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terça-feira, 12 de julho de 2016

Olhos de Mar (um conto antigo)

Arrumava pastas, revia escritos antigos e resolveu relembrar um deles....
Olhos de Mar...
   Não estava preparada para este sentimento.Levantou-se,pegou a cadeira e saiu em direção à praia.Era perto.Olhou para um lado e outro.Meio da semana,ninguém a não ser aquele que de tão longe, não tinha sexo nem idade,apenas um ser distante qualquer.
   Respirou,deixou sair o ar que ficara preso no peito feito  um susto desde há pouco, quando aquele sentimento, de supetão,invadiu a alma. Como foi que, descuidada,permitiu que se instalasse assim feito dono,feito parte,feito álcool da bebida que se toma aos golinhos e, quando menos se espera,espalha-se,atordoa e por fim toma conta?
   Agora, lá estava ela, a olhar aquele imenso mar azul, tão imenso como a saudade que sentia dele. Ele,que tendo rosto não tinha voz,não tinha cheiro,nem pele para ser tocada,era apenas palavras.Ele que um dia lhe confessara que a seguia. Ah!A internet era um mundo novo que comunicava palavras que a emocionavam,com uma rapidez maior do que a que ela precisava para compreender a relatividade dos conceitos. Alguém a seguia atentamente em seu blog. E blog era um novo conceito para a garrafa com as mensagens que ela jogava ao mar, da ilha deserta em que estava. Surpreendente!
   Sentou-se.Fechou os olhos.Lembrou do espanto e da delicia de saber-se notada.Alguém lhe prestava atenção,quando menos esperava.De inicio,um pé atrás, ela recuava.Depois, como uma dança, o incentivo para continuar a escrever, um passo à frente e um pouco de vida pessoal compartilhada.Ele contou-lhe da morte prematura de um dos filhos. Ela,aflita,só podia imaginar quão grande seria esta dor.Queria abraçá-lo, apenas por solidariedade.
   Uma vez,o instinto e compaixão também a aproximaram do homem por quem se apaixonou, e que tornou-se seu marido. Entretanto anos após o casamento,parecia haver ali um poço sem fundo- ele permanecia crítico e exigente, como se disto precisasse para garantir a presença dela ao seu lado,com seu desejo irreal de compensá-lo.Ela pensara que poderia transbordar amor indefinidamente,já que não passara grandes carências na infância,como ele.E se a ela, aparentemente nada faltara e a vida tinha sido mãe benevolente,haveria certamente de ter, em si,uma generosidade inesgotável.Talvez o marido pensasse o mesmo,que a luz daquela alma crente e ingênua e talvez pretensiosa jamais se apagaria e a água daquela fonte generosa,jamais se esgotaria.Contudo,encontrava-se esgotada. Por anos tivera a sensação de que sua espontaneidade e o desejo de viver não eram adequados à mulher de um homem que fazia questão de mostrar-se herói em luta constante,mas deixava claro que a ela cabia compensá-lo por isto.Tão antiquada lhe parecia,agora,esta forma de viver a vida, mas foi assim que a viveu, por tanto tempo que pensou ser nobre a missão.Até que se viu perdida de si mesma,sem sua luz,no escuro e com sede.
   Desta vez, não foi a compaixão pelo homem que sofria, o que a aproximou dele, pois ela já sabia que não tinha a cura para as dores do mundo,mas a compaixão por ambos.E também a ternura por este outro que, mesmo ao ser tocado por grande sofrimento,sabia ser doce com ela e parecia querer vê-la confiante.Com isto,não estava habituada.
   E foi devido ao que sentira por ele que,naquele final de tarde,fugira do computador.Há dias não recebia notícia.Sem despedir-se, ele desaparecera.E ela sentiu uma saudade tão forte e inesperada que doía.Parecia não caber no peito, de tão grande que era.Não esperava por isto. Foi um susto,como ser golpeada de frente por gigantesca onda!
   As pessoas não avaliam o que realmente sentimos por elas,pensou.A amizade,surgida do quase nada,tornara-se rara como uma gaivota de asas douradas que viesse pousar na janela de um apartamento em meio a centenas de edifícios,numa cidade do interior.Simplesmente encontraram-se quando perdiam algo de si.Ele vinha como um raio de sol, forte mas que podia entrar na pele sem queimar.O masculino que lhe faltava em sua própria integridade.
   Cecília sabia que amizades virtuais traziam problemas para relacionamentos reais.Muitas vezes, no entanto, gritara antes a debilidade do seu e de si mesma, sem ser ouvida. Não que o amor houvesse acabado.Porque mesmo a um amor triste e moribundo ela se agarrava ainda que não visse no olhar dele o mesmo cuidado e portanto, muito da ternura e confiança nela haviam pouco a pouco esvanecido.
   Quem sabe ela devesse aceitar esta visão realista das coisas, permitir que o amor envelhecesse assim, naturalmente debilitado como ficam os velhos. Contudo, seu amor era sensível e não conseguia passar pela vida com a consciência adormecida. O hábito do marido direcionar a ela sua impaciência diante da vida que teimava frustá-lo, esfolava-lhe a pele. Em nome da paz e de um instinto meio insano de colocar-se no lugar do outro, quis crer que poderia perdoar a falta de gentileza, o comportamento agressivo, as traições, sem que a própria vida lhe cobrasse por isto. Mas tudo tem um preço. Ela precisava tornar-se insensível algumas vezes, engrossar a pele, para conseguir recomeçar a cada dia como se fosse um personagem de uma página pura, em branco. Ela tentou. E tentou, e assim, ambos pensaram que tudo estava controlado e bem. Finalmente, ela que pensara que o amor faria florescer sempre apenas o melhor no ser humano, decepcionou-se consigo mesma. Não tinha a nobreza de perdoar de novo, e de novo.Não era como a lua que existe e não questiona seus ciclos. Seu coração rebelde que se adaptava mas não se acomodava, quebrou-se em tantos pedaços que demorava recuperar a confiança nas pessoas ou no que quer que fosse. Sem lugar para repousar, como ave ferida que cai ao mar, debatia-se, antes de submergir.
   Foi neste momento, sem se dar conta, que o amigo que a incentivava a continuar a escrever enquanto o homem amado caçoava dos sonhos dela, o amigo que a chamava "minha querida" tornou-se, de repente,imprescindível. E ela sentiu, novamente, que era especial. O despertar de um estado de torpor, sentir-se viva pelo modo como era tratada,deixava mais claro o quanto se tornava insuportável o que há muito tempo já não era igual. Uma vez tinha lido que, diante do amor, tudo o que não o fosse pareceria grosseiro. O companheiro de tantos anos, o único homem que ela sabia amar era um bom homem, um lutador mas vivia isolado em seu próprio quarto de espelhos.
   Foi assim que um dia, Cecília surpreendeu-se feliz ao ler o recado daquele que lhe fazia sorrir quando chegava. Ingenuamente pensou que Deus ouvira suas preces e lhe trazia a esperança de ser amada, de sentir num olhar que a enxergava, que podia voltar a ser ela e habitar concretamente aquele corpo que era seu, mas por vezes parecia menos habitado por sua própria sensibilidade. Deus lhe trazia de volta o amor que ela pedira mas esquecera de nomear. E vinha pois, de um estranho!
   Distraída nestes pensamentos, assustou-se com leve movimento perto de si. Viu um cão vadio que, carente, procurava um dono. Desviou o olhar. O cão seguiu seu caminho.
   Voltou às lembranças de como, por empatia, se aproximaram. Ele, cuja tristeza se devia a perda de um filho. Ela, à perda de si mesma e da confiança que lhe dava sentido à vida. Ambos de luto.
   Um dia ele lhe agradeceu por existir. Como era possível alguém agradecer-lhe por simplesmente existir? Por ter sido inspiração para mudanças, incentivá-lo a assumir emoções, voltar a ser feliz. Em suas buscas para compreender as recentes emoções ela se desnudara. Sinceramente lhe dissera para amar as pessoas ao seu redor e ser feliz com elas antes que não houvesse mais tempo! Ele disse estar ferido. " Confie em suas asas e voe, meu amigo!", foi o que sugeriu. E ele voou.
   Ela não suspeitava que sentiria tanto sua falta! Naquela tarde, desejava voar com ele. Embora as rugas começassem a marcar seu rosto, era crédula. Apaixonou-se. E foi assim que, feito lua cheia,preencheu-se de uma luz que não era própria mas reflexo do próprio desejo de amar.
   E agora, tinha os olhos cheios de mar, e chorava.
   Que tolice! Como, nesta idade, podia apaixonar-se por quem não tinha um abraço real ? Aquele homem se tornara imprescindível para ela,embora tivesse sido ele a lhe afirmar certa manhã: -" Hoje consigo assegurar, com toda clareza e sensatez, que você é insubstituível para mim". Ela guardara aquele email como tesouro. Naquele dia, junto com ela, o mundo ficou sereno e em paz. E ela ousou sonhar! E desta vez não era um sonho de paz, de quem está cansada de manter o equilíbrio a despeito de um piso escorregadio. Depois do que ele lhe dissera, impossível não alimentar expectativas. E,discreta como era, esperou. Ele não suspeitaria que palavras marcam como tatuagem e pessoas sentem saudades? Ou palavras não teriam mais o mesmo sentido, naquele mundo virtual?
   Sentiu pena ao constatar que a saudade que sentia não era do marido. Era de amar. Sim, ela deixou-se levar pelo sonho, mas precisava perdoar-se. Sabia que teria evitado se pudesse e não tinha premeditado o sentimento. No inicio quis arrancar o sentimento como se fora erva daninha, negou-o, tinha compromisso com a felicidade e sabia sua responsabilidade nisto. Finalmente, porém, perdoou-se porque pensou que, se havia traição, era a de quem traíra sua confiança de diferentes maneiras, antes. ao deitar-se, com carinho e oculta tristeza, beijava o homem que amou por uma vida inteira. E quando faziam amor, ela se aconchegava em seus braços, desejando que a vida lhe trouxesse de volta a alegria de antes.
   Então, como poderia trair, mesmo em pensamento? Se ela então, não era perfeita, ninguém tinha de ser, nem seu companheiro. Era grande a tristeza que sentia quando mergulhava dentro de si e conhecia tais contradições.
   Caminhou em direção ao mar azul... a lua nascendo no horizonte, os olhos cheios d´água, descendo pelo rosto, o gosto salgando a boca...sentia-se parte do oceano.
   Não sabia se o mar estava em seu olhar ou se era ela que estava nele. Enquanto isto, a lua, cheia e linda, brilhava, indiferente e cheia de si.
   Um homem aproximou-se. Era aquele que antes era um ponto distante ao longe. Agora, passava por ela arrastando os pés descalços, num andar triste e solitário. Por quantas perdas e desamores haviam passado alguns homens, que não mais reconheciam nem viam o brilho daquela lua? Por  quem ela brilharia, então?
   O cachorro vadio da praia, aquele sem dono, aproximou-se dele. O homem parou. Olhou para o animal que sentou-se a sua frente e sustentava o olhar corajoso de quem busca resposta ao seu desejo de amar. Não estava mendigando amor, não, não era isto que queria. Ela compreendia o cão, como se estivesse nas entranhas dele. O homem ponderou. Não seria fácil tomar uma decisão daquelas, sair de sua conhecida e confortável solidão, comprometer-se em não abandonar quem iria lhe ser fiel, compartilhar de si com aquele que o olhava com esperança. Por fim, decidiu-se. Sorriu para o cão, passou-lhe a mão na cabeça, não com piedade mas como quem o aceita e, sem dizer palavra, continuou a caminhar, com uma alegria que antes lhe faltava. O acordo estava estabelecido. Homem e cão seguiram, lado a lado, confiantes, felizes em direção até o final da praia ou de suas vidas.
   No horizonte o mar estava sereno. A lua cheia, no seu esplendor, levantava-se do leito do amante, plena de si mesma.
   Cecília enxugou as lágrimas. Agora sabia. Fazia parte de tudo e de um desejo maior que em todos está... neste momento parecia tudo compreender, porque tudo era uma coisa só... seu desejo estava naquele homem e em seu cão... e no mar... e na feminilidade que se perpetuaria, para sempre, na lua!

