Um dia ela estava andando quase sem mais destino e deixando a mente flutuar dentro das bolhas que subiam pelo ar, vazias de pensamento.
Quase vazias, quase. E sem mais nem porque, encontrou de novo, ao virar uma esquina, aquele que era o seu sonho. E se deram as mãos e voaram ainda mais alto, por instantes, nem sei mais se ela tem noção do tempo que passou. Tudo porque o tempo passou, as bolhas estouraram no ar, sua mão ficou vazia de novo.
Contudo, ela não sabia ficar sem tocar, com as mãos, com o olhar, com o sentir. E sabia, e sentia, e via que algo permaneceria ali com ela, dentro e fora, para sempre, como brisa, como inspiração.
Tudo porque o sonho não envelhece, ela continuou andando, mesmo quando a cabeça ficava vazia de novo, o coração parecia, oco, flutuar, e de quando em vez, caía...como um susto ou um soluço.
E foi assim que virando a esquina ela estava em outros mundos. E via gente tão diferente dela, indo e vindo. Tão diferente entre si, eram todos aqueles daquele outro lugar, e mesmo assim, alguns tinham algo em comum. E eram portugueses. E de repente ela já estava em Paris! Tudo era tão grandioso em Paris! E havia tanta gente...
Mas o tempo passava depressa, ou caía em gotas lhe roubando momentos preciosos nos quais ela gostaria de apenas ficar, ali sentada, numa daquelas mesas dos cafés, observando a vida e os que passavam, além daquela nuvenzinha que flutuava da xícara de um café quentinho. E ela olharia pra ele e talvez morresse de prazer, ou de emoção, tomando aquele vinho...
A brisa se tornava vento frio e a empurrava pelo tempo e pelas ruas e lá ia ela, voando ou correndo pelos trilhos, ou andando até a próxima esquina.
A cada passo antes de virar cada esquina, o coração batia mais forte ou se apertava um pouco no peito por causa de alguma pequena aflição ou na expectativa.... de que? De ver o mundo. De surpreender-se... com as cores, as diferenças, as semelhanças. O desconhecido.
De vez em quando pensava que poderia desejar que ali estivesse quem lhe acompanhasse num cafezinho, ou experimentasse uma cerveja daquelas que nasceram ali mesmo na Bélgica, ou saboreasse os queijos, ou se lambuzasse dos chocolates, sem tanta pressa. Sem tanta pressa do passar sem nem mesmo ver ou sentir. Alguém que lhe segurasse a mão, olhasse em seus olhos e fizesse o tempo parar por alguns instantes, ao invés de empurrá-la de encontro às portas e paredes e grandes muros dos palácios e monumentos. Alguém que simplesmente parasse com ela por um momento bem ali, no meio de uma das pontes. Como ela gostava de pontes! e janelas! e olhos que podem ver!
E lá vinha uma outra esquina e ela se deparou com os parques e jardins, com a magia dos cantinhos de Bruges, os canais românticos de Amsterdã...e sobretudo com as janelas e os reflexos nos vidros e na água. E ela se deslumbrou... e nem teve tempo de lembrar que um dia pensou que tudo aquilo seria um sonho com ele, aquele que ela pensava que tinha olhos para ver. Olhos também para olhar para ela. Ah! alguns sonhos são os desejos mais profundos de uma alma que deseja viver por amor.
E ela absorveu tudo o que havia para absorver, e viu tudo o que havia para ver, mesmo do modo como podia ser. Porque era, de qualquer modo fantástico... porque era um sonho seu que podia tocar.... porque o sonho não envelhece.... eram quase 22 hs.... havia vasos com flores na janela. Era seu aniversário. O vinho era bom. O pão, o queijo, sobretudo a calma daquele momento e o céu... ah o céu... ainda era de um profundo azul... como aquele que esconde um segredo, um tesouro que a gente sabe que por mais que sonhe, jamais terá! Será? Não sei...só sei que ela estava em paz e sabia que o sonho, nunca envelhece....
Texto e foto : Vera Alvarenga