Final de ano. Por segundos, deixei rodar o filme do balanço anual, e as cenas passaram rapidamente, como acontece quando faço retrospectos do passado.Observei apenas as sensações do saldo que ficou.
Sentimentos muito fortes e opostos estiveram presentes neste ano, mas isto não me surpreende. Aceito e sinto a vida com seus movimentos. A tentativa de adaptação ou de convivência com opostos que nem sempre se complementam da forma como gostaríamos, o sonhar com o que não temos, o tentar alcançar este sonho transformando-o em realidade palpável - é a nossa forma de participar desta dança, em que o destino está sendo construído conforme nossas crenças e modo de reagir, mesmo diante do imprevisto.
E neste movimento,este ano deparei-me com lições bem difíceis, alguma aprendi, outras não. Encarei uma mudança de cidade e residência. Diante disto, revi, me orgulhei de minha coragem e disposição para enfrentar o novo, com atitudes criativas e de fé. Dei de cara com as consequências por decidir considerar meus limites diante da realidade que estava inaceitável, tudo porque ainda me debato na luta por manter coerência entre palavras, gestos e sentimentos. Cometi pecado semelhante ao daquele que, tendo consciência do que está acontecendo e um vislumbre do que poderia ser, resolve "contestar" o que há anos está estabelecido.
Sonhei, desejei e acreditei que seria possível transformar meu sonho gentil e amoroso, numa realização. A partir daí, o equilíbrio se perdeu, veio a culpa e a raiva, e seu peso depende geralmente de como conseguimos nos conformar com o que tínhamos, ou ainda do quanto cobramos de nós mesmas a perfeição de viver conforme a verdade. Sentir raiva foi ruim,mas me ensinou sôbre mim mesma!
A despeito da minha crença de que ninguém é perfeito e tudo vale para manter a família unida, e ainda apesar de eu saber por experiência, que prefiro manter uma dança a dois para o ritmo da vida,tomei a decisão de uma nova caminhada sozinha a partir dali! Susto e loucura total, diante das circunstâncias precárias! Mas isto não ocorreu. Então, vivi como tantos, aquele momento em que afastamos qualquer ilusão para nos adaptar com sinceridade e nos esforçar para que tudo dê certo! Devo reconhecer que falhei desta vez, porque meu coração não estava mais lá, como antes.
Quase sucumbi, em meio a uma imensa tristeza que parecia que ia me engolir, porque me assustava sobremaneira, como em poucas vezes na vida, não estar sendo coerente com minha capacidade de sentir amor.Neste mesmo instante uma incoerência maior! Quando tudo parecia morte, fui resgatada surpreendentemente pela vida - um desejo mil vezes mais poderoso do que tudo o mais, a descoberta da esperança de uma nova chance de viver o amor com mais responsabilidade, alegria,cumplicidade e respeito - apaixonei-me por esta idéia - o apaixonamento e o amor são o único poder superior à morte! E se eu estava meio morta, minha outra metade era desejo de amor e vida! Isto foi a coisa mais bela e forte que senti nos últimos anos, e já desisti da culpa ou de compreender racionalmente tudo o que motivou este encantamento. Apenas, agora convivo com isto.
No último mes, estou vivendo a espera da sentença que decidirá sôbre tudo o que consegui manter de patrimônio material de uma vida de quase 39 anos! O próximo ano, me deixa ansiosa, mas não me assusta mais do que este que passou. Neste momento sinto que ainda sonho e abraçarei a oportunidade que tiver de ser feliz, pois o mal que já estiver estabelecido permanecerá independente de minha ação, mas o bem que puder ser construído por duas pessoas que decidem fazer isto com comprometimento, será abençoado. Será meu, isto aprendi, apenas o que for a mim oferecido, ou o que eu puder colher da árvore que plantei no quintal do meu coração. E o coração é livre,só pertence a seu dono.
Então, neste último olhar que dou para o ano que termina, não posso dizer que estou feliz porque espero ainda a conclusão de 2 assuntos- o da minha casa, e o do meu amor. Contudo estou feliz por ter vivido intensamente e com intenção de ser fiel ao que acredito que pode me fazer levantar com dignidade, qualquer que seja o resultado. Se eu perder minha casa, ainda terei meu amor...se este não puder jamais se concretizar como o presente que pedi a Deus, ainda terei a capacidade de amar dentro do peito, a pulsar e que fluirá em pequenos gestos, durante o resto da minha vida.
Agradeço ao meu marido, companheiro de 40 anos, pelo desejo de fazer dar certo, pois reconheço que também enfrentou com nobreza as últimas mudanças em si mesmo e em mim. Abraço, em pensamento as pessoas que me ofereceram pequenos gestos de amor,àquelas pessoas que me ensinaram algo e aquela que escolheu confiar em mim e compartilhar alguns sentimentos que estavam guardados em seu coração, que algumas vezes me disse que sou importante e faço parte de sua vida(sempre que esta pessoa precisar,estarei ao seu lado e torcendo por ela). Isto me proporcionou momentos de ternura, pelos quais serei grata, e que me fazem sorrir confiante de que ... no próximo ano, tudo será melhor e que, "se Deus permitir", terei algo belo para receber de presente...de Papai Noel ( ou do Papai do Céu).
