sexta-feira, 1 de julho de 2011

Labirintos

   Estou um pouco perdida, embora quase feliz.
   Não entendo os caminhos de Deus. Já quis conhecê-lo, lembrar o que era. Acho que então, perdi a memória junto com a intenção. Agora, me bastaria conseguir ler o que Ele escreveu, daquele seu jeito, por linhas tortas.
   São suas linhas ou meus caminhos que estão tortos? Não sei.
   Antes, tinha certezas, ainda que tudo fosse desafio constante. Se era assim a vida, assim era minha aventura. Não estavam limitadas, nem eu, nem a vida! Permanecia, porque queria permanecer. Era assim que era. Pensei não haver limites para o que podia carregar, pois em tudo acreditava,até em mim. Então, não precisava entender os caminhos. Hoje, mesmo que o quisesse, não conseguiria!
   Como fui parar naquele estranho lugar, em meio a quem falava uma língua mais estranha ainda?! Haveria um motivo. Consegui senha para esta Torre de Babel! Embora encantada com o novo, me pergunto com que inspiração  criei meu novo espaço. Lugar onde podia dizer quase tudo. Nele, tive tão surpreendentes encontros com alguns e comigo mesma. Incrível!
   Não terá sido em vão, certamente não. No entanto, há sinais que nem em mil anos compreenderei. Ou, quem sabe esteja a ponto de fazê-lo !  Não sei.Talvez meus cabelos ficassem totalmente brancos enquanto tentasse decifrá-los, e  seria tarde. E pra que, se até hoje ainda se decifra o que estava, do mundo, escondido? Quem sou para compreender as palavras que hoje não tem mais o sentido que tiveram? Que dirá, compreender as que me traduziriam os recados de Deus.Estaria Ele interessado em sinalizar-me algo? Não tenho mais certeza.
   Se Ele escreve por linhas tortas e me perco em seus caminhos, é porque esqueço de trazer comigo o cordão de Ariadne, vez que, por presunção, confio. E confiando me entrego, e me entregando esqueço que não é a solidão que procuro neste labirinto. Esta é fácil, já a possuo. Todos a conhecemos, uns mais, outros menos. Mais que procurar, quero o encontro com o sentimento que me preenche, e nele me aconchegar com alegria.
   Onde estará o fio que me indicará o caminho, senão no coração? No coração de quem, além do meu? Em que mãos estará a outra ponta?Aquela que estava comigo não sei onde a deixei. Em que mãos deixei enrolado o meu cordão? Preciso logo encontrá-las, estas mãos que me conduzirão e eu as conduzirei.
    Lá de onde está, Ele tem ampla visão, eu não! Demora. Me arrisco não reconhecer a ponta do cordão de minha vida. Me arrisco nunca mais encontrá-la, ou me perder, embora sempre estarei inteiramente comigo, se não trair o que acredito. Contudo, que vantagem temos neste tipo de solidão? Melhor crer no que se quer. Se houver uma vida, vale a espera. Mas, não vejo a outra ponta. Estou tranqüila, quase feliz,porque me esqueço. Terei desistido? Tenho medo de parar e não caminhar mais depois. Sempre se pode deixar o tempo ir escorrendo, feito água em jarro rachado...e água é vida! Não a queria desperdiçar, pois o tempo é mais precioso agora. Sempre posso ter a ilusão de que apenas estou descansando e de que não percebo que crio raízes neste labirinto, ou então,posso abrir furos em suas paredes e ver lá fora outros tantos iguais a este, de quem antes de mim, já se conformou em viver no interior de um queijo suiço.     
   Reconheço, é fato, estou um pouco perdida. Nunca fui boa para caminhar sozinha por labirintos mal sinalizados! E ainda não vejo nada mais do que linhas tortas e os sinais incoerentes que não compreendo. Preciso de uma lanterna. Quem me trará uma?
Texto: Vera Alvarenga    Foto: Google imagens -pode ter direitos autorais

4 comentários:

  1. Vera, tambem não sou boa para andar em labirintos mal sinalizados, embora eu não tenha medo. Existem momento que eu me sinto tambem perdida, sem saber exatamente qual é a melhor direção. Ahhhh um braço amigo para eu colocar a minha mão e assim caminhar... as vezes e tão agradavel.

    Costumo falar com Deus e suspirar meus assuntos. Eu penso que Ele ouve, mas sempre faz de contas que não, porque, na verdade, ele quer que eu aprenda a tomar decisões e ter coragem.

    Sobre a lanterna, andei comprando umas para esta ilha que vim morar e vivo ficando no escuro. Fui obrigada a aprender andar nos caminhos que nunca estive antes. E não caí até então. Sendo assim, quer que eu lhe empreste a minha?! Eu também posso passar pelo mesmo caminho, podemos experimentar. Se uma cair, a outra levanta, ampara. Vamos.

    Beijos

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  2. Oi Sissym!
    Esta história de andar no escuro...sabe que com meus netinhos eu costumava brincar de encontrar os caminhos e os tesouros escondidos? Foi bom, eles perderam o medo, mas é claro, quando estão acompanhados...Criança é muito instintiva e sua inocência é um exemplo do viver,pois veja bem, com companhia, andar no escuro ou com lanternas, vira uma emocionante aventura, não é mesmo? rs.........
    Obrigada então, pelo oferecimento. Se for para nos distrairmos,nos apoiarmos e nos conhecermos melhor...topo e agradeço! Até um dia então!( maravilha se pudéssemos colocar mais em prática quando possível,esta solidariedade gostosa, não é?)
    Beijos!

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  3. E muitas vezes são as linhas tortas e nossos desentendimentos que nos levam às melhores direções e às mais belas paragens!!!
    Abraços

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  4. Verdade,Malu. Hoje em dia,muito falamos de nosso caminho solitário, quando por nós mesmas desenrolamos nosso cordão e encontramos todas as saídas...contudo eu quis reforçar o momento em que desejamos não estar só e seguir adiante com alguém recomeçando ou começando uma nova vida, mais cheia de vida,verdade e disponibilidade para o prazer da própria vida. E é maravilhoso quando as pessoas podem viver esta emoção porque alguém veio ao seu encontro com o mesmo desejo, não é?
    Abraço e bom final de semana, Vera Alvarenga

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