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sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O desejo que vai na alma...

 O amor é feito criança
que tímida se esconde
mesmo querendo brincar.
Adolescente desajeitado, tal e qual,
troca os pés pelas mãos
ao lidar com algo delicado
e do seu jeito querer se afirmar.
O amor é assim,
sei que nasceu comigo,
mas por vezes se esconde de mim
O amor teme envelhecer
se não conseguir se conter.
Vem seu bôbo,
larga a fantasia de super homem
e a armadura de soldado,
sai deste porão antigo
- a sua infância já vai longe!
Coloque-a neste baú de lembranças
eu também já fui criança,
e feliz, mas solitária.
então, vem brincar comigo.
Já trabalhamos duro
proveitosas manhãs e longas tardes,
arando e semeando, cada um, a sua terra.
Vem, antes que a noite venha para nós
apenas como eterno descanso.
Despojados de tudo
que não é mais relevante,
sigamos! Vem viver a vida!
Olhar para frente, nova paisagem.
Vem brincar de amar.

foto/texto:vera alvarenga


sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Eu que não queria ser urubu...

- "Quando poderias ter tido asas, minha velha?" Perguntou-me ela, sem ao menos esperar resposta, tal como aquele homem que um dia perguntou-se quando poderia ser um urubu.
   Eu que não queria ser um urubu! A única vez que os achei menos deprimentes foi quando os fotografei, naquela tarde, brindando de asas abertas ao sol.
   Por que o homem, aquele, queria ser um urubu, era um problema dele devido ao reconhecimento de sua tristeza. Para ele, um urubu não iria se aventurar a cantar, nem desejaria alcançar alguma coisa.
   Ah, mas eu já quis voar! E era meu coração então, que cantava.E eu tinha forças em minhas asas para voar para longe, bem longe, lá onde estaria um novo horizonte. Queria voar pra longe e para perto. Longe daqui. Perto dele. E estando com ele, poderia ir ou voltar para todos os lugares.
   Com ele, nossos voos seriam gloriosos, não por serem heróicos, como as infindáveis batalhas dos  que voam pelos céus desta vida maluca, vencendo desafios incansavelmente, mas por serem apenas vida! Apenas isto. E devido a isto apenas, haveria alegria. E a consciência de nossa sorte que é aquela que salva aqueles que quase morreram, nos faria gentis e grandemente reconhecidos a cada passo possível, por esta dádiva. Porque viver é arriscar-se e também sofrer, às vezes. E sabíamos disto, e por isto teríamos um sorriso sereno em nossa cara.
   Juntos conseguiríamos voar pelo mesmo céu. Por isto, e não por querer mais do que simplesmente esta vida gentil e por isto, abençoada.
- " Ah! mas bem sabes, minha cara, que de nada adiantam asas se não se sente que há horizonte para o qual se queira ou possa voar."
   Vai ver então que foi isto. Vai ver que aquele Rubem também suspeitava disto. Por isto, nem mesmo quis saber se poderia de fato ser um urubu. Falou só por falar.

foto e texto: Vera alvarenga ( inspirado em crônica de Rubem Braga.)

sábado, 7 de julho de 2012

Hábitos ...

  Um barulho qualquer o acordou. Não aquele tipo de barulho que por anos e anos ouvira logo cedo. Sua rotina havia mudado, e muito. E nesta manhã estava num hotel, numa cidade pequena, mais uma vez, apenas de passagem.
De qualquer modo, ao abrir os olhos, deslumbrou-se.
Havia uma pequenina fresta na janela. Alguém a esquecera de fechar, o que lhe passara desapercebido na noite anterior, quando chegara bastante cansado. Ele, há anos, estava acostumado com o ar condicionado dos hotéis e as pesadas cortinas que tudo escurecem. Ali, a cortina  era leve e, entreaberta, deixava passar a luz que já furtivamente entrava.
Como uma fenda num vestido de mulher, que deixava a beleza apenas insinuar-se com seus mistérios, o que passava pela fresta era apenas um feixe de luz, mas iluminava de dourado o espaço, deixando antever a promessa do outro lado. Música silenciosa, a luz fazia dançarem partículas infinitamente minúsculas de poeira, como se elas pudessem conter energia própria, como se fossem seres iluminados. Aquela imagem lhe trazia lembranças antigas, de um tempo por demais longínquo, no qual a simplicidade de certos hábitos   inundavam de alegria ingênua vida. Fechou os olhos. Foi bom lembrar. A sensação era boa. Abriu-os, e em seguida, levantou-se.
Foi à janela. Escancarou-a num só gesto, como quem quer desvendar segredos ou possuir toda a luz. Mais que penetrá-la, queria absorvê-la, tê-la dentro de si, preencher com ela o espaço vazio. Sentia-se estranhamente leve como aquelas partículas douradas recém vistas. Lembrou-se de uma amiga que uma vez lhe falou sobre esta leveza, que ela mesma sentia ao deparar-se com a luz, pela manhã, em sua janela. Sorriu. Lá fora, tudo estava aceso e parecia convidá-lo a sorrir.
Durante o rápido banho, lembrou-se daquela mulher que se apaixonara por ele. Na ocasião confessou-lhe que sentia-se leve a ponto de quase voar, quando ele a chamava pelas manhãs para conversarem. Ela o havia comparado a um raio de sol.
Ah, mulheres... São doces, quando apaixonadas! Delicadas e frágeis. Muitas vezes, tolamente ingênuas, excessivamente românticas. Dizem que depois de amar sentem-se flutuar. E gostam disto. Talvez por isto façam do amor algo que se mistura facilmente ao sexo, aos gestos, ao desejo de entrega. Ele, gostava de manter pés firmes no chão.
Algumas lembranças o acompanharam durante o banho. Não teve tanta pressa como era habitual. Deu-se conta que agora, era dono de seu tempo. Sorriu.  Ao sair, o leve perfume do sabonete estava entranhado na pele. Não gostava de perfume, isto era algo que apreciava sentir numa mulher e, claro, na proporção certa. Contudo, este não era excessivo, sairia logo, tudo bem. Colocou sua loção preferida, quase sem cheiro, que sempre levava em viagem, para suavizar a pele após fazer a barba cerrada. Homem tinha de ter cheiro, não perfume. Num instante, já descia com sua pasta para o café e em seguida sairia para o que tinha de ser feito. Sentia-se, no entanto, mais vivo e melhor que nos últimos dias. Isto inspirou-lhe uma idéia.
No corredor, ao cruzar com outro empresário, hóspede como ele, deu-se conta de uma sutil diferença no próprio andar. Que era aquilo? Estava leve demais! A isto não estava habituado e por certo, não lhe cairia bem... Pigarreou. Franziu a testa, pegou o celular para tratar de algum assunto importante. Qual seria? Não importa...encontraria um. Apressou então o passo, e pisou mais firme no chão, como de costume.