conto de Vera Alvarenga
proibido a reprodução sem que se coloque a autoria.
      

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O desejo que vai na alma...

 O amor é feito criança
que tímida se esconde
mesmo querendo brincar.
Adolescente desajeitado, tal e qual,
troca os pés pelas mãos
ao lidar com algo delicado
e do seu jeito querer se afirmar.
O amor é assim,
sei que nasceu comigo,
mas por vezes se esconde de mim
O amor teme envelhecer
se não conseguir se conter.
Vem seu bôbo,
larga a fantasia de super homem
e a armadura de soldado,
sai deste porão antigo
- a sua infância já vai longe!
Coloque-a neste baú de lembranças
eu também já fui criança,
e feliz, mas solitária.
então, vem brincar comigo.
Já trabalhamos duro
proveitosas manhãs e longas tardes,
arando e semeando, cada um, a sua terra.
Vem, antes que a noite venha para nós
apenas como eterno descanso.
Despojados de tudo
que não é mais relevante,
sigamos! Vem viver a vida!
Olhar para frente, nova paisagem.
Vem brincar de amar.

foto/texto:vera alvarenga


segunda-feira, 13 de abril de 2015

Apaixonar-se

Amar...alguém...estar apaixonada é...
É assim, vem manso como brisa e depois, inesperadamente como vendaval ou tornado, assusta, embaralha o que está solto, deixa o coração batendo forte, surpreso, sensibilizado, emocionado por tanta vida.... e varre tudo ao  redor.
E tendo varrido tudo, o que se vê então claramente, é o que resta daquilo que se tinha. O que se sente é o pulsar da vida ainda nas veias, o que se deseja é amar e é apenas o que importa, o que se sonha é tudo, o que falta é o que estava vazio... E a gente se sente bela e capaz de qualquer coisa.
O sentimento era tão forte como a ventania que batendo em nosso rosto nos impede de respirar porque em presença dele mal podemos tomar fôlego.... tão forte, que até hoje, ao lembrar-me reavivo o sentimento, e me falta o ar.
Quando a gente está apaixonada... alguns dizem que nos tornamos tolos, fazemos coisas ridículas, rimos ou choramos por pouco! ah... é como deixar-se carregar pelo vento e como uma folha, rodar e dançar e rodar até voar... e alçamos altos vôos e tudo podemos alcançar!
O mundo parece nos importar porque, quando amamos, de tudo somos capazes e cada detalhe da vida é vivido como... apenas como um detalhe, natural do próprio caminhar. Porque o que importa de fato, não é o viver... o que inspira, o que dá força , o que se deseja é amar...e amar...
O engraçado é que, se alguém já não ama mais, se por qualquer razão se desapaixonou ou ainda, se o elo que une na vida a fugaz paixão ao eterno e verdadeiro amor se quebrou antes do tempo de se consolidar, então, tudo perde um pouco da cor.
Para alguns, a presença de uma paixão que veio e se foi como ilusão, só pra mostrar o que restava de suas vidas, acaba por inspirar uma transformação, por exigir uma resolução. Como o vendaval faz constatar que o que ficou não se compara ao sentimento que inspira à vida, então a vida parece nos gritar de suas próprias entranhas que precisa ser vivida mais vividamente em cada detalhe. E cada detalhe precisa encher-se de uma importância que antes não tinha, e alguns neste caso, até tentam agarrar coisas e supervalorizá-las, ou dedicar-lhes um olhar mais condescendente. Seria esta uma grande ilusão? Ou não, apenas uma outra forma de resolver a realidade. Tudo, na verdade, pode trocar de lugar....  alguns passam a valorizar mais a vida... alguns buscam um sonho que podem jamais encontrar, outros decidem voltar a amar... a viver o verdadeiro amor onde este possa estar.

texto: vera alvarenga 

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Cor de vinho...

    Ela estivera andando de um lado para outro sem poder encontrar o que queria, desde aquele inverno em que sentira na alma, que trazia no ventre e na mente aquele botão de uma nova vida.
Nada a satisfazia como antes. E não sabia se fora por causa do tempo, dos silêncios, dos momentos de solidão, muitos momentos por sinal, ou do vazio dos gestos que iam mas não retornavam igualmente plenos do que alimenta o sorriso e o corpo. Quem sabe teria sido por causa daquele vento morno que veio forte, trouxe-lhe o pólen que a fertilizou e bateu-lhe no rosto, abrindo seus olhos como janelas para um novo mundo.
   Ela flutuara por uma eternidade em meio àqueles sonhos e pensamentos que, de súbito tinham vindo iluminar suas noites como pirilampos. Vivia então, em carne viva, vermelha do sangue que ainda pulsava nas veias, corada dos desejos e vontades que procurava esconder de si mesma, mas ainda estavam lá.
   Ela não queria mais sonhar... a noite agora era escura mas tranquila, e a esta calmaria iria se entregar com todo o seu ser,como sempre fizera a tudo a que decidia se entregar, atenção focada no melhor que sua mente e olhar podiam transformar de cada momento de vida. Era este o seu jeito - tinha escolhido sonhar a vida, vestida em cores, ao invés de vivê-la de uma forma nua ou crua.

   E quando quase dormia, ainda vestida de vermelho mas de um vermelho mais maduro em tom mais escuro, quando a noite também escurecia seu olhar e escondia tudo que a cercava, então... ele chegou.
   No escuro do quarto, num canto, o vestido cor de vinho... O único som que ouvia era o do coração dele ... fechou os olhos para sonhar...

Fotos e texto:Vera Alvarenga.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A ciência da Felicidade...

