres a seguir apenas o que nosso desejo mandava, porque o coração e o amor que nos liga a outros, nos fazem saber que não estamos sós a enfrentar as consequências daquilo que desejaríamos.
   Quando estamos mergulhados hoje numa ação qualquer e somos surpreendidos pelo desconforto, estranheza, e nos perguntamos se aquilo tem significado e então, nos esforçamos para novamente nos colocar por inteiro naquilo que estávamos fazendo antes de sermos interrompidos por tais pensamentos...seria isto a melancolia? Precisarmos nos distrair, nos deixar absorver pelo que está à frente de nosso nariz, o que é sábio porque nos leva ao presente, porém ao mesmo tempo para longe do que sentimos. E talvez o que sentíssemos se nos permitíssemos seria o desejo ardente de não ter nossa velhice permeada por esta sensação de solidão. Ou seria precisarmos nos dessensibilizar repetidas vezes e a tal ponto que não podemos mais sentir emoções e vida como coisas que estão coerentemente caminhando juntas e nos pertencem?
  Melancolia...algo que não sabíamos o significado porque antes não conhecíamos o tédio, nem a dúvida, nem a indecisão, nem a falta de entusiasmo, porque antes estávamos tomados pelo amor que nos vivifica?
Melancolia, talvez se misture com certa nostalgia.
  Um por de sol como o da foto, com uma ave em voo solo, é lindo, mas melancólico, porque nele nos despedimos da luz!
 
  Melancolia, para mim, é saudade de poder amar! E é amando que nos sentimos mais vivos!
  E por isto, melancolia é como o por do sol, é como ir morrendo aos poucos....
  Pode ser que, para cada um tenha um significado um pouco diferente... pode ser...
  Eu, de minha parte, refletindo sobre ela, vejo-a como filha da nostalgia. Nostalgia do sentimento que um dia nos envolveu e pelo qual nossa alma, por vezes inconformada anseia de novo sentir - o amor!
 
  E é por isto até, que alguns de nós, seres humanos já bem maduros, inconformados, ousaram enfrentar situações consideradas ridículas pelos que não sabem o que é viver este sentimento. Eu, não costumo julgá-los com rigor e me emociono pelo amor corajosamente vivido, seja em que idade for. Quisera eu ficar velhinha e sempre envolvida por este sentimento! Porque a alma não envelhece e por vezes demora a entregar-se à paz, aquela daquela natureza que advém de nada mais desejar e apenas espera a vela se apagar...

Texto e foto: Vera Alvarenga.  

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Eu desisto...






Por que as gravadoras hoje incentivam tanto,  músicas sem qualidade?

Procurei esta música no Youtube, porque estava com esta frase/sentimento repetindo-se em minha mente...
Para cada um em seu momento, uma frase pode ter diferentes significados...
Eu desisto....
não existe este amanhã que eu procurava....

Pensei que teria algumas coisas para dizer e que esta música seria apenas um acompanhamento...
mas depois de ouví-la e sentí-la, não tenho mais nada a dizer...Esta música é linda e já diz tudo.
Apenas lamento que algumas gravadoras incentivem tanto hoje, músicas sem qualidade, como se não fossemos capazes de fazer coisa melhor!

Músicas: Viagem e Universo em teu corpo - interpretadas por Taiguara.


quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Entre a razão e o coração...