Texto: Vera Alvarenga
Foto retirada do Google imagens
  

sábado, 20 de novembro de 2010

"Quanto tempo ainda tenho?..."

Quanto tempo ainda tenho
pra brincar?
e pra te ver franzir o cenho
quando trago do que sou e tenho,
os gestos que te fariam sorrir,
se tua face não trancasse
o sorriso que queria vir?
  Quantos dias eu podia
ainda tentar?
sem que o tempo me envelhecesse
sem que eu mesma me perdesse
no inglório afã de te resgatar
se na redoma te isolavas de novo
e a cada vez, após me amar?


Quanto tempo ainda tenho
de esperar ?
Pergunta a mulher, que sonha em mim,
cumprir seu destino, feliz enfim
de entregar-se a sorrir e amar,
por ser amada, não só na palavra
mas nos gestos e no olhar!
     Quanto tempo será... que ainda tenho?....
      para o que não depende de mim... pra viver a vida que não se vive só.
    
Foto e Poesia: Vera Alvarenga

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

"Cadê você, mulher perfeita?"

- Dou um doce se me disser no que estava pensando!
- Ah, você está aí?
- Não disfarce! me diga o que lembrava do passado que a fazia sorrir deste modo tão delicado?
- Não era no passado que eu estava...só estava imaginando coisas...ia ser tão bom, se acontecesse o que de repente me vem a mente,de vez em quando.
- mmm..... você parecia leve e feliz como uma pluma a deixar-se levar pela brisa. Por que esta cara agora?
- É porque você me fez voltar e, isto me traz saudades.
- Ah, agora está a lembrar de algo que viveu no passado! eu sabia que ele viria, mais cedo ou mais tarde, roubar-lhe o tempo, momentos preciosos que a gente só pode viver se entender que a vida só se faz aqui, no a..go..ra, no presente, mulher! Olhe para seu rosto, no reflexo do vidro do carro. Tá vendo? Olha bem. Esta é você. Aliás, sou sua fã, você é legal. Aceite o presente e viva nele. Não importa que sua pele esteja um pouco menos jovem, seca como esta folha...é o que você é, é sua vida, é você!
- Pare com isto,senhora maravilha! Você é chata! Sei o que sou e como estou. E, se quer saber, não estava a lembrar nada do passado, não senhora!
- Como não? Saudades a gente só tem de algo ou alguém com quem viveu momentos no passado!
- Vou lhe explicar...só desta vez. Sempre vivi, digamos, uma convicção - só podia viver daquela maneira, sentindo as coisas daquele modo. Contudo, o amor, a vida, nem sempre são como a gente pensa que deveriam ser. Não era tão real então, certo?
- Ah, sempre lhe digo isto! Realizar é bem diferente do que apenas sonhar!
- Sei disso, realizar, claro que seria melhor...nossa, como seria! Viver isto seria, seria... como somar as experiências todas, só para levar em conta as prioridades, entende? Seria como descobrir um segredo que todos querem, bem, não importa agora. Ilusão por ilusão, prefiro a que me faz sorrir, embora logo depois me traga esta saudade, que me deixa triste por uns minutos. Mas aí você sempre vem, e eu caio na real! Tá satisfeita agora?
- Estou sim. Seja ponderada. A gente só é feliz quando a alma está no presente, junto com o que se tem.
- Pois vou lhe dizer, não estava vivendo no passado, recordando o que não posso mais reviver! ...estava vivendo um sonho...que é real a cada vez que, por um segundo, me vejo nele...com ele, e então é tempo presente, e me deixa feliz, e o relógio para, não temos corpo, nem peso, a brisa sopra, nos sentimos leves e a magia se faz, como se o destino estivesse em nossas mãos, em meu coração, e minha alma se ilumina. Não posso evitar. Não preciso esquecer ou perdoar o passado, enquanto eu não precisar apagar o sonho presente.
- Você é tola! não tem juízo! Esqueceu tudo o que já estudou? Só se vive o presente, o que se tem na realidade...
- Você está surda? O que eu tenho, no presente, na realidade é unicamente este sonho! Não vê? Enquanto eu tiver forças para sonhá-lo, mesmo sem poder tocá-lo...é o meu sonho! Quando eu deixo que este sonho me toque , eu vivo, respiro em meu corpo, e ele reflete o que de melhor sempre houve em  mim. Sacou? E aí?....cadê você mulher perfeita!?...o que tem pra me dizer ainda?

Texto e foto: Vera Alvarenga

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