   Numa palestra, Nancy Etcoff, da área de psicologia, diz que hoje em dia, ao contrário do que Freud pensava: “A felicidade não é somente a ausência de tristeza”.
   E ela continua explicando- somos muito sensíveis ao negativo. O ser humano sofre mais com a perda do que fica feliz com a experiência de um desejo realizado. Uma interação negativa, pelos estudos feitos, demonstra ser mais poderosa do que uma positiva. Em especial as expressões de desrespeito e rejeição tem bastante poder! É mais ou menos assim..por ex., em um relacionamento/casamento : “é necessário 5 comentários ou interações positivas para compensar cada interação negativa”. Uau!
   Se entendi bem então, sofro mais com a perda de um sonho ou pessoa, do que ficaria feliz com a realização deste sonho ou o sucesso em ter comigo a tal pessoa. Eu não costumava ter dificuldades em descobrir formas de sentir prazer com o que tenho, mas entendo o que o texto diz. É preciso nos "anestesiar", nos"desligar" um pouco de nossa sensibilidade para sofrermos menos com a perda, e então isto pode ser uma faca de dois gumes! 
   Bem, evidentemente, se tivermos a pessoa ao lado e pudermos conviver com ela por longo tempo, teremos novamente muitas oportunidades de nos encontrar nesta alternância entre o realizar desejos e sonhos com ela sentindo prazer em nossa vida juntos ou o de enfrentar os desafios escolhendo a proporção de nossa reação negativa diante das frustrações.
  Nossa vida é como um pêndulo que alterna em diferentes graus de importância, entre a felicidade e seu oposto, não é? De todo modo, é sempre bom aprender a controlar, se já não aprendemos, nossas expressões negativas ou a forma como as demonstramos, evitando ao máximo aquelas que desprezam ou desrespeitam. Porque podemos nos esquecer ou nos arrepender delas, mas o peso sobre o outro é maior.      Nancy Etcoff não fala de proporções, nem do nível limite a que cada um pode chegar mas é evidente que cada um de nós, com certeza sabe seus próprios limites. E mesmo que façamos de conta que não percebemos o limite do outro, a gente deve refletir sobre, para controlar nossas expressões negativas.   
   Parece tão óbvio, mas para alguns não é fácil! É preciso lembrar que, controlando nosso “gênio” estaremos não só nos tornando melhores como pessoa e mantendo o relacionamento mais confortável para nós e para o outro, mas atraindo para nós muito provavelmente e de modo geral, sentimentos, lembranças e pensamentos naturalmente positivos.  Para os mais egoístas, se outros motivos não forem o suficiente, parece interessante então lembrar que o controle sobre si mesmos é também uma forma de assegurar maior prazer na vida em comum. Evidentemente, que aqueles que não são exageradamente egocêntricos aprenderam mais cedo a respeitar e por outras razões, não apenas em interesse próprio, habituaram-se a ponderar suas atitudes. Algumas vezes até se acostumaram mais naturalmente a fazer isto, porque viver em paz ou levar o outro que lhe é próximo e íntimo em consideração, lhes é fundamental para sentirem-se felizes. Ou porque a isto estava acostumados.  De qualquer modo, hoje os estudos provam que todos nós queremos ser felizes.
   Ela diz que emoções não são apenas sentimentos mas também alertas que modificam o modo como percebemos as coisas e até nossas lembranças( o que queremos ou não lembrar). Não devemos nos esquecer que todos desejamos ser felizes. Ninguém está dizendo aqui que devamos viver para dar prazer apenas ao outro, um erro que muitos de nós cometemos porque a felicidade do outro nos leva também à nossa felicidade, em parte. Algo assim unilateral não poderia durar, nem alimentar o relacionamento com o qual sonhamos e gostaríamos de viver por toda a poética e real eternidade! E se queremos ser lembrados, se ficamos felizes quando alguém sente prazer com nossa presença ou ao pensar em nós,  é importante proporcionar maior oportunidades de prazer do que dor. Parece tão óbvio mesmo, não é? Então por que esquecemos tantas vezes disto? Por que muitos de nós ainda pensam que o elogio e incentivo fazem um menor papel do que a crítica? Por que evitamos o prazer de nossa presença na vida de algumas pessoas para as quais sabemos que apenas nossa presença já é importante? Por que este medo de nos relacionar com quem nos valoriza, esta mania de achar que ficaremos vazios de nós se dermos prazer ao outro? Talvez por medo de passarmos a sentir um pouco mais a vida sem a proteção anestésica que nos proporciona aquela posição na qual tentamos por vezes nos manter...ali no meio, quase em neutralidade? 

   Pensando bem...estas pessoas de fato estão de acordo com o que Nancy disse em sua palestra sobre estudos que há algum tempo se fazem sobre a Felicidade. Estas pessoas de reação negativa sobre os que lhe são próximos e até os que amam, talvez saibam que estas suas reações tem mais poder! E se buscam o poder, seja por auto defesa, insegurança ou "vocação", podem repetir estas reações constantemente. Em contrapartida, quem conviva com estas pessoas pode acabar por ir para o lado oposto e cada vez sinta que precisa controlar-se mais, ser mais dócil ou adaptável para compensar o outro. Ou ainda se habituará a "desligar-se" da situação ou negar as próprias emoções como forma de passar mais ileso ao desrespeito. O ser humano quer ser feliz e portanto tenta sobreviver da melhor maneira a tudo. Se isto se tornar um modo de vida ou sobrevivência, aos olhos de outros, ambos estarão visivelmente nos extremos, um parecerá " o tal do genio forte" enquanto o outro poderá ser visto como "o fraco ou excessivamente permissivo". Ao mesmo tempo, pelo menos com certeza aquele que não se conforme com o papel que passou a ter de desempenhar para compensar a grosseria do outro, se sentirá em posição desconfortável porque não consegue voltar ao centro, ao que se aproximaria do chamado equilíbrio. Ora ninguém consegue ser bom o tempo todo quando é constantemente desrespeitado,e ainda que se esforce o preço pode ser alto quando e decidimos ultrapassar limites para conviver de modo positivo com aquele que precisa manter-se sempre no poder. Ora, ora, nunca tinha pensado nisto desta maneira!
   Então talvez seja uma questão de escolhermos que tipo de poder queremos exercer sobre o outro... e no final das contas, sobre nossa vida e nossa Felicidade. Que tipo de poder podemos deixar que o outro exerça sobre nós, sem que nos tire a dignidade que por nossa essência divina, temos.  Aliás, melhor seria perguntar se queremos exercer poder sobre quem amamos ou queremos, de fato, amar?
Foto e texto: Vera Alvarenga

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Quem pode explicar ?

ah!
quem pode explicar? a vida que vivemos... e nela o tempo que passa, as marcas, os sinais,a terra, o fogo, o vento e a água que transformam a tudo e junto com toda a coisa viva, ela mesma ?
... e nisto tudo de certo modo um dia, agora mais amadurecida, penso que consegui aceitar o que não pude mudar, humildemente entregar-me a verdade de que sou como tudo, finita e envelheço, e morro a cada dia um pouco, e um sonho morre comigo, justo aquele que não consegui realizar, mais ousado que todos porque parecia fora do contexto de uma realidade ainda que eu também a moldasse e na qual interagia, ora adaptando-me ora transformando-a...
  ah! mas mesmo assim, eu dizia, apesar das voltas que o mundo dá, e as surpresas e os caminhos, a esta altura eu pensava estar absolutamente serena, e digo mesmo que estou surpreendentemente entregue ao que é, e em paz e ainda tenho o sorriso na alma e a mão de afagar, e uma paciência que me acompanha e um desejo de conviver fraternalmente com aquela que não sou mais eu concretamente, mas está em mim...
   então...por favor,diga-me! quem pode explicar ?
   ...que de repente, assim por conta de um momento grosseiro que me leva a sentir o cheiro da terra que exala de tudo o que se tornou a vida assim como ela é, ainda que considerando que ela é muito boa e me devia satisfazer inteiramente e satisfaz se me mantenho serena mas um pouco alheia...de repente, por conta de uma música e uma imagem que me levam a me sentir quase mais leve, me vem esta saudade, nostalgia, vontade de abraçar e amar e amar e satisfazer o sentimento que, a certo ponto me parece impossivel até de controlar??
  Por que? quem me poderia explicar? e em não tendo explicação nem razão ou lógica em que me possa apoiar, escrevo... único modo de compreender que na alma existe algo maior que esta vida em que simplesmente andamos, que para alguns não morre nem envelhece, que permanece desejo, forte e real, não pode ser sufocado, mas que ao fim do desabafo, e na escrita na falta do sonhado abraço, como tudo o mais passa... sossega... se enternece com as sutilizas da vida e enfim volta a serenar....

Foto e texto: Vera Alvarenga  

quarta-feira, 26 de março de 2014

Ah! a minha nuvem negra...

Foto
No Face hoje alguém colocou esta imagem e eu logo pensei:
Quem acumula inveja,preconceito ou raiva também...olha só a tal nuvenzinha que eu contava para os meus meninos que a gente atraía quando ficava nutrindo pensamentos ruins ou julgando os outros...olha só...kkk.
 Lá em casa a gente era tranquilo mas tinha de ter bom humor com a própria vida e deixar a vida dos outros em paz...é sim...ainda creio nisso..rs...
    Tanto tempo passou e esta nuvenzinha ainda existe! Olha só! e pode ser a escolha consciente ou não de cada um. Que raios ou trovões venham junto com uma nuvem de raiva que a gente não queria ter ou não sabia que estava lá porque tentava esconder da gente mesmo, ou simplesmente porque não tem afinidade com este sentimento, vá lá. A gente às vezes demora quase uma vida inteira para entrar em contato com esta emoção, e na verdade não é apenas ou unicamente por "negação" como diriam os psicólogos de plantão, mas porque realmente não tem muito a ver com tal emoção e não quis ficar ali dando brilho, curtindo e polindo, fazendo frutificar ou se espalhar feito bolor. Algumas pessoas são um tanto desligadas de certos detalhes e, a raiva requer uma especial atenção a eles, uma vontade forte para julgar e firmeza para chegar a um veredito. Além de memória, é claro! Daquele tipo de memória "que não esquece"! Eu certamente sou muito desligada de algumas coisas e raiva nunca foi uma emoção motivadora ou objeto de importância que me desse o trabalho de trancafiar lá no sótão.
   Que sapos e lagartos saiam de nossa boca de vez em quando, ou do sótão quando fazemos uma limpeza por lá, tudo bem. Porque em todas as casas há um sótão, ou porão. Eu prefiro sotão, dá uma sensação de estar a um nível mais acima da umidade excessiva do porão, mas de qualquer modo, um deles está lá em nossa casa. É onde guardamos as antiguidades, relíquias e os "escondidos". As fotografias, os porta retratos vazios ou com fotos amareladas, quando não rasgadas pela metade, como se pudéssemos tirar de nossas vidas a lembrança de alguém, só porque rasgamos a foto. Aliás, este tipo de foto, na verdade, nem as tenho! Contudo, já presenciei pessoas que tentavam matar pessoas, rasgando fotos. É uma dor muito grande que as consome.
   Inveja...ah! a inveja... quantas vezes desejei algo que não tinha e por isto senti minha felicidade abalada?
   Pelo que me lembre, só depois de velha isto me aconteceu. E não foi nunca por inveja de alguém que tivesse o que eu não tinha, mas unicamente quando desejei ter o que havia nos meus próprios sonhos. E um sonho tardio pode ser tão inoportuno quanto inesperado, mas ao mesmo tempo pode ser o que nos salva da nossa nuvem particular de mágoa e tristeza, que poderia sugar nossa energia como a parasita suga a seiva de uma árvore madura até secá-la de vez. A menos que possa considerar que invejo meus próprios sonhos, não sofro da inveja.     Contudo a raiva, aquela que não guardava no sótão mas chegou como uma nuvem trazida pelo vento que varreu o pó e deixou as superfícies mais reconhecíveis, a raiva que caiu feito tempestade e lavou a alma que não compreendia mais nada e pensava estar perdendo o laço que a ligava à razão, a raiva que nos faz agir e tirar o que amamos do caminho do tornado e nos colocar em lugar mais seguro, esta sim eu senti. Como se sente a chuva... E depois a nuvem se desfez... penso que quase totalmente.
   Assim, resta-me lidar com aquela nuvenzinha que teima em vir de vez em quando para cima de minha cabeça e quer tirar minha atenção das coisas que amo. Uma nuvenzinha acinzentada e sombria com a qual eu até já me acostumei a conviver, já conheço seus sinais e sei para ela um bom antídoto. Ela se enfraquece toda vez que consigo obter, de meu sonho, um tequinho de realidade, toda vez que meu sonho me toca se transmutando em um gesto real, toda vez que me lembro que foi através de um sonho, mesmo tardio, que eu vi que minha nuvenzinha de mágoa tem de ser colocada no seu lugar, e lá é infinitamente menor que eu, menor que minha capacidade de amar e que, portanto jamais irá me engolir.... se eu não permitir. 
Foto retirada do Facebook
texto: Vera Alvarenga

