sexta-feira, 1 de abril de 2011

Neste outono, eu me entrego...

  Na aula de Tai Chi desta semana, o prof. Luis comentou que nos meses de outono, deveríamos levar nossa atenção para o que está com ele relacionado.
  Outono : maturidade, pulmão, intestino grosso, e a emoção é a tristeza, que pode levar à depressão. Bem, isto já dá pano pra manga!
  Cada um de nós foi montando outras relações e significados aos que ele ia citando. Esta época sugere que é chegada hora de cuidarmos do que nos é imprescindível, como a respiração; e de fazermos o que o intestino grosso faz - eliminar o que não nos serve mais, o que não está funcionando ou o que não usamos. O professor insistia nisto - eliminar, nos afastar do que nos faz mal ( mesmo que seja uma ilusão que nós mesmos criamos?)
   Abandonarmos um pouco nossas lutas, parar de dar murro em ponta de faca, desistir de querer fazer tudo funcionar do nosso jeito (mesmo que estejamos cobertos de razão?). Juntamente com o eliminar/abandonar inclusive a raiva, vem junto o aceitar. E eu penso: - Claro! Se vamos amadurecer nesta espiral em busca de auto conhecimento, encarar nossa própria vida para ver o que deixaremos de lado já é uma grande mudança,mas não basta! Certamente perceberemos o que não podemos mudar,e é aí que aceitamos.
    O pensar nos leva claramente a entender que, deixar de carregar peso é soltar o que já não é nosso, deixar de lado as armaduras que precisamos para brigar com o outro - penso que estas atitudes nos tensionam, funcionam como se impedíssemos o pulsar ritmado dos pulmões e do intestino - ficamos então sufocados, tristes e com o intestino preso, retendo em nós o que não nos serve! Contudo,o aceitar também é importante.
    Muitas vezes, a atitude de uma pessoa não muda, ou uma tal situação não tem mais jeito e mesmo assim, ela ainda faz parte de nossa vida. Vamos nos livrar do que nos faz mal ? Sim, quando possível! Mas até uma pessoa que amamos ou importante para nós, pode nos fazer mal, com algo que ela não consegue mudar. Podemos querer evitar algumas pessoas, não todas! O que não percebemos é que, em muitos casos, insistimos para que ela mude e é esta insistência que nos paralisa!  Lembrei-me que o professor riu :
   -" Não quer dizer que vamos eliminar o outro!"  Não podemos lhe dar corda, mas não vamos matá-lo em nós! Tais pessoas ou situações difíceis, então servirão para aprendermos a nos poupar das lutas inglórias.      
    Vamos aceitar nossos limites, olhar de frente a situação, mas não permanecer nela, apenas entender que devemos "entregar armas", para que esta atitude do outro ou situação de vida que nos afeta, seja primeiro aceita como tal - algo que é como é, e nos faz mal. Só então, depois de apenas ver o que tivermos pra ver, podemos nos livrar da própria tristeza que ela causa, levando nossa atenção e ação para outro foco. Assim seria melhor que fizéssemos também com nossas ilusões, esperanças vãs que estivemos a alimentar e que não deram frutos. Deixemos ir ( pelo menos até o próximo inverno, quando ficarmos grávidas de novos sonhos).
     Hoje em dia é muito comum ouvirmos que a gente tem que parar de lutar e sair em buscar da felicidade, o que pode parecer que temos de eliminar o outro de nossa vida.Nem sempre é possível, muitas vezes não é necessário.
    O que melhor temos a fazer no outono, é eliminar de dentro de nós o desejo de insistir...Depois desta aula, a ficha caiu! As folhas cairão, quer eu queira, quer não!!!
    Vamos então nos entregar, relaxar, começar a nos recolher, virar para o outro lado, antes que a raiva e a tristeza se instalem em nós, e estes sim, são os pesos que podemos evitar segurar! Eliminar a tristeza que está nascendo ali dentro do peito, mas continuar abertos para a vida e apenas para o que o outro tem que não nos afete de modo negativo, isto sim pode nos ajudar!
     Este período está relacionado também com a pele... e mais uma vez lembro então de nossos limites. Perceber onde está o limite de cada um, e onde podemos tocar o outro, ou permitir que ele nos toque, evitar ficar ao sol escaldante do deserto quando a pele é fina, eis parte do segredo. Embora irremediável, que eu possa fazer do meu outono algo agradável...procurar uma sombra, fazer uma limonada e observar o lado belo da paisagem... Como me conheço, sei que não esconderei de mim a lágrima que quiser cair, mas será breve, e não mais porque eu não consegui realizar algum sonho, mas apenas aquela que cai quando dizemos adeus ao inevitável... então, o calor que sentiremos não nos queimará a pele, virá com a brisa da tarde de outono, será como o do amor maduro que podemos sentir e talvez, em muitos momentos possamos ainda ter com quem compartilhar...
     Solto meus braços, relaxo meus ombros, já não luto mais para alcançar o fruto...me entrego a mim, neste outono...
Texto e foto: Vera Alvarenga

