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quarta-feira, 26 de março de 2014

Ah! a minha nuvem negra...

Foto
No Face hoje alguém colocou esta imagem e eu logo pensei:
Quem acumula inveja,preconceito ou raiva também...olha só a tal nuvenzinha que eu contava para os meus meninos que a gente atraía quando ficava nutrindo pensamentos ruins ou julgando os outros...olha só...kkk.
 Lá em casa a gente era tranquilo mas tinha de ter bom humor com a própria vida e deixar a vida dos outros em paz...é sim...ainda creio nisso..rs...
    Tanto tempo passou e esta nuvenzinha ainda existe! Olha só! e pode ser a escolha consciente ou não de cada um. Que raios ou trovões venham junto com uma nuvem de raiva que a gente não queria ter ou não sabia que estava lá porque tentava esconder da gente mesmo, ou simplesmente porque não tem afinidade com este sentimento, vá lá. A gente às vezes demora quase uma vida inteira para entrar em contato com esta emoção, e na verdade não é apenas ou unicamente por "negação" como diriam os psicólogos de plantão, mas porque realmente não tem muito a ver com tal emoção e não quis ficar ali dando brilho, curtindo e polindo, fazendo frutificar ou se espalhar feito bolor. Algumas pessoas são um tanto desligadas de certos detalhes e, a raiva requer uma especial atenção a eles, uma vontade forte para julgar e firmeza para chegar a um veredito. Além de memória, é claro! Daquele tipo de memória "que não esquece"! Eu certamente sou muito desligada de algumas coisas e raiva nunca foi uma emoção motivadora ou objeto de importância que me desse o trabalho de trancafiar lá no sótão.
   Que sapos e lagartos saiam de nossa boca de vez em quando, ou do sótão quando fazemos uma limpeza por lá, tudo bem. Porque em todas as casas há um sótão, ou porão. Eu prefiro sotão, dá uma sensação de estar a um nível mais acima da umidade excessiva do porão, mas de qualquer modo, um deles está lá em nossa casa. É onde guardamos as antiguidades, relíquias e os "escondidos". As fotografias, os porta retratos vazios ou com fotos amareladas, quando não rasgadas pela metade, como se pudéssemos tirar de nossas vidas a lembrança de alguém, só porque rasgamos a foto. Aliás, este tipo de foto, na verdade, nem as tenho! Contudo, já presenciei pessoas que tentavam matar pessoas, rasgando fotos. É uma dor muito grande que as consome.
   Inveja...ah! a inveja... quantas vezes desejei algo que não tinha e por isto senti minha felicidade abalada?
   Pelo que me lembre, só depois de velha isto me aconteceu. E não foi nunca por inveja de alguém que tivesse o que eu não tinha, mas unicamente quando desejei ter o que havia nos meus próprios sonhos. E um sonho tardio pode ser tão inoportuno quanto inesperado, mas ao mesmo tempo pode ser o que nos salva da nossa nuvem particular de mágoa e tristeza, que poderia sugar nossa energia como a parasita suga a seiva de uma árvore madura até secá-la de vez. A menos que possa considerar que invejo meus próprios sonhos, não sofro da inveja.     Contudo a raiva, aquela que não guardava no sótão mas chegou como uma nuvem trazida pelo vento que varreu o pó e deixou as superfícies mais reconhecíveis, a raiva que caiu feito tempestade e lavou a alma que não compreendia mais nada e pensava estar perdendo o laço que a ligava à razão, a raiva que nos faz agir e tirar o que amamos do caminho do tornado e nos colocar em lugar mais seguro, esta sim eu senti. Como se sente a chuva... E depois a nuvem se desfez... penso que quase totalmente.
   Assim, resta-me lidar com aquela nuvenzinha que teima em vir de vez em quando para cima de minha cabeça e quer tirar minha atenção das coisas que amo. Uma nuvenzinha acinzentada e sombria com a qual eu até já me acostumei a conviver, já conheço seus sinais e sei para ela um bom antídoto. Ela se enfraquece toda vez que consigo obter, de meu sonho, um tequinho de realidade, toda vez que meu sonho me toca se transmutando em um gesto real, toda vez que me lembro que foi através de um sonho, mesmo tardio, que eu vi que minha nuvenzinha de mágoa tem de ser colocada no seu lugar, e lá é infinitamente menor que eu, menor que minha capacidade de amar e que, portanto jamais irá me engolir.... se eu não permitir. 
Foto retirada do Facebook
texto: Vera Alvarenga

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

- "Reflexões sôbre um olhar ao espelho"...


