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terça-feira, 3 de junho de 2014

Coisas pra dizer enquanto é tempo...

Eu já tive muita coisa para dizer, e dizia, as vezes.
Já tive muita coisa que queria escrever, mas não tinha tempo.
Veio o tempo em que eu encontrava tempo para escrever, e precisava fazê-lo porque os sentimentos estavam efervescendo. E eu escrevi, e escrevi, e escrevi por vezes como quem estivesse falando para alguém em quem confiava, e que compreenderia. Contudo,  pessoas são desconfiadas e nem sempre compreendem quando a gente abre o coração e desnuda a alma, como criança feliz quando não tem medo de nada.
A maioria das pessoas inteligentes são também muito desconfiadas. Pensam que se derem ouvidos aos corações eles vão querer mais do que elas podem dar. Isto é um pouco triste, ou pelo menos deixa saudades. Porque algumas pessoas as vezes se afastam, com medo, como se lhes fosse faltar um pedaço se nos mandassem o mesmo abraço de volta. Mas eu também sou assim, as vezes me afasto das pessoas porque penso que não posso dar nada de importante a elas, então dou meu coração em pensamento e pretensiosamente tento enviar a algumas, uma energia boa, em forma de luz... é uma luz que esquenta mas é invisível.
Agora tenho todo o tempo do mundo, mas não estou mais tão ligada ao mundo, eu acho. Estou com preguiça. E, apesar de algumas vezes sentir saudades de alguma coisa, estou em paz.
  É tanta paz que não preciso escrever tanto. Mas isto me assustou por algum tempo, porque nem queria mais ler. É como se meus sentimentos estivessem dormentes ou talvez ao contrário, tenha voltado meu coração em direção a algo que não pode me abandonar, se eu não quiser - um amor que temos incondicionalmente porque depende unicamente de nós mesmos, em certo sentido. Depende da fé. Aliás eu sempre tive fé nas pessoas, mas nós somos complicados.
De qualquer modo, meu coração queria tanto sentir uma outra forma de amor que ao me dirigir para ele, talvez minha capacidade de amar a vida como ela é tenha me trazido de volta um bocado de carinho que não me passa desapercebido, de jeito nenhum, é claro.
Ainda sonho, mas não como quem deseja e sim, como quem lembra.
Então, quem é o filho do amor? O próprio amor. Quem seria a mãe do Amor? A vontade de amar e ser amado. Ou a fé...ou a auto ilusão, diriam alguns mais desconfiados.
Mas tudo está tão tranquilo, que  quase me assusto, mas acho bom. Tudo está tão tranquilo que até esqueço que estou envelhecendo e desta vez, é pra valer! Tudo está tão tranquilo que as vezes tenho de afastar o medo com meus bons pensamentos. Então lembro de alguém ou alguma coisa que me faça sorrir.
   Será que as pessoas sentem isto que sinto quando estão envelhecendo e pisando nas folhas do outono?
Tudo está tão tranquilo que até me esqueço que sinto saudade...Penso que as transformei em lembranças.   E lembranças eu não esqueço. Sei que há buracos pelo caminho cujo fundo nem mesmo consigo ver e que parece que nunca serão preenchidos. São assim os caminhos. Nem tudo é apenas encantadora paisagem. Não estou mais triste. Digamos que só fico triste porque acho que não é bom sentir saudades porque alguém foi embora. A gente devia poder abraçar, de vez em quando, as pessoas de quem sente saudades. Mas, desconfio que mais uma vez, adocei meu caminho, e mesmo no silêncio parece que estou encontrando favos de mel. Quando era menina, comia uma parte de uma flor porque sabia que era doce. Ainda bem que meu olhar não se amargou. Que bom!
Não quero ficar eternamente no silêncio ou hibernando como uma mamãe ursa. Quero deixar aquele meu beija flor sair do meu peito em direção ao sol. E quero ter fé, porque só assim se recebe aquele tipo de amor que não nos abandona. E se o amor preencher nosso coração, como uma coisa leva a outra, a gente recebe mais amor de quem ainda não quiser nos deixar apenas saudades...
Foto e texto: Vera Alvarenga

sexta-feira, 7 de março de 2014

O silêncio...