17 comentários:

  1. Vera, suas páginas são belas e cheias de sabedoria e suas imagens também.
    Parabéns pelo texto e pelas fotografias.
    Grata por estar em meu INFINITO.
    Abraços

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  2. Tão profundo esse tema, amiga!!

    Acho que vou explicitar com o que me aconteceu hoje pela manhã para corroborar com teu pensamento.

    - Já comentei que tenho uma vizinha no andar debaixo que acende um incenso insuportavelmente forte e vem para minha casa toda, a iniciar pela cozinha. Antes brigava com ela, falei com síndico, etc.. nada adianta. Ela manda eu fecharminhas janelas porque ela não fará isso.

    Pois hoje, oito da manhã o cheiro veio forte novamente e pensei:
    - sabe do que mais?não vou fazer nada... vou fechar minhas janelas e tomar meu rico café sem desavenças.

    Optei por aceitar aquilo para meu dia seguir bonito.

    Agora ...passado metade do dia, voltei a abrir minhas janelas dos fundos.

    Creio que é esta a mensagem do teu belo texto.

    beijos, Vera

    Maria Marçal - Porto Alegre - RS

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  3. Obrigada Malu!
    Adoro tirar fotos e gostei demais de ir ao seu blog, na última vez, para ler a crônica da Thaís, muito boa!
    Abraço e bom final de semana.

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  4. Claro Maria! Este é sim um belíssimo exemplo de como não podemos simplesmente fazer as malas e dar as costas, nem nos sentir totalmente responsáveis por nossa infelicidade, pois o outro nos influencia com sua ação ( no teu caso, o incenso forte)... contudo, podemos fazer aquilo que pudermos em nosso benefício, mesmo tendo de conviver com o inevitável.
    Sabe que eu adoro incenso? mas dos suaves e nunca nos horários de refeição ( meu marido não gosta, então uso o mínimo, só pra me agradar, ou quando ele sai - corto o pavio no meio! kkk.....) Tolerância e bom senso melhoram o mundo.
    Beijos, Maria!

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  5. Vera minha amiga

    Me deliciei com seu texto...Ha coisas que nunca podemos desfazer delas,voce sabe disso.
    Do meu lado direito tenho um vizinho que tem um cão enorme de raça Gran danés...por qualquer ruido ladra...e ás vezes á noite...Os vizinhos reuniram-se e levaram a tribunal o dono do cão ,para que o sacasse daí...pois incomodava bastante.Eu fiquei tranquila em meu canto ,pensei que o melhor era ignorar...e o barulho dos carros? e o barulho do vento? e o barulho do mar?

    Pois o cão ainda está aqui,nem o juiz o conseguiu sacar...ele lá está no seu canto a defender seus donos...

    Por isso ,temos que ser toleráveis uns com os outros,nunca se sabe o dia de amanhã como vai ser.