Texto e foto: Vera Alvarenga
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domingo, 26 de dezembro de 2010
"Meu presente chegará atrasado...."
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terça-feira, 28 de setembro de 2010
Olhou para ele, como se fosse pela primeira vez...
Um dia, após algum silêncio,olhou para ele e o viu como se o estivesse vendo pela primeira vez, nos últimos anos.
Toda aquela impaciência e agressividade não foram dirigidas a ela, especificamente. O olhar de raiva com que a olhara e que tantas vezes a magoara. Só agora compreendia claramente. Ele o dirigia a qualquer um que o interrompesse quando estava a fazer inúmeras combinações em jogos de loteria que certamente teriam chance de ser contemplados, quando assistia uma notícia política e se imaginava lá, mostrando como poderia resolver o problema ou mesmo quando, recentemente se descobriu poeta e estava a escrever poesias.
Mesmo que fosse uma questão de trabalho, ou uma frase amorosa dela, lhe oferecendo algo que ele gostava?! Por que me tratar assim?
Era a raiva com que inconscientemente recebia tudo que o despertava de seus sonhos!!
Não teria um homem o mesmo direito de sonhar, como tem as mulheres? Era o que ela se perguntava agora.
Não importava comparar diferenças entre seu modo de reagir e o dele. Não era novidade que eram muito diferentes. Ele sempre tivera um jeito mais agressivo de reagir ao mundo, e por sua história de vida acreditava que com força e crítica se conseguia aprender e ensinar mais, diferentemente do modo dela encarar as mesmas questões.
O que importava a ela agora, era perceber que ao businar para assustar alguém que atravessava a rua sem prestar muita atenção, ele realmente acreditava estar lhe fazendo um favor, e se isto a aborrecia, era simplesmente porque ela estava ao seu lado, naquele momento. Que o olhar duro que lhe dirigia, não era para ela; ela apenas o acordara do sonho. Muitas coisas a vida negou a este homem, porque ele teve sonhos grandiosos! Esforçado, corajoso, decidido, dizia que era feliz, realizado, era amado por ela, pela família,mas ela percebia nele a inquietação de quem não tivera oportunidade de realizar muitos dos seus sonhos.Talvez ele não soubesse como lidar com isto. Portanto, já não tinha medo dele agora, olhava-o com maior compreensão sobre o que antes pensou que ele fazia para feri-la. Ela o via como ele era.
Tinham algo em comum – a inconveniente inquietação dos sonhos que não puderam ser realizados. E ambos, continuavam a sonhar seus sonhos...
Texto : Vera Alvarenga
Foto: alterada no photoshop - pode ter direitos autorais
segunda-feira, 14 de junho de 2010
- " A gente é feliz com o que sente...e dá..."
Tenho falado aqui, de quando o amor "perde um pouco seu encanto", e do perdão. E recebi apoio e comentários que tem vindo somar e me ajudar a compreender melhor estas emoções humanas, em mim. Perdoar! pensamos que sabemos! mas há muito a aprender(pelo menos no meu caso). Quando se percebe que "o amor perdeu um pouco de encanto, dentro do coração"...neste caso,não se trata de precisar perdoar o outro, mas de perdoar a mim mesma por perceber que isto aconteceu logo comigo, que pensei ser capaz de o amar para sempre, com a mesma intensidade, e de nunca desejar nada além dele, da forma que ele é. Fico falando "dele", esperneando, mas me surpreendi COMIGO mesma, por não saber viver sem ele, mas hoje desejar ter tido a coragem de ter me afastado antes. E, na maturidade, sentir-se assim, é muito mais sério, é como ver que não há mais tempo para construir o futuro que se acreditava que iria colher agora. Mas, é mesmo na maturidade que colhemos o que plantamos!! Mesmo que no passado a gente estivesse pensando estar agindo da maneira mais correta, insistir em "sustentar" as diferenças, como se elas pudessem ser sublimadas, pode ser um erro. O sentimento, acreditem, faz mais falta por não estar mais dentro do MEU coração, como antes... É deste sentimento dentro de mim, que sinto mais falta, pois há muito eu o estava tentando aceitar como era. Parece ter fugido ao meu controle...mas não, apenas colhemos o que plantamos.
