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quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Exposição 3 Grandes Mestres e mais um...

Há alguns meses, a convite de uma amiga caríssima, Kátia, fui a "Exposição Grandes Mestres"- no Espaço Cultural Porto Seguro, em São Paulo.

Lá pude admirar algumas obras dos 3 Grandes Mestres Michelangelo, Leonardo da Vinci e Rafael.

Ao sair do Museu tive uma surpresa : encontrei
o 4º Mestre ali mesmo, do lado de fora !

Suas obras :

























O Instinto de Sobrevivência foi o 4º mestre que inesperadamente encontrei.
Bem ali, do lado de fora do espaço da exposição, no alto de um prédio de poucos andares, lá estava, silenciosa, a sua Obra!
Também maravilhosa e digna de meu respeito e admiração. Nesta obra estava representado, sem dúvida, muito do que os 3 Grandes Mestres haviam vivido enquanto criavam e concretizavam suas idealizações: perseverança,coragem, anos de trabalho dedicado, sofrimento, esforço, dignidade, e alguma satisfação.
Aos meus olhos surpresos, sem holofotes, a céu aberto e silenciosamente, o Mestre Instinto de Sobrevivência mostrou-me uma de suas Artes.

Quem pode dizer que em certas condições, sobreviver não seja uma Arte admirável ?
crônica fotográfica:Vera Alvarenga

terça-feira, 30 de junho de 2015

Escultor, escultura....

O inverno havia chegado.
Ela não gostava do frio. Pressentiu que o dia estava claro lá fora e que logo seria hora de levantar-se, mas sentiu-se quentinha ali, no meio das cobertas. E ficou quieta como em meditação ou adorada preguiça. Estar aposentada tinha suas vantagens, podia levantar-se mais tarde. Bem mais tarde. Não havia horário rígido para nada.
No inicio da noite não conseguira dormir tão rapidamente como gostaria. Seu pensamento estava em outro lugar e a tinha levado, em sonho, para longe dali. O frio, então, parecera maior pela madrugada. Pegou a mão do marido e suavemente colocou-a sobre o peito. Eles ainda tinham este hábito de abraçarem-se, de vez em quando, mesmo durante a noite. Bastava um pegar o braço do outro e virar-se. Aconchegavam-se por momentos, sem nem precisarem acordar.
 Era um hábito. Como um agrado caso a vida tivesse sido difícil no dia anterior ou uma concessão, se algo entre eles tivesse deixado um gosto amargo na boca. Não importando como tinha sido o dia anterior, ela sempre acreditara que juntarem os pés sob as cobertas ou aconchegarem-se mesmo sem nada dizer, era como perdoarem-se por não serem perfeitos, e por serem tão diferentes. Era um jeito de criar um futuro melhor -  para ela, cada dia deveria começar zerado, como uma folha de papel em branco onde o sol refletiria assim que ela abrisse a janela, e o abraçasse e se cumprimentassem com um bom dia.
E aquele abraço durante a noite era algo bom, era como o escultor que volta àquela mesma escultura que ainda não conseguiu terminar pela manhã e a descobre, e continua seu trabalho com as mesmas mãos, mas toca a argila como se fosse a primeira vez.
Ela podia fazer esta analogia porque era escultora. E além disto, trabalhara muitos anos com o toque - tocar o outro de algumas formas podia dar sentido, esperança, alento, vida, energia ou todo o seu contrário.
Este abraço funcionara por anos, como um acordo mútuo, como se um cuidasse de dizer ao outro:
- Estou aqui. Dorme. Fica bem.
Sim, havia muitas vantagens em se ter um relacionamento assim tão longo, coisas boas podiam acontecer como que por encanto...ou, na verdade, automaticamente por hábito. Por um hábito cuidadosa e intencionalmente mantido. Quem disse que disciplina e bons hábitos não fazem bem?
Virou-se, e como era costume antigo nas manhãs de domingo, mas já andava a esquecer de colocar em prática ultimamente, colocou a mão no peito dele e ele imediatamente abriu o braço para que ela deitasse em seu ombro. E ficaram assim, quietos, por mais algum tempo antes de começar um novo dia.
Aquele homem era o seu passado e seu presente. O relacionamento, uma escultura. O toque era um ato de fé. A fé e o amor são coisas que devem ser exercitados com disciplina, como pudermos, com quem pudermos, quantas vezes nos for possível, ou ficaremos como aquela argila ressecada, aquela escultura com rachaduras porque o escultor esqueceu de cobri-la de noite, e descobri-la no dia seguinte, e olhá-la com fé e tocá-la mais uma vez, quase como pela primeira vez.
As vezes somos como o escultor, outras como escultura. E algumas vezes, alguns de nós tem a sorte de experimentar os dois papéis.