    beijos

    bom domingo

    joana

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  6. Olá Joana!
    Bom dia Joana!
    Ah, também temos um cão assim, aqui no bairro, nos acostumamos com ele! rs..... Há coisas impossíveis, claro! Por ex., quando morávamos na praia,tinha um vizinho que só ia para finais de semana e seus filhos jovens, uma vez levaram algumas meninas e pela madrugada a dentro, beberam muito e falavam palavrões, coisas bastante pesadas em relação às meninas.Tivemos de interferir e lá foi meu marido de pijama a reclamar. Nas férias, levaram guitarra e bateria se colocavam a tocar já mais de meia noite! Eles vinham apenas fazer baderna ou, na visão deles, aproveitar férias, mas faziam ali o que o pai não aguentaria!
    Depois da reclamação de meu marido este vizinho e o amigos de frente, não nos cumprimentavam mais. Nós morávamos e trabalhávamos lá, eles, sabiam apenas o que os filhos contavam. Após uma carta que enviei para o pai, explicando como as coisas se davam, o vizinho voltou a nos cumprimentar, mas só de vez em quando!!
    Evidente que,todos temos limites para tolerância, quando eram apenas festinhas e conversas a gente tolerava, pois conseguíamos dormir ao som da música numa altura mais ou menos constante, sem gritos. Difícil isto! mas acredito de fato que devemos nos perguntar sempre se não podemos encontrar uma solução, primeiro dentro de nossa própria casa, ou em nós.
    Beijos Joana e um ótimo domingo!

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  7. Querida Vera, vejo que o seu amadurecimento na arte está evoluindo rapidamente. Eu tinha certeza de que você e o TCC seriam uma combinação perfeita. Continue, sempre buscando o aprimoramento técnico, filosófico e espiritual.
    Quando iniciei o meu curso de formação em TCC, meus professores diziam para tomar cuidado pois muitos praticavam uma forma (movimentos do TCC) vazia. Tecnicamente pode ser correta, mas sem essência, não vale muito pois os benefícios são mínimos. Você deve ter ouvido falar que os olhos e a feição do praticante refletem o seu espírito e o seu estado mental. Bem como você também deve saber que o TCC é uma arte interna. Onde o importante é o trabalho do CHI.
    Devo confessar que demorei um pouco até compreender isso. No início era difícil, pois como instrutor, a cobrança na boa execução fazia com que o foco ficasse direcionado à técnica.
    Amiga, quando realizei uma prática correta, subi às nuvens. Então, pude perceber nitidamente a diferença.
    Amiga, vou aguardar mais relatos sobre as suas peripécias na arte! Rsrsrs...
    Bjs.

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  8. Querida, minha querida amiga!

    Você deixa a gente com o coração aos pulos. Admiro muito você!! Sua sensiblidade, inteligencia - as duas, emocional e intelectual- e agora, uma "taichichuana"!!

    Ahhhh, que texto magnífico! Quanta benção tem dentro deste coração?

    Quanto orgulho sinto em poder chama-la de amiga!

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  9. Que delícia de texto e cheio de coisas importantes.Adorei.Bjs.

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  10. Amiga Vera lindo texto, na vida tudo tem limites, apesar que muitas vezes encontramos difuldades nas relações, penso que devemos ser mais tolerantes, chega um tempo que temos que aliviar as tensões certamente todos tem essa necessidade.
    Beijo.

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  11. Edgard,nosso amigo sorridente e também prof. de Tai Chi!que bom ver você aqui!
    Eu sinto que o Tai Chi é, como você diz, uma arte interna e para mim, funciona assim como um "chegar em casa" - é assim como me sinto, quando estou lá e, também como um relaxamento - me pego bocejando,às vezes, porque me desligo totalmente do compromisso que não seja unicamente com o me unir com aquele movimento meio dolente, mas cuidadoso e atento para algo que está dentro de nós. É assim que sinto.
    Nosso prof. lá se chama Luiz, o luminoso. É uma brincadeira que fazemos para guardar os nomes, então eu sou Vera verdade,tem a Beth beleza, a Edna estrela, etc..
    Beijos.

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  12. Ah, Kit, de todas as abelhinhas, a minha preferida!
    Eu é que sinto orgulho de você, como se fosse parte minha, uma filha adotada talvez..rs.... mulher corajosa, gente pacas!
    "Taichicuana" kkk........ já te disse que queria viver mais 60 anos..então eu seria também prof.ª de Tai Chi. Nobre arte esta!

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  13. Oi Heloísa!
    Gostei muito de sua visita por aqui. Obrigada!
    Beijos também.