Descobri que A GENTE É FELIZ COM O QUE SENTE e DÁ - o que recebe pode ser ou não ilusão, mas se acreditamos que é verdadeiro, nos preenche. Estou aprendendo a me perdoar por sentir raiva ( sentimento raro em mim) de quem eu mais amei na vida(e por mais tempo!). Raiva porque o culpo por ele ter sido tão insistentemente egoísta. E agora, sou eu a egoísta! Há dias que me sinto perdoada e forte, mas há pequenas recaídas. A raiva, está indo rapidamente embora, mas há certa intolerância quando a ferida é aberta. Hoje sei, que estar na presença de amor, significava para mim, confiar, a tranquilidade de sentir que a pessoa que está conosco não nos vê como se a estivéssemos ameaçando, e que isto me faz tanta falta como o ar que respiro, uma vez que competitividade em excesso e grosseria me pressionam como um sapato pisando numa barata ( eu sou a barata). Sei que o mundo não tem que ME fazer feliz, mas a pessoa em quem confio, tem que confiar e se entregar também, ou não aguento o constante atrito! Guerra, não é para se vivenciar na intimidade. Então, às vezes escolho "deixar pra lá", para que tudo fique bem. Contudo, se eu fosse mais jovem, penso que não teria mais este comportamento. Houve um tempo em que pensei que meu amor e tranquilidade fossem levar algum sossego ao coração do meu homem amado, que se sentia tão desafiado pela vida e pelas pessoas. Sinceramente, posso ter sido apenas prepotente, sem o saber, por julgar que tinha algo melhor para dar a ele. Como se eu fosse superior! Acreditem, não me sinto nada superior hoje, ao olhar para o homem honesto, forte, corajoso, que ele é. Ambos somos pessoas boas, que nos desencontramos, no meio do caminho- estou vendo a vida de modo diferente, mas estou tentando conviver com isto.
Por isto,embora já não tenha mais meu antigo avatar impessoal, falo disto aqui, porque, me expor é muito pouco perto da pena que sinto pelo que aconteceu... e pode acontecer com qualquer um de nós, mesmo os bens intencionados e amorosos como eu, passarem assim, por uma fase de cansaço e desilusão em face da mudança de seus próprios sentimentos. Falo, porque não quero refletir sozinha sobre nossa condição de seres humanos que somos, imperfeitos e carentes de amor compartilhado e cúmplice, na medida que satisfaça nosso ego, que quer ser reconhecido, e queiramos ou não ,existe e nos dá a sensação de que existimos como indivíduos. Se somos reconhecidos, nos sentimos vivos e especiais.
Texto: Vera Alvarenga
Foto : Vera Alvarenga
Descobri que A GENTE É FELIZ COM O QUE SENTE e DÁ - o que recebe pode ser ou não ilusão, mas se acreditamos que é verdadeiro, nos preenche. Estou aprendendo a me perdoar por sentir raiva ( sentimento raro em mim) de quem eu mais amei na vida(e por mais tempo!). Raiva porque o culpo por ele ter sido tão insistentemente egoísta. E agora, sou eu a egoísta! Há dias que me sinto perdoada e forte, mas há pequenas recaídas. A raiva, está indo rapidamente embora, mas há certa intolerância quando a ferida é aberta. Hoje sei, que estar na presença de amor, significava para mim, confiar, a tranquilidade de sentir que a pessoa que está conosco não nos vê como se a estivéssemos ameaçando, e que isto me faz tanta falta como o ar que respiro, uma vez que competitividade em excesso e grosseria me pressionam como um sapato pisando numa barata ( eu sou a barata). Sei que o mundo não tem que ME fazer feliz, mas a pessoa em quem confio, tem que confiar e se entregar também, ou não aguento o constante atrito! Guerra, não é para se vivenciar na intimidade. Então, às vezes escolho "deixar pra lá", para que tudo fique bem. Contudo, se eu fosse mais jovem, penso que não teria mais este comportamento. Houve um tempo em que pensei que meu amor e tranquilidade fossem levar algum sossego ao coração do meu homem amado, que se sentia tão desafiado pela vida e pelas pessoas. Sinceramente, posso ter sido apenas prepotente, sem o saber, por julgar que tinha algo melhor para dar a ele. Como se eu fosse superior! Acreditem, não me sinto nada superior hoje, ao olhar para o homem honesto, forte, corajoso, que ele é. Ambos somos pessoas boas, que nos desencontramos, no meio do caminho- estou vendo a vida de modo diferente, mas estou tentando conviver com isto.
Por isto,embora já não tenha mais meu antigo avatar impessoal, falo disto aqui, porque, me expor é muito pouco perto da pena que sinto pelo que aconteceu... e pode acontecer com qualquer um de nós, mesmo os bens intencionados e amorosos como eu, passarem assim, por uma fase de cansaço e desilusão em face da mudança de seus próprios sentimentos. Falo, porque não quero refletir sozinha sobre nossa condição de seres humanos que somos, imperfeitos e carentes de amor compartilhado e cúmplice, na medida que satisfaça nosso ego, que quer ser reconhecido, e queiramos ou não ,existe e nos dá a sensação de que existimos como indivíduos. Se somos reconhecidos, nos sentimos vivos e especiais.
Texto: Vera Alvarenga
Foto : Vera Alvarenga
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