terça-feira, 17 de dezembro de 2013

E eu o convido para dançar...

 Há momentos em que meus pés sentem vontade de dançar...
E dançar é sentir-se leve, deixar-se levar...
Como eu gostava de dançar! Mais tivesse dançado!...e rindo alto o tivesse feito até com meus meninos naquele tempo, porque as horas, dias e anos riscam a noite como um cometa que depressa esconde seu brilho. Quando abrimos os olhos para ver, já se foi! E naquele tempo não sabia disto e mal tinha tempo de ver estrelas.
A responsabilidade que eu necessitava ter, terá sido  talvez maior do que a própria necessidade? Não sei. Tudo parecia cercado de urgência e de uma responsabilidade que tinha caráter intransferível.  Contudo, era eu mesma que me prendia nela com a nobreza de cuidadosos gestos que me eram peculiares e com a seriedade com que caminhava em direção a realização de uma meta. 
 Hoje, já não posso dançar como antes, e mesmo seria esquisito se o fizesse. E por saber que não posso, já nem quero. Mas a alma não está velha e quando meus pés ficam assim, inquietos, lanço mão de um truque quase  infalível, secreto  e decididamente apropriado – primeiro, não olho para os grandes espelhos – mostrariam o peso de responsabilidade dos meus anos, e os anos no peso do meu corpo. E depois, enquanto dura esta comichão nos pés e na alma, e mesmo que depois isto me traga uma certa nostalgia por ver que foi tudo apenas invenção minha, decido me permitir sair pela porta aberta daquela gaiola em que nos colocamos vez ou outra, todos nós, e danço e rodopio como se o tempo não tivesse passado além do tempo de minha ingênua, sincera e genuína alegria.
E quando me sinto encorajada para o que me parece uma maior ousadia, lembro que se fosse considerada ousadia pelo convidado, já não teria valor o convite... então, acreditando que sua alma deseja tanto quanto a minha, e sonha levezas como todos nós, convido-o para dançar. Feche os olhos. Venha...
E com os olhos do coração, vejo nossos passos se harmonizarem nesta dança perfeita. Não porque, de fato, haja perfeição nela mas porque sorrimos e vivemos,  nem que seja por minutos, um momento eterno... nem que seja para marejar os olhos da alma que se vê limitada por toda a concretude desta vida que habita no que é chamado realidade. E depois, minha alma serena e se tranquiliza, porém nostálgica, porque conhece o segredo daquilo que ao nos tocar é mais real do que a mais real de nossas realidades, algo que é capaz de reequilibrar e devolver o brilho das estrelas no céu...

Foto retirada do Google
Texto: Vera Alvarenga

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