E naquela pequena aldeia onde morava, ela viveu por muito tempo, foi feliz, lutou, trabalhou, riu e chorou, como todo o mundo. Até que chegou um dia, quando se incomodava com a fraca luz que iluminava suas noites, em que soube de alguém que tinha outros costumes, vivia em outro lugar.  Quando era noite escura aquele, que distante vivia, trouxe consigo uma lanterna, porque também procurava algo que perdeu.
 - Onde mora? ela perguntou.
E ele lhe mostrou. Lá...
- É longe...muito longe...Mas, por algum tempo, ao olhar para o mapa do mundo, ela podia ver lá, bem distante naquela outra cidade, a pequenina luz verde, fosforescente, que se acendia para ela.
   Então, a cada vez que via, na penumbra, aquele sinal, em seu rosto um sorriso iluminava sua noite, e também o seu dia. E, apesar de seu olhar sonhar com o distante lugar, não era apenas de sonho que vivia. Porque a luz que antes pertencia apenas à janela daquele que estava distante, entrava em seu coração diariamente até que, em poucos meses, também lhe pertencia. Não que a tivesse roubado dele, não! É que, de tanto que aquela existência lhe fazia bem, tomou-a para si, em pensamento, e a interiorizou. Nela ocorria o mesmo fenômeno que a tanta gente que busca a luz, que ama - resplandecia! E tudo ao seu redor ficava mais iluminado, e assim, não cometia nem o crime de roubo, nem o de ausentar-se do que era sua responsabilidade viver. Era o que a razão lhe fazia crer. Contudo, a experiência era com os sentidos e, se houvesse alguma verdade ali, era a de que seu coração assim iluminado, era capaz de iluminar novamente. E era para isto que acreditava viver.
   Algum tempo passou. Um dia, à sua alma ingênua, a própria razão, talvez pela inquietude que traz a ausência do que nos alimenta a fé, plantou-lhe uma dúvida impiedosa.
 - Tudo é ilusão. Como sabes que aquela é a mesma luz que te acompanhava antes? Neste silêncio, como sabe de quem é aquela janela? Quem estará atrás das máscaras que todos usamos? Logo tu, tola que foste. Nem ao menos quisestes conhecer outras pessoas que lhe trouxessem outras notícias, outros sorrisos e mais sentido para o mundo que conheces.
- Se sabes tudo, não deverias esquecer que a inquieta é você, não eu. Sou fiel ao que sinto, e não costumo procurar, como você. Não posso mudar tanto de mim, só por ter visto algo que não tinha mais e desejei, ou mesmo que tenha sido uma criação de meu próprio desejo.
E a mulher virou as costas para a razão. Mas seu coração, com certa tristeza pressentia que aquela luz poderia apagar-se de dentro dele, porque já não sabia de onde vinha, nem se algum dia, verdadeiramente tinha se iluminado para ela... talvez viesse apenas de um anseio...de si, ou do outro que um dia passou por ali.

Texto: Vera Alvarenga
Foto retirada do Google.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Ainda estás aí?


 Era uma noite silenciosa. Eu me demorava a dormir. Então, o som me envolveu. Não sabia de onde vinha porque até aquele momento o silêncio, o teu silêncio, era de morte. Havia uma ausência tão palpável que se podia até ouvir o pulsar daquelas paredes como se tivessem vida apesar do vazio. E no escuro daquela noite em que não consegui entregar-me ao sono, a respiração curta impedia o ar de preencher todo o espaço que ali havia para ser preenchido.
   E eu respirava como se tivesse preguiça de viver. Aquele espaço vazio e negro me assustou por momentos. Onde eu estava? Meus olhos, tanto quanto eu, estavam fechados. Lentamente os abri, por um segundo. Apenas por um rápido instante. Voltei a sentir o pulsar daquelas paredes. E naquele quarto, convenci a mim mesma que estava segura. Todo vazio assusta, pensei. Nada demais. É preciso apenas coragem para continuar a respirar e crer que tudo vai passar. Porque tudo passa.
   A saudade, a falta, o desejo daquilo que não podia mais ser sentido, culpa da ausência e do tempo,  passariam, não iriam mais atormentar meu sono. E eu recordaria tudo e esta noite, como vaga lembrança de algo que, um dia e por muito tempo, pareceu eterno. Tudo se transforma. Nada permanece como foi um dia. Nem eu! Seria mesmo verdade que tudo passa, mesmo as mais raras e valiosas presenças? Não estariam para sempre marcadas em nós? Ah! estes tesouros a ornamentar nosso aposento mais íntimo. Nem todos igualmente preciosos, mas cada um com inestimável valor. Talvez naquele mesmo aposento em que me encontrava agora, houvesse uma vida escondida dos olhares, e que pulsava, tão eterna quanto posso ser, e enquanto eu for.
   Então, tudo passa... mesmo a mais indispensável de nossas inspirações. Porque um dia, talvez deixemos de crer em nossa capacidade de amar ingenuamente e para sempre.
   Passa sim, pensei, tudo passa, nem que para isto tenhamos de perder a memória que nos faz ser o que somos. Nem que um dia, acordemos no meio de um quarto que não nos diga respeito, onde não possamos nos reconhecer, esquecidos de tudo e assustados, ou por tão esquecidos, talvez sossegados, para sempre ingênuos, eternas crianças.
   Tudo passa também ao olhar consciente mas superficial, embora muito fique escondido, quase silencioso, camuflado em nossa pele. Como de pele era aquele quarto. Aquele em que me encontrei naquela noite, incrivelmente consciente de uma ausência.   
   E ele, que pouco tempo antes tinha voltado a pulsar descompassado, quente, úmido e ansioso diante das promessas da vida, agora, a despeito de mim e do tempo, ainda batia, mais lento porém ritmado. E eu o ouvia, no silêncio da noite. Então, ainda estás aí, no meu peito?! Agora, eu o sabia ainda vivo e calmo, a despeito de tudo e do vazio. Porque o vazio é talvez um espaço necessário ou, por vezes, inevitável.
   De olhos fechados, a languidez foi tomando conta do meu corpo, embalado pelo som que vinha do pulsar daquelas paredes, que jamais foram frias e onde eu sempre podia me resguardar. Eu não sabia mais se estava nele ou ele em mim....
Texto: Vera Alvarenga
Foto retirada do Google
  

