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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Quem mandou voltar a escrever?

  Ela teve medo de escrever. De voltar a escrever.   Fazia tempo que estava assim como numa mar calmo, sem ondas, sem marés nem tempestades. Entretanto ela sabia que lá no profundo do mar ou do lago, fosse o que fosse,  havia vida e luz. Todo mundo sabe.
  Ela teve medo de voltar a escrever, porque as palavras quando começavam a vir não conseguiam esconder a vida. Podiam disfarçar, brincar de esconder, não dizer tudo que havia pra se dizer, porque afinal, há coisas que não são mesmo para serem ditas. São como o suave e íntimo perfume de cada um. Não dá para descrever. São como o cheiro de certas coisas, como o abraço no qual a gente se deixa envolver.    Certas coisas são para serem compartilhadas naquele abraço que de terno, de repente passa a ser mais envolvente, e forte e vivo e audaz... e por fim passa a ser tudo e a única coisa... e como a única coisa de fato que pode nos dissolver... Assim pensava ela, enquanto sentia aquele medo de escrever.
  - Nossa! pensei que estivesse tudo acomodado, morto e enterrado!
   Porque escrever era sentir, era saber-se viva, era reviver emoções que surpreendentemente mexiam até com seu estômago, sem falar, em certos casos, com uma saudade funda. Porque escrever era conversar consigo mesma. E ela não mentia pra si.
   - Existe isto de saudade funda? ela pensou...
  Estava lá um sentimento ainda, que ela não sabia como,e nem queria mais ter de explicar, mas era saudade profunda...sim profunda. Era uma vontade de ter sido algo, qualquer coisa, melhor do que aquilo que nunca foi. E o que nunca foi, não poderia ter força! Contudo, era forte o que ela sentia quando cometia o deslize de sentir-se viva e deixar as palavras saírem alvoroçadas, como a vida mesmo o é. Mesmo que ela não escrevesse, a mente já as tinha escrito, plasmado no ar... Estavam lá, soltas no ar e agora, tinham peso.
   As águas daquele lago tranquilo se ondulavam neste momento, balançavam o barco atracado na beirada. Coloriam a cena com tons fortes.
   - Quem foi que jogou uma pedra aqui?
  Bem feito! Quem mandou ela voltar a escrever....
  

quinta-feira, 3 de março de 2011

Minhas mãos...

   Minhas mãos não são como "mãos de pianista", delicadas e elegantes com seus dedos longos e finos. Aliás, só toquei piano por poucos anos. Ao contrário, elas são pequenas, dedos largos, próprias do que sou - uma artesã. Já fiz muito com elas, como qualquer um de nós, nos dias rotineiros que tecem a vida.
  Com elas, acarinhei os que amava, cuidei deles e de mim, fiz curativos para eles e para mim mesma; com elas dei apoio e nelas me apoiei, mas também as estendi e busquei o braço do homem amado, para me sentir mais segura e evitar um tombo. Elas enxugaram lágrimas, de alguns poucos amigos, as minhas e as de meus filhos homens, quando pequeninos, e a eles ofereceram segurança nos primeiros passos. Com elas plantei minha primeira árvore, um Ipê, e depois muitas outras, e plantas e flores, e esparramei sementes...
   Segurando pincéis, com elas pintei um mundo novo em quadros e paredes. Com firmes toques numa máquina de escrever, daquelas antigas, escrevi meus primeiros livros infantis, que foram publicados. Juntando areia e água, construí castelos na areia, o que não me agradou, porque prefiro o que possa ter alguma permanência. Segurando uma pequena máquina à altura do meu curioso olhar, hoje, guardo para sempre o que me encanta, enquanto com um clic apenas, minhas mãos se tornam minhas cúmplices neste encantamento.
    Descobri que as mãos, além do mágico poder de criar, tem em si mais que isto, o poder de transformar, pois são feitas de modo que a tudo podem tocar e envolver. E seu toque pode transformar, dar nova vida! Trabalhei com elas tocando as pessoas com massagens terapêuticas, o que as ajudava a sentir seus próprios limites (logo que eu comecei a sentir os meus) e sua primeira realidade - o corpo. Depois, com o Reiki, fui para um trabalho mais sutil. Contudo, neste momento, confesso que me assustei, pois não me senti à vontade para afirmar que aquele toque tão suave, poderia trazer tantos benefícios como na verdade acredito. Então voltei a trabalhar com o que mais me colocava à vontade e era especial para mim - "a transformação" - modelar, pintar, criar, transformar o barro em esculturas e peças de cerâmica. Com minhas mãos, catando cacos,  e sempre com ternura pois acredito que é esta energia que deve acompanhar a criação, fiz mosaicos.Juntando as mãos de muitas crianças e as minhas, fizemos painéis que ficarão por anos levando a nossa mensagem até o futuro.
  Elas também foram fortes, para carregar pesos e fazer os trabalhos mais desagradáveis quando necessário, como todos nós somos obrigados a fazer. Sempre tive consciência de que nossas mãos são muito especiais. Senti mais fortemente isto, quando há 10 anos atrás, fiquei algum tempo sentindo muita dor, ao fazer com elas tudo que antes fazia, sem problemas. Fui me adaptando e criando novas maneiras de trabalhar, poupando-lhes esforços demasiados. Talvez elas fossem, afinal, mais delicadas do que eu supunha!  Ficou muito claro, que eu e elas precisávamos nos movimentar em outra direção, ou devíamos fazê-lo com maior suavidade ou em outro ritmo. Pode ser que a energia que direcionamos, como uma flecha, precise encontrar seu objeto apropriado, que a receba e a transforme, e lhe dê pleno significado, maior do que apenas quando é lançada a esmo. Fui obrigada a respeitar novos limites e, assim o fazendo, entramos, eu e minhas mãos, novamente em sintonia. Foi neste período, que aprendi a estendê-las para pedir ajuda e ensinar a outros, o belo que elas não podiam mais criar, durante horas seguidas.
   Até hoje, minhas mãos me ajudam a tocar a própria vida. Poucas vezes elas ficaram vazias ou frias. Fiz e ainda faço muitas coisas com elas...
   ....só não pude tocar teu rosto como imaginei e sentir imediatamente as tuas mãos a envolvê-las, como eu gostaria...só não pude colocá-las em teu ombro em sinal de apoio, como eu queria, e sentir teu beijo nelas, como a me dizer o quanto consegues compreender e valorizar o que elas buscam... só não pude sentir tua mão firme e segura buscando a minha, num alegre e decidido convite para seguirmos juntos em busca do que tem maior valor,como eu desejei... no que talvez tenha sido meu último sonho, que em delírio me deixou febril de susto e vida... e que devo aprender a deixar ir...
   Mais uma vez aprendo com minhas mãos...nem tudo está ao alcance delas e no momento que desejamos!

