Em algumas ocasiões imaginava o quanto ficaria feliz se pudesse mostrar a você como, às vezes, é possivel ver o mundo com olhos de quem entra nos detalhes mais belos que há, nos melhores ângulos, com a melhor luz... não que eu seja presunçosa a ponto de querer lhe mostrar algo que creia que você mesmo, e sozinho, não pudesse ver. E também não porque eu sempre consiga viver desta maneira como se fosse a mais abençoada das mulheres! É apenas porque há momentos em que me sinto como se fosse uma lente de uma câmera fotográfica... a entrar em contato com um pequenino detalhe que me leva a algo muito maior!
É algo talvez que eu precise fazer, não como um dom, mas até por necessidade vinda com certeza por alguma fragilidade. E se não posso fazer, sinto falta! Portanto não é de forma nenhuma pretensão. E entro naquele detalhe. E entro nele como se fizesse parte daquilo e isto, me traz uma sensação de doce pertencer e de paz. Eu então, só quis poder compartilhar isto com você, como já desejei um dia que você pudesse compartilhar tantas outras coisas do mundo comigo. Porque do mundo nada sei.
Uma vez me lembro que imaginei estarmos sentados lado a lado e eu lhe mostrava como moldar aquela argila que eu havia colocado num torno a sua frente. E então eu pegaria em suas mãos e o faria sentir como é este toque no macio da argila... primeiro como se quisesse conhecer do que é feita, como reage ao toque, saber seus limites, sua resistência e temperatura para então brincar com ela, moldá-la e sentir nisto prazer.
E este prazer só viria, assim como eu o conheço e imagino, porque você conseguiria sentir que o prazer não é um poder apenas seu. Não seria apenas você moldando a argila, assim como não é um homem que decide no que vai transformar o momento em que toca a mulher que quer de fato amar. Porque quando isto se dá, e afirmo que não ocorre sempre, de uma forma que sei que acontece quando você é totalmente absorvido pelo agir sobre aquilo que deixa também agir sobre você, quando você dá tanto quanto recebe, então você está tão inteiro neste "fazer e sentir"que perceberia a interação entre você e a "coisa" tocada. Não é uma teoria, por mais que alguém pudesse falar dela, só é possível sentir.
Por uns instantes a gente sente que nesta interação e respeito mútuo entre o que sou e o que desejo criar naquele momento ou o que estou observando porque já é, há um surpreendente intervalo de tempo em que somos um só... você estaria inteiramente lá, com ela e nela, a argila...
Ah, não tenho nada do mundo a lhe ensinar... aliás, como poderia se nunca pretendi? Mas em meus devaneios a única coisa que pensei que poderia ter compartilhado seria este "sentir", ou este "olhar" que se pode ter em momentos sublimes quando nos esquecemos da aparência, idade e individualidade que somos para fazer parte de algo maior...e melhor. E nem por um momento penso que o mundo é apenas beleza ausente de dor e perdas! Mas, é bem por isto que talvez desde menina tenha escolhido viver assim com este meu tipo de sensibilidade que sente o bem e o mal, mas se deixa encantar apenas por um deles.
Ah... algumas vezes te sonhei assim, "sentindo" pequenos momentos comigo... e sabe por que? Porque imaginava que com você eu poderia sentir ainda mais... sem precisar disfarçar ou esconder tal sensibilidade... seria o nosso segredo... meu e seu - pequenos momentos de ingenua alegria por ainda estarmos vivos e conseguirmos fazer disto algo bom . Acho que tenho de falar sobre estas coisas porque são coisas das quais o tempo faz a gente entender que tem de se despedir...você que é apenas um sonho meu...que não fala comigo... que existe em algum outro espaço que não conheço e nunca ousaria invadir... mesmo porque não teria sentido... porque você com quem imaginei que poderia sorrir tantas vezes mais,por pequenos motivos, sem me encabular por isto, você está em meu coração...você não seria um homem qualquer, teria sido um presente de Deus... e eu também não seria mais uma mulher qualquer. Deus teria feito em nós um daqueles seus milagres.... mas há outros que ele faz dia a dia...inclusive o de acordarmos de nossos sonhos e ainda olharmos com amor ao nosso redor... e ainda termos força para viver mais um dia, porque temos esperança e amor no coração. Porque esperamos um dia reencontrar talvez o verdadeiro Amor do qual tenhamos quem sabe, esta nostalgia....
Foto e texto:Vera Alvarenga