Sorte daqueles que descobrem que acomodar-se a um individualismo exagerado e "falsa" liberdade e independência sem limites do "cada um por si desde que todos por mim" não é a melhor solução para a vida a dois. Sorte dos que não pretendem ter sempre razão. Aliás, o individualismo radical não é solução nem para a vida em sociedade, pois comprovadamente traz ansiedade, sentimento de insegurança, depressão e pânico, de acordo com especialistas no assunto.
Amar não é apenas o que se diz de um sentimento - é atitude - o amor pede ação, deseja conjugar o verbo. São dos pequenos gestos em benefício e engrandecimento do outro e do próprio relacionamento que o amor se sustenta ( e também o bom humor, e a disponibilidade para uma vida mais plena)! E não, de um sentimento que se esvazia na ausência da ação, presença de orgulho e recusa de se comprometer.
Mesmo quem já amou, se não é correspondido, um dia acaba por se transformar em um sonhador. E se seus gestos encontram constantemente a barreira que impede a alegria da troca constante, acaba por pensar que a ele, só restou sonhar. E então, seu desejo o leva a sonhar... inconformado sonha, a cada novo dia, mesmo em presença de frustrações, porque sem esperança, entristece... e sonhar, por vezes o alimenta... mas quem apenas sonha, também não realiza mais o amor, pois seu desejo está no amor e em presença do desejo de amor, o que não é amor não satisfaz mais . Seu olhar se tornará triste e distante como que em busca da ave dourada que se banhava, antes, na água da fonte de seu próprio coração. Porque é por causa deste alegre encontro, que da fonte brota a água mais cristalina e do peito do pássaro dourado sai a mais bela canção em homenagem à vida. Nesta troca, ambos se comprazem. Sem ela, a fonte seca e a ave dourada sente-se ferida, emudece.
Sorte ( será só isto?) dos casais que reencontram seu pássaro dourado junto à fonte!
Os outros...viverão de lembranças ou sonhos. De certa forma, tem sorte também os que tem as lembranças e até os que pelo menos podem sonhar! Mas viver plenamente o amor é incomparavelmente uma escolha melhor, quando se pode ainda escolher. Porque este trabalho de amar nos preenche a vida, põe um brilho no olhar e um sorriso na alma.
Assim como acontece para toda uma sociedade contemporânea, manter um individualismo egocêntrico tem um alto preço para cada um de nós, em nossa vida, de um jeito ou outro. Fatalmente, o ser humano que tentar reproduzir em sua vida íntima e familiar o individualismo radical com o qual aprendeu a sobreviver no mundo, aumentará para si e para quem conviver consigo, o sentimento de vazio e solidão que já existe em cada um de nós. Se não se compromete com o amor em sua vida íntima desejando fazer também o outro feliz tendo oportunidade para fazê-lo, logo se desviará do caminho que o levava à fonte, não terá mais como encontrar repouso em seu ninho e forças para alçar vôos que lhe tragam mais do que uma ilusória sensação de realização. E, certamente, perderá a alegria que lhe brotava espontaneamente no riso. E, quando sorrir alegremente nos encontros ditos sociais, alguém sempre perceberá que o sorriso "é de alumínio" que, como uma máscara, ao virar a esquina, cairá por terra.
Foto e texto: Vera Alvarenga.
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