quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Colcha de Retalhos - a arte imita a vida...

Ah..acho que foi em 1992  na Casa da Cultura de Paraty, numa exposição minha onde Máscaras eram o elemento principal, fiz um quadro que chamei de "Colcha de Retalhos" e com ele aconteceu algo interessante.
Evidentemente ele tem uma história... numa de minhas constantes viagens a Paraty, eu levava minha máquina de fotografia e ia por todos os caminhos, inclusive na mata, com olhos de procurar, sentindo-me atraída por cores,relevos, texturas e pelo Belo, principalmente o belo que aparece onde menos se espera, e mesmo no caos. Sempre fui uma pessoa intuitiva, gosto disto - encontrar o belo é uma solução intuitiva para a sobrevivência.
Uma noite, andando com minha sogra e marido, entramos no Asilo dos Idosos, (hoje diriam Casa dos Idosos). Ela, que viveu em Paraty, disse que gostaria de ir para lá quando estivesse bem velhinha, pois encontraria certamente conhecidos. Isto me surpreendeu, me impressionou. Então, já entrei impressionada, num lugar onde teria de encarar algo não muito fácil - a realidade de que a velhice chega para todos. Ela caminhava e conversava com algumas senhoras, mostrando-se à vontade com a crua realidade. Eu, fazendo de conta que estava bem, me senti uma idiota porque não sabia o que dizer a nenhuma delas. Aliás, quando algo me emociona muito ou mexe comigo, geralmente não sei mesmo o que dizer, pois falar é algo bem racional e eu sou muito menos racional, eu acho. De repente me sentei ao lado de uma senhorinha que estava calada e não parecia ter nenhuma expectativa em relação a alguém conversar com ela. Me senti mais à vontade e fiquei olhando a colcha de retalhos que ela fazia. Quando vi, estávamos conversando. A colcha era linda!
   Foi logo depois, que fiz este quadro. Pelo menos nele, eu tinha o que dizer,sem precisar falar..rs... Geralmente, expresso melhor meus sentimentos através do corpo ou das mãos, de um carinho, um abraço, fazendo arte ou artesanato. Nunca tinha visto alguém fazer um mosaico de fotos cortadas, mas era a minha colcha de retalhos, em homenagem e respeito àquelas senhorinhas lá do asilo. Retalhos da cidade onde tinham vivido a vida toda. Sobre ele coloquei vidro e uma máscara também recortada de cerâmica que fiz do meu próprio rosto. A moldura era antiga, cor sóbria, lembrando o asilo. Bem, estas coisas da criatividade não se explica muito, mas foi o que tive de fazer para uma senhora que veio com a amiga na exposição e fez uma dura crítica ao quadro. Disse que entendia de arte e jamais aquela moldura deveria estar ali,numa obra tão contemporânea,etc,etc. Eu, nunca estudei arte, a não ser escultura,mesmo assim,em cursos práticos,com Calabrone e Reydon. A forma dura como me criticou me deixou sem graça. Quis então contar a ela a história da "minha" colcha de retalhos e, assim que o fiz, seus olhos se encheram de lágrimas e ela saiu. Fiquei passada, sem entender, pois não fui grosseira a ponto de ...
   Então a amiga dela veio em meu socorro, me contou baixinho que, uma noite antes disto,se não me falha a memória, passando pela calçada em frente ao Asilo, viram as senhorinhas dançando com alguém(acho que era um médico ou enfermeiro) que as chamou para participarem também daquele momento e a amiga se emocionou,mas não quis entrar. Foi realmente uma coincidência que ela tenha sido tão dura com algo que representava o que antes, já havia mexido tanto com os medos dela (e meus)! Bem, penso que a velhice, a solidão, o estar numa casa de velhinhos sem familiares por perto é mesmo uma coisa que assusta a muitos de nós...(com exceção de minha sogra! que, por sinal, morava com uma filha carinhosa, antes de morrer -não precisou ir para o asilo).
   O mais, seja em relação a Vida, ao amor ou à Arte, fica por aí mesmo, nem sempre é preciso explicar...

Texto e foto: Vera Alvarenga

6 comentários:

  1. Oi Vera, que bom q vc gostou de ter visto seu espelho aqui no meu cantinho não coloquei os devidos créditos pq foi um a pesquisa no google, agora que ja sei vou colocar.Bj volte sempre.

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  2. Menina, ima obra profunda, intensa e tão suave ao mesmo tempo.
    Pedacinhos... retalhos de sensações que sustentam e constroem nossos dias.
    Adorável, mesmo.
    Abraços

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  3. Olá Jeanne! Volte também sempre que quiser e, estarei colocando nome nas minhas fotos sempre que eu tiver tempo, assim, quando quiser levar para seu blog é só levar. Quando não tiver a assinatura, é só levar e citar o no me do meu blog lá no seu, tá bem? Abraço, Vera.

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  4. Obrigada Malu! é isto mesmo, sou apaixonada por fotos e gosto de usar mosaico em determinados momentos...são mesmo pedacinhos de lembranças que constroem nossa vida,nossa história, momentos de felicidade.
    Beijos.bom final de semana!

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  5. A vida é mesmo isso. Retalhos que se vão
    interligando.Gostei deste texto.
    Beijinho/Irene

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  6. Olá Irene! Pois é por isto que ao costurarmos nossas lembranças, podemos escolher quais queremos colocar em evidência neste mosaico dos retalhos de nossos momentos,não é?
    Estive em seu blog " Sem magia o que seria a vida?" e está muito bom. Você sempre nos coloca lá algo que nos faz refletir, ou encantar.
    Beijo.

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