domingo, 3 de fevereiro de 2013

O telefonema

  Estava passando, distraída, ao lado do telefone, quando algo acordou-me do tédio que não costumava sentir, mas agora me visita. Telefonei. Ninguém imagina como me custa fazer um telefonema. Telefonar foi um hábito que não criei. Foi uma conversa rápida. Apesar do assunto, ao final terminamos sorrindo como geralmente terminam as conversas de pessoas que se ouvem e se gostam. Do outro lado, alguém de quem gosto bastante contou-me, entre outras coisas, que uma tia distante morreu.
  A tia era bastante idosa e sua morte fora prevista várias vezes, com direito à visita e preocupação , por um ou outro parente. A todos porém, e à própria iminência da morte, a senhora idosa havia enganado. Alguns familiares mais jovens foram-se antes dela que, teimosa, permaneceu por quanto tempo ainda quis. Contudo, ela agora se fora. E como em outros casos, talvez a morte já esperada, não se tenha tornado o personagem mais importante desta história, mas sim, os figurantes que trazia consigo, o cenário que deixava à mostra, o que fazia refletir sobre a vida. Como por exemplo quando marcava um encontro de familiares que já não tinham mais nada a ver uns com os outros, se a amizade houvesse se acabado.Talvez o sentimento nem tivesse resistido verdadeiramente, também em relação àquela que acabara de morrer, por todas as vezes que alguém se sentiu como que traído pelos falsos anúncios daquela visita, que mais dia menos dia, bate à porta de cada um de nós, mas se demorava a levar a velha. Ela enfim, se foi. Quem sabe cansou ou se encheu de tédio.
  Tédio não faz bem, engorda, prejudica o coração e tira o gosto doce da vida. Tédio, o companheiro dos solitários, dos que vivem silenciosamente ou dos que, na ausência do sentimento recíproco de amizade, perderam o caminho que os levava aos momentos mais espontâneos, simples e vívidos que animam o viver. Mesmo que gostemos de nossos momentos de solidão, tem gente que se perde um pouco, se não conseguir ver-se refletido nos olhos de outro. Não é certo nem errado, apenas existe gente que é assim. Evidentemente, sempre há os que digam : - Que se encontre então! Que se salve e por si mesmo descubra a vida! Seria o ideal. Ideal, é quando a razão pensa que sabe o que fazer, mas o resto não acompanha.
Só sei que, quando desliguei o telefone, estava sentindo-me mais viva.
   Incrível o poder que tem uma rápida conversa entre amigos que se gostam. O poder de desatar os nós, até das tramas mais enroscadas de um casulo. Mesmo daquele em que se esconda o mais tímido e comodista animalzinho. Não é culpa de ninguém, nem minha porque conto esta história, eu, que gosto de casulos apenas para me aconchegar. Nem é culpa de quem, já sendo dado à quietude e, ainda mais, não tendo com quem conversar suas próprias falas além de ouvir as do outro, acaba por penetrar no casulo que, se algumas vezes aconchega, ao mesmo tempo, aquieta em demasia.
   Lembrei-me de um amigo com quem conversava de vez em quando. Para mim, era algo raro e precioso a que me permiti. E conversávamos pouco, coisas tolas ou importantes. A gente tem necessidade de ter alguém com quem possa conversar coisas simples, comentar sobre nossos pequenos desejos ou iniciativas que planejamos ter, contar pequenas vantagens. Um amigo que acredite em nós e nos ouça, só por isto nos encoraja e anima. Eu, que por muito tempo pensei que amizade fosse algo precioso mas secundário se não viesse junto daquilo que tivéssemos julgado ser o maior objetivo de nossa vida, hoje sei que não é bem assim.Tenho certeza disto. Hoje me falta o amigo. E ele, apenas por existir, me animava. E quando a gente se anima, acredita em si, faz planos.
A vida passa tão rapidamente. Dura tão pouco! Quanto tempo dura a vida quando se pensa na eternidade? A vida é um bem precioso. Um bom amigo também. Sinto muita falta.   
   Mas tenho a vida. Ouço a voz que conversa comigo. Ainda sou eu, ela dentro de mim, a me fazer companhia. E ela me sacode às vezes, me compreende outras, porque me conhece, me abraça e concorda comigo quando penso que tem de haver alguém superior a nós, a nos dar um sentido maior, a nos consolar quando descobrimos nossas fraquezas. E, de vez em quando ela me convida... – Vem, passa um baton, vamos sair um pouco deste casulo! Eu te faço companhia...  
Foto retirada do Google
Texto:Vera Alvarenga 

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Sensibilidade, razão e saudade...