Há uma coisa que existe que, quando a gente pensa nela, já não é.Não que não existam outras assim mas me refiro a algo realmente raro.
- Penso, logo existo! Ah! Mas para esta coisa, o pensamento é como intruso que vem às escondidas tirar-lhe a vida. Rubem Braga escreveu que no silêncio vive a última palavra ou o último gesto. Fiquei encantada quando li isto.
   Há o silêncio no mundo que nos cerca e que às vezes emudece, e o silêncio que está entre nós nos envolvendo ou nos separando, mas também há aquele particular que se esconde no interior de cada um. Penso que no silêncio, que era ao qual me referia desde o início, naquele que eu posso chamar de "meu" porque a ninguém mais pertence e dele posso fazer o que quero, habitam também sentimentos mais antigos impressos como tatuagem, que vem inesperados como pássaros em revoada ou como água do mar quando enche o buraco que uma criança cavou na areia. Quando a gente olha para ele é como se visse, num dia de sol, o brilho daquele anel antes de cair no mar, ou como o desejo de sentir o abraço do homem amado durante um sonho numa noite fria. A visão dura apenas um segundo... se a gente estende os braços, já não está mais lá.
   Em alguns momentos ele vale ouro, em outros incomoda ou é melancólico.
   Nos meus momentos de silêncio, já viveram gestos de amor, pela lembrança daquele sentimento vivido tantas e tantas vezes. Em alguns outros, a saudade veio doida como jamais tinha sentido antes, talvez porque jamais tenha tido antes uma visão como aquela. Talvez porque no silêncio viva o último sonho, precisei deixar o barulho de mil palavras e dos ventos e também dos gestos passarem sobre mim, como se eu fosse deserto varrido por tempestade de areia. Tudo para cobrir em mim aqueles sinais, que como cicatriz ardia ao sol  mas se acalma quando protegida, ainda que sempre esteja lá.
  Nos momentos do silêncio do mundo, sentia saudades do que ficou de você, em mim. Já nem sei se é você que ainda está lá, se o que há de você é mais meu que seu, mas ainda sinto saudades.
   E houve alguns raros instantes do silêncio ao qual eu mesma me entreguei, pelo qual me deixei absorver em meio a natureza ou pela meditação, nos quais, surpreendentemente experimentei paz... e nela, eu nada mais precisava, a não ser me deixar ficar ali sentindo aquela presença. E assim como o silêncio, também esta paz a mente não conseguia compreender, e o tempo desta indescritível visão durou apenas um piscar de olhos, como quando a gente vê o brilho do sol refletido naquela pequenina onda no meio do imenso oceano...

foto e texto:Vera Alvarenga

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Era tanto silêncio naquele café...


 E depois de tanto tempo, se encontraram. E logo, o silêncio acabrunhado que se seguiu ao primeiro olhar foi preenchido por palavras leves e soltas, que se sobrepunham por vezes, no desejo que ambos tinham de agradar e tornar aquele encontro possível.
  Inevitavelmente, após alguns minutos de animada conversa superficial, um outro silencio se colocou entre eles, aquele que ela mais temia, o silêncio do medo de não saber mais o que dizer. Por que as palavras que facilmente encontrava ao escrever, agora lhe fugiam? Por que tinha de ser assim, alguém tão calada, embora em seu interior houvesse uma efervescência de sentimentos? E por que ele também se calara? Ah! ela não era mais a jovem mulher bonita e elegante que fora um dia! O silencio dele seria o da indiferença? Estaria aborrecido, arrependido de estar ali? Afinal, ele era um homem tão experiente.
  Segurou o copo onde estava o café gelado cremoso, brincou com ele mas não o levou aos lábios porque sua mão tremia. Quis fugir dali. Se pudesse desapareceria como num passe de mágica. Precisava ter coragem e olhar pra ele mais uma vez antes de se desculpar, levantar-se e ir embora. Sentiu que corava. Havia uma tensão quase insuportável.
  E então, numa voz mansa, ele começou a lhe falar de suas dores e dúvidas,contou-lhe como vinha se sentindo. E ela, amorosamente, silenciou, desta vez para ouvir. Ao terminar o que tinha a dizer, foi ele que silenciou, e aquele era um silêncio humilde de um homem que reconhecia que houve momentos em que foi necessário entregar-se ao que não podia controlar.
  Ela sabia que havia muitos tipos de silêncio. Mais uma vez ela, que sempre fora tão amiga dos silêncios, experimentou aquele da admiração, o silêncio maravilhoso do encantamento. Queria dizer sábias palavras, talvez algo que pudesse fazê-lo feliz, queria ter as respostas, mas só fez um gesto. Docemente levou sua mão ao rosto dele e pensou - por este momento de amizade, respeito e confiança, valeu a pena sonhar... Amanhã acordarei feliz.
  Se olharam nos olhos. E foi a sua vez de falar um pouco de si. Insegura, falou pouco, tinha vergonha de suas próprias ingenuidades.  Ele a ouviu atentamente e não a interrompeu, nem a criticou. E ela que achou que o silêncio dele era puro orgulho! Como sabemos pouco daqueles que não conhecemos. Ambos tiveram a chance de experimentar um momento do silêncio do coração, o silêncio que ouve o outro procurando não julgá-lo. E se aproveitaram destes raros instantes que, no entanto, pareceram naturais para eles. E beberam aquele café e brindaram com ele na despedida, como se fora de uma fonte que lhes aplacava parte da sede.
  Ela estava pronta para acordar. Piscou algumas vezes. O quarto estava na penumbra...
 