foto e texto: vera alvarenga




terça-feira, 16 de julho de 2013

A visão de um artista...

 
  Eu também sonhei que tive uma visão. Ela me olhou de frente, olhos nos olhos, e me deu a mão.
Então me tomou em seus braços e me senti pequena, confortável e segura. Depois transformou-se numa ave com asas quebradas. Em seguida chorou, e fui eu que a abracei. E ela se tornou pequena, confortável e segura. Cuidamos uma da outra até que ela cresceu, e cresceu, frente a meu olhar. E eu a vi transformar-se numa ave formosa que voou, lá para o horizonte onde um arco-íris meio apagado tentava brilhar. Quando ela pousou nele, suas cores ficaram fortes e reais.
  Ainda tenho a visão desta ave quando me sinto triste ou ameaçada no que sou. É apenas uma visão, mas posso vê-la quando preciso me sentir bela e viva como as cores do arco-íris. E lembro de abraçá-la quando temo que tenha se machucado. Lembro-me dela também nos momentos em que estou muito feliz.
  Voltei a rir de mim mesma por me encontrar assim, num episódio melodramático, em que tristeza e beleza coexistem, como antes na literatura romântica.
    Embora sinta uma tristeza imensa por saber que não passa de uma visão, e me pergunte por que eu tive aquele sonho, reconheço que o mundo ficou melhor depois disto.
   Não, com certeza para alguns, não é proibido sonhar...
Texto e foto: Vera Alvarenga
Inspiração... a vida e Manoel de Barros.

"Aprendi que o artista não vê apenas. Ele tem visões. A visão vem acompanhada de loucuras, de coisinhas à toa, de fantasias, de peraltagens. Eu vejo pouco. Uso mais ter visões. Nas visões vêm as imagens, todas as transfigurações. O poeta humaniza as coisas, o tempo, o vento. As coisas, como estão no mundo, de tanto vê-las nos dão tédio. Temos que arrumar novos comportamentos para as coisas. E a visão nos socorre desse mesmal."
 - Manoel de Barros




quinta-feira, 29 de março de 2012

Esculturando... o momento mágico de transformar.

 Ao ouvir o escultor naquele vídeo, mostrando com alegria suas obras belíssimas de entalhe na madeira, me emocionei com ele e pude sentir a mesma alegria que ele sentia...sei como é. Fui ao velho baú das fotos, lembrar...