  Cada um de nós, em criança, desenvolveu seu caráter e respostas à vida, de acordo com o ambiente e circunstâncias;a forma como absorvemos nossas experiências, depende do que temos como características específicas e mais essenciais.
     Não fui criança mimada, mas era feliz. Tenho como forte característica a sensibilidade e talvez tenha aprendido, por diferentes motivos que, ter uma pessoa para amar (o meu homem/companheiro) e merecer o seu amor, era o que dava significado à minha existência. Filhas de pais separados, podem aprender com o exemplo da mãe, diferentes valores, dependendo de sua sensibilidade. Para uma, talvez fique clara a idéia de que, para ser feliz e sobreviver, a mulher precisa ser independente e de certa forma, desapegada. Para outra, que viu a infelicidade e amargura permeando tudo o que a mãe tentava fazer, embora com seu nobre esforço de afirmar-se como independente e auto suficiente, talvez somado às características específicas da qual falei, a independência não conseguiu convencer como característica a trazer felicidade. Aprendi, não com palavras ou com o esforço, mas com o que vi, que sem amor, nada importa.
     Não me importa mais, a esta altura, julgar ou saber todos os por quês, para que eu possa me transformar em uma nova pessoa; mesmo sem isto, tenho me transformado(como minha escultura Fênix), e às vezes, apesar de minha veia dramática achar que morro, me reencontro no dia seguinte, ainda ali.
     Eu tentava fazer desta frase, a minha crença particular:
- “Não importa o que pensem, sei o que sou( como sou forte e resistente) e nada abala minha capacidade de amar a vida e as pessoas às quais sou ligada.”
     Eu e minha irmã,diferentes em tantas coisas, percebemos recentemente,que temos algo em comum : ambas estamos cansadas de tanto produzir! Como se não tivéssemos valia, se não produzirmos algo de valor ( ela, em suas atividades fora de casa,eu, no meu trabalho em casa,e na casa, no computador ou nas artes), mas não só neste campo, e sim, também no que dizia respeito às pessoas ou familiares – estávamos sempre tentando agradar outros, e nos sobrecarregando,muitas vezes, dificilmente pedindo ajuda para nós mesmas.Moramos em cidades distantes, cada uma com sua vida, ambas “mulheres de fibra!” ( como dizia nossa avó, e que nos foi dada como exemplo), e como tantas, acostumadas a “se virar por si”. Ela, menos sozinha que eu, porque trabalha “fora”,fez amigos e os conserva, além de que, recebeu mais elogios por ter escolhido uma profissão, ao invés, de como eu, ter abandonado a sua. Contudo, como muitas pessoas, na nossa faixa de idade, nos sentimos cansadas e sem saber como diminuir a produção por algum tempo, sem nos sentirmos desvalorizadas. Até financeiramente, isto é impossível, mas é no campo pessoal que “pega mais”.
     Voltando a falar de mim, “fazer por merecer” um amor, achar que a gente tem sempre que se superar, ser o melhor, é um desafio interessante, mas, se for constante, consome muita energia, embora nos faça feliz por algum tempo ( e aos que estão ao nosso redor,claro, pois tem o melhor que a gente pode e fica feliz em dar).
     Mas, um belo dia você descobre que está totalmente sem energia, principalmente se não conseguiu se recarregar porque seu/sua  companheiro/a  de vida, esqueceu por um bom tempo, de retribuir ( o que proporcionaria certo equilíbrio).
     Então, acostumada que estava a “fazer por merecer”, mas cansada e sem forças para esta ação, você olha para si mesma e se desespera pensando:
     - “Meu Deus, não sou nada!” Mas, o que a gente sente, de verdade, é : “ Não mereço amor!”
     E a gente se encolhe, e por medo se afasta de quem talvez ainda pudesse nos amar, porque esta crença parece maior do que tudo, e a gente está perdida, porque não encontra mais dentro de si, aquilo tudo que nos apoiava....Acredito que isto pode acontecer com homens também.
     Quando a gente se olha assim, não vê nenhuma imagem refletida no espelho, porque a gente se perdeu de si mesma/o! 
     É preciso urgentemente parar! Não podemos arrastar este sentimento, que nos leva à depressão! É imprescindível nos dar um tempo para reencontrar nossa imagem.... para podermos resgatá-la, olhando-a com amor.
texto: Vera Alvarenga
foto: Espelho Mosaico de Vera Alvarenga
     

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