Texto : Vera Alvarenga
Foto : retirada do google imagens.
   

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

"Quando o silêncio é de ouro!..."


Incrível como o silêncio é imprescindível! Não aquele de horas e horas de solidão, ou aquele em que não temos o que contar alegremente para o outro, mas o silêncio do "encontro" !
   Quando por 30' vamos meditar, ou fazer um Reiki,ou tirar aquele famoso cochilo que os homens tanto gostam, para o "encontro" com nossa tranquilidade interior e ficar mais centrados... Avisamos às pessoas:
" Vou meditar um pouquinho" e é o suficiente.
   Quando estamos escrevendo ou num processo criativo, precisamos do relativo silêncio para encontrar as idéias e palavras adequadas. Perdemos a inspiração se somos interrompidos pelo som alto da TV a repetir seguidamente e em tom sensacionalista, as notícias de crimes,mortes,acidentes.
  Quando estamos lendo, é o relativo silêncio que possibilitará a compreensão e o "encontro" com o autor, ou com a gente mesmo se queremos refletir. E quando principalmente trabalhamos em casa,precisamos algumas vezes do relativo e piedoso silêncio, quando por exemplo, em meio a tantas contas e números, precisamos ir ao "encontro" de um erro, uma diferença. E se alguém nos interrompe, neste momento, faz muita diferença a forma como a pessoa consegue ( ou não ) aceitar nosso pedido de ter uns minutos de paciência, para que possamos finalizar nosso trabalho de horas, de modo eficiente. Se a pessoa que nos interrompe, sente que precisa ter suas necessidades atendidas sempre prontamente e não tem paciência para esperar, exercendo pressão com outros barulhos, ou com insistência, nos sentimos agredidos. E se este comportamento se repete, quando a gente encontra um desafio inesperado pela frente no trabalho, e está com o tempo justo para terminar, por vezes acorre algo muito desagradável. A gente já fica tenso, quando a pessoa se aproxima, a mente fica bloqueada e sentimos desconforto com a presença da pessoa que assim nos pressiona, mesmo que quiséssemos evitar este sentimento. E, se a pessoa não se dá conta disto, é bem possível que, com o tempo nos sintamos violentados, de certa maneira. Este "desencontro" é uma pena e poderia ser evitado!
   Quando a gente trabalha em casa, é claro que se sabe que é necessária a Tolerância de ambos! Nada é tão importante assim, que não possa ser interrompido, para recebermos com um sorriso o outro, que vem nos dizer que está com fome, ou pedir uma ajuda no computador. Ninguém deve fazer o outro,escravo de seus caprichos, seja o interrompendo desrespeitosamente, seja esquecendo-se dele! Sabemos que, aquele que estiver num "momento criativo", por exemplo, facilmente se esquecerá do tempo, da fome e do outro! Mas, é sempre o bom senso e, na minha opinião a amizade e o respeito que sinalizará os limites. O que interrompe deve vir manso e o que é interrompido, deveria estar disponível a ouví-lo, pois com amizade e respeito, o carinho virá junto com estas atitudes. Então, além de termos prazer com a presença do outro, teremos um "encontro" verdadeiro entre duas individualidades.
   Hoje eu estava no meu quintal à tardinha, lendo e percebi como estes momentos de silêncio tem me feito bem! Não ser interrompida abrupta e insistentemente é muito bom...nos permite uma atitude mais ponderada e tranquila. O contrário me deixa nervosa.
   Bem, e como eu, que gosto do silêncio posso estar a escrever tantas palavras?? hehehe..... é que escrever ocupa muito espaço, mas em compensação, deixo ao outro a liberdade para ler em tom manso, no volume que quiser, no seu ritmo e no momento mais oportuno. rs......................
  Não sei se é o "silencio que é de ouro" ou o mais importante é o respeito, amizade, tolerância e bom senso.
Acho que uma mistura de tudo seria o ideal, não acham?


Fotos e texto: Vera Alvarenga

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