A alegria de criar com as mãos, transformar um material numa idéia...me fez lembrar do tempo que eu pesquisava e trabalhava com máscaras e diferentes materiais e depois, como escultora no barro. O Expedito trabalha com Madeira, retirando material ao esculpir - mais difícil do que o barro, que a gente pode colocar, mas escolhi a argila por sua plasticidade, flexibilidade, e pela sensação ao tocar. Se amolda nas nossas mãos e as minhas gostam do toque.
Criar... quando a gente tem um projeto, é até difícil dormir à noite! E ao entrar em contato com o ato em si, é mesmo algo indescritível, como uma necessidade, que a gente sabe que tem de fazer e tá acabado. E a gente penetra nele e é penetrada, modela e é modelada pelo ato de criar, até o momento mágico que se abstrai de tudo em volta e entra na obra, e se torna uma coisa só!! 
Depois, vem a alegria de ver o que foi criado ir pelas mãos de outra pessoa para longe, levando o teu nome, talvez o nome da cidade, e mais, a idéia do belo a lembrar que ele existe, que as coisas podem ser transformadas por nós, por opção, e ainda, no meu caso(com certeza no dele, também) e não menos importante, eu sabia que na obra ia uma energia boa que eu queria compartilhar com as pessoas, mesmo que não soubessem, mesmo que meu nome se apagasse. ( eu rezava pra que as minhas coisas criadas ali, levassem boas energias para os lares, ambientes,etc..). 
Percebi agora escrevendo isto que, sem dúvida, a força da gente está em fazer estas coisas nas quais a gente sente que põe junto, a alma! Tirem as ferramentas das mãos deste homem, digam a ele que terá de passar a pagar caro pela madeira, tirem-lhe o espaço, digam-lhe que não adianta mais criar porque ele não terá mais para quem vender, digam-lhe que o mundo moderno desvaloriza seu trabalho, que a indústria substituiu o artesão e este homem se sentirá meio perdido, sem eira nem beira! 
Mas é verdade que a gente não pode criar o mesmo, indefinidamente. O que seria do mundo se fosse só criação? Então, se a vida parar a gente, ou aquele homem, ele sentirá um desassossego até reencontrar de que outro modo poderá criar e colocar aquela sua energia carregada de alma, amor e emoção. Se demorar,  se perguntará talvez, se a sua arte é supérflua, e se perguntará qual o sentido de sua vida. Claro que, para sobreviver, ele poderá usar sua criatividade até para trabalhar numa fábrica… Contudo, enquanto ele estiver criando com mais liberdade, no material com o qual sua arte flui , ele mesmo entrará em sua obra por amor, não apenas vaidade, e porque é isto que acredita ser o que deve fazer. 
Na vida temos de ser artistas também, neste sentido, seja lá o que tivermos de fazer. Ou quando chega o tempo de descansar, dar um tempo, ou ver o oposto de criar. Afinal, o mundo é feito de movimentos opostos e deles depende a própria criação! 
Sua matéria maravilhosa, minha amiga Valéria, me levou a recordar e valorizar cada gesto criativo que fazemos em nossa vida, qualquer um de nós! Legal. Obrigada!
Aqui o link do vídeo da Valéria: http://www.amoresnovelhochico.com.br/2012/02/28/1131/
Texto e fotos: Vera Alvarenga
E para completar perfeitamente... queria aqui colocar a música de Gonzaguinha
GUERREIRO MENINO...


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Colcha de Retalhos - a arte imita a vida...