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Ainda tenho tempo...

 
 Não adianta a gente querer explicar porque se apaixonou...nem porque ainda ama apesar de tudo, ou mesmo porque de vez em quando desejaria não amar só pra não sofrer decepções.
 O amor é um desejo antigo, superior até mesmo àquela atração que a gente sente de início e nos arrebata. Amar é uma atitude que demonstra aquilo que temos como semente em nós e está ali para florescer, apesar das frustrações, ou do tempo, ou mesmo da ausência.
 Se Deus é amor, e está em nós, o desejo de sentir amor é como o de reencontrar com Ele, de alguma forma. É como se tivéssemos nostalgia de um sentimento tão puro e bom que um dia conhecemos e nos preenche.
  Hoje acordei pensando ... Deus quer que o amemos acima de todas as coisas, mas talvez não acima das pessoas pois que é através delas também que podemos amar a Deus, e conhecer um pouco do seu amor. Se desenvolvermos nossa capacidade de amar então, estaremos nos aproximando dele.
  Mas também penso que sorte temos por estarmos aqui a pensar sobre estas coisas... e me lembro das paisagens destruídas pelas guerras de todos os tipos, pelas vidas ceifadas por falta de amor, pelas pessoas que vivem numa realidade tão difícil na qual não escolheram viver, pelos que viram seus filhos morrerem como plantas cortadas antes de dar frutos... As guerras não afetam diretamente a minha pequena vidinha individual, embora me tragam um desconforto na alma, mas a falta de amor, seja como for, afeta a todos nós.
- Ah meu Deus! que estejas aí com seus braços de amor para todos nós, quer tenhamos a oportunidade de amar quer não, porque, na verdade, todos ansiamos por um Amor maior. Que venha então de ti ! Que seu amor seja mais belo que tudo o que podemos nomear como beleza no mundo que conhecemos. Que seja mais confortável do que o paraíso para receber aqueles que amamos... do contrário, a quem os entregaríamos, e para onde iríamos nós no fim do caminho?
 Mas ainda não é o fim do "meu" caminho... e ainda tenho tempo para amar sua criação...

Fotos e texto:Vera Alvarenga 

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

E eu o convido para dançar...

 Há momentos em que meus pés sentem vontade de dançar...
E dançar é sentir-se leve, deixar-se levar...
Como eu gostava de dançar! Mais tivesse dançado!...e rindo alto o tivesse feito até com meus meninos naquele tempo, porque as horas, dias e anos riscam a noite como um cometa que depressa esconde seu brilho. Quando abrimos os olhos para ver, já se foi! E naquele tempo não sabia disto e mal tinha tempo de ver estrelas.
A responsabilidade que eu necessitava ter, terá sido  talvez maior do que a própria necessidade? Não sei. Tudo parecia cercado de urgência e de uma responsabilidade que tinha caráter intransferível.  Contudo, era eu mesma que me prendia nela com a nobreza de cuidadosos gestos que me eram peculiares e com a seriedade com que caminhava em direção a realização de uma meta. 
 Hoje, já não posso dançar como antes, e mesmo seria esquisito se o fizesse. E por saber que não posso, já nem quero. Mas a alma não está velha e quando meus pés ficam assim, inquietos, lanço mão de um truque quase  infalível, secreto  e decididamente apropriado – primeiro, não olho para os grandes espelhos – mostrariam o peso de responsabilidade dos meus anos, e os anos no peso do meu corpo. E depois, enquanto dura esta comichão nos pés e na alma, e mesmo que depois isto me traga uma certa nostalgia por ver que foi tudo apenas invenção minha, decido me permitir sair pela porta aberta daquela gaiola em que nos colocamos vez ou outra, todos nós, e danço e rodopio como se o tempo não tivesse passado além do tempo de minha ingênua, sincera e genuína alegria.
E quando me sinto encorajada para o que me parece uma maior ousadia, lembro que se fosse considerada ousadia pelo convidado, já não teria valor o convite... então, acreditando que sua alma deseja tanto quanto a minha, e sonha levezas como todos nós, convido-o para dançar. Feche os olhos. Venha...
E com os olhos do coração, vejo nossos passos se harmonizarem nesta dança perfeita. Não porque, de fato, haja perfeição nela mas porque sorrimos e vivemos,  nem que seja por minutos, um momento eterno... nem que seja para marejar os olhos da alma que se vê limitada por toda a concretude desta vida que habita no que é chamado realidade. E depois, minha alma serena e se tranquiliza, porém nostálgica, porque conhece o segredo daquilo que ao nos tocar é mais real do que a mais real de nossas realidades, algo que é capaz de reequilibrar e devolver o brilho das estrelas no céu...

Foto retirada do Google
Texto: Vera Alvarenga

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Humano desejo...

Somos feitas de tantas coisas... até daquelas que não nos é ainda permitido comentar...até daquelas coisas que não é prudente confessar... até do que gostaríamos de esconder. Somos mulheres.
Às vezes me toma um sentimento que mistura uma saudade do que conheci com o desejo de te ter ao meu lado, e num abraço amar-te e ser amada como se não houvesse amanhã, mas pudéssemos acreditar que seria para sempre.
   Então me conformo. Ainda bem que não estamos juntos neste exato momento! porque não suportaria que me falasses de possíveis  ou impossíveis realidades, nem que me olhasses como se eu não fora o mesmo pra ti... e então, ia querer sentir tua pele e cada pedaço dela, e amar-te e amar-te, como antes eu sabia amar... e talvez isto te sufocasse, como me sufoca este desejo que às vezes me visita.
E eu bem que me pergunto - Por que?

   Sou água e sentimento. Meu princípio é o da vida, e me faz lembrar como tenho sorte e o quanto da vida recebi... e meu impulso... apenas deixa à mostra a minha humanidade e o quanto sou igual a qualquer um...

foto e texto: Vera Alvarenga

sábado, 21 de setembro de 2013

Melancolia...