  Depois do silêncio dos amantes que silenciam para aprender um sobre o outro e sobre si mesmos,e do desvendar os mistérios de cada um com a devida reverência que só os maduros tem, entregaram-se ao silêncio confortável do prazer de se sentirem relaxados e em segurança, apesar de se desnudarem.
  Ela estava deitada no seu ombro, afagava seu peito e sentia sua respiração. Não se importavam com o mundo lá fora. E ainda havia um copo de vinho para cada um na garrafa que transpirava ainda, no que restara do gelo.
  E então, eles cortaram o silêncio, a tensão se desfez, e riram como crianças felizes. E falaram trivialidades como se a vida fosse um presente recém conquistado....
Foto retirada do Google
Texto: Vera Alvarenga

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Ainda estás aí?


 Era uma noite silenciosa. Eu me demorava a dormir. Então, o som me envolveu. Não sabia de onde vinha porque até aquele momento o silêncio, o teu silêncio, era de morte. Havia uma ausência tão palpável que se podia até ouvir o pulsar daquelas paredes como se tivessem vida apesar do vazio. E no escuro daquela noite em que não consegui entregar-me ao sono, a respiração curta impedia o ar de preencher todo o espaço que ali havia para ser preenchido.
   E eu respirava como se tivesse preguiça de viver. Aquele espaço vazio e negro me assustou por momentos. Onde eu estava? Meus olhos, tanto quanto eu, estavam fechados. Lentamente os abri, por um segundo. Apenas por um rápido instante. Voltei a sentir o pulsar daquelas paredes. E naquele quarto, convenci a mim mesma que estava segura. Todo vazio assusta, pensei. Nada demais. É preciso apenas coragem para continuar a respirar e crer que tudo vai passar. Porque tudo passa.
   A saudade, a falta, o desejo daquilo que não podia mais ser sentido, culpa da ausência e do tempo,  passariam, não iriam mais atormentar meu sono. E eu recordaria tudo e esta noite, como vaga lembrança de algo que, um dia e por muito tempo, pareceu eterno. Tudo se transforma. Nada permanece como foi um dia. Nem eu! Seria mesmo verdade que tudo passa, mesmo as mais raras e valiosas presenças? Não estariam para sempre marcadas em nós? Ah! estes tesouros a ornamentar nosso aposento mais íntimo. Nem todos igualmente preciosos, mas cada um com inestimável valor. Talvez naquele mesmo aposento em que me encontrava agora, houvesse uma vida escondida dos olhares, e que pulsava, tão eterna quanto posso ser, e enquanto eu for.
   Então, tudo passa... mesmo a mais indispensável de nossas inspirações. Porque um dia, talvez deixemos de crer em nossa capacidade de amar ingenuamente e para sempre.
   Passa sim, pensei, tudo passa, nem que para isto tenhamos de perder a memória que nos faz ser o que somos. Nem que um dia, acordemos no meio de um quarto que não nos diga respeito, onde não possamos nos reconhecer, esquecidos de tudo e assustados, ou por tão esquecidos, talvez sossegados, para sempre ingênuos, eternas crianças.
   Tudo passa também ao olhar consciente mas superficial, embora muito fique escondido, quase silencioso, camuflado em nossa pele. Como de pele era aquele quarto. Aquele em que me encontrei naquela noite, incrivelmente consciente de uma ausência.   
   E ele, que pouco tempo antes tinha voltado a pulsar descompassado, quente, úmido e ansioso diante das promessas da vida, agora, a despeito de mim e do tempo, ainda batia, mais lento porém ritmado. E eu o ouvia, no silêncio da noite. Então, ainda estás aí, no meu peito?! Agora, eu o sabia ainda vivo e calmo, a despeito de tudo e do vazio. Porque o vazio é talvez um espaço necessário ou, por vezes, inevitável.
   De olhos fechados, a languidez foi tomando conta do meu corpo, embalado pelo som que vinha do pulsar daquelas paredes, que jamais foram frias e onde eu sempre podia me resguardar. Eu não sabia mais se estava nele ou ele em mim....
Texto: Vera Alvarenga
Foto retirada do Google
  