Ah..acho que foi em 1992  na Casa da Cultura de Paraty, numa exposição minha onde Máscaras eram o elemento principal, fiz um quadro que chamei de "Colcha de Retalhos" e com ele aconteceu algo interessante.
Evidentemente ele tem uma história... numa de minhas constantes viagens a Paraty, eu levava minha máquina de fotografia e ia por todos os caminhos, inclusive na mata, com olhos de procurar, sentindo-me atraída por cores,relevos, texturas e pelo Belo, principalmente o belo que aparece onde menos se espera, e mesmo no caos. Sempre fui uma pessoa intuitiva, gosto disto - encontrar o belo é uma solução intuitiva para a sobrevivência.
Uma noite, andando com minha sogra e marido, entramos no Asilo dos Idosos, (hoje diriam Casa dos Idosos). Ela, que viveu em Paraty, disse que gostaria de ir para lá quando estivesse bem velhinha, pois encontraria certamente conhecidos. Isto me surpreendeu, me impressionou. Então, já entrei impressionada, num lugar onde teria de encarar algo não muito fácil - a realidade de que a velhice chega para todos. Ela caminhava e conversava com algumas senhoras, mostrando-se à vontade com a crua realidade. Eu, fazendo de conta que estava bem, me senti uma idiota porque não sabia o que dizer a nenhuma delas. Aliás, quando algo me emociona muito ou mexe comigo, geralmente não sei mesmo o que dizer, pois falar é algo bem racional e eu sou muito menos racional, eu acho. De repente me sentei ao lado de uma senhorinha que estava calada e não parecia ter nenhuma expectativa em relação a alguém conversar com ela. Me senti mais à vontade e fiquei olhando a colcha de retalhos que ela fazia. Quando vi, estávamos conversando. A colcha era linda!
   Foi logo depois, que fiz este quadro. Pelo menos nele, eu tinha o que dizer,sem precisar falar..rs... Geralmente, expresso melhor meus sentimentos através do corpo ou das mãos, de um carinho, um abraço, fazendo arte ou artesanato. Nunca tinha visto alguém fazer um mosaico de fotos cortadas, mas era a minha colcha de retalhos, em homenagem e respeito àquelas senhorinhas lá do asilo. Retalhos da cidade onde tinham vivido a vida toda. Sobre ele coloquei vidro e uma máscara também recortada de cerâmica que fiz do meu próprio rosto. A moldura era antiga, cor sóbria, lembrando o asilo. Bem, estas coisas da criatividade não se explica muito, mas foi o que tive de fazer para uma senhora que veio com a amiga na exposição e fez uma dura crítica ao quadro. Disse que entendia de arte e jamais aquela moldura deveria estar ali,numa obra tão contemporânea,etc,etc. Eu, nunca estudei arte, a não ser escultura,mesmo assim,em cursos práticos,com Calabrone e Reydon. A forma dura como me criticou me deixou sem graça. Quis então contar a ela a história da "minha" colcha de retalhos e, assim que o fiz, seus olhos se encheram de lágrimas e ela saiu. Fiquei passada, sem entender, pois não fui grosseira a ponto de ...
   Então a amiga dela veio em meu socorro, me contou baixinho que, uma noite antes disto,se não me falha a memória, passando pela calçada em frente ao Asilo, viram as senhorinhas dançando com alguém(acho que era um médico ou enfermeiro) que as chamou para participarem também daquele momento e a amiga se emocionou,mas não quis entrar. Foi realmente uma coincidência que ela tenha sido tão dura com algo que representava o que antes, já havia mexido tanto com os medos dela (e meus)! Bem, penso que a velhice, a solidão, o estar numa casa de velhinhos sem familiares por perto é mesmo uma coisa que assusta a muitos de nós...(com exceção de minha sogra! que, por sinal, morava com uma filha carinhosa, antes de morrer -não precisou ir para o asilo).
   O mais, seja em relação a Vida, ao amor ou à Arte, fica por aí mesmo, nem sempre é preciso explicar...

Texto e foto: Vera Alvarenga

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

" A arte é luz que resgata..."

Hoje,relembrando descobri,
que das vezes que senti medo
e achei que quase me perdi,
em todas eu reagia,
me debatia,reclamava,
me conhecia, me reencontrava,
e estancava naquele degrau,
apoiada por minha teimosia
providencial.
E ali ficava, criando algo belo
e esperava...
até a tempestade passar.
Foi a arte que me resgatou
quando eu não podia te amar!
Foi o trabalho honrado,
foi o sorriso tantas vezes dado
junto com os meus meninos!
Foi o modo de não prostituir
minhas crenças, de não me sabotar!
                                                            
Então, até quando me senti                    
vazia e sem sentido,
não foi porque tivesse me perdido!
Pois ainda me vejo aqui,
e em mim, em tudo me reconheço.
Ah, mas você me roubou algum tempo
que me pertencia,
e muitas vezes calou a alegria e o canto,
no instante que já quase brotavam,em mim.
Mas, o dom de poder criar,
era a luz que me resgatava,
me elevava a outro patamar,
só hoje compreendo.
Eu ainda estava ali,
só não sabia!
O que me apavorava era
a ausência de luz do amor
que naquele momento,não podia sentir
por quem não olhava pra mim.
Mesmo assim, eu ainda era eu.
Começo a perceber que não me perdi...
O tempo? inexoravelmente passou,
e foi o teu rosto, que em algum canto
do meu coração se perdeu....