Desde ontem, após ler o email de um amigo, me volta ao pensamento,repetidamente, esta palavra que não sei bem definir...melancolia.
   Seria, quem sabe, sermos interrompidos insistentemente por lembranças do passado?  E muitas vezes nos sentirmos tomados por uma sensação de surpresa por ver que algumas coisas que nos pareciam certas, tomaram um rumo tão diferente daquele que imaginávamos?E frente a isto, à sensação de impotência,nos bate um cansaço, como se quiséssemos ser capazes de descer desta roda que gira e gira independente de nossa vontade e apesar de nós. Então, apenas ficamos ali, a nos convencer de que as coisas são assim mesmo e diante deste fato, que façamos o melhor, apesar da preguiça que nos rouba o entusiasmo de outrora!!
   Seria isto a melancolia?
  Ou seria o desejar ardentemente poder recomeçar outro caminho, novo, e reencontrar neste a nossa antiga energia ou motivação, para logo perceber que não é possível? Porque, para alguns de nós, este não é, não, um caminho que se faz solitariamente! Porque, para alguns de nós, o que se deseja é nos encontrarmos novamente apaixonados e amando alguém e como consequência, a própria vida. E não falo do amor, aquele que a gente encontra quando racional e maduramente lembra de tantas histórias, batalhas vencidas, dedicação pessoal para que consigamos, sob grande esforço, fazê-lo sobreviver. Falo do desejo de experimentar talvez um novo amor, um amor de outro tipo, seja com a mesma pessoa (embora isto exija igual empenho dos dois) ou com outra. Falo de sentir um amor que nos emocionasse novamente, nos tomasse, nos inundasse, simplesmente porque viria naturalmente do compromisso mútuo de fazer o outro tão feliz quanto a nós mesmos, e por isto, seria o sentimento que nos traria mansa alegria de termos finalmente encontrado nosso recanto de paz e prazer...
   Falo do amor que se constrói com respeito, carinho, amizade e a antiga bagagem dos que já se viram a caminhar corajosamente por caminhos solitários, quando deviam estar acompanhados.
   Melancolia seria a estranheza que nos assombra diante do próprio presente onde estamos agora, sem contudo sentir que ele realmente nos pertence? Seria nos perguntar com estranheza como chegamos ali?
   Ah, certamente o rumo de nossas vidas e sentimento não são coisas que podemos construir e controlar como se dependessem exclusivamente de nosso empenho, dedicação e sonhos! Há muitos outros aspectos que interferem, além de nossos próprios humanos erros, sem que possamos fazer muito a respeito. Tantos momentos nos quais tivemos de optar, e na maior parte das vezes fazemos a escolha no escuro, contando também com a sorte, além daquelas escolhas para as quais não pudemos nos sentir livres a seguir apenas o que nosso desejo mandava, porque o coração e o amor que nos liga a outros, nos fazem saber que não estamos sós a enfrentar as consequências daquilo que desejaríamos.
   Quando estamos mergulhados hoje numa ação qualquer e somos surpreendidos pelo desconforto, estranheza, e nos perguntamos se aquilo tem significado e então, nos esforçamos para novamente nos colocar por inteiro naquilo que estávamos fazendo antes de sermos interrompidos por tais pensamentos...seria isto a melancolia? Precisarmos nos distrair, nos deixar absorver pelo que está à frente de nosso nariz, o que é sábio porque nos leva ao presente, porém ao mesmo tempo para longe do que sentimos. E talvez o que sentíssemos se nos permitíssemos seria o desejo ardente de não ter nossa velhice permeada por esta sensação de solidão. Ou seria precisarmos nos dessensibilizar repetidas vezes e a tal ponto que não podemos mais sentir emoções e vida como coisas que estão coerentemente caminhando juntas e nos pertencem?
  Melancolia...algo que não sabíamos o significado porque antes não conhecíamos o tédio, nem a dúvida, nem a indecisão, nem a falta de entusiasmo, porque antes estávamos tomados pelo amor que nos vivifica?
Melancolia, talvez se misture com certa nostalgia.
  Um por de sol como o da foto, com uma ave em voo solo, é lindo, mas melancólico, porque nele nos despedimos da luz!
 
  Melancolia, para mim, é saudade de poder amar! E é amando que nos sentimos mais vivos!
  E por isto, melancolia é como o por do sol, é como ir morrendo aos poucos....
  Pode ser que, para cada um tenha um significado um pouco diferente... pode ser...
  Eu, de minha parte, refletindo sobre ela, vejo-a como filha da nostalgia. Nostalgia do sentimento que um dia nos envolveu e pelo qual nossa alma, por vezes inconformada anseia de novo sentir - o amor!
 
  E é por isto até, que alguns de nós, seres humanos já bem maduros, inconformados, ousaram enfrentar situações consideradas ridículas pelos que não sabem o que é viver este sentimento. Eu, não costumo julgá-los com rigor e me emociono pelo amor corajosamente vivido, seja em que idade for. Quisera eu ficar velhinha e sempre envolvida por este sentimento! Porque a alma não envelhece e por vezes demora a entregar-se à paz, aquela daquela natureza que advém de nada mais desejar e apenas espera a vela se apagar...

Texto e foto: Vera Alvarenga.  

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Nada importante a fazer a não ser...

 Ontem soube que meu sobrinho que pensei já estivesse em casa há muito tempo, após uma cirurgia complicada, ainda está no Hospital! Evidentemente com coragem diante do que não podemos controlar, e com fé, ele e esposa enfrentam os desafios que a vida lhes traz.
  Eu, com este meu jeito introspectivo e às vezes. medroso de ser ( tenho medo de perder o amor ao qual possa me dedicar, e tenho medo de problemas de saúde que nos levem a hospital) acabo por ficar quietinha no meu canto, pensando que não tenho nada verdadeiramente importante para fazer a fim de mudar as coisas para melhor. Então, oro, e penso em coisas boas que posso "enviar" como energia aos que estão distantes e procuro agir no que está no meu limite próximo. Contudo, às vezes a gente nem percebe mas vai se encolhendo, só porque não vê os resultados imediatos de nossas ações, ou porque as coisas não ocorrem como gostaríamos.
   Sim, eles sabem! Sabem que há momentos em que nos sentimos pequenos e pensamos que nada mais há a fazer a não ser... pois são nestes momentos em que pensamos que nada importante podemos fazer é que está acontecendo o que realmente é relevante!!
 E então, na minha vida é assim também, acontecem fatos que me lembram que estou me acomodando ou desistindo desta minha crença no amor ( mesmo que seja o crer no amor e amar da minha forma de amar!).
 E hoje pela manhã, antes de ir ao oftalmo saber o resultado de uns exames( que foram bons, por sinal!), pedi a Deus por meu sobrinho e esposa, e por mim, que afastasse meus medos, que me permitisse livrar-me do sentimento de "não ser o bastante" e da recente mania de racionalizar mais do que realmente viver com simplicidade as coisas que posso viver. Antes eu fazia isto e agora parece que andei me esquecendo de como fazê-lo - viver o que é possível como se fosse um presente que mereço (já que as dificuldades, como sempre digo, a gente tem mesmo de enfrentar quando surgem). Logo depois, pensando que gostaria de ter algo importante para escrever como mensagem ao sobrinho, abri uma página de um livro desejando que a mensagem fosse inspiradora. É um livro psicografado de Teresa de Calcutá. O que estava escrito, evidentemente, serviu pra mim e espero que anime os dois em sua fé e no momento que estão atravessando, ali juntos há semanas, sem ter nada mais importante a fazer do que viver seu amor, aprender a descobrir o quanto são boas as pequenas bençãos que vem a cada dia, a ter paciência, coragem, humildade e a não esmorecer... Nada a realizar para o mundo(aparentemente, porque o exemplo deles pode inspirar outros) , muito a realizar por sua própria evolução... 
E no livro ela diz : "- Na verdade, passo a passo descobri que o medo cedia à medida que eu caminhava; que a coragem crescia na proporção do amor e da fé dedicados ao pouco que eu realizava. Descobri em mim uma força que em momento algum supus deter. Percebi que estava a meu alcance amar intensamente, tão intensamente quanto possível, apesar de não poder fazer coisas grandiosas. Logo canalizei minhas certezas,minha esperança e minha coragem para a força do amor...."  Cada um pode usar estas palavras como inspiração para sua vida e em sua maneira de ser...

Fotos e texto: Vera Alvarenga

Texto entre aspas/ grifado: retirado do livro A força Eterna do Amor - Robson Pinheiro

quinta-feira, 28 de junho de 2012

O medo, escondido...

