terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Minha idade...



Deparei-me, como tu, nesta condição - minha idade também não é agora!
Minha idade é a do espanto e medo diante de um mundo tão grande que estava além dos portões da segurança de minha casa e eu entrava nele sozinha, aos poucos, levando uma lancheira que era uma malinha de couro, quase 1/3 do meu tamanho. Lembro-me das perguntas sem resposta, dos silêncios em oposição à minha mente curiosa mas que se acalmava porém, pois ao futuro cabia encontrar as respostas, e naquele presente me cabia apenas sentir-me livre para imaginar. Esta curiosidade, carrego ainda comigo.
  Minha memória me leva pelas águas de um rio calmo ao tempo em que finalmente conheci o amor e este me levou ao oceano e a mares distantes, a enfrentar tempestades e calmarias conforme a maré, e percebi que jamais teria de imaginar coisas porque meu mundo e minha vida estavam ali, vibrantes, e minha determinação era a de viver a vida como ela se apresentasse. E amando, o medo do mundo foi embora.      Mas minha idade está também naqueles dias em que o medo voltou, ainda que não temesse por mim mas por eles, os filhos,que me ensinaram a ser mais corajosa, pois que o amor por eles forjava em mim o desejo de cuidar e proteger. E quando cresceram, recebi de cada um palavras que não esperava, mas me caíram como um abraço de veludo.
  Minha idade ficou naqueles dias em que, já quase velha, pude ser por muito pouco tempo a cuidadora de minha mãe e desejei a vivência de um amor à toda prova. E pude sentir, até mais que compreender, aquela que foi a mãe. A idade que tenho agora foi marcada também nas vezes que pensei que ia perder para sempre o amor da minha vida, e quando me perdi de mim mesma. Sim, minha idade me faz viajar pelos momentos em que tive medo, porque jamais existi sem ele, e a cada vez tinha de superá-lo.
  Há um momento de minha vida, oportunidade que me foi oferecida, que me chegou como um presente de Deus. E eu o aceitei e o abri docemente e grata - era um outro tipo de amor - foi quando pude sentir as mãozinhas de pequeninas crianças amadas, os netos,em meu rosto e, através de seu sorriso viajar no tempo, e mergulhar num sentimento de ternura que nunca tinha sido jamais esquecido. Minha idade traz este sorriso indelevelmente marcado na minha alma. Junto com ele a experiência de amar outra mulher, e depois outras, e através deste amor, resgatar o amor por mim.
   E quando eu já estava ficando velha de fato, como mostram as marcas de minha idade, e pensava que não era mais capaz de sentir o amor pela vida, esta me levou por caminhos onde me julguei perdida. E, porque o amor renasceu em meu coração da forma mais inesperada, e o medo e o desejo me queimaram igualmente por dentro, como se fossem vida ainda vivendo em mim, como brilho de sol que entra pela floresta e deixa ver um pedacinho de uma fonte de água límpida, apenas para lembrar-me que ainda estou viva...naquele momento, bem ali, está a minha idade. E até mesmo quando percebi que a fonte era uma ilusão que imaginei e o barulho da água não lavou minha alma, é lá que minha idade ficou.
  Não sou a mulher de agora, nem sou apenas minha idade em meu rosto.
  Minha idade está no assombramento perpétuo diante da vida, no medo que era receio mas não me congelou, e nos momentos mais fortes em que eu pude, nitidamente conhecer o amor... ou sonhar com ele.

Texto:Vera Alvarenga
música do youtube - Enya-"A day without rain" 

4 comentários:

  1. Nossa Vera!! Pousou forte a sua escrita, o sentimento transbordando para todos os lados. A essência da vida em tudo o que disse.
    Eu queria estar ai pra te dar um longo abraço. Destes que a gente não fala nada, apenas compactua.
    Beijos!

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    1. Valéria, me inspirei num trecho de poesia que li e comecei a escrever como quem fala com o poeta dizendo assim...- Pois a minha idade...e assim foi. Creio que muitos de nós nos reconhecemos em algum trechinho ou pelo menos nos lembramos que, nas marcas de nossa idade há um pouco de tudo do mais importante que vivemos, não é? Beijos... e recebi seu abraço... até estalou os ossos colocando coluna no lugar...rs...

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  2. Vera, vc tão linda e jovem ainda, so fala de sua idade. Vc nao é uma mulher na idade madura, mas sim uma jovem mulher com uma cabeça brilhante, sabe escrever e sentir as coisas mais simples da vida, como o carinho de seus filhos e depois de seus netos, o que vc merece e muito. Beijos.........liza

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    1. Liza, como contei pra Valéria, me inspirei num trecho de poesia que li nem me lembro onde e fiquei com aquela conversa mental ali com o poeta...rs... Gosto de escrever dos sentimentos humanos, das emoções. Tenho certeza que nossa idade não é feita só do presente, mas como a sua também, cada ruga (mesmo que sejam poucas) traz consigo lembranças de uma linda história que nos emocionou, que nos marcou, não é? Beijos querida Liza e muitos momentos de alegria pra você!

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