Fotos e Poesia : Vera Alvarenga

domingo, 16 de maio de 2010

- " Como pude deixar o artesanato em cerâmica para trás ?...(Parte III)"

cont. do post da minha despedida do artesanato com Cerâmica( Parte III)

Minha crise existencial durou pouco. Resolvida a fazer o que era necessário para sobreviver, e sendo coerente com a crença de que era uma "benção" usar nossos "dons" para trabalhar com prazer... arregaçamos as mangas e, cada um de nós começou a fazer o que sabia.
Disse ao meu marido, e sócio na época: - " nosso artesanato vai ser conhecido pelo bom gosto, vai encantar os turistas que vierem à Ilha da Magia". Afinal,estávamos na cidade cujo apelido e crença(até em bruxas), combinava com meu espírito rebelde contra a realidade nua e crua de qualquer situação em que se diga que é proibido sonhar, ou acreditar...
  Com uma certa vaidade lhes conto que lançamos em feiras (GIFTS) de São Paulo, nossa idéia,vendemos para lojas no litoral, cidades de vários estados e fomos até "copiados" por muitos artesãos,que como nós, precisavam sobreviver a alguma crise. Alguns eram do tipo que simplesmente copiam,usando material de segunda,acabamento de terceira e,sem nenhuma cerimônia, abaixam o preço, mas não conseguem se manter estruturados para honrar seus compromissos com seus clientes. Este, é o tipo que costumo dizer, cai de pára-quedas, desvalorizando o trabalho dos que "se dão ao trabalho" de fazer o melhor que podem em sua profissão! Alguns de vocês devem saber de quem eu falo. Outros existem, que se "inspiram" na idéia, e a partir daí fazem uma releitura, criam sua própria forma. Penso que isto é bom e, de certo modo, me agrada saber que nosso trabalho inspirou muitos outros ( até a indústria, que passou a lançar também números de cerâmica com desenhos em relevo. Mas nenhum tão bonito como o nosso!). Após algum tempo,eu também fiquei mais atenta a  "novidades" de outro profissional e,quando encontrava algo bom, passava a respeitar quem o criou. É um movimento de vida mais criativa que surge daí, do que eu chamo de "inveja santa" - da admiração e respeito pelo trabalho do outro, que faz com que a gente deseje também melhorar o nosso!
Nosso artesanato nos tirou da crise, mesmo embora a Justiça não tenha tomado providência a nosso favor, em 10 anos, a respeito dos empresários que compraram nosso negócio de restaurante, e não nos pagaram até hoje!!Evidentemente tivemos muitos dias difíceis, mas preciso confessar que Deus nos proporcionou chances, que nós aproveitávamos incansavelmente. 
Como no dia em que, caminhando pela praia, sem um tostão, encontramos uma moeda que nos proporcionou comprar, na aldeia dos pescadores, um peixe espada recem tirado da água! Neste dia, tivemos um almoço "supimpa!!" regado a vinho ( nosso filho mais velho, nos havia dado uma caixa do vinho de seu casamento). Para não deixar o moral de meu marido cair ( já estava muito abalado), coloquei a mesa no terraço, espalhei artesanatos no gramado em frente a casa e almoçamos ali... quem passava podia pensar que éramos dois artistas excêntricos ( rsrs...) e, também podia entrar e comprar algum artesanato! De outra vez, ao voltar da praia, sem mais nem porque, pela mágica intuição(que eu sempre agradeço a Deus por tê-la, porque acho que são segredos assoprados por anjos em meus ouvidos) resolvi entrar numa ruazinha e... na areia encontramos, sabem o que ? Espinafre! Limpo, saudável, nascendo ali, sem dono, esperando apenas por ser colhido e virar uma deliciosa macarronada com creme branco(farinha e água era barato) e espinafre... regada a vinho, naturalmente!
Como dizia, nosso artesanato nos sustentou (e também a mais 3 famílias que nos ajudaram a fazê-lo,quando as encomendas aumentaram) até que vendemos nosso apartamento em São Paulo e pudemos recomeçar, comprando uma casinha no melhor condomínio da praia dos Ingleses, a 50 mts. do mar!! Um dia eu conto  como foi este presente que a vida nos ofereceu, e nós fomos correndo pegar!
Contudo,a crise, a luta para não devermos a ninguém, este trabalho artesanal, as saudades dos filhos e amigos, também nos venceu,de certa forma, pelo cansaço, pelo abuso com a saúde e pelas exigências, pois parece certo que Deus ajuda... quem cedo madruga!
Hoje,revendo algumas fotos para postar aqui, dos números de residência que lançamos no Brasil, pensei:
- " Quem sabe alguém do site social dihitt, ou da internet, tenha um de nossos modelos de números em sua residência... afinal...este mundo é pequeno". E, perguntei-me, com um certo nó na garganta:
- " Meu Deus, como pude simplesmente deixar meus esmaltes ? o forno? tudo para trás?"
Depois de alguns minutos, pude responder para mim mesma:
- " Como tudo que temos que deixar, porque a fase já passou, porque já cumpriu seu papel e nos fará lembrar com orgulho, parte do que conseguimos fazer de nossas vidas, quando unidos, embora com muitas brigas( infelizmente), trabalhávamos feito loucos para honrar nossos compromissos e para dar um exemplo a nossos filhos. Na parte emocional, como exemplo de um casal unido,falhamos em parte, porque brigávamos muito e parece que não sabíamos aproveitar os momentos em que a batalha da vida e o trabalho, podiam ter um descanso. Contudo, nossos filhos parecem que nos perdoam e conseguem ver nossas outras qualidades.
 Por isto, me sinto em paz, porque sei que todos nós, como pais, às vezes cansamos de tentar ser perfeitos e tiramos nossas armaduras de heróis, para ser apenas falhos humanos, que tentam aprender com a vida.