 Caminhava, distraída, com um pensamento que lhe marcava com mais rugas, o rosto. Havia falado disto, um dia antes, com uma amiga a quem confessara sua covardia.
- Por que este medo? Sentir medo era algo bom, assim considerava, pois com ele sabia seus limites. Mas, e este medo de não sei quê ?! Esta insegurança que vinha sorrateira apertando no peito o coração, espremido, confuso...
- Por que, se tudo parece finalmente entrar nos eixos? Impossível lidar com um medo que vinha, não como aliado, mas como inimigo camuflado. Tentara fazer de conta que não existia. Ignorá-lo, durante o dia era fácil, mas à noite, logo após deitar-se, quando vinha das entranhas e subia pela coluna, com um arrepio nas costas, era outra história. Como encarar de frente o medo, se ele não tinha cara? 
O amor é verbo, o melhor do amor é amar, pensava, enquanto lembrava que eles tinham tido uma longa história de amor. Não ela e o medo. Ela e o homem, cuja mão puxava e colocava no peito, cujo corpo usava de escudo para proteger-se daquele frio. Talvez fosse o inverno a gelar os lençóis... não, não era. Era um medo, nem sabia de que, que só passava com o calor dele e a mão a apertar-lhe levemente o seio como a dizer-lhe :
- Pronto, estamos juntos. Ao que seu coração respondia - Agora, estamos bem. 
O medo assim, sem nome ou personalidade, nem razão aparente, não tinha nem mesmo caráter embora caracterizado. Despia-se de importância. Pareceria tolo como o ator principal que entrasse em cenário desconhecido, num palco pouco iluminado e quisesse interpretar seu papel para um público inexistente. Entretanto havia um público - e era ela! Ela estava ali,assistia o drama, e era também o cenário e o palco,  e o próprio ator com seu tema, e as emoções que rolavam no ato. Não, não era uma tolice! Era forte e vivo este personagem sem rosto.
Seus pensamentos quebraram-se com o susto - o som alto da sirene de uma ambulância que vinha de trás de si, na rua. 
- Pobre de quem está ali, pensou. Este sim, com sua vida ameaçada, tem motivos para estar com medo. Não eu, que apenas descubro minha covardia....
  E a ambulância parecia voar, perto, bem perto... E então ela percebeu, claramente. Um choque. Foi a ambulância que bateu em seu corpo ou a verdade que esbofeteou-a na cara, ofendida com sua insensibilidade? Logo ela, tão sensível e vulnerável ao sofrimento alheio que precisava usar uma couraça, por vezes, para proteger-se. Ela, cujo corpo sentia tão facilmente a dor que, há tempos, insensibilizou-se.  
- Insensível! ouviu o grito de dentro de si mesma. 
E então, ela recordou e sentiu o mesmo que antes. Sentiu a vida esvaindo-se de si mesma. A alegria, a ternura, tudo indo embora. De tudo que vivera, de tudo o que era, nada restaria diante da ameaça sofrida. Apenas, por momentos, a dor  e a angústia do morrer. Corpo e alma debatendo-se pela sobrevivência. Como aquele que se afoga no oceano, não ela mas o verbo em si , estendeu as mãos, no último esforço, e agarrou-se ao apoio que o manteria à flor da água, até que pudesse respirar e recobrar forças. 
- Mulher ao mar! Gritou o verbo, na intenção de salvar a mulher. Nenhum barco ou salva-vidas, ninguém nem ao menos para compreender porque se debatia. À distância, e para poucos olhares, ela parecia apenas divertir-se na água rasa. Não era possível para eles compreenderem que ela lutava pela vida.
   Ah, o amor... Amor não é apenas sentir, é amar. Foi deste mesmo modo, que sua alma lutou quando sentiu que o amor de dentro de si, ameaçado, morria. Morriam os dois, ela e o verbo. E quem, diante da dor e da ameaça de morte não sentiria medo? Quem? 
  E quem era o algoz? Era ela, a insensível! A que não queria mais amar, sem saber que isto a mataria também. E o medo tinha de esconder-se de tão lógica criatura. E escondeu-se, bem nas entranhas...
 ...Foi quando viu o pássaro ferido a afogar-se naquele oceano de perda, dolorido como ela. E desejou salvá-lo. Descobriram que ainda tinham asas. Ela, vestida com toda a coragem do mundo, voou. E voaram até a praia e com simples gestos, salvaram um ao outro.   
   Já não sentia tanta dor. Estava apaixonada por um pássaro, ou era o efeito de uma droga alucinógena  que lhe tirava o sofrimento? Não importava, era bom. O amor era verbo e ela percebeu que ainda podia voltar a amar.... Mas isto foi há tanto tempo...onde estava o pássaro?  onde estava ela, agora? 
   Aquele medo, o pavor, o susto por ter a própria vida ameaçada, foram absorvidos pelo corpo, e ficaram lá, escondidos. O melhor do amor...é amar. E sua vida, que não fora em nada importante a não ser por poder amar, fora ameaçada de morte. Sua alma assim o fora. Por isto havia o medo, que escondido tinha perdido a forma, a cara, a razão, mesmo depois que ela acordou na praia. Ou será que foi no hospital, ou na calçada depois do susto? Não importava. Alguém, junto a si, lhe estendia a mão. E abraçou-a. Por algum motivo tivera medo de perdê-la. No início, ela não o reconheceu, embora o conhecesse há tanto tempo...durante o dia, alerta, olhava-o desconfiada... quem seria aquele? Seria confiável? À noite, quando tudo era paz, entregava-se ao destino que era dela e deixava-se aquecer por aquele sentimento.
   ... Ela entendia. Se ninguém mais a compreendesse, não faria diferença. Hoje, ela conhecera a cara do medo. Sabia porque ele tinha se escondido em suas costas. Após olharem-se um nos olhos do outro, andavam agora,lado a lado. Com sorte, a confiança sopraria uma brisa morna e ela não sentiria mais frio, se o tempo do verbo se mostrasse presente. Breve, talvez não sentisse mais medo. Aliás, nem fora ela que o sentira, pois que já havia desistido. Foram o amor e a alma, os que viviam dentro dela. Foi o verbo, que não quis morrer!
   Ela, por seu lado, não se julgava mais covarde. E ainda lhe restaria conjugar o verbo em todos os outros tempos...  
Texto e foto: Vera Alvarenga     
   

   
  

domingo, 1 de abril de 2012

Felicidade, para mim, é...

Tantas coisas fazem os momentos felizes! A gente pode encontrar com eles pelo caminho, ou pode criar estes momentos. É preciso estar disponível para a vida e, evidentemente, estar numa vida que proporcione a benção de bons momentos.
Mas a felicidade mesmo, aquela que pega fundo, que parece ser o suporte do nosso jeito particular de ser e estar no mundo, que traz paz, pra mim, é ter alguém para amar! Amar profundamente, o que traz à superfície, por momentos, o melhor do que somos. E, nos sentimos felizes em refletir o melhor de nós, mesmo que saibamos que não somos luz o tempo todo, que não somos perfeitos, como nada é. Amar profundamente algo ou alguém, traz esperança e inspiração! Porque nos ensina a compaixão, e portanto, a não dividir o outro, e a nós mesmos, em duas partes irreconciliáveis - o bom e o mau.
Quando descobrimos que é isto - poder amar - que nos traz felicidade, paramos de buscar em todos os caminhos, mas ao mesmo tempo nos abrimos para o que nos parecer trazer esta possibilidade como verdade. Então, ser feliz passa a ser, a qualquer momento, encontrar ou decidir crer que ali está uma pessoa especial. E será especial porque e enquanto para ela e perante ela, pudermos ser especialmente amorosos e compassivos, se o quisermos ser. Sentir-se feliz, pode ser constatar que se tem uma longa e bonita  história de relacionamento com alguém, e no qual a gente permaneceu atuando na vida, e não à margem dela.
   Embora, para muitas pessoas a doença possa trazer a atenção de que necessitava e portanto, momentos felizes, ela é como um grito do corpo a nos mostrar que algo nos falta e, no mínimo, nosso amor para com o próprio corpo, que por diferentes razões, até genéticas, precisa de cuidado amoroso. Sem dúvida, para mim, felicidade mesmo, junto com amar, é ter saúde! É verificar que, após um diagnóstico de início muito preocupante que assusta, no final das contas tudo ainda está bem, e que você está pleno de possibilidades, e tem a felicidade de, na posse dos sentidos, ser independente, livre e útil, com sorte, pelo resto de sua vida. Então, quantos momentos felizes terá ao ler tranquilamente um livro, tirar fotos, porque a visão, além dos outros sentidos, lhe permite relacionar-se com o mundo de uma forma menos restritiva! Para muitos ainda, apesar das restrições na saúde que sofreram, felicidade está em ainda amar a vida, apesar de tudo.
  Além da saúde, felicidade é poder amar, por sentir-se amada. Ou ainda, perceber o esforço que o outro faz no relacionamento com você, para compreender e aceitar que pessoas são diferentes e por isto, seu modo de crer na vida e demonstrar afetividade, também o é. Então, quando e se o outro o aceita e o respeita, você se sente feliz. Porque, para mim, felicidade é quando não preciso ter medo de ser feliz, nem vergonha de demonstrar minha afetuosidade.
  Porque o que nos faz infeliz é reter as boas sementes, os gestos espontâneos de amor e vida, quando a terra não é fértil! Porque, o contrário de ser feliz é o movimento de castrar o impulso da vida. Ser feliz é encontrar ou preparar solo fértil para plantar.
  Felicidade são momentos, sim. É quando posso demonstrar meu afeto e o outro o recebe. É poder ser aquilo que a gente mais necessita ser e que nos leva para um impulso em direção à uma vida saudável. O mais, vem como inspiração decorrente...
Foto e texto: Vera Alvarenga
Escultura: Vera Alvarenga.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O desejo ...

 O primeiro desejo no momento em que se vai concretizando é como o escravo que, libertado, corre com medo de ser ainda apanhado, antes de sentir o gosto da liberdade. E vai afoito e desenfreado, sôfrego e meio cego,sem destino certo, sem saber até onde pode ir. Vai como barco levado pelas ondas e abençoa a praia onde chegar. Embora cego, contudo, é desbravador de novas terras e delas traz o vírus com o qual, muitos ficam contaminados.
O outro desejo, o que vem do que é conhecido, falo daquele selecionado entre tudo o já por vezes experimentado, o que nos ensinou sobre ter o gosto apurado...deste, a gente quer tudo. Por saber o caminho, vai saboreando devagar e, mesmo assim, com cuidado,porque sabemos que agora, somos escravos da liberdade. E esta é para tudo, até para o que fomos buscar e, surpreendentemente, pode nos escapar no último momento.
O desejo daquilo que experimentamos uma vez ou muitas, e se foram muitas mais marcados ficamos, o desejo daquela experiência do dissolver-nos sem medo, do nos entregarmos à plenitude, este tem alvo certo, e traz em si tremenda contradição. Nos reconhece livres,mas nos leva a uma doce prisão!
A esta prisão ficamos presos por magia, a ela queremos retornar, como aquele que conhece o sabor de doce alimento, ou aquela que sedenta bebeu de fresca fonte. Somos escravos do que não tem nome, mas está na lembrança, na pele, no olhar. Ao lembrar dela, o desejo nasce e volta a arder. Como se no corpo ressurgisse e ardesse  a marca que ali foi tatuada para sempre. E todas as células do corpo guardam em si a memória. É a marca que trazem aqueles que já estiveram livres o bastante para provar do ritual mágico levado às últimas consequências, o que nem a todos é dado participar. Porque é preciso perseverança no tempo, empenho e extrema vontade ao mesmo tempo que, exige grande desprendimento da vaidade quanto ao que se quer realizar.Muitos se iludem nesta questão, e talvez seja melhor assim, pois quem sabe onde chegou, torna-se prisioneiro, como aquele que ouve o canto da sereia ou a mulher que sonha jamais envelhecer. É o querer doar-se inteiro e receber tanto, que se completa. É de fato, uma contradição. No mesmo instante em que não se pode exigir, é que se tem a harmonia e o ritmo perfeitamente combinado, como se fosse ato, durante muito tempo,ensaiado. E ensaiar é o melhor...pode levar anos e anos de prazer.
E, apesar disto tudo, que nos lembra que também e ainda somos corpo e emoção, a razão quer em vão, nos convencer de que, em um momento dado, melhor seria ficar só na lembrança, ou mesmo esquecer, do que desejar de novo e de novo, mergulhar nas águas cristalinas do ser nada e tudo, a que nos leva o ato de amar.
Texto: Vera Alvarenga   foto: retirada do google e modificada.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

" A arte é luz que resgata..."