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Amor...

      Sou extremamente positiva, porque mesmo no auge dos meus sonhos ou da visão de minhas realidades, ainda que precisasse deixar muita coisa de lado, jamais desisti ou duvidei daquilo em que mais acredito, o que me impele a continuar.... 
   E, embora seja deste modo idealista e firme em alguns princípios,...quando te ausentas assim por tanto tempo que até mesmo duvido que um dia estiveste tão perto, quando demoras para vir, quando não sinto que, de algum modo tu estás comigo por momentos e o que tu representas transborda do meu coração, não posso evitar entristecer porque parece que a luz do mundo se apagou um pouco... de tão forte, extremamente forte que tu és, quando se traduz em sentimento que promove a vida – a minha vida.
   E antes, experimentei o contrário. A luz do sol brilhava em meu dia quando o sentia, quando o sabia perto, quando recebia tuas palavras, porque sem que estivesse isto em minhas mãos ou em meu poder, o amor vibrava então, e por tua presença, também em meu coração. E em presença do sentimento de amor que se esparrama como um rio dourado e fértil, o que se banha nele se torna melhor, e tudo que não é, nos parece por demais grosseiro.
   Sim, sou feliz com tanto que tenho, quando olho ao redor e vejo que tenho mais do que tantos. Tenho diferentes coisas do que já tive. Sou grata. Hoje, a consciência que antes procurava e me fugia, está a impregnar-se em meus momentos, embora ao mesmo tempo me sinta desapegar-me de tudo. Tenho uma tranqüilidade que antes não tinha, e tempo para mim... mas isto não impede que perceba que a inevitabilidade das coisas me faz sentir medo, algo que antes não sentia. A maturidade não impede que sinta falta de tua presença...  amor.
   Meu amor ... néctar, bebida  doce que faz esquecer como somos limitados, nós, os seres humanos, e me permitia relaxar e descansar de meus cuidados em almofadas de cetim...
   Deixa-me sentir teu olhar amoroso de novo e o bater de tuas asas douradas em meu coração de pedra... e serei leve e livre novamente...
foto e texto: Vera Alvarenga. 

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Comprometer-se...