texto : Vera Alvarenga
fotos: Vera Alvarenga
(por favor, leiam a última parte que virá a seguir - Homenagem aos Ceramistas e artesãos. )

   

segunda-feira, 10 de maio de 2010

- " Como aprendi a me "prostituir"...e o fiz com gosto!


(contin. de -"Como o artesanato em Cerâmica entrou em minha Vida" )

Foi assim que, numa feira de artesanato que participei, uma pintora de um quadro que eu admirava,após conversarmos por 5 minutos, me chamou de lado e me deu um papel, com a Oração do Artista. Foi a resposta que eu procurava! Me enchi da certeza de que, fazer "coisas bonitas" com amor, colocar "boas energias" em meu artesanato, iria proporcionar aos meus clientes, o contato com o belo. E, há muito tempo eu sabia, que um ambiente organizado e bonito pode ajudar o ser humano a se sentir melhor. Pode lembrá-lo que é sua alma que também contém o belo, que o admira e o deseja também fora e perto de si. O belo em nós, reconhece e deseja aproximar-se de seu igual, que há no outro ou nos objetos. " O divino em nós respeita o divino que há no outro!"   Assim, convidei meu marido para fazermos do artesanato em cerâmica,nosso único "modo de sobreviver a crise".Eu sabia como fazer barro e idéia transformarem-se em um artesanato bonito e especial, e ele,com seu espírito empresarial, sabia como vender e transformar isto em dinheiro. Para minha alma de artista, era como aprisionar as asas da liberdade,em uma gaiola! Contudo, o dinheiro andava muito curto.
   Nossa "fábrica" artesanal caseira, como a chamei no início, quando não sabia o quanto seria importante, exigiu de mim aprender com meu marido, a disciplina, a concretude das necessidades do corpo, mais do que do espírito. Alimentar o corpo é fundamental e, de certo modo, heróico! Aprendi a ser mais humilde, a compreender,mais que nunca, aquela tola discussão sôbre a tão falada "prostituição da arte". isto era frescura. Eu aprendi, desde que fiz um curso de escultura com o renomado artista Calabrone, que grandes artistas tiveram sempre que fazer "múltiplos" ou grandes tiragens de algumas de suas obras, para poder sobreviver...que diria eu, uma ilustre desconhecida,que da arte nada sabia, a não ser a prática das pesquisas, que minha curiosidade me levavam a empreender!
   Fiquei indignada quando um cliente,proprietário de loja importante do Shopping Beira Mar, sugeriu-me fazer a ponte de Florianópolis em cinzeirinhos, e ainda escrever o nome da cidade! Sem dizer a ele, para não parecer presunçosa, presunçosamente pensei :
   - " Sou artista, gosto de criar peças diferentes, não sou uma fábrica ! ainda mais de cinzeirinhos ?!"
   Foi então, que aprendi a me "prostituir" !! E o fiz com gosto!
   Claro, de um modo que me fazia sentir recompensada..como eu sempre brincava : se eu tivesse que me prostituir, teria que ser com classe e com prazer!
   Fiz uma encomenda de muitas que vieram por anos e, aos poucos, fui introduzindo pratinhos e quadrinhos no lugar dos cinzeiros. Me tornei uma artesã. E foi assim que aprendi a respeitar o artesão, o que trabalha com sua criatividade, muito suor e amor, e busca aprimorar-se em seu trabalho!
   Este é o profissional que não tem falsa modéstia, porque acima de tudo, ele trabalha primeiro para contentar a seus próprios padrões de exigência, sabe o quanto isto lhe custa e no final, ao olhar seu trabalho, só o entrega ao cliente se puder orgulhar-se dele, não por ser perfeito, mas por saber que neste trabalho, está o melhor de si. Este é o tipo de artesã que sou.