  Às vezes bate uma saudade e sinto uma enorme vontade de abraçá-lo. E abraçá-lo, eu penso, do modo como jamais o abracei. Do jeito que a gente sempre sonha abraçar aquele que a gente ama. Sabe como é, não é?
 Quantas vezes imaginamos estar com alguém e, sem precisar dizer muitas palavras, compreender que muito já está subentendido e, com um abraço selar um acordo íntimo de cuidado e confiança eternos. Quem não sonha com este tipo de encontro onde  desprendimento e comprometimento não se fazem contraditórios, mas complementares? Algo como se as almas tivessem finalmente se encontrado...
   Ah! nossa! quão delicado e profundo pode ser o sentimento de que somos capazes quando estamos apenas a vislumbrar o encontro, seja com um filho, um amigo ou a pessoa por quem estamos ou estivemos apaixonados.
   E quantas vezes nos acontece que, ao estarmos diante daquela pessoa nos toma, de corpo inteiro, uma inércia desconcertante. E esta, é filha da dúvida entre o desejo de demonstrar espontâneamente o carinho que queríamos dar( ou trocar), e o conjunto de crenças ou afirmações que tantas vezes ouvimos - "é preciso respeitar o momento do outro", "não podemos apenas pensar no que desejamos mas nos perguntar se o outro o deseja também", "demonstrações de afeto não esperadas podem fazer o outro sentir-se invadido" ( ainda mais no tempo em que as pessoas se habituaram a manter-se resguardadas, isoladas do outro e a verdadeira "intimidade" não é muito bem vinda, a menos que seja através dos toques em um teclado). Evidentemente são regras do bem viver. E necessárias, sem sombra de dúvidas! Eu mesma hoje, sou assim - sei que aquilo que sentimos e tem um toque de divino e verdadeiro, é diferente do que podemos transformar em gesto real. Sei que nem tudo que parece ser, é. Somos seres humanos racionais e deve fazer parte de nosso desenvolvimento, o saber controlar desejos e impulsos, o aprender que a vida é feita de frustrações e alguns momentos de felicidade ( por isto mesmo, também é melhor evitar nos apegar ao que pode ser colocado apenas em palavras e jamais em gestos).
   E sendo assim, não estando mais presente, onde estiveres, certamente não recebes nem precisas de meu abraço, penso eu. Quantas léguas me separam de onde estás agora?
  Ao pensar nisto a saudade fica mais forte, mas hoje, já sei como estancar o sentimento como aquele que impede que o corpo se veja inteiramente tomado. E é preciso fazê-lo antes que se torne quase insuportável, porque então, ia doer. E só masoquistas precisam sofrer, diz mais uma crença. O melhor é apenas lembrar, sorrir, deixar ficar e seguir. Então, acalmo meu coração, viro as costas e saio... livre, agora, de tua lembrança...
  - Hei! Espere ai! Quem é que disse que viver é fazer de conta que nada sentimos? E que todos estes pensamentos e sentimentos contraditórios de um mundo que mal conheço e pelo qual minhas pernas mal caminharam, podem me roubar assim, tão totalmente de mim ( daquilo que acreditava) ? Penso, logo existo? Creio, logo sou! Ah, como sou terrivelmente influenciável e fraca neste ponto! Traí a mim mesma mais do que a estranhos.
  Decidida volto então a buscar-te em minha lembrança, porque viver é lembrar também. Descuido da razão. Escolho minha sensibilidade. Procuro tua face e cara a cara te digo que, neste momento em que quero ser fiel a mim mesma, não importa teu silêncio, a distância ou mesmo tuas escolhas. Coloco em prática o gesto que aprendi... ( Psiu! ninguém vai saber e só quem crê, sem soberba, poderia compreender...) e na calma do meu coração me coloco como em meditação, e para ti envio o melhor de um singelo e forte sentimento envolto em luz azul, junto com meu carinho, desejo que fiques bem e que Deus esteja contigo. Neste momento tenho asas e é o melhor de mim que vai em tua direção. Pronto, feito!
   Mas, um minuto após este doce instante de meditação, guardo meu espírito e minha viola no saco, no mesmo instante em que, sem nenhuma razão, passa por meu corpo e minha vontade um pensamento furtivo...
  - Ah! tivesse o destino permitido que ainda houvesse tempo para que tudo pudesse ter sido mais concreto, como ainda sou...
   
Texto e foto: Vera Alvarenga:
  

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Um sentido para a vida...