sábado, 6 de agosto de 2011

O inverno não traz só frio e silêncio..


 O inverno traz o frio e, às vezes, a morte. Alguma coisa morre enquanto outra está em gestação.
 Há também o que permanece. Ainda bem, porque a morte, aquela que determina o fim irremediável do que amo, me assusta. Não gosto de pensar na morte como aquilo que destrói o que, vivo, me encanta, embora saiba que preciso aprender a aceitar o fim do que eu quisera fosse eterno. Muito do que amamos jaz eternamente nas marcas do coração, e na pele.
  Se não possuo o dom e a magia de eternizar o que amo a não ser em meu coração, então pelo menos posso preferir esperar que alguns de meus amores, apenas se transformem, e um outro tanto esteja apenas em gestação. Assim, após o inverno, o silêncio de morte será substituído por palavras e sons transformados e vivos, e a mim mesma trarão transformação.
   O inverno não traz só o frio e o silêncio. Se souber olhar, descobrirei a vida que só ele traz em si. Por isto ainda não desisto e vivo, com todas as minhas forças, inverno após inverno.


 As sementes, se jogadas ao solo no tempo certo, quando tudo estiver seco e queimado pelo inverno, quando tudo parecer silencioso demais, quando eu estiver a ponto de me render ao que parece morte, então elas me surpreenderão com cores e vida!
  E eu esquecerei até se fui eu mesma que as plantei e agradecerei por virem me encantar. Porque ainda preciso de encantamento. Tudo porque temo a morte.

Fotos e texto: Vera Alvarenga

segunda-feira, 7 de março de 2011

O tempo, a mulher e o vento...

O tempo, a mulher e o vento...
Olhava através da janela. As árvores, balançando loucamente seus galhos e folhas ao lado da casa, mostravam que a ventania  que estava prevista havia chegado. Ela já aprendera a notar seus sinais e tinha de se proteger, mas não o fez. Deixou vir...
Chegou, contudo, antes da hora! Olhou para dentro de si, a areia, as marcas. Alguém já dissera que o vento leva tudo, apaga as marcas, destrói castelos. Não faz mal! pensou. Não eram os castelos de areia que ela queria preservar, eram as marcas. Queria escrever uma história com elas, sob a areia, na terra sólida, na pedra.  Algumas marcas tinham sido feitas recentemente, palavras escritas "a dedo", escolhidas entre os sentimentos que vem para ficar.
Olhou novamente para fora. O tempo havia trazido o vento, que sacudiu tudo. Só folhas novas e vigorosas permaneciam no lugar. Em seu coração agora, o vento se acalmava. Depois que varreu a areia, deixou tudo igual - um deserto feito de pequeninas ondas brancas, sem nenhuma forma a se destacar, sem outra cor, só o puro branco e o azul do céu.
Queria sair ao vento e gritar:
- Então, era isto que queria? Depois de levantar poeira, misturar tudo, sacudir minha vida, era esta calmaria sem gosto, sem cheiro, perfeitamente asséptica que me enviaria nas mãos do tempo? Era isto que seu mensageiro tinha guardado pra mim? Foi você que o enviou, não foi? Venha você mesmo me dizer! Não vê que não posso ser como a terra infértil do deserto e fazer de conta que não fui fertilizada? Simplesmente não posso ser assim! Olhe pra mim! Sou toda carne e osso, pele permeável, contaminável, sinto o que me toca, sou real, dou frutos, me quebro, envergo, quase morro; o que apodrece em mim, descarto, cultivo o que traz sinal da vida... minhas marcas eu reconheço!
- Me responde, fala comigo! Não passe como se fosse apenas a brisa indiferente, depois de feito o estrago. Não foi o vento que o tempo trouxe, mas teu silêncio que doeu em mim. Fala comigo. Eu, ainda não estou morta!
Voltou seu olhar outra vez, para dentro de si. Nada podia fazer. Antes de abrir seus olhos porém, desejou ardentemente que ali pudesse ver o que, em seu coração, acreditava - o vento podia vir, misturar tudo, varrer lembranças, mas jamais apagaria algumas marcas e algumas raízes permaneceriam, da vida que recomeçaria dali, com a história que ainda seria escrita.
 E ela apenas podia desejar que não precisasse escrevê-la sozinha.

