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segunda-feira, 7 de março de 2011

O tempo, a mulher e o vento...

O tempo, a mulher e o vento...
Olhava através da janela. As árvores, balançando loucamente seus galhos e folhas ao lado da casa, mostravam que a ventania  que estava prevista havia chegado. Ela já aprendera a notar seus sinais e tinha de se proteger, mas não o fez. Deixou vir...
Chegou, contudo, antes da hora! Olhou para dentro de si, a areia, as marcas. Alguém já dissera que o vento leva tudo, apaga as marcas, destrói castelos. Não faz mal! pensou. Não eram os castelos de areia que ela queria preservar, eram as marcas. Queria escrever uma história com elas, sob a areia, na terra sólida, na pedra.  Algumas marcas tinham sido feitas recentemente, palavras escritas "a dedo", escolhidas entre os sentimentos que vem para ficar.
Olhou novamente para fora. O tempo havia trazido o vento, que sacudiu tudo. Só folhas novas e vigorosas permaneciam no lugar. Em seu coração agora, o vento se acalmava. Depois que varreu a areia, deixou tudo igual - um deserto feito de pequeninas ondas brancas, sem nenhuma forma a se destacar, sem outra cor, só o puro branco e o azul do céu.
Queria sair ao vento e gritar:
- Então, era isto que queria? Depois de levantar poeira, misturar tudo, sacudir minha vida, era esta calmaria sem gosto, sem cheiro, perfeitamente asséptica que me enviaria nas mãos do tempo? Era isto que seu mensageiro tinha guardado pra mim? Foi você que o enviou, não foi? Venha você mesmo me dizer! Não vê que não posso ser como a terra infértil do deserto e fazer de conta que não fui fertilizada? Simplesmente não posso ser assim! Olhe pra mim! Sou toda carne e osso, pele permeável, contaminável, sinto o que me toca, sou real, dou frutos, me quebro, envergo, quase morro; o que apodrece em mim, descarto, cultivo o que traz sinal da vida... minhas marcas eu reconheço!
- Me responde, fala comigo! Não passe como se fosse apenas a brisa indiferente, depois de feito o estrago. Não foi o vento que o tempo trouxe, mas teu silêncio que doeu em mim. Fala comigo. Eu, ainda não estou morta!
Voltou seu olhar outra vez, para dentro de si. Nada podia fazer. Antes de abrir seus olhos porém, desejou ardentemente que ali pudesse ver o que, em seu coração, acreditava - o vento podia vir, misturar tudo, varrer lembranças, mas jamais apagaria algumas marcas e algumas raízes permaneceriam, da vida que recomeçaria dali, com a história que ainda seria escrita.
 E ela apenas podia desejar que não precisasse escrevê-la sozinha.

Texto : Vera Alvarenga
Foto: retirada do Google imagens  
   

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

" Onde está o meu renovado amor?"

     A gente tem tanta pena de ver morrer o amor assim... “Como viver sem a capacidade de amar, de dedicar tempo para o outro, sonhar e tentar fazê-lo sorrir, apoiá-lo nas batalhas?  Por que a vida não me dá um outro amor, que venha me salvar deste lugar nenhum vazio sem sonhos, para que possamos juntos rir de nós mesmos, e caminhar com mais ternura, preguiça, e menos desgaste?”
     A gente quer pegar nas mãos o próprio coração, olhar para ele, chacoalhá-lo e dizer:
     - “Acorda! Não vou agüentar muito tempo, com você morto dentro de mim! Por favor, quero viver!”
     Mas ele continua inerte.Está partido porque deixei que o amor morresse. Tudo se transforma em dor física. Porque tudo que a gente sente, emoções e pensamentos, estão dentro do que é o mais concreto e real, em nossa vida – o nosso corpo! Até nossos sonhos mais espiritualizados, estão nele! E ele sofre também, e a gente intui que é uma pena, que nosso amor e a gente, vá morrer assim, de tristeza, mesmo que disfarçando perante outros, porque não quer fazer sofrer pessoas que nos rodeiam. A gente sabe que está morrendo...e o corpo, e a vida que era espontânea em nós, não quer reagir! É como se a gente tivesse presenciado a morte de um ente amado! É o luto... de nós mesmos...
     O amor que estava em nós, a capacidade de amar, a “alma” da nossa existência, como leve pluma, fica solta no ar. Pensando que não vamos agüentar encarar este sentimento, nos afastamos dele, embora ele esteja em nós, e parecemos um robô. Como tal, não sobreviveremos se quisermos encarar a nossa vida e continuar a“sentir” nossos sentimentos, sem anestesia. Então, acontece um pequeno milagre!
     É tanta pena que sentimos, que olhamos para nosso umbigo, nossa barriga, o centro de nosso corpo, e desejamos sentir vida novamente em nossas entranhas. Respiramos fundo, e um vento, soprado por algum mago, trás de volta a parte importante de nós – a pluma, a“pena”, compaixão,o amor e ele pousa, desta vez, em nosso próprio coração! Quando a gente olha pra dentro de si,como numa meditação, e fica presente inteiramente em nosso próprio corpo, algo acontece. Como eu pude me esquecer disto?! Quando a gente pensou que desistiu de tudo e que só nos restou amar a nós mesmas, do jeito que a gente é, porque sentiu que merecia este nosso olhar, não sei como, nem porque, mas parece que uma pequena luz nos iluminou um pouquinho. Mais milagrosamente, parece iluminar também o coração do outro, daquele que estava ali ao lado, esquecido de como era demonstrar amor. E ele se aproxima...e parece que te vê com outros olhos, e demonstra seu desejo... e te fala com ternura como fazia tempo que não falava...( “Meu Deus, será que este homem, fica feliz ou me acha mais sedutora quando estou meio morta? O que está acontecendo? Outra vez não encontro resposta! Estarei perdendo a fé nas pessoas e nas palavras? Onde está a fé que me habita?”)
     -“E onde está o meu novo amor? Aquele com quem ia recomeçar um relacionamento  maduro, onde me sentiria mais inteira e ele ia gostar disto? Onde está o homem que, mesmo que se julgasse um pouco rude, me bastaria que fosse bom, e simples, e terno, como sei que seria? Onde está o que, ao me dizer que sou insubstituível, estaria querendo dizer também, que me queria em sua vida para sempre, como companheira? Esta ilusão era minha e, se ele existisse, por certo, teria outra vida para cuidar. Uma pluma solta no ar, pode ser levada pelo vento da ilusão, criada por nosso único desejo”.
     Então, você se pergunta, se não seria um bom momento para relaxar, já que vive sentimentos tão intensos, deixar de  tantos questionamentos,aceitar da vida o presente real do amor que se oferece ao lado, daquele que já foi o amado...e, sem grandes cobranças, para exercitar o que você estava procurando afinal... descansa na paz do tempo que é o agora... simplesmente para viver momentos de amor. Entrega o futuro nas mãos do Tempo...toma posse lentamente do seu corpo de novo, porque ele é nossa primeira realidade...e deixa entrar o amor... o amor que vier... pois se trouxer o respeito e afeto real.., trará sorrisos para a alma e tudo ficará em paz. 
Texto : Vera Alvarenga
Foto: retirada de email da internet. Pode ter direitos autorais.

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