segunda-feira, 10 de maio de 2010

- " Como aprendi a me "prostituir"...e o fiz com gosto!


(contin. de -"Como o artesanato em Cerâmica entrou em minha Vida" )

Foi assim que, numa feira de artesanato que participei, uma pintora de um quadro que eu admirava,após conversarmos por 5 minutos, me chamou de lado e me deu um papel, com a Oração do Artista. Foi a resposta que eu procurava! Me enchi da certeza de que, fazer "coisas bonitas" com amor, colocar "boas energias" em meu artesanato, iria proporcionar aos meus clientes, o contato com o belo. E, há muito tempo eu sabia, que um ambiente organizado e bonito pode ajudar o ser humano a se sentir melhor. Pode lembrá-lo que é sua alma que também contém o belo, que o admira e o deseja também fora e perto de si. O belo em nós, reconhece e deseja aproximar-se de seu igual, que há no outro ou nos objetos. " O divino em nós respeita o divino que há no outro!"   Assim, convidei meu marido para fazermos do artesanato em cerâmica,nosso único "modo de sobreviver a crise".Eu sabia como fazer barro e idéia transformarem-se em um artesanato bonito e especial, e ele,com seu espírito empresarial, sabia como vender e transformar isto em dinheiro. Para minha alma de artista, era como aprisionar as asas da liberdade,em uma gaiola! Contudo, o dinheiro andava muito curto.
   Nossa "fábrica" artesanal caseira, como a chamei no início, quando não sabia o quanto seria importante, exigiu de mim aprender com meu marido, a disciplina, a concretude das necessidades do corpo, mais do que do espírito. Alimentar o corpo é fundamental e, de certo modo, heróico! Aprendi a ser mais humilde, a compreender,mais que nunca, aquela tola discussão sôbre a tão falada "prostituição da arte". isto era frescura. Eu aprendi, desde que fiz um curso de escultura com o renomado artista Calabrone, que grandes artistas tiveram sempre que fazer "múltiplos" ou grandes tiragens de algumas de suas obras, para poder sobreviver...que diria eu, uma ilustre desconhecida,que da arte nada sabia, a não ser a prática das pesquisas, que minha curiosidade me levavam a empreender!
   Fiquei indignada quando um cliente,proprietário de loja importante do Shopping Beira Mar, sugeriu-me fazer a ponte de Florianópolis em cinzeirinhos, e ainda escrever o nome da cidade! Sem dizer a ele, para não parecer presunçosa, presunçosamente pensei :
   - " Sou artista, gosto de criar peças diferentes, não sou uma fábrica ! ainda mais de cinzeirinhos ?!"
   Foi então, que aprendi a me "prostituir" !! E o fiz com gosto!
   Claro, de um modo que me fazia sentir recompensada..como eu sempre brincava : se eu tivesse que me prostituir, teria que ser com classe e com prazer!
   Fiz uma encomenda de muitas que vieram por anos e, aos poucos, fui introduzindo pratinhos e quadrinhos no lugar dos cinzeiros. Me tornei uma artesã. E foi assim que aprendi a respeitar o artesão, o que trabalha com sua criatividade, muito suor e amor, e busca aprimorar-se em seu trabalho!
   Este é o profissional que não tem falsa modéstia, porque acima de tudo, ele trabalha primeiro para contentar a seus próprios padrões de exigência, sabe o quanto isto lhe custa e no final, ao olhar seu trabalho, só o entrega ao cliente se puder orgulhar-se dele, não por ser perfeito, mas por saber que neste trabalho, está o melhor de si. Este é o tipo de artesã que sou.

(por favor, continue parte III )
texto: Vera Alvarenga
foto: Vera Alvarenga

6 comentários:

  1. Olá querida amiga Vera,

    Que história de vida significativa e grandiosa teve, minha querida!
    O importante de tudo que li é que seu marido e você se mantiveram unidos, trabalhando com amor e sem desanimar. Nos dá uma lição de coragem, de pereverança, de comunhão e cumplicidade. Que exemplo lindo. Uma "prostituição" calcada no amor, no prazer e com muito bom gosto. AS peças mostradas são magníficas.
    Adorei. Aguardarei ansiosa a continuação.

    Beijo no coração.
    Carinhoso e fraterno abraço,
    Lilian

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  2. Lilian!
    Obrigada por suas palavras.Sou uma artesã e acho que todos nós somos "artistas" às vezes, quando precisamos desempenhar diferentes papéis,mas não perdemos a essência do que nos mantém com fé em nossos ideais.
    Beijo,Vera.

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  3. Vera , mas és uma prostituta...fina e dentro de casa que só trabalhas com as mãos , hihih desculpa a brincadeira, ki s:)

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  4. Olá Avogi!
    você sabe que gosto de seu bom humor! e não é mesmo,que muitas mulheres ( também nós??) sonhavam em ser uma prostituta de fino trato? rsrs...
    Beijo,Vera.

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  5. Olá minha querida Vera!
    Coloquei teu texto em "ler depois" e só agora aportei aqui.

    No inicio diz que só faria artesanato com amor e "boas energias". Contudo, a necessidade a fez partir para o que seria mais lucrativo. Por isso o título.
    Mas quanta coisa aprendeu com a situação.
    Muitos desaforos que passei na vida, adviram da necessidade de sobreviver, e agradeço por tudo. Pois o aprendizado e a bagagem que acumulei, o conforto jamais me proporcionaria.
    Nos prostituímos com muito orgulho, pois fizemos o melhor. Nos vendemos pela carência e depois pela paixão.
    Magnífico texto!!!

    Um forte abraço!

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  6. Vera se eu um dia tiver de ser prostituta hei-de ser uma fina com muita riqueza. nada de pobreza. kis :):)

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