Texto : Vera Alvarenga
Foto: retirada do Google imagens  
   

sexta-feira, 4 de março de 2011

O grande o e pequeno silêncio...

 Ao ler um texto de Clarice Lispector, no qual ela fala de um grande silêncio,refleti sobre o como ele me afeta.
O grande silêncio? Sinto falta quando não o tenho! é nele que medito,renovo energias,sossego a alma e a mente curiosas. As respostas? Vem depois dele, ou apenas a tranquilidade do sentir-me novamente centrada. É o pequeno silêncio que hoje pode me incomodar- aquele que se mostra no virar das costas de quem se afasta, porque encerra o que poderia ser um diálogo. Mas me irrito comigo mesma, por não tê-lo ouvido há mais tempo, já que sempre esteve ali.
Mas o grande silêncio...este não temo! Eu, às vezes me assusto se logo após sair dele, me deparo com alguém em ritmo ansioso, que com voz de pedra esteja a cobrar algo que só lhe posso dar, se entro novamente no girar da pequena roda gigante do hamster ( sabe qual é? aquele brinquedinho que colocam na gaiola do ratinho, que gira e gira?). E hoje, quando isto acontece, num rápido instante me lembro que já sei o que fazer e ainda me dá tempo de marcar com ele, o silêncio, meu próximo encontro.

   Durante o grande silêncio da noite, olho ao meu lado e ao ver quem ali está, meu coração se enche de paz, porque neste silêncio nos encontramos e eu me lembro o quanto o amo e quanto o amei. 
   No grande silêncio da noite hoje, posso fechar os olhos e ver um rosto no sonho de amor que idealizei, que nada mais é do que um sonho, mas está na lembrança como algo que um dia já tenha vivido ou desejado tanto, que talvez ainda que seja em sonho, possa encontrar...
  
Texto e fotos : Vera Alvarenga

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

"Quando o silêncio é de ouro!..."