(por favor, continue parte III )
texto: Vera Alvarenga
foto: Vera Alvarenga

domingo, 9 de maio de 2010

- " Como o Artesanato em Cerâmica entrou em minha Vida..."

   Ao mudar de cidade,em 2010,deixei para trás de vez, a atividade de ceramista. Estes 3 próximos posts e a exposição de fotos, é uma despedida e homenagem a todos os artesãos, e ceramistas (seu dia é o 28 de maio, dia em que, por "coincidência", faço aniversário !)
   Há 13 anos atrás,após uma séria crise financeira que durou 6 anos, meu marido,ex empresário que já tivera 600 funcionários,arregaçou as mangas e fazia qualquer serviço que aparecesse.  Havíamos deixado nossos filhos e amigos em São Paulo,para tentarmos viver nosso "destino", tentando evitar que nossos filhos, em vésperas de se casarem e o mais novo fazendo faculdade, tivessem que "rodar conosco ladeira abaixo".
   Eles eram jovens.Tinham força e impulso para continuarem suas vidas daquele ponto, com as bases que pudemos lhes dar, até então.Nosso destino era incerto,tínhamos de recomeçar "do nada". Contávamos apenas com o dinheiro a receber, da venda do ponto do nosso 2º restaurante, ao qual tinhamos dedicado os 2 últimos anos, mas que começava a nos dar prejuizo, porque o comprador do restaurante anterior, suspendeu inesperadamente o pagamento. Deste modo, nos mudamos para Florianópolis,em busca de uma vida mais "barata". Longe de tudo e todos que conhecíamos, nos aventurávamos mais uma vez, sem que eles pudessem presenciar cada detalhe desta luta: só nós dois, "por nossa conta e risco"... contudo, eu e meu marido estávamos juntos, unidos no mesmo barco, para o que desse e viesse e para mim, era o suficiente para encarar tudo, apenas como um desafio a mais para vencer.
   Pouco tempo após nossa mudança para aquela praia bucólica e sentindo-nos abençoados por Deus por podermos atravessar momentos de crise, em local tão bonito como aquele, veio um golpe que quase nos derrubou. O comprador do 2º ponto do restaurante que havíamos vendido, em pleno funcionamento e com 270 clientes, de repente também parou de pagar e, embora sua família continuasse a trabalhar no local, ele sumiu, o que impedia, a então cega "Justiça", entregar-lhe os papéis, que nos permitiriam continuar com um processo para receber o que nos devia! O dinheiro acabava.... e eu, comecei a ter problemas com minhas mãos, pois abusara muito do meu corpo nos 4 anos do restaurante. Deste modo, o artesanato que eu fazia e vendia aos poucos, começou a me parecer algo sem importância e supérfluo, diante da situação. Comecei a me perguntar se não deveria deixar "aquela mania de trabalhar com coisas bonitas", para arregaçar as mangas e também "fazer qualquer coisa", mais importante. Reconheço que Deus, nunca me deixou verdadeiramente, sem resposta....
   (por favor...veja continuação no próximo post )
texto: Vera Alvarenga
foto: Vera  Alvarenga

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