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  14. Olá Fátima! Você tem razão.
    E sabe que uma das grandes tensões é exatamente a gente não desistir de tentar, e tentar? A fé move montanhas, mas é preciso reconhecer que a montanha pode ser grande, o sol queima a pele e ela pode ter nascido mesmo pra ficar lá...por que insistirmos em empurrá-la? rs..........
    Beijos

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  15. Olá Vera!
    Adorei o seu texto! Aliás, é sempre ótimo vir aqui! Já havia comentado que não tenho recebido as suas indicações e pela falta de tempo, não vou atrás para ver o que você anda refletindo... E é tão bom refletir com você! Mas, como nada acontece por acaso e tudo nos chega no momento certo, acabei recebendo a indicação do Edgard e vindo aqui ler algo que trouxe paz ao meu coração e a angústia que senti hoje o dia todo!
    Passei o dia chocada e refletindo sobre o ocorrido na escola do RJ e, entre choros, lágrimas, aflição e muita comoção; tentava entender como pode pessoas cometerem atos tão violentos contra outras, principalmente tão inocentes e indefesas... Ao ler essa sua linda reflexão, pensei aqui que é justamente a vida como ela é: com pessoas diferentes umas das outras e com escolhas próprias. Queremos a paz, claro, mas não podemos exigir que as pessoas pensem e ajam como nós. Muita pretensão a nossa! Queremos humanidade, mas o processo do desenvolvimento e consciência humana é diferente para cada um... A vida tem as suas estações e nós estamos transitando por elas. Alguns se renovando, outros se recolhendo e entrando em gestação de novos sonhos; outros florescendo para a vida... Enfim... tudo tem sua razão e quanto mais tentamos mudar essas razões, mais sofremos e nos frustramos! Ao ler o seu texto, parei na parte em que você diz para percebermos aquilo que não podemos mudar e isso me remeteu à Oração da Serenidade, aquela que "rezo" todos os dias e onde peço para que eu possa perceber a diferença entre o que posso ou não mudar... Não posso mudar as pessoas...ninguém; mas posso começar esse processo em mim. Não mudando ou deixando de ser quem ou como sou, mas me tornando em alguém melhor, em paz comigo e aceitando (mesmo que com pesar) as diferenças entre as pessoas.
    Lindo Vera! Adorei e me comovi! Obrigada por compartilhar algo que em muito me ajudou!
    Grande beijo,
    Jackie

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  16. Olá Jackie!
    Também estou chocada diante desta tragédia. Todos estamos comovidos e assustados com o que ocorreu ontem no Rio, com aquele atirador que matou tantas crianças naquela escola. Tragédias sempre nos atemorizam e nos fazem ver nossa impotência diante de certos inesperados, da ameaça armada sobre inocentes, da morte assim provocada. E ao mesmo tempo nos vemos mais amantes dos que já amamos, e gratos por não termos sido uma das vítimas, pois imaginamos saber o quanto deve ser terrível para os que tem familiares perdidos numa situação desta.
    A diversidade é algo que nos encanta, nos ensina a perder preconceitos e nos atemoriza. Diante dela, o que podemos fazer, muitas vezes é apenas aceitar, e construirmos nossa individualidade apesar disto, mas também nos direcionarmos a nos ligar a tudo e todos que estejam relacionados com o que pensamos ser bom para nós e para outros, já que estamos preocupados não apenas com o próprio umbigo, não é?
    Nos unirmos aos iguais, aos que tem uma vibração semelhante, talvez seja então, uma reação natural, para nos sentirmos mais fortes ou protegidos relativamente, das tragédias.
    Por isto é que acabamos por pensar que não conseguiremos acabar com todos os preconceitos, já que não podemos e nem devemos acabar com a diversidade. Podemos apenas tentar melhorar, por nossa parte, o mundo em que vivemos e sobre o qual temos influência.Mas temos que aceitar a dualidade, o diferente e entender que faz parte deste nosso mundo concreto, que ainda não é apenas espiritual. Quando as pessoas melhorarem, a diversidade será um detalhe apenas enriquecedor e não, uma ameaça tão grave!
    Beijos e tive muito prazer de te receber aqui para um cafezinho no meu quintal. Que bom que pudemos conversar.

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  17. Olá, escolhi você para receber o selo Stylish Blogger Award, peço que passe pelo meu blog, apanhe o seu selo e dê uma lida nas orientações, continue assim fazendo a diferença pelo estilo, pela forma de pensar e pela forma de se distinguir na blogosfera. Um grande abraço!

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