Incrível como o silêncio é imprescindível! Não aquele de horas e horas de solidão, ou aquele em que não temos o que contar alegremente para o outro, mas o silêncio do "encontro" !
   Quando por 30' vamos meditar, ou fazer um Reiki,ou tirar aquele famoso cochilo que os homens tanto gostam, para o "encontro" com nossa tranquilidade interior e ficar mais centrados... Avisamos às pessoas:
" Vou meditar um pouquinho" e é o suficiente.
   Quando estamos escrevendo ou num processo criativo, precisamos do relativo silêncio para encontrar as idéias e palavras adequadas. Perdemos a inspiração se somos interrompidos pelo som alto da TV a repetir seguidamente e em tom sensacionalista, as notícias de crimes,mortes,acidentes.
  Quando estamos lendo, é o relativo silêncio que possibilitará a compreensão e o "encontro" com o autor, ou com a gente mesmo se queremos refletir. E quando principalmente trabalhamos em casa,precisamos algumas vezes do relativo e piedoso silêncio, quando por exemplo, em meio a tantas contas e números, precisamos ir ao "encontro" de um erro, uma diferença. E se alguém nos interrompe, neste momento, faz muita diferença a forma como a pessoa consegue ( ou não ) aceitar nosso pedido de ter uns minutos de paciência, para que possamos finalizar nosso trabalho de horas, de modo eficiente. Se a pessoa que nos interrompe, sente que precisa ter suas necessidades atendidas sempre prontamente e não tem paciência para esperar, exercendo pressão com outros barulhos, ou com insistência, nos sentimos agredidos. E se este comportamento se repete, quando a gente encontra um desafio inesperado pela frente no trabalho, e está com o tempo justo para terminar, por vezes acorre algo muito desagradável. A gente já fica tenso, quando a pessoa se aproxima, a mente fica bloqueada e sentimos desconforto com a presença da pessoa que assim nos pressiona, mesmo que quiséssemos evitar este sentimento. E, se a pessoa não se dá conta disto, é bem possível que, com o tempo nos sintamos violentados, de certa maneira. Este "desencontro" é uma pena e poderia ser evitado!
   Quando a gente trabalha em casa, é claro que se sabe que é necessária a Tolerância de ambos! Nada é tão importante assim, que não possa ser interrompido, para recebermos com um sorriso o outro, que vem nos dizer que está com fome, ou pedir uma ajuda no computador. Ninguém deve fazer o outro,escravo de seus caprichos, seja o interrompendo desrespeitosamente, seja esquecendo-se dele! Sabemos que, aquele que estiver num "momento criativo", por exemplo, facilmente se esquecerá do tempo, da fome e do outro! Mas, é sempre o bom senso e, na minha opinião a amizade e o respeito que sinalizará os limites. O que interrompe deve vir manso e o que é interrompido, deveria estar disponível a ouví-lo, pois com amizade e respeito, o carinho virá junto com estas atitudes. Então, além de termos prazer com a presença do outro, teremos um "encontro" verdadeiro entre duas individualidades.
   Hoje eu estava no meu quintal à tardinha, lendo e percebi como estes momentos de silêncio tem me feito bem! Não ser interrompida abrupta e insistentemente é muito bom...nos permite uma atitude mais ponderada e tranquila. O contrário me deixa nervosa.
   Bem, e como eu, que gosto do silêncio posso estar a escrever tantas palavras?? hehehe..... é que escrever ocupa muito espaço, mas em compensação, deixo ao outro a liberdade para ler em tom manso, no volume que quiser, no seu ritmo e no momento mais oportuno. rs......................
  Não sei se é o "silencio que é de ouro" ou o mais importante é o respeito, amizade, tolerância e bom senso.
Acho que uma mistura de tudo seria o ideal, não acham?


Fotos e texto: Vera Alvarenga

sábado, 9 de janeiro de 2010

"Depois do silêncio, as palavras transbordam"...