   Diante da morte, quando perdemos alguém que amávamos, difícil seria não pensarmos, de uma forma ou outra, no sentido da vida, desta que aqui conhecemos. Não só da morte, mas do espanto. Quando estamos em um dos extremos, a morte ou o que nos cause espanto pela visão de algo incrivelmente belo da natureza, pensamos na existência de Deus. Pensamos ou sentimos. Mais sentimos do que pensamos...
   E nestes momentos, as discussões filosóficas e religiosas não nos consolam, mas nos mostram como, há milhares de anos, buscamos o sentido maior das coisas. Tudo e a única coisa que traz consolo diante do nosso medo e espanto é a fé. E tudo porque temos medo. Se o medo nos leva a Deus, se muitos dizem que se não houvesse o diabo, o medo e a dor, não iríamos tão ansiosamente em busca do nosso Deus que nos salve e justifique tudo o que nos parece sem nenhum sentido, como a morte de um filho ou outro ser amado, também o belo nos leva até Ele.
   Porque certamente conhecemos, de nosso futuro, o que mais nos assusta - que morreremos brevemente - temos o medo, o medo da dor, e mais ainda o medo do vazio, da perda de sentido para o que somos, o que vivemos e a própria vida, em si mesma.
   É por isto que diante da guerra, das atrocidades, das calamidades, das tragédias precisamos do consolo da fé. Mas também quando temos um daqueles momentos de espanto e admiração diante de uma flor ou da magia e encanto da enorme variedade de fragrâncias, formas e cores de tantas delas, ou ainda diante de uma paisagem como fiordes, ou simplesmente árvores e um cisne refletidos em um maravilhoso lago ao por do sol alaranjado, pensamos que a existência de um Deus de todos os deuses, o único verdadeiro, tem de ser inevitável. E que seja uma certeza, para nossa sorte. E que não seja um Deus apenas energia, mas um que pensa, nos vê e nos ama. Só isto nos consolaria e justificaria a vida e a morte. Só a fé neste Deus inexplicável mas real, silencioso mas presente, que não interfere mas nos ama e conhece o que está por trás de tudo, nos consolaria diante do anseio por sentido, do nosso desejo de que toda a cor e tudo o que existe de bom e extremamente belo deste lado, seja apenas um reflexo das possibilidades que há no pensamento Dele e em sua criação, e do que possa existir lá, onde Ele não se materializa no mundo de opostos, mas é tudo, sem começo nem fim. Pensar que somos parte dele e que, aquilo que criamos aqui pode ser um reflexo infinitamente menor do que são as possibilidades nele, nos devolveria uma gota de grandeza e de humildade. Mais uma vez dois opostos pois somos hummanos e este é o nosso mundo.
    Só diante de um Deus de amor e verdadeiro podemos entregar nossos filhos e nossos amados... e a Ele, daríamos graças por todo o belo e bem que é possível...

Texto em solidariedade aos pais, familiares e amigos dos 236 jovens mortos no incêndio deste final de semana numa boate no Rio Grande do Sul, e para todos que pranteiam seus entes queridos sem ter ainda encontrado consolo.
Vera Alvarenga. 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Entre a razão e o coração...

