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terça-feira, 5 de julho de 2011

A flor e a geada....

    Hoje estava tão frio lá dentro, que saí ao sol, fui ao jardim. Onde está o sol? E as flores, onde estão? É inverno, nem elas aguentam! Mas vejo uma ali. Me aproximo. Ela não é o que deveria ser. Serei eu a culpada, ou a natureza das coisas? A geada!
   Olho para ela e me distraio. Penso num rosto que não é o dela, e enquanto penso, eu a toco. Não tem cheiro. Quem?
   É a única do jardim? Parece que sim.
   Não. Não devo pensar que é a única, porque se for, talvez tudo se acabe, parece que não resiste ao frio, vejo em sua cor desbotada, que se apaga e sofre. Será que está morrendo? Pode ser que morra só sua intenção de ser a mais bela, e a planta continue e aprenda a ser mais resistente ao frio. Que pena, sem sua cor, perde parte de seu brilho.
   Melhor pensar que é uma flor, das muitas que virão. Esta flor me lembra amor. Às vezes nasce no lugar errado, na estação errada. Fui eu que plantei esta semente? Acho que sim. Fui descuidada, não li a bula. Apesar de que sementes não vem com bula, apesar de que esta se fez doente... Bem, mas eu podia ter lido as instruções. Por que instruções vem em letras tão miúdas que nunca leio? Talvez não devesse ter jogado estas sementes em terra tão fértil, a terra do meu jardim, sempre foi fértil para estas coisas! E agora? Ela morre de frio. Foi um sério erro. Talvez.Espere,se olhar bem, posso ver que mesmo sofrendo de frio, ela se vestiu de lindas cores. Não é igual a nenhuma outra. Não é apenas uma, como se fosse uma flor qualquer, não. Se tornou bela aos meus olhos. E se sou eu que a vejo, e só eu, então, é o que importa. Ou não?
   Olha só, que surpresa! ali estão mais botões. Da mesma planta, mas parecem cores diferentes. Não posso protegê-la do frio, porque está ao tempo, e é tarde para me arrepender. Só posso aquecê-la com meu olhar, esperar que não morra, que apesar do frio ela se tranforme e eu consiga captar com um clic, e guardar para sempre numa foto, toda beleza que ela tiver para me mostrar, mesmo depois que ela se vá,mesmo que não deixe sementes para que se possa perpetuar. O tempo logo me revelará ...

Texto e foto: Vera Alvarenga.

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