   Depois de muito silêncio, é impossível evitar escrever demais quando o tema interessa.
   Bem que eu intuia que esta história de blogar ia dar pano pra manga! Confessei,logo no início que estava ficando apaixonada por Sr. Blog e suas possibilidades!
   ... houve um tempo, quando morava em São Paulo, em que não importando  o tamanho da crise eu sentia que, se estivesse apaixonada por uma ideia ou projeto meu, nada poderia me abater, pois ainda estaria apaixonada pela vida. Mesmo um projeto simples, se me apaixonasse por ele, me entregava por inteiro encontrava significados e isto me fazia feliz, apesar de qualquer outra circunstância. Além disto, quando voltei para faculdade, ou quando voltei a trabalhar, fiz amigos com quem vez ou outra podia realmente conversar sobre mim, sobre eles, sobre a vida. Sempre gostei de conversar. Note-se que eu disse que sempre gostei de conversar, o que supõe ouvir e ser ouvida, e não discutir!
   Após uma séria crise financeira e algumas decepções por que passou meu marido, fomos morar em Florianópolis, como já comentei no meu Blog de fotos. Deixamos os amigos, filhos, compadres, e lá fomos nós... e lá ficamos à beira mar, por 10 anos! Cumprimentávamos todos, sorríamos para todos, mas não tínhamos ninguém mais íntimo com quem contar e atolados até o pescoço no trabalho. Não tínhamos tempo, nem saúde para fazer amigos. Foi uma benção poder morar naquele paraíso, enquanto recomeçávamos, mas percebi que era necessário voltar a conversar, encontrar semelhantes.
   Somos muito diferentes, eu e meu marido. Mesmo apesar do amor e batalhas vencidas juntos, nossas conversas, muitas vezes, se transformam em discussões. Nos adoramos, quando estamos abraçados e quietinhos ou quando precisamos lutar batalhas. Eu, sou uma pessoa crédula, mas reservada e cheia de questionamentos, pois preciso acreditar no que tenho que fazer. Ele, é um batalhador corajoso que age por impulso, nada reservado, crítico, mas que também acredita no que faz. No final, meu marido entrou na política (algo que odeio por ser um ambiente cercado de corrupção impune) e eu me vi sendo entrevistada sobre o que faria se fosse a primeira dama! Indo com ele para debates! Então, já não podia falar, nem o que pensava, nem o que via nos bastidores! Fora o fato de que recebemos ameaças anônimas em casa! As ameaças eram resultantes,é claro, da atitude de um "metido e destemido" como ele, que ia aos debates só para falar claramente sobre tudo que estava absurdamente errado ( ele era povo- nunca foi político!).
  Resumindo, antes da eleição, decidi que desta vez, eu iria por um caminho diferente do dele. Meus olhos já viam novamente o trem ir chegando à estação... ou eu entrava nele ou perdia o que restava de mim. Entrei, com destino a uma pequenina cidade do interior de São Paulo, onde meu filho e norinha me chamavam para acabarmos com nossa solidão e saudades "de familia". Ganhei de quebra um netinho que alegrou e curou minha alma e, um ano depois, mais uma neta . Meu marido? Ele veio junto, porque, é claro, não foi eleito! Como o seria? sem comprometer-se com ninguém em troca de patrocínio e sem conhecer o significado da palavra diplomacia...? Na minha opinião, político deveria ser obrigado a fazer um curso de formação e entrar por concurso honesto, e ali permanecer apenas por competência! Bem, pelo menos dele, eu conhecia as honestas e idealísticas intenções !
   Assim, após 13 anos de quase silêncio, em que minhas idéias se expressavam através da arte, cerâmica e do artesanato que nos sustentou nestes 10 anos em Florianópolis, quando descobri que podia criar um Blog para escrever, "conversar" com amigos virtuais, me apaixonei pela ideia. Criei um Blog de fotos, entrei no Flickr, para mostrar o que encanta meu olhar e comecei timidamente a escrever comentários no DiHitt.

  Começo a conhecer pessoas interessantes e animada escrevo. Me emociono com a amizade e palavras dirigidas a mim, pela nova amiga Maria Souza, e pelo elogio recebido do Sérgio. E eu, afastada dos amigos há tanto tempo e habituada mais a críticas e debates, logo desconfio e penso :
 - " Ah meu Deus, fui muito indelicada no site do Sérgio! Meu comentário foi longo demais! E ele, muito educadamente, em poucas palavras, usou um elogio para indicar isto! "
  Logo depois, dou uma risadinha amarela e penso : " Nossa Vera, que lástima! Não consegue receber um elogio? E se não fosse, onde está sua capacidade de transformar as coisas ? Você não disse que aprendeu que não tem que ser perfeita? " Então um novo pensamento me anima. Talvez eu tenha que acreditar no elogio sim, afinal pode haver entre os blogueiros, alguns semelhantes a mim... talvez ele esteja querendo me incentivar e eu deva usar isto para aprender algo. Afinal, como o tema que comentei, estou num período de transição, após mais uma imensa mudança de vida e preciso ser tolerante comigo mesma, como aconselho a outros.
   "Desculpe, Sérgio, fui indelicada. Estou aprendendo. Obrigada pelo incentivo".
   Estarei aprendendo em blogs como os dele, a me comunicar de um modo mais objetivo e com o tempo,  emoções e  mente se acalmarão e as palavras saberão que serão "ouvidas" e eu poderei voltar ao silêncio, sem medo de emudecer pra sempre!

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