E naquela pequena aldeia onde morava, ela viveu por muito tempo, foi feliz, lutou, trabalhou, riu e chorou, como todo o mundo. Até que chegou um dia, quando se incomodava com a fraca luz que iluminava suas noites, em que soube de alguém que tinha outros costumes, vivia em outro lugar.  Quando era noite escura aquele, que distante vivia, trouxe consigo uma lanterna, porque também procurava algo que perdeu.
 - Onde mora? ela perguntou.
E ele lhe mostrou. Lá...
- É longe...muito longe...Mas, por algum tempo, ao olhar para o mapa do mundo, ela podia ver lá, bem distante naquela outra cidade, a pequenina luz verde, fosforescente, que se acendia para ela.
   Então, a cada vez que via, na penumbra, aquele sinal, em seu rosto um sorriso iluminava sua noite, e também o seu dia. E, apesar de seu olhar sonhar com o distante lugar, não era apenas de sonho que vivia. Porque a luz que antes pertencia apenas à janela daquele que estava distante, entrava em seu coração diariamente até que, em poucos meses, também lhe pertencia. Não que a tivesse roubado dele, não! É que, de tanto que aquela existência lhe fazia bem, tomou-a para si, em pensamento, e a interiorizou. Nela ocorria o mesmo fenômeno que a tanta gente que busca a luz, que ama - resplandecia! E tudo ao seu redor ficava mais iluminado, e assim, não cometia nem o crime de roubo, nem o de ausentar-se do que era sua responsabilidade viver. Era o que a razão lhe fazia crer. Contudo, a experiência era com os sentidos e, se houvesse alguma verdade ali, era a de que seu coração assim iluminado, era capaz de iluminar novamente. E era para isto que acreditava viver.
   Algum tempo passou. Um dia, à sua alma ingênua, a própria razão, talvez pela inquietude que traz a ausência do que nos alimenta a fé, plantou-lhe uma dúvida impiedosa.
 - Tudo é ilusão. Como sabes que aquela é a mesma luz que te acompanhava antes? Neste silêncio, como sabe de quem é aquela janela? Quem estará atrás das máscaras que todos usamos? Logo tu, tola que foste. Nem ao menos quisestes conhecer outras pessoas que lhe trouxessem outras notícias, outros sorrisos e mais sentido para o mundo que conheces.
- Se sabes tudo, não deverias esquecer que a inquieta é você, não eu. Sou fiel ao que sinto, e não costumo procurar, como você. Não posso mudar tanto de mim, só por ter visto algo que não tinha mais e desejei, ou mesmo que tenha sido uma criação de meu próprio desejo.
E a mulher virou as costas para a razão. Mas seu coração, com certa tristeza pressentia que aquela luz poderia apagar-se de dentro dele, porque já não sabia de onde vinha, nem se algum dia, verdadeiramente tinha se iluminado para ela... talvez viesse apenas de um anseio...de si, ou do outro que um dia passou por ali.

Texto: Vera Alvarenga
Foto retirada do Google.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Dois olhares para a mesma viagem...

- Olha só, que linda imagem!
- Onde?
- Ah! já passou!
- Tudo passa, mesmo quando estamos sentados...
- Tudo passa porque temos de ir para algum lugar, ora! Nesta viagem, pensei ter encontrado o lugar exato para me deixar ficar.
- Eu sei..se apaixonou pelas possibilidades. O lugar, de fato, parecia com aquele de um sonho seu. O jardim,  árvores maduras com frutos para dar, a casa, tão antiga quanto nós. Bom que não ficou.
- Fiquei por um tempo, conversando ali no jardim onde nos encontramos. Mas então, fiquei sozinha. O sol começou a queimar minha pele, depois veio a chuva, o vento, e eu, apenas a imaginar como seria bom naquelas noites frias, queijos e vinho, embaixo de uma manta xadrez de lã, abraçados, talvez chorássemos um pouco, para depois rir ao falar de coisas amenas. Eu tinha certeza que saberíamos valorizar os momentos especiais depois de havermos perdido coisas importantes. A casa tinha uma luz quente, mas o dono não me convidou a entrar e me dei conta de que estava muito frio lá fora. Então, ouvi o apito do trem.
- E nos encontramos de novo... Aqui estamos nós. Fico feliz com isto pois não costumo perder o que é importante para mim.
- Olha, que lindo lugar! Está vendo, junto àquela ponte, à direita?
- Não, não vi. Todo lugar é igual, não vejo como você se encanta...
- Cada canto tem algo especial numa viagem como esta. Por isto passei a gostar de tirar fotos, é um dos meus jeitos de eternizar momentos e os detalhes que pude ver. Quer ver algumas?
- Agora não.
- Mas você tem razão, todo lugar é bom, melhor se estamos com alguém para compartilhar...ainda bem que está aqui...
- Sim. Estar com você me deixa em paz. Fica quietinha, vou tirar um cochilo. Quando chegarmos, me acorda.
Texto:Vera Alvarenga
Foto: John Ryan

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Ainda estás aí?