 Em minha recente viagem para o sul, reencontrei um casal que descobriu no seu casamento, o segundo para ambos, que para o relacionamento dar certo, amar não é apenas sentimento, mas o comprometimento em desejar fazer o "outro" feliz. Em um próximo post vou contar uma historinha sobre eles.
   Sorte daqueles que descobrem que acomodar-se a um individualismo exagerado e "falsa" liberdade e independência sem limites do "cada um por si desde que todos por mim" não é a melhor solução para a vida a dois. Sorte dos que não pretendem ter sempre razão. Aliás, o individualismo radical não é solução nem para a vida em sociedade, pois comprovadamente traz ansiedade, sentimento de insegurança, depressão e pânico, de acordo com especialistas no assunto.
   Amar não é apenas o que se diz de um sentimento - é atitude - o amor pede ação, deseja conjugar o verbo. São dos pequenos gestos em benefício e engrandecimento do outro e do próprio relacionamento que o amor se sustenta ( e também o bom humor, e a disponibilidade para uma vida mais plena)! E não, de um sentimento que se esvazia na ausência da ação, presença de orgulho e recusa de se comprometer.
   Mesmo quem já amou, se não é correspondido, um dia acaba por se transformar em um sonhador. E se seus gestos encontram constantemente a barreira que impede a alegria da troca constante, acaba por pensar que a ele, só restou sonhar. E então, seu desejo o leva a sonhar... inconformado sonha, a cada novo dia, mesmo em presença de frustrações, porque sem esperança, entristece... e sonhar, por vezes o alimenta... mas quem apenas sonha, também não realiza mais o amor, pois seu desejo está no amor e em presença do desejo de amor, o que não é amor não satisfaz mais . Seu olhar se tornará triste e distante como que em busca da ave dourada que se banhava, antes, na água da fonte de seu próprio coração. Porque é por causa deste alegre encontro, que da fonte brota a água mais cristalina e do peito do pássaro dourado sai a mais bela canção em homenagem à vida. Nesta troca, ambos se comprazem. Sem ela, a fonte seca e a ave dourada sente-se ferida, emudece.
   Sorte ( será só isto?) dos casais que reencontram seu pássaro dourado junto à fonte!
   Os outros...viverão de lembranças ou sonhos. De certa forma, tem sorte também os que tem as lembranças e até os que pelo menos podem sonhar! Mas viver plenamente o amor é incomparavelmente uma escolha melhor, quando se pode ainda escolher. Porque este trabalho de amar nos preenche a vida, põe um brilho no olhar e um sorriso na alma.
   Assim como acontece para toda uma sociedade contemporânea, manter um individualismo egocêntrico tem um alto preço para cada um de nós, em nossa vida, de um jeito ou outro. Fatalmente, o ser humano que tentar reproduzir em sua vida íntima e familiar o individualismo radical com o qual aprendeu a sobreviver no mundo,  aumentará para si e para quem conviver consigo, o sentimento de vazio e solidão que já existe em cada um de nós. Se não se compromete com o amor em sua vida íntima desejando fazer também o outro feliz tendo oportunidade para fazê-lo, logo se desviará do caminho que o levava à fonte, não terá mais como encontrar repouso em seu ninho e forças para alçar vôos que lhe tragam mais do que uma ilusória sensação de realização. E, certamente, perderá a alegria que lhe brotava espontaneamente no riso. E, quando sorrir alegremente nos encontros ditos sociais, alguém sempre perceberá que o sorriso "é de alumínio" que, como uma máscara, ao virar a esquina, cairá por terra.
Foto e texto: Vera Alvarenga.

domingo, 6 de novembro de 2011

Tempo de delicadeza...

Há o tempo da paixão
e o da delicadeza...
Sob suas águas mornas e calmas,
ainda que aceitasse com ternura
os frios desígnios da natureza
com suas asas de candura,
sob a luz, escondida correnteza
corria nela ainda livre, emoção
que pelo corpo se entranharia
feito pulsante artéria principal,
levando o desejo de vida
e cor, ao que então não morreria.
Assim, como era natural
a quem conhecera o verbo amar,
finalmente permitiu-se sonhar
que num doce e envolvente abraço
ao amor se entregariam.
E o que pele, corpo e alma sabiam,
demorou-se ela a compreender :
- mesmo seu delicado sentimento
jamais se poderia opor
ao que é da natureza do amor,
ao soberano desejo de pertencer.

Foto e poema: Vera Alvarenga
Vídeo you tube









domingo, 28 de agosto de 2011

Basta sentir...

   



Nem tudo a gente precisa entender.

Há muitas coisas que a gente só tem que sentir.

Abrir o coração, deixar entrar e então...sentir.









Existe uma beleza no fazer arte ou estar diante dela..

é a de intuir que basta sentir, sem explicar, sem julgar, apenas deixar existir...


É como descobrir a beleza que existe em fazer sexo
com amor, que não se quer compreender nem é preciso ver, apenas sentir...









Isto acontece com os sentimentos ou momentos fortes que nos arrebatam, apaixonam...



Crônica fotográfica- texto e fotos:
Vera Alvarenga



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