Hoje,relembrando descobri,
que das vezes que senti medo
e achei que quase me perdi,
em todas eu reagia,
me debatia,reclamava,
me conhecia, me reencontrava,
e estancava naquele degrau,
apoiada por minha teimosia
providencial.
E ali ficava, criando algo belo
e esperava...
até a tempestade passar.
Foi a arte que me resgatou
quando eu não podia te amar!
Foi o trabalho honrado,
foi o sorriso tantas vezes dado
junto com os meus meninos!
Foi o modo de não prostituir
minhas crenças, de não me sabotar!
                                                            
Então, até quando me senti                    
vazia e sem sentido,
não foi porque tivesse me perdido!
Pois ainda me vejo aqui,
e em mim, em tudo me reconheço.
Ah, mas você me roubou algum tempo
que me pertencia,
e muitas vezes calou a alegria e o canto,
no instante que já quase brotavam,em mim.
Mas, o dom de poder criar,
era a luz que me resgatava,
me elevava a outro patamar,
só hoje compreendo.
Eu ainda estava ali,
só não sabia!
O que me apavorava era
a ausência de luz do amor
que naquele momento,não podia sentir
por quem não olhava pra mim.
Mesmo assim, eu ainda era eu.
Começo a perceber que não me perdi...
O tempo? inexoravelmente passou,
e foi o teu rosto, que em algum canto
do meu coração se perdeu....

Fotos e Poesia : Vera Alvarenga

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

"Tudo é como uma lenta bola de neve..."

PARTE II _  de (A importância de nossos limites)...
      Seja por insegurança devido a uma infância difícil ou por não saber lidar com seus sentimentos, seja por medo de perder o amor do outro, ciúmes ou egoísmo em  diferentes graus, penso que aquele que sabe exercer poder sobre o outro, porque este depende dele emocional ou financeiramente, deveria ter consciência de sua responsabilidade. É preciso que seja honesto com seus sentimentos, pois se for pesado a ele esta dependência, deve deixar livre e dar condições a sua mulher, de recomeçar sua vida, enquanto é tempo. Deste modo seria livre, não manteria a situação de dependência, nem cobraria direitos sobre sua parceira.  Quem ama e quer o outro a seu lado, deveria querer contribuir para vê-lo também feliz!
     Falamos de um mundo mais justo! Desde que não precisemos pensar e ouvir os que se sentem prejudicados, e possamos fazer de conta que são sempre aqueles que gostam de se vitimizar  a si mesmos! Isto é tão falso e perigoso, quanto seria aquele vizinho conhecido que, vendo na rua a adolescente sozinha (poderia ser a filha de quem me lê!), a chama para pedir-lhe ajuda  com a intenção de abusar dela, e sabe que a sociedade poderá culpá-la por ter se deixado vitimizar! Ele pode achar que a ingenuidade está aí para que se tire vantagem dela. 
     Quando olhamos para uma mulher que na maturidade olha com olhos mais experientes seu passado para compreender o presente, e vê com indignação,que foi abusada em sua ingenuidade(seja pelo marido ou por seu superior hierárquico no trabalho), tendemos a não crer nisto. Com certeza, ela mesma se espantará, ao olhar-se ao espelho, contudo, devemos lembrar que isto se deu quando ela era mais jovem, e foi crescendo lenta como uma bola de neve que apenas rola pelo vento e que foi crescendo enquanto ela se sentia diminuir. Talvez ela não tivesse tempo para parar e analisar sua vida,em meio a tarefas das quais dependiam outras pessoas e crianças. Talvez, nem na maturidade ela saiba o que fazer para se proteger da excessiva confiança ou ainda pense que a vida deva ser vivida com coragem e peito aberto. 
     É claro que há diferentes graus deste abuso, e homens que não são assim maus, apenas vem de lar e infância instáveis, o que lhes acarretou este olhar desconfiado e um tanto agressivo para com o mundo. Nós todos estamos constantemente aprendendo a nos conhecer e a superar limites possíveis. O problema é quando o homem se habitua com uma resposta para a vida e continua a usá-la com sua parceira,mesmo quando não se faz  necessário porque esta mulher confia e se entrega ao que acredita ser o amor, e quando criança não teve  necessidade de criar para si mesma, as couraças que ele teve de criar para sobreviver. Nunca representou um perigo,nem é páreo para ele!
      Após o período em que o casal batalhou junto e venceu as dificuldades, se  ela  continuar sobrecarregada com tarefas a que se dispôs para enfrentar a crise e não puder contar com pequenos prazeres e apoio que o outro tem, ou com sua companhia para juntos buscarem estes prazeres, isto minará sua capacidade de reação, sua energia, enquanto ao mesmo tempo, o outro se recupera sozinho e se fortalece. Isto se agrava quando a mulher não se relaciona com outros adultos porque trabalha em casa, por exemplo. Então, sente-se cada vez mais desvalorizada. Continuará a esforçar-se por longo tempo, para continuar a vencer obstáculos e o próprio descontentamento, por não ter mais a companhia do outro, que se distancia, por ter se colocado num patamar “superior” ou à parte. Talvez um dia não mais acredite em seu próprio valor. É como uma bola de neve...Sua fragilidade aumenta, o que a faz retrair-se e mais tarde, quando tiver oportunidade, talvez sinta-se despreparada e tenha real medo de enfrentar o mundo por não se sentir capacitada para isto e, por ser responsável pelo bem dos filhos, quando os tiver ainda dependentes dela.
     Fatalmente a mulher sentirá que aquelas suas características essenciais antes desejadas na relação, agora marcam mais e mais sua vulnerabilidade. Muitas vezes não percebe que sentir-se  desencorajada, se deve não a uma fraqueza sua, mas a não ter tido as mesmas chances de recuperação e valorização que o outro teve e, muitas vezes, por não ter outros relacionamentos importantes. Acaba culpando-se e tenta agradar mais para recuperar seu lugar ao lado do outro. Luta pelo amor e igualdade que acredita, e não para acomodar-se na situação de dependente! Seu erro é acreditar que o erro... é apenas dela!
     Acaba se esquecendo do que gostava, ou quem sabe nem tenha tido tempo de descobrir, se casou-se muito jovem e esteve anos ocupada a dedicar seu tempo a causa comum - família! Sua auto-estima sofre porque não consegue elevar-se aos padrões que lhe são exigidos pelo outro ou por si mesma, não tem apoio para respeitar seus limites, e para complicar, sente grande culpa por não compreender como não consegue mais ser feliz ao lado daquele, a quem tanto e sempre amou.
     Quando recupera forças e consciência, através de algo externo que lhe faz ver sua situação real, ou a faz acreditar que mereceria mais do que recebe em nome do amor, reage, exige o direito à igualdade, pede o reconhecimento do outro. Se o outro a reconhece, aproveita a chance para juntos reconstruírem... os dois crescem e o relacionamento frutifica.
     Se, ao contrário, o outro não quer abandonar sua posição individualista, com desrespeito irá culpá-la por estar “cobrando receber por tudo que ela deveria ter dado por amor e desinteressadamente!”  Talvez ela tenha dado amor desinteressadamente, e se adaptado a realidade a cada passo da vida, de peito aberto com sinceridade e movida pela fé, até o dia em que o tempo lhe branqueou os cabelos e ela finalmente olhou para si e para o passado, e deixou-se vencer pelo cansaço. A grande decepção não se dá por “coisas” que tenha perdido, mas porque a atitude que ela perdoara e era para ser provisória ,tornou-se permanente. O que é permanente, sequestra a esperança! À decepção se junta o reconhecimento dos próprios limites...não é mais culpa dele, é ela mesma que não quer mais isto para si! Contudo, tudo aconteceu tão lentamente como uma bola de neve que vai rolando apenas pelo vento e gelando aos poucos. Nem sempre o momento de romper, e as condições se apresentam ao mesmo tempo! Ela pode desistir de parte de si, neste ponto, e nunca mais recuperará a si mesma. Antes ela primeiro se rebelou, depois tentou perdoar para então decepcionar-se consigo mesma pois viu que não era capaz de fazê-lo total e sinceramente, a menos que conseguisse se afastar do que a magoa, a menos que conseguisse ser feliz novamente... e então..... passa a sonhar!
       Neste ponto, esta mulher sabe que, ao contrário do que muitos falam, não é a “mulherzinha dona de casa” que se acomoda no papel cômodo de “boazinha”.Definitivamente nunca foi a que vivia num mundo encantado a sonhar com um príncipe! Não! Vivia dentro da  realidade, não tinha oportunidade de sair dela , ou de “enfeitar-se” (como as que trabalham fora) , mas encarava a realidade com heroísmo,bom humor e dignidade..
      Neste momento, esta mulher sabe de todas as suas falhas, e vê novas qualidades. Olha com carinho para a jovem mulher que foi um dia e sente pena . Perdoa-se e perdoa o outro, mas não totalmente, pois já sabe que não é perfeita. Reage. Deseja mais. Sabe que, se falar disto para alguém, algumas pessoas podem pensar que ela gosta de se fazer de vítima, porque está sentindo pena de si! Então ela vê sua ternura e compaixão como duas características que, sendo suas, terão que ser direcionadas para outra pessoa, usadas de outra forma, ou voltarão a ser consideradas, como uma fraqueza. E ela não quer suportar isto novamente, mas está cansada e nada busca a não ser a tranqüilidade. Quer viver em paz, sem precisar amputar-se do que é. No fundo de sua alma ainda sonhava ser feliz.
     E neste momento, quando já desiste e parece afundar na tristeza de chegar a este ponto do arco-íris sem o seu tesouro, exatamente quando a realidade de sua vida foi tanta que a fez cair, quando ela pensa que não voltará a viver em seu coração a verdade do sentimento que preenchia sua vida, quando ela se rendeu ao tempo que já tem tantos dias que não pode mais contar, quando ela finalmente desiste até de si mesma.... alguém pode aparecer em sua vida.... alquém que a trate como ela nem sonhava, que veja nela as possibilidades, alguém que precisa dela e a toca de diferentes modos... então, esta mulher pode apaixonar-se  com tanta sinceridade quanto era sincero o seu desejo de sentir amor novamente e poder confiar em alguém!  E, finalmente, como para não decepcionar o que agora parece uma profecia.... ela sorri e reconhece:
     - "Agora sim, talvez seja absurdamente verdadeiro! Finalmente, pela primeira vez, estou a sonhar com um príncipe, que só pode ser encantado....e que mesmo em sonho, me parece tão real. E sinto falta dele."
     Mais uma vez ela sorri.... e imagina estar ao lado dele,e só assim o sol derrete a neve... e ao lado dele testemunha seu sorriso quando a outros ele provoca para ver-lhes a reação, mas para ela não esconde o que sente... e se olham cúmplices, compreendendo o que é prioridade, afastando de si os gestos e palavras fáceis e vazias apenas para seduzir vaidades...e ambos tranquilamente seguem para reconstruir suas vidas, dívidas pagas, missão cumprida, perdões pedidos e concedidos... de mãos dadas seguiriam em busca de ver o que mais ninguém vê, em qualquer canto do Brasil ou do mundo, no quarto, no sofá comendo arroz doce, na praça bebendo cerveja alemã, sorririam benevolentes, de toda a realidade desta vida onde as pessoas ficam anos e anos se debatendo, porque ainda não aprenderam a reconhecer que é o amor aquilo de que mais precisam... não aprenderam a se amar e se comprometer com o amor verdadeiro, enquanto a vida lhes pertence e é possível construí-la a cada dia que ainda nos cabe viver.
     Mas, isto é apenas um sonho, que ela acalenta... só para não desistir ! 
      Foto e texto: Vera Alvarenga