 Era uma noite silenciosa. Eu me demorava a dormir. Então, o som me envolveu. Não sabia de onde vinha porque até aquele momento o silêncio, o teu silêncio, era de morte. Havia uma ausência tão palpável que se podia até ouvir o pulsar daquelas paredes como se tivessem vida apesar do vazio. E no escuro daquela noite em que não consegui entregar-me ao sono, a respiração curta impedia o ar de preencher todo o espaço que ali havia para ser preenchido.
   E eu respirava como se tivesse preguiça de viver. Aquele espaço vazio e negro me assustou por momentos. Onde eu estava? Meus olhos, tanto quanto eu, estavam fechados. Lentamente os abri, por um segundo. Apenas por um rápido instante. Voltei a sentir o pulsar daquelas paredes. E naquele quarto, convenci a mim mesma que estava segura. Todo vazio assusta, pensei. Nada demais. É preciso apenas coragem para continuar a respirar e crer que tudo vai passar. Porque tudo passa.
   A saudade, a falta, o desejo daquilo que não podia mais ser sentido, culpa da ausência e do tempo,  passariam, não iriam mais atormentar meu sono. E eu recordaria tudo e esta noite, como vaga lembrança de algo que, um dia e por muito tempo, pareceu eterno. Tudo se transforma. Nada permanece como foi um dia. Nem eu! Seria mesmo verdade que tudo passa, mesmo as mais raras e valiosas presenças? Não estariam para sempre marcadas em nós? Ah! estes tesouros a ornamentar nosso aposento mais íntimo. Nem todos igualmente preciosos, mas cada um com inestimável valor. Talvez naquele mesmo aposento em que me encontrava agora, houvesse uma vida escondida dos olhares, e que pulsava, tão eterna quanto posso ser, e enquanto eu for.
   Então, tudo passa... mesmo a mais indispensável de nossas inspirações. Porque um dia, talvez deixemos de crer em nossa capacidade de amar ingenuamente e para sempre.
   Passa sim, pensei, tudo passa, nem que para isto tenhamos de perder a memória que nos faz ser o que somos. Nem que um dia, acordemos no meio de um quarto que não nos diga respeito, onde não possamos nos reconhecer, esquecidos de tudo e assustados, ou por tão esquecidos, talvez sossegados, para sempre ingênuos, eternas crianças.
   Tudo passa também ao olhar consciente mas superficial, embora muito fique escondido, quase silencioso, camuflado em nossa pele. Como de pele era aquele quarto. Aquele em que me encontrei naquela noite, incrivelmente consciente de uma ausência.   
   E ele, que pouco tempo antes tinha voltado a pulsar descompassado, quente, úmido e ansioso diante das promessas da vida, agora, a despeito de mim e do tempo, ainda batia, mais lento porém ritmado. E eu o ouvia, no silêncio da noite. Então, ainda estás aí, no meu peito?! Agora, eu o sabia ainda vivo e calmo, a despeito de tudo e do vazio. Porque o vazio é talvez um espaço necessário ou, por vezes, inevitável.
   De olhos fechados, a languidez foi tomando conta do meu corpo, embalado pelo som que vinha do pulsar daquelas paredes, que jamais foram frias e onde eu sempre podia me resguardar. Eu não sabia mais se estava nele ou ele em mim....
Texto: Vera Alvarenga
Foto retirada do Google
  

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Amor...

      Sou extremamente positiva, porque mesmo no auge dos meus sonhos ou da visão de minhas realidades, ainda que precisasse deixar muita coisa de lado, jamais desisti ou duvidei daquilo em que mais acredito, o que me impele a continuar.... 
   E, embora seja deste modo idealista e firme em alguns princípios,...quando te ausentas assim por tanto tempo que até mesmo duvido que um dia estiveste tão perto, quando demoras para vir, quando não sinto que, de algum modo tu estás comigo por momentos e o que tu representas transborda do meu coração, não posso evitar entristecer porque parece que a luz do mundo se apagou um pouco... de tão forte, extremamente forte que tu és, quando se traduz em sentimento que promove a vida – a minha vida.
   E antes, experimentei o contrário. A luz do sol brilhava em meu dia quando o sentia, quando o sabia perto, quando recebia tuas palavras, porque sem que estivesse isto em minhas mãos ou em meu poder, o amor vibrava então, e por tua presença, também em meu coração. E em presença do sentimento de amor que se esparrama como um rio dourado e fértil, o que se banha nele se torna melhor, e tudo que não é, nos parece por demais grosseiro.
   Sim, sou feliz com tanto que tenho, quando olho ao redor e vejo que tenho mais do que tantos. Tenho diferentes coisas do que já tive. Sou grata. Hoje, a consciência que antes procurava e me fugia, está a impregnar-se em meus momentos, embora ao mesmo tempo me sinta desapegar-me de tudo. Tenho uma tranqüilidade que antes não tinha, e tempo para mim... mas isto não impede que perceba que a inevitabilidade das coisas me faz sentir medo, algo que antes não sentia. A maturidade não impede que sinta falta de tua presença...  amor.
   Meu amor ... néctar, bebida  doce que faz esquecer como somos limitados, nós, os seres humanos, e me permitia relaxar e descansar de meus cuidados em almofadas de cetim...
   Deixa-me sentir teu olhar amoroso de novo e o bater de tuas asas douradas em meu coração de pedra... e serei leve e livre novamente...
foto e texto: Vera Alvarenga. 

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