Me sinto doente. Disfarço para que não tenha de explicar o que sinto e porque. Talvez eu esteja como que suspensa no intervalo antes da cena final e perceba que esqueci as falas! Não sei se o que viria a seguir era o momento da virada onde a vida sairia vitoriosa, ou se tudo acaba com a morte.
Sei que perdi parte de mim, talvez para sempre. A que foi, perdeu-se na estrada,não foi encontrada nem encontrou por si, o caminho de volta. Foi pura e ingenuamente de encontro ao desconhecido como sacrifício feito pela virgem que acreditava que seu gesto de amor salvaria os iguais a ela. Timidamente, levou consigo a alegria que também me animava. Mesmo ingenuamente, ela roubou-me algo de valor.
Eu fiquei. Sinto sua falta. Esperei a cada dia que ela, encontrando enfim seu destino, viesse me buscar. Eu fiquei vazia dos sentimentos que ela levou consigo e, fiel a ela, fui me distanciando mais e mais do que me cerca. Eu, que costumava estar inteira em cada lugar, estou em todos os lugares e já não estou mais em lugar algum. Porque eu fiquei, mesmo estando com ela. Por vezes me sinto oca, como se ela houvesse levado o que me pertence. E sem ele, o ser que sou já não é nada. Ausenta-se para fingir que é. A cada noite, embora sabendo que ela perdeu-se, chamo-a de volta. A cada manhã acordo pensando que ela voltou, só para perceber ao longo do dia, que ainda não estou plena.
Então, na frente do espelho, jogo água em meu rosto para acordar-me, e com o toque frio e real me faço o mais consciente que possa de mim mesma, e do mundo que me cerca.
- Deixa de ser egocêntrica! Olha para o lado, vê como antes, que outros sofrem mais que tu! mas cuidado, não te faças tão consciente que acabes por dirigir o olhar para si mesma, pois que então verás que tua tristeza é porque não tens mais teu coração...
Texto: Vera Alvarenga
foto: retirada do google images.
Sei que perdi parte de mim, talvez para sempre. A que foi, perdeu-se na estrada,não foi encontrada nem encontrou por si, o caminho de volta. Foi pura e ingenuamente de encontro ao desconhecido como sacrifício feito pela virgem que acreditava que seu gesto de amor salvaria os iguais a ela. Timidamente, levou consigo a alegria que também me animava. Mesmo ingenuamente, ela roubou-me algo de valor.
Eu fiquei. Sinto sua falta. Esperei a cada dia que ela, encontrando enfim seu destino, viesse me buscar. Eu fiquei vazia dos sentimentos que ela levou consigo e, fiel a ela, fui me distanciando mais e mais do que me cerca. Eu, que costumava estar inteira em cada lugar, estou em todos os lugares e já não estou mais em lugar algum. Porque eu fiquei, mesmo estando com ela. Por vezes me sinto oca, como se ela houvesse levado o que me pertence. E sem ele, o ser que sou já não é nada. Ausenta-se para fingir que é. A cada noite, embora sabendo que ela perdeu-se, chamo-a de volta. A cada manhã acordo pensando que ela voltou, só para perceber ao longo do dia, que ainda não estou plena.
Então, na frente do espelho, jogo água em meu rosto para acordar-me, e com o toque frio e real me faço o mais consciente que possa de mim mesma, e do mundo que me cerca.
- Deixa de ser egocêntrica! Olha para o lado, vê como antes, que outros sofrem mais que tu! mas cuidado, não te faças tão consciente que acabes por dirigir o olhar para si mesma, pois que então verás que tua tristeza é porque não tens mais teu coração...
Texto: Vera Alvarenga
foto: retirada do google images.
Não é uma questão de ser egocentrica, algumas vezes, naturalmente envolvidas em desvaneios, sonhos perdidos, busca freentica dos mesmos, ficamos melancolicas. Lavar o rosto é espantar os fantasmas e acordar para a cena seguinte.
ResponderExcluirBjs
Adorei seu comentário Sissy!"Lavar o rosto é acordar para a cena seguinte"...é uma interpretação possível,sim.
ResponderExcluirHoje,lendo um grande autor falando de ioga, o que é real e o que é maya(ilusão), pensei que lavar o rosto talvez seja ceder ao que é comum, entrar em conflito por esquecer que é verdadeira esta consciência de dois "lugares", um onde estamos mais felizes e outro, onde vivemos com mais limitações. E, na verdade, nem sempre o dito mundo real é menos ilusório,pois está muito limitado por valores que nem sempre vem do que é mais importante. Não é mesmo?
Este seu texto merece uma grande reflexão.
ResponderExcluirO comentário da Sissym está muito bom, que
nem me atrevo a acrescentar mais nada.
Subscrevo-o totalmente.
Beijinho e bom fim de semana.
Irene
Oi Vera!
ResponderExcluirEu ganho o dia qdo leio algo que me emociona! Que beleza, vc descreveu a falta para além da ausência...como a falta de algo nos impele a sofrer e seguir...e se não pudermos lembrar das falas criamos outras, em outras cenas, sobre novos palcos. Bjos
Vera Alvarenga
ResponderExcluirBelo poema e vídeo maravilhoso que escolheu. Se eu pudesse ser como o vento Irene, iria agora envolver o rosto dele, e seu corpo, e dançaria em seu sorriso e o beijaria e seria leve como a brisa, e sairia antes que no rosto dele voltasse aquele ar solene e sério que enruga-lhe a testa num sinal de que ainda não consegue ser feliz…
Beijos e bom domingo!
Aqui (no Brasil) estamos a começar o horário de verão!
Marcela, acho que é por aí mesmo. A falta que sentimos, apenas de parte e da mais importante talvez, nos força a conviver com ela e a seguir, apesar dela.
ResponderExcluirBeijos e um bom final de domingo, com este nosso novo horário de verão!