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sábado, 20 de novembro de 2010

"Quanto tempo ainda tenho?..."

Quanto tempo ainda tenho
pra brincar?
e pra te ver franzir o cenho
quando trago do que sou e tenho,
os gestos que te fariam sorrir,
se tua face não trancasse
o sorriso que queria vir?
  Quantos dias eu podia
ainda tentar?
sem que o tempo me envelhecesse
sem que eu mesma me perdesse
no inglório afã de te resgatar
se na redoma te isolavas de novo
e a cada vez, após me amar?


Quanto tempo ainda tenho
de esperar ?
Pergunta a mulher, que sonha em mim,
cumprir seu destino, feliz enfim
de entregar-se a sorrir e amar,
por ser amada, não só na palavra
mas nos gestos e no olhar!
     Quanto tempo será... que ainda tenho?....
      para o que não depende de mim... pra viver a vida que não se vive só.
    
Foto e Poesia: Vera Alvarenga

domingo, 14 de novembro de 2010

" O poeta ,,,"

   Estava molhando as plantas do jardim, como fazia três vezes por semana. Um dos bons momentos de seu dia, quando abstraía-se da realidade e concretude de seu dia a dia, e tornava-se parte da natureza que a rodeava. Antigamente era seu hábito, ao se aproximar das flores, aproveitar para meditar,enviar luz em pensamento para as pessoas que amava ou pensava estarem precisando de energia. Ela acreditava nestas coisas.
  Ultimamente porém, não conseguia ser tão bondosa, pois seu coração estava lhe pregando peças - ali no jardim, ele parecia criar asas e a fazia voar...quando isto ocorria, ela sorria, e logo balançava a cabeça como a reconhecer e se perdoar porque estivera assim divagando.
   Naquela tarde, por segundos, chegou mesmo a sentir estar sendo abraçada por ele...era o abraço sonhado, maduro, que parecia poder conter o mundo e todas as promessas que ambos já tinham desejado um dia e não pensavam mais poder colher.
   Era o abraço que os faria saber que, dali em diante, não precisariam mais procurar, pois teriam finalmente se encontrado!
   Sorriu e suspirou fundo, mas desta vez constatou com alguma tristeza que seus pés estavam novamente na terra molhada...e terra é realidade. O ar, a brisa, já não levavam suas asas a lugar nenhum. Ouviu um cumprimento... uma voz calma que parecia vir de um sonho, como o dela:
- Boa tarde, moça. Como é belo o amor!
  Era aquele senhor que vira algumas vezes, a tomar sol ao entardecer. Estava alí na calçada do outro lado da rua.
- Ai, meu Deus! o que diz este homem? estaria lá há muito tempo? Será que ele me "pegou" sorrindo assim feito boba, do nada? Que vergonha. Não, ele tá velhinho, nem me vê direito, me chamou de "moça"! Eu, com meus quase sessenta...
   Ela, recompondo-se do susto, respondeu com um aceno. Tinha notado, já outro dia, aquele senhor de olhar bondoso, a olhar para ela como se quisesse adivinhar seus pensamentos. Qualquer dia, ia atravessar a rua e conversar com ele. Parecia tão solitário como ela se sentia, às vezes. Logo, uma mulher veio buscá-lo e lá se foi o velho, mais velho que ela, em sua cadeira de rodas.
- Até logo, moça!
- Ah...até ...senhor!
   Dois dias depois, no final da tarde, do outro lado daquela pacata ruazinha do interior onde morava há poucos meses, ela viu a ambulância sair. Uma das vizinhas, parada bem em frente ao seu portão, lhe disse:
- A senhora viu que pena? Tão lúcido ele era ainda! Esta doença é assim mesmo.
- O que houve?
- O poeta, dona. O poeta morreu!
   Então ela soube. Teve certeza de que, mais do que ninguém, ele realmente a tinha visto. Só mesmo um poeta poderia tê-la compreendido.

Texto e foto: Vera Alvarenga

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