domingo, 14 de novembro de 2010

" O poeta ,,,"

   Estava molhando as plantas do jardim, como fazia três vezes por semana. Um dos bons momentos de seu dia, quando abstraía-se da realidade e concretude de seu dia a dia, e tornava-se parte da natureza que a rodeava. Antigamente era seu hábito, ao se aproximar das flores, aproveitar para meditar,enviar luz em pensamento para as pessoas que amava ou pensava estarem precisando de energia. Ela acreditava nestas coisas.
  Ultimamente porém, não conseguia ser tão bondosa, pois seu coração estava lhe pregando peças - ali no jardim, ele parecia criar asas e a fazia voar...quando isto ocorria, ela sorria, e logo balançava a cabeça como a reconhecer e se perdoar porque estivera assim divagando.
   Naquela tarde, por segundos, chegou mesmo a sentir estar sendo abraçada por ele...era o abraço sonhado, maduro, que parecia poder conter o mundo e todas as promessas que ambos já tinham desejado um dia e não pensavam mais poder colher.
   Era o abraço que os faria saber que, dali em diante, não precisariam mais procurar, pois teriam finalmente se encontrado!
   Sorriu e suspirou fundo, mas desta vez constatou com alguma tristeza que seus pés estavam novamente na terra molhada...e terra é realidade. O ar, a brisa, já não levavam suas asas a lugar nenhum. Ouviu um cumprimento... uma voz calma que parecia vir de um sonho, como o dela:
- Boa tarde, moça. Como é belo o amor!
  Era aquele senhor que vira algumas vezes, a tomar sol ao entardecer. Estava alí na calçada do outro lado da rua.
- Ai, meu Deus! o que diz este homem? estaria lá há muito tempo? Será que ele me "pegou" sorrindo assim feito boba, do nada? Que vergonha. Não, ele tá velhinho, nem me vê direito, me chamou de "moça"! Eu, com meus quase sessenta...
   Ela, recompondo-se do susto, respondeu com um aceno. Tinha notado, já outro dia, aquele senhor de olhar bondoso, a olhar para ela como se quisesse adivinhar seus pensamentos. Qualquer dia, ia atravessar a rua e conversar com ele. Parecia tão solitário como ela se sentia, às vezes. Logo, uma mulher veio buscá-lo e lá se foi o velho, mais velho que ela, em sua cadeira de rodas.
- Até logo, moça!
- Ah...até ...senhor!
   Dois dias depois, no final da tarde, do outro lado daquela pacata ruazinha do interior onde morava há poucos meses, ela viu a ambulância sair. Uma das vizinhas, parada bem em frente ao seu portão, lhe disse:
- A senhora viu que pena? Tão lúcido ele era ainda! Esta doença é assim mesmo.
- O que houve?
- O poeta, dona. O poeta morreu!
   Então ela soube. Teve certeza de que, mais do que ninguém, ele realmente a tinha visto. Só mesmo um poeta poderia tê-la compreendido.

Texto e foto: Vera Alvarenga

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

" ..então serei a mais corajosa das mulheres"!

Comentei algo no post de uma amiga (Jackie), que falava sôbre a importância de reagirmos e não nos fazermos de vítimas de nós mesmas.Quis trazer este comentário aqui.
Quando eu disse que aprendi muito este ano, não quis dizer que aprendi a dar a volta por cima e me transformei numa mulher mais forte!..kkk......ainda não, embora esteja muito melhor, ainda estou inconformada comigo mesma! Eu vejo todo mundo dizer aqui que se julgava vítima,agora descobriu que não é por aí,reagiu,ficou forte, aprendeu.. Comigo foi o contrário, fui na contramão !- A vida inteira fui forte,nada era suficientemente pesado, tudo podia vencer, eu tinha tudo!! ( mesmo quando por pouco tempo, só coloquei na mesa arroz e vagem, ou um peixe espada comprado com a moeda que encontramos na praia).Eu nunca fui vítima, porque achava que vivia a vida como uma aventura, com todas as consequências intrínsecas! Eu era apaixonada! e apaixonada pela vida!
Eu tinha tudo(mesmo quando lutava pelo amor) enquanto tinha fé e amor no MEU coração! Eu amo meu amado com todo o meu sentimento, com toda a nossa história, com todo o meu carinho,não preciso perdoá-lo, POIS SOU GRATA A ELE, POR TANTAS COISAS, mas preciso reencontrar minha paixão( esta palavra não exprime bem o que eu gostaria de dizer, porque "paixão" é conceito desvalorizado e estou falando de FÉ pela vida, algo que nos sustenta interiormente)!
Quando, aos quase 59 anos, não encontrei mais no MEU coração aquilo que me sustentava, me fazia renascer no meu próprio jardim, então me assustei e comecei a me ver como vítima, de mim, do outro, do meu próprio modo de levar a vida. Mais ainda quando me apaixonei por um sonho! O chão me faltou, tudo começou a me parecer sem sentido, e eu me vi como sou - tola, fraca, tão acostumada ao amor que eu sentia, que não sei ser , sem ele. Cheguei a desejar voar para outro jardim, achando que esta era a atitude a tomar. E não adianta tapar o sol com a peneira.Foi isto que ocorreu quando me cansei de "amar e respeitar" o outro mais do que ele me amava! Então, decidi que era tempo de amar a mim mesma! Outra ilusão...serve para colocar os pingos nos "is" e distrair o tempo, mas não "sustenta" (não a mim!) 
O que aprendi foi isto, a gente é vítima, quando não sente amor pelo outro como antes! Uau!! Será que é mais importante então, amar do que ser amada??? Que surpresa!!Claro que eu quero ser amada sem tanto egoísmo, com atitudes coerentes com as palavras, pois se deixei de amar como antes, porque não o era! Mas, juro, preciso REAVIVAR A PAIXÃO, encontrar em mim a alegria de poder entregar o amor em total confiança, e portanto, amar com "paixão", a ponto do amor poder sustentar-se a si mesmo, talvez! Que contradição!  A vida é tão boa pra mim, quero partilhar isto!   
     Então, ainda me emociono quando penso que me apaixonei por um sonho( e o que será esta vida, senão uma ilusão?), mas não vou me entregar... estou aprendendo, não a encontrar a lutadora que sempre fui, NÃO! mas a reencontrar dentro de mim mesma o amor, aquele sentimento de amor especial (ilusão ou não), que me sustentava interiormente, e que eu oferecia ao outro, pois minha natureza se acostumou a isto, a ser feliz, e sou mimada a este respeito, quero sentir-me de fato feliz como eu era, eu me fazia feliz porque acredito na felicidade! É a minha verdade! Quando eu não precisar mais apenas sonhar, e reencontrar esta minha essencia que me capacitava para amar do modo que eu amava, totalmente confiante e entregue, eu nem precisarei buscar a mulher lutadora dentro de mim, porque novamente estarei em paz, e terei a alegria serena que me fazia ser a mais corajosa das mulheres, embora saiba que não precisarei mais lutar!
Texto e foto : Vera Alvarenga

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